Alterações de comunidades por espécies invasoras

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UNICAMP - PG Ecologia
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
Invasões bióticas ocorrem quando
Alterações na comunidade
causadas
por
espécies
2008 - Seminários
organismos são transportados para novas
regiões, geralmente distantes de sua área
invasoras
nativa, onde seus descendentes irão se
Adriano A. Mariscal, Guilherme N. Corte
proliferar, espalhar e persistir [1]. Ao ser
e Janaina R. Cortinoz.
introduzida ou chegar a um dado local
uma espécie exótica pode se tornar
Espécies invasoras podem provocar
invasora, transpondo barreiras e filtros
alterações significativas dentro dos
ambientais (caixa 2). Após a chegada no
processos ecossitêmicos existentes em
local, os indivíduos devem ser capazes de
uma
sobrepujar
comunidade.
Mudanças
em
barreiras
ecológicas,
propriedades ecológicas essenciais tais
representadas por fatores abióticos e
como riqueza de espécies, ciclagem de
interações com espécies locais, a fim de
nutrientes, produtividade, estrutura da
se estabelecer no novo ambiente. Esses
comunidade e interações mutualistas
indivíduos devem ser capazes de se
são exemplos conhecidos de alterações
reproduzir
resultantes da invasão de uma espécie
populacional suficiente para que a espécie
exótica,
e
se torne apta a se dispersar para regiões
que
adjacentes ao seu local de introdução [2].
espécies invasoras são responsáveis por
Com a colonização dessas novas áreas
boa parte das extinções que ocorreram
ocorre
recentemente.
geográfica das espécies, encerrando o
e
leva
conservacionistas
pretendemos
a
biólogos
acreditar
Neste
analisar
trabalho,
algum
a
e
obter
ampliação
um
da
crescimento
distribuição
dos
ciclo do processo de invasão (ver caixa 2)
principais efeitos causados por espécies
[3]. Embora essas invasões possam
invasoras nas comunidades onde estas
acontecer de forma natural, a expansão do
se estabelecem, assim como avaliar a
comércio e transporte feitos pelos homens
relação entre a invasão de uma espécie
ocasionou um grande aumento no número
exótica e as mudanças que podem
de espécies envolvidas, na amplitude
ocorrer no ambiente.
geográfica, assim como na frequência de
ocorrência de novos episódios de invasão
[4].
1
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Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
2008 - Seminários
Um crescente número de estudos
sobre invasões biológicas tem sido
Caixa 1: GLOSSÁRIO
publicado e acompanha o aumento no
número
de
magnitude
casos
dos
verificados
impactos
e
a
ambientais
atribuídos às espécies invasoras [5,6].
Dentre as conseqüências das invasões
biológicas mais citadas estão a extinção
de
espécies,
declínio
comunidades e alteração nos processos
ecossistêmicos [7,4,8]. Entretanto um
consenso sobre se essas espécies são a
causa ou um efeito destas mudanças
ambientais causadas pelos homens ainda
não foi atingido [9, 10] . Nesse sentido, o
objetivo deste trabalho é analisar algum
efeitos
causados
por
espécies
invasoras nas comunidades onde estas se
estabelecem, assim como estabelecer uma
visão crítica sobre se essas espécies são
realmente a causa da mudança ambiental
ou estão simplesmente relacionadas com
os distúrbios no ambiente realizados pelo
homem.
Alterações
causadas
Espécie exótica ou não-indígena:
Qualquer espécie encontrada fora
de sua área de distribuição natural
historicamente conhecida.
populacional,
alterações nas relações bióticas nas
dos
Algumas definições utilizadas na
literatura de invasões biológicas:
por
espécies
invasoras
Invasões de espécies exóticas são
Espécie nativa ou indígena:
Qualquer espécie encontrada dentro
de sua de distribuição natural
historicamente conhecida.
Espécie
endêmica:
Qualquer
espécie encontrada exclusivamente
em determinada região.
Espécie
residente:
Qualquer
espécie encontrada em uma
comunidade, não considerando se
esta é exótica ou nativa.
Espécie naturalizada: Espécie
exótica que consegue sobreviver e
produzir descendentes, mas é
incapaz
de
se
dispersar
regionalmente.
Espécie introduzida: Espécie
exótica que é introduzida a um local
geralmente para fins comerciais.
