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A UTILIZAÇÃO DE UM ATLAS GEOGRÁFICO MUNICIPAL PARA A
CONSTRUÇÃO E REFLEXÃO DE CONCEITOS BÁSICOS EM GEOGRAFIA
Anderson Monteiro Sopelsa1
Cesar De David2
Resumo:
Em geografia, assim como nas demais ciências, a compreensão de conceitos básicos torna-se
imprescindível no processo de ensino e aprendizagem. Estes conceitos alicerçam o
conhecimento, formando o chamado instrumental teórico. A construção deste arcabouço
teórico é fundamental para o processo educacional, pois balizará a análise e reflexão dos
diversos espaços e contextos geográficos, por mais distantes e abstratos que estes se
apresentem. Dada a importância da construção destes conceitos, é essencial encontrar formas
de torná-la acessível e exitosa. Neste sentido, trabalhar com a escala local, ou seja, o lugar
percebido e vivenciado pelo educando é fundamental. O lugar é real, palpável, passível de
observação direta, tornando-se assim um enorme e inesgotável recurso didático. Com o estudo
e a reflexão desta realidade, deste espaço cotidiano, adquire-se o supracitado instrumental
teórico necessário à compreensão de outros espaços. Algumas visitas a escolas e entrevistas
com os professores da rede de ensino de Gramado Xavier - RS, alertaram para a enorme
carência de instrumentos didáticos geográficos voltados ao lugar, essenciais na formação dos
educandos, pois trabalham com o concreto e servem de ponte para o estudo global. Este
pequeno e recente município, localizado na Microrregião de Santa Cruz do Sul, possui
características predominantemente rurais, tendo na agricultura seu motor econômico. Esta
realidade, compartilhada com a maioria dos municípios gaúchos, demanda uma educação que
ensine e reflita o espaço rural, ou seja, que se utilize da riqueza de elementos que a relação
sociedade-natureza nos oferece. Esta constatação motivou a construção de um Atlas
geográfico totalmente voltado à realidade municipal, denotando diversos temas e buscando
assim aproximar o estudo de geografia à realidade dos alunos. Deste modo, busca-se auxiliar
a construção e reflexão dos conceitos básicos em geografia, tornando o educando conhecedor
e consciente do espaço do qual é produto e produtor.
Palavras-chave: Ensino\aprendizagem. Geografia. Atlas escolar.
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Acadêmico do Curso de Geografia – Licenciatura/CCNE/UFSM – Autor; E-mail: [email protected]
Prof. Adjunto do Depto de Geociências/CCNE/UFSM - Orientador
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Introdução
Em geografia, assim como nas demais ciências, a compreensão de conceitos básicos
torna-se imprescindível no processo de ensino e aprendizagem. Estes conceitos alicerçam o
conhecimento, formando o chamado instrumental teórico. A construção deste arcabouço
teórico é fundamental para o processo educacional, pois balizará a análise e reflexão dos
diversos espaços e contextos geográficos, por mais distantes e abstratos que estes se
apresentem.
Desta maneira, dada a importância da construção destes conceitos básicos, torna-se
fundamental encontrar formas de torná-la acessível e exitosa. A escala de estudo, por
exemplo, é determinante na formulação destes conceitos. Trabalhar com a escala local, ou
seja, o lugar percebido e vivenciado pelo educando é determinante neste processo. O lugar é
real, palpável, passível de observação direta, tornando-se assim um enorme e inesgotável
recurso didático. Com o estudo e a reflexão desta realidade, deste espaço cotidiano, adquire-se
o supracitado instrumental teórico necessário à compreensão de outros espaços.
Os recursos didáticos possuem importância capital na construção destes conceitos,
pois em muitos casos além de ilustrar e auxiliar, eles norteiam o processo educacional.
Ressalta-se assim, o pressuposto básico de que a educação deve estar em sintonia com a
realidade vivida pelo educando, ou seja, não se pode, por exemplo, estudar em uma escola
rural utilizando-se unicamente de livros e recursos didáticos voltados à realidade urbana. A
escassez de recursos voltados à realidade local dificulta o processo de ensino e aprendizagem,
pois não se reconhecem as diferentes demandas de cada realidade educacional e assim
distancia-se a escola da vida.
