O mundo invadido: Conseqüências atuais das invasões biológicas 1-) Resumo : As invasões de animais e plantas são apontadas hoje como a segunda maior causa de perda de biodiversidade nos ecossistemas naturais do mundo. Infelizmente, quando suas conseqüências se tornam perceptíveis, os danos, na maioria dos casos, já são irreversíveis. O Brasil não está livre desse tipo de problema: são conhecidas no país 126 espécies invasoras, a maioria introduzida intencionalmente, plantas agrícolas e ornamentais e animais de criação, por exemplo. A falta de políticas oficiais de prevenção e de estudos científicos em longo prazo contribui para o agravamento desse quadro. 2-) Justificativa do artigo : O artigo serve de conscientização sobre as invasões biológicas: o que é, como acontecem, porque acontecem, quais suas conseqüências e como podem ser controladas. Deve haver esse tipo de conscientização devido à necessidade da implantação das soluções de controle biológico em algumas regiões e ao mesmo tempo os problemas que causam ao serem mal utilizadas. As invasões biológicas constituem no estabelecimento de espécies vegetais ou animais, vindos de outras regiões, sendo assim denominadas exóticas, em ecossistemas naturais ou manejados pelo homem, e seu posterior alastramento, de forma que passem a dominar o ambiente e a causar danos às espécies originais e ao próprio funcionamento dos ecossistemas. Em muitos casos, invasões biológicas causam a extinção de espécies nativas. O processo de invasão ele ocorre em três etapas: a-) Estabelecimento b-) Expansão c-) Saturação O estabelecimento é uma etapa crítica e demorada, porque a espécie invasora se adapta aos poucos às novas condições ambientais. Na maioria dos casos, as invasões são iniciadas por poucos indivíduos, e as populações que estes formam, ainda pequenas, podem ser extintas antes que consigam se estabelecer com sucesso. As espécies invasoras bem-sucedidas na fase de estabelecimento geralmente apresentam, em comparação, com as espécies nativas, características como maior fertilidade, maior taxa de sobrevivência devido à ausência de predadores naturais, grande capacidade de dispersão, maior eficiência na exploração dos recursos comuns e reprodução vegetativa. Da mesma forma, existem ambientes mais suscetíveis às invasões, como os isolados e com baixa riqueza de espécies, os que têm meio físico semelhante ao das áreas de origem dos invasores e aqueles perturbados. A etapa de expansão das espécies invasoras se caracteriza pela sua distribuição geográfica para hábitats favoráveis circundantes. Essa etapa é classificada em 3 tipos, em função da razão, entre distância percorrida e tempo. No primeiro tipo, o invasor amplia sua distribuição geográfica a uma velocidade constante em todas as direções, como ondas provocadas por uma pedra caindo na água. No segundo a expansão tem duas fases distintas: é lenta, no início, mas em seguida e torna mais rápido. No terceiro tipo a taxa de expansão geográfica cresce de modo contínuo com o tempo, ou seja, a invasão é cada vez mais acelerada. A última etapa do processo é a saturação, que acontece quando o invasor chega a um limite geográfico ou não há mais habitat favorável. As nativas que, por algum processo de distúrbio, aumentam sua área de distribuição, são chamadas oportunistas e entram em sistemas de manejo em que se testa, em blocos experimentais, sua reação a práticas de controle e se verifica a resposta do ambiente. Se a biodiversidade nas áreas de controle aumentar, o manejo segue acontecendo. Caso negativo, outras hipóteses são testadas. O importante é que essas espécies, ao contrário das exóticas invasoras, nunca são alvo de erradicação, apenas se busca reequilibrar suas populações no meio natural. Atualmente, as invasões biológicas têm causas diversas. Muitas espécies são levadas a outras áreas pelo homem para serem empregadas em atividades econômicas como: a-) agricultura : é o conjunto de técnicas utilizadas para cultivar plantas com o objetivo de obter alimentos, fibras, energia, matéria-prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas, ou apenas