Espécie invasora: São espécies
exóticas que passam a se reproduzir
e dispersar regionalmente tendo
uma
grande
abundância
e
dominância sobre as demais
espécies do local e que podem
causar impacto na comunidade.
amplamente reconhecidas como uma das
maiores ameaças à biodiversidade e à
estabilidade do ecossistema [7, 4] e são
2
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2008 - Seminários
dos
1960 e 1970, espécies predadoras de
principais assuntos em ecologia de
peixes provenientes da bacia amazônica
comunidades, recebendo grande atenção
foram liberadas em lagos próximas ao
por parte da mídia e do público em geral
limite do parque, de onde alcançaram
[11, 5]. As consequências das invasões
lagos dentro do limite da área de reserva.
bióticas
modo
Após a comparação de lagos com e sem a
acentuado, podendo ocasionar alguns
presença dessas espécies introduzidas, os
efeitos benéficos, como um aumento na
autores observaram uma forte relação
riqueza de espécies, ou efeitos adversos
entre a presença de espécies invasoras e a
significativos, como alterar a estrutura e o
diminuição
funcionamento do ecossitema [12, 13].
nativas. Segundo os pesquisadores, se
Nos próximos tópicos, trataremos de
uma
modo mais específico de alguns dos mais
suficientemente
conspícuos efeitos da invasão de espécies
possui mecanismos eficientes para evitar
exóticas em um ambiente.
a predação, suas chances de persistir na
agora
consideradas
podem
como
variar
um
de
da
riqueza
população
de
nativa
competitiva
espécies
não
ou
é
não
comunidade após uma invasão tornam-se
bastante
Riqueza de espécies
reduzida.
Estes
resultados
Latini & Petrere (2004) [14]
corroboram outros estudos realizados em
estudando comunidades de peixes em
diversas partes do mundo que focam na
lagos do Parque Estadual do Rio Doce
invasão de reservatórios por espécies
(MG) observaram os efeitos de espécies
exóticas [15]. Analisados juntos, estes
invasoras
estudos indicam um padrão não-aleatório
em
comunidades
lênticas
(lagos, p.ex.) da região. Nas décadas de
na
3
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Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
2008 - Seminários
Caixa 2: O processo de invasão.
Figura 1: A estrutura sugerida para definir termos operacionalmente importantes em estudos de invasões
biológicas. Os invasores potenciais começam como propágulos residentes em uma região fornecedora (Estágio 0), e
passam por uma série de filtros que podem impossibilitar a transição aos estágios seguintes. Notar que do estágio 3 ao 5
há uma divisão relativa a abundância e na distribuição das espécies exóticas. Seguindo esta estrutura, uma espécie
exótica pode ser: Localmente ou numericamente rara (estágio 3), difundido espacialmente, mas raro (estágio 4a), não
difundido, mas dominante localmente (estágio 4b) ou difundido e dominante (estágio 5). Os nomes dados pretendem
somente ajudar na conceituação de cada estágio, mas não devem ser usados para referir-se ao estágio de interesse (por
exemplo: ‘estágio 4b’, ‘não dominante'). Três classes determinantes afetam a probabilidade que um invasor potencial
passar através de cada filtro: (A) Pressão do propágulo; (B) Exigências físico-químicas do invasor potencial; e (C)
interações da comunidade. As classes podem afetar positivamente (+) ou negativamente (-) o número dos propágulos que
passam com sucesso através de cada filtro. (Adaptado de Colautti e MacIsaac, 2004)
O processo de invasão começa com a entrada de indivíduos na nova área. Essa entrada tem que ser em número e
freqüência suficiente (A) para que haja número suficiente de indivíduos crescendo (estágio 0 Æ estágio 1); Ao se
estabelecer esses novos indivíduos tem que encontrar condições ambientais tais como temperatura e umidade além de
recursos disponíveis para serem utilizados (B) adequados para crescer e chegar a fase reprodutiva (estágio 3 Æ estágio
2), ainda neste momento a entrada de novos indivíduos (A) é importante para o sucesso do invasor. Passado para o
estágio 2, ou seja, tendo uma entrada suficiente de indivíduos e estes encontrando condições e recursos favoráveis, um
outro filtro torna-se importante, a interação com os organismos locais (C). Se as interações com a comunidade local não
for negativa o suficiente ou se for positiva, a espécie exótica passa para uma situação onde pode se reproduzir e dominar
localmente uma região (estágio 2 Æ estágio 3). Chegada a este estágio, a espécie exótica, para se tornar uma invasora,
pode seguir por dois caminhos: ou ela tem uma boa dispersão regional e aonde chegar encontrar condições, recursos e
interações favoráveis (Estágio 4a), ou ela torna-se dominante localmente, mas não dispersa regionalmente (estágio 4b). A
partir deste ponto a espécie se torna invasora (estágio 5) se barreiras de dispersão (estágio 4b Æ estágio 5) ou de
condições recursos e interações com a comunidade locais (estágio 4a Æ estágio 5) forem superadas, assim ela torna-se
dominante e dispersa.
