ESGOTAMENTO DAS JAZIDAS DE ARGILA NO ALTO DO MOURA – CARUARU – PE. FIM DO ARTESANATO DE VITALINO? Laudenor Pereira da Silva E-mail: [email protected] Resumo – os artesãos em barro do Alto do Moura utilizam a argila plástica da beira do rio Ipojuca como matéria-prima há décadas. Aos poucos, os terrenos às margens do rio foram comprados por donos de cerâmicas e olarias. A retirada do barro para a fabricação de tijolos e telhas praticamente esgotou as jazidas, o que torna o futuro do artesanato em barro bastante incerto. Introdução – aos seis anos de idade, o menino Vitalino Pereira dos Santos aproveitou sobras da argila que sua mãe utilizava na fabricação de panelas e fez uma peça em que um caçador estava trepado em um poste, fazendo pontaria para dois gatos maracajás acuados por cachorros. Após a queima, a peça foi levada para a Feira Livre de Caruaru, juntamente com as panelas. Uma senhora comprou-a, o que deixou o menino animado e feliz. Começou, a partir daí, uma diversidade de temas mostrando a realidade social das décadas em que Vitalino viveu. À medida que ele criava outros temas, foi também ensinando a outros como trabalhar o barro. Tanta criatividade ocorreu que o Alto do Moura é atualmente conhecido como o “Maior Centro de Arte Figurativa das Américas”, título atribuído pela UNESCO, mas sem comprovação documental. Objetivos – discutir as dificuldades enfrentadas pelos artesãos em barro do Alto do Moura, quanto ao esgotamento das fontes de matéria-prima por eles utilizadas há décadas. Metodologia - além de pesquisa bibliográfica, também foram realizadas observações de campo, coleta de materiais e entrevistas. Estágio da pesquisa – trata-se da continuação de pesquisa iniciada pela dissertação em Geografia pela UFPE (2007), intitulada “A disputa da argila pelos artesãos do Alto do Moura – Caruaru-PE”, na pretensão de analisar a exploração da argila sedimentada às margens do rio Ipojuca, no trecho que banha o Agreste Pernambucano. Localização – o município de Caruaru está situado na Mesorregião Agreste Pernambucano, Microrregião Vale do Ipojuca. Localiza-se entre as coordenadas 8° e 8,3° de Latitude Sul e 35,8° e 36,1° de Longitude Oeste, numa altitude de 554m acima do nível do mar, distando 126km da capital do Estado, possuindo uma área total de 928,1km2. Conforme o Censo Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 Demográfico do IBGE (2000), possuía 253.312 habitantes, funcionando como centro regional, mantendo serviços urbanos que atraem populações de cidades carentes destes, tendo o comércio como a principal atividade econômica. O Alto do Moura, nosso objeto de estudo, localiza-se a 7km a oeste do Centro da cidade, tendo como coordenada geográfica 8°17’30” de Latitude Sul e de 36°01’30” de Longitude Oeste, e altitude média de 550m em relação ao nível do mar. FIGURA 1 Localização do Alto do Moura. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Aspectos do clima - o clima da cidade de Caruaru e do Alto do Moura é do tipo tropical semi-árido quente, BShs’ da classificação de Koeppen, com índices pluviométricos em torno dos 662mm/ano (PERNAMBUCO, 1998) e chuvas concentradas entre março e julho. As temperaturas médias mensais variam entre 21,4°C e 25°C. A vegetação original da área em estudo traduzia-se na caatinga hipoxerófila, transformada em capoeira pela forte ação antrópica. Estrutura geológica e litologia – a bacia do rio Ipojuca está situada, nos seus trechos médio e superior, no planalto da Borborema. Os complexos granito-gnáissico-migmatíticos, intercalados com sistemas de dobramentos, são os principais elementos geológicos e estruturais da Província Borborema. Segundo Lins (1989, p. 35), baseada em Almeida, “o Agreste pernambucano, em quase toda sua totalidade, assenta-se sobre terrenos antigos, de idade pré-cambriana, pertencente ao núcleo nordestino do Escudo Brasileiro, mais especificamente na Província Estrutural da Borborema”. O Agreste está assentado sobre o maciço Pernambuco-Alagoas, possuindo rochas ígneas e metamórficas do Pré-Cambriano, constituindo-se em cerca de 90% de granitos, gnaisses e migmatitos (LINS, 1989). A elevada complexidade da estrutura geológica do Agreste deve-se à atuação de movimentos tectônicos compressivos, com falhas de empurrão, de rejeito direcional e as faixas de intenso cisalhamento. As feições do relevo estão ligadas aos seguintes fatores, segundo Castro; Jatobá (2004, p.69): os fatores tectônicos; os fatores erosivos; e os fatores litológicos. A falha de rejeito direcional, conhecida como Lineamento