PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Área de Concentração: Ensino de Biologia Mariana de Oliveira Barcelos EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ESCOLAS: Elaboração de material paradidático sobre doenças viróticas AIDS, dengue e gripe a partir da análise dos livros didáticos de biologia Belo Horizonte 2012 Mariana de Oliveira Barcelos EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ESCOLAS: Elaboração de material paradidático sobre doenças viróticas AIDS, dengue e gripe a partir da análise dos livros didáticos de biologia Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientadora: Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves Coorientadora: Profa. Dra. Maria Inês Martins Belo Horizonte 2012 Mariana de Oliveira Barcelos EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ESCOLAS: Elaboração de material paradidático sobre doenças viróticas AIDS, dengue e gripe a partir da análise dos livros didáticos de biologia Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. _____________________________________________________________ Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves (Orientadora) – PUC Minas _____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Inês Martins (Coorientadora) – PUC Minas _____________________________________________________________ Profa. Dra. Rozélia Bezerra - UFRPE _____________________________________________________________ Prof. Dr. Wolney Lobato – PUC Minas Belo Horizonte, 22 de junho de 2012. AGRADECIMENTOS Agradeço esta vitória a Deus por me guiar nesta jornada. À minha orientadora Andréa Carla, pela paciência nesse longo percurso, pelas preciosas sugestões e críticas construtivas, pela disponibilidade e amabilidade. Um agradecimento muito especial à Profa Maria Inês que foi a grande incentivadora para iniciar esse processo e pelo apoio em todos os momentos necessários. A todos os professores do mestrado pelo aprendizado e carinho e aos meus colegas da turma 6, especialmente a Nícia Junqueira pela rica troca de experiência e pela amizade que sempre demonstrou em todos os momentos. Á minha família, em especial à minha mãe, que sempre me apoiou e me incentivou a seguir em frente. Aos colegas professores, que se disponibilizaram a darem valiosas contribuições para esse trabalho. Aos professores Wolney Lobato e Rozélia Bezerra pelas valiosas considerações. E a todos que de diversas maneiras e em diferentes momentos, colaboraram para a concretização dessa conquista tão importante para minha evolução profissional e pessoal, em especial ao Fábio Leite, Rosa Lima, Sueli, Tutti e Alexandra Chaves. Muito obrigada a todos! Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota. (Madre Tereza de Calcutá). RESUMO A promoção da saúde através da educação é uma oportunidade de oferecer informações indispensáveis para que a sociedade enfrente com maior rigor as questões referentes à saúde humana. Sendo assim, a escola pode e deve capacitar os indivíduos para buscar uma vida mais saudável, e além de instruir seus alunos, deve organizar e estimular situações de aprendizagem que valorizem ações voltadas para a promoção da saúde. O presente trabalho procurou colaborar com essa demanda. Inicialmente foi realizada uma investigação da abordagem das viroses influenza (gripe), dengue e a síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) em livros didáticos de biologia do ensino médio. Essas viroses foram escolhidas – pelo seu caráter epidemiológico, pela sua relevância na atualidade e por demandarem ações de educação em saúde efetivas. O resultado da análise evidenciou que as informações sobre essas doenças virais presentes nos livros didáticos analisados concentram-se especificamente nos aspectos biológicos dos vírus sendo, portanto, insuficientes quando se almeja ações de educação para a saúde. Posteriormente, a partir dos dados da investigação, foi elaborado um material paradidático – um livro eletrônico- dirigido aos professores denominado Educação em Saúde nas Escolas: uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, Dengue e Gripe. O livro do professor foi construído no intuito de contribuir para a promoção da educação em saúde na escola, através da proposição de diferentes estratégias didáticas que permitam expandir os conhecimentos escolares sobre viroses por meio de atitudes e valores compatíveis com a realidade social, além de incentivar a utilização de tecnologias multimídias no processo de ensino e aprendizagem. Numa análise preliminar, feita por professores de diferentes áreas do conhecimento, o material foi bem avaliado. Dessa forma, esse trabalho aponta caminhos que podem colaborar no sentido de aprimorar a abordagem dessas viroses no ensino e no processo de educação em saúde na escola. Palavras-chave: AIDS. Dengue. Gripe. Manual do professor. Educação em saúde. ABSTRACT Health promotion through education is an opportunity to provide information necessary for society to face the issues more closely related to human health. Thus, schools can and must enable individuals to seek a healthier life, and in addition to instructing their students, should organize and encourage learning situations that enhance actions for health promotion. The present study sought to collaborate with this demand. Initially, a research approach of influenza viruses (flu), dengue and acquired immunodeficiency syndrome (AIDS) in biology textbooks in high school. These viruses were chosen – because of their epidemiological nature, their relevance today demands a share of effective health education. The results of the analysis showed that information about these viral diseases, which are present in the examined textbooks focus specifically on the biological aspects of virus and is therefore insufficient when it comes to actions for health education. Later, from the research data, we designed a paradicdatic material - an e-book aimed at teachers called Health Education in Schools: an approach for viral diseases AIDS, Dengue and Influenza. The teacher's book was made in order to contribute to the promotion of health education at schools, through the proposition of different teaching strategies that allow students to expand their knowledge about viruses through the development of attitudes and values which are compatible with their social reality, and encourages the use of multimedia technologies in both teaching and learning. In a preliminary analysis, conducted by professors from different fields of knowledge, the material was well evaluated. Thus, this work shows the way, in which this book can contribute to an improvement of the approach of these viral diseases in the process of education and health education in schools. Keywords: AIDS. Dengue. Flu. Teacher's manual. Health education. LISTA DE FIGURAS Forma como é apresentada a gripe no livro de Amabis e Martho em 1985.......................................................................................................... 27 Forma como as viroses são retratadas de forma generalizada no livro didático de biologia.................................................................................. 29 FIGURA 3 – Algumas questões de vestibulares com ênfase na virose AIDS............... 30 FIGURA 4 – Exemplo da abordagem da AIDS, dengue e gripe como exemplificação de viroses no texto principal..................................................................... 38 FIGURA 1 – FIGURA 2 – FIGURA 5 – Exemplo da abordagem da dengue no texto principal com informações específicas sobre a virose.......................................................................... 38 FIGURA 6 – Exemplo de abordagem da AIDS, dengue e gripe apenas como exemplificação de viroses em quadros destacados do texto principal...... 39 FIGURA 7 – Exemplo da abordagem da AIDS, dengue e gripe em quadros destacados do texto principal com informações específicas sobre as viroses....................................................................................................... 40 Exemplo de imagem apresentada no livro didático sem interação com o conteúdo do texto principal...................................................................... 42 Exemplo da colocação de material de campanhas do Ministério da saúde nos livros didáticos de biologia...................................................... 