Algumas visitas a escolas e entrevistas com os professores da rede de ensino de
Gramado Xavier, Rio Grande do Sul, alertaram para a enorme carência de instrumentos
didáticos geográficos voltados ao lugar, essenciais na formação dos educandos, pois
trabalham com o concreto e servem de ponte para o estudo global. Este pequeno e recente
município, localizado na Microrregião de Santa Cruz do Sul, possui características
predominantemente rurais, tendo na agricultura seu motor econômico. Esta realidade,
compartilhada com a maioria dos municípios gaúchos, demanda uma educação que ensine e
reflita o espaço rural, ou seja, que se utilize da riqueza de elementos que a relação sociedadenatureza nos oferece.
A utilização de um Atlas escolar totalmente voltado à realidade municipal, denotando
sua cobertura vegetal, seus recursos hídricos, sua estrutura populacional, seus problemas
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ambientais, para citar alguns exemplos, aproxima o estudo de geografia à realidade do aluno.
Desta maneira, torna-se mais compreensível o tema estudado e, por conseguinte, mais
acessível a construção e a reflexão dos conceitos básicos a esta ciência. O estudo do lugar
torna mais fácil a compreensão das relações sociais e da dinâmica espacial, pois estas se
desenvolvem numa escala vivenciada pelo aluno.
A constatação da escassez de recursos didáticos voltados a realidade local, motivou a
construção de um Atlas Geográfico Municipal. Neste contexto, este artigo visa apontar os
resultados parciais da experiência obtida com a construção – em andamento – do Atlas
Geográfico Municipal, direcionado ao ensino fundamental e médio, buscando atender as
demandas locais.
Bases teóricas
A geografia constitui-se numa ciência fundamental para a reflexão e o entendimento
da realidade na qual se está inserido. Desta maneira, ela auxilia o educando na compreensão
do seu espaço, ajudando-o a construir conceitos, sistematizar seus conhecimentos e a
assimilar os produtos científicos da humanidade (Souza, 2001, p.33).
Neste sentido, a utilização da cartografia tem importância basal, pois possui uma
função intrínseca à ciência geográfica, ou seja, é capaz de fazer interagir os fenômenos com
seu espaço de ocorrência, contribuindo para o estudo da dinâmica espacial. Neste contexto,
Souza acrescenta que:
[...] o entendimento do mapa como meio de comunicação de diversas
realidades territorializadas ou como linguagem utilizada no ensino de
Geografia pode também auxiliar em nossa reflexão sobre a função
deste último, que seria a compreensão do espaço geográfico ou [...] o
entendimento e desvelamento da lógica da distribuição e
diferencialidade territorial dos fenômenos (2001, p.123).
Dada a importância, anteriormente citada, da cartografia para o estudo de geografia,
deve-se conceituar o termo e, para tanto, utilizar-se-á a definição da Associação Cartográfica
Internacional, datada de 1966, e posteriormente ratificada pela UNESCO:
a cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações
científicas, técnicas e artísticas, que tendo por base os resultados de
observações diretas ou da análise de documentação se voltam para a
elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou
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representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e
socioeconômicos, bem como a sua utilização.
Em uma outra definição, aproximando a cartografia de seu vínculo geográfico das
relações sociais articuladas à natureza, o cartógrafo russo Salichtchev (1988, p.22) cita esta
como a “Ciência que retrata e investiga a distribuição espacial dos fenômenos naturais e
culturais, suas relações e suas mudanças através do tempo, por meio de representações
cartográficas [...]”, ou seja, nesta definição a cartografia torna-se além de um instrumento de
representação, ou retratação, do espaço, uma ciência preocupada com a investigação da
dinâmica espacial.
Nos Atlas Geográficos são utilizados largamente os mapas temáticos, que têm a
finalidade de comunicar, através de uma simbologia apropriada, determinados fenômenos
naturais e sociais em um dado espaço. Estes mapas possuem uma variada gama de utilidades
no ensino da geografia, pois portam uma incrível capacidade de comunicação, sintetização de
informações, espacialização de dados, etc. Desta maneira, servem como ferramenta para o
aluno compreender e refletir o seu espaço, a sua realidade, visto que “a representação do
espaço através de mapas permite ao aluno atingir uma nova organização estrutural de sua
atividade prática e da concepção do espaço” (Almeida; Passini, 1989, p.15).