Pernambuco, é o fator estrutural que favoreceu a formação do vale do rio Ipojuca, cujo leito assenta-se sobre esse falhamento nos trechos médio e superior. As forças compressivas do interior da Terra resultaram na fragmentação das rochas do Complexo Migmatítico-Granitóide. A erosão física ou mecânica fragmentou as rochas magmáticas e metamórficas e a erosão química favoreceu a desintegração das mesmas, contribuindo para que fosse formado o manto de intemperismo ou regolito. Com o passar do tempo, as chuvas e as águas correntes contribuíram para o deslocamento do material inconsolidado, ocorrendo a denudação do terreno. Relevo - no relevo do Alto do Moura predominam os terrenos suave ondulados, formados pelas elevações de topos ligeiramente esbatidos, com vertentes longas e declividade entre 5 e 15% (BANCO DO BRASIL, 1985, p.4). O Levantamento Exploratório – Reconhecimento de Solos do Estado de Pernambuco (1973) divide o maciço da Borborema nas seguintes Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 áreas: a) Faixa de contorno; b) Plataformas aplainadas e superfícies de níveis elevados. Essa divisão é mais facilmente aplicada à bacia do Ipojuca – Sub-bacia Caruaru, quando subdividimos o segundo item - plataformas aplainadas e superfícies de níveis elevados - da seguinte maneira: a) plataformas aplainadas – relevo suave ondulado com vales abertos, entre 3 e 8% de declividade, com topos aplainados. Domina as áreas mais próximas ao rio e as vertentes de clima semi-árido; b) superfícies de níveis elevados – o relevo varia de forte ondulado a montanhoso, com vales em forma de “V”. Declividade predominante entre 20 a 50%. São pequenos setores onde ocorre maior retenção de umidade e condições climáticas mais amenas, conhecidas por brejos de altitude. Solos - os solos do local em estudo são uma associação de Planossolo com A mediano, de Podzólico Vermelho-amarelo Eutrófico, de solos Litólicos Eutróficos e Afloramentos de Rochas. Às margens do rio Ipojuca formou-se o Solo Aluvial Eutrófico, resultante do deslocamento de materiais pelas águas superficiais, com os sedimentos oriundos da sub-bacia Caruaru, sendo depositados nas ocorrências das enchentes. O Solo Aluvial foi intensamente utilizado na atividade agrícola, no passado, e sofreu a retirada do material, uma argila plástica de boa qualidade, para a produção de telhas, tijolos e artesanato. Bacia hidrográfica do rio Ipojuca – a bacia hidrográfica compreende a área de influência do trabalho de erosão de um rio e da sua rede de afluentes. O rio Ipojuca nasce na Serra do Pau D’Arco, município de Arcoverde – PE, a uma altitude aproximada de 900m, a 37°02’48” de Longitude Oeste. Tem um percurso de cerca de 294km e deságua no oceano Atlântico, no Município de Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco. Possui regime fluvial do tipo intermitente até o município de Bezerros, em seu curso médio. A bacia hidrográfica abrange uma área de 3.514,35km2, correspondendo a 3,55% do território pernambucano. Pernambuco (1998) dividiu essa bacia em três sub-bacias: a) sub-bacia Caruaru – é o curso superior do rio, sendo totalmente intermitente. Está totalmente inserida na Mesorregião Agreste, contando com uma área de drenagem de 2.128km2; b) sub-bacia a montante de Tabocas – é o curso médio, atravessando parte do Agreste e da Zona da Mata, tornando-se perene, contando com 3.009km2; c) sub-bacia a jusante de Tabocas – é onde o Ipojuca recebe os afluentes litorâneos, muito próximo à foz, com 465km2. Para nosso estudo, interessa-nos a sub-bacia Caruaru, onde ocorreram e ainda ocorrem os fenômenos geológicos e geográficos que Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 contribuíram para a erosão das rochas e posterior carreamento de detritos que se acumularam às margens do Ipojuca, no município de Caruaru. Breve histórico do Alto do Moura - com o nome de Sítio Bernardo, no começo do Século XX, o Alto do Moura contava com 3 ou 4 casas, situadas próximas à margem do rio Ipojuca. Um grupo de uma família chamada de Moura, proveniente de outro local, veio morar em uma parte mais alta desse sítio, perto do rio, com a população passando a chamar de Alto dos Mouras, simplificando-se, mais tarde, para Alto do Moura. Interessante que não se tem registro de qualquer descendente dessa família habitando o local. Em 1985, o Alto do Moura contava com uma população de 900 habitantes, elevando para 1.700 pessoas quando somavam-se Barra de Taquara e Ribeira, suas áreas de influência. Em 20 de maio de 1980, o Prefeito Drayton Nejaim assinou a