para contemplação estética. b-) pecuária : É a arte ou conjunto de processos técnicos usados na domesticação e produção de animais com objetivos econômicos, feita no campo. Assim, a pecuária é uma parte específica da agricultura. c-) piscicultura : refere-se ao cultivo de peixes, que podem ser de água doce, salobra ou salgada. O mesmo ocorre com os animais de estimação obtidos através do contrabando de animais ou com as plantas ornamentais. Outros podem ser transportados acidentalmente na água de lastro de navios ou através das estradas e em aviões ( inclusive por turistas ). Agricultura é, historicamente, um fator importante de disseminação de espécies. No Brasil, por exemplo, muitas das principais culturas agrícolas têm origem em outras regiões do mundo, como trigo ( proveniente da Ásia ), o arroz ( das Filipinas ), a cana-de-açúcar ( da Nova Guiné ) e a soja ( da China ). As conseqüências da invasão por espécies exóticas dependem de cada situação. Alguns impactos são mais comuns e generalizados, outros variam com as condições de cada local. De forma genérica, pode-se afirmar que ocorre: · Ocupação do espaço de espécies nativas, levando ao seu deslocamento, à perda de populações ou espécies. · Modificação estrutural do ambiente (ecossistemas). · Perda de biodiversidade local ou regional. · Quebra de ciclos ecológicos naturais e da resiliência dos ambientes naturais. · Deslocamento de exemplares da fauna, quebra de processos ecológicos como cadeias alimentares e polinização. · Modificação da paisagem. No caso de plantas invasoras, as conseqüências podem ser alterações no regime de fogo, no ciclo hidrológico, da quantidade de água no solo, na composição e disponibilidade de nutrientes, na sucessão de espécies, nas relações entre as plantas nativas e polinizadoras, no banco de sementes e na fitofisionomia da região invadida, entre outros aspectos. As conseqüências finais do processo de invasão são, além dos citados acima, as alterações funcionais nas cadeias alimentares e nas comunidades animais e vegetais. Quando uma invasão é identificada, seu controle pode ser mecânico, através de caça, coleta e outras formas; químico, com herbicidas, inseticidas etc.; e/ou biológico, por meio da invasão planejada. O controle mecânico é efetivo e ajuda a chamar a atenção do público para o problema. Na maioria das vezes, seus principais problemas são a dificuldade de encontrar a espécie alvo e o custo associado, se a espécie já ocupa grandes áreas. Já os controles químicos normalmente envolve uso de herbicidas contra pestes agrícolas, mas soa perigosos para humanos e para outras espécies. Por último vem o controle biológico que é eficiente quando bem executado, entretanto, é muito difícil erradicar uma espécie invasora, o que em geral só é possível com detecção precoce e rápido investimento econômico. 3-) Discussões : As invasões biológicas estão sendo estudadas por afetarem um ecossistema natural, geralmente alterando seu equilíbrio negativamente. A primeira coisa que deveria ser feita é não afetar nenhum ecossistema, e se afetar, mesmo tendo uma razão, procurar minimizar as consequências. A importância de minimizar os efeitos de uma invasão, isto é, quando identificados, é que o estudo para controle das conseqüências além de trabalhoso é complicado, estando aquém da capacidade de compreensão de alguns pesquisadores. Se tudo mais falhar e o ecossistema estiver desequilibrado, pode-se tentar controlar uma invasão utilizando ou não uma “contra-invasão”. Para isso deve ser estudado o caso do ecossistema afetado como um TODO e não só o invasor, como acontece em muitas ações impensadas, podendo causar mais problemas que anteriormente. Uma preocupação recente, com relação à invasores biológicos, é a avaliação do potencial invasor de organismos geneticamente modificados ( OGMs ) ou seja, os quais foram introduzidos genes de outras espécies, visando dotá-los de alguma característica que não tinham. Falta estancar processos de fomento a espécies exóticas invasoras sem parâmetros ambientais que garantam a proteção dos ecossistemas naturais, desde o uso de espécies