43 Exemplo de imagem sem escala e sem mencionar o uso de cores fantasia nos livros didáticos de biologia.................................................. 44 FIGURA 11 – Sugestão de pesquisa em grupo com a temática AIDS, dengue e gripe... 49 FIGURA 12 – Abordagem da questão do preconceito ao aidético com a frase: “O preconceito isola”..................................................................................... 50 FIGURA 8 – FIGURA 9 – FIGURA 10 – FIGURA 13 – Sugestões de leituras complementares acessíveis na internet................... 52 FIGURA 14 – Página inicial do e-book - Educação em Saúde nas Escolas: uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, Dengue e Gripe................ 63 FIGURA 15 – Representação de um mosquito picando uma pessoa............................... 64 FIGURA 16 – Infográfico representando o uso da câmera do celular............................. 64 Imagem obtida da internet para ilustrar os modos de transmissão da gripe aviaria.............................................................................................. 65 FIGURA 18 – Exemplo de como os tópicos foram descritos no e-book......................... 66 FIGURA 19 – Página que inicia o capítulo sobre a dengue............................................. 67 FIGURA 20 – Questionário sobre AIDS para avaliar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema.................................................................................. FIGURA 17 – 68 FIGURA 21 – Proposta de atividade sobre gripe utilizando como estratégia a Aprendizagem Baseada em Problemas..................................................... 70 FIGURA 22 – Reportagem da revista Veja retratando os jovens como grupo de risco do HIV...................................................................................................... 72 Cartilha produzida pelo Ministério da Saúde para a campanha de combate a dengue..................................................................................... 73 FIGURA 23 – FIGURA 24 – Elementos que compõem o jogo (instruções, cartas, tabuleiro e peões)........................................................................................................ 74 FIGURA 25 – Página final do e-book.............................................................................. 75 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – GRÁFICO 2 – Abordagem das viroses gripe, dengue e AIDS, nos livros didáticos de biologia analisados. ................................................................................. 31 Percentagem da abordagem do conteúdo sobre AIDS, dengue ou gripe por volumes nos livros aprovados pelo PNLD EM 2012......................... 37 GRÁFICO 3 – Número de imagens sobre AIDS, dengue ou gripe nos livros didáticos analisados................................................................................................... 41 GRÁFICO 4 – Aspectos abordados sobre a AIDS nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012......................................................... 45 Aspectos abordados sobre a gripe nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012......................................................... 45 Aspectos abordados sobre a dengue nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012......................................................... 46 Análise geral dos aspectos abordados sobre as viroses AIDS, dengue e gripe nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012........................................................................................................... 47 GRÁFICO 5 – GRÁFICO 6 – GRÁFICO 7 – GRÁFICO 8 – Recursos didáticos utilizados pelos docentes para abordar as doenças viróticas AIDS, dengue e gripe.................................................................. 77 LISTA DE QUADROS Ficha de avaliação dos livros didáticos de biologia acerca do assunto AIDS, dengue e gripe................................................................................. 20 Lista de livros antecedentes ao PNLD que apresentaram a abordagem sobre as viroses AIDS, dengue e gripe....................................................... 23 QUADRO 3 – Lista de livros aprovados pelo PNLEM 2007 analisados na pesquisa....... 35 QUADRO 4 – Lista de livros aprovados pelo PNLD EM 2012 analisados na pesquisa... 35 QUADRO 5 – Capítulos dos livros didáticos de biologia em que as viroses AIDS, dengue ou gripe são abordadas................................................................... 36 QUADRO 1 – QUADRO 2 – QUADRO 6 – Número de questões sobre AIDS, dengue e gripe nos livros analisados.................................................................................................... 48 QUADRO 7 – Informações sobre as leituras complementares que abordam as viroses AIDS, dengue ou gripe nos livros analisados............................................. 50 QUADRO 8 – Estratégias de ensino utilizada na abordagem dos tópicos sobre as viroses AIDS, dengue e gripe..................................................................... 67 Avaliação das estratégias de ensino que compõem o e-book..................... 78 QUADRO 9 – QUADRO 10 – Estratégias mais e menos interessantes do e-book segundo os professores avaliadores............................................................................... 78 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABP – Aprendizado Baseado em Problemas AIDS/SIDA - Síndrome de imunodeficiência adquirida AZT - Azidotimidina DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação HIV - Vírus da imunodeficiência humana LD - Livro didático MEC – Ministério da Educação PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PNLD – Programa Nacional do Livro Didático PNLEM - Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio SUS - Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 13 2 A INVESTIGAÇÃO ................................................................................................... 2.1 O livro didático.......................................................................................................... 2.2 Análise dos livros didáticos de biologia................................................................... 2.3 Metodologia da Investigação.................................................................................... 16 16 18 19 3 ABORDAGEM DAS VIROSES AIDS, DENGUE E GRIPE NOS LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA ....................................................................................... 3.1 Visão histórica............................................................................................................ 3.2 Abordagem nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e PNLD EM 2012................................................................................................................................... 3.3 Considerações gerais sobre a abordagem de AIDS, dengue e gripe nos livros didáticos de biologia analisados na pesquisa................................................................ 4 ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS UTILIZADAS NA ELABORAÇÃO DO PRODUTO ...................................................................................................................... 22 22 34 53 55 5 O PRODUTO .............................................................................................................. 62 5.1 Apresentação.............................................................................................................. 63 5.2 A avaliação................................................................................................................. 75 6 CONCLUSÃO............................................................................................................... 82 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 84 APÊNDICE...................................................................................................................... 