O Atlas Geográfico trabalha diretamente com o espaço e sua dinâmica. O objeto de
estudo primordial da geografia é o espaço, pois este é componente das sociedades, ou seja, “o
espaço não é uma extensão preexistente, mas sim constituído pelas coisas. Cada elemento tem
um valor relacionado a outros elementos. Assim as coisas não estão no espaço, mas são elas
mesmas, espaço” (Fonseca; Oliva, 2004, p.72).
O pertencimento ao espaço torna significativo e facilita a efetivação do seu estudo e
reflexão, principalmente no âmbito escolar. A identidade e a dimensão de pertencimento se
dão através dos vínculos afetivos que ligam as pessoas aos lugares, às paisagens. Desta
maneira, faz com que nos sintamos parte do espaço no qual estamos inseridos, pois a
construção deste é a nossa própria história, nossos hábitos, nossos usos, ou seja, nossa cultura.
(Callai, 2000, p.84).
A construção e reconstrução do espaço a partir do trabalho produz um espaço
descontínuo, caracterizado por suas nuances, ou seja, produzido a partir de diferentes
técnicas, em diferentes tempos, gerando, por conseguinte, diferentes espaços. Contudo, estes,
de maneira alguma, estão desvinculados, pelo contrário, fazem parte de uma imensa rede em
interação. Assim, de acordo com Santos (1997, p.5), apesar da totalidade espacial, o estudo do
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espaço fragmentado possibilita uma análise parcial, de cunho didático, que permite sua
compreensão mais aprofundada, remetendo-se posteriormente a reconstituição daquela
totalidade.
O estudo do lugar aborda a realidade vivida do educando, portanto trabalha com seu
espaço concreto. Assim, Callai (2000, p. 83) cita que a geografia deixa de tratar apenas com
fenômenos distantes, que ocorrem a redor do mundo e escapam a cotidianidade do educando,
passando a trabalhar temas que ocorrem em seu lugar vivenciado, vinculando-os assim a
outras escalas de análise.
Nesse sentido, o estudo do lugar se faz significativo uma vez que trabalha com a
dimensão de pertencimento, com a identificação do aluno perante seu espaço de ação.
Contudo, isto não significa ignorar outras escalas de análise, pelo contrário:
Cada fenômeno estudado deve considerar sempre que tal como ele se
apresenta não esgota todas as possibilidades de explicações. Muitas
vezes, a explicação de algo muito próximo está distante noutro nível
de escala. Portanto, ao estudar o local, não se pode perder de vista o
regional, o nacional e o mundial. Este movimento faz da análise de
qualquer fenômeno, ou mesmo de algum espaço, a diferenciação
necessária e a amplitude de tratamento das questões. Supera-se a
simples descrição e o tratamento simplório, ao buscar referências
maiores que permitam entender o fenômeno em uma distância que é a
própria vida. (Callai, 1998, p.74)
Neste contexto, o trânsito entre escalas – local/global – deve estar inserido na prática
educacional, pois possibilita a reflexão e a construção efetiva dos almejados conceitos
básicos. A globalização e a conseqüente amplificação das trocas a nível mundial, facilitada
por incrementos nos transportes e comunicações, tornou o mundo mais dinâmico e
interdependente. Deste modo, para se entender um espaço próximo devemos observar suas
relações com outros espaços, em diferentes escalas. Assim, o aluno, analisando o espaço
local, o concreto, terá condições de refletir, de construir conceitos e assimilar a
interdependência dos lugares (Almeida; Passini, 1989, p.12-13).
Conforme o exposto, o estudo do município, como a menor unidade políticoadministrativa, facilita e dinamiza o estudo do lugar. O município encerra condições para se
compreender localmente relações que se dão a nível global, ou seja, será possível a partir dele
refletir como os homens se organizam, como se apropriam da natureza, como se relacionam
entre si e com outros lugares, quais os fluxos externos têm influência local, etc. Portanto, este
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local estudado deve ser entendido como uma pequena parte do mundo, afinal o global é uma
imensa trama de locais inter-relacionados.
O espaço de ação do educando é o município e, por conseguinte ele deve conhecê-lo.
