A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO 1. O CONTEXTO ECONÔMICO INTERNACIONAL DO SÉCULO XIX A acumulação do capital internacional nas mãos da burguesia de alguns países foi responsável pelo desenvolvimento industrial e pela separação das nações em dois grupos, definidos pelo papel que ocupavam na economia internacional. De um lado, os países não-industrializados, exportadores de produtos primários , e que ofereciam mão-de-obra barata; de outro, os países industrializados, exportadores de produtos manufaturados. A essa nova organização do mundo, deu-se o nome de divisão internacional do trabalho. As potências industrializadas especializaram-se em produzir bens de consumo e, no século XIX, necessitavam de matérias-primas, como carvão, ferro e cobre; por isso, um dos objetivos dos países industrializados foi a exploração das regiões onde esses produtos eram abundantes. Os países ricos compravam também grande quantidade de produtos agrícolas, originários dos países não-industrializados. Em geral, eram produtos de boa aceitação no mercado europeu, como café e algodão – produtos tropicais –, cuja comercialização proporcionava grandes lucros, tanto as elites agrárias produtoras quando aos capitalistas dos países consumidores. Havia, ainda, por parte dos grandes capitalistas, outro interesse: a exportação de capitais, feita, geralmente, pela instalação de uma filial em território estrangeiro. Esse era o momento em que o capital deixava de ter nacionalidade e passava a ser internacional. O capitalista passou a aplicar suas reservas onde poderia obter bons lucros, sem se importar com a bandeira sob a qual seu dinheiro se multiplicava. Outra maneira de exportar capital era por meio de empréstimos aos governos dos países pobres. Nesse caso, muitas vezes o empréstimo era seguido de prestação de serviços, por exemplo, a construção de uma ferrovia, o que aumentava ainda mais o endividamento e a dependência econômica do país devedor. Na primeira metade do século XIX, uma nova ordem econômica estava se estruturando. A seguir, vamos analisar que lugar os Estados Unidos e as antigas colônias hispano-americanas, recém-independentes, ocuparam nessa nova ordem internacional. 2. A AMÉRICA E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Em meados do século XIX o mundo estava se polarizando entre os países industrializados, detentores de grande parte do capital internacional e de novas tecnologias, e os países cuja economia continuava presa a atividades primárias (agricultura, pecuária, mineração, extrativismo), dependentes economicamente dos países industrializados. A Guerra de Secessão (1861-1865), nos Estados Unidos da América, muito mais do que uma guerra civil para definir quem governaria a nação, foi uma luta entre dois projetos econômicos que se apresentavam naquele momento: os aristocratas do Sul queriam a permanência da economia agrária; os capitalistas do Norte queriam o desenvolvimento industrial e a integração do país ao grupo dos colonizadores. Como o Norte venceu, houve a aceleração da industrialização e o salto para o grupo dos países industrializados imperialistas; após a sua consolidação como potência industrializada, os Estados Unidos passaram a interferir política e economicamente na América Latina. Durante o processo de independência, a América Latina dava sinais de que aceitaria o papel de codjuvante na economia internacional. As lutas de independência das antigas colônias foram incentivadas pelos capitalistas ingleses, interessados em acabar com o exclusivo comercial (“pacto colonial”) para poder comercializar com os produtores americanos. As elites latino-americanas, ligadas às atividades agroexportadoras, viam vantagens na aliança com o capital estrangeiro e na manutenção da economia nacional atrelada à economia dos países imperialistas. Os benefícios dessa aliança favoreciam o pequeno grupo que formava a aristocracia rural e, o que era muito importante, não permitia a dispersão da riqueza. Os abusos cometidos pelo capital estrangeiro na América Latina contaram com a conivência e participação das elites nacionais; além disso, os aliados – capital internacional e elite nacional – tornaram-se parceiros na repressão aos movimentos que buscavam a autonomia econômica do continente. Na segunda metade do século XIX, os países industrializados importavam matérias-primas e exportavam capitais; para facilitar esse intercâmbio, buscavam controlar áreas não industrializadas. Após a Guerra de Secessão, os Estados Unidos entraram com mais força na briga pelo controle dos mercados, e seu alvo inicial foi a América Latina