a utilização de materiais cartográficos na identificação de

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A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS CARTOGRÁFICOS NA IDENTIFICAÇÃO DE
PROCESSOS EROSIVOS1
SILVA, Franciele da2; ALGAYER, Antônio Anildo3; CONTI, Valquíria4; MACHADO,
Mayara Oliveira5; PEREIRA, Carla Silveira6; SANTOS, Leonardo Pinto dos7.
1
Trabalho de Pesquisa _UFSM
Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
3
Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil
2
E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected];
RESUMO
Perante a intensa utilização dos recursos naturais pelo homem e o uso e ocupação de
maneira desordenada do solo, observa-se a necessidade da efetivação de ações que
possibilitem a recuperação e conservação do meio natural. Sob essa perspectiva, o artigo tem
como objetivo principal a identificação dos possíveis fenômenos causadores do processo de
assoreamento do lago da Sociedade Concórdia Caça e Pesca – SOCEPE - através da
elaboração de materiais cartográficos. O mapeamento da área de estudo foi feito através da
imagem de satélite LANDSAT 5 e a digitalização das cartas topográficas Santa Maria NE, SE e
Camobi NO, SO; escala 1:25.000, através do software SPRING 5.0.6. Através do mapeamento
pode-se fazer considerações a cerca do processo de assoreamento que se acentua na área.
Palavras-chave: Geoprocessamento; Processos Erosivos; Bacia Hidrográfica.
INTRODUÇÃO
Atualmente a água é o recurso natural mais ameaçado pelos agentes
antrópicos, o processo gradativo de poluição dos corpos d’água e degradação das
margens e nascentes vem a cada ano diminuindo a disponibilidade deste bem
indispensável para a manutenção da vida, seja ela humana, animal ou vegetal. Tendo
em vista a má utilização dos recursos hídricos e a acentuada degradação dos
mananciais, destaca-se a necessidade de estudos que contribuam com a regressão
deste cenário.
O município de Itaara, no Rio Grande do Sul, é abastecido pela água captada
pela Companhia Rio-Grandense de Saneamento (CORSAN) do lago da Sociedade
Concórdia de Caça e Pesca (SOCEPE) que mantém seu regime constante em função
da contribuição hídrica do Arroio Manoel Alves. O lago por sua vez, com o passar dos
anos, vem sofrendo com o assoreamento e consequentemente com a perda de
profundidade e diminuição da disponibilidade de água para abastecimento urbano.
Com base no exposto, o trabalho possui como objetivo principal a identificação
dos possíveis fenômenos causadores do processo de assoreamento do lago através
da elaboração de materiais cartográficos.
Lago da SOCEPE como fonte de abastecimento urbano de Itaara
O Arroio Manoel Alves é um dos afluentes do Arroio Grande, integrante da
bacia do Vacacaí, da região hidrográfica do Guaíba. Segundo Schneider (2010): “o
Arroio é responsável pelo abastecimento da maior parte da população urbana e rural
do município de Itaara, além de ser fonte de água para os balneários de lazer e
açudes nas áreas rurais”.
Mapa 01: Localização da área de estudo em relação ao Rio Grande do Sul e ao município de
Itaara.
Elaboração: Franciele da Silva
O maior reservatório artificial da cidade, o lago da sede campestre da
SOCEPE, além de ser utilizado para atividades de lazer, é responsável pela quase
totalidade do abastecimento urbano, realizado pela Companhia Riograndense de
Saneamento (CORSAN). Segundo Marion (2007), o lago da SOCEPE é responsável
por um volume médio de 31.800 m³/mês, enquanto apenas 3.600m³/mês são
provenientes de poços tubulares no abastecimento.