91 13 1 INTRODUÇÃO Durante a minha formação no ensino médio, ocorreu em Belo Horizonte um surto de dengue que foi noticiado na escola em que eu estudava por agentes públicos que constataram a existência de criadouros do mosquito Aedes aegypti nas dependências do colégio, transformando-o em uma área de risco para a transmissão do vírus. Na ocasião apenas nos informaram sobre o fato sem que qualquer informação ou adicional ênfase fossem dadas nas disciplinas lecionadas naquele período. Como aluna, naquele momento, tive a sensação de que faltou alguma forma de trabalho para identificar esses criadouros de mosquito, ou qualquer outra atividade que permitisse a participação efetiva do alunado no problema que nos atingia tão de perto. Diante desta situação percebi deficiência da articulação da teoria com a prática e que o ensino escolar era baseado na memorização dos conhecimentos disciplinares e no acúmulo de informações, muitas vezes, sem significado e aplicação no cotidiano. Algum tempo depois, assistindo a depoimentos de pessoas vitimadas por doenças infectocontagiosas como dengue, gripe e síndrome de imunodeficiência adquirida (em português, SIDA, ou AIDS, nome em inglês, como ficou internacionalmente conhecida), percebi em seus discursos que tinham conhecimento prévio sobre essas doenças, entretanto isto não fez com que elas colocassem em prática ações preventivas que poderiam ter evitado o contágio. Novamente percebi o problema da não aplicação do conhecimento teórico em ações do dia a dia como havia ocorrido na escola, porém agora com consequências mais sérias. Estas situações evidenciaram a necessidade da elaboração e aplicação de estratégias e materiais que proporcionem uma maior integração entre as áreas de ensino e de educação em que os estudantes possam participar ativamente no pensamento e encaminhamento de soluções para problemas relacionados à sua saúde e bem estar. Nesse contexto, Buss (1999, p. 178) alega que “A promoção da saúde (e a educação em saúde como parte integrante da mesma) representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas que afetam as populações humanas.” Salerno et al. (2005, p. 104) também expõem que “a educação em saúde é um processo eficiente para a prevenção de doenças, veiculando informações e experiências importantes”. A temática saúde é um tema transversal destacado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que deve ser trabalhada por todas as disciplinas curriculares, pois está presente no cotidiano das pessoas. Os PCN entendem Educação para a Saúde como fator de promoção e proteção à saúde e estratégia para a conquista dos direitos de cidadania (BRASIL, 14 1998b). Sendo assim, a escola pode fornecer elementos que capacitem os indivíduos para uma vida mais saudável e deve, além de informar, organizar e estimular situações de aprendizagem que valorizem ações voltadas para a promoção da saúde. Diante do exposto, ficou evidente que propostas para ampliar as ações de promoção da educação em saúde na escola que sejam capazes de conectar as necessidades sociais e educativas apresentam maior probabilidade de êxito. Ciente que a escola é um ambiente propício para desenvolver trabalhos de educação preventiva com a participação ativa de um público bem informado, priorizando as necessidades da população e a elas respondendo. Isso está de acordo com a descrição de Oliveira (2006) sobre o que é educar na atualidade: As propostas pedagógicas contemporâneas indicam que educar significa preparar o indivíduo para responder às necessidades pessoais e aos anseios de uma sociedade em constante transformação, aceitando desafios propostos pelo surgimento de novas tecnologias, dialogando com um mundo novo e dinâmico, numa sociedade mais instruída, melhor capacitada, gerando espaços educacionais autônomos, criativos, solidários e participativos, condições fundamentais para se viver nesse novo milênio. (OLIVEIRA, 2006, p. 25). Nessa perspectiva, um dos objetivos desse trabalho foi realizar uma pesquisa histórica em livros didáticos (LD) de biologia com intuito de verificar a evolução da abordagem sobre viroses. Para tal foi escolhido como alvo das ações os conteúdos de gripe (influenza), dengue e a síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) - pelo caráter epidêmico dessas doenças. Essas viroses, devido ao fácil contágio e pelos diversos casos ocorridos nos últimos anos, ganharam destaque na mídia, sendo consideradas doenças de grande relevância na atualidade que demandam ações de educação em saúde efetivas. A escolha dos livros didáticos como objeto de estudo se deu principalmente por sua relevância para alunos e professores, constituindo-se como principal referência tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico (BARCELOS; MARTINS, 2011, p. 9). Dessa forma, esse objeto – o livro escolar – se constitui uma importante fonte/referência de dados. Posteriormente, a partir dessa análise, foi proposto um livro do professor, produto dessa dissertação, dirigido aos professores, complementar à abordagem realizada no LD. Esse material tem o intuito de contribuir para a promoção da educação em saúde na escola, através da proposição de estratégias que permitam expandir os conhecimentos escolares sobre viroses por meio de atitudes e valores compatíveis com a realidade social. 15 Sendo assim, esse trabalho está organizado em seis capítulos. O primeiro trata-se dessa introdução em que foi feito o levantamento da problemática, argumentação sobre a importância do tema e apresentação dos objetivos ao desenvolver a dissertação. O segundo capítulo é dedicado à metodologia utilizada na investigação dos LD. O capítulo três traz os resultados e discussões da investigação, constituindo um capítulo importante para estruturar o produto da dissertação. Neste capítulo, apresenta-se um breve histórico de algumas décadas de evolução do ensino de viroses no livro didático, seguido de uma discussão das condições de ensino na atualidade, dessa forma, percebem-se os desafios para uma proposição de uma nova abordagem. O capítulo quatro aborda as estratégias didáticas utilizadas na elaboração das atividades sobre os temas AIDS, dengue e gripe buscando um ensino contextualizado com a realidade atual. O quinto capítulo traz a apresentação e avaliação do produto da dissertação - um ebook- dirigido aos professores com conteúdos e atividades sobre os temas: AIDS, dengue e gripe. Por fim, foram apresentadas as considerações finais baseadas na análise dos capítulos anteriores, em que foram enfatizados os principais benefícios do produto gerado nesta dissertação no processo do ensino voltado para a educação em saúde. Salienta-se que os referenciais teóricos foram colocados no decorrer dos capítulos da dissertação para embasar dados descritos e discutidos por acreditar que esta forma de apresentá-los seja mais didática e produtiva. 16 2 A INVESTIGAÇÃO Os dados primordiais que possibilitaram inferir quais seguimentos seriam dados à elaboração do produto foram obtidos através da análise de livros didáticos, pois os mesmos resguardam a evolução histórica dos textos escolares, refletem de certo modo a dinâmica própria da educação em cada período, além de permitir obter informações sobre a educação vigente. 2.1 O livro didático O livro didático se consolidou como uma das principais ferramentas utilizadas no contexto escolar. Seu continuado prestígio ao longo de tantas décadas pode ser atribuído, dentre outros fatores, por: ser um valioso suporte da prática docente; servir de guia de estudo para os alunos; pela importância mercadológica e por manter consonância com as propostas governamentais, sendo editado conforme as normas vigentes de cada período (BITTENCOURT, 2004). Dessa forma, o livro escolar se constitui na atualidade em uma das principais referências para pesquisas relacionadas ao contexto escolar. Segundo Bosco e Cunha (2003, p.186) a grande maioria dos profissionais da educação faz uso apenas do livro didático, onde os conteúdos, o planejamento e os exercícios estão diretamente relacionados a este sem recorrer a nenhuma outra ferramenta. Nesse contexto, Delizoicov (2001) retrata a importância do livro para o professor por ser uma ferramenta didática a qual ele recorre como instrumento que contribui para o desenvolvimento do seu trabalho e, embora algumas vezes seu uso não seja explicito, o livro é utilizado indiretamente como auxiliar ao trabalho docente, por exemplo, na forma como o professor estrutura suas atividades. Como explica Beltrán Núñez et al. (2003). Os professores (as) utilizam o livro como o instrumento principal que