1 - Teca CECIERJ - Fundação Cecierj

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Cleber Barbosa
Volume 1
2ª edição
Análise Macroeconômica
Análise Macroeconômica
Volume 1
2ª edição
Apoio:
Cleber Barbosa
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
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Cleber Barbosa
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eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
B238a
Barbosa, Cleber.
Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed.
- Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
158p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 978-85-7648-422-3
1. Macroeconomia. 2. Sistema monetário. I. Título.
2010/1
CDD: 339
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia
Alexandre Cardoso
Universidades Consorciadas
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NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
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RIO DE JANEIRO
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UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
Reitora: Malvina Tania Tuttman
Análise Macroeconômica
SUMÁRIO
Volume 1
Aula 1 – Conhecendo a Macroeconomia .................................................... 7
Aula 2 – Medindo as atividades econômicas ...........................................35
Aula 3 – O PIB e os componentes da demanda agregada ...................... 53
Aula 4 – Determinação da renda e da produção de equilíbrio .....................71
Aula 5 – Os investimentos e as taxas de juros .........................................97
Aula 6 – O sistema monetário .................................................................. 113
Aula 7 – A demanda por moeda ............................................................... 135
Referências............................................................................................ 155
Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fictícios, assim como os nomes de empresas que não
sejam explicitamente mencionados como factuais.
Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas
explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.
1
AULA
Conhecendo a Macroeconomia
Meta da aula
objetivos
Apresentar as questões econômicas abordadas
pelo campo da Macroeconomia através de quatro
conceitos-chave: o crescimento econômico; a
inflação; as relações externas (dívida externa);
a distribuição de renda.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1
identificar as quatro variáveis que
acompanham o estudo da Macroeconomia;
2
isolar as decorrências dessas variáveis
na dinâmica de um sistema econômico;
3
articular duas ou mais variáveis a fim
de solucionar problemas reais;
4
identificar problemas econômicos nacionais
de interesse da Macroeconomia;
5
explicar o funcionamento de órgãos
do governo, como o Banco Central.
Pré-requisitos
Naturalmente, você se recorda do que estudou em
Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios
abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da
escassez, que permeia o uso de todos os recursos
econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será
discutido nesta aula. Pronto para aprender?
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
INTRODUÇÃO
Figura 1.1: Da tela de Albrecht Dürer, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a
Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. No estudo da Macroeconomia, a Inflação,
a Recessão, o Endividamento Externo e a Desigualdade Social.
Ao iniciarmos o estudo de algum fenômeno ou teoria, precisamos, em primeiro
lugar, definir um ponto de partida. Provavelmente, você tem bastante claro
que a Economia trata do comportamento do mercado. No entanto, se
quiser se ocupar dessa reflexão por mais um momento, vai perceber que o
conhecimento macroeconômico parte de princípios gerais que se aplicam a
!
outros ramos do saber.
O que é a Economia?
O termo “economia” vem do grego,
oikos = casa e nómos = distribuição,
administração.
A Economia, grosso modo, é a arte de administrar a casa, o ambiente em que
vivemos. Repare que conhecer a origem do termo nos ajuda a compreender
nosso alvo de estudo como algo mais próximo, mais palpável. Ou você duvida
de que a ecologia, por exemplo, também tem algo a nos dizer sobre a maneira
como cuidamos de nossa casa, o planeta?
A Economia lida, como princípio, com a noção de escassez, que permeia todas
as atividades econômicas. Por escassez queremos dizer que não há recursos
disponíveis suficientes para suprir todas as nossas necessidades, sendo
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1
necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as
AULA
variáveis envolvidas no processo.
Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm
algo a oferecer uma à outra?
!
Economia ou sistema
econômico?
Lembre-se: ao longo da aula, você vai
conviver com um uso convencionado para o
termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse
conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico
– ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que
movem uma economia. Essas atividades são exercidas
pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos
os indivíduos (consumidores e produtores)
concentrados em uma determinada região
(um país, um estado, uma cidade).
O QUE É A MACROECONOMIA?
Em termos gerais, a Macroeconomia representa o estudo das
grandes variáveis econômicas. Mais precisamente, das variáveis
econômicas agregadas.
Observe: o termo “agregada” vem do verbo “agregar”, que
significar somar, reunir. Assim, as variáveis econômicas agregadas são
a soma dos valores de cada um dos elementos que contribuem para a
formação de um panorama.
Por exemplo: tomemos um gênero alimentício como o arroz. No
mercado, o arroz tem seu preço, que varia conforme a dinâmica de todo
o sistema. Quando estudamos a Macroeconomia, no entanto, não nos
concentramos apenas no nível de preços do arroz. Estudamos como cada
fator envolvido no sistema econômico afeta o nível de preços do arroz,
do feijão, da carne, dos ovos. Ao longo desta aula, você será capaz de
perceber que os preços – ou o nível de preços de um país – podem variar
como um todo. Dessa forma, podemos considerar a variável agregada
“preço” como um fator homogêneo.
A Macroeconomia pode ser entendida segundo quatro variáveis
agregadas: o nível de preços, o nível de emprego, a taxa de câmbio e
a taxa de juros. Esses elementos se relacionam de forma que um afete
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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
todos os outros. Como você verá mais adiante, as interações entre as
variáveis macro trazem grandes efeitos à economia.
!
Quatro importantes
variáveis da macroeconomia
– nível de preços;
– nível de emprego;
– taxa de câmbio;
– taxa de juros.
MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA?
A Macroeconomia consiste no estudo do comportamento da
economia como um todo, ou seja, de maneira agregada, interdependente.
A Microeconomia, por sua vez, concentra-se no comportamento dos
consumidores e das empresas, sempre sob a ótica desagregada ou
setorial.
A Macroeconomia estuda a inflação como problema nacional.
A Microeconomia se preocupa com os efeitos das variações de preços
sobre as empresas e os consumidores.
A Macroeconomia e a Microeconomia constituem a base da
teoria econômica.
O PREÇO
Jane Cleary (www.sxc.hu)
Definidos os conceitos de Economia, Macroeconomia e Microeconomia, vamos analisar, uma a uma,
cada variável econômica agregada. Para começarmos,
apresento a você, neste momento, um importante
conceito: o preço.
Na forma agregada, o preço representa a soma
de todos os preços de todas as empresas que operam
Figura 1.2: O preço das ervilhas é
determinado pelo lucro do feirante e
pelo nível do preço da vagem em todo
o mercado.
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em um mesmo sistema econômico (ou em uma mesma
economia). Desse modo, encontra-se a variável agregada
preço, ou, simplesmente, o nível de preço.
1
Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua
AULA
dinâmica de alteração é a inflação.
A INFLAÇÃO
A inflação refere-se a um aumento no nível geral de preços. Opõe-se
à deflação, que se refere à diminuição do nível geral dos preços. Ambos
os conceitos são conseqüências da alteração do valor do dinheiro – da
moeda – e não do valor dos bens. Um exemplo: um quilo de feijão que,
na virada do mês, passe a custar 20% a mais em qualquer supermercado
onde se procure é uma referência de inflação, caso os outros produtos
Davide Guglielmo
tenham aumentado 20% em média.
Figura 1.3: A inflação faz seu dinheiro
perder o valor.
Atividade 1
Quanto custa hoje?
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Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez
quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele
automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você
tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o
arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa.
Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as
outras marcas nacionais tenham mantido seus preços.
Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos
do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um
processo inflacionário?
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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Resposta Comentada
Não há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um
processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos
poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o
aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços
relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que
tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo
para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço
do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar
aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no
táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de
táxi e assim por diante.
O EMPREGO
Uma economia, como um automóvel, precisa de combustível para
funcionar. Se tomarmos as empresas como o ambiente onde a economia
é impulsionada, vamos concluir que o trabalhador é um dos importantes
fatores que movimenta a economia. Vale então definir de forma clara o
conceito de emprego.
O emprego se refere às posições destinadas ao trabalhador – ou à
mão-de-obra – como fator de produção dentro de um sistema econômico.
Dentro de uma economia, o nível de emprego depende das expectativas
dos empresários em torno do que vão produzir (extensão do ambiente
empresarial, do número e do tamanho) das empresas que operam ali e
até da utilização de tecnologia que substitua o trabalho humano. A luta
por melhores colocações no mercado de trabalho e por níveis mais altos
RENDA
DJ Alemão
de R E N D A permeia toda a história do sistema de produção capitalista.
Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir
o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do
trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda
do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de
trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda
dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes.
Figura 1.4: Sua renda é
Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e
quanto seu trabalho paga.
solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que
trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas
atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si,
assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do
sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores.
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CEDERJ
1
AULA
Mike McGarry
Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi
o primeiro grande avanço tecnológico em direção às
economias modernas.
Atividade 2
Onde quer que precisem de mim
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2
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Você é um metalúrgico. Seu país está vivendo um surto de industrialização, e o mercado
pede cada vez mais metalúrgicos. No entanto, sua esposa, agrônoma, recebeu uma oferta
de trabalho irrecusável em outro país, onde a economia é principalmente rural. Ali, o
pequeno mercado ligado à metalurgia fez aparecer cursos práticos ligados à sua profissão.
Há metalúrgicos trabalhando, mas há poucas oportunidades de emprego. Suponhamos que,
nesse novo país, você acabe conseguindo na sua área um emprego bastante semelhante
ao que você tinha no Brasil. O que deve acontecer com a sua renda nesse novo emprego,
em seu novo país?
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Resposta Comentada
Provavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesma
função e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário
pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu
valor no mercado que vai determinar seu nível de renda.
CRESCIMENTO ECONÔMICO X RECESSÃO
O processo produtivo que se percebe dentro de uma economia é
algo dinâmico: certos períodos podem apresentar desempenho melhor ou
pior, em comparação a períodos anteriores. Daí perceba que, se sob um
primeiro olhar trabalhadores e empresários encontram-se em oposição,
é o desempenho da economia como um todo que vai determinar seus
ganhos e suas perdas. Períodos de alto desempenho para a produção, em
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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
princípio, beneficiam a todos e geram o que se chama de “crescimento
econômico”.
O crescimento econômico representa o aumento das atividades
econômicas de um país durante um período de tempo (normalmente um
ano). Muitas vezes é medido pelo produto interno bruto (PIB), conceito
que abordaremos em nossa segunda aula.
Por ora, guarde que o contrário de crescimento econômico é a
recessão. Em períodos de recessão, de um ano para o outro, ao invés
de produzir mais, o país apresenta níveis de produção e emprego
Kadri Poldma
menores.
Figura 1.6: Em momentos de recessão,
quem mais sofre com os baixos níveis
de emprego são os jovens. Por quê?
A TAXA DE CÂMBIO
Outra de nossas importantes variáveis econômicas agregadas é a
taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em relação à estrangeira.
A taxa de câmbio expressa quanto se deve pagar em moeda nacional para
adquirir uma unidade monetária de outra moeda, ou seja, de quantos
reais precisamos para comprar um dólar, por exemplo.
Para cada moeda estrangeira haverá uma taxa de câmbio. Tudo
se passa como se a moeda estrangeira fosse uma mercadoria qualquer.
A desvalorização da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira
encareceu. A valorização do câmbio nos diz que a moeda estrangeira
está mais barata.
No Brasil, esse equilíbrio entre moedas é administrado pelo Banco
Central, em Brasília. Para entender a dinâmica do câmbio, podemos
partir de um exemplo bastante simples: imagine que você coleciona um
álbum de figurinhas. Você tem o álbum quase completo e tem na manga
uma figurinha premiada, a ser trocada por uma outra que lhe falta para
completar uma página. Mas então quanto vale aquela figurinha, no ato
de trocá-la por outra? Depende.
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CEDERJ
circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o
Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país,
o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer
comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco
Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais
barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva.
O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado
– o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao
real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva
por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado.
?
Figura 1.7: O dólar, que era
usado como moeda padrão nas
negociações internacionais, vem
perdendo terreno para o euro, a
moeda da União Européia.
Entendendo a taxa de câmbio
Uma moeda fraca, desvalorizada, tem menor
poder de compra, o que quer dizer que fica mais caro
importar. Se um real vale um dólar, uma máquina fotográfica
de 900 dólares custa 900 reais. Mas se dois reais são iguais a um dólar,
a mesma máquina de 900 dólares sai pelo dobro do preço para nós,
brasileiros: 1.800 reais.
Por outro lado, uma moeda forte, valorizada, estimula a importação, ao mesmo
tempo que desestimula a exportação. Se um real vale dois dólares, por exemplo,
produtos brasileiros tendem a vender menos no exterior, já que quem
trabalha em dólar precisa usar mais dinheiro para comprar um produto
fabricado aqui. Voltemos à máquina fotográfica: uma máquina
brasileira custa 900 reais. Um real vale dois dólares. Logo, um
cidadão norte-americano que queira comprar uma
máquina no Rio de Janeiro vai precisar pagar
900 reais, ou 1.800 dólares.
CÂMBIO: O PREÇO DE SE NEGOCIAR EM OUTRA LÍNGUA
O valor e a aplicação de moedas estrangeiras em um país referem-se
às nossas relações comerciais com o resto do mundo. Para entendermos
melhor a função do câmbio, podemos nos reportar ao que aprendemos
sobre preços e à sua função clássica em qualquer transação econômica:
a de coordenar os papéis de compradores e vendedores e a de ajudar a
elaborar as decisões de consumidores e produtores.
O valor de uma moeda estrangeira então é seu preço. Pois se
estamos falando em comércio entre dois países, podemos presumir que
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AULA
Marcin Krawczyk
Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
cada país vai partir de sua própria moeda para
calcular se vale a pena ou não “fazer negócio”.
A atratividade de um país para o comércio
exterior, assim como o controle que se exerce sobre
o fluxo de entrada e saída de capitais, é determinado
pelo que se chama de balanço de pagamentos.
O balanço de pagamentos é o registro
sistemático de todas as transações econômicas
Figura 1.8: Imagine que uma balança em
equilíbrio tem, de um lado, as importações
e, de outro, as exportações.
envolvendo um país e o resto do mundo (países
estrangeiros) durante determinado período.
As exportações, as importações e o pagamento
dos juros das dívidas contraídas no exterior são
alguns dos itens contabilizados no balanço de
pagamentos.
Tomemos um exemplo prático: se ao Brasil interessa ampliar a
venda de algodão ao exterior, por exemplo, e se o país encontra-se em
um momento em que as importações em geral superam as exportações,
vale a pena baixar o valor do real em relação ao dólar. Fazendo isso,
compradores estrangeiros precisarão de menor volume de suas moedas
para comprar um produto avaliado em reais. Se o valor do real está mais
baixo, fica mais barato comprar algodão brasileiro.
!
Câmbio Fixo x
Câmbio Flutuante
A administração da taxa de câmbio
depende de uma postura muito definida por
parte do governo: a de se instituir o chamado
“câmbio fixo”. Neste caso, o governo define um
valor estável para a moeda, a partir do qual as
operações vão ser realizadas. O contrário existe
e chama-se “câmbio flutuante”. Em regimes
de câmbio flutuante, o valor da moeda
oscila segundo as tendências do
mercado exterior.
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AULA
O gargalo das exportações
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Atividade 3
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Você é o presidente do Banco Central. Em seu gabinete, uma comitiva de grandes
produtores brasileiros de soja o aguarda. Eles estão furiosos: suas exportações caíram
quase 30% nos últimos meses. Todos eles defendem que é preciso mexer na taxa de
câmbio. O dólar, no patamar em que se encontra, inviabiliza a compra da soja por países
estrangeiros. O que você faria? Elevaria ou derrubaria o valor do dólar? E como você
faria isso, vendendo ou comprando dólares do mercado?
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Resposta Comentada
A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação
entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele
que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que sua
moeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores
brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em
relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar.
Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do
banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou
comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado.
Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central,
nesse caso, deve comprar dólares.
A TAXA DE JUROS
Preço, emprego, taxa de câmbio. Uma quarta variável econômica
que está no centro de nossas preocupações desta aula é a taxa de juros,
ou, sob a ótica do consumidor, quanto o mercado embute no preço de
produtos e serviços em função de compras a crédito.
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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Já estudamos o conceito de inflação. Vimos que ele se refere
ao aumento da moeda circulante em um país, acompanhado de sua
conseqüente desvalorização. Pois a taxa de juros é uma das formas que
o mercado encontra para compensar perdas diante da inflação.
Quando você deposita uma parte de seu salário em uma caderneta
de poupança, sabe que aquela é uma aplicação segura e que rende sempre
alguma coisa, por mais modesto que seja esse rendimento. Pois esse
rendimento são os juros que você recebe do banco. Aqueles mesmos juros
dos quais você reclama quando compra alguma coisa a prazo ou quando
toma um empréstimo bancário. É que aí é você quem paga os juros.
Vimos então que uma elevação da taxa de juros prejudica as
pessoas que compram a prazo. Esses consumidores vão pagar mais
caro por seus financiamentos. Por outro lado, aqueles que aplicam seus
recursos no mercado financeiro ficarão muito contentes ao receber mais,
graças ao aumento dos juros.
Atividade 4
Comprando devagar
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Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa
comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o
valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era
pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora?
Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado
continua valendo a pena comprar a prazo?
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Resposta Comentada
Embora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros,
nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem
o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na
poupança o que você havia planejado usar nas prestações.
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CEDERJ
1
AULA
Mercado Financeiro e Especulação
No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de
Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro
e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e
serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações.
A Economia em Desequilíbrio
Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário
Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior
dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas
portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local
vem abaixo.
Sugestão: visite ao site http://www.imdb.com/title/tt0131566/]
AS VARIÁVEIS E SUAS DECORRÊNCIAS
Essas quatro variáveis agregadas das quais a Macroeconomia se
ocupa (guarde, vai ser útil: nível de preços, salários, taxa de câmbio, taxa
de juros) irradiam seus efeitos sobre grandes questões nacionais, como o
crescimento econômico do país, a inflação, o comércio exterior, representado
pelo balanço de pagamentos, e a distribuição de renda.
Hoje, uma das maiores preocupações nacionais ao redor do
mundo é a competição pelo ambiente industrial perfeito. No momento,
as Américas encontram-se negociando acordos multilaterais, dentre os
quais a Alca e o Nafta se destacam. A idéia, que segue a tendência atual
de que países se organizem em blocos, tenta regular as relações comerciais
e culturais entre os países da região, de modo que o crescimento e o
desenvolvimento econômicos sejam sentidos por todas as nações
envolvidas de forma relativamente eqüânime. A agilidade ou a lentidão
desse processo está submetida a uma enormidade de fatores, dentre os
quais e de forma prioritária os políticos.
CEDERJ
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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
?
O caso mexicano
Acompanhe um caso: nos últimos anos,
o México assumiu uma posição mais próxima da economia
americana, investindo nessa crença de que faria parte de um
sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas
são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana
é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se
tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar
produtos feitos nos Estados Unidos.
No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou
“maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo
aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No
entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem
perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é
ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados
Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se
fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para
saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou
“rust belt” em um mecanismo de buscas da internet.
Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e
The Washington Post.
Já está claro que a instalação de indústrias ou de qualquer outro
incremento a sistemas econômicos locais está subordinada a variados
fatores, desde regras de proteção ambiental até facilidade de transportes,
preço da mão-de-obra, proximidade dos mercados consumidores, clima.
Tudo influencia no desenvolvimento da economia. Então, ao ler jornais ou
assistir à TV, fique atento para perceber que um surto de desenvolvimento
Trip Fontaine (www.sxc.hu)
local nunca acontece por acaso ou milagre.
Figura 1.9: Quando uma grande indústria fecha suas portas, não são só suas instalações que sentem os efeitos.
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CEDERJ
AULA
1
AS VARIÁVEIS APLICADAS
A taxa de juros sobre o mercado
A taxa de juros, ou seja, aquilo que se paga de juros por
pegar dinheiro emprestado, afeta os investimentos dos empresários.
Acompanhe: se houver elevação da taxa de juros, os empresários que
precisarem recorrer aos bancos para conseguir dinheiro a fim de comprar
novas máquinas, por exemplo, vão verificar que está mais caro investir.
Logo, tendem a ficar desestimulados para tal. Ainda que eles tenham o
dinheiro, poderão perceber que aplicar no mercado financeiro, ou poupar,
em vez de investir na compra de máquinas, pode ser mais lucrativo.
Assim, a elevação dos juros inibe os investimentos em recursos
produtivos (aqueles destinados a aumentar a produção) e estimula a
poupança.
Muito bem: se os empresários investem menos, como conseqüência,
a produção deverá crescer menos. E como produção menor implica
menos emprego, percebemos como a taxa de juros pode afetar o nível
de emprego de uma economia. Leia isso de novo. Visualize.
Atividade 5
Juros, para que te quero?
2
3
4
5
ECONOMIA
BC anuncia aumento de 0,25 ponto
na taxa de juros
F
oi dado pelo
Banco Central o
sinal verde para
mais um aumento na taxa
de juros. Diferente do que
havia declarado há uma
semana o presidente do
BC, Henrique Meirelles,
a partir de amanhã o
mercado opera com um
aumento de 0,25 ponto
percentual.
CEDERJ
21
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
MUNDO
Argentina quer frear "invasão brasileira"
Em mais um capítulo da
dura negociação comercial
entre Brasil e Argentina,
o presidente argentino
Néstor Kirchner declarou
ontem ser necessário frear
o que classificou como
uma “invasão brasileira”.
O alvo da vez é o setor de
eletrodomésticos, que tem
na Argentina um de seus
principais compradores.
A partir de segundafeira, passam a vigorar
naquele país taxas mais
altas para a importação de
refrigeradores brasileiros.
Retornam hoje, pelo porto
de Santos, dez cargueiros
carregados de refrigeradores
brasileiros que foram retidos
na Argentina.
Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira
uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode
influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira?
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Resposta Comentada
Se os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro.
Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos
juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se
o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a
dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há
um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim
de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira
à vista.
A RENDA E A QUESTÃO SALARIAL
Os salários são uma via de mão dupla: de um lado, representam a
fonte de renda da maior parte da população. De outro, uma importante
variável de custos para as empresas. Da mesma forma, um reajuste salarial
estimula o consumo, ao mesmo tempo que eleva os custos da empresa.
22
CEDERJ
1
Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes
AULA
industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam
um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive
porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de
origem dessas empresas.
Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de
produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado
para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em
toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação.
A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda
circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário
repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais
caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos.
Acompanhou?
Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos
trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final
da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários
versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda.
A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes
temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa
saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias
e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair
novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar
maiores custos e repasses aos preços.
Atividade 6
Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque.
Dois salários mínimos.
1
2
4
CEDERJ
23
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Esta é a geladeira dos seus sonhos:
Isso você leu hoje no jornal:
ECONOMIA
Novo salário mínimo é de 350 reais
E
m pronunciamento
em rede nacional
de TV, o Presidente
Luis Inácio Lula da Silva
anunciou, na noite de
ontem, um novo patamar
para o salário mínimo. A
partir desta segunda-feira,
o mínimo passa a 350 reais,
nível mais alto desde...
E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua
resposta.
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Resposta Comentada
Provavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor
do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por
uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a
menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento
do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando
mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder
de compra fique como antes.
24
CEDERJ
1
AULA
!
Maior remuneração e
menor inflação?
Talvez você esteja se perguntando se é possível
que, em algum caso, um aumento na remuneração não
seja inflacionário.
A resposta é: claro que sim.
Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que,
vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de
produção que não seja o do trabalho).
Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada
período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador
pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será
inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro
que sua produtividade gerou.
Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu
trabalho.
Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não
representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários.
A TAXA DE CÂMBIO E O BALANÇO DE PAGAMENTOS
A taxa de câmbio (ou o valor, o preço da moeda nacional em
relação ao da estrangeira) afeta o nível de preços e as exportações. Veja
que quando o preço do dólar aumenta (nosso câmbio desvalorizado),
comprar um produto importado no supermercado fica mais caro.
Exemplo: suponha que a taxa de câmbio esteja assim: 1 dólar =
1 real (U$ 1: R$ 1). Daí, um uísque importado ao preço de um dólar
valerá, no supermercado, exatamente um real (desconsidere o lucro do
supermercado e outros itens de custos). A partir daí, se houver uma
desvalorização do real de forma a cotar 1 dólar = 2 reais, então você
pagará 2 reais para adquirir o mesmo uísque. Como os preços dos
importados aumentam, é de se esperar que aqui se comprem menos
importados. Assim, diminuem as importações.
CEDERJ
25
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Agora, se a taxa fosse 2 dólares = 1 real (valorização
Leonardo Novaes
cambial de nossa moeda), o uísque estaria custando 50
centavos de real. Seria um produto importado mais barato
do que o similar nacional, o que nos estimularia a comprá-lo,
em detrimento daquele genérico brasileiro.
Mas veja, a desvalorização do câmbio é um dos fatores
que podem afetar a inflação.
Eis um caso: o trigo é um insumo importado para a
produção do pão, uma matéria-prima. Se houver desvalorização da moeda nacional, o preço do trigo importado
aumenta, e, por conta disso, poderá haver o repasse desse
aumento para os preços na padaria.
Figura 1.10: O trigo que seca
nos campos não vira pão, vira
aumento de preço.
Em geral, com a desvalorização, todas as matériasprimas importadas sofrerão aumento de preços, com repasses
para os preços dos produtos manufaturados, finalizados.
Atividade 7
O salário é “imexível”
3
4
5
Você trabalha no Banco Central. O presidente, em reunião ministerial, anuncia sua
intenção de reduzir a inflação. Só que ele não aceita instituir mecanismos de redução
salarial, tampouco admite aumento nas taxas de juros. Através da taxa de câmbio, o
que você pode sugerir?
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Resposta Comentada
Ao vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em
relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora
da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os
produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se
está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar:
ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo
à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens
importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização
cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos
importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços,
ocasionando a redução da inflação.
26
CEDERJ
São vários são os efeitos da elevação de
preços. Por ora, vamos citar a redução do poder
de compra dos salários e a conseqüente queda na
demanda agregada (a demanda total da população
por um determinado item), ou seja: a redução dos
níveis de compra.
OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE
1
AULA
Tess
O nível de preços e seu bolso vazio
Figura 1.11: Se o nível de preços da economia
sobe, os efeitos são sentidos nos mercados e em
sua geladeira.
Recessão. Inflação. Dívida externa alta. Níveis complexos de
concentração de renda. Ao falar desses problemas, você se recorda
de algum país que esteja passando – ou que tenha passado – por tais
situações?
Se pensou no Brasil, meus parabéns: você está atento ao que
acontece ao seu redor. Ainda assim, posso dizer: dos cerca de 200
países existentes no planeta, a ampla maioria enfrenta ou já enfrentou
tais desafios. Vale também dizer que todos esses precisam da análise
macroeconômica para ajudá-los a solucionar os problemas de baixo
crescimento econômico, desemprego, dívidas externas e má distribuição
de renda.
A recém-criada União Européia, por exemplo, está reorganizando
os fluxos produtivos e populacionais do Velho Mundo. Cidades como
Frankfurt, na Alemanha, têm suas ruas próximas às estações de trem
tomadas por imigrantes do Leste europeu, que, liberados pelo fim da
barreiras impostas pela extinta União Soviética, acorrem à Europa
Ocidental em busca de oportunidades melhores de emprego. Muitos
deles começam a formar uma nova população de desabrigados e
desempregados (ver tabela).
CEDERJ
27
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Países da União Européia (EUR 15)
Taxas de desemprego e distribuição do emprego
Total pelos setores de agricultura, indústria e serviços – 1993
Tabela 1.1: Taxas de desemprego e de emprego por setores dos quinze países que integram a União Européia
País
Taxa de
Desemprego
(%)
Bélgica
9,4
Dinamarca
Emprego na
Indústria (%)
Emprego nos
Serviços(%)
2,9
30,9
66,2
10,3
5,2
27,4
67,4
Alemanha
7,2
3,7
39,1
57,2
Grécia
7,7
21,9
25,4
52,8
Espanha
21,8
10,1
32,7
57,2
França
10,8
5,9
29,6
64,5
Irlanda
18,4
13,8
28,9
57,1
Itália
11,1
7,9
33,2
59,0
Luxemburgo
2,6
3,1
29,6
67,3
Holanda
8,8
3,9
25,2
70,9
Áustria
3,6
7,1
35,6
57,4
Portugal
5,1
11,5
32,6
56,0
Finlândia
17,9
8,6
27,8
63,5
Suécia
8,1
3,2
26,6
70,1
Reino Unido
10,4
2,2
30,2
67,5
!
Emprego na
Agricultura
(%)
Fonte: Eurostat/IPEA.
O Brasil já se consagrou
campeão mundial de futebol, vôlei e
boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista
em outros esportes: já foi campeão em maior
inflação, maior taxa de juros, menor salário
mínimo, maior concentração de renda...
TRADE-OFF: OS PÉS OU A CABEÇA?
Você já ouviu falar do problema do “cobertor curto”? Numa
noite de inverno, ao dormir com um desses ingratos elementos
macroeconômicos, você passa por um difícil e nunca satisfatório dilema:
28
CEDERJ
1
ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário.
AULA
Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso
também ocorre.
O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa
uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em
proveito de alguma coisa dificulta uma outra.
Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas
para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários),
aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir
dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que,
infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado
trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas
econômicos.
Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um
pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos.
Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a
dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer?
Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários,
podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a
gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim?
Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa
de crescimento econômico. Ao diminuir a taxa de juros, os empresários
irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo,
mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de
juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários
a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto
mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços.
Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais
pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo,
gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa.
Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade.
Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em
questão ou sua situação econômica.
Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter
o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre
os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a
empresa, salário é custo.
