Maria Valberglei do Nascimento Silva¹ Jáder Onofre de Morais² Universidade Estadual do Ceará-UECE Mestranda em Geografia/bolsista CAPES/UECE¹ [email protected] Prof. Dr. Departamento de Geografia /UECE² A exploração de pedreiras na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Ceará: uma abordagem referente aos impactos socioambientais no município de Itaitinga. INTRODUÇÃO O projeto de modernidade do mundo ocidental que trouxe inúmeras mudanças nos âmbitos políticos, artísticos e culturais, acarretou também, transformações na relação sociedade-natureza, vista de forma hierarquizada, na qual a segunda está subordinada e a serviço da primeira. Sendo assim, a natureza passa a ser concebida como um recurso a ser explorado e dominado. Com a introdução de tecnologias avançadas, incorporadas a partir da Revolução Industrial, houve uma motivação maior de exploração crescente dos recursos naturais, gerando desta maneira, graves problemas socioambientais, uma vez que a degradação desses sistemas tornou-se cada vez mais comum com conseqüências preocupantes para a sociedade. Somente a partir da segunda metade do século XX, mais precisamente na década de 1960 em alguns países da Europa e na década de 1970, no Brasil, é que essa preocupação começa a se tornar mais freqüente, ganhando desta maneira, maior evidência. Deste modo, a temática ambiental passa a ser estudada por diversas ciências, inclusive pela Geografia Física que é parte da Ciência Geográfica. Seguindo esta perspectiva, o presente trabalho trata de um estudo geoambiental e socioambiental do município de Itaitinga, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) a 26 km de Fortaleza, capital do estado do Ceará. Este estudo pretende abordar a exploração dos recursos minerais, mas especificamente do granito (material que serve de matéria-prima para vários produtos com emprego direto na construção civil), e seus impactos socioambientais e ao mesmo tempo procura entender a dinâmica de funcionamento dos seus sistemas ambientais. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 OBJETIVOS Neste trabalho os objetivos estão relacionados à busca do entendimento do funcionamento dos sistemas ambientais e das atividades humanas que estão incluídas nestes sistemas com a finalidade compreender a relação de cada um dos agentes sociais com estes sistemas ambientais e destes agentes sociais entre si, para, que, partindo deste entendimento se possa compreender as transformações espaciais ocorridas no município de Itaitinga e que mudanças estas transformações causam na população local. Então, partindo deste raciocínio, o objetivo geral busca analisar o ambiente do município de Itaitinga, a partir da interação entre os componentes naturais e as atividades econômicas, pautadas como evidências de degradação dos recursos naturais. Para subsidiar na busca do objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos específicos: identificar e caracterizar os sistemas ambientais existentes no município de Itaitinga; fazer um levantamento histórico da ocupação da área do município; compreender a relação entre ocupação da terra e a atividade de exploração mineral em Itaitinga; e identificar os níveis de degradação ambiental no município de Itaitinga; METODOLOGIA Partindo da necessidade de alcançar os objetivos propostos neste trabalho, a metodologia busca uma discussão teórica vinculada a uma prática que convenha a realização da pesquisa. Então, a conexão entre a discussão teórica, a utilização de instrumentos e os dados coletados em campo é necessária para que se possa atingir aos objetivos que foram propostos. Destarte, este trabalho parte da discussão de uma não naturalização do conceito de natureza. Sendo assim, cabe aqui a abordagem feita por Gonçalves (2002) ao discutir as diferentes formas que a natureza é concebida, afirmando que o conceito de natureza não é natural, sendo ele instituído de acordo com a sociedade e a cultura inseridas num determinado contexto histórico. Esta pesquisa também está embasada no conceito de ambiente abordado por Suertegaray (2006, p.93) que “expressa a necessidade de compreender as mediações, não só na ordem das relações físico-naturais, mas destas com as dimensões que demandam Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 da construção das relações sociais”. Sendo assim, a discussão aqui não se trata somente da melhor adequação no trato com os recursos minerais e sua forma de extração, a fim de minimizar o impacto ambiental, mas também da forma como se dá a apropriação destes recursos. No entanto, para o entendimento da dinâmica dos sistemas ambientes existentes no município de Itaitinga, está sendo adotada uma metodologia proposta por Souza (2000) que aplica a análise geoambiental, baseada no geossistema de Bertrand + a ecodinâmica de Tricart, onde é analisado os estados tendencionais dos sistemas ambientais ou geossistemas, tratando de vulnerabilidade, potencialidade e limitação. Sendo consideradas três categorias de ambientes, a saber: ambientes estáveis; ambientes de transição e ambientes fortemente instáveis. Através desta análise podem-se identificar e conhecer as características de cada sistema ambiental que compõe o município. O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITAITINGA O município de Itaitinga