Neste sentido Callai conclui que:
Estudar o município tem pelo menos duas vantagens: o aluno tem
condições de reconhecer-se como cidadão em uma realidade que é sua
vida concreta, apropriando-se das informações e compreendendo
como se dão as relações sociais e a construção do espaço. A outra
vantagem é pedagógica, pois, ao estudar algo que é vivenciado pelo
aluno, são muito maiores as chances de sucesso, de se tornar um
aprendizado mais conseqüente. (1988, p.75)
Conforme o citado acima, o estudo do município é capaz de conduzir o aluno a
reconhecer-se como cidadão, como parte integrante da sociedade na qual está inserido. Isto é
fundamental para a efetiva formação do aluno consciente e crítico. Os assuntos do cotidiano,
do espaço vivido pelo aluno, impedem que o estudo da geografia caia na abstração. Portanto,
para o efetivo exercício da cidadania devemos conhecer e entender a realidade na qual
estamos inseridos, ou seja: a local. Assim, “somos cidadãos brasileiros, mas agimos,
exercemos nossa cidadania no lugar em que vivemos, no município, que é em geral o nível
local e é nele que nos conhecemos, trabalhamos, vivemos” (Callai, 1998, p.75).
Baseado nisso, ao perceber o espaço cotidiano, estamos construindo um conhecimento
concreto, pois de acordo com Santos:
O ato de perceber ultrapassa os sentidos e ganha a razão. É assim que
se opera a metamorfose do sensorial, mudado em conhecimento. Este
se alimenta da relação entre sujeito e objeto, relação em que este,
permanecendo o que é e interagindo com o sujeito, contribui para que,
nessa interação, o sujeito evolua. É nessa mesma evolução que
permite revisitar o objeto, vendo-o de forma nova, despojando-o dos
símbolos que escondem a sua realidade profunda. É a vitória da
individualidade, da individualidade forte que ultrapassa a barreira das
práxis repetitivas e se instala em uma práxis libertadora (1998, p.52).
Desta maneira, fica evidente a importância do efetivo estudo do município, como a
realidade do lugar do educando, sendo que este estudo propiciará o entendimento de uma
lógica muito mais complexa e abstrata: o espaço global.
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A metodologia
A utilização de um Atlas Geográfico Municipal como material de apoio à reflexão e
construção de conceitos em geografia, mostra-se bastante oportuna quando em consonância
com o método dialético. Este método torna-se importante uma vez que concebe mundo, e, por
conseguinte a trama de espaços locais, como inacabado, como dinâmico, em constante
processo de transformação, portanto, a representação desse espaço, além de seu caráter
parcial, também se mostra momentânea. A dialética, neste caso, é usual por tratar os
elementos da realidade como partes interdependentes de um todo, organizados de tal forma
que uma ação não acontece isolada, pelo contrário, influencia-os reciprocamente em
diferentes níveis. Em um Atlas analisam-se diferentes temas como hidrografia, relevo e
agricultura, contudo não se pode perder de vista sua conexão essencial aos elementos do meio
ao qual estão inseridos. Deve-se sim, priorizar as formas de análise integrada, bem como seu
caráter transitório, ou seja, de constante transformação.
A idéia de produção de um Atlas Geográfico de Gramado Xavier iniciou-se a partir
das entrevistas e da constatação da escassez de recursos didáticos geográficos voltados a
realidade local. Desta maneira, começou-se a construção a partir da busca de materiais e do
levantamento de dados referentes às mais diversas áreas do município, como por exemplo, a
agricultura, o relevo e a saúde. Conjuntamente, foram elaborados os materiais cartográficos,
ressaltando-se temas locais e utilizando-se, além dos mapas, alguns gráficos, textos e
fotografias (feitas durante as diversas saídas a campo realizadas no município). Com a
elaboração de alguns temas, foram sendo feitas avaliações junto a alguns professores e a
comunidade do município. O projeto será finalizado com a publicação do Atlas e sua
distribuição nas escolas municipais. Também serão realizados alguns encontros com os
professores a fim de sugerir algumas formas de utilização do material produzido em sala de
aula.
