Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] ORIGINAL ARTICLE PERFIL BACTERIOLÓGICO DAS MÃOS DE PROFISSIONAIS DESAÚDE NOCENTRO CIRÚRGICO E NO PÓS-OPERATÓRIO DO HOSPITAL GERAL DE PALMAS, TOCANTINS Rafael R. Mendes¹; Benito J. S. Costa¹; Nathalia T. Hatano¹; Gabriella O. Mendes1, Fernando H. B. Gondo¹; Joelma da C. Borges2, Michele C. Perin3, Pedro M. G. Cuellar4, Maria Cristina da S. Pranchevicius4,5 RESUMO Modelo do estudo:estudo experimental. Objetivos:Avaliar qualitativamente e quantitativamente os micro-organismos presentes na microbiota das mãos dos profissionais de saúde atuantes no centro cirúrgico e no pós-operatório do Hospital Geral de Palmas (HGP). Metodologia:As bactérias foram isoladas das mãos dominante dos profissionais de saúde do centro cirúrgico e do pós-operatório do HGP, e foi determinado o padrão de suceptibilidade antimicrobiona. Resultados:Das 46 amostras coletadas, 21 (45,65%) amostras apresentaram crescimento em meio de cultura, sendo isoladas 24 cepas, das quais todas foram gram positivas. Das 24,12 (50%) foram Staphylococcus coagulase-negativa, sendo 3 (12,50%) nas mãos de cirurgiões, 3 (12,50%) de enfermeiros e 6 (25%) de técnicos de enfermagem; 6 (25%) foram S. aureus, sendo 1 (4,17%) nas mãos de auxiliar, 3 (12,50%) de enfermeiro e 2 (8,33%) de técnicos de enfermagem; e 6 (25%)foram S. saprophyticus, sendo 3 (12,50%) nas mãos de cirurgiões, 1 (4,17%) de enfermeiros e 2 (8,33%) de técnicos de enfermagem. Das 24 amostras isoladas, 8 (33,33%) apresentaram organismos resistentes à multidrogas (MDRO).Conclusões:A redução das taxas de infecção hospitalar dependerá da higienização das mãos, da motivação e da orientação dos profissionais de saúde. Palavras-chave: microbiota das mãos, profissionais de saúde, resistência aos antimicrobianos. ¹Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins 2 Técnica do laboratório de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Tocantins 3 Técnica do laboratório de Anatomia e Necropsia da Universidade Federal do Tocantins 4 Docente do curso de Mestrado em Ciências da Saúdeda Universidade Federal do Tocantins 5 Docente da Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Genética e Evolução ] 44 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Bacteriological profile of the hands of health professionals from the surgical center and postoperative from Public General Hospital of Palmas, Tocantins. ABSTRACT Study design: experimental study. Purpose:The purpose of this study was to characterize both qualitativery and quantitatively the microorganisms present on hands of health professionalin surgical services centerand post surgery service of General Hospital of Palmas (HGP). Methodology: The bacterial agents were isolated from dominant hands of health workers in surgical services centerand post surgery service and their antibiotic susceptibility pattern was determined.Results:Of the 46 samples collected, 21 (45.65%) samples showed growth in culture medium, 24 bacteria were isolated and all of them were gram-positive. Of the 24 isolates, 12 (50 %) were coagulase-negative Staphylococcus, 3 (12.50%) in the hands of surgeons, 3 (12.50% ) of nurses and 6 (25 %) of nursing staff; 6 were S. aureus (25 %), 1 (4.17%) in the hands of auxiliary nurses, 3 (12.50%) of nurses and 2 (8.33 %) of nursing staff; and 6 (25%) were S. saprophyticus, 3 (12.50%) in the hands of surgeons, 3 (12.50%) of nurses and 6 (25 %) of nursing technicians.Of the 24 isolates , 8 (33.33 %) were Multidrug-resistant organisms(MDROs). Conclusions:The reduction of hospital infection rates will depend of an adequate hand hygiene and of the motivation and guidance of health professionals. Keywords: hands microbiota, health 45 professional, antimicrobial resistant. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] dos agentes infecciosos3. A microbiota INTRODUÇÃO A infecção caracterizada por hospitalar toda é residente é composta por elementos que infecção estão,frequentemente, aderidos nos adquirida após admissão do paciente e estratos mais profundos da camada que se manifesta durante a internação, córnea, formando colônias de micro- ou mesmo após a alta, quando puder ser organismos que se multiplicam e se relacionada permanência mantêm em equilíbrio com as defesas etiológicos do hospedeiro. Os componentes mais à hospitalar1.Os agentes responsáveis pelas hospitalares podem endógenas e infecções ser de exógenas. comuns fontes desta microbiota Staphylococcuscoagulase Aquelas, micrococos e certas são os negativo, espécies de responsáveis por cerca de 70% das corinebactérias. Estes microrganismos infecções hospitalares, são provenientes são de difícil remoção e suas colônias da do possuem mecanismos de defesa contra a indivíduo, enquanto estas resultam da remoção mecânica ou por agentes transmissão de micro-organismos de químicos3.A microbiota transitória é outras fontes que não o paciente. Sendo composta por micro-organismos que se assim, essas decorreriam de falhas depositam técnicas provenientes de colonizando temporariamente própria na flora microbiana execução de diversos procedimentos ou rotinas assistenciais2. A microbiota normal da pele é extratos na superfície córneos fontes mais da pele, externas, os superficiais. dividida em residente e transitória, Normalmente é formada por bactérias sendo essa classificação essencial para o gram negativas, como enterobactérias, entendimento do modo de transmissão Pseudomonas, 46 bactérias aeróbicas Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] formadoras de esporos, fungos e vírus, ambiente da assistência à saúde, é possuindo maior potencial patogênico. consenso que a transmissão por contato Por serem mais facilmente removidos desempenha o papel mais importante da pele, pela ação mecânica, os micro- nesta dinâmica de transmissão. Segundo organismos que compõem a microbiota Drees6, citado por Oliveira et al7, a transitória também se espalham com disseminação mais facilidade pelo contato e são Relacionadas à Assistência à Saúde eliminados (IRAS) mais facilmente pela degermação com agentes anti-sépticos3. Alguns Infecções frequentemente advém da contaminação cruzada e a via mais que comum de transferência de patógenos compõem a microbiota transitória são ocorre entre as mãos de profissionais de detectados na pele por períodos mais saúde e pacientes. Nas atividades prolongados e conseguem se multiplicar diárias, humanas e formar colônias sem causar infecção, constantemente em intenso contato com sendo o ambiente ao redor e esta forma de o caso microrganismos de das Staphylococcus aureus3, uma bactéria que apresenta as mãos estão transmissão também fica evidente8. uma incidência de 5-25% na pele4, A maioria absoluta dos muitas vezes adquiridas durante as mais especialistas em controle de infecções variadas atividades clínicas, incluindo concorda que a higienização das mãos é manipulação de cateteres e arrumação o meio mais simples e eficaz de de cama5. prevenir Em geral, os micro-organismos a microrganismos transmissão no de ambiente são transmitidos por contato direto ou assistencial8. Esta é importante por indireto, por meio de gotículas de destruir ou inibir o crescimento de secreções respiratórias e pelo ar. No microrganismos existentes nas camadas 47 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] superficiais (microbiota transitória) e muitos Estados das Regiões Norte e profundas (microbiota residente) da pele Nordeste e que recebe um grande fluxo e de mucosas, pela aplicação de agentes de pessoas diariamente. Apesar do HGP germicidas possuir uma Comissão de Controle de classificados como antissépticos. Porém, a falta de