orienta o conteúdo a ser administrado, a seqüência desses conteúdos, as atividades de aprendizagem e avaliação para o ensino das Ciências. O uso do livro didático pelo (a) professor (a) como material didático, ao lado do currículo, dos programas e outros materiais, instituem-se historicamente como um dos instrumentos para o ensino e aprendizagem. (BELTRÁN NÚÑEZ et al., 2003, p. 2). Para o aluno, o livro didático representa uma fonte de informação e de metodologia, onde ele tem contato com os conhecimentos científicos, sendo, de acordo com Cury (2009, p.121), um material didático imprescindível para o acompanhamento dos estudos e para propiciar maior segurança. O livro escolar não tem a presunção de sintetizar o conjunto de 17 materiais didáticos disponíveis aos estudantes, mas ele é indispensável na ação de apoio aos alunos. Outra importância atribuída aos livros didáticos está relacionada ao seu valor como produto cultural devido a sua concordância com as indicações governamentais. A instituição de uma política pública para o livro didático brasileiro remonta ao Estado Novo (1937-45), quando se organizou, pela primeira vez, uma Comissão Nacional de Livros Didáticos, cujas atribuições envolviam o estabelecimento de regras para a produção, compra e utilização do livro didático, tarefa assumida pelo Ministério da Educação e Saúde. Dessa forma, o livro didático está vinculado a projetos políticos e culturais preservando valores e modelagem de condutas, sendo, portanto, uma peça ideológica fundamental, que desempenha importante papel estratégico na difusão dos valores apregoados pelo regime. (MIRANDA; LUCA, 2004). Vale destacar a relevância do livro didático como produto comercial. Esse assunto coloca em pauta várias questões como a influencia das grandes editoras no mercado, o marketing atribuído ao produto e até na qualidade do material, pois, apesar de haver atualmente programas de avaliação do livro didático instituído pelo governo, existem pesquisas sendo realizadas com intuito de verificar a precisão das avaliações realizadas nos livros escolares devido à sua valorização comercial. Tal fato pode ser constatado no argumento de Höfling (2006) que confirma a interferência do governo ao conferir uma aprovação aos materiais considerados com maior qualidade, mas ao mesmo tempo, questiona o número reduzido de editoras das quais tem suas obras aprovadas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Os livros escolares têm despertado interesse como fonte/referência de vários estudos: Lajolo (1996, p.4) destaca dentre os diversos materiais escolares (giz, quadro, lousa, computador, etc.) os livros como tendo papel decisivo para a qualidade do aprendizado resultante das atividades escolares. Nesse mesmo contexto, Krasilchik (2000) destaca que para se ter uma reforma educacional bem sucedida é necessário levar em consideração a aquisição de bons materiais, dentre os quais se devem considerar os livros didáticos por servirem de apoio e orientação aos professores para a apresentação dos conteúdos. Assim, o LD atualmente é visto como uma espécie de “caixa preta” dos fatos e particularidades da educação, funcionando como indicativo de características educacionais no qual se deseja retratar tanto em um contexto histórico quanto na contemporaneidade. Entretanto, nem sempre foi assim, de acordo com Bittencourt (2004); esse interesse em utilizar livros didáticos em pesquisas só se consolidou nas últimas décadas. 18 Os balanços bibliográficos mostram que houve uma tendência, iniciada na década de 1960, de se analisarem os conteúdos dos livros escolares privilegiando a denúncia do caráter ideológico dos textos. Tal abordagem ocupava e ainda ocupa um lugar de destaque nas pesquisas nacionais e de vários outros países, cujo enfoque sobre as ideologias subjacentes aos manuais permanece. Mas nos últimos anos há mudanças de abordagens, que integram reflexões de caráter epistemológico, essenciais para a compreensão da constituição das disciplinas e saberes escolares. Paralelamente às análises sobre os conteúdos, foram sendo acrescidas outras temáticas, notadamente as relações entre as políticas públicas e a produção didática, evidenciando o papel do Estado nas normatizações e controle da produção. (BITTENCOURT, 2004, p.471). Dentre as diversas perspectivas nas quais os livros didáticos têm sido analisados, destaca-se a análise de conteúdos da abordagem da temática saúde que tem sido retratada por vários autores como insuficiente, principalmente por não mobilizarem atitudes e condutas. Freitas e Martins (2009) e Monteiro, Gouw e Bizzo (2009) observaram a existência de uma ênfase maior nos condicionantes biológicos relacionados à saúde o que leva ao aluno a ter um aprendizado pautado na retenção de fatos, faltando uma abordagem relacionando as causas do processo saúde/doença que aproxime mais o conteúdo ao cotidiano do aluno. Os autores também apontam que o predomínio em determinada ênfase, como tem ocorrido em relação à estrutura dos microrganismos em detrimento dos aspectos relacionados à saúde humana, limita as possibilidades de desenvolvimento de aprendizagens fundamentais a melhoria das condições de vida e saúde dos alunos e de suas famílias. Nesse contexto, Mohr (1995) retrata que a ausência de uma abordagem mais consistente nos livros escolares causa vários problemas, como no caso da AIDS, em que a falta de informações contribui para o preconceito e a prática de comportamento de risco. O livro didático é produzido para atender a população escolar de forma geral, sendo necessário que o educador crie estratégias para suprir as limitações próprias dele. Embora seja de indiscutível importância, por seu caráter genérico, por vezes, os livros podem não contextualizar os saberes e também podem não ter conteúdos específicos para atender às demandas sociais de relevância em um determinado momento. Dessa forma, torna-se tarefa dos professores complementar, adaptar e dar maior sentido aos bons livros recomendados pelo Ministério da Educação (MEC). (BELTRÁN NÚÑEZ et al., 2003, p. 3). 2.2 Análise dos livros didáticos de biologia O livro didático comumente determina conteúdos e condiciona estratégias de ensino, marcando de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina a partir dos múltiplos recursos que o constituem tais como textos informativos, imagens, diagramas, tabelas e atividades 19 (LAJOLO, 1996). Dessa forma, o livro é um objeto imprescindível para melhor entendimento da realidade do ensino brasileiro, através da análise dos conteúdos selecionados para sua composição e a forma como tais conteúdos são abordados. Segundo Corrêa (2000), o LD é portador de conteúdos representativos de determinado período e valores que se desejou que fosse ensinado num dado momento, residindo aí a importância de sua utilização para a compreensão das práticas escolares no interior das instituições educativas ao longo da história da educação por conter parte dos conteúdos do currículo escolar e das políticas educacionais. (...) dependendo do período histórico no qual for tomado como fonte, esse tipo de material pode ser considerado como o portador supremo do currículo escolar no que tange aos conhecimentos que eram transmitidos nas diferentes áreas, quando se constituiu em única referência tanto para professores quanto para alunos. (CÔRREA, 2000, p. 13). Nesse aspecto, Krasilchik (2008, p. 44) aponta o conteúdo como a maior preocupação dos professores ao fazerem seu planejamento, tendo que tomar decisões de três tipos: O que ensinar – a abrangência da matéria ministrada; Em que sequência ensinar – a melhor ordenação dos tópicos e como relacionar e integrar os assuntos a outros tópicos da mesma e de outras disciplinas. Dessa forma, destaca-se a análise de conteúdos, que foi o enfoque desse trabalho, com intuito de revelar a abordagem sobre as viroses AIDS, dengue e gripe nos livros de biologia em várias épocas. 