4
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Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
Ciclagem de nutrientes e produtividade
As consequências de invasões
biológicas podem apresentar mudanças
intimamente
mudanças
enquanto
que
a
solo [20].
Ehrenfeld (2003) [21] revisou
evidências de mudanças na dinâmica do
consequências
solo em resposta à invasão de espécies de
podem, por sua vez, resultar em impactos
plantas e avaliou possíveis generalidades
visíveis
Espécies
encontradas nos padrões de resposta. Ao
sozinhas podem afetar uma variedade de
analisar 79 estudos com 56 espécies
componentes do ciclo do carbono (C) e
diferentes de plantas, o autor verificou a
de outros nutrientes, incluindo reservas de
existência de alguns padrões gerais como
C
uma
essas
ecossistema.
localizadas
superfície,
solo
com
[16]
no
no
relacionadas
distribuição e dinâmica dos nutrientes no
menos óbvias na comunidade como, por
exemplo,
2008 - Seminários
acima
nitrogênio
e
(N)
abaixo
e
da
outros
maior
invasoras,
biomassa
assim
nas
como
espécies
uma
maior
elementos, produtividade primária líquida
produção primária líquida e maior taxa de
e taxa de crescimento de plantas [17, 18].
crescimento quando comparadas com as
Grayston & Campbell (1998) [19]
espécies nativas por elas deslocadas. Uma
afirmam que mudanças nos ciclos de
maior
nutrientes
extraível
podem
ser
resultados
de
quantidade
e
de
taxas
N
inorgânico
maiores
de
alterações na comunidade microbiana do
mineralização de N também estavam
solo
relacionadas
relacionadas
a
diferenças
na
às
espécies
invasoras.
quantidade e qualidade de recursos
Porém,
comsumidos por diferentes espécies de
encontradas,
plantas. A dinâmica de nutrientes também
espécies invasoras certamente afetam a
pode ser alterada em função de mudanças
distribuição dos nutrientes no solo, mas a
nas
solo
direção dessas mudanças é difícil de ser
resultantes da entrada de novas espécies
prevista, pois aumentos e diminuições são
[16]. Mudanças no tipo funcional de
observados em quantidades parecidas.
propriedades
físicas
do
apesar
das
Ehrenfeld
generalizações
conclui
que
plantas, como herbáceas versus lenhosas,
Animais invasores também podem
espécies fixadoras de nitrogênio versus
alterar a dinâmica de nutrientes em um
espécies não fixadoras e espécies C3
ecossistema. A espécie de porco europeu
versus
Sus scrofa, devido ao seu hábito de
espécies
C4
também
estão
5
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Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
2008 - Seminários
cavoucar a terra em busca de alimento,
comunidade de formigas nativas no norte
podem revirar o solo de grandes áreas,
da
resultando em diversos efeitos como
analisaram dados coletados durante sete
mortes de plantas e raízes, decomposição
anos de monitoramento da invasão e
mais rápida da camada de serrapilheira,
documentaram
mistura das camadas do solo, aumento
comunidade nativa em função da chegada
nas taxas de mineralização dos nutrientes
da espécie invasora. Antes da chegada de
e menor retenção de nitrogênio [22].
Linepithema humile, espécies nativas co-
Singer et al. (1984) [23] compararam as
ocorriam em uma intensidadede menor do
características do solo antes da invasão
que a esperada ao acaso, o que sugere que
dos porcos e depois de 10 anos da invasão
a
em
e
competição. A presença da espécie
verificaram uma diminuição de 65% da
invasora resultou em uma reorganização
quantidade de matéria orgânica no solo e
dos padrões de co-ocorrência das espécies
um significante aumento na lixiviação de
nativas o qual passou de segregação de
cátions e nitrogênio. Os pesquisadores
espécies em comunidades intactas para
também observaram uma concentração
uma
elevada de nitrogênio em vertentes de
comunidades
águas
ressaltam também a rapidez com que essa
uma
floresta
subterrâneas
do
onde
Tenessee
os
porcos
Califórnia
população
(EUA).
a
autores
desestruturação
estava
ocorrência
Os
estruturada
agregada
invadidas.