CEDERJ
29
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
A diminuição da margem de lucro dos empresários também
contribui para reduzir a inflação. Essa diminuição pode ser feita com um
volume maior de importações, já que isso impõe uma maior concorrência
às empresas nacionais. Ao mesmo tempo, fazer isso é desestimular o
crescimento econômico local.
Outra séria conseqüência de uma redução no nível salarial é
o aumento da concentração da renda da população, problema que
conhecemos bem.
Em suma, temos aí o trade-off do “cobertor curto”: ao se resolver
um problema, quase sempre acentua-se algum outro. É preciso priorizar
o que se quer: primeiro combater a inflação e depois fazer o país crescer?
Ou o contrário?
Essa é uma discussão que permeia todos os momentos políticos
dos países, e normalmente é solucionada nesse mesmo ambiente político.
Vale notar que, até pela natureza do “cobertor curto”, não há solução
puramente técnica para os impasses de que trata a Macroeconomia.
Cris Watk
CONCLUSÃO
?
Figura 1.12: Em Economia,
há sempre um pé que fica
de fora. A grande questão é
decidir qual deles.
Crescimento ou desenvolvimento?
Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época:
“Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos
militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro
da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que
primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verdeoliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o
bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até
usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas
promete ser diferente.”
30
CEDERJ
1
AULA
!
Quatro problemas (macro)
econômicos nacionais
– inflação;
– crescimento econômico baixo;
– dívida externa alta;
– má distribuição de renda.
A Macroeconomia trata as questões econômicas de maneira
agregada. Estas são inter-relacionadas e constituem um desafio à política
econômica. Muitas vezes, ao se tentar resolver um problema macro,
um outro pode surgir. Muitas vezes, esse dilema é posto de maneira
a exigir uma escala de prioridades, já que não se consegue resolvê-los
simultaneamente.
Ao final desta aula, tendo visto os temas ligados à Macroeconomia
e compreendido alguns dos processos de interação entre as variáveis
macroeconômicas, eis algumas colocações no mercado de trabalho a
serem ocupadas por economistas:
• no Ministério da Fazenda, assessorando o ministro em questões
nacionais;
• em empresas multinacionais, onde tenha a função de estudar o
comportamento econômico das empresas concorrentes;
• no mercado financeiro, pois ali terá que verificar quais títulos
financeiros darão maior rentabilidade com o menor risco;
• em bancos comerciais (ex.: Banco do Brasil), uma vez que
sua tarefa diária será estimar o volume de recursos que podem ser
emprestados aos setores público e privado;
• no setor imobiliário, no departamento de lançamentos de prédios
de luxo.
Cada um desses itens, em maior ou menor intensidade, pode
representar algo que utilize o conhecimento macro adquirido.
CEDERJ
31
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Atividades Finais
1
2
3
4
5
(...) os indicadores da atividade mostram que a economia brasileira,
com variação de mais de 5% do PIB em 2004, vive auspicioso momento
expansionista que induz a maior investimento, maior emprego e maior
consumo. Isso é tudo o que um governante torce para ter e o que toda
sociedade almeja, desde que não implique na [sic] volta da espiral
inflacionária (jornal Valor Econômico, editorial, p. A14; 18/12/05).
Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto,
explique o porquê do risco da espiral inflacionária.
Resposta Comentada
A citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil
em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais
investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com
mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo
sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores
preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos
salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem
representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação
entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação.
RESUMO
A Macroeconomia consiste no estudo e na análise das variáveis econômicas
de forma agregrada (juros, salários, câmbio, preços) e dos principais
problemas econômico-sociais (crescimento econômico, inflação, dívida
externa, distribuição de renda). As variáveis tratadas aqui influenciam os
problemas econômicos de maneira tal que podem, ao mesmo tempo, reduzir
a gravidade de um e acentuar outro.
Todo o estudo da Economia, seja a macro ou a micro, aborda o problema da
escassez, princípio segundo o qual não há recursos suficientes para atender
a todas as demandas geradas em um sistema econômico.
32
CEDERJ
1
AULA
A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de
forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor
de atividades.
Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas
demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser
sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de
cada sistema econômico.
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em
Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo
curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três
semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível
do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador
de empresas.
Na próxima aula, começaremos a abordar a produção e o crescimento
econômico de um país. Veremos ainda como se mede seu nível de atividade
econômica. Você já ouviu falar em PIB (Produto Interno Bruto) na disciplina
Formação Econômica do Brasil, certo? Pois vamos voltar a falar disso na
Aula 2.
CEDERJ
33
2
AULA
Medindo as atividades econômicas
Meta da aula
objetivos
Apresentar o conceito de Produto Interno
Bruto, suas aplicações, suas variáveis e
seus desdobramentos.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1
definir produto interno bruto (PIB);
2
verificar a utilidade do PIB como indicador
das atividades econômicas;
3
diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator
do PIB e PIB per capita.
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Erik Jaspers (www.sxc.hu)
INTRODUÇÃO
Figura 2.1: Carregamento embarcado em
contêineres, rumo a mercados externos.
Quem nunca se viu, mesmo quando bem jovem, diante de um lampejo de
curiosidade sobre algum fato econômico? Ainda que nunca tenha estudado
uma única linha sobre economia, quem nunca se perguntou, por exemplo,
algo tão esdrúxulo quanto “qual seria o valor somado de todos os salários ou
rendas do Brasil”? E se existisse um megamilionário tão afortunado quanto
excêntrico que desejasse comprar tudo o que o Brasil produziu em um ano?
Como você poderia chegar a esse valor?
Por trás dessas inusitadas perguntas estão outras um pouco mais técnicas:
como se avalia o crescimento econômico de um país? Por que a renda de um
país é exatamente igual à despesa? Qual o peso da produção industrial ou
agropecuária na produção total do país?
O elemento básico para responder a tais perguntas está na sigla econômica
mais popular de todos os tempos: de uma forma ou de outra, não há quem
nunca tenha ouvido falar do PIB.
O QUE É O PIB?
O produto interno bruto (PIB) representa a estimativa do valor
de tudo que foi produzido por um país em determinado período. Este
valor é calculado com base nos preços de mercado, leva em conta apenas
os bens e serviços finais (aqueles destinados diretamente ao consumidor
final); o período tomado como base pode ser anual, semestral etc.
COMO SE CALCULA O PIB?
Tudo se passa como se contratássemos alguém para, desde o
primeiro até o último dia de um ano, anotar os preços de todos os
bens e serviços finais gerados dentro do território nacional. Nesse caso,
teríamos o PIB anual do país.
36
CEDERJ
2
Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha
Produto
Quantidade
produzida (q)
Preço de
mercado (p) R$
A
2
2
B
4
3
C
1
5
AULA
produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:
Assim, o pib desse país seria:
PIB = (2 x 2) + (4 x 3) + (1 x 5) = R$ 21
Lembre-se de que o PIB se refere à soma de tudo o que foi produzido em um país.
Assim, poderíamos dizer que o valor de tudo que foi produzido
naquele país, durante o ano, foi de R$ 21,00.
O CONCEITO EM DETALHES
Vamos esmiuçar um pouco alguns dos termos que definem o que
seja PIB.
Para começo de conversa, é importante guardar que o PIB é
avaliado em termos do valor de mercado, ou seja, a partir dos preços
que são praticados no mercado de bens e serviços. Os preços que você
vê nos supermercados, feiras, lojas etc.
Quando falamos em bens e serviços finais, queremos mostrar
que nossa conta não inclui os bens intermediários, já que estes já estão
inseridos nos preços dos bens finais.
Por exemplo: o valor do trigo, que serve de matéria-prima à
produção do pão, não é contabilizado no cálculo do PIB. Como no
valor do pão já está embutido o valor do trigo, o trigo acaba sendo
considerado indiretamente.
Perceba: se somássemos o valor do trigo (insumo do pão) ao do
pão, estaríamos contando o trigo duas vezes. Isso acarretaria o que se
chama de erro de dupla contagem no cálculo do PIB.
CEDERJ
37
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Atividade 1
1
Com quantos pneus se faz um carro
Uma montadora de automóveis compra de outra empresa os pneus para a produção
de seus veículos. Cada carro, é importante lembrar, chega ao consumidor final com
cinco pneus: um em cada roda, mais um estepe. O conjunto de cinco pneus é vendido
à montadora por R$ 500. Os carros, depois de prontos, são cotados por R$ 5 mil. Agora
responda: para o cálculo do PIB, qual será o montante a ser considerado na produção
de dois automóveis?
Resposta Comentada
No cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10
mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção
dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos
a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para
o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é
um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados
duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final.
QUAL O EFEITO DOS PREÇOS SOBRE O PIB?
A essa altura, você já guardou que o PIB é uma medida da atividade
econômica ligada à produção de bens e serviços finais. Pois como este
indicador é calculado com base nos preços dos bens e serviços, é coerente
pensar que seu valor será influenciado pela variação de preços.
Então note que, por ser um índice relacionado à produção e ao
nível dos preços no mercado, a elevação dos preços irá afetar o valor
do PIB, mesmo que a quantidade produzida permaneça a mesma de um
ano para o outro.
Voltemos à primeira tabela:
Suponhamos novamente que, no ano x, um país tenha produzido
apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:
38
CEDERJ
Produto
Quantidade
produzida (q)
Preço no
mercado (p) R$
A
2
2
B
4
3
C
1
5
2
Assim, o PIB desse país seria:
AULA
PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00
Agora suponha que todos os preços tenham dobrado,
mas que a quantidade produzida tenha permanecido a
mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB
= R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção
para um indicador com a função de informar a variação
da produção total (agregada).
COMO ISOLAR O PIB DO NÍVEL DE PREÇOS?
Uma forma de evitar a influência da variação de preços sobre o
cálculo do produto interno bruto consiste em medir o PIB em termos
reais. Daí, surgem dois conceitos de PIB: um seria o PIB nominal,
que representa o PIB a preços correntes, ou o PIB baseado nos preços
praticados pelos mercados. O outro, que denominamos PIB real, consiste
no valor do produto interno bruto em termos de preços constantes, a
partir de um ano considerado como base de referência.
Guarde então: suponha que, em 2003, a produção brasileira de
bananas tenha chegado ao patamar recorde de x toneladas. Se em 2004
o preço das bananas tiver dobrado no mercado, ainda que a produção
tenha se mantido a mesma do ano anterior, nossa soma de todo o dinheiro
gerado pela produção de bananas vai dobrar junto com os preços. Uma
pessoa desavisada poderia olhar esse novo valor do PIB e concluir que
o país alcançou novo recorde produtivo, mas, na verdade, o patamar
da produção de bananas é exatamente o mesmo, o que se alterou foi o
valor do PIB nominal.
Se quisermos avaliar apenas o nível de produção de bananas
brasileiras, precisaremos comparar pelo menos dois anos. Então
contabilizamos a produção de 2003 e, em 2004, consideramos os preços
!
de 2003. Assim se calcula o PIB real.
Aumento na produção ou
nos preços?
Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo
menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou
a quantidade produzida em sua economia ou os
bens e serviços sofreram aumentos
de preços.
CEDERJ
39
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
PIB REAL: UM EXEMPLO SIMPLES
Suponha que, ao longo de três anos, um país tenha produzido
apenas dois bens (bananas e veículos). A quantidade produzida, os
preços e, por conseguinte, o PIB nominal em cada um desses anos estão
relacionados a seguir:
Ano
Bananas(QB) Preço (PB)
R$
Veículos
(Qv)
Preço (Pv) PIB= (PBQB+PVQV)
R$
R$
2002
100
1
20
50
1.100
2003
120
2
30
60
2.040
2004
140
3
40
70
3.220
Sendo:
QB a quantidade de bananas produzidas;
PB o preço das bananas;
QV a quantidade de veículos produzidos;
PV o preço dos veículos no mercado.
Inicialmente, observe que o PIB nominal aumenta de um ano para
o outro. Essa elevação deve-se ao crescimento da produção, mas também
à elevação de preços. Se o nosso interesse for calcular o aumento real
da produção, ou seja, aquele não-afetado pelo crescimento dos preços,
temos que utilizar o conceito de PIB real.
O primeiro passo será escolher um ano-base, ou de referência.
Os preços dos produtos naquele ano é que serão utilizados como
referência para o cálculo do PIB real nos anos subseqüentes. Para o
cálculo do PIB real, portanto, não utilizamos os preços do ano vigente,
mas sim os preços do ano de referência. De resto, procedemos da mesma
maneira que procedíamos para o cálculo do PIB nominal (preço do
produto x quantidade do produto).
40
CEDERJ
A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí,
como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes?
Ano
Bananas
Preço
R$
Veículos
Preço
R$
2002
100
1
20
50
2003
120
2
30
60
2004
140
3
40
70
AULA
2
Atividade 2
2
PIB
Real*(PBQB+PVQV)
R$
* Ano-Base 2002
Resposta Comentada
Em 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como?
(120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) =
2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB
real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades
produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar
a produção total de bens e serviços finais de um país.
O DEFLATOR DO PIB
Como vimos até aqui, variações nos preços dos produtos
representam um importante fator a ser considerado no cálculo do PIB
de um país. Agora perceba que, quando comparamos um período a
outro, somos capazes de identificar comportamentos e tendências dos
mercados. Para que tenhamos uma medida da elevação média do nível
de preços do final de um ano para o outro, basta que calculemos o que
se denomina deflator do PIB.
Na aula anterior, você viu que o conceito de inflação se refere
a uma gradual perda de valor do dinheiro, diante de um aumento
generalizado de preços. Agora note que o deflator do PIB é o índice
destinado a isolar o fator inflação do cálculo do produto interno bruto
de um país, em um determinado período. O deflator nos dirá qual parte
do aumento do PIB nominal cabe somente ao crescimento dos preços e
nos ajudará a perceber quanto do aumento do PIB se deve a uma elevação
real no nível de produção.
CEDERJ
41
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Note que, a partir do deflator do PIB, é possível inferir a taxa de
inflação de um período.
A fórmula de cálculo do deflator é:
DEFLATOR DO PIB = PIB nominal x 100
PIB real
Veja como obter o deflator do PIB a partir dos valores já
apresentados nas tabelas anteriores desta aula:
Deflator do PIB
Ano
deflator = (PIB nominal / PIB real) x 100
2002
deflator = R$ 1.100 / R$ 1.100
x 100 = 100
2003
deflator = R$ 2.040 / R$ 1.620
x 100 = 125,92
2004
deflator = R$ 3.220 / R$ 2.140
x 100 = 150,46
Por esses valores, no ano-base do PIB real (2002), o deflator do
PIB é igual a 100. Por definição, em todo ano-base, o deflator será sempre
100 (os preços do ano corrente são os preços do ano-base).
Em 2003, o deflator do PIB é 125,92. Em 2004, é 150,46.
Agora veja: de 2002 a 2003, o deflator passou de 100 para 125,92.
Logo, pode-se inferir que os preços aumentaram, em média, 25,92%.
Da mesma forma, em 2004, como o nível de preços passou de
125,92 para 150,46, o nível médio de preços aumentou 19,48% em
relação a 2003.
Fica claro então que o deflator do PIB pode ser interpretado como
um indicador da variação do nível médio de preços de um país. Isto é
nada mais nada menos do que dizer que o deflator do PIB consiste em
!
uma indicação da taxa de inflação do período.
O que calcula cada PIB?
O PIB real calcula o crescimento econômico, a partir
do aumento ou da diminuição do nível real de produção
de um país. O deflator do PIB faz referência ao crescimento
médio dos preços da economia. O PIB nominal capta
tanto o crescimento do volume da produção
quanto a variação de seus preços.
42
CEDERJ
AULA
2
O PRODUTO NACIONAL BRUTO
Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda
a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa
renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece
quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam
produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de
seu lucro para o exterior.
O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a
produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos
residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo
o que é produzido aqui e fica aqui.
Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada
ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos
aquela procedente do exterior).
Um exemplo: um país sul-americano cuja indústria seja exclusivamente
dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha
que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério
de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto
Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil.
Veja:
PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil
Ou ainda:
PNB = PIB – RLEE
O PRODUTO INTERNO LÍQUIDO
Parte do valor dos bens e dos serviços gerados em um determinado
período pode ser perdida, seja pelo desgaste, pela perda de utilidade
por uso, ação da natureza ou ainda por obsolescência. Pois o produto
interno líquido é precisamente o produto interno bruto decrescido
dessa depreciação. Assim, nem toda produção acrescenta uma maior
quantidade de bens ou serviços à economia ou faz ela crescer. Com um
aumento na produção, pode-se apenas estar repondo o que foi depreciado
no período.
Ou ainda:
PIL = PIB – depreciações.
CEDERJ
43
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
EXISTE PIB NEGATIVO?
Você já viu que o PIB é o somatório de todas as riquezas produzidas
por um país em um determinado período. Compreendeu também que
há uma sigla destinada a medir apenas o que é produzido e fica no país
(PNB) e outra que considera ainda o que é perdido ou se torna obsoleto
(PIL). Quando a taxa de crescimento do PIB é negativa – o PIB real de
um ano é menor do que o do ano anterior, diz-se que houve recessão.
Isto equivale a dizer que a atividade econômica diminuiu entre um ano
e outro. Agora veja: se isso ocorreu, devem ter ocorrido também menor
produção, mais baixo nível de empregos, falências de empresas etc.
Este quadro de baixa atividade econômica recebe também o nome
de depressão. Não há uma determinada taxa de crescimento negativa
que caracterize o processo de depressão. Para efeito de curiosidade, uma
“piada econômica” define a expressão assim: “Recessão ocorre quando
pessoas estão sendo desempregadas. Depressão é quando eu também
perco o meu emprego”.
Figura 2.2: Em 1929, com a quebra da
Bolsa de Nova York, os Estados Unidos
mergulharam no que ficou conhecido
como “A Grande Depressão”, cujos
efeitos foram sentidos ao redor de
todo o mundo. O Brasil soube minimizar os males da crise através de políticas estatais que visavam a defender os
preços do café no mercado internacional. O governo brasileiro chegou a
comprar e a queimar grandes volumes
de grãos, a fim de reduzir a oferta
do produto no mercado. Saiba mais
no site www.culturabrasil.pro.br/
estadonovo.htm.
O QUE O PIB NÃO MEDE?
Como já foi mencionado, o PIB mede o valor da produção de
bens e serviços finais de uma economia. Todavia, há toda uma parcela
da produção nacional que não é incluída no cálculo do produto interno
bruto: é o que se convencionou chamar de economia informal. Drogas,
jogos de azar e contrabando são atividades desconsideradas pelo PIB,
como seria coerente supor, mas a produção informal não se refere
44
CEDERJ
2
somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos
AULA
vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos
e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB.
Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca
de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade.
Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar
a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da
informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo
no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população
contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas
que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas.
Atividade 3
A senhora do lar
Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica,
que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”.
1
2
________________________________________________________
_________________________________________________________
_______________________________________________________
Resposta Comentada
O serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado.
Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a
empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor
pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa.
O PIB DESMEMBRADO
O PIB também pode ser desmembrado por setores de atividade.
Na Tabela 2.1, você encontra o crescimento do PIB brasileiro por setores,
em 2003 e 2004.
Os dados mostram, por exemplo, que o PIB agropecuário – o
valor da produção total de bens e serviços finais do setor agropecuário
– cresceu 4,5% em 2003 e 5,3% em 2004.
A tabela revela ainda que o PIB brasileiro cresceu 0,5% e 5,2%
em 2003 e 2004, respectivamente.
CEDERJ
45
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003
e 2004 (%)
Setores
2003
2004
agropecuária
4,5
5,3
indústria
0,2
6,2
serviços
0,6
3,7
comércio
-1,9
7,9
transporte
1,4
4,9
demais
1,0
2,9
PIB Total
0,5
5,2
Fonte: IPEA
O VALOR DA RENDA É IGUAL AO VALOR DO PRODUTO
Além do valor dos bens e dos serviços produzidos na economia,
o PIB também mede a renda total gerada no processo da produção. Na
verdade, o valor da renda é exatamente igual ao valor do produto.
Como assim?
Observe que tudo o que se gasta para produzir um bem encontra
sempre contrapartida em alguém que está recebendo exatamente tal valor.
Vamos a um exemplo: suponha que um refrigerante custe
R$ 1,00. Nesse preço, estão embutidos o custo e o lucro. Se o custo de
sua produção for de 80 centavos, o restante (20 centavos) será a renda
do empresário. Os 80 centavos de custos são divididos em pagamento de
funcionários (renda) e pagamento das matérias-primas. Essas matériasprimas têm o mesmo aspecto do refrigerante, isto é, seu preço é composto
de custo e lucro, que representarão futuras rendas, e assim por diante. Já
os 20 centavos de lucro do comerciante serão pagos por você.
Vamos explicar o mesmo fenômeno (valor da renda igual ao
O MERCADO
DE FATORES DE
PRODUÇÃO
Representa os locais
onde se negociam a
oferta e a procura
por fatores de
produção. São as
agências de emprego,
as imobiliárias, que
vendem ou alugam
imóveis comerciais etc.
46
CEDERJ
valor do produto) de uma maneira “macro”: em um sistema econômico
simplificado, os consumidores compram bens e serviços nos mercados.
O valor das vendas, que é recebido pelas empresas, é destinado ao
pagamento dos seus funcionários, à remuneração dos indivíduos que
alugaram o espaço físico das empresas e aos lucros dos empresários.
Essas somas são transferidas para os chamados M E R C A D O S
DE PRODUÇÃO
DOS FATORES
– as imobiliárias, as agências de emprego etc.
2
Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema
AULA
econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e
serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes,
por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção.
Como num fluxo circular.
O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas
pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total
dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços.
Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as
famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é
vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de
forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda.
A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos
bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o
fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens
e serviços.
Fluxo Circular da Renda e do Produto
Mercado de
Produtos
Despesa
Bens e
Serviços
Famílias
(consumidores)
Renda
= PIB
Bens e
Serviços
Despesa =
PIB
Receita
= PIB
Empresas
(Unidades
Produtivas)
Salário,
lucro e
aluguel
Trabalho
Capital
Terra
Insumos
Mercado de
fatores de
produção
CEDERJ
47
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
AS MAIORES ECONOMIAS DO PLANETA
Através do PIB, podemos relacionar os países de maior produção
no mundo. Ou seja, as maiores economias do mundo. A Tabela 2.2,
embora incompleta, dá o ranking para o ano de 2004.
Tabela 2.2: Os países de maior atividade econômica em 2004
Valores em US$
País
Produto Interno
Bruto (US$
trilhões)
1
Estados Unidos
11,757
2
Japão
4,780
3
Alemanha
*
4
Reino Unido
*
5
França
*
6
Itália
*
7
China
1,543
8
Espanha
*
9
Canadá
*
10
México
*
11
Austrália
*
12
Brasil
0,605
Fontes: IBGE; FMI; GRC Visão Consultoria
* Dados não disponibilizados.
!
Entre 2003 e 2004, o
Brasil passou de 15º colocado
no ranking mundial do PIB para 12º,
ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e
a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil
estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo
dos países de maior atividade
econômica no mundo.
48
CEDERJ
AULA
2
A RENDA PER CAPITA
A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante
receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população.
Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que
desconsidera o fator distribuição de renda.
Abaixo, os números da renda per capita no Brasil, durante a
década de 1990.
Período
PIB Per
Capita US$
1990
3.243
1991
2.771
1992
2.605
1993
2.847
1994
3.546
1995
4.542
1996
4.924
1997
5.022
1998
4.793
Fonte: www.ipea.gov.br
CONCLUSÃO
A partir do conceito de PIB, podemos medir o nível de atividade
econômica de um país, ou o “tamanho” de uma economia.
A partir do cálculo do PIB anual e de comparação com períodos
anteriores, é possível monitorar a evolução da capacidade produtiva de
um país, assim como a influência do comportamento dos preços sobre
os mais variados setores da economia.
Do produto interno bruto depreendem-se indicadores diversos,
capazes de informar até sobre nosso balanço de pagamentos ou sobre
o estado geral da população. É o caso do produto nacional bruto, que
desconsidera toda a produção enviada ao exterior; é o caso da noção
de renda per capita, que estima a média de remuneração dos habitantes
de um país.
O cálculo do somatório das riquezas produzidas em um país é
um bom caminho para traçar a trajetória de um sistema econômico, o
que, já aprendemos, é algo dinâmico e marcadamente identificável em
nosso dia-a-dia.
CEDERJ
49
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Atividades Finais
O PIB e as metrópoles nacionais
1
2
3
A tabela a seguir informa dados oficiais para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro
(2002).
Estado
PIB (milhões)
Renda Per
Capita
População
Rio de
Janeiro
170.114
11.459
14.761.862
São
Paulo
438.148
11.353
38.306.233
Fonte: www.ibge.gov.br
Agora, a partir dos dados fornecidos, responda:
1. Como foram obtidos os valores da renda per capita nesses estados?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
2. Seria possível ocorrer um aumento do PIB nominal ao mesmo tempo que houvesse
diminuição do PIB real?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
3. Por que razão quanto mais inflacionária for a economia de um país mais correto
será utilizar o PIB real (ao invés do nominal) para medir seu crescimento?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
50
CEDERJ
2
AULA
Resposta Comentada
1. Os valores da renda total são obtidos dividindo o PIB do estado por sua respectiva população.
Os resultados diferem um pouco dos apresentados na tabela, posto que os dados do PIB estão
arredondados.
2. Sim, basta que o efeito da elevação dos preços seja maior do que a queda na quantidade de bens
e serviços gerados no período. Lembre-se de que dois elementos afetam o PIB nominal: os preços e
as quantidades. No PIB real, só as quantidades se alteram, pois os preços são mantidos constantes,
dado o ano-base. Quer um exemplo? Veja a tabela a seguir, com os dados sobre os anos de 1991
e 1992. Apesar do enorme salto no PIB nominal entre 1991 e 1992, a taxa de crescimento real do
PIB foi negativa. Ou seja, houve recessão. Observe o ritmo do crescimento médio dos preços através
da variação do deflator do PIB: naquela época, a inflação era extremamente alta.
Ano
Crescimento do
PIB %
Variação (%)
do deflator
PIB
PIB nominal
1991
1,0
416,7
165.786.498
1992
-0,5
969,0
1.762.636.611
Fonte: www.ibge.gov.br
3. Quanto mais alta a inflação, mais os preços estarão influenciando os valores do PIB nominal.
Sendo assim, o mais adequado é utilizar o PIB real, pelo mesmo motivo citado na resposta
anterior.
RESUMO
O produto interno bruto (PIB) expressa o valor de mercado de todos os bens
e serviços finais realizados em um território (ou país), em um determinado
período.
Como em toda transação há um comprador e um vendedor, o PIB mede a
despesa total da economia na produção de bens e de serviços, além da renda
total gerada com a produção de tais bens e serviços em um dado período.
O PIB nominal utiliza os preços correntes, enquanto o PIB real usa preços
constantes de um ano-base para medir os bens e serviços realizados.
A razão entre o PIB nominal e o PIB real avalia o crescimento médio de
preços de um período. É denominado deflator do PIB.
A partir dos conceitos de PIB real e nominal, é possível calcular ainda o deflator
do PIB, que mede a alteração no nível dos preços e podemos ainda calcular
também a renda per capita, uma estimativa da renda média da população.
CEDERJ
51
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
Na próxima aula, você vai estudar os principais elementos que constituem
o PIB. A partir deles poderemos reconhecer os fatores que podem fazer a
atividade econômica aumentar de forma vigorosa.
52
CEDERJ
3
AULA
O PIB e os componentes da
demanda agregada
Meta da aula
objetivos
Descrever a equação de composição do
Produto Interno Bruto (PIB) a partir da
renda e da demanda agregada.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1
2
3
listar os componentes do cálculo do PIB;
distinguir os elementos que compõem a
demanda agregada e identificar seu papel
e seu peso na economia de um país;
avaliar a importância do relacionamento das
empresas com mercados internos e externos
no cálculo do PIB.
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Sanja Gjenero
INTRODUÇÃO
Figura 3.1: No espaçoso carrinho do PIB, cabem sua renda, tudo que você
compra e contrata, os investimentos que você faz em nome de seu negócio,
tudo que o governo gasta em nome do seu bem-estar, o que é vendido
para outros países e o que é comprado de fora.
Imagine-se comprando um sanduíche. Pense que você saiu de casa com cinco
reais na carteira e que os entregou ao balconista de uma lanchonete. Em um
primeiro momento, você pode pensar: eu tinha um dinheiro em mão, mas não
o tenho mais. Comi o sanduíche e estou cinco reais mais pobre.
No entanto, perceba: o balconista da lanchonete tinha um sanduíche à sua
espera. Depois que você abriu a carteira, o sanduíche passou a não mais
existir para ele. Ainda assim, no lugar do sanduíche, o balconista recebeu
cinco reais. Fica fácil notar que comprar um sanduíche é equivalente a vender
cinco reais.
Transponha agora essa compreensão para o campo da Macroeconomia, que lida
com o fator “sanduíche” de forma agregada (ou a partir de todos os sanduíches
produzidos em um país). Como vimos estudando desde a primeira aula deste
curso, o produto interno bruto (PIB) expressa o valor de tudo que um país
produz, em bens e serviços, em um determinado período. Todos os sanduíches,
todos os empregos de balconista, tudo o que o dono da lanchonete investe em
seu estabelecimento, os impostos pagos pela lanchonete ao governo etc.
Agora veja: assim como acontece em nosso exemplo da lanchonete, quem se
apropria desses bens e serviços produzidos pelo país? De que forma isso ocorre?
De onde partem os recursos que movimentam a economia? Que importância
tem para um país o nível de poupança de sua população? As respostas a essas
perguntas você terá ao longo desta aula.