Lei 2.592, oficializando o Projeto de Lei 2.910, de autoria do vereador Elias Soares da Silva, que tratava dos limites dos bairros da cidade, sendo criado, também, o bairro do Alto do Moura, contando com uma área que ultrapassava o conhecido povoado. Tanto que no Censo do IBGE de 2000, o bairro constou de 6.167 habitantes. Mestre Vitalino – Vitalino Pereira dos Santos nasceu aos 10 de julho de 1909, filho dos agricultores Marcelino Pereira dos Santos e Josefa Maria da Conceição, em uma época em que a mortalidade infantil era altíssima por causa da extrema pobreza do lugar, com a proliferação de doenças, ignorância e subnutrição (Mello, 1995, p. 175). Casou-se aos 22 anos com Joana Maria da Conceição, tendo 16 filhos, mas apenas 6 escaparam da morte na infância. Dos 9 aos 12 anos aprendeu a tocar pífanos. Era muito católico, mas não assíduo frequentador de igreja. Adorava as festas populares e procissões, participando dos cortejos tocando pífanos com os companheiros de uma banda criada por ele. Mesmo já famoso como artesão, só se considerava artista por causa das habilidades com esse tipo de flauta popular. Numa relação incompleta de suas obras, feita em 1956, foram relatados 118 temas. Mas, provavelmente nos oito anos seguintes, deve ter criado muito mais, ampliando o conjunto. O Mestre Vitalino faleceu em 20 de janeiro de 1963, aos 53 anos, provavelmente vitimado por varíola. Mello (1995, p. 20) comenta que muitos artesãos antes de Vitalino podem ter realizado trabalhos em argila de boa qualidade, mas não existem registros históricos ou evidenciais. “Assim, Vitalino é, realmente, o primeiro nome a sair do anonimato da história da cerâmica figurativa profana popular no Brasil” (Mello, 1995, p. 25). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 As argilas do Alto do Moura - a palavra argila é um termo genérico. Tendo aplicação econômica bastante diversificada, o seu produto industrializado pode ser chamado de cerâmica vermelha, branca, especial, refratária... As argilas são rochas de origem sedimentar, resultantes da alteração e decomposição de rochas silicadas. Na natureza podem ser encontradas em situação de relativa pureza ou associadas a diversos materiais. Também são chamadas de barro. Segundo Bylaardt et al. (2007, p. 4), podemos dividir as argilas mediante ao modo de formação das jazidas em: argilas primárias e argilas secundárias. As primárias são aquelas que permanecem no próprio local em que se formaram. As secundárias são as que sofreram transporte pelos agentes naturais, como as águas superficiais, e se depositaram longe do local onde se formaram. A argila do Alto do Moura é do tipo secundária, formada pelo intemperismo nas rochas da sub-bacia Caruaru, principalmente os granitos, gnaisses e feldspatos, e transportada pelos rios e riachos até as margens do Ipojuca. Distribuição dos tipos de barro nas jazidas - ao escavar as jazidas de argila às margens do rio Ipojuca, no Alto do Moura, encontramos diferenciações mediante a profundidade e a distância do leito do rio. Mais próximo do leito obtemos uma argila com maior teor de areia fina, inadequada à confecção dos bonecos, consequência das constantes cheias e troca de materiais sedimentares. Os artesãos a chamam de barro fraco. Depois, na parte mais distante, encontramos o barro médio, adequado para a confecção dos bonecos. Dentro do barro médio, encontramos pacotes de uma argila plástica de melhor qualidade, adequada para a confecção de peças pequenas, chamada de barro forte. Visando equilibrar e não desperdiçar, os artesãos juntam o barro forte com o barro fraco para dar a consistência adequada para fazer o artesanato. Normalmente, nos pacotes de barro forte, encontramos pacotes de barro com sarugo, que são grânulos ainda não estudados e de maior dureza. Provavelmente trata-se de cimentação das partículas de argila pelo óxido de ferro. Esse barro “granuloso” é muito forte, mas a sua preparação dá muito trabalho ao artesão, que prefere descartá-lo. Por baixo da jazida de barro normalmente encontramos grande quantidade de areia grossa, adequada para a utilização em concreto armado nas construções. Preparação da argila para artesanato - desde o início, os artesãos preparam a argila da seguinte maneira: buscam o barro na beira do rio, quebram os torrões em um pilão até ficar um pó bem fininho. Colocam no chão limpo e adicionam água aos poucos para não passar do ponto. Depois, vão batendo e socando, como se prepara uma massa para pastel. Após ficar Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 bem