Os
da
por
em
autores
mudança na estruturação da comunidade
estiveram.
ocorria, sendo que o período para a
desestruturação da comunidade era de
Estrutura da comunidade
Através
do
de
apenas um ano a partir da chegada de L.
espécies nativas ou da redução de suas
humile. Dessa forma, os autores sugerem
abundâncias, espécies invasoras podem
que a espécie invasora muda a estrutura
alterar
e
da comunidade por possuir uma maior
funcionalidade de muitas comunidades
habilidade na exploração de recursos e
nativas e ecossistemas. Sanders et al.
interferir de modo direto com seus
(2002) [24] avaliaram o impacto que a
competidores.
drasticamente
deslocamento
a
estrutura
espécie de formiga invasora Linepithema
humile causou na organização de uma
6
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Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
2008 - Seminários
ampla distribuição geográfica. Traveset &
Interações mutualistas
Espécies invasoras podem alterar
Richardson (2006) [8] salientam o fato de
interações ecológicas fortalecidas ao
que
longo de um grande tempo evolutivo e,
relacionada a uma diminuição na taxa de
dessa forma, podem modificar trajetórias
visita por polinizadores nativos através de
evolucionárias. Em particular, espécies
competição
invasoras
relações
exploração. Essa diminuição no número
mutualísticas entre animais e plantas,
de visitas por polinizadores nativos
como relações de polinização e dispersão
resulta em um menor valor adaptativo
de sementes [25]. Esses rompimentos
destes e também das plantas, pois A.
podem ocorrer a partir da invasão de
mellifera, apesar de realizar visitas em
polinizadores, dispersores de sementes,
grandes quantidades, é um polinizador
herbivoros, predadores ou plantas.
menos eficaz em termos qualitativos.
podem
romper
a
presença
dessa
por
abelha
interferência
está
ou
A entrada de um polinizador
No entanto, polinizadores exóticos
exótico na comunidade pode afetar
podem aumentar a aptidão de plantas em
negativamente as populações de plantas
função de um aumento na transferência
se a quantidade ou qualidade de pólen
de pólen entre plantas [26] ou não exercer
transferido entre plantas for diminuída, já
nenhum efeito significativo se a taxa de
que essa diminuição acarretaria em uma
visitação de plantas for baixa. Cox &
produção de sementes e uma consequente
Elmqvist (2000) [27] destacam o exemplo
redução no valor adaptativo da planta [8].
da videira Freycinetia arborea presente
As mesmas propriedades que tornam um
em algumas ilhas do Havaí. Nesta
polinizador invasor, por exemplo, altas
localidade,
taxas de crescimento da população,
arborea foram extintos e a espécie
podem estar associadas com a proporção
persiste devido à presença de pássaros da
de pólen que é transferido para indivíduos
espécie Zosterops japonica, nativa do
jovens ao invés de ser transferido para
Japão.
os
polinizadores
de
F.
outras entre plantas [26]. Um dos mais
A introdução de herbívoros pode
bem estudados casos de invasão por
influenciar negativamente a estabilidade
polinizadores trata-se da abelha Apis
de uma comunidade e diminuir a aptidão
mellifera, um polinizador generalista com
das espécies presentes. Um animal que
7
UNICAMP - PG Ecologia
consome
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
partes
vegetativas
2008 - Seminários
ou
preferencialmente
reprodutivas de uma planta pode exercer
polinizadores [3].
escolhida
pelos
uma considerável influência na relação
De modo semelhante, a invasão de
mutualista entre planta e polinizador. O
espécies exóticas de dispersores de
consumo de partes flores, por exemplo,
sementes
afeta diretamente ambas as espécies
espécies relacionadas pode afetar a
mutualistas através da diminuição da
estrutura
fecundidade da planta e da quantidade de
comunidade
recursos disponíveis para o polinizador.
estabilidade e a aptidão das espécies nela
Predadores exóticos, por sua vez, afetam
presentes. A introdução de um animal
o
de
frugívoro pode resultar em uma dispersão
influência
efetiva de muitas espécies nativas e em
indiretamente no valor adaptativo das
um aumento do valor adaptativo das
espécies de plantas mutualistas. Nogales
plantas quando a dispersão de sementes é
& Medina (1996) [28] estudando a
limititada. Por outro lado, o efeito pode
influência
Ilhas
ser negativo para as populações de
Canárias, observaram que a presença de
plantas se o dispersor é ineficiente, por
gatos ferais nessas ilhas levou à extinção
exemplo, depositando as sementes em
diversas espécies de lagartos nativos que
locais inapropriados para sua germinação
eram importantes polinizadores para uma
[29]. Dispersores nativos, por sua vez,
grande variedade de espécies de plantas.