OS COMPONENTES DO PIB
Depois de ter estudado o conceito de PIB e algumas de suas
aplicações, veja uma maneira de segmentá-lo em seus componentes.
54
CEDERJ
3
Para início de conversa, podemos dizer que todo bem e todo serviço
AULA
produzido em determinado país é utilizado para consumo das famílias e
investimento por parte das empresas, além de poder ser adquirido pelo
governo ou exportado (vendido a outro país).
Note que, quando falamos em exportação, assumimos que
exportamos uma fração do que produzimos. Pelo mesmo raciocínio,
podemos concordar que também adquirimos parte da produção de
outros países.
Consideremos então esse princípio e expressemo-lo em termos
matemáticos. Daí chegaremos à seguinte I D E N T I D A D E :
PIB = C + I + G + (X – M)
(1)
Sendo:
PIB, o produto interno bruto;
C, o consumo agregado;
I, o investimento agregado;
G, o consumo do governo;
X, as exportações; e
M, as importações.
IDENTIDADE
É a equação que é
sempre verdadeira,
quaisquer que sejam
as circunstâncias
ou as hipóteses
estabelecidas. Numa
identidade, os lados
das equações são
inequivocamente
iguais.
Ou seja: o valor do PIB é igual à soma do consumo agregado,
do investimento agregado e do consumo do governo com o total das
exportações, decrescido do total das importações.
Ficou claro então quais fatores entram em nossa conta. Agora
sigamos em frente e expressemos mais objetivamente o significado de
cada um deles:
O consumo é uma variável bastante simples e palpável: diz respeito
à despesa das famílias com a compra de bens e serviços, sejam eles
geladeiras ou técnicos especialistas em geladeiras, por exemplo.
Os investimentos referem-se exclusivamente às empresas: são as
despesas com máquinas, equipamentos, plantas industriais (FORMAÇÃO
BRUTA DE CAPITAL FIXO) e estoques. Ou seja: são todas as despesas envolvidas
no funcionamento de uma empresa, a não ser as relativas à remuneração
da força de trabalho e ao pagamento de impostos. Sobre os investimentos,
trataremos mais detalhadamente na próxima seção.
FORMAÇÃO
BRUTA DE
CAPITAL FIXO
São os investimentos
feitos pelas empresas
em equipamentos,
bens de capital,
edificações etc. que
visam a aumentar
sua capacidade
produtiva.
O conjunto desses
fatores é o que se
costuma chamar
também planta
industrial.
CEDERJ
55
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
O consumo do governo é a despesa do Estado (nos âmbitos federal,
estadual e municipal) com compras de bens e serviços. Imagine, por
exemplo, a contratação de uma empreiteira para a realização de obras
públicas. Esse é o tipo de despesa que entra em nossa conta.
As exportações são os valores das vendas dos bens e dos serviços
para outros países ou o total de produtos e serviços que se originam
Beatriz Chaim (www.sxc.hu)
em solo nacional mas que serão consumidos em outras
partes do mundo.
E, por fim, as importações representam os valores
do que se compra do exterior, ou tudo que é produzido
em outros países e vai ser consumido aqui. Importações
e exportações trataremos mais à frente.
Figura 3.2: O café é tradicionalmente nosso herói
de exportação. Ao longo
da história do Brasil,
intervenções do governo
visaram a manter o status
do produto no mercado
internacional. Após a crise
de 1929, foram a ação do
Estado e o desempenho do
café nos mercados internacionais que nos defenderam da recessão que se
abateu sobre o mundo.
Você pode ver mais
sobre o assunto no site
www.culturabrasil.pro.br/
vargas.htm.
OS INVESTIMENTOS
Já vimos, de forma geral, os componentes do cálculo do PIB.
Vimos que um deles se refere aos investimentos por parte das empresas.
Agora cabe fazer uma diferenciação sobre os tipos de investimentos
existentes.
Quando você monta uma empresa, conta com seu capital inicial,
com seu maquinário e com a mão-de-obra. No entanto, em um mercado
aberto e competitivo, é necessário que você destine regularmente
recursos que serão revertidos a esse negócio. Vale então ter claro que há
investimentos de dois tipos: realizados e desejados (ou planejados).
CCOONNTTAABBIILLIIDDAADDEE
N
NAACCIIOONNAALL
ÉÉ aa metodologia
metodologia
oficial
oficial dede
classificação
classificação das
das
variáveis
variáveis
econômicas
econômicas
nacionais, as
nacionais,
as
chamadas contas
chamadas
nacionais. O contas
IBGE
nacionais.
O
(Instituto Brasileiro
IBGE
(Instituto
de Geografia
e
Brasileiro
de
Estatística) faz
Geografia
e
o levantamento
Estatística)
estatístico das faz
contas
onacionais.
levantamento
Pela C O N T A B I L I D A D E N A C I O N A L , os investimentos são a soma do
valor dos gastos das empresas com edificações e equipamentos (Formação
Bruta do Capital Fixo) mais os investimentos em estoques.
Os investimentos em estoques representam todos os bens
produzidos que não foram vendidos. Estes podem ser investimentos em
estoque planejados, ou não planejados.
Os estoques não planejados (ou involuntários) são aqueles
produtos destinados à venda mas que, por não terem sido vendidos,
incorporaram-se ao estoque. Ou seja, o estoque involuntário é a variação
involuntária do estoque por falta de compradores.
Os estoques voluntários são aqueles bens produzidos para compor
o estoque. A diferença entre investimento planejado e realizado é dada
justamente pela existência dos estoques involuntários.
56
CEDERJ
3
De forma mais simples: se toda a produção destinada à venda for
AULA
efetivamente vendida, os estoques involuntários (variação de estoque)
serão zero. Nessas condições, os investimentos planejados serão iguais
aos realizados.
Perceba:
Ir = Ip + ∆estoque
Ir – Ip = ∆estoque
Sendo:
Ir, o investimento realizado;
Ip, o investimento planejado;
∆estoque, a variação (∆) de estoque.
Atividade 1
1
A Abragel e o mercado
2
3
Fabricantes de geladeiras planejam
investir 100 milhões de reais no setor
A
Associação
Brasileira dos
Fabricantes de
Geladeiras (Abragel)
divulgou ontem nota em
(10/06/2006)
que declara a intenção
de investir 100 milhões
de reais em edificações
e equipamentos.
Abragel recompõe estoque (15/06/2006)
N
estor Antártico, consultor
da Abragel, defendeu
ontem, em reunião da
entidade, que as empresas do setor
devem investir 20 milhões de reais
em estoques. Segundo Antártico, o
novo aumento do salário-mínimo
deve aquecer o mercado.
Dólar baixo prejudica exportações (20/09/06)
E
m entrevista coletiva
à imprensa, na noite
de ontem, o consultor
da Abragel Nestor Antártico
lamentou o que qualificou como
“decepcionante desempenho de
nossas geladeiras no mercado
externo”. Segundo Antártico,
metade das geladeiras produzidas
neste trimestre encalhou nos
estoques.
CEDERJ
57
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Agora, presumindo que todos os conselhos de Nestor foram seguidos pela entidade,
responda às perguntas a seguir:
a. De quanto foi o investimento planejado pela Abragel?
___________________________________________________________________________
b. Quanto foi investido de forma planejada em estoque?
____________________________________________________________________________
c. E de forma não planejada?
_____________________________________________________________________________
d. De quanto foi a variação não planejada do estoque (em reais)?
_____________________________________________________________________________
e. Qual foi o investimento realizado pela Abragel?
______________________________________________________________________________
Respostas Comentadas
Se você articular as três notícias de jornal, verá que a Abragel investiu 100 milhões de reais em
planta industrial e 20 milhões em estoque. Você já aprendeu que os investimentos planejados
são a soma desses dois fatores. Portanto, o investimento planejado pela Abragel foi de 120
milhões de reais (a). Da segunda notícia, depreendemos que investiram-se 20 milhões de
reais nos estoques das empresas. Repare que se chegou a esse montante por decisão de
consultores. Logo, estamos falando sobre investimento planejado em estoque (b). Na terceira
notícia, lemos que o mercado não se comportou como a entidade esperava, o que resultou
no encalhe de metade do estoque. Como já definimos que o estoque era de 20 milhões de
reais, chegamos aos 10 milhões de reais encalhados (c). Ao longo da aula, você já viu que a
variação não-planejada do estoque se refere a quanto do estoque formado não conseguiu ser
vendido. Logo, neste caso, estamos falando de 10 milhões de reais (d). Por fim, como já vimos
que o investimento realizado é igual ao planejado acrescido da variação involuntária dos
estoques, chegamos ao número de 130 milhões de reais (e).
58
CEDERJ
AULA
3
AS IMPORTAÇÕES E AS EXPORTAÇÕES
No cálculo do PIB, é de praxe considerar as exportações e as
importações de forma conjunta. Comumente, referimo-nos a essa dupla
de fatores sob o termo exportações líquidas (X-M), que representa as
compras dos produtos nacionais feitas pelos estrangeiros (exportações),
descontadas as compras de bens estrangeiros realizadas pelas famílias
nacionais (importações).
Sendo mais claro: a exportação líquida de geladeiras é igual à
soma de todos os aparelhos que se vendem para fora, descontados os
que se compram de fora.
Agora pense: qual a relevância das importações para a equação
que descreve os destinos do PIB?
A resposta é clara: as famílias, as empresas e o governo compram
produtos nacionais, mas também podem importar. Como o PIB diz
respeito aos bens e serviços produzidos em um país, é necessário descontar
desse cálculo o valor de tudo que foi importado. Se não houvesse o
desconto dessa despesa, não teríamos uma identidade. Veja como.
Imagine uma família comprando um automóvel Audi A8. Essa será
uma despesa com importações, pois esse carro não é fabricado no Brasil.
Supondo que esse veículo custe 50 mil dólares, essa despesa (convertida
em reais) estará associada a duas variáveis da equação 1: em um primeiro
momento, representa um item de consumo (C) das famílias, mas, como
tal valor também será descontado do item importações (M), a equação
do PIB estará representando adequadamente a igualdade entre o valor
da produção e o total das despesas.
Note: se nessa identidade não houvesse o item importações, o
item consumo traria consigo o valor do carro, que não é um produto
nacional.
Perceba:
PIB= (C + 50mil) + I +G + (X – 50 mil)
Lembre-se da equação original:
PIB = C + I + G + (X – M)
(1)
CEDERJ
59
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
A compreensão de que produtos importados não podem ser
contados como se tivessem sua origem na indústria nacional pode parecer
secundária. No entanto, note que um carro importado pode representar
consumo em solo brasileiro, mas os investimentos feitos pela indústria
que o fabricou, por exemplo, são contabilizados no cálculo do PIB de
seu país de origem.
Andréas Schmidt (www.sxc.hu)
Figura 3.3: Novas “carroças” - nos primeiros 15
dias de mandato, o ex-presidente Fernando
Collor de Mello lançou um pacote econômico
que bloqueou – ou “confiscou” - o dinheiro
de pessoas físicas e jurídicas depositado na
poupança e em contas correntes. Entre suas
primeiras medidas para a economia, figurava
também a abertura do mercado brasileiro às
importações, o que, associado ao confisco,
gerou graves efeitos sobre a indústria nacional. Ficou famosa sua afirmação de que os
brasileiros, à época, dirigiam “carroças”.
A tabela a seguir mostra a participação dos componentes na
formação do PIB de 2004, no Brasil.
Consumo das famílias (C)
55,3
Gastos do governo (G)
Investimento (I)
Exportações (X)
Importações (M)
18,8
21,3
18,0
13,3
Fonte:www.ibge.gov.br
A partir desses dados, reflita:
Fica claro que o fator que mais pesa na contagem do PIB brasileiro
é o consumo das famílias. Mas o que dizer sobre o governo? Em
comparação às exportações e aos investimentos da indústria nacional,
na sua opinião, o governo gasta muito ou pouco? Saiba que, no cálculo
dos investimentos, soma-se o item formação bruta de capital fixo (FBCF)
à variação dos estoques.
Comparando-se o quanto se consome internamente e o quanto
se exporta, é possível dizer que o Brasil é um país eminentemente
exportador? Repare que as exportações e as importações referem-se a
bens, mas também a serviços.
E o que dizer sobre nossos níveis de importação? Pelo que você
observa na tabela, o Brasil está muito dependente ou pouco dependente
60
CEDERJ
3
dos mercados externos? Há quem defenda que essa dependência é
AULA
maléfica, há quem diga que é o caminho inevitável e que o que importa
é a maneira como a gerenciamos.
O PIB A PARTIR DA RENDA
Na introdução desta aula, você viu que uma despesa que você
faça é igual à receita de outra pessoa. Perceba agora que tudo o que
você gasta provém do que ganha. Suas despesas, qualquer dona de casa
tem isso bastante claro, precisam “caber” no seu orçamento. Seguindo
o mesmo raciocínio e visto o PIB pela ótica dos gastos, veja que ele pode
ser descrito também pela ótica da renda.
Você já viu: o valor de tudo que é produzido com bens e serviços
tem como contrapartida a remuneração de quem os produziu (direta
e indiretamente). Logo, o valor do PIB é distribuído em renda para as
famílias. Ou seja, sua renda pode ter apenas três destinos: o consumo
(C), a poupança (S, do inglês savings) ou o pagamento de impostos (T,
do inglês taxes). Dessa maneira, tem-se outra identidade:
PIB = C + S + T
(2)
Sendo:
C, o consumo agregado;
S, a poupança agregada;
T, a arrecadação de impostos do governo.
Agora veja: como as duas equações, (1) e (2), possuem o mesmo
lado esquerdo, elas podem ser igualadas:
(1) PIB = C + I + G + (X – M)
(2) PIB = C + S + T
Logo,
C + S + T = C + G + I + (X – M)
(3)
Para que você não se perca: assumimos aqui que os três destinos
da sua renda equivalem ao conjunto consumo das famílias + gastos do
governo + investimentos das empresas + exportações líquidas. Jamais
perca de vista que estamos tratando de um fenômeno cíclico. As riquezas
circulam dentro de uma economia.
CEDERJ
61
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Figura 3.4: “O direito de andar com as próprias pernas”
A decisão do governo brasileiro de não renovar acordo com o FMI é a manchete principal dos jornais de
hoje, que destacam ainda a decisão da administração
Lula de manter o rigor fiscal sob o monitoramento
do Fundo. O Globo informa que, depois de quase
sete anos de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo brasileiro anunciou ontem
que não vai renovar seu programa com a instituição.
Segundo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, um
novo acordo é desnecessário porque o Brasil passa
hoje por um ciclo de crescimento produtivo, com
redução da vulnerabilidade externa, equilíbrio fiscal e
evolução positiva das contas externas e dos índices de
inflação. Para deixar claro que acaba o casamento com
o FMI mas permanece o compromisso fiscal, Palocci
anunciou que fará a divulgação quadrimestral de
metas fiscais de todo o setor público - e não apenas
do governo federal.
Do clipping da Secretaria de Comunicação da Presidência, em 29/3/2005. A frase que abre a legenda foi
dita pelo Presidente Lula em pronunciamento a
empresários.
?
A
A poupança
poupança e
e as
as
exportações
exportações
Lidando
Lidando com
com os
os fatores
fatores que
que compõem
compõem o
o cálculo
cálculo
do
PIB
–
equações
(1)
e
(2)
–
chegamos
à
do PIB – equações (1) e (2) – chegamos à seguinte
seguinte
equação:
equação:
C
C+
+ SS +
+T
T=
= PIB
PIB =
=C
C+
+G
G+
+ II +
+ (X
(X –– M)
M) (3)
(3)
Observe:
Observe: a
a partir
partir dessa
dessa identidade,
identidade, podemos
podemos chegar
chegar a
a ainda
ainda outra:
outra:
(S
(S –– I)
I) +
+ (T
(T –– G)
G) =
= (X
(X –– M)
M) (4)
(4)
Perceba
que
dividimos
o
setor
privado
(S
e
I)
e
o
setor
Perceba que dividimos o setor privado (S e I) e o setor público
público (T
(T e
e G).
G). Esta
Esta
igualdade
diz,
entre
outras
coisas,
que
as
exportações
serão
superiores
igualdade diz, entre outras coisas, que as exportações serão superiores às
às
importações
importações quando:
quando:
•• o
o nível
nível de
de poupança
poupança for
for maior
maior do
do que
que o
o que
que se
se gasta
gasta investindo
investindo
(S
–
I);
e/ou
(S – I); e/ou
•• o
o governo
governo gastar
gastar menos
menos do
do que
que arrecada
arrecada (T
(T -- G).
G).
A
A partir
partir da
da mesma
mesma igualdade,
igualdade, perceba:
perceba:
O
DÉFICIT
PÚBLICO
Ocorre quando os
gastos do governo
são superiores ao
que ele arrecada com
impostos. Ou seja,
quando o governo
gasta mais do que
arrecada.
62
CEDERJ
(S
(S +
+ T)
T) –– (I
(I +
+ G)
G) =
= (X
(X –– M)
M) (4a)
(4a)
Ou
Ou seja:
seja: se
se o
o nível
nível de
de poupança
poupança da
da população
população e
ea
a receita
receita advinda
advinda
dos
impostos
(mecanismos
de
financiamento)
superarem
dos impostos (mecanismos de financiamento) superarem
os
os investimentos
investimentos feitos
feitos pelas
pelas empresas
empresas e
e os
os gastos
gastos do
do
governo
(gastos
internos),
teremos
maior
produção
e,
governo (gastos internos), teremos maior produção e, por
por
conseguinte,
conseguinte, melhores
melhores condições
condições para
para exportar.
exportar. No
No caso
caso
contrário,
contrário, teremos
teremos carência
carência de
de recursos,
recursos, o
o que
que nos
nos
levará
a
importá-los.
levará a importá-los.
Para
Para que
que fique
fique mais
mais claro,
claro, um
um país
país será
será
exportador
de
recursos
exportador de recursos
3
AULA
para
para o
o resto
resto do
do mundo
mundo quando
quando sua
sua
atividade
econômica
apresentar
atividade econômica apresentar um
um bom
bom nível
nível
de
de poupança
poupança e/ou
e/ou um
um governo
governo sem
sem déficits
déficits em
em seu
seu “caixa”.
“caixa”. De
De
outro
modo,
um
país
com
D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente
outro modo, um país com D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente
para
para contrabalançar
contrabalançar os
os investimentos
investimentos privados
privados terá
terá necessariamente
necessariamente um
um nível
nível de
de
importações
maior
do
que
o
de
exportações.
Como
assim?
importações maior do que o de exportações. Como assim?
Pense:
Pense: se
se um
um país
país está
está consumindo
consumindo mais
mais do
do que
que produz,
produz, é
é preciso
preciso que
que alguém
alguém
(o
exterior)
esteja
fornecendo
parte
desse
produto.
Vale
registrar
(o exterior) esteja fornecendo parte desse produto. Vale registrar
que
que tal
tal situação
situação ocorreu
ocorreu no
no Brasil
Brasil durante
durante a
a década
década
de
80
do
século
passado.
de 80 do século passado.
DA DEMANDA AO PONTO DE EQUILÍBRIO
Para efeito de simplificação, desprezemos, por um momento, os
mercados externos. A partir dos conteúdos desta aula, já depreendemos
que, na economia, como dizia sobre a química o francês Lavoisier, “nada
se cria, tudo se transforma”. Se tomarmos como certo que famílias
recebem uma renda, somos levados a pensar no comportamento dessas
famílias diante do mercado.
A demanda agregada, por definição, é o desejo dos indivíduos
de adquirir os bens e os serviços produzidos em um país dentro de
um determinado período de tempo. Chega-se a ela através de três
componentes: o consumo agregado (C), o investimento das empresas
(I) e os gastos do governo com bens e serviços (G). Logo,
DA = C + I + G.
Há um modelo simples que descreve algumas condições que trazem
a economia ao equilíbrio, o que equivale a dizer que, nesses casos, a
oferta agregada corresponde ao que se pretende de demanda agregada
– o que está à disposição no mercado encontra respaldo no desejo das
pessoas de consumir. Esse modelo estipula que há equilíbrio quando o
produto (PIB), que aqui representaremos por Y, for igual à demanda
agregada (DA).
Então, quando o PIB está em equilíbrio,
Y = DA = C + I + G
(5).
A equação (5) é a forma simplificada da equação (1), que continha
as exportações líquidas.
Lembre-se: PIB = C + I + G
(1)
CEDERJ
63
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Agora, mais uma vez, voltemos ao exemplo do sanduíche, exposto
no início desta aula. Como você viu ali, o valor do produto é igual ao
valor da renda (o sanduíche equivale aos cinco reais). A renda, por sua
vez, como você também já viu, é utilizada em consumo (C), poupança
(S) e em pagamento de impostos (T). Isto é:
Y=C+S+T
(6)
Isso é o mesmo que dizer que o PIB é igual ao consumo, à poupança
e aos impostos somados.
Vale ainda:
Y–C=S+T
(6a)
Neste caso, observe que Y – C descreve o total da renda não gasta
em consumo (a renda revertida para poupança e impostos).
Igualando as equações (6) e (5), temos que:
S+T=I+G
(7)
A equação (7) mostra, entre outras coisas, que a parcela da renda
das famílias que não é gasta em consumo é igual ao montante de gastos
nos dois outros setores (empresas e governos). Assim, a produção está em
equilíbrio (oferta de produtos = demanda agregada). Não ficou claro?
Entenda um pouco mais o sentido da equação (7). Você já aprendeu
que o valor dos bens e dos serviços produzidos reverte-se em renda
destinada às famílias (salários, lucros etc.). Pois bem: com essa renda, as
famílias realizam compras no mercado (demanda), o que fecha o fluxo
circular. A partir daí você pode ficar em dúvida: “mas e se parte da renda
que as famílias recebem não for gasta, como esse círculo é fechado?”
A resposta estaria na equação (7): se o que as famílias deixam
de gastar em consumo e impostos, ou seja, o que
elas poupam, for exatamente aquilo de que os
Marcelo Moura (www.sxc.hu)
empresários precisam para investir, e desde que as
contas públicas estejam equilibradas (G = T), haverá
equilíbrio. O que as famílias estão deixando de
comprar porque estão poupando será equivalente
ao que os empresários comprarão, embora com
dinheiro que eles não receberam como renda. Daí
Figura 3.5: Se o que as famílias poupam for
exatamente aquilo de que os empresários precisam para investir, atingimos o ponto de equilíbrio. A poupança representa a sobra de recursos
que pode ser utilizada para investimento, daí sua
importância para o crescimento econômico.
64
CEDERJ
segue o princípio de que é preciso que o país tenha
poupança, pois ela representa a sobra de recursos
que pode ser utilizada para investimentos.
3
Veja um exemplo: uma pessoa poupa dez reais. Quando poupa
AULA
(ou aplica) essa importância, a agência bancária, como intermediário
financeiro, tenta emprestar os dez reais para alguém, que pode ser um
empresário que precise do dinheiro para investir. Nesse caso, o que a
pessoa deixou de consumir para poupar deverá ser gasto pelo empresário,
sob forma de investimentos. Daí o equilíbrio.
Atividade 2
Poupança, um negócio do Japão
1
2
3
Certa vez , um presidente do Brasil deu a seguinte declaração aos jornais:
“...o Brasil, para atingir o crescimento econômico de que tanto precisa e merece, necessita
que a taxa de poupança aumente em níveis como os da taxa do Japão”.
Agora responda: que ligação você percebe entre o hábito de poupar e o crescimento
econômico?
______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
A poupança (ou o que podemos chamar “taxa de poupança bruta”) é o resultado da conta
“renda menos consumo e impostos”. Quando uma pessoa poupa, ela deixa seu dinheiro
no banco. Este disponibiliza tal quantia para empréstimos. Parte desses empréstimos deve
se destinar a empresários que precisem investir para aumentar a produção, mas que não
disponham dos recursos. Assim, quanto maior a taxa de poupança de uma população maior a
possibilidade de financiamento dos investimentos. E quanto maior o investimento maiores serão
a produção e o emprego gerados no futuro. A partir daí, gera-se mais crescimento econômico.
O Japão, por exemplo, tem uma das maiores taxas de poupança do mundo.
O DESEQUILÍBRIO ENTRE OFERTA E DEMANDA
Entendidos o conceito de demanda agregada e seus componentes,
analisado o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, vamos examinar
os efeitos de um excesso de produtos em relação à demanda agregada
(ou ao desejo ou propensão de compra de todos os agentes da economia).
Como você já viu na seção sobre investimentos, se parte do que
foi produzido não foi consumido, não foi utilizado para investimento
(planejado) ou para aquisição do governo, servirá de acúmulo
CEDERJ
65
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
involuntário de estoques. Nesse caso, haverá um desequilíbrio (oferta
de produtos maior que demanda por produtos) cuja sobra significará um
investimento em estoque não planejado. Logo, o investimento realizado
será maior do que o investimento planejado.
Em situação inversa, se a demanda agregada ultrapassa os níveis
de produto, haverá a completa utilização dos estoques planejados, que
serão vendidos para atender ao excesso de demanda. Assim, haverá
variação negativa de estoques. Ou seja, os investimentos realizados serão
!
menores do que os planejados.
Ir = Ip?
O investimento realizado só será
igual ao planejado quando a demanda
agregada for igual à oferta do
produto.
Gaston Thauvin (www.sxc.hu)
Repare que, se em dado momento as empresas
estiverem acumulando (ou reduzindo) seus estoques, no
período subseqüente deverão produzir um pouco menos
(ou mais) para reduzir (ou aumentar) essa variação de
estoques não planejada.
O nível do produto se alterará enquanto houver
qualquer desigualdade entre a demanda agregada e o nível de
Figura 3.6: Entre o encalhe e as encomendas de última hora, existe o nível
ideal de estoques. O que o determina
é a demanda por aquele produto em
um dado momento.
Atividade 3
Brasil, país do futuro
produto ofertado no mercado. Somente quando a demanda
agregada igualar o produto é que a produção corrente não
deverá variar. Aí encontraremos a posição de equilíbrio.
1
2
Em 2006, o Brasil alcançou a auto-suficiência na produção de petróleo.
Em 2008, foram os gêneros alimentícios. Em 2010, praticamente todos
os setores da economia brasileira eram auto-suficientes. Foi a partir de
2020 que se disseminou entre os brasileiros a convicção de que não
devíamos nem importar nem exportar mais nada.
66
CEDERJ
3
3
AULA
De posse desses fatos “históricos”, analise esses dados “concretos”:
O Estado brasileiro gasta 30 bilhões de neorreais ao ano.
O nível de poupança do Brasil está na casa dos 60 bilhões de neorreais.
Os impostos pagos ao Estado chegam à marca dos 80 bilhões de neorreais.
Agora responda: diante desse quadro, de quanto os empresários dispõem para investir
na potente indústria nacional?
Resposta Comentada
Antes de mais nada, vale comentar que o primeiro dado, sobre a auto-suficiência do Brasil
na produção de petróleo, é real. Agora vamos em frente: ao longo desta aula, você trabalhou
em cima da substituição dos fatores que compunham a seguinte equação: PIB = consumo +
investimentos + gastos do governo + exportações líquidas (PIB = C + I + G + (X – M) (1)).
Viu também que, em uma economia em equilíbrio, o PIB se iguala à renda e à demanda
agregada (PIB = Y = DA). Viu ainda que a renda das famílias se desdobra em consumo,
poupança e impostos. Logo,
PIB = Y = DA = C + I + G + (X – M)
Y=C+S+T
C + S + T = C + I + G + (X – M)
S + T = I + G + (X – M)
Mas como já definimos que o “novo Brasil” não importa nem exporta,
S+T=I+G
Ou, a partir dos valores apresentados,
60 + 80 = I + 30
140 = I + 30
I = 110
Logo, os empresários deverão dispor de 110 bilhões de neorreais para fomentar a
produção nacional em seus mais diversos setores.
CONCLUSÃO
A economia de um país é regida pelos mesmos princípios que
norteiam a administração de qualquer mercado de bens e serviços: oferta
e demanda precisam ser niveladas a todo momento, a fim de que os níveis
de preços se mantenham em patamares interessantes para vendedores
CEDERJ
67
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
e consumidores, e estoques precisam ser escoados ou abastecidos,
dependendo do nível de demanda por cada produto.
Quando calculamos o produto interno bruto de um país, devemos
levar em consideração todos os gastos realizados pelas famílias, a
arrecadação de impostos e os gastos feitos pelo governo. Como todos esses
fatores atendem a uma equação de identidade, é o bom gerenciamento
dos recursos que vai proporcionar uma equação em equilíbrio.
A administração pública tem um papel muito importante no fluxo
de capitais de um país, na medida em que contas públicas deficitárias
interferem nas importações e nas exportações e podem levar a economia
a depender de organismos internacionais, que costumam trazer consigo
compromissos a serem assumidos pela administração local que vão
interferir até no valor dos impostos pagos pela população.
Atividades Finais
1. Dados do IBGE informam que a participação do consumo no PIB brasileiro caiu de
58% em 2003 para 55,3% em 2004. A média histórica da participação do consumo é
de cerca de 65%. Considerando que o IBGE acusou, no período, um crescimento do
PIB de 4%, comente se essa redução do consumo representa uma perda de bem-estar
das famílias.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Não necessariamente. O consumo pode aumentar, ainda que em proporção ao PIB ele diminua
(dados mostram elevação de 4% do consumo em 2004). Se o consumo cai em proporção ao
PIB, a taxa de poupança pode ter aumentado. Se esta última foi maior que a taxa de investimento
(FBCF), então a taxa a mais de poupança foi destinada a financiar os gastos do governo (déficit
público) ou foi enviada ao exterior (por exemplo, para reduzir a dívida externa).
