Alétheia: filosofia platônica em Heidegger Marco Aurélio Werle, Clara Costa Nogueira Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/USP [email protected] Objetivos Verificar se há uma filosofia platônica em Heidegger no que diz respeito ao seu tema da verdade. Métodos/Procedimentos Leitura e análise de textos e, a partir disto, comparação entre o conceito tradicional da verdade grega e o novo conceito de verdade instituído por Platão em sua teoria das formas, pensados a partir de uma análise heideggeriana. Resultados É através do mito, narrativa tradicional combatida duramente pela razão ocidental, que se poderá entender como essa mesma razão cria novas formas de ruptura: Platão – que tão duramente critica essa narrativa – conceberá o mito da caverna para explicar de maneira mais acessível sua teoria das formas, que se trata de uma nova maneira de pensar a verdade. É partindo desse mito platônico que se poderá ver claramente tanto a concepção arcaica de verdade como alétheia, desvelamento, quanto a nova concepção criada pelo filósofo, a da ideia enquanto verdade, que deve ser aprendida e ensinada por aquele que desvencilha-se do ocultamento de uma caverna. Conclusões Nada mais errôneo, então, que persistir numa primeira constatação de semelhança entre a verdade platônica e a verdade heideggeriana – ou ainda constatar que há uma verdade platônica no tema da verdade de Heidegger – devido à presença da alétheia em ambas as filosofias. A alétheia aparece na primeira, de certa forma, como uma transição entre a tradição grega arcaica e uma inovação no sentido da verdade, que será estabelecido com mais solidez através da palavra latina veritas. Já na segunda, a alétheia significa um retorno à tradição grega que deve ser estabelecida como aquela detentora da razão e da verdade, do ser próprio da filosofia – é em Heidegger, então, que temos a crítica ferrenha à latinização da verdade grega; crítica a Platão, o qual possibilita essa espécie de corrupção do pensamento grego consolidado pelos présocráticos. Platão, que vive em uma Grécia que começa a se racionalizar com a filosofia, usa do mito para libertar-se dele, usa da alétheia para criar um novo conceito de verdade, ao passo que Heidegger insiste sempre em voltar-se aos primórdios da antiguidade, primórdios da filosofia, como se buscasse cegamente viver em uma caverna que não é a sua, em fechar-se sempre dentro da alétheia, sem nunca chegar a uma ideia dentro de seu tempo. Referências Bibliográficas HEIDEGGER, M. Parmênides, Petrópolis, Vozes, 2008 _______________. “A doutrina platônica da verdade”, In: Marcas do Caminho, Petrópolis, Vozes, 2008 _______________. “ A essência da verdade”, In: Marcas do Caminho, Petrópolis, Vozes, 2008 _______________. Ser e tempo, Petrópolis, Vozes, 1989 PLATÃO, A república, São Paulo, Martins Fontes, 2006