18 de março de 2008 Nº 81 Feliz Páscoa! A Páscoa sempre representou a passagem de um tempo de trevas para outro de luzes, isto muito antes de ser considerada uma das principais festas da cristandade. A palavra "páscoa" – do hebreu "peschad", em grego "paskha" e latim "pache" – significa "passagem", uma transição anunciada pelo equinócio de primavera. Para entender o significado da Páscoa cristã, é necessário voltar à Idade Média e lembrar que os antigos povos pagãos europeus, nesta época do ano, homenageavam Ostera, ou Easter, em inglês, derivada de Eostre, deusa anglo-saxã do amanhecer. Ostera (ou Ostara) é a Deusa da Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um coelho, símbolo da fertilidade, pulando alegremente em redor de seus pés nus. A deusa e o ovo que carrega são símbolos da chegada de uma nova vida. Ostara equivale, na mitologia grega, a Persephone. Na mitologia romana, é Ceres. Os antigos povos pagãos comemoravam a chegada da primavera decorando ovos. O próprio costume de decorá-los para dar de presente na Páscoa surgiu na Inglaterra, no século X, durante o reinado de Eduardo I (900-924), o qual tinha o hábito de banhar ovos em ouro e ofertá-los para os seus amigos e aliados. Em hebraico, temos a "Pessach", a chamada "Páscoa Judaica", que se originou quando os hebreus, há cerca de 3 mil anos, celebraram o êxodo e libertação do seu povo, após 400 anos de cativeiro no Egito, pela mão de Moisés. Comemoravam assim a passagem da escravidão para a libertação: saíram do solo egípcio, ficaram 40 anos no deserto até chegar à região da Palestina, terra prometida, atualmente chamada de Israel. CNS apresentará alternativa à proposta que cria Fundação Estatal O Conselho Nacional de Saúde (CNS) deverá apresentar em maio, durante o II Seminário de Modalidades de Gestão, uma proposta alternativa para a criação das Fundações Estatais de Direito Privado. A informação é do presidente do Conselho, Francisco Batista Júnior. Em junho do ano passado, o CNS rejeitou a proposta enviada pelo governo ao Congresso Nacional, o PLP 92/07, que, na área da saúde, transfere a gestão de alguns órgãos do SUS, como os hospitais universitários, para as fundações estatais. “A idéia é que em maio possamos não somente fazer um debate mais aprofundado desse projeto, inclusive com visões antagônicas a ele, mas mais do que isso, a possibilidade de o Conselho apresentar proposta alternativa às dificuldades que reconhecemos que são reais na gestão do SUS”, afirmou Júnior. Segundo ele, a principal discordância dos conselheiros em relação à proposta do governo é com o diagnóstico feito dos problemas do SUS. No I Seminário de Modalidades de Gestão, realizado pelo Conselho em agosto de 2007, a criação das fundações estatais foi amplamente debatida e o pleno criticou o fato de a criação das fundações ser apresentada como a única solução possível para garantir a viabilidade do SUS. Em seu posicionamento, o CNS argumenta que “uma leitura mais atenta da legislação vigente deixa claro que o caminho da superação dos gargalos à implementação do SUS já está apontado. O que se faz urgente é um novo direcionamento das políticas de saúde em busca do arcabouço legal já existente”. Na reunião do CNS neste mês, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, apresentou junto com o deputado Pepe Vargas (PT-RS) um texto substitutivo ao projeto de lei encaminhado pelo governo federal. O parlamentar acrescentou garantias e exigências dos setores de saúde, que não estavam discriminados no projeto do governo federal. “O substitutivo responde a todas as exigências do Conselho Nacional de Saúde", afirmou Temporão. A proposta de Vargas define as diretrizes gerais a serem observadas na elaboração dos projetos de lei de autorização de fundações estatais em cada área; esclarece a finalidade das fundações estatais, os impedimentos de atuação, a característica das receitas e patrimônio e as formas de contratação e demissão de pessoal. O substitutivo integra regras como a necessidade de licitações, concursos, demissão somente após processo administrativo e ampla defesa, metas de desempenho, vinculação com o poder público competente e não aceitar venda de serviços à iniciativa privada. Para o deputado, a fundação estatal é uma alternativa para garantir o atendimento do cidadão na saúde. Ele lembrou que, embora necessária para conter gastos desordenados, a Lei de Responsabilidade Fiscal juntamente com a idéia de estado