Sobre o panorama descrito, que se refere ao caso real brasileiro, saiba: segundo declarou o
economista Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), em entrevista ao jornal Valor Econômico (5/4/2005), “a taxa de poupança é
muito importante porque mostra que o Brasil tem sido capaz de gerar domesticamente a poupança
necessária aos investimentos”.
Pelos dados do IBGE, a taxa de investimentos contabilizada (apenas) pelo FBCF foi 0de 19,6%, e
a da poupança, de 23,2%. Em termos de dados macroeconômicos, essa situação é confortável,
pois indica que o investimento privado não precisou de recursos externos e que a poupança
interna deve ter contribuído para melhorar as contas externas.
68
CEDERJ
3
AULA
Para ser uma situação negativa, o nível de consumo das famílias precisa estar abaixo de um patamar
socialmente aceitável. Ainda assim, lembre-se de que níveis elevados de poupança e de investimento
são elementos favoráveis ao crescimento econômico, e que, no longo prazo, permitem elevar o
padrão de vida da população.
2. Reflita: o investimento em estoques pode assumir valor negativo? Em que caso isso
ocorre?
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Sim, investimentos em estoques representam os produtos que foram produzidos porém não
vendidos ou utilizados em determinado período. Quando ocorrer o contrário disso, ou seja, bens
que sejam vendidos sem que tenham sido produzidos naquele período, tem-se o investimento
em estoque negativo. Para que isso ocorra, basta que a demanda seja maior do que a produção
planejada. Nesse caso, os empresários procurarão atender a esse excesso de demanda com
a venda de seus estoques.
RESUMO
Consumo, investimento, gastos do governo e exportações líquidas
representam os componentes da demanda agregada em relação ao PIB.
A renda gerada na produção dos bens e serviços é utilizada para o consumo,
para a poupança e para o pagamento de tributos.
A conjugação das equações dos componentes do produto e da renda leva a
múltiplas e importantes relações que ajudam a ter controle sobre a atividade
econômica de um país.
A poupança das famílias é importante não apenas para elas mesmas, pois
financia o investimento e pode financiar os gastos do governo ou contribuir
para saldar os compromissos externos.
Sempre que a poupança for insuficiente para financiar a demanda por
investimentos, ao mesmo tempo em que houver déficit público, haverá
importações em valores superiores às exportações.
O consumo é o item da demanda agregada de maior peso no PIB brasileiro
e mundial.
CEDERJ
69
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
Na próxima aula, você continuará a estudar os componentes da demanda
agregada. Vamos abordar como é determinada a produção ou a renda
de equilíbrio. Estudará ainda o que se conhece como modelo keynesiano
simplificado de determinação da demanda agregada. Serão estudados os
fatores que afetam o consumo e como este afeta a renda de equilíbrio.
LEITURA RECOMENDADA
Nesta aula foi citado o FMI. Se você quiser saber um pouco mais sobre o
que faz o Fundo Monetário Internacional, bem como ter acesso a dados de
outros países, visite o site do fundo: www.imf.org (em inglês).
70
CEDERJ
objetivos
4
AULA
Determinação da renda e da
produção de equilíbrio
Meta da aula
Descrever o modelo simplificado de
determinação da renda de equilíbrio.
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1
2
3
4
determinar a variação do consumo em uma economia,
a partir do modelo keynesiano;
identificar o valor da renda de equilíbrio, o nível
de poupança (na condição de equilíbrio) e o efeito
do aumento da poupança na economia de uma nação;
analisar o processo de multiplicação de renda
a partir da comparação entre diferentes tipos
de multiplicadores;
aplicar o modelo keynesiano a situações hipotéticas
dentro da economia de um país.
Pré-requisito
Esta aula utiliza os conceitos apresentados na Aula 3,
além de fazer uma aplicação da soma de uma extensa
série de termos. Caso alguma dificuldade persista
após o término desta aula, uma breve consulta aos
elementos que compõem o cálculo do PIB pode ajudar.
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
INTRODUÇÃO
Figura 4.1: Várias são as maneiras de se determinar o nível de atividade
econômica de um país, seja a partir do que se produz, seja a partir do que se
consome. Qualquer que seja o caminho escolhido, é preciso ter em mente que
um sistema econômico é composto por peças que se encaixam segundo uma
lógica específica. (foto site http;//www.sxc.hu #133388, sem autor)
Na aula passada, desmembramos os fatores que compõem o cálculo do Produto
Interno Bruto (PIB). Agora chegou a hora de investigarmos um pouco mais a
fundo os fatores que fazem com que a produção nacional seja alterada de um
período a outro. Para isso, estudaremos o modelo de determinação da renda ou
MODELO
produto de equilíbrio. Vamos partir de um M O D E L O
ECONÔMICO
a que se convencionou chamar keynesiano, por conta de seu idealizador, o
Segundo o
Dicionário Aurélio,
é a representação
simplificada de
relações entre
variáveis econômicas,
em geral sob a forma
de um sistema de
equações, e que, com
o uso de técnicas
econométricas, pode
fornecer simulações
ou previsões.
ECONÔMICO
simplificado,
economista John Maynard Keynes.
O modelo keynesiano, sistema de equações desenvolvido por Keynes, enfatiza
que a demanda por produtos tem papel fundamental na determinação do nível
de produção e de renda de uma economia. Segundo o modelo, se a demanda
agregada aumenta, as empresas procuram atender a essa elevação por meio de
mais produção e de mais empregos, o que, por sua vez, faz aumentar a renda,
possibilitando sucessivas expansões de produção, até que a economia chegue
a um novo ponto de equilíbrio. É importante notar que o modelo formulado
por Keynes é uma simplificação do funcionamento dos mercados, uma vez
que estabelece várias hipóteses que reduzem suas características a elementos
passíveis de serem analisados em um modelo macroeconômico.
Você lembra da aula anterior? Pois então, vamos retomar algumas considerações
sobre os componentes da demanda agregada. Para tal, vejamos inicialmente o papel
do consumo para entender o conceito de demanda dentro deste contexto.
72
CEDERJ
Figura 4.2: John Maynard
Keynes (1883-1946).
4
AULA
?
Renomado economista
inglês, John Maynard Keynes
publicou, em 1936, sua Teoria geral
do emprego, do juro e do dinheiro.
A obra aborda temas contemporâneos ao
período entre guerras, quando uma severa crise
econômica espalhava-se pelo mundo. Para ele, o
alto desemprego decorrente da Grande Depressão,
no final dos anos 20, era devido à insuficiência
generalizada da demanda agregada na tarefa de
absorver o total de bens e serviços produzidos ao
redor do mundo. Dado o quadro de grave recessão,
não havia quem estivesse propenso a adquirir o que
era produzido. Para Keynes, a demanda agregada
era baixa principalmente por conta do baixo
nível de investimentos. Segundo o economista,
a receita para restabelecer a prosperidade
estaria no papel dos gastos do governo,
que, alcançando patamares mais altos,
impulsionariam a produção e o
emprego, permitindo que a
economia retomasse o rumo
do crescimento.
O CONSUMO
Imagine uma pequena cidade chamada Queinópolis. Agora
suponha que cada morador gaste exatamente metade de sua renda na
cidade. Suponha ainda que uma fábrica tenha se instalado em Queinópolis
e que a folha de pagamento de seus empregados seja de R$ 500 mil. Todos
os empregados contratados pela fábrica moram na cidade.
Agora pense: de quanto é o aumento na renda dos moradores de
Queinópolis proporcionado pela fábrica?
Certamente, os R$ 500 mil representam uma renda adicional
para os assalariados daquela empresa. Mas a história não pára por aí,
pois a totalidade das pessoas que receberam seus salários deverá gastar
R$ 250 mil (metade de sua renda) localmente, quantia que representará
uma renda adicional para lojistas, encanadores, professores, advogados
etc. Pensando dessa maneira, a renda dos moradores de Queinópolis
agora aumentou para R$ 750 mil. Lojistas, encanadores, professores
e advogados, por sua vez, irão gastar R$ 125 mil reais com outros bens e
serviços, acarretando um aumento de R$ 875 mil na renda dos moradores
da cidade. O processo continua, até que a renda total dos moradores de
Queinópolis se aproxime de R$ 1 milhão.
CEDERJ
73
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
a. Renda adicional
b. Aumento da renda para consumo
R$ 500.000,00
R$ 250.000,00 (50% de a)
Total
R$ 750.000,00 (a + b)
c. Aumento da renda de terceiros
R$ 125.000,00 (50% de b)
Note que os R$ 500 mil iniciais irão se expandir para quase R$ 1
milhão (se continuarmos aplicando o efeito de aumento proporcional),
uma vez dentro do sistema econômico da cidade. A esse fenômeno
chamamos efeito multiplicador. O tamanho do efeito multiplicador
na nossa pequena cidade de Queinópolis depende diretamente da
porcentagem da renda que os moradores gastam localmente; nesse caso,
50%. Quanto menor a porcentagem, mais rapidamente a renda adicional
sai do sistema econômico da cidade e menor o valor do multiplicador.
Para entendermos bem essa idéia, é importante pensar o quanto
de sua renda cada pessoa está disposta a gastar na cidade. O modelo
matemático que estima esse tipo de comportamento representa o que
chamamos função de consumo. Essa função diz que a quantidade de
gastos de uma pessoa depende de sua renda, e, conforme essa renda
aumenta, também aumenta o consumo.
Você, com certeza, já percebeu como a economia influencia a
vida de toda e qualquer comunidade, certo? Para que isto fique
ainda mais claro, você pode ver o filme Roger & Me, dirigido por
Michael Moore (1989). Para produzir este filme, Moore filmou, ao
longo de cinco anos, a história de como a depressão econômica e
o desemprego atingiram a cidade de Flint (onde nasceu). A cidade
natal de Moore vivia só de uma indústria de automóveis, e quando
a General Motors, maior fabricante de carros do mundo, fechou as
instalações, a cidade ficou arrasada.
Agora vamos utilizar outro exemplo. Analise com atenção a Tabela
4.1, que representa uma estimativa do comportamento de consumo e
poupança do morador de uma outra cidade, ao longo de um ano. A tabela
mostra que, se esse morador espera uma renda de R$ 10.000 anuais, seu
consumo será de R$ 12.500. Repare que esse comportamento somente
é possível porque ele foi obrigado a despoupar, ou seja, utilizar recursos
74
CEDERJ
4
além de sua renda, como por exemplo sacar dinheiro de uma poupança
AULA
para atender ao seu consumo básico.
Tabela 4.1: Diferentes valores de consumo e de poupança estimados a partir da
variação na renda anual esperada por um indivíduo. Conforme aumenta a renda
anual, também aumenta o consumo até que se atinja uma situação em que é
possível poupar.
Renda anual
esperada
(em R$)
Consumo anual
(em R$)
Poupança anual
(em R$)
10.000
12.500
-2.500
12.000
14.000
-2.000
20.000
20.000
0
30.000
27.500
2.500
Continue analisando a tabela. Se a renda anual desse morador
aumentar em R$ 2.000, ou seja, passar para R$ 12.000, o consumo básico
dele aumenta também, e ainda é necessário despoupar. O consumo
básico de uma pessoa varia conforme sua renda e tende a aumentar
conforme seus rendimentos aumentam.
Vamos agora fazer alguns cálculos básicos.
O primeiro aumento na renda anual desse morador foi de
R$ 2.000, certo? De R$ 10.000 para R$ 12.000. Seu consumo, por sua
vez, aumentou em R$ 1.500. De R$ 12.500 para R$ 14.000. Se você
reparar bem, 1.500 representam 3⁄4 de 2.000 (1.500 / 2.000).
Se continuarmos a fazer esses cálculos, vamos notar que, em todas
as situações analisadas, o aumento do consumo é sempre equivalente a
3⁄4 do aumento da renda anual do morador. Basta fazer as divisões para
perceber. Por que você não tenta conferir?
A fração de renda adicional que uma pessoa gasta possui um nome
!
especial: a P ROPENSÃO
MARGINAL A CONSUMIR
ou (PMc).
A propensão marginal
a consumir pode ser calculada da
seguinte maneira:
(1) PMc = (mudança no consumo) /
(mudança na renda)
PROPENSÃO
MARGINAL A
CONSUMIR
A propensão
marginal a consumir
mede quanto da
variação da renda
será utilizada para
aumentar o consumo.
Seu intervalo de
variação é de 0 a
1. À medida que o
consumo aumenta,
dados os limites da
renda, a propensão
marginal a consumir
diminui. Um
indivíduo que tenha
ganhos bastante
limitados, após suprir
suas necessidades
básicas, terá uma
propensão marginal
próxima de zero.
CEDERJ
75
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
O CONSUMO AUTÔNOMO
Outra informação importante é que existe um consumo que
sempre ocorrerá, mesmo que a renda esperada de uma pessoa seja
equivalente a zero. É uma indicação do consumo de subsistência ou
vital desse indivíduo, que denominamos consumo autônomo.
Como uma pessoa pode consumir alguma coisa sem ter renda?
Parece impossível, mas a resposta é simples: ela pode sacar dinheiro de sua
poupança, pedir emprestado, receber doações etc. Considera-se, portanto,
que haverá sempre algum nível de consumo em um determinado período
de tempo, mesmo que o indivíduo não obtenha renda.
Vamos tornar nossa análise um pouco mais complexa e imaginar,
então, que o consumo autônomo do morador mencionado na Tabela 4.1
seja equivalente a R$ 5.000 anuais. Esse é um valor fixo, que não muda
conforme a renda aumenta. Podemos representar a função de consumo
demonstrada na tabela por meio de uma equação:
Consumo = $5.000 + 3 (renda recebida)
4
Se substituirmos a renda esperada por qualquer dos valores
apresentados na tabela, chegaremos ao mesmo resultado de consumo
apresentado:
Consumo = $5.000 + 3 .($10.000) = $5.000 + $7.500 = $12.500
4
Repare que, nessa equação, está representado o valor da propensão
marginal a consumir, que nesse caso é 3⁄4. Como o resultado da equação
varia dependendo dos valores de consumo autônomo, propensão
marginal a consumir e renda esperada, podemos representar essa função
de consumo da seguinte maneira:
C = Co + cY
C representa o consumo;
Co representa a parcela de consumo que não depende
da renda, ou seja, o consumo autônomo e se refere aos
gastos essenciais (arroz, feijão, conta de luz etc.);
c mede a variação do consumo em relação à variação da
renda, a propensão marginal a consumir (PMc).
Y é a renda esperada.
76
CEDERJ
AULA
4
A RENDA DISPONÍVEL
A partir deste ponto da aula, podemos refinar ainda mais o
conceito de renda. Na aula passada, vimos que a renda tem três destinos
possíveis: consumo, poupança e pagamentos de impostos. Chamemos
então de renda disponível tudo o que resta às famílias, descontados dos
ganhos totais os impostos diretos (imposto de renda, CPMF etc.), ou
seja, vamos assumir que a renda disponível, que pode ser revertida para
o consumo ou para a poupança, é a principal variável envolvida na
determinação do nível de gastos (ou consumo) de um indivíduo. É certo
que outras variáveis, como a taxa de juros, também afetam o consumo,
mas, neste modelo simples, apenas a renda será considerada.
Para resumir o parágrafo anterior, modificamos um pouco a
expressão matemática que havíamos apresentado anteriormente e
descrevemos o consumo como uma função que depende da renda
disponível, como se segue:
!
C = Co + cYd
A única diferença
entre esta expressão e a anterior
é justamente a forma como a renda
é expressa: Yd é a renda disponível, ou
seja, a renda apropriada pelas famílias,
descontados os impostos diretos
pagos ao governo.
POUPAR OU CONSUMIR?
Que tal entendermos um pouco mais acerca dos
PARÂMETROS
PARÂMETROS
da função de consumo? Lembre-se de que o consumo autônomo (Co)
Valores que
determinadas
variáveis ou
constantes podem
assumir em uma
equação.
pode ser interpretado como a quantidade de bens e serviços consumidos
mesmo que os indivíduos estejam sem renda (renda zero). Isso seria uma
indicação de consumo de subsistência ou vital.
A propensão marginal a consumir (PMc), por sua vez, expressa
a disposição da população para alterar seu nível de consumo dado um
acréscimo de renda. Veja, é senso comum: a renda de um indivíduo é
destinada ao consumo ou à poupança. Um aumento da renda disponível
CEDERJ
77
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
normalmente faz com que uma parte seja direcionada ao consumo e que
outra vá para a poupança (lembre-se de que não existe outro destino
da renda que não seja um desses dois, a menos que se rasgue dinheiro,
o que não seria um comportamento racional). Perceba que alguém que
ganhe muito pouco provavelmente destinará grande parte ou a totalidade
de uma variação positiva da renda ao consumo, a fim de satisfazer suas
necessidades, enquanto outra pessoa que seja muito bem remunerada
tenderá a destinar seus novos ganhos à poupança.
Além do conceito de propensão marginal a consumir, os
economistas também se referem à propensão marginal a poupar, que
representa a fração da renda adicional que uma pessoa destina à
poupança. Uma vez que as pessoas ou gastam ou poupam sua renda
adicional, a soma da propensão marginal a consumir com a propensão
marginal a poupar deve ser equivalente a 1. Vamos entender melhor
essa idéia?
O valor da propensão marginal a consumir normalmente está
entre 0 e 1. Como a PMc é uma fração, o valor 1 indica que nenhuma
parcela da renda adicional será poupada; toda a quantia será gasta.
Para você não ter dúvidas quanto a esses valores, basta lembrar que
a propensão marginal a consumir é calculada dividindo-se a mudança
no consumo pela mudança na renda. Se minha renda adicional foi de
R$ 1.000, e eu gastá-la por completo (-R$ 1.000), o resultado da divisão é
1 (1.000/1.000). Para algumas pessoas, o valor de PMc igual a 1 é razoável,
e significa que toda a renda adicional recebida é gasta. Para outras, o valor
0 também é razoável, e significa que uma renda adicional de R$ 1.000 foi
integralmente destinada à poupança (0/100), na Tabela 4.1, a PMc era
igual a 3⁄4, ou seja, 1⁄4 da renda adicional não foi gasto, mas destinado
!
à poupança.
Valores de PMc extremos,
como 0 ou 1, não são comuns a
todas as pessoas; de forma geral, esse valor
está entre 0 e 1. Perceba: um indivíduo sozinho até
pode se comportar como um autêntico pão-duro (PMc
= 0) ou como um tremendo gastador (PMc = 1),
mas em termos agregados (para a população
como um todo) tais extremos são
improváveis.
78
CEDERJ
4
Pensando em termos nacionais, se a propensão marginal do país
AULA
para o consumo for de, digamos, 0,8, e se a renda nacional variar 10 u.m.
(10 unidades monetárias, uma moeda qualquer), o consumo agregado
no país deverá aumentar 8 u.m.. Simples, concorda? Exatamente o
mesmo cálculo que fizemos anteriormente, levando em conta apenas
um indivíduo.
Em suma: vimos que um aumento da renda disponível pode se
reverter para o consumo. Vimos também que há um segundo caminho,
a poupança. Como o aumento da renda se converte em mais consumo e
mais poupança, o que não for destinado ao consumo vai necessariamente
para a poupança, e vice-versa.
Disto resulta:
c+s=1
Nessa equação, a nova variável s (do inglês savings) é a propensão
marginal a poupar, que significa a parcela da variação da renda que será
destinada à poupança.
Atividade 1
Consumir ou poupar?
1
Explique, no nível de compreensão de uma pessoa leiga, como é que, pela teoria
keynesiana, um aumento no consumo autônomo de R$ 10,00 pode resultar em um
aumento nas vendas totais de uma economia em mais de R$ 10,00.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Uma pessoa, ao comprar um produto, gera renda para quem vende. Esta última irá gastar
parte do que recebeu efetuando outras compras. E esse comportamento se repete até que
esse processo termine, ou seja, quando as vendas adicionais cessarem. Espera-se que as
novas compras diminuam a cada fase, posto que nem toda renda é gasta; parte dela pode
ser utilizada para poupar ou importar.
CEDERJ
79
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
A função poupança
Antes de passarmos ao tópico seguinte desta aula, vamos rever
uma equação que aprendemos na aula passada, que relaciona renda,
consumo, poupança e impostos na economia de um país, de modo que
fique mais fácil compreendermos como devemos representar a poupança
no modelo keynesiano:
Y=C+S+T
(renda = consumo + poupança + impostos)
Se simplesmente rearranjarmos os termos dessa igualdade,
facilmente perceberemos que:
Y–T=C+S
Ora, Y – T nada mais é que a representação da renda disponível (Yd),
conforme discutimos anteriormente, ou seja, a renda disponível
para as famílias, deduzidos os impostos a pagar, lembra? Então, podemos
escrever ainda que:
Y – T = Yd = C + S
Isso equivale a dizer que a renda disponível é igual a consumo +
poupança, ou que a renda disponível é igual à renda total, descontados
os impostos. E isso tudo nós já havíamos aprendido antes, certo? Então
vamos adiante.
Você se lembra da equação que define a função de consumo, que
estudamos anteriormente nesta aula?
FUNÇÃO
POUPANÇA
A função poupança
representa a
poupança como
dependente do
nível de renda. Esta
relação é positiva,
ou seja, quanto
maior a renda,
maior o nível de
poupança. A função
assume valores
negativos para níveis
demasiadamente
baixos de renda
disponível, o que
pode ser entendido
como uma
“despoupança”.
80
CEDERJ
C = Co + cYd
Se retomarmos as igualdades que representam a renda disponível
e nos concentrarmos no lado direito da equação
Y – T = Yd = C + S,
veremos que é possível substituir a variável C, conforme descrita
na função de consumo, de forma a chegar a uma nova equação:
Yd = Co + cYd + S
Ou ainda, se a rearranjarmos:
S = - Co + (1- c)Yd
Esta última equação é o que se chama F U N Ç Ã O
P O U P A N Ç A . Observe
que, se a renda disponível for zero, a poupança será de -Co. Isso fica
bastante claro se voltarmos ao que dissemos: o consumo autônomo se
4
refere aos gastos essenciais. Um indivíduo sem renda não poderá gastar
AULA
com nada que não se encaixe nesse tipo de despesa.
Atividade 2
Se a função consumo é dada por C = 60 + 0,5 (Y - T), expresse a função poupança
correspondente.
2
Resposta
A poupança é obtida por Y – C.
S = Y - 60 + 0,5 (Y - T) = - 60 + 0,5(Y - T)
A RENDA DE EQUILÍBRIO
Agora chegamos a um ponto importante da nossa aula, no qual
vamos discutir uma situação de equilíbrio, segundo o modelo de Keynes.
Para isso, vamos voltar a analisar a Tabela 4.1, que reproduzimos
a seguir.
Tabela 4.1: Diferentes valores de consumo e de poupança estimados a partir da
variação na renda anual esperada por um indivíduo. Conforme aumenta a renda
anual, também aumenta o consumo, até que se atinja uma situação em que é possível poupar.
Renda anual
esperada
(em R$)
Consumo anual
(em R$)
Poupança anual
(em R$)
10.000
12.500
-2.500
12.000
14.000
-2.000
20.000
20.000
0
30.000
27.500
2.500
CEDERJ
81
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Nesse exemplo, em qual situação a renda esperada equivale aos
gastos efetuados pelo morador? Repare que, para uma renda esperada
de R$ 20.000, o consumo é de mesmo valor. Essa situação representa a
renda de equilíbrio.
Antes de continuarmos, pense que, se uma pessoa espera receber
determinada renda mas acaba gastando mais do que recebe, é razoável
supor que haja uma mudança de comportamento de forma a atingir
um equilíbrio lógico, em que a renda esperada seja equivalente à renda
recebida. Em termos macroeconômicos, a renda de equilíbrio representa
uma situação em que o nível de renda vigente na economia proporcione
a oferta de bens e serviços igual à respectiva demanda (tudo o que se
produz é consumido, sem faltas nem sobras).
Como se alcança a renda de equilíbrio?
Vamos voltar a alguns conceitos discutidos anteriormente e
somar elementos às equações que constituem nosso modelo. O consumo
não é o único tipo de gasto observado em um país. As empresas, por
exemplo, fazem gastos sob a forma de investimentos, o governo faz
gastos variados e a economia de um país também é influenciada pelas
transações que realiza com outras nações. O governo, ainda, cobra
impostos da população.
Todos esses fatores aumentam a complexidade de um modelo
que prevê o funcionamento de qualquer economia, embora a lógica a
ser considerada seja sempre a mesma. Da mesma forma como tomamos
decisões acerca de como e quanto consumir, as decisões dos empresários
acerca dos investimentos a serem feitos dependem da renda esperada
para a empresa em determinado período.
Para completar o modelo, é necessário adicionar o governo, pois
este afeta o fluxo econômico de uma nação de duas maneiras: soma à
renda do país (por meio da compra de bens e serviços) e retira dinheiro do
sistema (por meio dos impostos). Os gastos governamentais incluem, por
exemplo, a compra de veículos, o pagamento de salários e a construção
de estradas. A adição dos gastos e impostos governamentais implica um
papel na determinação da renda nacional. Quando o governo aumenta seus
gastos, a renda nacional é elevada e também sofre o efeito multiplicador
mencionado anteriormente. Se o governo aumenta os impostos, a renda
nacional esperada diminui e as pessoas tendem a reduzir seu consumo.
82
CEDERJ
4
A renda de um país, portanto, deve ser considerada a partir da
AULA
incorporação dos investimentos empresariais e dos gastos governamentais,
além do consumo nacional, naturalmente: I + G + C (Investimento +
Gasto + Consumo).
Voltando à questão do equilíbrio, nós argumentamos que tal
situação, no modelo keynesiano, é aquela em que a renda esperada é
igual à renda obtida. Uma outra maneira de olharmos para essa condição
é considerar que a renda esperada é determinada por três fatores: os
impostos (que afetam a renda negativamente, diminuindo-a), o consumo
e a poupança esperada, ou:
Yexp = T + C + Sexp
Yexp = renda esperada (do inglês expected)
T = impostos
C = consumo
Sexp = poupança esperada
Havíamos mencionado que a renda real (do inglês, actual) é
decorrente de três fatores: consumo, investimento e gastos governamentais, ou:
Yact = C + I + G
No equilíbrio, estas duas equações são iguais, ou:
T + C + Sexp = C + I + G
Eliminado C de ambos os lados, temos a condição de equilíbrio
expressa sob a forma:
Sexp + T = I + G
Em outras palavras, essa equação diz que o equilíbrio existe
naquele nível de renda em que a quantidade de dinheiro que as pessoas
tendem a retirar do fluxo de gastos, seja na forma de poupança seja
na de impostos, equivale àquela que elas intencionam adicionar a este
fluxo como investimento, seja por meio das empresas, seja por meio dos
gastos governamentais.
Nesse modelo, os investimentos empresariais e os gastos
governamentais significam entrada de renda (influxo) e os impostos
e poupança esperados significam saída de renda (perda). Conforme
CEDERJ
83
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
aumenta a entrada de renda para um sistema, também aumenta sua
saída, sob a forma de poupança esperada.
Da mesma maneira como há apenas um nível de água em um
balde no qual o vazamento equivale à entrada de líquido, há apenas um
nível de renda no modelo no qual a saída de renda equivale à entrada.
Esta é a situação de equilíbrio.
Gastos
governamentais
Investimentos
Renda de equilíbrio
Impostos
Poupança
Figura 4.3: O equilíbrio do modelo de renda e gastos equivale àquele de um balde d'água vazando.
O influxo de água deve equivaler à perda de líquido.
GASTOS AUTÔNOMOS E EFEITO MULTIPLICADOR
A voz de uma pessoa falando pode ser ouvida como um mero
sussurro ou por todo um estádio de futebol, dependendo da amplificação
a que é submetida. Um carro com um bom sistema de amortecimento
pode trafegar suavemente mesmo sobre uma rua toda esburacada.
E a economia de um país, o que você acha? Comporta-se como um
carro que amortece solavancos ou como um amplificador dos menores
sussurros? Essas são analogias que nos ajudarão a compreender melhor
os conceitos que continuaremos a discutir em nossa aula.
Um conceito importante é o de gastos autônomos, ou seja, os gastos
em uma economia que independem de flutuações de renda no sistema.
Lembra do conceito de consumo autônomo? Pois dentro do modelo
keynesiano, o consumo autônomo (Co), os gastos governamentais e as
exportações, entre outros, são considerados gastos autônomos.
84
CEDERJ
4
Agora vamos imaginar um incremento em qualquer item dos
AULA
gastos autônomos, como por exemplo gastos governamentais, que
representam uma entrada de renda no sistema. Essa despesa adicional
do governo indica que alguém está recebendo mais renda. Vamos
retomar o processo que discutimos anteriormente nesta aula. Diante de
um aumento de renda, o indivíduo eleva seu consumo de acordo com
sua propensão marginal a consumir, lembra? Isso significa que, além
desse indivíduo, haverá outras pessoas se beneficiando desse consumo
adicional por meio do recebimento de renda. Essas pessoas, por sua vez,
também gastarão essa renda com mais consumo, dada a sua propensão
a consumir. Daí em diante, outras pessoas receberão como renda tais
aumentos de consumo, e assim sucessivamente. Da mesma forma ocorre
quando o governo incrementa a renda do sistema com o aumento de
gastos (como infra-estrutura, por exemplo).
Na situação descrita, um aumento nos gastos autônomos gerou
um efeito multiplicador sobre o consumo, o que, por sua vez, acarreta
uma diminuição não planejada nos estoques de diferentes produtos, e
assim surge a necessidade de uma nova produção por parte das empresas,
alterando o sistema econômico e conduzindo a uma nova condição de
!
equilíbrio de renda.
Vamos a um exemplo prático para você
entender melhor. Imagine que o governo contratou a
empreiteira Toda Obra S.A. para construir 1.000 casas populares.