METODOLOGIA
A identificação e o mapeamento da área foram executados pelos autores do
artigo, utilizando-se o aparelho GPS – Sistema de Posicionamento Global – para
localizar com precisão a área a ser estudada, bem como nascentes e canais do Arroio
Manoel Alves que sofrem com o assoreamento e influenciam no processo de
degradação do local. Completada esta etapa, foram confeccionados os mapas de uso
e cobertura do solo, hipsometria, declividade e de orientação de vertentes; utilizandose do software SPRING 4.3.3 (Sistema de Processamento de Informações
Georeferenciadas), e tendo como base o mosaico de cartas topográficas1 de Santa
Maria NE, SE e Camobi NO, SO na escala de 1:25.000, georefernciadas com as
coordenadas selecionadas e imagens de satélite da mesma área.
Para o mapeamento do uso e ocupação do solo da área utilizou-se as técnicas
de interpretação da imagem, observando suas feições e os padrões de resposta
espectral nos padrões das bandas 1, 2 e 3, baseando-se em princípios como cor,
textura, tamanho, forma e conhecimento prévio do local. No software SPRING 4.3.3 a
imagem foi classificada atribuindo-se classes aos diferentes tipos de uso e cobertura
do solo representada no mapa através de polígonos.
Segundo Loch (2006), “um mapa de uso e cobertura da terra de um
determinado território é um dos mais importantes para diversos estudos e aplicações
porque faz a ligação entre os elementos físicos e os sociais”. Com essa perspectiva,
apoia-se a importância da utilização deste mapa, uma vez que a degradação causada
nas áreas do entorno do Arroio Manoel Alves bem como do Lago SOCEPE são,
principalmente, de ordem social.
Para a elaboração da carta hipsométrica, as altitudes foram subdivididas em 5
classes, com intervalos de 20 metros, tendo como cota mínima à elevação de 380
metros e cota máxima de 480 metros de altitude, em relação ao nível do mar, com
base nas características do relevo.
1
Santa Maria NE (folha SH.22-V-C-IV-1-NE); Santa Maria SE (folha SH.22-V-C-IV/1-SE);
Camobi NO (folha SH.22-V-C-IV/2-NO); Camobi SO (folha SH.22-V-C-IV/2-SO).
Para Loch (2006), “o mapa hipsométrico é aquele que tenta associar as formas
naturais da paisagem com a distinção de diferenças na altitude”. O mapa hipsométrico
elaborado expõe uma melhor identificação dos setores de maiores e menores altitudes
da área da bacia hidrográfica do Arroio Manoel Alves. A utilização desta carta
hipsométrica permite uma relação do relevo com os processos erosivos decorrentes,
uma vez que o escoamento superficial da água está diretamente relacionado com as
formas do relevo local. Por conseguinte, a rede de drenagem possui uma estreita
ligação com os processos erosivos que atuam em sua superfície.
A carta de declividade foi confeccionada com base nas classes de declividade
propostas por DE BIASI (1992). Essas classes foram organizadas em quatro
categorias, entre 0 e 5 %, 5 e 12%, 12 e 30%; e 30 e 47%.
A carta clinográfica ou de declividade torna-se um instrumento para o
entendimento da dinâmica ambiental, ao promover a identificação de áreas de maior
suscetibilidade aos processos erosivos relacionados à energia potencial dos mesmos.
(SATO, CUNHA e PEREIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A abordagem do meio físico-natural da área de estudo é feita através de
instrumentos de caracterização do relevo, subsidiando a análise e proposições dos
processos da dinâmica superficial que atuam no local.
Mapa 02 – Bacia Hidrográfica à montante do lago SOCEPE
Através do mapa hipsométrico, é possível a identificação da amplitude
altimétrica da área, que configura cerca de 80 metros. A análise através das diferentes
altimetrias do local evidencia um relevo tipicamente do Planalto Sul-Riograndense.
O mapa hipsométrico representa o relevo compartimentado em cinco classes
de altitude definidas em intervalos de 20 metros. Sob esta perspectiva, pode-se
perceber o gradativo aumento da altitude em direção ao norte e noroeste da área de
estudo, onde os vales apresentam-se mais encaixados na rede de drenagem.
Mapa 03: Mapa hipsométrico da Bacia Hidrográfica do Arroio Manoel Alves à montante do lago
SOCEPE.