adesão Infecção dos profissionais de saúde a esta prática trabalho ainda é limitado, já que muitas é uma realidade que vem sendo são as subnotificações no que diz constatada ao longo dos anos e tem sido respeito objeto de estudos em diversas partes do hospitalar mundo8. Apesar de todas as evidências instituição não possui o próprio mapa mostrarem a importância das mãos na microbiológico, fato que dificulta o cadeia de transmissão das infecções conhecimento à respeito dos micro- hospitalares organismos e procedimentos diminuição os de destas efeitos dos higienização taxas, na Hospitalar aos (CCIH), óbitos (IH). por Além mais seu infecção disso, prevalentes a no ambiente hospitalar. muitos profissionais têm uma atitude passiva diante do problema9. Portanto, o MATERIAIS E MÉTODOS objetivo deste Trata-se de um estudo trabalho foi avaliar qualitativamente e prospectivo, transversal, de natureza quantitativamente os micro-organismos aplicada, abordagem presentes na microbiota das mãos dos finalidade descritiva, profissionais de saúde atuantes nos meses de maio e junho de 2012, para a centros cirúrgicos e pós-operatórios da avaliação Clínica Cirúrgica do Hospital Geral de presentes na microbiota das mãos de Palmas (HGP), centro de referência para profissionais de saúde atuantes nos 48 de quantitativa realizado e nos micro-organismos Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] centros cirúrgicos e pós-operatórios da Federal do Tocantins, em Palmas. Os Clínica Cirúrgica do Hospital Geral de materiais foram semeados em placas Palmas contendo meios de cultura seletivos (HGP), coletadas Tocantins. amostras das Foram mãos de para o crescimento de bactérias, Ágar profissionais de saúde divididos em dois Sal Manitol(Hi-Media, India)e Ágar grupos: o grupo 1 que correspondeu a MacConkey(Hi-Media, profissionais no centro-cirúrgico do culturas foram mantidas em estufa à HGP, 37°C por 24h e a caracterização dos sendo instrumentadores e cirurgiões, auxiliares, que já isolados foi India). realizada através As da haviam feito antissepsia das mãos e o morfologia da colônia, coloração de grupo a gram, o teste de fermentação do pós-operatório manitol, prova da catalase, teste da 2 que profissionais correspondeu nos imediato do Bloco Cirúrgico do HGP, coagulase, sendo enfermeiros e enfermagem, momentos manipulação do dominante, resistência a de novobiocina e teste da DNAse foram antes da utilizados paciente, sem para a identificação de Staphylococcus e de outros isolados grampositivos. Não houve crescimento Caracterização das bactérias As da técnicos antissepsia prévia. isoladas: teste amostras do da profissional de bactérias gram negativas em meio mão seletivo Ágar MacConkey(Hi-Media, de India), portanto, testes para a saúde,foram coletadas utilizando swabs, identificação dessas bactérias não foram acondicionadas em meio de transporte realizados.Teste Stuart(Hi-Media, e, antibióticos: O teste de sensibilidade imediatamente, enviadas ao Laboratório antimicrobiana, das bactérias isoladas, de foi realizado através da difusão em Microbiologia India) da Universidade 49 de sensibilidade a Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] disco (método de KirbyBaue), segundo Brazil) foram utilizados para distinguir o guia ClinicalLaboratory Standard as Institute10,oFoodandDrug Staphylococcussaprophyticus, que são Administration11. (Laborclin, bactérias Brazil) gram Os antibióticos testados positivas bactérias resistentes à novobiocina em cultura, de para outras foram bactérias Staphylococcus coagulase-negativa. amoxicilina, vancomicina, ampicilina, Aspectos Éticos: O estudo foi oxacilina, azitromicina, penicilina e aprovado pelo Comitê de Ética em imipenem.A resistência àmeticilina das Pesquisa espécies de Federal do Tocantins (UFT) em Palmas testadas utilizando Staphylococcus Universidade (TO), protocolo nº 19/2011 e foi oxacilina, conforme recomendado pelo conduzido de acordo com com o guia da NationalCommittee Declaração de discos de discos da de ClinicalLaboratory os foram Humana for Standards12,e os 1964 e Helsinki (criado em revisado em 2002). novobiocina(Laborclin, Destas amostras, 26 (56,52%) foram obtidas no centro cirúrgico após antissepsia das mãos dominante de 15 RESULTADOS No estudo foram coletadas 46 (32,61%) cirurgiões e 6 (28,57%) amostras das mãos dominante dos apresentaram crescimento em meio de profissionais de saúde atuantes nos cultura;6 (13,04%) foram coletadas dos centros cirúrgicos e pós-operatórios da instrumentadores e nenhuma apresentou Clínica Cirúrgica do Hospital Geral de crescimento bacteriano, 5 (10,87%) Palmas (HGP), no Tocantins. foram coletadas 1(4,76%) 50 dos amostra auxiliares e apresentou Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] crescimento.No pós operatório do bloco Técnicos de Enferma gem cirúrgico foram coletadas 20 (43,48%) amostras da mão dominante sem PósOperatóri o do Bloco Cirúrgico Total 12 (26,09 %) 9 (42,8 6%) 46 21 antissepsia prévia, momentos antes da manipulação dos pacientes, de 8 Conforme podemos observar na (17,39%) enfermeiros e 5 (23,81%) amostras cresceram em meio tabela 2, das 46 amostras coletadas, 21 de (45,65%) apresentaram crescimento em cultura;12 (26,09%) foram coletadas de meio de cultura; 25 (54,35%) não técnicos de enfermagem e 9 (42,86%) apresentaram apresentaram crescimento bacteriano. crescimento. Das 21 amostras, isolou-se foi 24 bactérias, Esses dados estão apresentados na sendo que em 18 (85,71%) culturas Tabela 1. isolou-se 1 patógeno morfologicamente Tabela I. Grupos de profissionais da saúde e amostras com crescimento idêntico e, em 3 (14,29%) culturas bacteriano. foram Profissio nais da Saúde Local da Coleta Cirurgiõe s Centro Cirúrgico Instrume ntadores Auxiliare s Enfermei ros Centro Cirúrgico Centro Cirúrgico PósOperatóri o do Bloco Cirúrgico Colet as isolados 2 patógenos com Cultu ras Positi vas 15 6 (32,61 (28,5 %) 7%) características morfológicas diferentes, 6 (13,04 %) 0 Staphylococcus aureus, Staphylococcus 5 (10,87 %) 1 (4,76 %) 8 (17,39 %) 5 (23,8 1%) colônias de cor amarela e de cor parda. As bactérias culturas,foram isoladas, dessas identificadas 3 como coagulase-negativa, nas mão de dois enfermeiros, respectivamente, e Staphylococcus saprophyticus da mão de um técnico de enfermagem. 51 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Tabela II. Bactérias isoladas dos técnicos de enfermagem, na mesma profissionais de saúde. proporção. Esses dados encontram-se Amostras e Bactéria isolada Total de amostras Profissionais com cultura positiva Total de bactéria isolada Cultura com uma bactéria isolada Cultura com duas bactérias isoladas Amostras com bactérias Gram positiva Em detalhados na Tabela 3. Valor 46 21 (45,65%) Tabela III. Organismos isolados das 24 mãos dos profissionais de saúde. 18 (75%) Bactéria Número de isoladas (%) 6 (25%) Staphylo coccus aureus 24 (100%) nosso estudo, Staphylococcuscoagulase-negativa Cirur giões Auxil iares Enfer meiro s 12 (50%) foi a bactéria mais comumente isolada, sendo encontrada em 3 (12,50%) amostras de cirurgiões, 3 Técni cos de Enfer mage m Total (12,50%) de enfermeiros e 6 (25%) de técnicos de enfermagem; seguida por Staphylococcusaureus 6 (25%), encontradas em 1 (4,17%) amostra de auxiliar, 3 (12,5%) amostras 0 1 (4,17%) 3 (12,5%) Coagulas Staphyl eococcus negative saproph Staphylo yticcus( cocci CONS) (CONS) 3 3 (12,5%) (12,5%) 0 0 3 (12,5%) 1 (4,17%) 2 (8,33%) 6 (25%) 2 (8,33%) 6 (25%) 12 6 (50%) (25%) de enfermeiros e 2 (8,33%) amostras de Considera-se técnicos de enfermagem; multirresistência e como a resistência a três ou mais Staphylococcussaprophyticus 6 (25%), antibióticos de pelo menos três