mínimo predominante durante os anos 90 engessou o poder público na oferta de serviços sociais. O substitutivo ainda não está tramitando na Câmara, pois não houve abertura para a apresentação de emendas, mas a proposta já foi entregue ao relator do PLP 92, deputado Pedro Henry (PP-MT). A proposta tramita na Comissão de Trabalho e conta com parecer favorável do relator. (Fonte: Agência Brasil) STF arquiva ADI de ex-governadora do Rio contra Resolução do CNS Por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) não conheceu (arquivou) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2999, ajuizada em 2003 pela ex-governadora do Rio de Janeiro Rosinha Garotinho para impugnar a Resolução 322/2003, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que dispõe sobre despesas com ações e serviços públicos de saúde. Esta Resolução, bem como a Portaria nº 2.047, teve por objetivo detalhar o disposto nas Leis 8.080/90 e 8.142/90, que tratam das responsabilidades financeiras da União, dos Estados e Municípios no custeio do Sistema Único de Saúde (SUS), preconizadas pela Emenda Constitucional n 29/2000. Por sua vez, esta emenda deu nova redação ao artigo 198, da Constituição, que trata do assunto, acrescentando-lhe parágrafos e incisos. Na ADI, a ex-governadora alegava violação aos artigos 198, parágrafo 3º; 24, inciso XII; 23, inciso II; 196; e 200, todos da CF, bem como ao artigo 79 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Contestando esses argumentos, a Procuradoria Geral da República, chamada a opinar sobre a ação, observou que, se a Resolução 322 diverge do sentido das normas contidas nas Leis 8.080 e 8.142, trata-se de “típica argüição de legalidade, não de inconstitucionalidade”. Foi o que entendeu, também, a maioria dos ministros do STF, vencido o ministro Marco Aurélio. Para o ministro Marco Aurélio, diante da inércia do Congresso para regulamentar o artigo 198 da Constituição, o CNS atuou no papel de legislador, baixando a Resolução 322. Desta forma, a resolução poderia ter sua constitucionalidade contestada por ADI. (Fonte: STF) Mais Saúde em Defesa do SUS Entidades pretendem ampliar Movimento para todo o Brasil Diversas entidades representativas de gestores, empresários e trabalhadores da saúde se reúnem em Brasília, no próximo dia 25, para discutir a ampliação do Movimento Mais Saúde em defesa do SUS, para todo o Brasil. A decisão foi tomada durante encontro realizado em Porto Alegre (RS), no dia 7 de março. As atividades do Movimento tiveram início em março de 2007, com o objetivo de cobrar soluções para a crise na área da saúde e para os problemas de financiamento da assistência hospitalar credenciada do SUS no Estado, além do cumprimento da Emenda 29. “Os trabalhadores se uniram ao movimento porque são os maiores prejudicados pela crise nos hospitais”, segundo o presidente da Federação da Saúde do Rio Grande do Sul, Milton Kempfer. A Feessers integra o movimento desde o seu início. Na próxima reunião do Movimento, as entidades pretendem “definir o grupo executivo da mobilização nacional que elegeu a saúde como pauta determinante, focando o acesso da população e o custeio aos prestadores de serviços (financiamento), bem como, as primeiras diretrizes para o planejamento das ações, responsabilidades e modo de execução, incluindo o calendário”. Sindicato poderá mover ação para reparar danos e prejuízos ocorridos nas relações de trabalho O Projeto de Lei 2.422/07, do deputado Efraim Filho (DEM-PB), reconhece explicitamente a possibilidade de as entidades sindicais utilizarem a ação civil pública para reparar danos e prejuízos ocorridos nas relações de trabalho. Pelo projeto, as convenções e acordos coletivos celebrados pelos sindicatos, para tutela aos direitos trabalhistas, terão força de título executivo extrajudicial, para execução coletiva na Justiça do Trabalho. O deputado lembra que a legitimação das entidades sindicais para promover a ação civil pública já consta da doutrina e da jurisprudência brasileiras, mas ainda não está contemplada na lei. Segundo Efraim Filho, essa omissão "contribui para a perpetuação do dissenso nos diversos juízos do país, restringe o acesso dos trabalhadores à Justiça, eleva o número de recursos e incentiva a proliferação de demandas individuais que congestionam o Judiciário". A proposta altera a Lei 7.347/85, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. O projeto também especifica normas para o processamento da