A empreiteira, para dar conta da obra, contratou mais 100 funcionários,
comprou mais cimento e tijolo da distribuidora Tem Tudo Ltda. Esta firma,
por sua vez, precisou refazer seu estoque, e para tal contactou a olaria
Barro Bom Ltda. para repor o produto da distribuidora. A olaria, por
conseqüência, teve de aumentar sua produção para atender à
demanda, e assim por diante. Ficou clara a idéia de
efeito multiplicador?
Agora que entendemos o conceito de gastos autônomos e suas
implicações para o equilíbrio de um sistema, vamos tentar voltar às
equações que constituem nosso modelo e representar esses componentes
do ponto de vista matemático. Começaremos retomando duas equações
que já vimos nesta aula:
Y=C+I+G
C = Co + cYd
CEDERJ
85
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Se combinarmos essas duas equações, percebemos facilmente
que:
Y = Co + cYd + I + G
Para relembrarmos ainda que a renda disponível é a renda menos
os impostos, devemos recuperar uma outra equação:
(Yd = Y - T)
Fazendo uma nova substituição de termos, temos que:
Y = Co + c (Y – T) + I + G
Y = Co + cY – cT + I + G
Y – cY = Co – cT + I + G
Se você gastar alguns minutos desenvolvendo ainda mais essa
equação, chegará facilmente à igualdade abaixo, que descreve as variáveis
que determinam a renda na situação de equilíbrio (Ye):
Ye =
1
(Co − cT + 1 + G )
1− c
Para que você entenda um pouco melhor do que estamos tratando,
vamos separar o lado direito dessa igualdade em duas partes:
1
1− c
O primeiro termo (
e
Co – cT + I + G
1
) é chamado multiplicador dos gastos
1− c
autônomos (m). Ele recebe esse nome porque o valor da renda de
equilíbrio será m vezes o valor dos componentes autônomos da equação
(consumo, gastos governamentais etc.), representados pelo segundo termo
(Co – cT + I + G).
O multiplicador dos gastos mostra o efeito de uma variação nos
gastos autônomos sob a forma de uma variação ainda maior na renda.
Como a fração será sempre um valor maior que um (daí se chamar
multiplicador), o produto dessa fração pela variação nos gastos autônomos
naturalmente resultará em um aumento na renda de equilíbrio maior do
que apenas a elevação dos gastos autônomos propriamente ditos.
Ficou mais fácil entender a equação agora? Então voltemos a ela:
Ye =
86
CEDERJ
1
(Co − cT + 1 + G )
1− c
4
Como mencionamos, o segundo termo do lado direito dessa
AULA
equação diz respeito aos gastos autônomos. Em termos matemáticos,
podemos perceber com essa equação que a renda de equilíbrio varia
linearmente em função da variável T (os impostos). Como o coeficiente
que acompanha o termo linear T é negativo (-c), a renda de equilíbrio
diminui linearmente à medida que o valor de T aumenta. Em termos
concretos, isso equivale a dizer que quanto mais se aumentam os
impostos, menor será a renda disponível para o consumo e, assim,
menor será a renda de equilíbrio.
Atividade 3
Mexendo na poupança
3
Considerando os dados a seguir,
Y=C+I+G
C = 100 + 0,8 Y
I = 150
G = 50
T=0
determine:
a. o valor da renda de equilíbrio;
b. o nível de poupança na condição de equilíbrio.
c. Suponha que foi feita uma campanha nacional para que todos poupem mais (elevem
sua taxa de poupança). Sendo bem-sucedida tal campanha e considerando que os gastos
autônomos serão os mesmos, qual seria o efeito dessa campanha sobre a renda ou o
produto dessa nação?
CEDERJ
87
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Resposta Comentada
Observando que Y nesta questão é a renda disponível, a letra a é resolvida utilizando a
1
equação ( Ye =
(Co − cT + 1 +),Gda
) qual resulta que a renda de equilíbrio deve ter valor
1− c
de 1.500 u.m.
A função poupança dada pela equação S = – Co + (1- c)Yd, por sua vez, determina o nível
de poupança em 200 u.m.
Por fim, vamos à resposta da letra c: um aumento da propensão a poupar acarreta simultânea
diminuição na propensão a consumir (lembre-se de que elas estão inversamente relacionadas).
Em outras palavras, se as pessoas estão poupando um pouco mais com o mesmo salário
que recebem, apenas o valor de C se alterou (nesse caso, diminuiu). O consumo diminui e no
final a renda de equilíbrio também cairá, dado que o multiplicador diminuiu. Isto é conhecido
como paradoxo da parcimônia. Com base nesta atividade, podemos constatar que o nível da
renda de equilíbrio dado pela equação depende da propensão marginal a consumir e dos
componentes dos gastos autônomos. Quanto maior o valor de algum desses itens, tanto maior
será o valor da renda de equilíbrio.
ALTERAÇÃO NOS IMPOSTOS
Você deve ter percebido que, até aqui, consideramos os impostos
como gastos autônomos. Pois agora, visto o comportamento dos
indivíduos diante de variações na renda, suponha uma mudança na
política fiscal do governo (uma variação nos impostos). Examine a seguir
a expressão que indica o efeito da alteração dos impostos sobre a renda
de equilíbrio, expressa pela equação que você já conhece bem:
Ye =
1
(Co − cT + 1 + G )
1− c
Como você sabe, mudanças, em qualquer variável, são
representadas pelo símbolo ∆ (delta). Dessa forma, se considerássemos
que todos os elementos constitutivos dos gastos estivessem variando, a
variação da renda de equilíbrio seria representada da seguinte forma:
∆Y = 1 (∆Co – c∆T + ∆I + ∆G)
1– c
Como apenas consideramos a variação dos impostos, todas as
outras alterações assumem valor zero e, dessa forma, a equação que
representa a variação de renda de equilíbrio passa a ser expressa assim:
88
CEDERJ
Ou ainda:
AULA
4
∆Y = 1 (– c∆T) = – c ∆T
1– c
1– c
∆Y
−c
=
∆T 1 − c
Em termos concretos, essa equação equivale a dizer que um
aumento nos impostos cobrados pelo governo diminui a renda
nacional, pois reduz o nível de consumo para qualquer nível de
renda da população.
MODELO DE DETERMINAÇÃO DA RENDA COM IMPOSTOS
EM FUNÇÃO DA RENDA
Nesse ponto, é importante compreendermos um pouco mais acerca
de como os impostos interferem na renda de equilíbrio. Vamos considerar
que a arrecadação tributária de um país hipotético seja proporcional à
renda. Ou seja: quem ganha mais paga uma alíquota maior “ao leão”, e os
impostos, portanto, devem ser expressos em função da renda, assim:
T= tY
(0< t < 1)
onde t denota “alíquota do imposto de renda” (ou fração da renda
total destinada ao pagamento de impostos).
Recuperando a equação que representa a renda disponível Yd (ou
seja, renda subtraída de impostos) e substituindo T conforme expresso,
facilmente chegamos à conclusão de que:
Yd = Y – T = Y – tY
Fazendo uma nova substituição na equação que representa a
função de consumo, chegamos à equação a seguir:
C = Co + cYd = Co+ c (Y – tY)
A condição de equilíbrio (renda = demanda agregada), como já
vimos, é:
Y=C+I+G
Logo,
Y = Co + c (Y – tY) + I + G
Depois de colocarmos em evidência os termos com a variável renda
e os isolarmos, como fizemos no modelo anterior, teremos o seguinte
resultado:
CEDERJ
89
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Ye =
1
(Co + 1 + G )
1 − c (1 − t )
Co, I e G, como já vimos, são os gastos autônomos. Continuamos
a ter um efeito multiplicador representado (1 / 1 – c (1 – t) que, nesse
caso, assume um valor diferente (menor) que o multiplicador anterior.
Todo esse desenvolvimento foi para você perceber que as relações
implicadas na equação anterior nos dizem que toda vez que haja uma
mudança nos gastos autônomos, toda vez que estes aumentem a renda, os
impostos absorverão parte dessa renda, limitando o consumo adicional.
Atividade 4
Certo como a morte e os impostos
Considere os dados da atividade anterior, exceto os impostos, que passam a ser
calculados em função da renda.
Y = C+ I + G
C = 100 + 0,8 Yd
I = 150
G = 50
T= t Y = 0,3Y
Determine o nível de renda de equilíbrio e compare os valores dos multiplicadores com
e sem os impostos em proporção da renda.
Resposta Comentada
Y = 100 + 0,8 (Y – 0,3) + 150 + 50
Ye =
1
1- 0,8(1- 0, 3)
(300) = 681,8
Observe que a renda caiu e que o multiplicador dos gastos, também.
Perceba: quando não considerávamos os impostos em função da renda, o multiplicador era
5. Agora, o multiplicador dos gastos autônomos é 2,27. É fácil perceber, pela expressão do
multiplicador, que, com os impostos proporcionais à renda, o valor do multiplicador se reduz.
Intuitivamente, se a alíquota fosse de 100%, todo acréscimo de renda seria absorvido pelo
imposto, não restando nada para gerar novos gastos e renda. No outro extremo, se a alíquota
fosse zero, teríamos o multiplicador do modelo mais simples (impostos independentes da
renda). Portanto, quanto maior a alíquota, menores os gastos induzidos, em razão de
alterações nos gastos autônomos.
90
CEDERJ
AULA
4
O SETOR EXTERNO NA DETERMINAÇÃO DA RENDA
Até aqui, estamos tratando de um sistema econômico fechado ou
que trave todas as suas relações econômicas com outros países. Quando
o setor externo é levado em consideração no modelo keynesiano, admite-se
que as importações são dependentes do nível de renda da população.
Seguindo esse raciocínio, à medida que os indivíduos vão aumentando sua
renda, mais bens importados são adquiridos. Desse modo, considera-se
que as importações são uma função crescente da renda.
Veja como: considere as exportações como dependentes da demanda
de outros países, isto é, imagine que as exportações não sejam alteradas
por nenhuma variável composta na equação da renda de equilíbrio
VA R I Á V E L
(ou seja, as exportações são uma variável E X Ó G E N A ). Elas dependem apenas
ENDÓGENA E
de indivíduos inseridos em outro sistema econômico que apresentem
propensão a adquirir nossos produtos nacionais. Como vimos na aula
anterior, o saldo das relações econômicas de bens e serviços externos
de uma economia é denominado Balanço das Transações Correntes.
É o saldo de movimentos da balança comercial (exportações menos
A equação que expressa o Balanço das Transações Correntes (BTC) é:
importações) e de serviços como pagamento de juros da dívida externa.
BTC = X – M
Lembre-se de que, nesta equação:
X = exportação de bens e serviços
M = importação de bens e serviços
Considere agora que existe uma fração da renda que é destinada às
importações. Assim como para o consumo e para a poupança, chamamos
EXÓGENA
Diz-se que uma
variável é endógena
quando seu valor
é determinado no
interior do modelo.
A variável é exógena
quando seu valor
não é determinado
ou afetado pelo
sistema de equações
do modelo. Por
exemplo, o consumo
autônomo é uma
variável exógena,
pois seu valor não se
altera, qualquer que
seja a renda.
A variável consumo,
por sua vez, é uma
variável endógena,
já que seu valor
depende do nível de
renda.
esta fração de propensão marginal a importar (o que varia também de
acordo com um acréscimo na renda). Assim, vamos considerar agora
a expressão:
M = mY
(0 < m < 1)
Nesse caso, m é a fração da renda (Y) destinada às importações (M).
Como agora estamos incorporando o setor externo à demanda
agregada, a condição de equilíbrio que discutimos anteriormente passa
a assumir a seguinte expressão:
Y=C+I+G+X–M
CEDERJ
91
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Se partirmos do que já desmembramos de cada uma dessas
variáveis, chegaremos a:
C = Co + c (Y – T)
T = tY
M = mY,
Substituindo C e M abaixo, e considerando agora que I, G e X
são variáveis autônomas ou fixas, elas passam a ser representadas por
Io, Go e Xo. Observe:
Y = Co + c(Y – T) + Io + Go + Xo – mY
Considerando T = tY, temos:
Y = Co + c(Y – tY) + Io + Go + Xo – mY
Colocando Y em evidência na expressão c( Y – tY), chegamos a:
Y = Co + c(1 – t) Y + Io + Go + Xo – mY
Passando todos os termos em Y para o lado esquerdo da igualdade,
teremos:
Y – c(1– t) Y + mY = Co + Io + Go +Xo
Agora colocamos Y em evidência do lado esquerdo da equação
para encontrar
Y(1– c(1 – t) + m) = Co + Io + Go + Xo
Finalmente, isolamos Y dividindo o lado direito da equação por
(1– c(1 – t) + m)
Y=
1
(Co + Io + Go + Xo)
1 − c(1 − t ) + m
Da mesma maneira que estudamos anteriormente, a fração do lado
ECONOMIA
92
direito da equação representa o multiplicador dos gastos. Por incorporar
ABERTA
a propensão a importar, é conhecido como o multiplicador de gastos
Expressão utilizada
pelos economistas
para se referir
a países que
mantenham relações
econômicas com
outros. A economia
é aberta quando há
fluxo de exportações
e importações de
bens e serviços.
com a E C O N O M I A
CEDERJ
ABERTA.
O valor desse multiplicador é menor que os
anteriores, posto que, agora, parte de qualquer aumento de renda também
é gasto com os produtos de outros países. Isso ocasiona um “vazamento”
no valor do multiplicador e na renda de equilíbrio (lembre-se da figura
do balde d’água). Nesse caso, em vez de gastar internamente todo o
adicional de renda disponível, uma parcela é destinada ao exterior.
Finalmente, repare ainda que a soma da propensão marginal a
4
consumir com a propensão marginal a poupar e a importar assume o
AULA
valor 1. Isto decorre do fato de que uma unidade a mais de renda é
∆C
= c ) e/ou produtos
destinada ao consumo de produtos nacionais (
∆Y
∆M
∆S
= m ) ou à poupança (
importados
= s ). Isso significa dizer que,
∆Y
∆Y
uma vez que há um acréscimo de renda, só existem três maneiras de
utilizá-las: consumindo nacionalmente, poupando ou importando – a
soma dos três assume o valor 1. Isto é: c + s + m = 1.
CONCLUSÃO
O modelo keynesiano enfatiza a demanda agregada como
elemento que eleva a renda e a produção de equilíbrio. Para tal, é
preciso que haja possibilidade de expansão na produção para atender
eventuais crescimentos da demanda. Ou seja, no modelo de determinação
da renda de equilíbrio, a existência de capacidade ociosa é importante
para que não haja limitações do lado da oferta e assim possam vigorar
os resultados previstos pelo modelo.
É justamente o efeito multiplicador proposto por Keynes
que possibilita entender a capacidade de aumento de consumo e os
desdobramentos macroeconômicos que são gerados.
Atividades Finais
Desconstruindo o país
1. Um país, em determinado ano, apresentou os seguintes dados nacionais (em $):
Investimentos = 50;
Dispêndios do governo = 40;
Impostos =10;
Função consumo: C = 10 + 0,4 Yd
CEDERJ
93
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
1. A partir desses dados, calcule:
a. o nível da renda de equilíbrio e o valor do multiplicador dos gastos autônomos;
b. o valor da nova renda de equilíbrio caso o investimento aumente em 10 u.m.
2. Imagine que haja uma denúncia de que terroristas estariam sabotando os produtos
de todos os países que exportam para o Brasil. Se os brasileiros tomarem essa notícia
como verdadeira, qual seria o resultado disso em termos do valor da renda nacional?
E qual seria o efeito sobre o multiplicador dos gastos externos?
3. Para que a teoria keynesiana da demanda agregada como determinante da renda
e do produto nacional seja plenamente aceita, torna-se fundamental supor que as
empresas tenham capacidade ociosa (ou economia com desemprego). Explique.
4. Dado o modelo keynesiano estudado, se em determinado ano a demanda
agregada for menor que a produção agregada, qual o comportamento esperado
em direção ao produto de equilíbrio?
94
CEDERJ
4
AULA
Respostas Comentadas
1. a. nível da renda de equilíbrio
Y = 10 + 0,4 (Y-10) +90
Ye = 160
O multiplicador:
1. b. se o investimento aumenta em $10,00, então a renda aumentará em 16,667 (1,6667 x 10).
Portanto, a nova renda de equilíbrio assumirá o valor de 176,667.
2. A renda nacional aumentaria, posto que a parcela de compras com produtos importados
tenderia, em parte, a ser destinada a produtos nacionais. Assim, aumentaria a demanda agregada
por produtos nacionais. O multiplicador, por sua vez, diminuiria, pois na sua composição carrega
a propensão marginal a importar, que nesse caso estaria reduzida. Como a propensão a importar
diminuiu, o valor do multiplicador aumenta.
3. Suponha que as firmas estejam produzindo com todos os seus recursos disponíveis. Assim, se
houver novos pedidos de produção, as empresas terão de adquirir novos recursos, com grandes
possibilidades de terem custos adicionais. Estes serão repassados aos preços, de forma a inibir (pelo
menos em parte) o crescimento da demanda. Em situação de capacidade ociosa, os empresários
só precisariam dar ordens de elevação na produção, sem necessidade de elevar preços. Quanto
mais intensa a capacidade ociosa, menos necessidade o empresário terá de aumentar preços.
4. Se a oferta em determinado ano for superior à demanda, haverá uma acumulação involuntária
nos estoques das empresas. No ano seguinte, os empresários produzirão um volume menor,
para diminuir o total de estoques e ajustar sua produção ao volume demandado. Há uma
tendência ao ajuste da oferta em relação à demanda.
CEDERJ
95
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
RESUMO
As mudanças nos gastos autônomos da demanda agregada são os elementos
mais freqüentes nas alterações dos níveis de equilíbrio da renda. Com o
impacto do multiplicador de gastos, as variações nos gastos autônomos
induzem a outras mudanças. Isto ocasiona um aumento na renda de
equilíbrio tantas vezes superior à variação inicial dos gastos autônomos.
O valor do multiplicador é a expressão da intensidade da variação da renda
de equilíbrio em relação à mudança do dispêndio autônomo inicial.
Apesar de simplificado, o modelo proposto por Keynes possibilita e
potencializa o entendimento básico do funcionamento do processo de
geração de produção e renda de equilíbrio. Modelos mais completos são
construídos sobre tais princípios, especialmente quando comparamos
o paradigma keynesiano ao complexo funcionamento da economia de
um país, posto que a variável renda é afetada por diversos fatores, como
gastos e investimentos públicos, aumento de impostos e influência externa
(importação e exportação) – ou seja, a balança comercial.
LEITURA RECOMENDADA
Se você quer conhecer um pouco mais sobre a teoria keynesiana, procure
algum dos livros-texto de Macroeconomia. Todos contêm capítulos sobre
o tema. Como uma sugestão, vale o Capítulo 10 de A era do economista,
de Daniel Fusfeld.
96
CEDERJ
5
AULA
Os investimentos
e as taxas de juros
Meta da aula
objetivos
Explicar a influência das taxas de juros
e da inflação sobre os investimentos
realizados pelas empresas.
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1
listar os fatores macroeconômicos que afetam
os investimentos;
2
identificar a importância dos investimentos como
fator de aumento na produção agregada;
3
distinguir taxa nominal e real de juros.
Pré-requisito
Ajuda a compreender esta aula uma
breve revisão da tabela que mostra o PIB
brasileiro desmembrado (Aula 3) e o modelo
keynesiano, apresentado na Aula 4.
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Henning Buchholz (www.sxc.hu)
INTRODUÇÃO
INVESTIMENTO
(PRODUTIVO)
É o acréscimo de
bens de capital à
empresa, como
novas máquinas
ou a construção
de uma planta
industrial (a fábrica).
O investimento
proporciona aumento
da capacidade
produtiva do país
gerando o que se
denomina Taxa
de Acumulação
de Capital. Os
investimentos podem
ser desdobrados
em investimentos
em bens de capital
(Formação Bruta de
Capital Fixo) e em
variação de estoques.
Lembre-se de que
tratamos disso
rapidamente quando
desmembramos o PIB
brasileiro (Aula 3).
Figura 5.1: Investir em uma empresa pode ser
uma operação de risco. Diante do cenário macroeconômico em que esteja inserida, no entanto, há
certos fatores que podem ser observados a fim de
que se diminuam as incertezas sobre o futuro.
No final do século passado, a publicidade resumiu em uma frase o que
podemos entender como quase uma revolução na área de administração: “a
propaganda é a alma do negócio”. Podemos nos aproveitar dessa máxima e
afirmar: “O investimento é a alma do crescimento econômico”. Você verá, ao
longo desta aula, que esta nossa máxima se justifica: enquanto a propaganda
estimula a preferência pelo produto e gera a prosperidade nos negócios, os
investimentos representam a possibilidade de maior capacidade produtiva e
maior prosperidade na economia. Quando há investimento, há a expansão da
empresa, o que gera mais emprego, renda e produção.
Nesta aula, vamos analisar o papel dos investimentos na economia de um
país. Para isso, precisamos, entre outras coisas, identificar os elementos que
BENS
DE CAPITAL
São os bens cujo
destino é a produção
de outros bens. O
capital pode ser
físico (máquinas
e equipamentos)
ou financeiro
(aplicações em ações,
títulos públicos
ou financeiros
etc.). Quando os
investimentos são
em capital físico,
denominam-se
investimento
produtivo. Quando
são em capital
financeiro, costumase denominá-los
investimento
financeiro.
98
CEDERJ
os estimulam. É o que vamos desenvolver a seguir.
POR QUE INVESTIR?
Em primeiro lugar, você sabe definir o que é I N V E S T I M E N T O ?
Em Macroeconomia, investir significa adquirir capital novo.
Capital é o bem cujo destino é a produção de outro bem. São exemplos
de
BENS DE CAPITAL
o maquinário, as edificações, os equipamentos etc.
Quando uma empresa resolve aumentar o tamanho de sua fábrica, ela
está investindo.
Os investimentos têm dupla função na economia: são um
importante elemento de demanda agregada (como visto na aula anterior)
e proporcionam incremento na capacidade produtiva. Esta última função
dos investimentos se dá por conta de se aumentarem os recursos disponíveis
– estoque de capital – destinados à produção de bens e serviços.
5
Podemos dividir os investimentos em duas fases:
AULA
A primeira ocorre quando há despesas com a compra de capital,
o que impulsiona a demanda agregada (ainda não há o resultado dos
investimentos em termos de aumento da produção). A segunda se nota
após a maturação dos investimentos, o que resulta em aumento da
produção (oferta agregada) e da capacidade produtiva da economia.
Ou seja, você pode entender o investimento também como a ação
que eleva a oferta agregada e o estoque de capital no sistema econômico.
São exemplos disso os gastos com instalações industriais, aquisições de
máquinas ou equipamentos, variações de estoques etc.
Saiba ainda que o investimento pode ter duas dimensões: pode
ser bruto ou líquido. Considerando que o estoque de capital também
se deprecia, a diferença entre investimento bruto e líquido é dada pelo
montante de investimento destinado a cobrir o que se desgasta ao longo
do tempo, ou seja, a depreciação.
A equação a seguir mostra a relação entre investimento bruto e
líquido.
IL = IB – D
sendo:
IL = investimento líquido
IB = investimento bruto
D = taxa do estoque de capital depreciado no período.
Em termos concretos: se, por exemplo, os investimentos totais
de um país forem da ordem de 10 bilhões de dólares e, em média, 10%
dos investimentos servirem apenas para cobrir o desgaste do capital,
teremos:
IL = 10 – 0,1 (10) = 90
Caso você se sinta mais à vontade com um raciocínio baseado em
equações, pode-se dizer que a definição de investimentos é dada por:
It = Kt – Kt-1 (1)
onde:
Kt = o estoque de capital no período t
Kt-1 = o estoque de capital no período t-1 (período anterior a t)
CEDERJ
99
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Como o estoque de capital aumenta na proporção do montante
dos investimentos líquidos realizados, o papel dos investimentos se torna
claro pelo fato de permitir uma elevação na capacidade produtiva da
economia ao longo do tempo.
O ACELERADOR DOS INVESTIMENTOS
O que leva um empresário a desejar ampliar seu estoque de
capital?
A verificação ou expectativa de que a demanda pelo seu produto
está em elevação torna-se um estímulo para ampliação de seus recursos
produtivos; entre estes, o estoque de capital necessário para essa
ampliação. Uma vez identificado o nível adequado de estoque de capital,
os investimentos são realizados em função de alcançar tal nível.
Em geral, o estoque de capital desejado pelo empresário guarda
relação com o nível de produto:
(2)
onde:
= estoque desejado de capital no período t;
= coeficiente da relação entre capital e produto e α > 0;
Yt
= nível de produto no período t.
Supondo que, no período anterior, o estoque de capital tenha
seguido o mesmo comportamento em relação a seu respectivo nível de
produto:
(3)
Agora veja: se utilizarmos as equações (2) e (3) na equação (1),
temos:
(4)
Analisando a equação (4), percebemos que os gastos com
investimentos são feitos em função de uma taxa de variação do produto.
Se o produto (ou PIB), em um determinado período, cresce 10 unidades
monetárias (u.m) e a razão capital produto (α) é 3, os gastos com
investimentos serão, portanto, de 30 u.m.
100 C E D E R J
5
Você deve observar que, quando há um gasto com investimentos, a
AULA
renda e o produto deverão aumentar por conta do multiplicador dos gastos
(lembre-se do que vimos na aula anterior sobre o modelo keynesiano). Agora
estamos falando que, quando o produto aumenta, os investimentos também
aumentam. Ou seja, desencadeia-se um processo de aceleração, já que, ao
elevar o estoque de capital, a oferta de produto aumenta também.
O princípio acelerador dos investimentos estabelece que uma taxa
de crescimento do produto (PIB) causa uma elevação nos investimentos,
o que, por sua vez, aumenta os níveis de produto, o que acelera os
investimentos mais uma vez, como mostra a equação (4).
O gráfico a seguir apresenta a taxa média dos investimentos no
Brasil entre os anos de 1980 e 2000. Repare que, quanto mais alta a
taxa de investimentos, mais o Brasil esteve ampliando o seu potencial
de crescimento econômico.
Taxa média de investimento
Taxa média de investimento (% do PIB)
30
25
20
15
10
5
0
1980
1985
Fonte: Froyen (2001)
1990
Anos
1995
2000
Atividade 1
Invista em Marte
1
2
Observe os dados a seguir:
1. A Aço Marciano S.A. é uma empresa que se dedica a atender dois
mercados consumidores de aço: o dos fabricantes de satélites e o dos
fabricantes de naves espaciais.
2. De 2055 a 2056, a demanda por satélites cresceu 3%. Já a demanda
por naves aumentou 1%.
C E D E R J 101
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
3. O coeficiente da relação entre capital e produto para as naves é de 2.
Para os satélites, é de 4.
4. Uma nave espacial tem depreciação anual estimada em 50%. Um
satélite tem depreciação anual estimada em 10%.
5. Em 2055, cada um desses dois setores respondeu por 100 reais
marcianos (100 RM$) do PIB daquele planeta.
Agora que você está a par do cenário macroeconômico de Marte, responda:
Qual produto dependerá de maior investimento bruto a fim de que sua demanda seja
atendida? De quanto deverá ser esse montante?
Qual produto apresentará investimento líquido mais próximo do bruto? Explicite ambos
os valores.
Resposta Comentada
Partindo do pressuposto de que tanto os satélites quanto as naves espaciais responderam
por RM$100 do PIB de Marte em 2055, podemos depreender que a demanda por satélites,
em 2056, passou a RM$ 103, enquanto a demanda por naves chegou a RM$ 101. Já vimos
que, no cálculo dos investimentos, há um importante fator chamado coeficiente da relação
entre capital e produto. Este índice visa a estipular quanto deve ser investido para que se
alcance uma unidade de produto. No caso dos satélites, é preciso que se invistam RM$ 412
para atender a uma demanda de RM$ 103. No caso das naves, basta que se invistam RM$
202 para que se atenda à demanda de RM$ 101. Logo, as naves dependem de menor
investimento bruto para que sua demanda seja atendida. No entanto, vimos que satélites
depreciam 10% ao ano, enquanto naves perdem 50% de seu valor no mesmo período. Logo,
se já aprendemos que o investimento líquido é o bruto descontado da taxa de depreciação,
chegamos ao resultado que diz que RM$ 412 investidos em satélites geram RM$ 370,8 de
investimento líquido. No caso das naves, RM$ 202 investidos (investimento bruto) geram
RM$ 101 de investimento líquido. Logo, os satélites apresentam uma relação mais
próxima entre investimento bruto e líquido.
102 C E D E R J
AULA
5
A TAXA DE JUROS
Já vimos que investir requer um desembolso financeiro inicial.
Uma empresa pode investir com recursos próprios ou de terceiros. Em
ambos os casos, a taxa de juros exerce um papel importante na decisão
de investir ou não. Veja como: se a empresa precisar recorrer aos bancos
para financiar a aquisição do nível de capital desejado, ela precisará
pagar os juros de tais empréstimos. Nesse caso, a taxa de juros será um
importante indicador dos custos de investir. Bastante claro, concorda?
Existe, no entanto, uma outra forma de fazer investimentos. Ela
ocorre quando a empresa dispõe de lucros do período anterior retidos em
nível suficiente para bancar seus gastos com investimentos. Ainda assim, a
Neil Gould (www.sxc.hu)
taxa de juros afetará a decisão de investir. Isso ocorre porque
o empresário irá avaliar a possibilidade de aplicar esses lucros
retidos em títulos que rendam em ritmo igual ao das taxas de
juros. Se esses títulos tiverem uma rentabilidade com os juros
maior do que a rentabilidade esperada com a maturação dos
investimentos na produção, o empresário pode decidir por não
investir na produção e sim nesses títulos. Sendo assim, com
recursos próprios (lucros retidos) ou de terceiros (empréstimos),
a taxa de juros representa o custo de investir.