A configuração de relevo acidentado encontrado no local da bacia hidrográfica
torna significativa uma análise do grau de inclinação das vertentes através de classes
de declividade propostas por De Biasi (1992), sendo estas expressas em
porcentagem.
A velocidade do escoamento superficial é inerente à declividade do terreno,
uma vez que quanto maior for o declive mais rápido será o escoamento, podendo,
assim, definir a quantidade de material transportado das encostas, acarretando solos
desprotegidos e depositando maiores quantidades de materiais na rede hidrográfica
da bacia.
Segundo Bôer (2009), “A erosão hídrica é mais evidente em regiões de alta
precipitação pluviométrica, em áreas com solo exposto sem cobertura vegetal, sendo
mais intensa nos locais com declividade acentuada”.
Segundo Cunha (1996), uma encosta com baixa declividade e comprimento de
rampa, também pode ser vulnerável aos processos de erosão quando submetida a
uma grande vazão de escoamento de águas superficiais, esse fator pode ocorrer
dependendo das características de uso da área.
A partir do mapa 04 podemos identificar restrições quanto à ocupação das
vertentes diante da acentuada declividade. No mapa destaca-se o predomínio das
classes de declividade mais acentuadas na parte circundante a drenagem e ao lago do
SOCEPE. Sendo assim, o local apresenta uma alta suscetibilidade a processos
erosivos.
Mapa 04: Mapa de declividade da Bacia Hidrográfica do Arroio Manoel Alves à montante do
lago SOCEPE.
Como a bacia hidrográfica do Arroio Manoel Alves está situada em um contexto
regional de uso agrícola da terra, torna-se importante caracterizar a área quanto à
disposição do terreno em relação à insolação (mapa 05).
Outra função do produto cartográfico (mapa 05) é em relação à identificação de
áreas mais úmidas, pois estas áreas atuam como fator controlador da distribuição da
cobertura vegetal.
Mapa 05: Mapa de orientação de vertentes da Bacia Hidrográfica do Arroio Manoel Alves à
montante do lago SOCEPE.
Pela análise do quadro 01, verifica-se que a maior parte da bacia hidrográfica à
montante do lago é coberta por agricultura, cerca de 481.770 ha. A área ocupada pela
vegetação, que inclui as matas e matas galeria ao longo da rede de drenagem ocupa
uma área de 362.250 ha.
Quadro 01: Quantificação das classes de uso da terra da Bacia Hidrográfica a
montante do lago da SOCEPE.
Quantificação das classes de uso da terra
Tipo de uso
Área (ha)
Corpos hídricos
14.310
Agricultura
481.770
Vegetação
362.250
Área total das classes
858.330
O uso da terra é um tema básico para o planejamento da utilização do solo na
bacia hidrográfica, pois retrata as atividades humanas que podem significar pressão e
impacto sobre os elementos naturais. É essencial para a análise de conflitos de uso do
solo e, por isso, importante forma de ligação entre as informações do meio físico e
sócio-econômico.
Mapa 06: Mapa de uso e cobertura do solo da Bacia Hidrográfica do Arroio Manoel Alves à
montante do lago SOCEPE.
Das nascentes e dos canais observados
A primeira nascente apresenta grande volume d’água, nascendo em meio a
rochas e apresenta algumas árvores de médio porte a sua volta, porém com pouca
vegetação arbustiva o que permite o acesso do gado por estar dentro de um “potreiro”.
Em muitos pontos do canal que leva a água da nascente até o Arroio Manoel Alves
apresenta-se um pisoteio excessivo por parte do gado, chegando mesmo a alterar o
trajeto do fluxo d’água bem como acarreta na movimentação do solo das margens,
alterando a quantidade de sedimentos presente no corpo hídrico.
A segunda nascente observada apresenta menor volume d’água em
contrapartida com vegetação arbustiva e de médio porte bem densa. No entanto, na
medida em que nos afastamos da nascente a vegetação diminui consideravelmente.
Em alguns locais a vegetação ciliar foi totalmente removida restando apenas alguns
arbustos que separam o canal de drenagem da lavoura de soja e das pastagens do
gado.