ação na Justiça do Trabalho. Pela proposta, poderá ser ajuizada ação cautelar (utilizada para antecipar os efeitos da decisão judicial, antes do seu julgamento). Essa ação deverá observar o contraditório e poderá requerer, nos próprios autos a antecipação de tutela, objetivando evitar dano aos sujeitos de relação do trabalho. Na ação para defesa dos direitos transindividuais (coletivos), os trabalhadores poderão, individualmente, habilitarem-se como assistentes, preservado sempre o caráter coletivo da ação. Fica vedado o desmembramento em ações individuais, ainda que na fase de execução. O projeto estabelece ainda prazo de dez dias para que o Ministério Público comunique a instauração do inquérito civil ao juiz da comarca na qual ocorrer a investigação, de forma a haver cooperação no procedimento. "Muitas vezes as provas de que necessita o Ministério Público já estão produzidas em inúmeras ações individuais, podendo ser encaminhadas pelo juiz", explica o deputado. O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Trabalho e de Constituição e Justiça. (Ag. Câmara) Para Dieese, aumento do mínimo não é problema para a economia O aumento do salário mínimo só traz benefícios para o país, na opinião do diretor técnico do Dieese, Clemente Gans Lúcio. Para ele, não tem fundamento a avaliação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de que o aumento do salário mínimo não é eficaz na distribuição de renda e pode causar, em áreas pobres, mais desemprego e informalidade do que o próprio ganho conquistado. “Há pelo menos quinze ou vinte anos escutamos falar permanentemente que, com salário o mínimo crescendo. Nós teríamos desemprego, aumento da informalidade, as prefeituras quebrariam. O salário mínimo vem crescendo nos últimos quatro anos e nada disso aconteceu”. O diretor lembrou que nos últimos anos as prefeituras têm contratado mais, a formalização cresce de forma nunca vista no país e o consumo dos mais pobres ativa a economia de forma diferenciada. “O mínimo, junto com as demais transferências de renda aos mais pobres, contribui para que a economia seja revigorada pela população que sempre foi excluída”, afirmou. Dados do Dieese mostram que o valor do salário mínimo necessário é de R$ 1.929,59. Para o diretor, caso a proposta de desoneração tributária (diminuição de impostos) da cesta básica alimentar seja aprovada na reforma tributária, o salário mínimo ganhará mais poder de compra. (Fonte: Agência Brasil) PIB cresce 5,4%: isso é muito ou pouco? Osvaldo Bertolino* A economia brasileira passa por uma fase importante. O crescimento do PIB, no entanto, precisa traduzir-se em desenvolvimento – um conceito que obrigatoriamente deve abranger a valorização do trabalho. Uma melhor distribuição da renda nacional é uma pré-condição para que o crescimento econômico seja contínuo – ou “sustentável”, como preferem alguns economistas. O crescimento de 5,4% da economia brasileira no ano passado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fez o Produto Interno Brasileiro (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país – atingir R$ 2,6 trilhões. O resultado ficou acima do que havia previsto o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na semana passada, durante evento no Rio de Janeiro, ele disse que o número ficaria entre 5,2% e 5,3%. Mais importante do que os números é a conseqüência desta arrancada. Mantega afirmou que a resistência da economia brasileira à crise internacional depende do comportamento dos países “emergentes”. ''Porque nós já sabemos que a economia americana está em desaceleração e poderá entrar em recessão. Até agora, nós não fomos atingidos por isso. E nós fazemos parte de um bloco de países emergentes que está indo muito bem'', disse ele. O ministro também afirmou que enquanto a China for bem, a Índia for bem, a Rússia for bem e o Brasil for bem, os “emergentes” podem sustentar o crescimento da economia internacional. “E até substituir o papel dos países avançados. E é isso o que tem sido feito até agora”, enfatizou. Histeria inaugurada nos anos 80 - A rigor, Mantega repetiu um diagnóstico feito pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, em reunião realizada na Basiléia, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Trichet disse que os países “emergentes” se transformaram na aposta dos xerifes da economia mundial para evitar que uma desaceleração do PIB dos Estados Unidos afete a economia global. O presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, também comentou o assunto. Segundo ele, a China terá um ''papel-chave'' para determinar até que ponto os demais “emergentes” serão ou não impactados pelas turbulências no mercado financeiro. Meirelles disse ainda que o Brasil ''está mostrando grande resistência e é um exemplo particularmente brilhante''. Mas ressalvou: se a China não resistir, não há dúvida de que o cenário será outro para o Brasil. ''Se o mundo todo desacelerar ao mesmo tempo, isso terá um certo efeito no Brasil'', afirmou. Uma das características mais marcantes deste cenário é a passagem para uma nova fase da economia, distinta daquela histeria inaugurada nos anos 80 pelos governos neoliberais de Margareth Thatcher (Inglaterra) e Ronald Reagan (Estados Unidos). Ali começou a pregação fundamentalista de que as “forças de mercado” substituiriam com sucesso a “vontade dos governos”. A justificativa para isso era a suposição arbitrária de que os defeitos dos governos seriam mais perversos à sociedade do que as falhas do mercado. O bem-estar da população - A essa idéia somou-se uma outra: a de que os países menos desenvolvidos deveriam afrouxar os controles para a circulação de capitais em suas fronteiras. Essa tese, um tanto paranóica, serviu a ideologias que vêem o mundo numa fase final da história, na qual só resta o caminho da conformação do eterno conflito entre ricos e pobres, entre centro e periferia. De acordo com esse raciocínio, a causa da pobreza de muitos não seria mais os instrumentos que garantem a riqueza de poucos. O prêmio Nobel de economia de 1995, Robert Lucas, chegou a proclamar: “Quando se começa a pensar em crescimento, é difícil pensar em qualquer outra coisa.” Ou seja: para ele, diante da importância do crescimento seria difícil dar ênfase a outras políticas econômicas. O efeito extraordinário do crescimento econômico, no entanto, não pode obscurecer questões importantes para medir o seu efetivo benefício para o conjunto da sociedade. A constatação de que o impacto do crescimento econômico sobre o bem-estar da população é decisivo leva imediatamente à pergunta (particularmente importante para os países com muitas pessoas pobres, como é o caso do Brasil): como distribuir esta riqueza de forma eficiente? Entre os fatores determinantes para a melhor utilização dos recursos disponíveis estão o papel do Estado como um ente preparado para a prestação de serviços sociais, os investimentos em infra-estrutura e a elevação dos salários. Conceito de valorização do trabalho - No fundo, esse é o debate que realmente interessa. Economias do tamanho da brasileira não costumam crescer a taxas acima de 5% ao ano. Mas o Brasil não só precisa dessa taxa como precisa que ela seja contínua – conceito que alguns chamam de “crescimento sustentável”. Para reduzir a pobreza, elevando a renda per capita, estudos mostram que o PIB precisa crescer entre 5% e 6% ao ano apenas para incorporar a mão-de-obra que está entrando anualmente no mercado de trabalho – além de absorver parte dos desempregados. É aí que entra a importância do conceito de valorização do trabalho para o desenvolvimento nacional. Crescimento não é igual a desenvolvimento. Entre o final dos anos 60 e o início da década de 80, o Brasil cresceu a taxas anuais superiores a 8%. Nem por isso as desigualdades de renda diminuíram na mesma proporção. A Finlândia não cresceu tanto, mas sua população de 5 milhões de habitantes tem uma renda per capita em torno de 20 mil dólares, segundo o Banco Mundial. Sob diversos parâmetros – expectativa de vida, taxa de mortalidade infantil, índices de escolaridade –, os finlandeses têm características de país muito mais desenvolvido que o Brasil. Para crescer e desenvolver-se, um país precisa, antes de tudo, aumentar a sua produtividade. Isso é feito, basicamente, pela incorporação de máquinas mais modernas, pela qualificação da mão-de-obra e pela adoção de formas mais eficientes de produzir. E a riqueza produzida precisa ser mais bem distribuída por meio de investimentos sociais e infra-estruturais, e da elevação da renda para quem vive de salários. Exportações de produtos básicos - Recentemente, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) divulgou um cálculo ilustrativo. Se o crescimento da produtividade fosse igual a zero, as economias da região precisariam crescer a uma taxa anual de 2,1% até o ano 2015, apenas para evitar um aumento do desemprego. Se