classes sendo encontradas nas amostras de 3 distintas, nesse caso amoxicilina, (12,50%) cirurgiões, 1 (4,17%) amostra vancomicina, de enfermeiro e 2 (8,33%) amostras de 52 ampicilina, oxacilina, Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] azitromicina, penicilina e imipenem. Tabela IV.Padrão de resistência antimicrobiana de 24 bactérias gram Das 24 colônias isoladas, 6 foram positivas isoladas. Staphylococcus apresentou50% aureus, de que resistência à amoxicilina e à oxacilina, 83,33% de resistência à ampicilina e à penicilina, 33,33% à azitromicina e não apresentou resistência à vancomicina imipenem.Das12 e ao colônias deStaphylococcuscoagulase-negativa isoladas,66,67% apresentaram Antimi crobia nos S. aureus(n = 6) Amoxi cilina Vanco micina Ampici lina Oxacili na Azitro micina Penicili na Imipine m 3 (50%) 0 (0%) 5 (83,33%) 3 (50%) 2 (33,33%) 5 (83,33%) 0 (0%) Coagulas enegativeS taphyloco cci(n =12) 8 (66,67%) 3 (25%) 8 (66,67%) 7 (58,33%) 4 (33,33%) 11 (91,67%) 1 (8,33%) S. saprophytic cus(n = 6) 3 (50%) 2 (33,33%) 5 (83,33%) 3 (50%) 5 (83,33%) 5 (83,33%) 1 (16,67%) n = número total de patógenos isolados. resistência à amoxicilina e à ampicilina, 25% à oxacilina, vancomicina, 33,33% à 58,33% à azitromicina, DISCUSSÃO 91,67% à penicilina e 8,33% ao imipenem.As 6 colônias de O nível de contaminação nas Staphylococcussaprophyticcus isoladas mãos reflete o tipo e a intensidade do apresentaram 50% de resistência à contato que o profissional da saúde tem amoxicilina e à oxacilina, 33,33% à com o paciente, como atividades que vancomicina, 83,33% à ampicilina, à envolvam o contato direto com pele e azitromicina e à penicilina, e 16,67% ao mucosas13; assim como a aquisição de imipenem. O padrão de resistência aos patógenos antimicrobianos está representado na higienização das mãos é realizada Tabela 4. frequentemente14. Isto está de acordo é reduzida quando a com os nossos estudos que demonstram 53 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] que os profissionais de saúde, que pois das 21 amostras positivas para atuavam crescimento no bloco cirúrgico com bacteriano todas antissepsia prévia das mãos e não apresentaram micro-organismos gram- manteve contato direto com o paciente, positivos. De acordo com Aiello et al17, mesmo os bacilos gram-negativos são pouco em maior número (n=26) apresentaram menor taxa de comuns nas mãos de profissionais de colonização (n=7), quando comparados saúde, sendo mais expressivos naquelas com os profissionais de saúde, que pessoas da comunidade não hospitalar, atuam no pós-operatório sem antissepsia portanto, nossos resultados sugerem que prévia das mãos mantendo contato a microbiota da pele, tanto a residente direto com os pacientes, com total de 20 quanto a transitória, são colonizadas profissionais e colonização de 14 preferencialmente por germes gram- amostras. positivos. Em um estudo realizado por Com relação ao tipo de micro- Silva et al15, das 136 amostras coletadas organismo encontrado nas amostras da palma das mãos de profissionais de coletadas no Hospital Geral de Palmas, saúde, identificou-se 16,91% apresentaram crescimento de micro-organismo gram- Staphylococuscoagulasenegativo (50%) negativos. Entretanto, em outro estudo, como o mais prevalente, seguido por realizado por Custodio et al16, 2009, das Staphylococcusaureus 48 mão Staphylococcussaprophyticus (25%), na dominante dos profissionais de saúde, mesma proporção, o que está de acordo nenhuma apresentou crescimento de com o estudo realizado por Custodio et micro-organismo gram-negativo, dados al16, onde 44,5% das amostras obtidas a que estão de acordo com nosso estudo, partir amostras coletadas da 54 da mão (25%) e dominante Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] eramStaphylococuscoagulasenegativo, colonizados, e que a transmissão do S. sendo