podem ser negativamente afetados por
Espécies de plantas invasoras são em sua
um dispersor exótico se a espécie
grande maioria polinizadas por uma
invasora for competitivamente superiror a
grande variedade de animais, o que
eles, principalmente se o recurso for
facilita seu estabelecimento e dispersão
limitante.
crescimento
polinizadores,
de
da
o
população
que
carnívoros
nas
ou
e
de
a
consumidores
diversidade
nativa,
assim
de
das
uma
como
a
nas comunidades. Uma espécie exótica
que
apresente
produção
de
grande
ou
Espécies invasoras podem iniciar,
prolongado display pode exercer grande
aumentar ou suprimir eventos como fogo
impacto em espécies nativas se ela for
e
recursos
grande
florais,
com
Características físicas
erosão,
alterando
assim
as
características físicas do ambiente [30].
8
UNICAMP - PG Ecologia
D’Antonio
e
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
Vitousek
(1992)
[31]
2008 - Seminários
Por outro lado, lugares invadidos pelo
sugerem que invasões de espécies de
arbusto
gramíneas
alterações
também apresentaram um aumento na
irreversíveis no regime de fogo em
quantidade de matéria disponível para
regiões
ocorram
queimadas, porém, o conteúdo de matéria
razão
úmida também foi significativamente
superfície/volume dessas espécies e a
maior, o que resultou em resultados
típica acumulação de biomassa morta
semelhantes em comunidades invadidas e
elevam a probabilidade de incêndio em
intactas com relação a queimadas [30].
podem
onde
periodicamente.
resultar
queimadas
A
alta
ambientes onde gramíneas não eram
australiano
Alterações
Acacia
na
saligna
geomorfolgia
abundantes. Hughes et al., (1991) [32]
também são decorrentes da chegada de
afirmam que as gramíneas invasoras
espécies invasoras. Macdonald & Cooper
criam uma cobertura homogênea quando
(1995) [34] observaram que a chegada da
comparada com a floresta nativa, o que
planta
promove maiores velocidades nos ventos
meamsii em ecossistemas da África do
e,
maior
Sul estava relacionada a uma maior
propagação do fogo. Promoção do fogo
erosão nas margens de rios devido a um
por invasores também são observadas em
baixo investimento no sistema radicular e
ecossistemas onde invasões de especies
raízes menos profundas em comparação
lenhosas ocorreram. Van Wilgen &
com as espécies nativas. De modo
Richardson (1985) [33] estudando o
contrário, espécies invasoras também
ecossistema
arbustiva
podem ocasionar uma maior estabilidade
Fynbos, na África do Sul, verificaram que
em substratos perturbados. Espécies de
a espécie invasora Hakea sericea, um
crescimento clonal que se ramificam por
arbusto nativo da Austrália, aumenta a
estolões ou rizomas são bem sucedidas na
quantidade de matéria disponível para as
estabilização de substratos perturbados ou
queimadas e diminui a quantidade de
móveis. Essa estabilização, por sua vez,
matéria úmida. Como resultado, os
pode levar a taxas de sucessão aceleradas
autores observaram maiores taxas de
resultando em um rápido acrescimo de
propagação do fogo em áreas invadidas
espécies na comunidade e, dessa forma,
consequentemente,
de
uma
fisionomia
invasora
australiana
Acacia
quando comparadas com áreas intactas.
9
UNICAMP - PG Ecologia
podendo
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
elevar
a
sua
riqueza
e
diversidade.