a produtividade crescesse no ritmo de 3,7% ao ano (média do período 1950/1973), então o PIB precisaria variar 5,8% ao ano. Como a produtividade brasileira vem crescendo em média 7% anuais, é claro que o crescimento do PIB precisa ser ainda maior, apenas para não criar mais desempregados. E será que uma economia de R$ 2,6 trilhões pode se dar a esse luxo? É claro que tamanho faz diferença, mas é preciso aqui fazer uma outra constatação. Países desenvolvidos já possuem usinas de energia, estradas e outras infra-estruturas para atender a suas necessidades. Nesses casos, o crescimento tende a ser naturalmente mais lento. Mas no Brasil ainda há muito o que fazer. O país precisa, desesperadamente, de melhorias infra-estruturais. Ou seja: o Brasil não só pode como deve crescer acima de 5%. A Cepal identificou que, ao menos no médio prazo, o crescimento da América Latina pode ser assegurado pelas altas dos preços internacionais das commodities. A região é dona de grandes reservas minerais. Na avaliação da Cepal, os países latino-americanos deveriam aproveitar o momento mais favorável para reforçar sua presença internacional e rever alguns modelos mais frágeis que ainda servem de sustentação econômica. Entre as prioridades estariam reduzir a dependência das exportações de produtos básicos. Assédio institucionalizado - O pensamento progressista latino-americano há tempos discute os obstáculos impostos à industrialização do sub-continente. A Cepal foi a referência maior nesse debate, inaugurado pela reflexão inspiradora de Raúl Prebisch sobre os vínculos desiguais entre as economias centrais e as regiões periféricas, e a necessidade de maior coordenação entre os países da América Latina para superar óbices como a deterioração continuada dos termos de nosso intercâmbio com a Europa e os Estados Unidos. Sabemos que no Brasil esse desafio não foi enfrentado. O país levou a cabo um extenso programa de substituição de importações, modernizou seu parque industrial, mas manteve largos segmentos inteiramente à margem do processo produtivo, sem acesso às benesses do crescimento. Com poucos governos de visão social, o Estado esteve por muito tempo ausente não apenas da tarefa de distribuir renda, mas também da de habilitar toda a sociedade a participar da dinâmica produtiva. A máquina pública expandiu-se, mas para contemplar interesses elitistas, sem atenção aos reclamos da maioria da população. Na “era neoliberal”, o assédio institucionalizado de setores privilegiados aos canais de decisão foi explícito. Acentuou-se o vício histórico do patrimonialismo, em que o público se vê refém do privado. Essa situação começou a mudar com o governo Lula. Com o avanço da cidadania, a sociedade também avançou. Multiplicaram-se as instâncias de representação. Os movimentos populares abriram espaços cada vez mais amplos para o debate público, atuando como uma verdadeira ágora desses novos tempos. Estado do mal-estar social - Mas o Estado ainda precisa ser mais bem cobrado no desempenho de suas tarefas. Os nichos historicamente privilegiados devem estar sob o crivo de segmentos sociais mais vigilantes para impor limites à privatização do Erário. O governo federal tem feito esforços para democratizar o Estado, para que ele se torne mais transparente e responsável. Iniciou a concertação do poder público com os movimentos sociais. A descentralização administrativa e orçamentária também concorreu para aproximar a população do gestor público. No entanto, o governo precisa acelerar a recuperação da capacidade do Estado cumprir seu papel. Ou melhor: o Estado precisa se credenciar para cumprir finalmente a meta de universalização dos serviços públicos. Pode-se dizer que estamos passando de um Estado do mal-estar social para a possibilidade de se ter um Estado virtuoso, que assegure a todos os brasileiros condições satisfatórias de vida. Mas o ritmo ainda é lento. Ainda temos uma política monetária indomada e uma condução tímida das diversas políticas públicas – condições que implicam em temor sobre a longevidade e eficiência do crescimento do PIB. (*) Jornalista, texto publicado no sítio www.diap.org.br Atenção Devido ao não funcionamento dos órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nos dias 20 e 21, quinta e sexta-feira da Semana Santa, a CNTS também suspenderá o atendimento. Retornaremos na segunda-feira, dia 24. Fale com a CNTS E-mail: [email protected] - Sitio: www.cnts.org.br Tel: (61) 3323-5454