maleável, colocam em uma mochila plástica e ficam usando aos poucos, tendo o cuidado de não deixar aberto para não perder a umidade e endurecer. Inovação na preparação do barro - a partir de 2004, Genaro Lopes da Silva, um dos artesãos, pegou uma máquina forrageira simples emprestada de um amigo e começou a substituir o pilão na quebra dos torrões, iniciando uma produção em larga escala. Aprontando “bolas” de barro com cerca de 12kg, vende-as por R$ 3,00 cada, havendo grande aceitação pelos artesãos. Genaro foi o primeiro no Alto do Moura a implantar a máquina elétrica na preparação da argila. Tipos de artesanato – normalmente se divide em três tipos: utilitário, decorativo e figurativo. O tipo utilitário é aquele cujo produto serve para a cocção e armazenamento de alimentos, armazenamento de água e de cereais, entre outros usos, sendo a origem dos outros tipos, já que antes de Vitalino começar a elaborar suas peças, sua mãe e outras pessoas faziam potes, pratos, copos, cuscuzeiras, panelas, artigos bem aceitos em uma época em que a louça bem elaborada industrialmente era muito cara para os padrões econômicos da época, e o plástico ainda não tinha as funcionalidades das últimas décadas. O artesanato decorativo é aquele feito para embelezar, enfeitar, como alguns tipos de jarros, anjos, porta-joias, etc. O tipo figurativo são os que representam as diferentes épocas e culturas, mostrando a realidade sensível vivida ou imaginada pelo autor. São exemplos: volta da roça – representando o regresso para o lar após o dia de trabalho duro no campo, retirantes – mostrando as pessoas em êxodo do campo para a cidade, vaqueiro, trio de tocadores de forró, banda de pífanos, ladrão preso por policial, bêbado caído no chão segurando a garrafa de cachaça, o diabo fazendo tentação, parto humano, cirurgia, agricultor, dentista e muito mais. Algumas vezes é difícil determinarmos qual o tipo pela múltipla funcionalidade da peça. Podemos comprar uma travessa de barro para decorarmos a mesa, mas ela pode, também, armazenar alimentos. A importância da ABMAM – a Associação dos Artesãos em Barro e Moradores do Alto do Moura (ABMAM) foi criada em agosto de 1981. Desde a fundação que enfrenta uma grande luta por suas reivindicações, incentivando a participação social para o fortalecimento do artesão. Com a participação ativa da comunidade, juntamente aos diretores da ABMAM, muitas conquistas foram realizadas, tais como: água encanada, calçamento, posto de saúde e de telefone, praça do artesão, participação em feiras importantes, campo de futebol, reservas de argila, cursos, assistência gerencial, prédios para reuniões e festividades, capital de giro e Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 muito mais. Nesses quase 29 anos, a ABMAM passou por várias administrações, algumas pouco atuantes, mas conseguiu manter-se “viva”. Em agosto de 2007, pela primeira vez foi eleita uma mulher para a presidência da Associação – a artista plástica Rosário de Fátima Vieira de Carvalho (54 anos) – que está no segundo mandato e tem conseguido aglutinar um bom número de colaboradores para o gerenciamento da Associação e melhor articulação entre os associados, moradores, diretores e representantes públicos e privados. Intervenções dos poderes públicos - em 1981, o Governo de Pernambuco desapropriou uma área de 2.732m2, contendo argila plástica de boa qualidade, liberando para que os artesãos a utilizassem na produção de artesanato. De início, a associação dos artesãos e moradores disponibilizou uma pessoa responsável para liberar o barro organizadamente. Mas, graças a pressões para que o acesso fosse livre, foi retirada a pessoa que tomava conta dessa reserva. Como consequência, sem vigilância, as olarias retiraram muito barro, esgotando rapidamente a argila. Em 1985, outra área de 3.073m2 foi desapropriada pelo Governo Estadual. Por exigência do Governo, os artesãos tiveram que cercar a área e manter vigilância para controlar a retirada de barro. A partir daí, começou-se a cobrar uma taxa de Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros) por carroça de burro com 13 latas de 20 litros aos associados. Em 17 de março de 2007, ocorreu a entrega solene da terceira reserva de argila aos artesãos. Ela conta com aproximadamente dois hectares de área e, segundo os artesãos, deve demorar apenas cerca de 20 anos para esgotar. Ao contrário das primeira e segunda reservas, a terceira não teve um estudo técnico para avaliação de sua potencialidade, sendo aprovada pelos artesãos mediante seus conhecimentos