HIPOGLICEMIA INDUZIDA POR INSULINA COMO FATOR DESENCADEADOR DE DÉFICIT COGNITIVO NO DIABETES MELLITUS. Alberto Monteschio Mesti Bazotte; Roberto Barbosa Bazotte. Introdução. O termo cognição refere se aos processos mentais (pensamento, memória, aprendizagem, inteligência, raciocínio, atenção, tomada de decisões, percepção visual ou auditiva, coordenação motora etc.) que o individuo faz uso visando adquirir e administrar informações. Portanto, entende-se por déficit cognitivo (DC) um transtorno que prejudica um ou mais dos processos mentais anteriormente descritos. Assim, partindo do pressuposto de que a intensificação da insulinoterapia visando obter um controle rigoroso da glicemia e proteger o paciente das complicações crônicas de longo prazo predispõe o paciente a um maior numero de episódios de hipoglicemia induzida por insulina (HII) torna-se necessário conhecer o papel dos fatores relacionados à HII no desencadeamento do DC. Porém, a resposta a esta questão não é simples, uma vez que a literatura científica relacionada ao tema é heterogênea, particularmente no que se refere aos métodos de mensuração das alterações das funções cognitivas. Assim, é necessário analisar cada estudo cuidadosamente, com vistas a estabelecer a participação dos fatores relacionados à HII no desenvolvimento do DC no diabetes mellitus (DM). Porém, a relação entre HII e DC no DM é controversa, considerando que há trabalhos que propõem ser a HII fator desencadeador de DC enquanto outros não. Objetivo. Para obter uma resposta satisfatória a esta questão nos propomos realizar uma cuidadosa avaliação dos trabalhos publicados nos últimos 20 anos (1986-2007), visando estabelecer as condições nas quais o DC é acarretado por HII. Métodos. A base de dados do PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi), foi empregada. Sendo utilizadas as palavras chave: “hypoglycemia and cognitive function, “diabetes and cognition”. Selecionou-se apenas estudos clínicos, sendo excluídos estudos realizados em animais de laboratório, artigos de revisão, situações de DC associadas a outros distúrbios glicêmicos tais como hipoglicemia induzida por outros medicamentos que não insulina ou outras doenças, além do DM. Além disso, como os testes cognitivos foram muito heterogêneos a análise não levou em conta o tipo de teste cognitivo empregado. Resultados. Foram selecionados 89 estudos. O teste cognitivo foi aplicado durante HII (56 estudos) ou na ausência de HII em pacientes com histórico de HII (33 estudos). Observou-se deterioração cognitiva em todas as situações (100%) na qual o teste de função cognitiva ocorreu durante a HII (56 estudos). Todavia, quando se aplicou o teste cognitivo na ausência de HII, em pacientes com histórico de HII, houve relato de DC em apenas 51% dos estudos (17 artigos). Ao analisarmos estes 17 estudos observou-se DC quando a HII foi associada aos seguintes fatores: severidade dos episódios de HII, início do DM antes dos cinco anos e perda de percepção pelo paciente da condição de HII. Porém, como o inadequado controle glicêmico pode afetar o desempenho em testes cognitivos existe a possibilidade de esta variável ter contribuído para a ocorrência de DC nestes 17 estudos que apontaram para a HII como fator desencadeador de DC. Conclusão. Durante a HII ocorre DC. Além disso, embora a deterioração cognitiva associada ao histórico de HII encontre-se menos estabelecida faz se necessário intensificar a vigilância e educação do portador de DM submetido a insulinoterapia visando reduzir a possibilidade de ocorrer DC. Palavras-Chave: Diabetes mellitus; Hipoglicemia induzida por insulina; Déficit cognitivo.