Figura 5.2: É nas Bolsas de Valores que se
acompanha o desempenho dos títulos e
das ações das empresas.
Agora guarde: o conceito de taxa de juros recai sobre duas
vertentes: a taxa nominal e a taxa real.
A primeira é definida como aquela expressa em termos de quantas
unidades monetárias são pagas como juros. Um empréstimo de 100 u.m.
com taxa de juros de 10% representa juros de 10 u.m. Estes últimos são
os juros nominais, aqueles pagos no mercado.
A taxa real de juros, por sua vez, mede o quanto realmente se
paga, levando em consideração o poder aquisitivo do dinheiro antes
e depois de pago o empréstimo. Isto é, considera-se a perda do poder
aquisitivo do dinheiro dada a inflação entre o momento em que se pegou
e o momento em que se pagou pelo empréstimo. Se aquele empréstimo
de 100 u.m., com taxa de juros (nominal) de 10%, tivesse sido realizado
em um ambiente de inflação de 10%, o valor real do que se emprestou
seria 110 u.m. (pois os preços aumentaram em 10%).
Entendido isso, repare: ao se pagar 110 u.m. (100 u.m. da parcela
principal e 10 u.m. de juros nominais) não se estaria na realidade pagando
juro real nenhum.
C E D E R J 103
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Desprezando-se uma pequena imprecisão matemática (consulte o
boxe explicativo a seguir), considera-se a taxa real de juros como:
r=n-π
(5)
onde:
r = taxa real de juros
n = taxa nominal de juros
π = taxa de inflação
Então, se são dados os juros nominais e se há uma taxa alta de
inflação, os gastos efetivamente realizados com os investimentos serão
menores. O que importa para o empresário são as taxas de juros reais,
pois ela mede o valor real dos juros que precisaram ser pagos. Lembre-se
de que os preços dos produtos que o empresário vende devem estar
acompanhando o ritmo inflacionário.
?
A equação das taxas
de juros nominal e real
A definição analítica de taxa de juros real (ρ) é:
1+ ρ =
1+ n
1 + π (6)
onde:
n = taxa de juros nominal
π = taxa de inflação
Como já foi dito, a taxa de juros nominal é a taxa divulgada no mercado, isto é,
aquela expressa em unidades monetárias.
Para extrairmos ρ vamos desenvolver a equação (6):
(1 + ρ ) (1 + π ) = (1 + n )
1 + n = 1 + π + ρ + ρπ
ρ + ρπ = n − π
ρ=
n −π
1+ π
Para baixos valores de inflação, a taxa de juros real pode ser
entendida como:
ρ ≈ n −π
A leitura da equação anterior é de que a taxa de
juros real é aproximadamente a taxa de
juros nominal descontada a taxa
de inflação.
104 C E D E R J
5
Por essa razão, os dispêndios com investimentos dependem da taxa
AULA
real de juros. Observe que, se a economia do país apresenta baixa taxa
de inflação, a diferença entre juros reais e nominais deverá ser pequena;
sendo assim, nesse caso, tanto faria entender os investimentos a partir
da taxa real ou da nominal.
Note que quanto maior e mais instável for a taxa de juros, maior
será a importância de distinguir os efeitos do juro nominal e do real
sobre novos investimentos.
Atividade 2
Os juros e o mercado
1
IBGE anuncia queda na
inflação
Cheque especial é a melhor
opção para o consumidor
oram divulgados na noite
de ontem os números
do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor (INPC/
IBGE). Segundo o índice, a taxa
de inflação deste mês fica na casa
dos 2,68%.
egundo o opera-dor da Bolsa
de Valores Jorge Stressman,
“o mercado financeiro se
ressente das taxas atuais”. De
acordo com Stressman, os títulos
que mais renderam no mês passado não conseguem competir
com uma taxa nominal de 7,79%
para o cheque especial.
F
2
3
S
A partir desses dois fragmentos de notícia, determine a taxa de juros real do cheque
especial e verifique a diferença entre os valores das taxas de juros, considerando todos
os termos que a compõem e a equação que a define como um valor aproximado.
C E D E R J 105
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Resposta Comentada
A taxa de juros real, como já vimos, é dada por ρ =
n −π
.
1+ π
Ou seja, a partir dos dados que apresentamos, temos:
ρ=
0, 0779 − 0, 0268
= 0, 049766 ,
1 + 0, 0268
o que, em termos percentuais, corresponde a 4,9%.
Considerando o valor aproximado (numerador da equação acima), a taxa de juros real seria
0,0511, ou ainda 5,11%. Ou seja, tratamos aqui de uma diferença pouco significativa.
OS DETERMINANTES DO INVESTIMENTO
Você deve ter notado que os investimentos são afetados por
Davide Guglielmo (www.sxc.hu)
algumas variáveis, descritas na seguinte função:
I = f ( Y , n, π, Kt-1)
(7)
A equação (7) informa que o investimento depende das variáveis
nível de produto (Y), taxa de juros nominal (n), inflação (π) e estoque
de capital do período anterior (Kt-1).
A relação entre cada uma destas variáveis e o nível de investimento
é descrita a seguir:
• um aumento no nível do produto estimula os investimentos;
a elevação do produto se traduz em mais vendas e, assim, um estoque
adicional de capital é desejável;
• mantida fixa a taxa de inflação, quanto maior a taxa de juros,
maior será o custo de investir. Como efeito, será menor a motivação para
investir. Quanto menor a taxa de juros, menor será o custo de investir.
Como efeito, será maior a motivação para investir;
• mantida a taxa nominal de juros, uma elevação na taxa de
inflação diminui o valor real do que se pagará com os empréstimos para
investir. Como efeito, por estar mais barato investir, o nível desejado
de investimentos deve aumentar. E uma redução na taxa de inflação
aumenta o valor real do que se pagará com os empréstimos para investir;
conseqüentemente a tendência é de diminuir o nível de investimentos; e
• quanto menor o estoque de capital (no período anterior), maior
será a necessidade de investir para cada nível de produção desejada.
106 C E D E R J
5
Agora pense: um empresário percebe que a demanda pelos
AULA
seus produtos está aumentando e, assim, considera que é uma boa
oportunidade para realizar novos investimentos em sua fábrica. Ele
precisa recorrer aos bancos para financiar seus investimentos. A taxa
de juros é de 100% ao ano. O empresário espera que os preços dos seus
produtos subam 80%. Quanto ele estará pagando de juros reais?
A resposta é simples: o cálculo da taxa de juros real será a taxa de
juros nominal decrescida do índice de preços dos produtos do empresário,
ou seja, 20%.
Saiba, no entanto, que essa taxa não é a que normalmente se
chegaria, visto que não está sendo considerada a taxa de inflação.
Todavia, essa conta é mais apropriada para aquele empresário como
indicação do custo de investir. Isso ocorre porque o índice de preços
de seus produtos reflete com mais precisão o que ele receberá por seus
produtos para abater na taxa de juros nominal.
Veja outro exemplo: um empresário vai financiar a compra de
uma máquina no valor de 100 reais, com taxa de juros de 100%. No
momento do empréstimo, o preço do produto que vende é de 10 reais.
Então, o empréstimo representa o faturamento de dez produtos.
Suponha então que os preços dos seus produtos subirão 150%.
O que o empresário no final vai pagar com o empréstimo, 200 reais,
equivalerá a oito produtos. Isso reflete mais precisamente o custo de
investir do que se o empresário utilizasse a taxa de inflação do período,
que poderia diferir do aumento de preço daquele produto específico.
Lembre-se de que a inflação é uma média, é uma variável agregada.
A TAXA DE JUROS E A ILUSÃO MONETÁRIA
Alguns meses antes do início do governo Collor, a taxa média
de inflação mensal era de cerca de 80%. Como a poupança no Brasil
rende correção monetária (calculda por uma taxa que visa referenciar
a correção) acrescida de 0,5% de juro real ao mês, os indivíduos que
tinham caderneta de poupança recebiam mensalmente cerca de 80,5%
(dos quais 80% devidos à inflação no período e 0,5% de juro real). Se,
por exemplo, um depositante tivesse naquela época, o equivalente a
1.000 reais de hoje, ao final de um mês de aplicação na poupança ele
verificaria que sua conta passou para 1.805 reais.
C E D E R J 107
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Quando o então presidente Collor assumiu o comando do país,
implementou uma controversa política antiinflacionária (bloqueou
todos os tipos de contas bancárias que excedessem determinado valor)
que reduziu, pelo menos nos primeiros meses daquele plano, a taxa de
inflação. A taxa mensal de inflação baixou então para cerca de 10%.
Dessa maneira, a remuneração da poupança passou a ser de 10,5%.
Grande parte dos aplicadores sentiu que a poupança estava rendendo
menos. Afinal, se antes, com 1.000 u.m. eles receberiam 1.805 u.m.,
agora eles receberiam apenas 1.105 u.m.
Mas você acha que eles estavam realmente recebendo menos?
O entendimento dessa questão é a distinção entre taxa de juros
real e nominal. Ou, em um nível mais abstrato, entre variável econômica
nominal e variável econômica real.
Veja como: se você depositou R$ 1.000 em uma caderneta de
poupança cuja taxa de juros de mercado, após um ano, foi de 10%, sua
poupança totalizou R$ 1.100.
Então, será que você ficou mais rico com o resultado da aplicação
na poupança?
Vamos pensar: imagine que, no mesmo período em que foi feita a
aplicação, a taxa da inflação foi de 100%. Com isso, fica fácil perceber
que os R$ 1.100 do final da aplicação valem menos do que os R$ 1.000
que você depositou, não é? Ou seja, apesar de ter mais em termos
nominais (valor expresso em unidades monetárias), o poder aquisitivo
do valor que você aplicou na poupança diminuiu (valor em termos
reais). Por que isso aconteceu? Isso aconteceu por conta da inflação,
que reflete o aumento médio dos preços dos produtos no período. Se a
inflação atingiu a casa dos 100%, isso indica que, em média, os preços
dobraram de valor.
Para que no final da história o valor do que você depositou tivesse
sido o mesmo com a aplicação a taxa de juros, ele teria que ser reajustado
em 100%. Em outras palavras, se a taxa de juros fosse de mais de 100%,
você teria aumentado o seu poder aquisitivo com a poupança. Caso
contrário, teria perdido com a aplicação.
Nesse exemplo dado, a taxa de juros de 10% paga pelo banco
é a taxa nominal. A taxa real será a taxa nominal deduzida da taxa de
inflação, como diz a equação (5) (r = n - π). Portanto, a taxa de juros real
foi de –90%. Isto é, com a aplicação na poupança, o poder aquisitivo
diminuiu em 90%.
108 C E D E R J
5
No caso do período Collor, a taxa de juros nominal caiu, embora
AULA
tenha acompanhado a queda da taxa de inflação na mesma intensidade.
Isto quer dizer que a taxa de juros real (a que mede a variação do poder
aquisitivo) permaneceu a mesma.
Em termos reais, não houve qualquer vantagem ou desvantagem
em receber juros nominais mais elevados em ambiente de inflação mais
elevado. Diz-se que há uma ilusão monetária quando o individuo só
verifica a taxa de juros nominais e não percebe a taxa de juros real.
?
Variáveis reais e
nominais
Em economia, as variáveis podem
ser classificadas como nominais ou reais.
As variáveis nominais são aquelas expressas em
unidades monetárias. As reais são as expressas em
termos de poder aquisitivo ou poder de compra. As variáveis
reais são obtidas a partir das variáveis nominais. Para chegar à
variável real, basta dividi-la por um índice de preços (deflacionar)
e obtém-se a variável real. A tabela a seguir apresenta três das mais
conhecidas variáveis nominais/reais na economia.
Exemplos de variáveis nominais e reais
Nominal
Real
Forma da variável real
PIBn
PIBr
PIBr=PIBn
P
Juros (n)
Juros (ρ)
ρ = n−π ou ≈ n − π
1+π
Salário (W)
1Salário real (w)
w=W
P
P (índice de preços no período) representa um índice
de preços como o INPC, IPC, IGP etc.
Saiba que salário real é o salário medido pelo poder de
compra. Em outras palavras, seu contracheque indica
o seu salário nominal (quanto em u.m. você esta
recebendo). O que você compra com o
salário que recebeu evidencia o seu
salário real.
C E D E R J 109
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Atividade 3
Não se iluda
1
2
3
Reflita e responda: o que você prefere, um salário nominal maior ou um salário real
menor? Justifique sua resposta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Não é possível responder com precisão a essa questão sem que se tenha mais informações
sobre tais valores de salários. De qualquer forma, você pode argumentar o seguinte: o salário
nominal é apenas um número de unidades monetárias. O que vai dizer se esse número vale
muito ou pouco será o nível de preços. Afinal, de que adianta eu receber milhões de u.m.
se os preços das coisas são bem maiores? O salário real, por sua vez, refere-se justamente
ao poder de compra do meu salário. Assim, o salário real maior é garantia de maior poder
de compra do salário. Pode ocorrer uma situação de aumento de salário nominal de 40%
em período de 80% de taxa de inflação, ou redução do salário real em 10% sem qualquer
aumento de salário nominal, o que seria preferível à primeira, pois a redução do salário real
seria menor neste caso.
CONCLUSÃO
Os investimentos são uma importante variável macroeconômica,
pois se constituem em um elemento da demanda agregada, como também,
em um elemento da oferta agregada. Portanto, além de estarem presentes
no modelo keynesiano, os investimentos estão presentes em modelos
de crescimento e desenvolvimento econômico ainda não abordados em
nossas aulas.
Nesta aula, atribuímos à taxa real de juros e ao crescimento do
produto os fatores que afetam os investimentos. Entram nessa conta o
efeito multiplicador de gastos (o aumento de investimento eleva a renda)
e o efeito acelerador (o aumento da renda devido ao multiplicador leva a
novo aumento de investimentos) presentes na relação entre investimento
e nível de renda ou produto.
110 C E D E R J
1
2
3
R$ 1.000. Um ano depois, seu salário foi para R$ 2.000, enquanto a
inflação atingiu a taxa de 80%. O que aconteceu com o salário nominal e o salário
real nesse caso?
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
2. Economicamente, um empréstimo pode ter taxa de juros nominais negativa?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
3. Por que a taxa de juros é o custo de investir, mesmo se a empresa tiver recursos
próprios para tal?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Respostas Comentadas
1. O salário nominal aumentou em 100%. O salário real aumentou em 20%.
2. Sim, embora essa situação se refira a um equívoco da parte de quem empresta. Se a taxa real
de juros foi negativa, então o valor real do que se emprestou foi menor do que o valor do que se
recebeu com o fim do empréstimo. Sendo assim, quem emprestou perdeu. Isso ocorre quando
quem empresta não percebe ou erra na previsão da inflação que deve ocorrer no período de
vigência do empréstimo. Economicamente, ninguém estaria disposto a emprestar, digamos, a uma
taxa nominal de 10% se estiver imaginando que a taxa de inflação no mesmo período deverá ser
maior do que 10%.
3. Porque o empresário leva em consideração o que poderia receber se aplicasse no mercado
financeiro o dinheiro destinado a investir. Por exemplo, se o mercado financeiro estiver remunerando
as aplicações com uma taxa mais alta do que a taxa de lucratividade que ele espera receber como
resultado dos seus investimentos, ele pode preferir aplicar no mercado financeiro, ao invés de
se voltar para o mercado produtivo.
C E D E R J 111
AULA
1. Em determinado país, um trabalhador recebia salários mensais de
5
Atividades Finais
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
RESUMO
Os
Os investimentos
investimentos são
são importantes
importantes para
para o
o sistema
sistema econômico
econômico porque
porque são
são
um
componente
de
demanda
agregada
(estimulam
o
crescimento
do
um componente de demanda agregada (estimulam o crescimento do PIB
PIB
pelo
pelo lado
lado da
da demanda)
demanda) e
e porque,
porque, por
por outro
outro lado,
lado, aumentam
aumentam a
a capacidade
capacidade
produtiva
da
economia
devido
à
elevação
do
seu
estoque
de
capital.
produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.
Quando
Quando há
há aumento
aumento na
na produção,
produção, os
os empresários
empresários procuram
procuram manter
manter uma
uma
relação
entre
a
produção
e
seu
estoque
de
capital.
Quando
a
produção
relação entre a produção e seu estoque de capital. Quando a produção
aumenta,
aumenta, o
o estoque
estoque de
de capital
capital desejado
desejado tende
tende a
a aumentar.
aumentar. Tal
Tal mudança
mudança
de
estoque
de
capital
é
justamente
o
investimento.
de estoque de capital é justamente o investimento.
Os
Os mais
mais importantes
importantes fatores
fatores que
que influenciam
influenciam o
o nível
nível de
de investimentos
investimentos são:
são: a
a
taxa
real
de
juros
–
que
por
sua
vez
depende
da
taxa
nominal
e
da
inflação
taxa real de juros – que por sua vez depende da taxa nominal e da inflação
—
—e
eo
o crescimento
crescimento do
do produto.
produto.
A
existência
da
inflação
A existência da inflação faz
faz nascer
nascer dois
dois conceitos
conceitos de
de taxas
taxas de
de juros:
juros: a
a
primeira
é
a
taxa
nominal,
que
nada
mais
é
do
que
aquela
divulgada
pelo
primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo
comércio
comércio e
e pelos
pelos bancos.
bancos. A
A segunda
segunda é
éa
a taxa
taxa real,
real, que
que considera
considera o
o poder
poder
aquisitivo
aquisitivo da
da moeda
moeda ao
ao longo
longo do
do período
período dos
dos empréstimos.
empréstimos. A
A taxa
taxa real
real
é
é aproximadamente
aproximadamente igual
igual à
à taxa
taxa nominal
nominal decrescida
decrescida da
da taxa
taxa de
de inflação.
inflação.
Quanto
mais
elevada
for
a
taxa
de
investimento,
mais
o
país
poderá
Quanto mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.
crescer.
Sem
Sem investimento,
investimento, não
não há
há como
como obter
obter crescimento
crescimento econômico
econômico durável.
durável. Em
Em
outras
outras palavras,
palavras, “o
“o investimento
investimento é
éa
a alma
alma do
do crescimento
crescimento econômico”.
econômico”.
112 C E D E R J
AULA
O sistema monetário
6
Meta da aula
objetivos
Descrever o funcionamento básico do sistema monetário.
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1
listar as funções da moeda;
2
analisar o papel dos bancos na circulação da moeda;
3
identificar o papel do Banco Central no controle
da oferta do meio circulante.
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
INTRODUÇÃO
Não é um pouco estranho ir a uma agência de automóveis, adquirir um
tremendo carrão em troca de um cheque (que não deixa de ser um pequeno
pedaço de papel)? Ou então depositar uma grande soma em dinheiro e o
caixa do banco lhe entregar um minúsculo papel e você ser obrigado a confiar
que aquele seja um autêntico recibo? O dinheiro que utilizamos para fazer as
transações não são papéis e níqueis especiais que satisfazem a vida material de
tantas pessoas? Pois nesta aula você estudará a importância, as características,
Piotr Bizior (www.sxc.hu)
os tipos e as finalidades da moeda.
Figura 6.1: As relações que envolvem a moeda estão dentro de um conjunto
de situações a que chamamos sistema monetário. A confiança das pessoas no
valor da moeda, no sistema monetário e no sistema bancário é justamente
o fator que garante o funcionamento desse sistema.
O QUE É MOEDA?
Está claro que, em nossa sociedade, indivíduos com muito
MOEDA
dinheiro são tidos como ricos, ou seja: quanto mais M O E D A S possuírem,
É todo meio utilizado
pela sociedade para
realizar a compra
de bens e serviços
(ex.: papel-moeda e
depósitos nos bancos,
também chamados
de moeda escritural).
mais bens e serviços poderão comprar. Dessa forma, para a economia,
a moeda representa o dinheiro e todas as outras formas de pagamento
ou recebimento de que dispomos.
Os economistas apregoam que a moeda tem três funções: é um
intermediário de troca, serve como unidade de conta e funciona como
reserva de valor. Dito isso, vamos explicar e evidenciar cada uma dessas
três importantes funções.
Como intermediário de troca, a moeda transforma as transações
em trocas indiretas. Veja: se você trabalha como professor e precisa
comprar pão, você não precisa dar uma aula para o padeiro para que ele
114 C E D E R J
6
lhe forneça pão. Ao trabalhar como professor, você será capaz de, com
AULA
o seu salário, adquirir pão. Se não houvesse a moeda, não haveria essa
intermediação de troca; você teria de encontrar um padeiro de desejasse
aprender o que você ensina.
Com a moeda, portanto, as trocas são indiretas: o professor dá
aulas (ou troca aulas por dinheiro) e depois troca dinheiro por pão.
É por todos aceitarem o dinheiro que se diz que a moeda é um meio
de troca, isto é, a intermediação pode ser também compreendida como
a moeda exercendo a função de meio de troca.
A função da moeda como unidade de conta deriva do fato de que
ela expressa os valores das mercadorias e de todos os ativos em geral
pela sua própria unidade. Veja um exemplo: quando você vai a um
supermercado, observa o preço do arroz em unidades monetárias (por
exemplo, R$ 2,00 por quilo) em vez de, digamos, “meio quilo de alcatra”.
Os preços “de tudo” estão em termos da unidade de conta (unidade
monetária) da moeda. Esta é, portanto, uma atribuição da moeda: cotar
os valores (unidade de conta) em unidades monetárias.
Por último, como reserva de valor, a moeda pode ser utilizada em
vários períodos de tempo. A pessoa com a posse da moeda pode utilizá-la
no futuro. Como assim?
Quando você recebe o seu salário em dinheiro, pode guardá-lo
para gastar mais tarde. Então, a moeda serve como uma reserva de valor;
pode-se transferir o poder de compra do presente para uma outra data
no futuro.
Você deve observar que o valor da moeda (poder aquisitivo) é
inversamente proporcional ao nível de preços. Toda vez que o nível
de preços sobe, simultaneamente o valor da moeda é reduzido. E se os
preços recuam, o valor da moeda aumenta. Ou seja:
M=
1
,
P
onde M e P representam, respectivamente, o valor da moeda e o
nível de preços.
Quando há inflação, a quantidade de dinheiro que você mantém
no bolso continua a mesma; porém, o poder aquisitivo dela diminui na
mesma proporção em que aumentam os preços dos produtos que você
consome. Com isso, você já pode entender por que, em períodos de alta
C E D E R J 115
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
inflação, como o que ocorreu no Brasil durante a década de 1980, um
país troca de moeda várias vezes.
Atividade 1
Vamos pegar um cineminha?
1
Não é novidade que Gerson está de olho em Marinalva. Mas ontem foi diferente: o
homem reuniu coragem, livrou-se da timidez e convidou a moça para uma sessão de
cinema. Sorte que Marinalva aceitou prontamente. O programa, segundo ele, transcorreu
muito bem. Hoje Gerson contou que estão namorando.
Agora pense: quais foram as funções da moeda utilizadas nessa situação? Justifique
sua resposta.
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______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
No exato momento da compra dos ingressos, o dinheiro de Gerson atuou como meio de
troca. Foi com dinheiro que o rapaz conseguiu os ingressos, percebeu? Talvez, no entanto,
antes do convite, dado seu interesse em Marinalva, Gerson tenha procurado saber quanto
custava o cinema. Naquele instante, a moeda lhe serviu como unidade de valor (ou conta).
Veja: para calcular quanto seria gasto com sua paquera, Gerson precisou utilizar a unidade
que lhe serve de referência em todos os momentos em que pretende adquirir um bem ou
serviço. Mas há ainda mais: se Gerson guardou um pouco mais de dinheiro, especulando
que poderiam ocorrer outras distrações após o cinema, esse dinheiro de reserva serviu à
função de reserva de valor.
Atividade 2
Moedas brasileiras
1
O Brasil já passou por vários períodos de alta inflação. Em vários meses, a taxa de inflação
mensal ultrapassou os 50%, o que já é considerado uma situação de hiperinflação.
Diz-se que a inflação destrói as funções da moeda.
116 C E D E R J
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Resposta Comentada
Quando a inflação é muito alta, em primeiro lugar é a função de unidade de reserva da
moeda que se deteriora: ninguém vai querer guardar moeda para transações futuras se os
preços crescem a cada instante. Nesses casos, as pessoas procuram antecipar as compras
e fazer estoques. Esse fenômeno foi percebido naquela época, quando, nos primeiros dias
dos meses (quando são pagos os salários), os supermercados andavam lotados, o que
contrastava com os corredores às moscas nas últimas semanas do mês. Com a incidência e
a elevação persistente da inflação, a referência de preços pela moeda nacional também vai
deixando de existir. Saiba que, no Brasil, na época de mais alta inflação, muitas mercadorias
foram cotadas em dólar ou até mesmo em títulos do governo, como as chamadas ORTNs
(Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional). A esse respeito, lembre-se de que, na época
próxima ao lançamento do Plano Real (primeiros meses de 1994), havia a URV (Unidade
Referencial de Valor), que servia para cotar os preços das mercadorias. Isto quer dizer que
se utilizava outro fator para servir de unidade de conta para os preços, e não a moeda
propriamente dita. Por fim, se continuasse o ritmo de hiperinflação, seria perfeitamente possível
que as pessoas rejeitassem a moeda como meio de troca, pois a assustadora elevação dos
preços fatalmente faria com que a moeda perdesse o valor rápida e profundamente. Assim,
a inflação é um fenômeno monetário que destrói as funções da moeda. Felizmente, o Brasil
(1923) edina.ac.uk/eig
parece ter se livrado do tsunami monetário que é a hiperinflação.
Figura 6.2: Alguns países, como a Áustria
e a Alemanha, passaram por altíssimas
taxas de inflação, em certos momentos
do século XX. A foto mostra um alemão
que, diante da desvalorização do marco
após a Primeira Guerra (1914-1918),
preferiu forrar as paredes de sua casa
com notas a pagar por um papel de
parede convencional.
C E D E R J 117
6
AULA
De posse dessas informações, você seria capaz de responder como e quais funções da
moeda são destruídas quando se tem uma inflação demasiadamente alta, como a que
ocorreu no Brasil dos anos 1980 e da primeira metade da década de 1990? Justifique
sua resposta.
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DE UMA MOEDA?
Ao longo da história econômica, várias mercadorias foram
utilizadas para servir de moeda antes de evoluir para a forma atual.
Alguns exemplos são o sal, o gado, o ouro e a prata. Hoje, a moeda
disseminada pelo mundo é o papel-moeda. Agora pense: que características
essenciais deve possuir a moeda para que ela exerça as suas funções de
forma plena? A resposta a que a socidade chegou é clara: a moeda precisa
ter durabilidade, aceitação universal e ser de difícil falsificação. Precisa
ser durável para que possa ser utilizada ao longo do tempo. Veja como:
imagine que você a tenha em mãos, mas que saiba que ela não dura mais
de dois meses. Aí estariam comprometidas as funções de meio de troca
e reserva de valor. Como reserva de valor, a moeda seria inviável, já que
não poderia ser guardada por muito tempo; não serviria também como
meio de troca, porque as pessoas que não tivessem planos de utilizá-la
em espaço de tempo menor que a sua perecibilidade poderiam não
se interessar em recebê-la em uma transação econômica. Esse foi um
dos problemas enfrentados quando o gado foi utilizado como moeda:
e se ele morresse?
Outra característica bastante clara da moeda é que ela precisa
ser aceita por todos para que funcione como tal. Isso requer que tenha
baixo custo de estocagem e que possa ser utilizada facilmente para
pequenas e altas transações. Por exemplo, se a moeda for o gado, como
cotar o preço de um chiclete? E depois, como transportar ou guardar
várias somas de dinheiro sem que se tenha alto custo? Ou seja: para ter
boa aceitação, a moeda precisa ter elevada durabilidade, baixo custo
de operação e se mostrar adequada para transações de baixos e altos
valores monetários.
Por fim, a difícil falsificação é fundamental para a estabilidade do
valor da moeda. Isso ocorre porque um volume muito grande de moeda
em relação ao produto existente retira-lhe valor e coloca sua existência “em
xeque” (na aula sobre inflação, você verá mais questões a esse respeito).
118 C E D E R J
AULA
6
AS MOEDAS METÁLICAS E O PAPEL-MOEDA
Na época em que o ouro era utilizado como moeda metálica, não
havia problemas quanto à questão da aceitação universal deste metal. No
entanto, seu valor intrínseco estimulava que as pessoas lhe retirassem um
pedaço, antes de se desfazerem dela na hora das transações. Até mesmo o
governo lançava mão de políticas de redução do peso do ouro contido na
moeda como forma de aumentar a quantidade de moeda em circulação.
Outro problema que havia na época é que o transporte de grandes somas
em ouro causava um significativo volume de carga, o que facilitava os
assaltos e os saques em viagens (lembre-se dos filmes de faroeste, em que
os bandidos atacavam as diligências procurando os tesouros).
No intuito de evitar tais problemas, evoluiu-se para o papelmoeda. Este último consistia em certificados que correspondiam a
determinada quantidade de ouro, ou seja, garantiam sua conversibilidade
em ouro (o que se convencionou chamar de lastro). Hoje, o sistema já
não funciona assim: a aceitação dessa modalidade de moeda foi tamanha
que a conversibilidade com o ouro deixou de existir. No entanto, não
pense que essa transição foi natural e espontânea: a aceitação do papelmoeda passou a ocorrer pela força da lei ou por decreto governamental.
A partir de um determinado ponto, todos estavam obrigados a receber
moeda como forma de pagamento (a título de curiosidade, perceba como
sua “veia de cidadania” aumenta quando algum comerciante diz que
não aceita cheque ou cartão de débito). Nos dias de hoje, portanto, o
papel-moeda não tem qualquer V A L O R
INTRÍNSECO.