florestais até a criação de peixes e mamíferos. A avestruz, introduzida no país para fins de criação, traz consigo parasitas que fazem adoecer as emas, nativas que poderiam suprir a mesma função. Investe-se muito capital na criação, por exemplo, de plantas resistentes à pragas e pesticidas, ou que sejam mais produtivas e/ou nutritivas, e já existe grande variedade de alimentos ( conhecidos como transgênicos ) obtidos a partir delas, soja e milho geneticamente modificados já fazem parte de produtos vendidos em qualquer supermercado. Uma questão, porém, continua sem resposta: o quanto essas plantas podem ser prejudiciais aos ecossistemas naturais ? Apenas com um estudo de longo prazo será possível entender o potencial invasor de cada organismo modificado. No Brasil a análise de liberação da produção e da comercialização desses organismos cabe à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança ( CTNBio ). 4-) Conclusões : A melhor maneira de tratar invasões biológicas é não permitir novas introduções e invasões por espécies que já têm histórico de invasão em algum lugar do planeta, ou seja, colocar em prática o princípio da precaução que rege a legislação ambiental no Brasil. Em segundo lugar, a maior eficiência em combater invasões é a detecção precoce e erradicação imediata. Não vale a pena esperar para ver se de fato vai ocorrer invasão: quando a mesma é amplamente constatada, em geral é tarde demais para reverter a situação. Foram identificadas, até agora, no Brasil 126 espécies invasoras vindas de outros países ou de regiões internas sendo elas: o 40 espécies de animais terrestres; o 68 de vegetais terrestres; o 18 de animais aquáticos. Podemos dizer que as espécies invasoras são relativamente generalistas em vários aspectos de suas necessidades ecológicas. Essa é uma das razões de seu sucesso na colonização e proliferação em novos ambientes, nos quais entram naturalmente ou para onde são levadas, de modo acidental ou proposital. As espécies invasoras tendem a desequilibrar o sistema, afetando negativamente a flora e a fauna locais – em geral ocorre redução das populações das espécies nativas, com risco, muitas vezes, de extinção. No Brasil, houve extinção de mais de 45 espécies nativas, além de surgir endemias originárias de outros países como a dengue. Os problemas associados à introdução de espécies em ambientes onde antes não existiam constituem hoje uma questão importante na área da conservação da biodiversidade. Em vários países, os efeitos negativos de espécies invasoras e a preocupação com a preservação da fauna e da flora nativas têm levado a extensos programas de controle e erradicação de animais e plantas trazidos de outras áreas. No Brasil, esse problema começou a ser tratado com mais atenção em 2005, quando ocorreu o 1º Simpósio Brasileiro sobre Espécies Exóticas Invasoras. Nesse evento, pessoas da área e governantes discutiram meios e metas para entender e solucionar o problema relacionado às espécies invasoras. O resultado desse Simpósio foi a publicação do livro “Espécies Exóticas invasoras: situação brasileira”, cujos autores foram membros do Ministério do Meio Ambiente. O livro trata de assuntos como definição de espécies invasoras e da distribuição dessas espécies no território nacional, com isso serão feitas novas políticas de prevenção, controle e erradicação de espécies exóticas invasoras desenvolvidas pelo governo federal. A invasão e ocupação de diferentes áreas por espécies exóticas acentuaram-se há muitos anos e hoje é um grave problema global de conservação. A expansão e os deslocamentos da população humana levaram a uma maciça introdução de espécies em áreas onde não existiam, em um processo de globalização da flora e da fauna, sem que fossem avaliadas as conseqüências. A degradação ambiental decorrente das invasões biológicas fez com que esse problema fosse considerado um dos principais agentes de mudanças globais de causas humanas. Entretanto, a grande parte dos países que sofrem com esse problema não percebeu o quão importante é e deve ser tratado com um objetivo comum, pois é de âmbito mundial.