2.3 Metodologia da Investigação Foi realizado um estudo em livros didáticos de biologia do ensino médio com intuito de verificar como as doenças retratadas nessa pesquisa (dengue, AIDS e gripe) têm sido expostas nos livros escolares, além de averiguar a possível existência de uma correlação da abordagem dessas doenças com períodos em que ocorreram surtos significativos. Para tal foram analisados os livros de biologia que compõe o acervo do Banco de livros didáticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais1 (PUC Minas), no qual se constituía até julho de 2011 um acervo de biologia com 296 exemplares. Cientifica que não 1 O Banco de Livros Didáticos da PUC Minas está vinculado ao Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros (LIVRES) da Faculdade de Educação da FEUSP e se dedica a pesquisa em educação. Faz parte das coleções especiais da Biblioteca Central da PUC Minas, se constitui em um acervo exclusivo de livros escolares e conta com vários exemplares de Ciências e Matemática. 20 foram analisados os livros de conteúdos específicos como, por exemplo, o título Botânico para a escola secundária, por não abordarem o conteúdo proposto nesse trabalho. Assim, foram analisados 205 livros dos quais foram manuseados primeiramente para ser consultado o seu sumário, no qual, por vezes, foi possível localizar o conteúdo pesquisado de forma mais rápida. Contudo, alguns exemplares apresentam a temática retratada incorporada a outros conteúdos, não estando explicitado no sumário, motivo pelo qual, neste caso, foi consultado todo o conteúdo destes exemplares. Foram utilizados na pesquisa como referência de textos escolares atuais, os livros didáticos de biologia aprovados no Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio (PNLEM 2007 e PNLD EM 2012). A análise dos livros recomendados pelo PNLEM 2007 e pelo PNLD EM 2012 foi realizada com auxílio de uma ficha de avaliação para a coleta de dados (QUADRO 1) contendo aspectos considerados relevantes à temática pesquisada. A ficha avaliativa foi adaptada de Batista, Cunha e Candido, 2010. Quadro 1 - Ficha de avaliação dos livros didáticos de biologia acerca do assunto AIDS, dengue e gripe CRITÉRIOS OBSERVADOS NA AVALIAÇÃO 1 – Aborda o conteúdo? 2 – Espaço dedicado ao assunto 3 – Figuras: o Quantidade o Com legendas adequadas o Claras e explicativas o Coerentes com o texto 4 – Em relação ao conteúdo, aborda sobre dengue, gripe e AIDS os seguintes aspectos: o Agente etiológico /vetor o Sintomas o Epidemiologia o Transmissão o Prevenção o Tratamento o Aspectos sociais o Existem referências atualizadas em relação ao ano de publicação 5 – Em relação à abordagem do conteúdo AIDS, dengue e gripe: o Possuem exemplificações claras sobre a temática, relacionando-se com o dia-a-dia do aluno o Estimulam o raciocínio crítico do aluno o Possuem sugestões de leitura complementar o Propõem atividades em grupo e discussões em relação ao assunto o Apresentam exercícios sobre os temas Fonte: Adaptado de Batista, Cunha e Cândido, 2010, p. 150 21 Os dados coletados foram então analisados e organizados em quadros e gráficos para uma melhor apresentação e discussão dos resultados. É importante enfatizar que não foi objetivo da análise comparar livros didáticos ou avaliálos. A metodologia aqui proposta visa apenas um estudo exploratório de como se dá abordagem das viroses AIDS, dengue e gripe, conforme o conteúdo de seus textos e imagens. E que, de acordo com a Lei do Direito Autoral (Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998) no artigo 43, inciso III é legítimo o estudo desses materiais, desde que esteja devidamente referenciado. Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra. (Redação dada pela Lei nº 9.610, de 1998). (BRASIL, 1998a). 22 3 ABORDAGEM DAS VIROSES AIDS, DENGUE E GRIPE NOS LIVROS DIDÁTICOS (LD) DE BIOLOGIA A partir da análise de livros didáticos (LD) de biologia foi realizado um levantamento da abordagem das viroses dengue, AIDS e gripe em uma perspectiva histórica inferindo a ênfase dada a essa temática no ensino Nacional. A seguir decorre a apresentação e discussão dos dados obtidos nessa pesquisa. 3.1 Visão histórica No início do séc. XXI a gripe, a AIDS e a dengue já eram consideradas doenças relevantes no cenário brasileiro conforme é relatado no guia de vigilância epidemiológica (BRASIL, 2009), no qual descreve haver registros de pandemias de gripe desde o século XX, sendo a chamada “Gripe Espanhola” (1918/19) a ocorrência com efeitos mais graves, tendo causado mais de 20 milhões de mortes em todo o mundo. Casos periódicos dessa virose ocorrem de forma esporádica, no mundo todo, como surto localizado, ou regional, em epidemias e também como devastadoras pandemias. No caso da AIDS, houve registros no Brasil na primeira metade da década de 1980, em que a epidemia HIV/AIDS manteve-se basicamente restrita às Regiões Metropolitanas do Sudeste e Sul do país. Nesse período, a velocidade de crescimento da incidência e as taxas de mortalidade eram elevadas. Com relação à dengue há referências de epidemias no Brasil desde o século XIX. No século passado, há relatos de 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro, de casos sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia de dengue, documentada clínica e laboratorialmente, ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista – Roraima. Entre os anos de 1990 e 2000, várias epidemias foram registradas, sobretudo nos grandes centros urbanos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, responsáveis pela maior parte dos casos notificados. As regiões Centro-Oeste e Norte foram acometidas posteriormente, apresentando a ocorrência de epidemias de dengue, a partir da segunda metade da década de 1990. (BRASIL, 2009). Para obter uma visão histórica em relação à abordagem das viroses AIDS, dengue e gripe nos LD , foram analisados 205 exemplares de biologia do Banco de Livros didáticos da PUC Minas sendo, verificada a presença dessa temática em 48 livros - 23,4% (QUADRO 2). 23 Quadro 2 - Lista de livros antecedentes ao PNLD que apresentaram a abordagem sobre as viroses AIDS, dengue e gripe Obra/Autor(es) Ano de Publicação/ Volume/edição 1956 Compêndio de História Natural Antônio Antunes Júnior José Antunes 1960/2ª ed. Manual de biologia Oswaldo Frota- Pessoa 1962/2ª ed. Biologia na escola secundária Oswaldo Frota- Pessoa 1965/Volume 2 Biologia Irmãos Maristas 1966/4ª ed. Biologia Aurélio Bolsanello José Daniel van der Broocke Filho 1968 Biologia na escola secundária Oswaldo Frota- Pessoa 1970 Biologia geral Aurélio Bolsanello José Daniel van der Broocke Filho Orlando Theodorico de Freitas Biologia: versão verde. 1972/Volume 2 1974/9 ª ed. Biologia geral Milton Menegotto Antonio C. P. Azevedo 1979/18 ª ed. Biologia Albino Fonseca 1982/22 ª ed. Biologia Albino Fonseca 1982 Biologia II José Luiz Pedersoli Wellington Caldeira Gomes 1983 Programas de saúde Ayrton César Marcondes 1984/Volume 2 A ciência da biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho 1985/Volume 2 Curso básico de biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho 1985 Biologia José Luís Soares 1986/ 2 ª ed. Bio, livro amarelo Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes 1986/ 2 ª ed. Programas de saúde Sergio de Vasconcellos Linhares Fernando Gewandsznajder 24 Obra/Autor(es) Curso completo de biologia Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Plínio Carvalho Lopes Biologia celular Sergio de Vasconcellos Linhares Fernando Gewandsznajder Biologia José Luís Soares Bio, livro amarelo Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Biologia Cesar da Silva Junior Sezar Sasson Biologia atual Wilson Roberto Paulino Biologia Demetrio Ossowski Gowdak Neide Simões de Mattos Biologia atual Wilson Roberto Paulino Programas de saúde Jose Luiz Faria Vasconcellos Fernando Gewandsznajder Biologia José Luís Soares Biologia hoje Jose Luiz Faria Vasconcellos Fernando Gewandsznajder Bio Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho Programas de saúde Jose Luiz Faria Vasconcellos Fernando Gewandsznajder Programas de saúde José Luís Soares Biologia Cesar da Silva Junior Sezar Sasson Programas de saúde Jose Luiz Faria Vasconcellos Fernando Gewandsznajder Biologia Albino Fonseca Ano de Publicação/ Volume/edição 1988/ 2 ª ed. 1988/ 6 ª ed. 1988/ Volume 1/8ª ed. 1989/ 5 ª ed. 1989/ Volume 2/5ª ed. 1989/ Volume 2 1990 1991/Volume 2/5ª ed. 1991/ 18ª ed. 1991/ Volume único/ 2ª Ed. 1992/ Volume 1/ 2ª ed. 1993/ Volume 3/ 9ª ed. 1994/Volume 2 1994/ 22 ª ed. 1994/ 2 ª ed. 1995/Volume 1 1995/ 23 ª ed. 1996 /39ª ed. 25 Obra/Autor(es) Biologia Cesar da Silva Junior Sezar Sasson Biologia Cesar da Silva Junior Sezar Sasson