Atualmente, o papel-moeda em circulação é a moeda manual
(as cédulas e as moedas). No entanto, isso não esgota o total do que é
considerado comumente como moeda. Resta ainda, como já vimos, a
VA L O R
INTRÍNSECO DA
MOEDA
A moeda-mercadoria
(mercadoria que
assume a função
de moeda) tem
obrigatoriamente
valor intrínseco, ou
seja, tal mercadoria,
mesmo não sendo
utilizada como
moeda, tem algum
valor de troca. Hoje
em dia, quando um
papel-moeda deixa
de existir como
moeda, deixa de
ter qualquer valor
(exceto para os
colecionadores).
Assim, seu valor
intrínseco é zero.
O valor extrínseco da
moeda, por sua vez,
é o poder aquisitivo
do seu valor de face
(que vem sempre
indicado: um real,
dez reais etc.).
denominada moeda escritural.
C E D E R J 119
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
?
O fim do bimetalismo
e a história da “moeda má que
expulsa a boa”
Em meados do século XVII, o ministro francês Jean-Baptiste
Colbert exerceu grande influência sobre o sistema de moeda
chamado bimetalismo. Esse sistema significava a existência conjunta da
moeda-ouro e da moeda-prata. Como, à época, o ouro tinha maior valorização
e atração do que a prata, os indivíduos mantinham guardada a moeda-ouro o
máximo de tempo possível, procurando se desfazer apenas da moeda-prata. Isso fez
com que houvessse um certo transtorno por falta de moeda suficiente para atender às
necessidades de troca. Depois de muito tempo, tal fenômeno foi percebido e reconhecido
por Colbert como “moeda má que expulsa a boa”. Assim, extinguiu-se o bimetalismo para
dar lugar ao monometalismo (apenas uma moeda metálica).
Algo um pouco parecido com “a moeda má que expulsa a boa” ocorre quando o Banco
Central lança moedas que a população desaprova ou as cédulas demasiadamente
desgastadas ou a ponto de rasgar. As pessoas passam a “livrar-se” delas no primeiro
momento em que vão gastar. Quem as recebe procura fazer o mesmo. Perceba
que, algumas vezes, dentro de um ônibus, os cobradores procuram encher
sua mão de moedinhas e que você torce o nariz ao
recebê-las. Provavelmente, você trata de vingar-se, transferindo-as
ao cobrador da próxima viagem que fizer. Com um pouco
de exagero, pode-se dizer que, no ônibus,
“a moeda má expulsa a boa”.
A MOEDA ESCRITURAL
É fato comum: o comércio aceita em larga escala os cheques como
forma de pagamento. Os cheques representam o que você tem guardado
DEPÓSITO
A
em seu banco comercial. Repare: você pode levar toda a sua riqueza em
PRAZO
uma única folha de cheque, o que, na época da moeda-ouro, teria de ser
É aquele em que
o cliente só pode
resgatar o que
depositou após um
certo período de
tempo estipulado.
Por isso rende juros.
Os bancos utilizam
esse recurso para
suas operações
de empréstimos e
aplicações em títulos.
Um exemplo de
depósito a prazo é o
CDB (Certificado de
Depósito Bancário).
feito em enormes e pesadas malas. Tal praticidade é o que chamamos de
moeda escritural (ou depósitos à vista, como veremos a seguir).
O chamado depósito à vista representa o saldo em conta corrente
bancária que pode ser utilizado por meio de cheque para pagamentos ou
recebimentos. Dessa forma, opõe-se ao que se chama DEPÓSITO A PRAZO.
OS BANCOS COMERCIAIS
Como você já viu, os cheques representam os valores relativos
aos depósitos em conta corrente bancária. São os chamados depósitos
à vista. Basta apresentá-los ao caixa, que recebe o papel-moeda,
120 C E D E R J
estabelecimento bancário autorizado pela
AUTORIDADE MONETÁRIA
a
receber depósitos à vista. São exemplos: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú,
Unibanco e tantos outros.
A atividade principal de um banco comercial é realizar empréstimos.
Os bancos recebem depósitos à vista (e também a prazo) e deixam
parte destes guardados sob a forma de reservas (também chamadas de
encaixes), precavendo-se de que os clientes que os depositaram possam
vir a precisar daquela parcela mantida em reservas. A outra parcela que
MONETÁRIA
É a instituição
designada para
supervisionar e
regular o sistema
monetário ou
bancário. No
Brasil, o Banco
Central exerce o
papel de autoridade
monetária.
se estima que vá ficar sem uso pelos que depositaram é emprestada a
terceiros. Estes últimos pagam juros sobre o quanto estão solicitando
como empréstimo. Para os bancos, esses juros representam os ganhos
brutos com empréstimos.
?
Banco Central do Brasil
(Bacen)
Nosso Banco Central é uma autarquia federal criada em
1964. Até 1985, exercia, juntamente com o Banco do Brasil, as
funções de autoridade monetária. A atual Constituição de 1988 assegura
ao Bacen a exclusividade de instituição emissora de moeda no país.
É possível listar algumas de suas principais funções:
1) Banco dos bancos. O Banco Central empresta aos
bancos (o que se chama redesconto de liquidez);
2) Guardião das reservas internacionais. O que o país recebe
de moedas estrangeiras (reservas internacionais) é mantido
no Bacen;
3) Banco do governo. O governo deposita no Banco Central
seus recursos referentes a impostos e taxas (recursos do Tesouro
Nacional). O Bacen realiza empréstimos ao governo (nos níveis
federal, estadual e municipal) e mantém e opera os títulos
do governo;
4) Emissor de moeda (manual e etálica).
Os bancos não mantêm em reservas a totalidade do que recebem
em depósitos, pois sabem que apenas uma parcela de tudo que é
depositado não é movimentada. Grosso modo, podemos dizer que,
enquanto um cliente está retirando dinheiro no banco, outros tantos
estão depositando. Apenas em raríssimos casos as retiradas serão maiores
do que os depósitos. No momento em que o banco empresta para outro
C E D E R J 121
6
AUTORIDADE
AULA
no valor estipulado no cheque. Denomina-se banco comercial todo
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
cliente, há a criação de moeda. Isso ocorre porque o cliente está recebendo
moeda e o depositante que deu origem à possibilidade do empréstimo
também detém a posse (contábil) da moeda. Esse mecanismo, que será
detalhadamente explicado mais adiante, é denominado multiplicação dos
meios de pagamento. Em resumo: dados os depósitos bancários, uma
parte destes é retida em forma de reservas. Uma outra parte é utilizada
como empréstimos, que se converterão em novas formas de meios de
pagamento, ou seja, em moeda.
Atividade 3
Pensando com a cabeça do banqueiro
2
O Banco Pereira-Silva lançou a seguinte campanha publicitária: Cliente com
saldo gordo ganha mais sorrisos e cafezinhos. "O que se passa na cabeça do Sr. Pereira,
diretor-presidente" da instituição?
______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Resposta Comentada
Já vimos que o saldo médio representa a parcela dos recursos depositados pelos clientes que
pode ser utilizada pelos bancos, já que fica ociosa na conta corrente. É desses recursos que
o banco se utiliza para fazer empréstimos a terceiros – recursos cujos juros representarão,
no final das contas, o lucro da instituição bancária.
A OFERTA DE MOEDA
Compreendidas as características e as funções da moeda e
analisados os princípios que regem a atividade bancária, veja agora
alguns conceitos que contribuirão para o entendimento dos mecanismos
que geram a oferta de moeda em um país.
A moeda, que nada mais é do que os meios de pagamento (M),
pode ser delimitada como o total do papel-moeda em poder do público
(PMPP) mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja:
M = PMPP + DVBC
(1)
Definindo como Base Monetária (B) o PMPP e o total de reservas
mantidas pelos bancos comerciais (R), temos:
B = PMPP + R
122 C E D E R J
(2)
6
M é um múltiplo de B (DVBC, como já vimos, é bem maior que
AULA
R). A diferença entre elas é justamente o fenômeno da multiplicação da
moeda decorrente das operações de empréstimos bancários.
Observe que PMPP é o volume do papel-moeda emitido menos
as reservas dos bancos.
Biblioteca Franklin Delano/Roosevelt/EUA
?
A quebradeira
de bancos na crise dos anos 30
(Grande Depressão) e o feriado bancário.
Figura 6.3: Crianças posam para a câmera na extinta favela
de Hooverville, nascida às margens do rio Hudson, em Nova
York, durante o período da Grande Depressão.
No século passado, durante a famosa crise mundial que se deu entre o final dos anos 1920 e
início dos anos 1930, houve um grande corrida aos bancos americanos. Vários deles quebraram.
Os clientes, tomados de pânico pela notícia de que os bancos estavam falidos, resolveram
então, todos ao mesmo tempo, transformar seus depósitos em papel-moeda. Mesmo os
bancos em boa situação financeira não contiveram os inesperados saques e, por estarem com
apenas uma fração dos depósitos (as reservas) em caixa, não tiveram outra saída senão
fechar as portas. Este fato serviu de lição para as autoridades monetárias: em momentos
de desconfiança geral da população ou de grandes boatos, decreta-se o feriado
bancário (os bancos ficam fechados por um período determinado pelo governo,
em geral três dias). Dessa forma, procura-se impedir a corrida inesperada
e impensada de clientes em busca de seus ativos, o que põe em risco o
funcionamento dos bancos.
No Brasil, os mais recentes feriados bancários ocorreram por ocasião do
Plano Collor (1990) e do Plano Cruzado (1986). Na crise argentina
de 2002, também foi decretado feriado bancário. Naquele
caso, não podendo entrar nos bancos, fechados por
decreto, os argentinos optaram por quebrar as
agências. Sim, literalmente.
C E D E R J 123
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
O MULTIPLICADOR DOS MEIOS DE PAGAMENTO
O Banco Central, como já vimos, é a instituição que autoriza a
emissão de moeda no Brasil. Porém, pelo que foi dito anteriormente, ao
emprestar parte dos depósitos que recebem de seus clientes, os bancos
comerciais também criam moeda. Esse mecanismo bancário de criação de
moeda ocorre porque apenas uma fração dos depósitos é mantida como
reservas, emprestando-se o restante. Esses novos empréstimos acabam
se transformando em novos depósitos que, pela regra dos bancos de
manter apenas uma parcela como reservas, acabam gerando novas
rodadas de empréstimos–depósitos–reservas–empréstimos. Ou seja, os
bancos criam meios de pagamento adicionais. Isso é o que se conhece
como multiplicador bancário ou dos meios de pagamento. Veja como
se dá esse processo com um pouco mais de detalhe.
Os bancos comerciais possuem três tipos de reservas (ou encaixes)
para estarem aptos a responder pelos seus compromissos de guardiões
dos depósitos:
• encaixes em caixa: são os caixas das agências bancárias. Eles estão
lá para atender aos que vão sacar ou trocar os cheques por papel-moeda;
• reservas voluntárias: são aquelas mantidas no Banco Central (até
1986 eram mantidas no Banco do Brasil) para fins de compensação de
cheques. Toda noite, os cheques de diversos bancos são confrontados.
Aqueles que devam pagar mais do que receber podem lançar mão das
reservas voluntárias;
• reservas compulsórias: por determinação da regulação bancária,
o Banco Central estipula obrigatoriamente a retenção de uma porcentagem
dos depósitos à vista como encaixes compulsórios, que devem ser recolhidos
no Banco Central.
Quando anteriormente dissemos que uma parcela dos depósitos
é mantida como reservas, estávamos nos referindo a esses três tipos de
reservas. Por intermédio de um exemplo, você vai entender o mecanismo
da multiplicação dos depósitos que leva à expansão dos meios de
pagamento.
Um indivíduo vai ao banco e deposita R$ 1.000,00 em sua conta.
O banco possui a regra de converter em encaixes totais 20% de tudo que
é depositado, emprestando o restante. Dessa forma, são emprestados R$
800,00 a uma outra pessoa. Esta, por sua vez, deixa depositada a metade
desses empréstimos no próprio banco. Uma vez que 20% de depósitos são
124 C E D E R J
6
reservas (20% de R$ 400,00), o banco mantém R$ 80,00 como encaixes
AULA
e disponibiliza R$ 320,00 para emprestar a um terceiro indivíduo. Este
saca imediatamente R$ 120,00 e deixa o restante guardado no banco
como depósito. Por fim, o banco efetua o encaixe de R$ 40,00 e empresta
R$ 160,00 para alguém que saca todo o empréstimo sob a forma de
dinheiro. Veja quanto foi gerado de novos depósitos apenas com essa regra
de comportamento de encaixes, empréstimos e clientes do banco.
Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários
(Em R$)
Indivíduo
Depósitos (DV)
Reservas
(20% DV)
Empréstimos
(80% DV)
1º
1.000
200
800
2º
400
80
320
3º
200
40
160
No total das operações com empréstimos, gerados a partir do
depósito de R$ 1.000,00, foram contabilizados R$ 1.600,00.
Com algumas simplificações a mais, pode-se estabelecer um
método de contagem dos depósitos, como se segue:
Suponha que a regra e o comportamento dos clientes sejam
invariavelmente os mesmos: cada depósito implica 20% de reservas e
80% de empréstimos. Cada empréstimo se transforma em novo depósito
(como se o cliente que recebeu o empréstimo abrisse uma conta corrente
com o empréstimo). Desse modo, a geração de depósitos seria:
Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários
(Em R$)
Indivíduo
Depósitos (DV)
Reservas (20% DV)
Empréstimos (80%
DV)
1º
1.000,00
200,00
800,00
2º
800,00
160,00
640,00
3º
640,00
128,00
512,00
4º
512,00
102,40
409,60
5º
409,60
81,92
327,68
6º
327,68
65,53
262,14
...
...
...
...
C E D E R J 125
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
A soma dos depósitos à vista é o resultado da criação de meios
de pagamentos por intermédio dos bancos. O quadro anterior evidencia
uma relação de progressão geométrica (PG) de razão (q) igual a 0,8, da
seguinte forma (em reais):
∑ DV = 1.000 + 800 + 640 + 512 + 409, 6 + ...
DV 1
1.000
1
∑ DV = 1 − q = 1 − 0, 8 = 1.000 × 0, 2 = 1.000 × 5 = R $5.000
O que essas contas mostram é que os R$ 1.000,00 iniciais
possibilitaram uma expansão de depósitos para R$ 5.000,00. Tendo
ocorrido o sistema bancário de empréstimos, os depósitos foram
multiplicados por cinco, que é o resultado da fração:
 1 
 0, 2 
O multiplicador será tanto maior quanto menor for a parcela dos
depósitos retidos sob a forma de reservas bancárias. Se as reservas fossem
50% dos DV, o multiplicador seria igual a dois. Então, os R$ 1.000,00
iniciais levariam, com o tempo, a novos depósitos que totalizariam
R$ 2.000,00.
O entendimento da relação entre reservas e o tamanho do
multiplicador dos depósitos (ou dos meios de pagamento) é bastante
intuitivo: quanto maiores as reservas, menos recursos o banco terá para
emprestar. Por conseqüência, menor será o número e o valor de depósitos
adicionais. Se, por exagero, 100% do depósito fosse mantido como
encaixe, não haveria o que emprestar e o multiplicador seria 1 (nesse
caso, não multiplicaríamos nada).
Agora suponha que cada cliente mantenha 10% do que recebe
de empréstimos em papel-moeda, deixando o restante sob a forma de
depósitos. O quadro a seguir ilustra essa situação:
Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários
126 C E D E R J
(Em R$)
Indivíduo
Depósitos (DV)
Reservas (20%
DV)
Empréstimos
(80% DV)
1º
1.000,00
200,00
800,00
2º
720,00
144,00
576,00
3º
518,40
103,68
414,72
4º
373,24
74,64
298,59
...
...
...
...
AULA
6
Assim, os depósitos teriam a seguinte soma:
∑ DV = 1.000 + 720 + 518, 4 + 373, 24 + ...
Dessa soma infinita de termos resulta uma PG de razão 0,72 (basta
dividir um termo por outro subseqüente), isto é:
1.000
∑ DV = 1 − 0, 72 = 1.000 × 3, 51714 = R $3.571, 42
Você pode verificar que o multiplicador bancário diminuiu em
comparação com o exemplo anterior (passou de 5 para 3,517). Isso
se deve a um vazamento no sistema (que ocorre quando os clientes
usam mais papel-moeda do que antes), o que reduz o total de recursos
disponíveis para empréstimos bancários.
No caso anterior, o multiplicador (m) assume a seguinte expressão
(veja a dedução no boxe explicativo):
m=
1
(3)
1 − d (1 − r )
onde:
d representa a fração dos depósitos em relação ao total dos meios
de pagamento (M);
r representa as reservas como fração dos depósitos à vista.
O que o multiplicador dado pela equação (3) nos diz é que, quanto
maior a razão entre depósitos à vista e meios de pagamentos, maior será
o multiplicador; e quanto maior a fração das reservas bancárias sobre o
que se recebe de depósitos à vista, menor será o multiplicador. Em outras
palavras, quanto maior d (relação entre o total dos depósitos em razão do
total dos meios de pagamento) e quanto menor r (fração dos depósitos
que são retidos em reservas bancárias), maior será o multiplicador dos
?
meios de pagamento.
A dedução do multiplicador dos meios
de pagamento
Considerando as equações (1) e (2):
M = PMPP + DVBC
B = PMPP + R
(1)
(2)
C E D E R J 127
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
E definindo:
c=
PMPP proporção dos meios de
M
pagamento que são papel-moeda;
d=
DVBC
M
proporção dos meios de pagamento que são depósitos
à vista;
R = r DVBC as reservas como uma fração r dos depósitos à vista,
Temos:
Dividindo ambos os lados de (1) por M
1=
PMPP DVBC
+
=1= c+d
M
M
(4)
De (4) em (2)
B = cM + rDVBC = (1 – d)M + r dM
Observe que R = r DVBC = r dM
Colocando M em evidência:
B = M (1 – d – rd)
O que dá
B = M 1 − d (1 − r )
M
1
=
=m
B 1 − d (1 − r )
(3)
O multiplicador (m) representa o quanto os meios de
pagamento são mais elevados que o total da base
monetária (moeda manual existente
na economia).
O CONTROLE DA OFERTA DE MOEDA PELO BANCO
CENTRAL
Já vimos que, por meio de empréstimos, os bancos podem alterar
a oferta de moeda em um país. Mas será que o Banco Central (Bacen),
como autoridade monetária, não pode controlar a influência dos bancos
128 C E D E R J
6
na questão da oferta de moeda? A resposta é sim. O Bacen exerce tal
AULA
controle de três modos:
Operações de open market (mercado aberto)
Open market é a operação em que o Bacen compra ou vende títulos
do governo no mercado de títulos. Quando o governo vende um título,
como a Letra do Tesouro Nacional (LTN) ou a Obrigação do Tesouro
Nacional (OTN), recebe o valor da venda do título em dinheiro, o que
retira tal montante de moeda de circulação. Assim, há uma diminuição
nos meios de pagamento. De forma inversa, quando compra os títulos
do público, está injetando moeda na economia, o que significa aumentar
a oferta monetária.
Você deve observar que a cada R$ 1,00 colocado na economia
(por exemplo, pela compra de título pelo Bacen), se essa importância
for totalmente mantida em dinheiro, a oferta monetária irá aumentar
em igual valor. Todavia, depositado o dinheiro em um banco, ao longo
do tempo, o processo multiplicador dos depósitos elevará a oferta
monetária para valores acima dos que foram injetados com a operação
de open market.
Reservas compulsórias
De acordo com o Banco Central, todo banco precisa reservar
uma fração dos depósitos que recebe. As reservas compulsórias são a
fração das reservas do banco regulamentada pela entidade. Essa fração
é definida segundo os interesses de política monetária do país. Por afetar
a disponibilidade dos recursos para empréstimos, o valor dessas reservas
influencia o multiplicador bancário.
Se o Bacen determinar que as reservas compulsórias serão de 0%
do DV, haverá grande volume de recursos para empréstimos. Se tal taxa
de reservas, por outro lado, for de 100%, os bancos não terão como
oferecer empréstimos com os depósitos que recebem em suas agências.
É simples, concorda?
O Bacen modifica a exigência de reservas compulsórias
freqüentemente, em função justamente do controle monetário que visa
a estabelecer. Se ele pretender contrair a oferta monetária, pode elevar
o recolhimento compulsório das reservas bancárias. Se quiser ampliá-la,
pode consegui-lo por meio da diminuição dessa taxa.
C E D E R J 129
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
Taxa de redesconto
Ainda que não seja tão freqüente, é possível que, em determinado
momento, os bancos se vejam sem moeda suficiente para atender aos
saques de seus clientes. Nessa situação de insuficiência eles podem
recorrer ao Bacen para receber empréstimos de liquidez. O Bacen os
atende, mas cobra uma taxa de juros em função desse empréstimo. Essa
taxa é denominada taxa de redesconto de liquidez.
A taxa de redesconto é, portanto, a taxa de juros que os bancos têm
de pagar ao Bacen quando estão sem liquidez (ou sem moeda suficiente)
para atender aos clientes.
A taxa de redesconto funciona como um instrumento de controle
monetário. Veja por quê: se o Bacen não cobra nada ou muito pouco para
socorrer os bancos em momentos de insuficiência de caixa, os bancos
terão mais folga para destinar mais recursos oriundos dos depósitos para
empréstimos. Afinal, com mais recursos para empréstimos, maior volume
de empréstimos e mais juros os bancos receberão. Por outro lado, se o
Bacen fixar uma taxa significativamente alta, os bancos assumirão mais
cautela na hora de decidir quanto deixam de reservas totais e quanto
destina para empréstimos, pois, em situação de baixa liquidez, ficará
muito caro recorrer ao Bacen.
Portanto, um aumento na taxa de redesconto tende a elevar as
reservas bancárias e, assim, a diminuir o multiplicador e os meios de
pagamento.
Atividade 4
O país em guerra
2
BANCOS: Brasileiros não
querem aderir à campanha
militar
O
anúncio
sobre
o
engajamento dos bancos
comerciais no esforço
de guerra brasileiro fez com que,
na tarde de ontem, centenas de
milhares de pessoas fossem às
agências bancárias e esvaziassem
suas contas correntes.
130 C E D E R J
3
6
AULA
BC se coloca à disposição
O
presidente do Banco Central, Gastão
da Prata, disse ontem, em entrevista
coletiva à imprensa, que a entidade
está disposta a enfrentar a crise no sistema
financeiro. Segundo Prata, o Bacen deve lançar
mão de todos os recursos disponíveis.
Agora responda: o que aconteceria com um banco caso todos os seus clientes, em um
só tempo, fossem fazer retiradas sobre seus depósitos efetuados? E quais seriam, nas
palavras do Sr. Prata, “todos os recursos disponíveis” de que o Banco Central poderia
lançar mão, a fim de evitar o pior?
Resposta Comentada
As corridas repentinas dos clientes aos bancos são motivo de terror para o bom funcionamento
dessas empresas. Mesmo que o banco esteja em situação de lucratividade, em circunstâncias
assim, ele pode “quebrar”. Isto porque o banco trabalha “alavancado”, ou seja, com parcelas de
recursos de terceiros bem maiores do que as de recursos próprios. Sendo assim, o banco não
tem liquidez suficiente para atender a todos os clientes ao mesmo tempo. Em uma situação
assim, a saída seria fechar as portas ou solicitar ao Banco Central que se decretasse um
feriado bancário. Assim, o banco teria tempo para adquirir empréstimos do Banco Central,
de fontes externas, ou mesmo para acalmar seus clientes.
CONCLUSÃO
A moeda é parte integrante e diária da vida das pessoas. Por
intermédio dela, fazem-se os pagamentos e recebimentos. Todavia, o
valor da moeda está intimamente ligado ao nível de preços dos produtos
e serviços. Zelar pelo nível de preços (inflação) é zelar pela sobrevivência
da moeda ao longo do tempo.
Os bancos comerciais exercem destacada importância no sistema
monetário, pois, por intermédio de suas atividades de empréstimos
bancários, ampliam a oferta de moeda na economia.
O Banco Central, que, no Brasil, exerce a função de autoridade
monetária, tem a função de garantir o funcionamento do sistema como
um todo.
C E D E R J 131
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
Atividades Finais
Dinheiro elástico
1. Segundo o relatório do Banco Central (março de 2005, vol. 7 número 1), os meios
de pagamento totalizaram R$ 120,7 bilhões, ao final de fevereiro de 2005. A base
monetária alcançou, em igual período, o saldo de R$ 23,6 bilhões. Diante desses dados,
de quanto os meios de pagamento aumentariam ao longo do tempo, caso houvesse
a transferência de R$ 1,00 de PMPP para deposito à vista?
Resposta Comentada
O multiplicador bancário ou dos meios de pagamento representa de quanto cada real depositado
em um banco comercial irá ampliar a quantidade de moeda na economia. O valor do multiplicador
é obtido pela divisão entre os meios de pagamento e a base monetária. Sendo assim:
m=
M R $120, 7
=
= 5,1
B
R $23, 6
Ou seja: após um período suficiente de tempo, cada real retirado do bolso (PMPP) e depositado
no banco (DVBC) elevaria os meios de pagamento em pouco mais de R$ 5,00.
2. Os bancos comerciais de um país receberam 10 milhões de u.m. em novos depósitos.
Por determinação de sua autoridade monetária, eles retêm 10% dos depósitos como
reservas totais. Qual será o valor do multiplicador dos meios de pagamento caso todos
os indivíduos mantenham seu dinheiro sob forma de depósito à vista? Ao longo do
tempo, em quanto irão se alterar os meios de pagamento?
132 C E D E R J
6
Resposta Comentada
m=
1
.
1 − d (1 − r )
AULA
O multiplicador (m) é dado por:
No entanto, dada a hipótese em que os novos depósitos gerados sejam todos convertidos ainda em
outros depósitos, como visto na exposição desta aula, o multiplicador assume a expressão:
m=
 1 
, ou seja, m = 
 =10
 0,1 
Então, como o multiplicador afirma, cada R$ 1,00 depositado gera R$ 10,00. Logo, o acréscimo de
R$ 10 milhões irá gerar R$ 100 milhões a mais no total de meios de pagamento.
RESUMO
Você viu a moeda é um ativo de alta liquidez. Utilizada como meio de
pagamento ou de recebimento, possui três funções: intermediária de troca,
unidade de conta e reserva de valor. Em geral, a moeda consiste em papelmoeda em poder do público e depósitos à vista nos bancos comerciais.
O total de moeda ou meios de pagamento é bem maior do que o total de
moeda manual e metálica existente (papel-moeda emitido pelo Bacen).
Isso se deve ao multiplicador bancário ou dos meios de pagamento, que
consiste na multiplicação dos depósitos por parte dos bancos, o que leva a
que o saldo dos meios de pagamento seja maior do que a base monetária
(papel moeda emitido).
O multiplicador bancário é influenciado pela reservas totais sobre os
depósitos. Uma diminuição na fração das reservas sob depósitos diminui o
multiplicador, pois sobram mais recursos para os empréstimos bancários.
De forma semelhante, quando o público resolve manter moeda sob a forma
de depósitos à vista, o multiplicador aumenta.
O Banco Central (Bacen) é a instituição que zela pelo funcionamento
do sistema monetário. Por isso recebe também o nome de autoridade
monetária. Dentre suas atribuições está a função de banco dos bancos
(empresta aos bancos) e do governo (depositário dos recursos do Tesouro
Nacional) e a de guardião das reservas internacionais.
O Bacen controla a oferta de moeda por intermédio de operações de
open market, da taxa de redesconto de liquidez e pelo nível das reservas
compulsórias que impõe aos bancos comerciais.
C E D E R J 133
7
AULA
A demanda por moeda
Meta da aula
objetivos
Descrever o processo que leva à demanda por moeda
e definir a Teoria Quantitiva da Moeda.
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1
listar os motivos que levam as pessoas a guardar
moeda quando poderiam, alternativamente, estar com
o dinheiro aplicado;
2
analisar os custos de manter moeda em ambiente
de inflação e taxa de juros elevada;
3
estabelecer a relação entre quantidade de moeda
e crescimento no nível de preços de uma economia.
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
INTRODUÇÃO
Você acaba de receber a notícia de que ganhou sozinho na loteria. O prêmio,
deixado em aplicações financeiras, rende R$ 20 mil mensais. Imagine que,
mesmo rico, você queira usar sua riqueza da forma mais lucrativa possível (não
quer desperdiçar ou esbanjar). Sendo assim, com toda essa bolada na mão,
quanto você retiraria em dinheiro e quanto deixaria em aplicações? Ou seja,
quais os fatores que o motivariam a preferir manter sua riqueza em dinheiro,
em vez de aplicá-la em títulos que rendam juros? Grande parte desta aula
auxilia você a responder perguntas como essa.
Na última aula, estudamos o que é moeda e analisamos os mecanismos que
geram a oferta de moeda. Agora, para completar nossos estudos sobre o sistema
Paul Pasieczny (www.sxc.hu)
monetário, abordaremos o processo que leva à demanda por moeda.
Figura 7.1: Por que as pessoas querem moeda? Como as
famílias se decidem por acumular mais moeda e menos títulos financeiros (ou aplicações)? E como se dá o inverso?
A DEMANDA POR MOEDA
Admitindo a popularmente conhecida “lei de Gerson” (“é preciso
levar vantagem em tudo”), podemos concordar que ninguém quer moeda
se pode manter sua riqueza em qualquer aplicação financeira que renda
juros. Sendo assim, vamos levantar os fatores que levam à demanda por
moeda (ou a que os indivíduos decidam converter seus rendimentos ou
na riqueza sob forma de moeda).