também o micro-organismo mais aureus se dá por contato direto ou prevalente. Isso demonstra o fato desses indireto, deste modo, foi evidenciado micro-organismos difícil mais uma vez a importância da lavagem remoção e suas colônias possuírem das mãos, uma vez que a colonização mecanismos de defesa contra a remoção corresponde, a um fator de risco para o mecânica ou por agentes químicos3. desenvolvimento serem de de Infecções Relacionadas a Assistência de Saúde, e Entre as espécies microbianas S. aureus é a causa mais frequente, encontradas com predominância na devido a sua virulência18. pele, encontrou-seStaphylococcus aureus, cuja proporção de 5-25% já foi demonstrada emoutro estudo4. Outra Em espécie microbiota da encontrada pele humana na é a relação a essa espécie, é importante Staphylococcussaprophyticcus, acrescentar que por se tratar de uma em menor proporção, e sua localização espécie da microbiota transitória é predominante é na região periuretral do facilmente removida da pele por ação homem e da mulher.. Ao contrário da S. mecânica, o que demonstraa menor taxa aureus, a S. saprophyticcus apresenta (4,17%) encontrada em profissionais de baixa patogenicidade, no entanto, é saúde que realizaram a antissepsia considerado o segundo maior causador prévia das mãos. Diferentemente, entre de infecções urinárias em mulheres os profissionais de saúde que não jovens sexualmente ativas19. Em nosso realizaram estudo, a S. saprophyticcus apresentou antissepsia prévia foi possível observar uma taxa de 20,83% sensibilidade dessas vancomicina, estando de com o estudo bactérias. Sabe-se que os de Fariña et al19. profissionais de saúde apresentam-se 55 à oxacilina porém e à Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] De acordo com Bjerke20, citado macrolídeos, sendo que todas as cepas por Custodio et al16, as maõ s de foram sensíveis à Oxacilina e ao profissionais de saúdesaõ a principal via Imipenem. Algumas amostras também de transmissão cruzada de infecções evidenciaram hospitalares, tornando-se contaminadas Staphylococcuscoagulasenegativo no resistentes à Vancomicina. De acordo cuidado de pacientes colônias de infectados/colonizados e durante o com Daza Perez21, mais de 35% das contato com fômites , equipamentos ou amostras isoladas de S. coagulase- superfícies contaminadas , caso naõ seja negativo, um dos principais organismos realizada uma higienização adequada . responsáveis por infecções hospitalares, Dentro deste contexto, pode-se afirmar apresentam que a higienização das mãos é a ação aminoglicosídeos, isolada mais importante no que tange à quinolonas, entre outros antibióticos; e prevenção das infecções hospitalares, também há relatos de cepas resistentes à conforme vimos em nosso estudo, onde Vancomicina, e outras sensíveis à a presença de bactérias nas mãos dos Vancomicina, profissionais de saúde que realizaram Teicoplamina22. resistência mas à oxacilina, resistentes à antissepsia prévia foi menor (26,92%) Nas amostras coletadas no pós- em relação aos que não realizaram operatório imediato, a maior parte das antissepsia prévia (70%). amostras também mostrou resistência à amoxicilina, Em relação ao perfil à ampicilina, à de azitromicina e ao imipenem. Os dados resistência aos antibióticos, as amostras deste estudo estão de acordo com o obtidas dos profissionais atuantes no estudo realizado por Silva et al15, no bloco cirúrgico apresentaram maior qual 95,69% dos micro-organismos resistência aos beta-lactâmicos e 56 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 gram-positivos [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] identificados resistentes à amostras também identificar S. foram cirúrgico e uma taxa de 19,04% entre Nestas profissionais atuantes no pós-operatório possível imediato. Guimarães et al24, demostrou Penicilina. foi