Desenvolvimento do projeto
O desenvolvimento do projeto iniciou-se em setembro de 2005. Passado quase um
ano, já se efetivou muito do que foi inicialmente proposto. Neste período, foram consultadas
diversas bibliografias, a fim de formar o referencial teórico necessário. Contudo, neste
momento inicial constatou-se uma enorme escassez de bibliografias específicas, tendo que se
recorrer às mais abrangentes, principalmente as que enfocam a realidade regional. Também se
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constatou, a partir de visitas às escolas e entrevistas com os professores, a escassez quase total
de materiais cartográficos, principalmente voltados à realidade local, sendo que os existentes
em algumas escolas reduzem-se a mapas incompletos e reproduzidos em mimeógrafo. Esta
realidade torna-se preocupante quando se observa que muitos dos recursos utilizados são
voltados a outros espaços, totalmente distintos daquele vivenciado pelo educando.
As entrevistas acima citadas foram fundamentais para o esclarecimento da situação do
ensino do lugar no município. Gramado Xavier possui 18 escolas, sendo uma estadual e o
restante municipal, nelas estudam 948 alunos. A escola estadual, localizada na zona urbana, é
a única com ensino médio. As escolas municipais localizam-se no interior do município,
geralmente nas sedes das localidades, junto à igreja e ao salão comunitário. Estes dados
evidenciam a configuração essencialmente rural do município, que possui em sua zona urbana
apenas 382 habitantes (IBGE, 2000). Esta configuração espacial local deve ser o ponto de
partida para a objetivada construção e reflexão dos conceitos básicos em geografia. Neste
caso, o Atlas municipal apresenta-se como o instrumento, o recurso que, simbolicamente,
representa este espaço de ação.
Nas séries iniciais do ensino fundamental, além dos professores lecionarem todas as
disciplinas, é freqüente, nas escolas municipais, reunir os alunos em uma mesma sala, o
sistema multiseriado. Esta é uma realidade bastante freqüente no município, onde
predominam as escolas rurais que, apesar de bem distribuídas no território, não possuem
número suficiente de alunos para individualizar as séries. Foi constatado também que a
formação dos professores é bastante variada e que poucos dos que lecionam geografia
(estudos sociais, nas séries iniciais) possuem esta formação. Este fato evidencia a necessidade
de recursos didáticos específicos à realidade municipal. Com estes instrumentos tornar-se-ia
mais fácil a busca por temas a serem tratados e o desenvolvimento de atividades com os
educandos, já que estes, segundo os professores entrevistados, possuem um elevado interesse
por temas locais.
A geografia do lugar, ou seja, do município, é abordada na terceira série do ensino
fundamental e retomada na quinta. Além destas séries, alguns professores afirmaram trabalhar
o lugar cotidianamente, recorrendo a exemplos, debatendo fatos, esclarecendo fenômenos, etc.
A utilização do lugar como base da reflexão geográfica, como já foi citado, é essencial na
construção do instrumental teórico e sua recorrência nos diversos assuntos trabalhados
demonstra, na prática, um dos pressupostos do processo de ensino e aprendizagem da
geografia, que seria a transição local/global e global/local, necessária ao entendimento das
diversas realidades como integradas e interdependentes.
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Os recursos cartográficos existentes nas escolas do município reduzem-se ao mapa
setorial, ao mapa hidrográfico, ao mapa de relevo, a planta urbana e a um pequeno histórico
somado a alguns dados de população. Cabe ressaltar que estes são todos os recursos citados
pelos professores durante as entrevistas, sendo que muitos deles possuem apenas um ou dois
destes instrumentos. Quanto aos temas abordados no estudo do município, notou-se uma
concentração nos temas físicos, ficando os humanos geralmente em segundo plano. Alguns
dos temas tratados são, por exemplo, localização, orientação, hidrografia, relevo e escala.
Quanto à cartografia do lugar, alguns professores afirmaram que inicialmente a
abordam através de atividades em que o aluno assume o papel de mapeador, e posteriormente,
de leitor do seu espaço cotidiano. Neste processo, o aluno mapeia a sala de aula, a sua casa e o
caminho dela até a escola. Este tipo de atividade, como já foi salientado, é muito importante.
Contudo, nota-se a dificuldade de vincular-se este lugar mapeado e vivenciado, ao contexto
municipal ou regional devido à escassez de materiais cartográficos apropriados. Segundo
alguns professores, os recursos existentes no município encontram-se bastante fracionados,
não havendo uma organização ou sistematização dos mesmos.