se encontra na Região Administrativa 01, micro região de Fortaleza, localizada a 26 km da capital cearense, com área territorial correspondente a 154km² (IPECE, 2006), situa-se na porção Nordeste do Estado do Ceará (Figura 1) e faz parte da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), juntamente com mais treze municípios. Sua emancipação política se deu no ano de 1992, até então Itaitinga pertencia ao município de Pacatuba (PDDU, 2001). Com um nome bem apropriado, Itaitinga (palavra de origem tupi) que etimologicamente significa “rio das pedras brancas” (ita=pedra+y=rio+tinga=branca), apresenta como grandes potencialidades naturais, água em abundância para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza e o granito, matéria-prima para a produção da pedra britada, um agregado utilizado principalmente pela indústria da construção civil. Este município, juntamente com os municípios de Eusébio, Caucaia, Maracanaú e Maranguape, todos pertencentes a (RMF), são responsáveis por 90% da produção deste agregado no Estado do Ceará (Mattos ET AL, 2005, p.103). A área que corresponde ao município de Itaitinga passou a ser ocupado na década de 1930 com a chegada das primeiras famílias, e inclusive com o início da exploração de pedreiras pelo Departamento Nacional de Estradas e Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Rodagem ( D N E R ) ( W W W . C e a r á . c o m . b r / m / I t a i t i n g a ) . (Figura 1) Este município possui ao todo onze pedreiras ativas, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Em função da exploração indiscriminada ou uso inadequado destes recursos minerais, esta área vem sofrendo com fortes impactos ambientais, além de conflitos entre o poder público, população local e os donos de pedreiras. Embora seja uma atividade pontual seu impacto é deveras forte e como afirma Polleto (2006) “a indústria extrativa mineral afeta praticamente todos os principais aspectos relativos ao meio ambiente”. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Para uma melhor compreensão será traçada uma breve descrição de cada uma das etapas desta atividade. A atividade começa com o capeamento, que é a retirada do material superficial, que conseqüentemente, envolve a remoção da vegetação e do solo, após a limpeza do local o material removido é depositado em locais chamados de bota fora. Dependendo do critério de escolha do local, o bota fora pode se transformar num problema a mais. Em seguida vem a fase de perfuração e o carregamento com explosivos para o desmonte da rocha, operação denominada de fogo primário. Nesta etapa acontecem as explosões responsáveis pelas vibrações, poeiras e lançamento de fragmentos de rochas. Com a desagregação do material, inicia-se a etapa de transporte e desmonte secundário. Neste momento começa a etapa de beneficiamento. Os caminhões transportam o produto até o britador, os blocos maiores são desagregados manualmente ou com o auxílio de máquinas. O britador se encarrega de triturar e classificar a rocha de acordo com o tamanho, separando através de peneiras e pilhando estas britas em locais a céu aberto. A última etapa da produção se dá com a estocagem e transporte do produto para comercialização. Todo esse processo acaba gerando impactos negativos tais como, a descaracterização da paisagem; retirada da vegetação no local de extração; fuga da fauna; ruídos e vibrações; além da geração de poeiras. RESULTADOS PRELIMINARES A pesquisa encontra-se em fase inicial, os resultados com a obtenção de dados coletados em órgãos públicos e pesquisa de campo, detectou que o controle da atividade de exploração da pedra britada no município de Itaitinga ainda é incipiente, o que contribui para que ocorram maiores prejuízos para a população local. Há ainda problemas relacionados à minas clandestinas e minas desativadas. Foi detectada a existência de dois tipos de minas de explotação do granito, aquelas que se utilizam de tecnologias mais avançadas e que tem como produto principal a pedra britada para uso direto na construção civil e as minas não industrializadas cujo trabalho é totalmente manual e tem como únicos instrumentos de trabalho um facão, uma marreta e um ponteiro, estas últimas produzem o meio fio, o paralelepípedo e o rejeite (que são os blocos de geometria irregular) utilizados em alicerces, na construção civil. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Os conflitos entre a população local e os empresários da mineração são bem perceptíveis. Atualmente está sendo desenvolvido um fórum permanente que possibilita o diálogo entre as diversas classes envolvidas neste tipo de atividade, no qual tem a participação dos donos de pedreiras no município, da sociedade civil e de representantes de órgãos públicos. BIBLIOGRAFIA ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. – São Paulo: Moderna, 1986. BERNARDES, Júlia Adão; FERREIRA, Francisco Pontes Miranda de. Sociedade e Natureza. In: CUNHA, Sandra Baptista; GUERRA, Antonio José Teixeira (orgs). A questão ambiental: diferentes abordagens. 3° ed.- Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2007. BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. In: Caderno de Ciências da Terra, v.13,pp.1-21. São Paulo, 1969. BRANDÃO, R. L. 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