2008 - Seminários
outras espécies exóticas. No entanto,
encontraram aumento em cobertura e
espécies nativas que antes eram raras se
Motoristas ou passageiras de mudanças
tornaram dominantes, porém 36 das 79
no habitat?
espécies
MacDougall e Turkington (2005) [34]
modificação
realizaram um trabalho em uma região da
decréscimo na ausência das invasoras. Os
Columbia Britânica no Canadá. Os
autores encontraram que as espécies
pesquisadores partem da hipótese de que
nativas têm baixa dispersão, devido à
se sistemas invadidos também sofrem
ausência de seus dispersores no local.
impactos
a
Ainda as gramíneas invasoras suprimem
dominância exótica pode ser menos
o fogo (comum na savana britânica
devido à competição do que se supõe.
devido atividades antrópicas) por manter
Portanto a remoção das espécies exóticas
o
não deveria impactar as espécies nativas,
germinação de plantas nativas. Além
já que outros fatores, que não a presença
disso, nas parcelas houve estabelecimento
dessas espécies limitaria as espécies
de plântulas de espécies arbóreas, que
nativas. O local foi invadido pelas
antes não se encontravam na savana,
gramíneas Poa pratensis e Dactylis
assim, a presença das gramíneas coíbe a
glomerata que são abundantes na região,
arborização dessa savana, o que é comum
mas que são em grande parte plantadas
em savanas impactadas. Os autores
pela população. Dessa forma, os autores
argumentam que a presença ou ausência
argumentam que a dominância dessas
das espécies invasoras gera um “trade-
plantas pode se dever tanto a sua
off”, uma vez que na presença das
capacidade competitiva quanto ao fato de
invasoras a riqueza de espécies diminui,
ser cultivada. MacDougall e Turkington
mas sem as mesmas o estabelecimento de
removeram as gramíneas de parcelas e as
nativas diminui e essas estariam sujeitas
observaram
ao fogo e a sombra de espécies arbóreas.
por
perda
durante
de
habitat
três
anos,
monitorando 79 espécies de plantas.
solo
não
apresentaram
ou
úmido,
ainda
nenhuma
tiveram
facilitando
ainda
um
a
A
Dessa forma os autores concluem que as
nas
espécies invasoras são “passageiras” de
parcelas, mas foi devido a chegada de
mudanças ambientais e não “motoristas”
riqueza
de
espécies
aumentou
10
UNICAMP - PG Ecologia
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
2008 - Seminários
dessas mudanças. Ou seja, as invasões
Conforme discutido anteriormente, o
são mais conseqüências de uma mudança
estabelecimento de uma espécie exótica
ambiental do que a causa da mudança.
em determinado local somente acontece
após a ultrapassagem de diversos filtros e,
dessa forma, muitas espécies invasoras,
Conclusão
espécie
mais que ocasionarem mudanças drásticas
invasora pode resultar em alterações
no ecossistema, tiram vantagem de
significativas no equilíbrio de uma
alterações
comunidade. Mudanças em propriedades
competitivamente
ecológicas essenciais tais como riqueza
deslocando espécies nativas. Wilcove et
de espécies, ciclagem de nutrientes,
al. (1998) [35] quantificaram dados sobre
produtividade, estrutura da comunidade e
ameaças a espécies e concluíram que a
interações
exemplos
perda do habitat devido à ação humana é
conhecidos de alterações resultantes da
a maior delas. Resultado semelhante foi
invasão de uma espécie exótica. Essa
encontrado
grande quantidade de modificações nos
realizado pela União Internacional para a
processos do ecossistema associada ao
Conservação
declínio no número de espécies nativas
(IUCN, 2003) [36], onde o número de
em locais invadidos tem levado biólogos
espécies ameaçadas por modificações no
e conservacionistas a acreditar que
ambiente devido a atividades antrópicas é
espécies invasoras são responsáveis por
quase seis vezes maior que o de espécies
boa parte das extinções que ocorreram
ameaçadas por espécies invasoras.
A
entrada
de
mutualistas
uma
são
recentemente. Entretanto, a importância
no
ambiente
tornando-se
mais
em
um
de
fortes
e
levantamento
Recursos
Naturais
Assim, é indiscutível que espécies
presumida dos invasores como causa de
invasoras
ocasionem
extinções não é comprovada e baseada
ecossistema
em observações limitadas e inferências
possam ser prejudiciais às espécies
[9].
nativas. Entretanto, uma relação direta
e
que
mudanças
essas
no
mudanças
É provável que a dominância por
entre espécies invasoras e extinções de
espécies exóticas seja uma conseqüência
espécies nativas não pode ser traçada. É
indireta da alteração do hábitat que
provável que, utilizando a definição
resultaria em perda de espécies nativas.
proposta por MacDougall & Turkington
11
UNICAMP - PG Ecologia
Ecologia de Comunidades e Ecossistemas
(2005) [13], espécies invasoras sejam
mais passageiras que motoristas das
mudanças nos ecossistemas. Porém, mais
estudos são necessários para um bom
entendimento
das
conseqüências
de
2008 - Seminários
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