A escassez de recursos didáticos constatada, e acima relatada, motivou a construção de
um Atlas Geográfico Municipal, como um instrumento auxiliar de mediação entre o
educando, seu espaço e a ciência. A produção do Atlas iniciou-se com a confecção do mapa
base digital, obtido a partir de Cartas Topográficas do Exército Brasileiro. Este procedimento
possibilitou e possibilita a construção de inúmeros mapas temáticos, como por exemplo, mapa
hidrográfico, mapa das vias e o mapa dos setores. Na seqüência iniciaram-se as saídas a
campo e o levantamento de dados. Nas saídas de campo percorreu-se boa parte dos 400 km de
estradas do município, a fim de se observar a paisagem, tirar fotografias e conversar com os
habitantes das comunidades. Esta atividade foi muito valiosa, pois possibilitou o contato com
a realidade local, expressa na sua natureza, na sua gente, nos seus costumes, nos seus hábitos,
etc. O levantamento de dados foi efetivado através de visitas às secretarias municipais,
escolas, igrejas, sindicatos e diversas outras instituições, que foram fundamentais no
fornecimento de dados acerca dos temas municipais.
Os dados obtidos através dos trabalhos relatados acima permitiram o início da
elaboração do Atlas. A organização dos temas a serem abordados, bem como os principais
dados a serem inseridos, foi elaborada previamente, antes mesmo da obtenção destes. Desta
maneira, com os dados em mãos, iniciou-se a construção do Atlas. Primeiramente foi
elaborado o tema localização, onde o município de Gramado Xavier foi localizado no
contexto regional, nacional, americano e mundial. Nesta seção também foram demonstrados
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os diferentes agrupamentos regionais nos quais Gramado Xavier esta inserido, como o
Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE), por exemplo. Juntamente com os
mapas, foram inseridos textos didáticos que auxiliam na compreensão do tema.
O segundo tema abordado foi a formação ou ocupação e humanização do território de
Gramado Xavier, onde esta foi relatada desde os primeiros indígenas a habitarem o território,
passando pela chegada dos colonos até os dias atuais, dando-se ênfase à formação do
município. Para esta seção foram utilizados fotos e mapas que recontam a história do
município. Os temas posteriores, já elaborados, consistem em hidrografia, relevo, clima e
vegetação. Estes temas formam abordados de maneira a incentivar a consciência ambiental
nos educandos e a necessidade de entenderem o meio ambiente como recurso essencial a
nossa vida. Outro ponto importante na abordagem destes temas foi a tentativa de humanizálos, pois eles são tradicionalmente entendidos como físicos e até mesmo são abordados de
maneira desconexa aos temas humanos. A construção do Atlas encontra-se agora na parte em
que serão abordados temas como população, saneamento básico, religião, saúde, educação,
órgãos públicos, economia, cultura e espaços de circulação. Os dados para a elaboração desta
parte já foram levantados e também já foi feita a estruturação básica dos temas.
Depois de elaborados, os temas foram apresentados no município. Eles foram
impressos e apresentados a professores, alunos e a indivíduos da comunidade, que avaliaram o
material e teceram sugestões. Neste momento foram feitas críticas muito importantes que
acabaram por inserir novos elementos a idéia inicial, aproximando o trabalho dos anseios da
sociedade local. Até o momento, a repercussão foi bastante positiva, e o trabalho é visto pelos
professores como muito importante, pois auxiliará no ensino e na aprendizagem do espaço
local.
Considerações finais
A constatação da escassez de instrumentos didáticos que tratam da geografia do lugar,
aliada a falta de formação geográfica da maioria dos professores das séries iniciais, colocou o
estudo do lugar no município de Gramado Xavier em situação delicada. Contudo, durante as
entrevistas observou-se que os professores demonstram um grande interesse em trabalhar os
temas do lugar, mas reclamam da falta de recursos didáticos específicos.
Desta forma, a construção de um Atlas Geográfico voltado à realidade local surgiu
como uma alternativa pertinente e que sem dúvidas acrescentaria muito para o estudo e
reflexão do espaço local na rede de ensino de Gramado Xavier. A idéia foi apresentada a
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alguns professores do município, que a acharam bastante interessante. Posteriormente,
desenvolveu-se o projeto e partiu-se para a elaboração da pesquisa. Os resultados até o
momento têm sido bastante positivos. Os fragmentos do futuro Atlas têm sido apresentados
não só aos professores e alunos, mas também a comunidade em geral, que tem contribuído
com sugestões e opiniões, sempre demonstrando um saudável interesse pelo tema.
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