Bio Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Biologia hoje Sergio de Vasconcellos Linhares Fernando Gewandsznajder Biologia hoje Sergio de Vasconcellos Linhares Fernando Gewandsznajder Biologia no terceiro milênio José Luís Soares Biologia hoje Sergio de Vasconcellos Linhares Fernando Gewandsznajder Biologia Clarinda Mercadante Fundamentos da biologia moderna José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho Bio Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Conceitos de biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho Biologia Armênio Uzunian Ernesto Birner Ano de Publicação/ Volume/edição 1996/Volume 1/2ª ed. 1996/Volume 2/2ª ed. 1997/Volume único/6ª ed. 1998/Volume 1 /7ª ed. 1998/Volume 2 /7ª ed. 1998/Volume 1 1998/Volume 1 /10ª ed. 1999/Volume único/2ª ed. 1999/ 2ª ed. 2000/Volume único/11ª Ed. 2001 /Volume 2 2001/Volume único Fonte: Dados da pesquisa A seguir decorre a explanação do que foi detectado na análise dos livros em um contexto histórico. A primeira menção sobre essas viroses foi encontrada em um livro da década de 1950 dos autores Antunes Júnior e Antunes (1956). A obra apresenta um capítulo com o tema vírus, mas, nesse momento, são retratadas apenas as características biológicas desses organismos. As doenças infecto-contagiosas são apresentadas no capítulo denominado "Noções de higiene", no item “Doenças evitáveis transmitida por seres vivos parasitos”, no qual retrata a gripe sem abordar AIDS e dengue. 26 Gripe. A gripe, que alguns autores acreditam seja causada por uma bactéria, é pela maioria considerada como virulose. No combate a gripe, deve-se evitar tossir sem proteger a boca com o lenço; evitar apertos de mãos, beijos, etc., que possam facilitar a transmissão da doença; diminuir as possibilidades de resfriados. (ANTUNES JÚNIOR; ANTUNES, 1956, p. 339). Nessa abordagem observa-se a presença de métodos preventivos, relacionados à higiene para evitar a gripe e a informação equivocada da gripe como uma doença causada por bactérias. Da década de 1960 foram encontrados cinco exemplares que fizeram menção à gripe, dentre os quais apenas quatro citaram essa virose como exemplo de doença viral e na obra de Bolsanello e Broocke Filho (1966), no tópico “Enfermidades de âmbito geral por vírus” (p. 495-499), algumas doenças são descritas, dentre as quais a gripe, novamente sem abordar a AIDS ou a dengue. GRIPE – Inicialmente não devemos confundir o resfriado comum, freqüente e passageiro com a gripe ou influenza, que é doença infecciosa, causada por vírus. É extremamente contagiosa. Manifesta-se de maneira epidêmica. Complica-se muito facilmente. Importante assinalar não só existência de epidemias como PANDEMIAS. No decurso da história, foi o caso da pandemia de 1918, conhecida como “gripe espanhola” que causou a morte a mais de 40.000.000 de pessoas e a epidemia da “gripe asiática” de 1957, oriunda da China e que se propagou por quase todo o mundo. A infecção é caracterizada por febre, dor de cabeça, tosse e enfraquecimento orgânico geral, para então posteriormente surgirem as complicações como pneumonia, broncopneumonia, pleurisia, etc. O tratamento deve ser orientado pelo uso de vitamina C, antipiréticos, desinfecções da garganta, injeções de cálcio em associações vitamínicas, alimentação protéica, evitar aglomerações e lugares poeirentos. (BOLSANELLO; BROOCKE FILHO, 1966, p. 497). b Embora apresente dados históricos, sintomas e tratamento, essa abordagem não menciona formas de prevenção mais consistentes, apenas sendo sugerido evitar aglomerações e lugares poeirentos. Nesse trecho, percebem-se dados equivocados como a informação de que pneumonia, broncopneumonia, pleurisia (inflamação pleural), etc. são complicações da gripe e também que o uso de vitamina C trata a gripe. Na década de 1970, quatro exemplares fizeram referência à gripe sendo um deles de Bolsanello e Broocke Filho (1970) no qual apresenta a mesma abordagem da década de 1960 na obra dos mesmos autores. Já Fonseca (1979) e Menegotto e Azevedo (1974), apenas citaram a gripe como exemplo de viroses, sendo que Menegotto e Azevedo abordaram a gripe ao retratar os vírus e Fonseca no capítulo denominado “Higiene e saúde”. 27 A abordagem mais significativa dessa década foi feita no livro Biologia: versão verde (1972) que faz menção à gripe ao abordar os vírus e acrescenta no item “causas de epidemias” dados históricos sobre a gripe espanhola que, segundo o texto, devido à baixa imunidade das pessoas em consequência de um período pós-guerra, repercutiu em um elevado número de pessoas contaminadas por essa virose resultando em inúmeras mortes, com uma repercussão grave. Nessa obra não são apresentadas medidas preventivas. Na década de 1970, os LD de biologia ainda não abordavam AIDS e dengue, embora, nesta década, já haviam sido documentados casos de dengue no Brasil (BRASIL, 2009). Na década de 1980, foram encontrados quatorze livros com abordagem relativa às viroses: dengue, AIDS ou gripe, dentre os quais oito fazem referência à gripe ao exemplificar viroses. No livro de Lopes (1986), a gripe é citada como exemplo de parasitismo no capítulo sobre "Relação entre os seres vivos". Em duas obras de Amabis e Martho (1984 e 1985) a gripe, juntamente com outras viroses, é apresentada no capítulo sobre vírus em uma tabela que apresenta características gerais tais como modo de transmissão, modo de infecção e medidas de controle (FIG.1). Nessas obras, os autores ressaltam que não há medidas de controle para a gripe e não abordam medidas preventivas. Figura 1 - Forma como é apresentada a gripe no livro de Amabis e Martho em 1985 Fonte: Amabis e Martho, 1985, p. 258 Em 1982, casos de AIDS já haviam sido diagnosticados em vários países incluindo o Brasil, ocorrendo uma grande comoção em relação a essa nova patologia (BRASIL, 2009, p. 1 – caderno 6), contudo, a primeira menção sobre a AIDS nos livros didáticos analisados foi observada no final da década de 1980 no livro de Linhares e Gewandsznajder (1988), no qual descrevem sobre a doença, o diagnóstico, a transmissão, os sintomas e a ausência de tratamento. 28 AIDS ou SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) – é uma doença causada por um vírus que ataca um tipo de linfócito, célula que defende nosso corpo contra infecções. Este vírus está presente no sêmen e no sangue, podendo ser transmitido por relações sexuais ou transfusões de sangue. A doença atinge com mais freqüência os homossexuais (isto é atribuído ao grande número de parceiros sexuais diferentes, o que aumenta as chances de contágio), os hemofílicos e os viciados em drogas injetáveis (através da contaminação de agulhas e seringas não esterilizadas). Parece que nem todos os indivíduos infectados desenvolvem sintomas, mas em alguns surgem infecções repetidas e tumores malignos que levam à morte. O diagnóstico é feito através de exame clínico e confirmado por testes laboratoriais que pesquisam a presença de anticorpos contra o vírus no sangue. Ainda não há cura para a doença, embora se pesquise uma vacina. (LINHARES; GEWANDSZNAJDER, 1988, p. 450). Silva Junior e Sasson (1989) citam a gripe e a AIDS no texto principal do capítulo “O homem e os Micróbios”, havendo um item específico sobre o vírus da AIDS. Já Paulino (1989), faz a abordagem sobre viroses na forma de tabela na qual retrata a AIDS e a dengue, sendo apresentada uma síntese sobre as formas de contágio, infecção, controle, sintomas e características dessas doenças. Na década de 1990, 21 livros apresentaram o conteúdo sobre AIDS, dengue ou gripe. Dessa década, foi constatado que alguns autores retrataram as viroses e suas características de forma generalizada ,como Linhares e Gewandsznajder (1998, v.2) e Soares (1991), que abordaram a AIDS, dengue e gripe sem enfatizar nenhuma virose especificamente. Em outras abordagens, é dado destaque a algumas viroses, ficando a escolha de qual delas será retratada a critério do autor, como Vasconcellos e Gewandsznajder (1991); no item “doenças causadas por vírus e bactérias”, existe uma síntese de algumas doenças causadas por esses microrganismos, mas a AIDS é retratada à parte em um capítulo exclusivo, sendo abordados vários aspectos dessa virose (p. 239-253). Esse fato também ocorreu na obra de Linhares e Gewandsznajder (1998, v.1), em que no capítulo sobre vírus apenas cita as doenças virais, todavia, a AIDS foi destacada sendo retratada em um capítulo especial com 14 páginas, o que possibilitou a abordagem de vários aspectos dessa virose como a descoberta, a origem, o vírus, a doença, o tratamento, a transmissão e a prevenção. Nesse capítulo, foram encontradas também questões de múltipla escolha e discursivas sobre a AIDS. Alguns autores como Silva Junior e Sasson (1995, v. 1), ao abordarem o tema sobre viroses, apenas fazem menção às doenças virais citando como exemplo a gripe, a AIDS e a dengue entre outras sem fornecer outros detalhes (FIG. 2). 