empíricos. Após ser iniciada a retirada de argila da segunda reserva, em 1985, os associados da ABMAM aprovaram, em reunião, destinar parte do dinheiro arrecadado com as taxas de carroça de barro para uma poupança no antigo Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco), visando comprar nova reserva quando o capital assim o permitisse. Isso os livraria da dependência de organismos públicos. Entre 1994 e 2000, foi comprada uma faixa de terreno com cerca de 10x100m com esse dinheiro. No entanto, as administrações que assumiram o controle da Associação não registraram qualquer coisa sobre essa compra e posterior venda, causando, também, um impacto muito forte no capital financeiro da ABMAM. Antes da liberação da terceira reserva, em 2007, os artesãos compravam o barro de uma propriedade particular, que antes fora uma olaria de tijolo comum. Nessa propriedade resta pouco barro. Juntando-se à terceira reserva, são as únicas Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 áreas que tem barro que pode ser utilizado pelos artesãos, haja vista a retirada das planícies laterais do Ipojuca terem sido aproveitadas pelas grandes cerâmicas e olarias da região, esgotando as jazidas. Considerações finais – Pernambuco (2002a, pp.120-160) não considera o artesanato do Alto do Moura como uma atividade dinâmica para a economia local, mas diz que é muito importante para a formação da imagem de destaque que existe sobre Caruaru como centro cultural, reconhecida no contexto estadual e nacional. A argila como recurso natural não-renovável está quase totalmente esgotada nas margens do rio Ipojuca, desde a cidade de São Caitano até o extremo leste da cidade de Caruaru, numa faixa que acumulou argila de boa qualidade e que, por causa do intenso processo de retirada para a fabricação de telhas, tijolos e manilhas, atualmente é difícil de encontrar. Provavelmente, às margens do Ipojuca, a montante de Caruaru, existam, ainda, jazidas de barro de boa qualidade, adequadas ao uso artesanal. As distâncias não devem ser grandes empecilhos para a obtenção de tão precioso bem, mas o acesso às tais áreas, que são propriedades privadas, tornam-se barreiras intransponíveis. Nenhum artesão do local possui jazida ou reserva própria, o que comprova o pequeno poder aquisitivo destes. Recentemente, o ITEP – Instituto Tecnológico de Pernambuco - fez um projeto para implantar uma usina de beneficiamento da argila, que evitará desperdício de matéria-prima e dará maior qualidade, retirando o ar da massa plástica, o que evitará perdas durante o processo de queima das peças. Isto realmente é uma boa proposta, mas para os próximos anos o número de artesãos tende a aumentar, o que vai requerer mais matéria-prima, e a quantidade de barro disponível no local não justifica um empreendimento de tal porte. É mais necessário, no momento, pesquisar outras fontes de argila que se prestem ao artesanato do Alto do Moura, as quais estão em propriedades particulares, onde só os poderes públicos podem interferir. Referências: ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS EM BARRO E MORADORES DO ALTO DO MOURA – ABMAM. Estatuto Social. Caruaru: 2006 BANCO DO BRASIL S/A. Diagnóstico do povoado do Alto do Moura – Caruaru – Pernambuco. Agência Caruaru-PE, documento interno de 26 de julho de 1985 BIGARELA, João José et al. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais, v.1. Florianópolis-SC: Editora da UFSC, 1994 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 BYLAARDT, Marina Paulino et al. Arte e artesanato – Projeto Experimental. Belo Horizonte-MG: UFMG, 2007 CARVALHO, George. Barro terá tratamento industrial. In: Jornal do Commercio. Recife: 14 de março de 2010 (Encarte JC Agreste, pp. 6-7) CASTRO, Cláudio de; JATOBÁ, Lucivânio. Litosfera: minerais - rochas – relevo. Recife: UFPE, 2004 EMBRAPA. Zoneamento agroecológico do Estado de Pernambuco. Folha SC.25-V-A-I, 1999 _____. Zoneamento agroecológico do Estado de Pernambuco. Folha SC.24-X-B-III, 1999 JATOBÁ, Lucivânio; LINS, Rachel Caldas. Introdução à Geomorfologia. 2.ed. Recife: Bagaço, 1998 LINS, Rachel Caldas. Áreas de exceção do Agreste de Pernambuco. 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Recife: UFPE, 2007 (Dissertação de Mestrado) Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 TOMAZETTI, Rodrigo Rosa. Análise da produção de cerâmica vermelha da Região Central do Rio Grande do Sul. Santa Maria – RS: Universidade Federal de Santa Maria-RS, 2003 (Dissertação de Mestrado) Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 11