aureus resistente à que 30,6% dos micro-organismos gram- oxacilina (SARO), 40% das amostras positivos positivas foram hospitalares estudo multirresistência a antibióticos. Este para resistentes à realizado por apresentou S. aureus Oxacilina. O Custodio proporções SARO, neste cerca al16 et maiores estudo de associados a infecções apresentavam também demostrou que ainvestigação da multirresistência e a de 70% dos intervenção oportuna noatendimento Staphylococcus aureus apresentaram hospitalar podem contribuir para a resistência diminuiçãodo tempo de permanência e à oxacilina.Entretanto, Moreira et al23 demonstrou que o SARO mortalidade é responsável por 26,6% a 71% das principalmenteem cepas de S. aureus isoladas em diversos desenvolvimento.A diferença entre as hospitais do Brasil, portanto, nosso incidências se deve, provavelmente, por estudo está de acordo com os resultados termos feito testes in vitro, onde os da literatura. Além disso, o SARO é um antimicrobianos agem mais facilmente importante agente bacteremias sem sofrer qualquer influência do meio, adquiridas em ambiente hospitalar, enquanto Guimarães et al24, fez uma das sendo estas de alta letalidade23. hospitalar, países em análise a partir da totalidade dos óbitos classificados Em relação aos micro-organismos como “associados à estudo infecção hospitalar”, os quais levavam demostrou uma taxa de 14,28% entre em conta fatores como: procedimentos e profissionais intervenções durante a internação e o multidrogarresistentes, atuantes este no centro- 57 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] próprio registro da colonização por CONSLUSÃO micro-organismos mulrresistentes, isto Diante de tais resultados, é é, além da própria confirmação dos possível constatar que a redução das multirresistentes, havia a influência do taxas de infecção hospitalar depende da meio sobre a ação dos antimicrobianos. higienização das mãos, da motivação e Diante de todo o exposto, vimos que da orientação dos profissionais de as bactérias são seres que estão saúde. Apesar da resistência encontrada presentes em todos os locais, inclusive em alguns locais, a educação continuada nas mãos dos profissionais de saúde. em saúde por meio de campanhas, Muitas são inofensivas, muitas são congressos e pesquisas, tem um papel benéficas, no entanto algumas podem fundamental no que diz respeito à ser maléficas, causando infecções, conscientização das equipes da momento em que se tem o uso de importância da prática de higienização antimicrobianos de forma das mãos. indiscriminada, e o que poderia ser totalmente eficaz, tem se tornado Outra questão importante é a problemático, devido a pressão seletiva participação ativa da Comissão de sobre as bactérias. Sendo assim, faz-se Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) necessário o uso correto de medidas de que deve atuar tanto na orientação dos controle contra infecção hospitalar, profissionais começando pela mais simples e menos supervisão dispendiosa: a lavagem das mãos, até antibióticos. chegar na chegar no uso consciente dos Agradecimento: ao CNPq pela bolsa antimicrobianos25. de iniciação científica concedida à de saúde, quanto do uso racional Gabriella Oliveira Mendes. 58 na de Rev Pat Tocantins V. 3, n. 01, 2016 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Desinfecção de Artigos e Áreas Hospitalares e Anti-sepsia.São REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ministério da Saúde Paulo: APECIH, 2004. (BR). Portaria n° 2616 de 13 de maio 5. Koneman EW, Allen SD, Janda de 1998. Regulamenta as ações de controle de infecção hospitalar no país. Diário Oficial da República Federativa WM, Schreckenberger Winn Jr WC. PC, Diagnóstico microbiológico. 5a. ed. Rio de do Janeiro: Medsi; 2001. Brasil, 15 maio 1998. 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