29 Figura 2 - Forma como as viroses são retratadas de forma generalizada no livro didático de biologia Fonte: Silva Junior e Sasson, 1995, v. 1, p. 236 Na mesma obra, a AIDS é retratada no texto principal em que é citado o ciclo dessa virose como exemplo de vírus de RNA e no tópico "nossas defesas contra os vírus" é citado também o uso da azidotimidina (AZT) - medicamento utilizado como antirretroviral -, para tratar a AIDS. Além disso, apresenta uma leitura complementar "AIDS, A doença do século" na qual retrata a história dessa virose, agente etiológico, tratamento, transmissão e prevenção. Em alguns livros de Lopes (1993 e 1997), dessa década assim como no exemplar de 2000 da mesma autora, no capítulo destinado aos vírus, há um item sobre “Vírus de animais” no qual a gripe é tratada como uma doença sem gravidade, não sendo, retratada nenhuma característica dessa virose. Além da AIDS, os vírus são responsáveis pela maioria das infecções humanas, causado numerosas doenças. Muitas dessas doenças não são graves, como é o caso das gripes; outras, no entanto, já apresentam maior gravidade, como é o caso da raiva, poliomielite (paralisia infantil), febre amarela, dengue, hepatite, herpes, sarampo, catapora, caxumba, rubéola, varíola. (LOPES, 2000, p. 198, grifo nosso). A dengue e a AIDS são abordadas com mais detalhes, sendo essa última descrita com ênfase maior no capítulo “Vírus”, item 6, intitulado “O vírus da AIDS”. Além da abordagem destacada, as atividades, inclusive as questões de vestibulares, apresentam como principal 30 temática a AIDS, por exemplo, no livro de Lopes (2000) de 32 questões propostas no final do capítulo sobre vírus, 14 contemplam a virose AIDS (FIG. 3). Figura 3 - Algumas questões de vestibulares com ênfase na virose AIDS Fonte: Lopes, 2000, p. 203 A seguir é apresentado um gráfico (GRAF. 1) que mostra a presença da abordagem das viroses AIDS, gripe e dengue nos livros didáticos de biologia analisados em relação ao número total de livros de biologia do acervo da coleção de livros didáticos da Biblioteca PUC Minas em 2011, estando os dados estão discriminados por década. 31 Gráfico 1 - Abordagem das viroses gripe, dengue e AIDS, nos livros didáticos de biologia analisados Fonte: Dados da pesquisa A análise nos livros escolares, em um contexto histórico, ratificou as seguintes evidências: 1. Embora a AIDS, a dengue e a gripe sejam doenças de grande relevância no nosso país, dos 205 livros analisados nessa pesquisa apenas 48 exemplares (23,4%) apresentaram uma abordagem sobre essa(s) virose(s) ou a menciona(m), ou seja, em 76,6% dos exemplares investigados, essas doenças não são mencionadas mesmo quando são abordadas temáticas relacionadas às viroses. Isso pode ser visualizado, por exemplo, no livro de Pedersoli (1976) e Soares (1988), quando apresentam tópicos sobre vírus, apenas fizeram referência as suas características biológicas sem apresentar inferências sobre doenças viróticas. 2. O conteúdo de doenças viróticas era retratado até a década de 1960 prioritariamente no capítulo destinado a “Higiene e saúde”, no qual tinha uma abordagem mais específica sobre patologias e cuidados com o corpo. Na década de 1970, esse capítulo foi sendo suprimido dos livros de biologia, e as viroses passaram a ser retratadas no capítulo de vírus, com ênfase na definição e caracterização biológica desses microrganismos. Embora algumas vezes as viroses apareçam em outros momentos nos livros didáticos, o conteúdo é abordado de forma muito simplificada, citados apenas como exemplo, disposto na forma de tabela ou abordado de forma resumida no texto. 3. Embora seja considerado um grande problema de saúde pública no nosso país, a dengue foi pouco abordada nos livros didáticos, sendo encontrada a primeira menção dessa virose em uma obra do final da década de 1980. Na década de 1990, a dengue 32 passou a ser abordada com mais frequência, contudo, essa virose é apresentada de forma sintetizada ou apenas como exemplo de tipos de viroses. 4. Dentre as doenças pesquisadas, a AIDS, desde a década de 1990, apresentou uma posição de destaque nos livros didáticos, sendo as demais viroses retratadas, muitas vezes, como “Outras doenças humanas” de origem virótica. Assim, aspectos relacionados à transmissão e profilaxia dessas viroses, importantes no contexto da educação em saúde, foram abordados de forma generalizada e pouco destacada nos livros didáticos de biologia. De acordo com os PCN (1996), desde o século XIX, os conteúdos relativos à saúde foram sendo incorporados ao currículo escolar brasileiro, mas, somente em 1971, com a LEI no 5.692, de 11 de agosto de 1971, foram fixadas Diretrizes e Bases para o ensino naquela época quando foi introduzida formalmente no currículo escolar a temática da saúde. (BRASIL, 1996). Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programa de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado quanto a primeira o disposto no Decreto-lei no 869, de 12 de setembro de 1969. (Redação dada pela Lei nº 5.692, de 1971). (BRASIL, 1971, art. 7º). O cumprimento dessa norma levou alguns autores a publicarem livros paradidáticos sobre saúde, dentre os quais Vasconcellos e Gewandsznajder (1986, 1991, 1994 e 1995) e Marcondes (1983). Esses paradidáticos são intitulados Programas de Saúde. José Luís Soares (médico e professor), ao publicar na década de 1990 um livro paradidático do Programa de Saúde, reconheceu que nas obras escolares o conteúdo destinado à saúde era insuficiente para alertar os educandos sobre prevenção e tratamentos de doenças das quais todos deveriam ter conhecimentos básicos. A seguir, é apresentada a justificativa de Soares para a elaboração de um paradidático com enfoque em educação em saúde. Este livro tem por propósito preencher uma lacuna que deixamos em nossas outras obras de Biologia (BIOLOGIA - 3 volumes, BIOLOGIA BÁSICA, também em 3 volumes, e BIOLOGIA - Volume Único) encontradas em todo o território nacional. A grande dimensão dos programas curriculares dessa disciplina não nos permitiu, entretanto, a exposição mais detalhada dos assuntos pertinentes à saúde, aos problemas demográficos e às agressões sofridas pelo meio ambiente, naqueles volumes. Aqui, sim, tais assuntos encontram campo aberto para ampla divagação, porque este livro é voltado especificamente para essa finalidade. Pela nossa experiência de 37 anos de magistério somada a outro tempo praticamente igual no exercício da Medicina, sentimo-nos autorizados a escrever esta obra. E esperamos ter conseguido nela resumir, de forma satisfatoriamente didática, os principais conhecimentos que devem ser transmitidos à juventude brasileira no que diz respeito à saúde individual e comunitária, para que, num amplo processo de 33 formação global dos nossos educandos, possamos contar, no futuro, com uma sociedade mais igualitária, sadia e pacífica. Afinal, ainda que possa parecer uma utopia, a verdadeira e irrestrita paz, se puder ser alcançada, só o será quando o homem descobrir uma forma de preservar melhor a sua saúde, de acabar com as berrantes desigualdades sociais e deixar de praticar as agressões que vem realizando contra o seu próprio meio ambiente. Como médico, dosei aquilo que qualquer cidadão, não importando o tipo de atividade profissional que exerça ou pretende exercer, deve ter conhecido. Nenhum advogado, arquiteto, metalúrgico, administrador, economista, mecânico, industrial ou comerciante está livre de ter uma dessas doenças arroladas neste livro ou de assisti-la numa pessoa de sua família ou de suas relações. Se, ao menos, conhecer as bases dessa patologia, talvez possa ajuizar melhor seu procedimento em tal eventualidade. Quem sabe, possa até prevenir-se de muitas