A teoria monetária (segmento da teoria econômica que estuda
as questões relacionadas a moeda, preços e taxa de juros) enfatiza que
a demanda por moeda se dá por motivos de transação, precaução e
especulação.
De início, compreenda que, quando utilizamos a expressão
"demanda por moeda", estamos falando sobre quanto de sua riqueza
ou renda as pessoas desejam manter sobre a forma de moeda.
136 C E D E R J
7
Por exemplo: imagine que uma pessoa tem como riqueza dois
AULA
imóveis, um automóvel, uma caderneta de poupança com saldo de
R$ 5.000,00 e uma renda mensal de R$ 1.000,00. Se mensalmente ela
retira do seu salário R$ 800,00 em dinheiro, podemos dizer que sua
demanda por moeda corresponde a esse valor.
De outro modo, se essa pessoa resolve vender um apartamento,
pois pretende dar a volta ao mundo, naquele período a demanda por
moeda terá aumentado em igual valor ao da venda do imóvel, ou seja,
a demanda por moeda representa o quanto da riqueza será mantido em
moeda em vez de estar alocado em outros ativos (títulos ou imóveis,
por exemplo).
OS MOTIVOS QUE LEVAM À DEMANDA POR MOEDA
Já aprendemos aqui que uma parcela dos rendimentos dos
indivíduos é convertida em moeda. Pois agora veremos que essa
proporção não é gerada ao acaso. Existem três motivos que levam uma
pessoa a demandar moeda. Tratemos agora de cada um deles.
O motivo transação
No dia em que recebe seu contracheque (comprovante de
rendimentos), quanto você pensa em sacar se, por exemplo, sua ida ao
banco é apenas semanal? Provavelmente, o primeiro pensamento recairá
sobre as contas que terá de pagar (aluguel, mensalidade escolar, taxas
de luz), algumas despesas com alimentação e lazer etc. Neste momento,
estamos falando de quanto você demandará de moeda por motivo de
transações planejadas, isto é, a demanda por moeda compreende um
fator chamado motivo transação. Demanda-se moeda pela facilidade que
ela proporciona para efetuar transações econômicas. Hoje em dia, com
as várias opções de formas de pagamento disponíveis no mercado, essa
questão tem uma complexidade um pouco maior: o quanto de moeda
será demandado dependerá do seu hábito de utilizar cartões de crédito,
caixas automáticos etc. Mas, grosso modo, a demanda por moeda por
motivo transação é o montante de moeda suposto como o suficente para
efetuar os gastos planejados por um certo período de tempo.
C E D E R J 137
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Na aula passada, já vimos que o indivíduo precisa da moeda
porque ela é o melhor meio de troca (pelo menos do ponto de vista
da aceitação universal). Considerando que as transações dependem
positivamente da renda, isto é, quanto maior a renda, maior o nível
desejado de transações, podemos dizer que a demanda por moeda
depende positivamente do nível de renda.
Observe que o quanto se demandará por motivo transacional vai
depender da quantidade de transações desejadas. Todavia, as transações
são cotadas em preços, e estes podem se alterar. Assim, a demanda por
moeda será maior quanto mais os preços das transações se elevarem e viceversa. Portanto, o nível de preços afeta de maneira direta a demanda por
moeda. Quanto maiores as transações desejadas pelos indivíduos, maior
a demanda por moeda. Por outro lado, quanto menores as transações
desejadas pelos indivíduos, menor será a demanda por moeda.
O motivo precaução
Analisado o motivo transação, saiba que a demanda pode ocorrer
também pelo motivo precaução. A demanda por moeda por precaução
se dá pela ciência de que fatos imprevistos podem ocorrer. Quando não
sabemos com exatidão o que iremos precisar gastar ou mesmo quando
iremos receber nossos rendimentos, demandamos alguma quantidade de
moeda para fazer frente a essas incertezas. Esse volume de dinheiro é o
que chamamos de encaixes (saldos) monetários por motivo de segurança
ou precaução. Vale dizer que esses encaixes também dependem do nível
de renda. Quanto mais rica for a pessoa (ou maior a empresa), maiores
serão os encaixes por motivo de precaução.
Agora veja: como a renda é a variável comum aos dois motivos de
demanda por moeda, podemos expressar a relação da seguinte forma:
Mt+pd = k Y
k > 0 (1)
onde:
Mt+pd representa a demanda por moeda pelo motivo transacional
e precaucional
Y representa a renda monetária
k representa a proporção média da renda que será destinada à
retenção de moeda, pelos motivos já vistos.
138 C E D E R J
Além dos motivos transação e precaução, perceba que as pessoas
podem desejar reter moeda a fim de
ESPECULAR
POR MOTIVO
(aproveitar uma
oportunidade de ganhar dinheiro a partir das circunstâncias do momento
ou do futuro). Se, por um lado, a moeda não rende juros, por outro é um
ativo sem riscos, principalmente em ambiente não-inflacionário (onde
há baixa perda de poder aquisitivo ao longo do tempo). Normalmente,
para diluir os riscos (“não colocar todos os ovos em uma cesta só”), os
indivíduos procuram diversificar suas aplicações. Para que fique mais claro,
perceba: se o indivíduo acredita ou percebe que determinado ativo (imagine
um imóvel, por exemplo) vai, em algum momento, baixar de preço, ele
pode reter moeda para estar apto a aproveitar essa oportunidade. Esse
comportamento se refere à demanda por moeda por motivo de especulação,
ESPECULAÇÃO
Também denominado
motivo portfólio,
representa a fração
dos encaixes
monetários (demanda
por moeda) que as
pessoas retêm com
o objetivo de se
apropriar de algum
ganho futuro na
aquisição de títulos
financeiros ou com
a valorização ou
desvalorização de
outros ativos (imóveis,
automóveis etc.).
isto é, à parcela da demanda por moeda que o individuo guarda com
objetivo de ser beneficiado por algum ganho futuro.
Perceba agora que, quanto maior a taxa de juros das aplicações,
menor será a propensão dos indivíduos a manter moeda em vez de
adquirir títulos. Assim, a demanda por moeda por motivo de especulação
(também denominada motivo portfólio) possui relação inversa com a
taxa de juros, ou seja:
Mde = h i
h < 0 (2)
sendo:
Mde
representa a demanda por moeda especulativa
h representa a sensibilidade do mercado diante de um aumento
na taxa de juros e vice-versa.
i
representa taxa média de juros.
A equação (2) informa que um aumento na taxa de juros reduz o
comportamento de demandar moeda. Já uma redução na taxa de juros
?
estimula a procura por moeda.
A função da demanda por moeda
Ao reunir (agregar) os três motivos pelos quais as pessoas
retêm moeda, temos:
Md = Mt+pd + Mde
d
M = ky + h i k > 0 e h < 0 (3)
Ou seja: a demanda total por moeda depende positivamente
da renda e é afetada de forma inversa pela taxa
de juros.
C E D E R J 139
7
DEMANDA
POR MOEDA
AULA
O motivo especulação ou portfólio
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividade 1
Carro a preço de banana
1
a. Suponha que você tenha em casa R$ 5.000,00. Está juntando dinheiro para
comprar um automóvel. Em um belo dia, um vizinho bate à sua porta informando que,
por estar em uma situação de emergência, oferece seu automóvel, que acabara de
comprar por R$ 50 mil. Agora ele aceita vendê-lo em troca dos seus R$ 5 mil. Se você
aceitar tal proposta, qual dos três motivos de reter moeda você diria que prevaleceu
na sua decisão?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
b. Por que o caso descrito anteriormente não seria (ou seria?) uma situação de demanda
por moeda por motivo especulativo?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
a. O motivo de precaução evidencia a retenção de moeda em nome de imprevistos.
Desconsiderando o fato de seu vizinho estar em uma situação de emergência, do ponto de
vista estritamente econômico tal situação representaria uma boa oportunidade para você, que
fatalmente compraria um automóvel. Portanto, a retenção de moeda se deu por motivo de
precaução.
b. Você estava com o dinheiro retido em casa e acabou pagando R$ 5.000,00 por um produto
que valia dez vezes mais. Logo, você auferiu lucro com o negócio. Ainda assim, esta não é
uma situação de motivo especulativo, já que você não imaginou que um dia o seu
vizinho bateria à sua porta e lhe faria tal proposta.
A DEMANDA POR MOEDA É A DEMANDA POR ENCAIXES
REAIS
Tecnicamente, diz-se que a demanda por moeda é a demanda
por encaixes reais. Veja: as pessoas retêm moeda não pelo seu valor
nominal (valor de face ou o valor expresso em unidades monetárias).
O que importa, nesse processo, é a demanda real, ou seja, o poder de
compra da quantidade de moeda de que se precisa para fazer frente aos
140 C E D E R J
reais, estamos dizendo que as pessoas não são acometidas pelo que já
MONETÁRIA.
Charles Thompson
conhecemos como I L U S Ã O
Figura 7.2: Sua coleção de notas pode até crescer, mas, caso os
preços aumentem junto, você não estará ficando mais rico.
Considerando a demanda por encaixes reais, perceba que, caso
Ocorre quando as
pessoas confundem
aumento de variável
nominal com
aumento de variável
real. Por exemplo:
se os salários e os
preços aumentam
em um mesmo
montante, as pessoas
são iludidas pelo
aumento do salário
nominal (quanto
estão ganhando em
moeda). Acham que
estão ganhando mais
apenas porque seus
salários nominais
subiram, não
percebecendo que os
preços subiram na
mesma proporção,
o que faz com que,
no fim, o salário real
permaneça o mesmo.
não haja variação na renda real, não haverá alteração na demanda por
moeda. Incluindo, portanto, a demanda por moeda como a demanda
por encaixes reais, a equação (3) assume a seguinte forma:
k > 0; h < 0 (4)
onde:
P representa o nível geral de preços.
A equação (4) nos diz que a demanda real por moeda, a demanda
pelo poder aquisitivo da moeda, é uma função positivamente relacionada
ao nível de renda real e negativamente relacionada à taxa de juros.
Os parâmetros k e h expressam, respectivamente, a magnitude com que
a renda real e a taxa de juros afetam a demanda por moeda, isto é, uma
elevação na renda real deve aumentar a demanda real por moeda em k
u.m.; Já uma elevação na taxa de juros deve reduzir a demanda real por
moeda em h u.m.
Na seção a seguir, vamos estudar uma das questões clássicas mais
conhecidas sobre a moeda: a teoria quantitativa da moeda, que estabelece
uma relação entre a quantidade de moeda e os valores que terão as
transações (ou produtos) que são trocadas por elas em uma economia.
C E D E R J 141
7
ILUSÃO
MONETÁRIA
AULA
gastos. Considerando a demanda por moeda como demanda por encaixes
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividade 2
A equação da demanda
2
Admitindo que a demanda dos indivíduos por moeda assuma a seguinte
expressão:
M d = 0,6Y - 2i,
a. interprete a equação acima.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
b. Qual seria a equação da demanda por moeda, caso a renda fosse de 1.000 u.m. e a
taxa de juros do mercado estivesse na casa dos 15%?
Resposta Comentada
a. A equação informa que a demanda por moeda depende da renda e da taxa de juros.
No caso exposto, uma elevação da renda aumenta a demanda por moeda em 0,6 de cada
unidade monetária (u.m.) de renda a mais. Por sua vez, cada ponto percentual a mais de juros
diminui em 2 u.m. a demanda por moeda.
b.
M d = 0,6 x 1000 - 2 x 0,15
M d + 600 - 0,3 = 599,7 u.m.
R. John Schuler
A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA
142 C E D E R J
moeda passa de mão em mão nos negócios em que é utilizada recebe
o nome de
VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO ,
ou velocidade-renda da moeda.
A maneira mais usual de calcular a circulação da moeda consiste em
dividir o PIB nominal pela quantidade de moeda (meios de pagamento).
VELOCIDADE DE
CIRCULAÇÃO
Taxa pela qual
a moeda “gira”
pela economia
em determinado
período.
Assim, a velocidade de circulação da moeda é dada por:
V=
PY
M
(5)
onde:
V é a velocidade de circulação da moeda;
P representa o nível de preços;
Y representa o nível da produção agregada ou PIB;
M representa a quantidade de moeda no país.
Um exemplo pode ajudar a compreender o conceito de velocidaderenda: suponha que um país tenha produzido e consumido 1.000 dúzias
de bananas, ao preço de R$ 2,00 por dúzia. Estipulemos que a quantidade
de moeda existente era de R$ 100,00. Nesse caso, a velocidade de
circulação de moeda (V) seria:
V=
R$ 2 ×1.000
= 20
100
Isto quer dizer que, com o PIB nominal de R$ 2.000, 00 e um
estoque de moeda de R$ 100,00, cada real teve de circular em média
vinte vezes para atender às transações que se efetivaram naquele ano.
Da equação (5) chega-se facilmente a:
M V = P Y (6)
A leitura da equação (6) nos diz que a quantidade de moeda
multiplicada pela velocidade em que ela circula é exatamente igual ao
PIB nominal (produto x quantidade produzida). Agora perceba: se a
economia estiver em atividade (ou produção) máxima e se a velocidade de
circulação da moeda for constante (V), qualquer aumento na quantidade
de moeda elevará os preços na mesma proporção.
Uma pequena manipulação algébrica da equação (6) é dada
por:
M 1
= ×Y
P V
(7),
C E D E R J 143
AULA
para fazer pagamentos ou recebimentos? O número de vezes que uma
7
Quantas vezes, no intervalo de um ano, uma nota de real é utilizada
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
o que pode ser simplificado por:
,
onde
M T+PD =
K
Y
A equação (1)
nos diz que a
demanda por
moeda (motivo
transação e
precaução)
depende
positivamente do
nível de renda.
Observe que o k é o mesmo da equação (1) (Mt+pd = k Y
k > 0),
ou seja, representa a taxa da renda que será retida sob forma de moeda.
O valor de k é dado pelo inverso da velocidade da moeda. Isto quer dizer
o seguinte: quando a moeda está com alta velocidade de circulação é
porque as pessoas estão retendo pouca quantidade de moeda em razão
da renda. Está claro que, quando a inflação está muito elevada, ninguém
quer ficar com dinheiro nas mãos, já que a perda de seu poder aquisitivo
é grande. Com todos tentando se livrar da moeda, isso significa que a
velocidade da moeda está alta.
Atividade 3
A batata alemã
1
2
3
Dizem que, durante o período de hiperinflação alemã, o dinheiro
era como “batata quente nas mãos das pessoas”. Explique essa expressão, tendo em
vista a velocidade da moeda e a relação inversa com a demanda por moeda.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Quando falamos em hiperinflação, inferimos automaticamente que estamos lidando com um
processo de rápida elevação dos preços. Como os preços alemães aumentavam rapidamente,
o valor da moeda reduzia-se na mesma intensidade; as pessoas procuravam antecipar os
pagamentos, com o propósito de evitar que tais aumentos recaíssem sobre a moeda que já
detinham em mão. Dessa forma, ao receber moeda, as pessoas tratavam de se desfazer dela
logo, comprando o mais rapidamente possível, antes que o dinheiro perdesse seu poder de
compra. Assim, como esse comportamento era estendido a todos, diante de cenário nacional
tão terrível, a moeda era tida como “uma batata quente”.
144 C E D E R J
AULA
7
?
O monstro da hiperinflação
Costuma-se definir como hiperinflação as taxas
inflacionárias que alcançam patamares superiores a 50%
mensais. Essa taxa, mantida constante ao longo de doze meses
(o que se denomina taxa anualizada), equivale a cerca de 1.300%,
em termos anuais. Ao longo do século XX, quatro países passaram por
ambientes de hiperinflação: Alemanha, Grécia, Hungria e Polônia.
A Alemanha atingiu taxa mensal de inflação de 322% (de agosto de
1922 a novembro de 1923); a Hungria, taxas mensais de 19.800%
(de agosto de 1945 a 1946); a Polônia chegou a taxas mensais
de 81% (de janeiro de 1923 a janeiro de 1924) e a Grécia
registrou taxa de 365% entre novembro de 1943
e o início de 1944.
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) estabelece como hipótese
que a velocidade de circulação da moeda é constante (hipótese mais
aceitável no curto prazo). Partindo dessa pressuposição, o resultado de
uma expansão monetária (aumento na oferta de moeda) depende de a
economia estar ou não operando a plena capacidade produtiva.
Se a economia estiver com capacidade ociosa zero (recursos
plenamente utilizados), a elevação em M causará apenas aumento de
preços (ver equação 6). Ou seja:
, (7)
onde os traços em cima da variável V e Y indicam que elas, por
hipótese, mantêm-se constantes.
A equação (7) ilustra a versão clássica da Teoria Quantitativa da
Moeda, pois está considerando V como constante e a renda e o produto
como sendo o pleno emprego dos fatores. Admitindo-se tais hipóteses, mais
moeda implica maior nível de preços. Grosso modo, esta é a teoria monetária
da inflação: emissão monetária causará tão-somente mais inflação.
A explicação intuitiva da TQM é simples: a economia (pessoas,
empresas, governo), com mais dinheiro em mão, desejará comprar mais.
Como já se está no nível máximo de produção, a pressão da demanda
apenas elevaria os preços.
C E D E R J 145
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Se relaxarmos um pouco a hipótese de a economia encontrar-se
no nível de pleno emprego dos fatores de produção (existe alguma
capacidade ociosa), pode-se admitir que a expansão monetária, de
alguma maneira, acabe resultando em elevação no nível de preços.
Nesses casos, suponha que haja uma estimativa de que a economia
vá crescer 5%. Se o governo aceitar uma taxa de inflação de até 10%,
de quanto ele teria de expandir a oferta monetária para permitir essas
previsões de crescimento econômico?
Pela TQM:
MV=PY
A TQM, em termos de variação, pode ser dada por,
aproximadamente:
∆M% = ∆P% + ∆Y %
∆M = 0, 1 + 0, 05
∆M = 0, 15
Você deve observar que
, pois a V é constante por hipótese.
Portanto, a oferta monetária deverá crescer 15% para permitir o
crescimento econômico de 5%, dada a meta de inflação de 10%.
Atividade 4
Você com mais dinheiro na mão
1
2
3
Suponha que o governo coloque mais dinheiro na economia, ou
seja, que faça uma expansão monetária (o governo pode fazer a expansão monetária
resgatando os títulos que vendeu anteriormente ou comprando ativos do público
pagando em moeda). Você conseguiria argumentar como uma expansão monetária
poderia aumentar a produção, em vez de apenas gerar inflação?
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146 C E D E R J
7
As pessoas que receberam o adicional de moeda irão ao mercado comprar mais bens e
serviços. Se os empresários podem atender ao aumento da demanda sem que tenham
novos custos e caso estejam com os estoques muito elevados, podem não se sentir
estimulados a aproveitar o acréscimo de demanda para aumentar preços. Quanto mais
capacidade ociosa e concorrência o mercado tiver, menos estímulos terão os empresários
a aumentar preços. Nesse ambiente econômico, é possível que a expansão monetária leve
ao crescimento da produção. Essa não foi tão fácil, concorda? Então cabe ressaltar que este
ponto constitui-se de um dos infindáveis debates da teoria econômica: a moeda pode ou
não elevar a produção?
DEMANDA POR MOEDA: TAXA REAL OU NOMINAL DE
JUROS?
Como vimos, a taxa de juros tem relação inversa com a demanda
por moeda. Se a taxa de juros de um título financeiro (caderneta de
poupança, CDB etc.) aumenta, será mais vantajoso colocar ali o máximo
de dinheiro, visto que serão recebidos os generosos juros de tal aplicação.
Assim, a demanda por moeda tende a diminuir. De forma contrária, se
a taxa de juros cai, a remuneração dos títulos diminui, de maneira que
manter moeda em reserva não representará tanto uma perda.
Sabemos que o rendimento real de uma aplicação (título) é a taxa
real de juros, ou seja, é o que se ganha em termos de poder de compra com
o resultado da aplicação. Seria então a taxa real de juros a componente
que afeta a demanda por moeda?
A resposta é não. Veja um exemplo: suponha a inflação com taxa
mensal constante de 20%. A taxa de juros do CDB apresenta também
valor constante, mas de 30% ao mês. Se você manteve R$ 100,00
guardados em sua gaveta durante todo o mês, qual o custo de ter retido
essa importância?
Em primeiro lugar, cabe verificar a taxa nominal e a taxa real de
juros. A taxa nominal é de 30%. A taxa real será a nominal menos a
inflação, o que, nesse caso, resulta em 10%.
Qual dessas duas taxas influencia a demanda por moeda? Se você
tivesse aplicado em CDB, ganharia 10% de taxa real de juros, ou seja,
seu poder aquisitivo teria aumentado nesta taxa. Porém, esse não é o
C E D E R J 147
AULA
Resposta Comentada
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
custo total de se reter moeda. Se você não aplicou, perdeu o que ganharia
com a aplicação e também perdeu o que a moeda se desvalorizou com
a inflação. Mesmo que não houvesse qualquer aplicação, você perderia
20% do poder aquisitivo da moeda por tê-la guardada em casa.
Assim, a perda que representa o ato de manter moeda é composta
por duas parcelas: a taxa real de juros (o que se deixou de ganhar por
não ter aplicado) e a desvalorização da moeda no período (a taxa de
inflação). Logo, o custo de demandar moeda é composto por:
C = r + ∏ (8)
sendo:
r representa a taxa real de juros;
∏ representa a taxa de inflação;
C representa o custo de manter moeda.
Lembrando que a taxa real de juros é a taxa nominal descontada
a inflação, ou seja:
r = i - ∏ (9)
e combinando (9) e (8), temos:
C=i
Ou seja, o custo de reter a moeda é dado pela taxa nominal de
juros.
A taxa nominal de juros é, portanto, a taxa apropriada que
evidencia o custo de manter moeda, quando alternativamente poder-se-ia
estar aplicando em títulos. Quando dizemos que quanto maior a taxa
de juros menor deverá ser a demanda por moeda e que quanto menor
a taxa de juros, maior a demanda por moeda, estamos nos referindo à
taxa nominal de juros.
148 C E D E R J
7
AULA
Hilary Quinn (www.sxc.hu)
?
Dinheiro da noite para o dia
No Brasil, no final dos anos 1980, as taxas de juros nominais de aplicações
financeiras eram altas tanto por conta da inflação quanto pela própria
necessidade de manterem-se juros reais elevados para manter os investidores
aplicando nos títulos do governo. Nessa época, as pessoas poderiam aplicar
em curtíssimo prazo. Os bancos faziam aplicações ou resgates diários para seus
clientes, o que era chamado de aplicações no overnight (aplicações da noite para
o dia). Como os juros nominais eram elevados e era possível aplicar e resgatar a
qualquer tempo, grande parte da população ia ao banco praticamente todos os
dias. Naquela época, manter moeda no bolso era sinônimo de perda diária de
riqueza. Como a inflação era muito elevada (chegava a 70% ao mês) e era fácil
aplicar e resgatar títulos, a demanda por moeda era muito baixa. Os bancos,
então, percebendo que os saldos em conta corrente estavam baixos,
passaram a remunerar com juros os depósitos à vista. As taxas nominais
eram tão altas que várias pessoas, além de procurar consumir o
mínimo possível, até vendiam seus carros para aplicar no “over”
(ter o carro era deixar de ganhar os rendimentos que
poderiam receber com a sua venda). Esse momento
na história econômica recente do Brasil ilustra
como a taxa de juros nominal afeta a
demanda por moeda.
C E D E R J 149
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
As cédulas e moedas metálicas em circulação (em poder do público
e da rede bancária) na data de 4 de julho de 2005.
Cédula - em papel
Denominação
Quantidade
Valor
1,00
593.855.459
593.855.459,00
2,00
312.406.788
624.813.576,00
5,00
238.810.124
1.194.050.620,00
10,00
609.646.294
6.096.462.940,00
20,00
196.677.616
3.933.552.320,00
50,00
783.857.653
39.192.882.650,00
100,00
19.333.125
1.933.312.500,00
Total =
2.754.587.059
R$ 53.568.930.065,00
Moeda – 1ª. família (inox)
Denominação
Quantidade
Valor
0,01
1.977.365.087
19.773.650,87
0,05
1.315.147.298
65.757.364,90
0,10
1.398.022.892
139.802.289,20
0,25
425.920.678
106.480.169,50
0,50
480.162.332
240.081.166,00
1,00
41.466.525
41.466.525,00
Total =
2.754.587.059
R$ 613.361.165,47
Moeda – 2ª. família
Denominação
Quantidade
Valor
0,01
1.168.942.947
11.689.429,47
0,05
1.041.623.481
52.081.174,05
0,10
1.109.644.844
110.964.484,40
0,25
575.521.191
143.880.297,75
0,50
380.834.189
190.417.094,50
1,00
341.181.307
341.181.307,00
Total =
4.617.747.959
R$ 850.213.787,17
Fonte: www.bcb.gov.br
Total da moeda circulante (exceto as comemorativas): a soma do
total de cada quadro.
150 C E D E R J
7
AULA
Endereços de portais sobre os bancos e a moeda:
www.ie.ufrj.br/moeda.
www.caringi.com.br/aberj/bancos.htm.
www.bcb.gov.br/pre/educação/cadernos.
CONCLUSÃO
Nesta aula, apresentamos os motivos e os custos de manter-se a
riqueza em forma de moeda. Você viu que a taxa nominal de juros e a
taxa de inflação são importantes elementos na determinação de quanto da
riqueza de um indivíduo será mantido em moeda. Uma maior ou menor
demanda por moeda implica efeitos de menor ou maior velocidade de
circulação da moeda. Você viu: mudanças na quantidade de moeda e/ou
na velocidade de circulação na economia podem causar alterações no
nível de preços de um país.
C E D E R J 151
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividades Finais
A velocidade da economia brasileira
Analise os seguintes dados:
a. O Banco Central do Brasil, em seus relatórios sobre o comportamento do sistema
monetário, define a velocidade–renda da moeda como a razão entre o PIB acumulado
de 12 meses (cotado pelo IGP-DI) e o saldo do total de meios de pagamento. Dessa
maneira, é extraída a velocidade-renda mês a mês, de fevereiro de 2002 a fevereiro
de 2005, o que é ilustrado pelo gráfico a seguir.
Velocidade-renda
20
15
10
5
0
fev/02
ago
fev/03
go
meses
fev/04
ago
fev/05
b. Em fevereiro de 2005, o saldo dos meios de pagamento (M) atingiu R$ 120,7
bilhões.
Agora, de posse dessas informações, faça uma interpretação da velocidade-renda no
Brasil e calcule o valor do PIB nominal no período
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Resposta Comentada
A velocidade-renda dos meios de pagamento no Brasil durante os meses de fevereiro de 2002
a fevereiro de 2005 esteve dentro da faixa de 15 a 20 vezes, o que dá indicações de que o total
de moeda existente (tecnicamente denominado agregado monetário) circulou em média de 15
a 20 vezes no decorrer do período estimado (media móvel de 12 meses). Ao final de fevereiro
de 2005, a velocidade-renda (V) alcançou 15 vezes. O saldo dos meios de pagamento (M),
como já definimos, chegou a R$ 120,7 bilhões. Como a multiplicação entre M e V resulta
no PIB nominal, estima-se que este tenha sido de cerca de R$ 1,8 trilhão.
152 C E D E R J
7
A demanda por moeda é justificada por três razões: transação, precaução
e especulação.
Os motivos de transação e precaução se explicam pelo fato da nãocoincidência e da incerteza entre os recebimentos e os pagamentos dos
bens e serviços de que as pessoas necessitam. A demanda por moeda por
motivo de transação e precaução depende positivamente do nível de renda.
Quanto mais alta a renda, mais elevada será a demanda por moeda, e
vice-versa.
A demanda por moeda por motivo de especulação é afetada pela relação
inversa com a taxa de juros. Quanto mais elevada a taxa de juros, menos
as pessoas desejarão reter moeda, pois a retenção de moeda não rende os
juros que alternativamente poder-se-iam ganhar, caso a riqueza estivesse
concentrada em títulos financeiros.
A demanda por moeda é uma demanda por encaixes reais, ou seja, as
pessoas não se importam com o valor expresso pela moeda e sim pelo seu
poder aquisitivo. Assim, a demanda por moeda não considera o fenômeno
da ilusão monetária.
A Teoria Quantitativa da Moeda revela que a quantidade de moeda
multiplicada pela sua taxa de circulação (velocidade-renda) é igual ao
valor das transações ou ao PIB nominal. Essa equação determina que uma
expansão na quantidade de moeda, mantida constante a velocidade-renda,
implica elevação no nível de preços, aumento na quantidade produzida ou
uma combinação dessas duas variáveis.
C E D E R J 153
AULA
RESUMO
Referências
Análise Macroeconômica
CEDERJ
155
Aula 1
DEU na mídia. Jornal Valor Econômico, São Paulo, p. A14; 18 dez. 2005.
FROYEN, Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2001. 635 p. Cap. 1.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Cap. 1 .
Aula 2
SITES RECOMENDADOS
ECONOMIANET: pesquisas e conceito. Disponível em: <www.economiabr.net/
economia>. Acesso em: 18 jul. 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
<www.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 jul. 2006.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Disponível em:
<www.ipea.gov.br>. Acesso em: 18 jul. 2006.
Aula 3
LOPES, Luiz Martins; VASCONCELOS, Marco Antonio Sandoval (Orgs). Manual
de macroeconomia: nível básico e intermediário. São Paulo: Atlas, 1988. 388 p.
Aula 4
FUSFELD, Daniel. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001. 356 p.
Aula 5
FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 630p.
156
CEDERJ
Aula 6
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso
em: 5 jun. 2006.
SIMONSEM, Mário Henrique; CYSNE, Rubens Penha. Macroeconomia. São Paulo:
Atlas, 1995.
Aula 7
FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 630p.
CEDERJ
157
ISBN 978-85-7648-422-3
9 788576 484226
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