Estes dois exemplos retratam bem o uso do solo na área a montante do lago
da SOCEPE tornando verdadeiras as premissas levantadas sobre o processo de
assoreamento do lago. A retirada da vegetação ciliar, o constante pisoteio do gado nos
canais e suas margens aliado a constante movimentação do solo faz com que
aumente
consideravelmente
a
quantidade
de
sedimentos
carregados
pelos
contribuintes e depositados no fundo do lago da SOCEPE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente podemos considerar que o processo de assoreamento do lago da
SOCEPE vem ocorrendo pelo fato da área a montante da propriedade ter um grande
uso agrícola. As áreas de APP’s ocupadas irregularmente contribuem ainda mais para
a degradação dos canais, diminuindo o fluxo d’água e aumentando o carregamento de
sedimentos até outros locais, como o lago da SOCEPE. Podemos salientar também
que o processo de assoreamento do lago pode estar ocorrendo também pela falta de
vegetação em suas margens, que em muitos locais não possuem sequer gramíneas,
apesar de essa hipótese ser descartada pelo presidente da Sociedade, profundo
conhecedor da região.
A regularização das áreas de APP’s associada a diminuição da intensidade
do cultivo agrícola e aliado a recomposição da vegetação ciliar bem como das
margens do lago se tornaria a forma mais clara e eficiente para que a o processo de
assoreamento seja cessado.
Sabemos que a diminuição da área cultivada é um processo que envolve não
apenas fatores estratégicos, mas também econômicos. Mas se permanecer a situação
atual num futuro próximo o município de Itaara não terá a disponibilidade de acesso á
água como tem hoje no lago da SOCEPE.
Portanto deve-se realizar uma ação conjunta que envolva o poder público, a
SOCEPE e a população, que deve ser a maior interessada na recuperação e
preservação do recurso hídrico. E, que as palavras do presidente da SOCEPE sejam
reconhecidas como verdadeiras quando diz que:
“Eu certamente não verei o lago se acabar, eu não sofrerei com a falta
d’água, mas duas, três gerações a frente talvez sofram, talvez não vejam
o lago como eu vi, talvez não tenham as lembranças que eu tenho dele
anos atrás.” (Lippold Oscar Horst, 2011).
REFERÊNCIAS
ASSAD, E. D., SANO, E. E. Sistemas de Informações Geográficas: aplicações na
agricultura. Brasília: 2 ed., 1998.
BÔER, N. (org), RIGHES, A. A., BURIOL, G. A. Água e educação: princípios e
estratégias de uso e conservação. Santa Maria: Ed. Pallotti, 2009.
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Diário Oficial da República do Brasil. Brasília, DF, 16 set. 1965. Disponível
em:http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao
=visualizar&id=76. Acesso em: 02 nov. 2011.
CUNHA, S. B. da e GUERRA, A. J. T. Degradação Ambiental. In: GUERRA e
CUNHA (Org). Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
DE BIASI. Carta Clinográfica: métodos de representação e sua confecção. São
Paulo: Geográfica (6), 1992.
LOCH, R. E. N. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados
espaciais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.
MARION, F. A. Levantamento da situação atual dos recursos hídricos
subterrâneos em Itaara – RS e sua vulnerabilidade natural. 2007. 48f. Trabalho de
Graduação B (Graduação em Geografia Bacharelado) – Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2007.
SANTOS, R. F. (Org.). Vulnerabilidade ambiental: desastres naturais ou fenômenos
induzidos?. Brasília: MMA,2007.
SATO, S. E.; CUNHA, C. M. L da; PEREIRA, A. C.; A carta de declividade como
instrumento para o gerenciamento costeiro paulista. Rio Claro: UNESP, 2009.
SCHNEIDER, C. Recuperação de áreas em incompatibilidade legal de uso da
terra: o caso da bacia hidrográfica do Arroio Manoel Alves, Itaara, RS. 2010. 77f.
Dissertação (Mestrado em Geografia e Geociências) – Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2010.
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