delas. (...) (SOARES, 1994, p. 3). O prefácio, escrito por Soares, demonstra a consciência do autor em relação à abordagem restrita sobre saúde nos LD, justificada pela grande extensão dos conteúdos de biologia e que foi de certa forma suprida por publicação complementar ao livro didático. As obras Programas de saúde abordam as viroses AIDS, dengue e gripe. No livro de Vasconcellos e Gewandsznajder (1991), há um capítulo exclusivo sobre a AIDS constando as características do vírus, agente etiológico, diagnóstico, sintomas, transmissão, tratamento e prevenção, mas estão ausentes atividades. Já a gripe e a dengue foram apresentadas no capítulo intitulado “Doenças causadas por vírus e bactérias”. A gripe é retratada no decorrer do capítulo no qual apresenta sintomas e transmissão, sendo observadas as más condições de higiene e alimentação como fator na difusão dessa virose, e fatos históricos como as gripes Espanhola (1918) e Asiática (1957). No final do capítulo há questões discursivas abordando essa virose. Já a dengue, foi enfocado após as questões como fechamento do capítulo em um item denominado “Especial”, no qual houve citação sobre o vetor, sintomas, tratamento e prevenção. No livro de Marcondes (1983), o autor comenta que a primeira edição de seu paradidático foi publicada em 1979. A obra analisada, apesar de ser totalmente voltada para a saúde, constando inclusive capítulos destinados a doenças sexualmente transmissíveis (DST), vírus e sobre doenças transmissíveis, não apresenta uma abordagem consistente sobre as viroses AIDS, dengue e gripe, sendo estas apenas citadas no capítulo de vírus. No livro de Soares (1994), as viroses AIDS, dengue e gripe são retratadas no capítulo “Estudos sumários das doenças”, item “Doenças adquiridas transmissíveis”, onde é abordado agente etiológico, transmissão e sintomas. Há dados atualizados para a época e a virose AIDS também é retratada em outro momento da obra quando são abordadas as doenças sexualmente transmissíveis. 34 A análise histórica dos LD e paradidáticos de biologia aqui apresentada aponta para a necessidade de uma abordagem mais significativa em relação às viroses, AIDS, dengue e gripe. 3.2 Abordagem nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e PNLD EM 2012 Atendendo inicialmente ao ensino fundamental, desde 1995 o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) vem atuando na avaliação de obras escolares com intuito de melhorar a qualidade dos livros. Em 2004, foi implantado, pela Resolução nº 38 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), elaborado em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Inicialmente, esse programa contemplou os livros das disciplinas Matemática e Português, ocorrendo em 2006 a publicação de um catálogo para escolha dos livros de biologia (PNLEM /2007). Com o sucesso do programa, este foi incorporado ao PNLD, assim, em 2008, houve novas escolhas dos livros didáticos de biologia pelas escolas; contudo, nesse momento foi usado o mesmo catálogo de livros que haviam sido avaliados e aprovados no PNLEM/2007, para que em 2011 houvesse uma padronização da seleção dos livros do Ensino Médio de todas as disciplinas. Dessa forma, até o presente momento houve apenas duas avaliações dos livros didáticos de biologia: a primeira - PNLEM 2007 e a segunda - PNLD EM 2012. No processo de seleção dos livros no PNLEM 2007 o professor podia optar por uma coleção com três volumes de livros independentes para cada ano do ensino médio ou volume único. Segundo o PNLEM, o objetivo do livro escolar é contribuir para que os professores organizem sua prática, encontrem sugestões de aprofundamento e proposições metodológicas coerentes com as concepções pedagógicas que postulam. O catálogo dos livros didáticos salienta a importância das obras, contudo, deixa claro o seu papel como orientador do ensino, com o qual devem ser complementadas, dando um alerta aos professores para buscarem outras referências e não se restringir apenas aos livros didáticos. A adequação dos conteúdos à realidade dos alunos, a ampliação dos conhecimentos e das informações veiculadas, bem como a proposição de alternativas pedagógicas diversificadas, atendendo aos interesses dos alunos, são funções que cabem apenas aos professores, pois eles são os detentores das informações primordiais para um bom trabalho em sala de aula: o perfil, as expectativas, o contexto e as especificidades socioculturais dos educandos. (BRASIL, 2006, p. 16). 35 Dos livros aprovados no PNLEM 2007, nessa pesquisa, foram analisadas quatro obras de volume único e duas coleções seriadas (em 3 volumes), totalizando 10 livros conforme o Quadro 3. Quadro 3 - Lista de livros aprovados pelo PNLEM 2007 analisados na pesquisa Obra/Autor (es) Ano de Publicação/ Editora Volume/edição 2005/Volume único/1ª ed. Saraiva Biologia Sônia Lopes Sergio Rosso 2005/Volume único/1ª ed. Ática Biologia Sérgio Linhares Fernando Gewandsznajder 2005/Volume único/1ª ed. Nova Geração Biologia J. Laurence 2005/Volume único/2ª ed. IBEP Biologia Augusto Adolfo, Marcos Crozetta e Samuel Lago 2005/3. v./8ª ed. Saraiva Biologia César da Silva Júnior Sezar Sasson 2005/3. v./2ª ed. Moderna Biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho Fonte: Ministério da Educação, 2006 O PNLD EM 2012 contempla oito coleções com três volumes cada (QUADRO 4), das quais os professores puderam escolher uma delas. Nessa pesquisa, foram analisados todos os livros aprovados nessa edição do PNLD, sendo a abordagem das doenças virais AIDS, dengue e gripe constatada em 13 exemplares. Quadro 4 - Lista de livros aprovados pelo PNLD EM 2012 analisados na pesquisa Obra/Autor(es) Ano de Publicação/ Editora Volume/edição 2010/ 3.v./1ª ed. FTC Biologia Antonio Pezzi Demétrio Gowdak Neide Simões Mattos Biologia (Coleção Biologia para a nova geração) 2010/ 3.v./1ª ed. Nova Geração V. Mendonça J. Laurence 2010/ 3.v./1ª ed. Edições SM Ser Protagonista Fernando Santiago dos Santos João Batista Vicentin Aguilar Maria Martha Argel de Oliveira 36 Obra/Autor(es) Biologia José Mariano Amabis Gilberto Rodrigues Martho Biologia hoje Sérgio Linhares Fernando Gewandsznajder Novas Bases da Biologia Nélio Bizzo Bio Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Sérgio Rosso Biologia César da Silva Junior Sezar Sasson Nilson Caldini Júnior Ano de Publicação/ Volume/edição 2010/ 3.v./3ª ed. Editora Moderna 2010/ 3.v./1ª ed. Ática 2010/ 3.v./1ª ed. Ática 2010/ 3.v./1ª ed. Saraiva 2010/ 3.v./10ª ed. Saraiva Fonte: Ministério da Educação, 2011 Portanto, foram analisados um total de 34 livros, sendo 10 do PNLEM 2007 e 24 do PNLD EM 2012. Destes, 20 (58,8%) abordam as viroses AIDS, dengue ou gripe. A análise da abordagem foi realizada nesses 20 exemplares conforme metodologia descrita anteriormente (item 2.3). A seguir são apresentados os resultados da análise. 1_ Presença do conteúdo nos livros didáticos Foi observado que as viroses aparecem nos livros de biologia em cinco capítulos (QUADRO 5), e que em 14 (41,2%) livros analisados, a abordagem ocorre no capítulo sobre vírus, com enfoque principal na estrutura e características biológicas dos vírus. Quadro 5 - Capítulos dos livros didáticos de biologia em que as viroses AIDS, dengue ou gripe são abordadas Capítulo Relações ecológicas: Parasitismo Reprodução Sistema imunológico Vírus Visão geral das células Fonte: Dados da pesquisa Número de exemplares PNLEM 2007 PNLD EM 2012 1 2 3 1 6 8 1 37 Conforme o Quadro 5, percebe-se que nos livros utilizados no PNLEM de 2007 apenas em dois momentos (Relações ecológicas e Vírus) houve a presença do tema AIDS, dengue ou gripe. Isto possivelmente ocorreu por haver muitas coleções de volume único que apresentam os conteúdos mais condensados. Nas coleções aprovadas no PNLD EM de 2012 a abordagem foi expandida, sendo as viroses encontradas em capítulos diversos, provavelmente pelo fato de todos os livros aprovados no PNLD EM 2012 possuírem três volumes. Das 8 coleções do PNLD EM 2012 analisadas observa-se que apenas uma delas aborda o conteúdo nos três volumes (Laurence e Mendonça); 3 coleções apresentam a abordagem sobre as viroses AIDS, dengue ou gripe em dois volumes (César, Sezar e Caldini volumes 2 e 3; Linhares e Gewandsznajder; Santos, Aguilar e Oliveira - volumes 1 e 2), e quatro coleções apresentam a abordagem em um dos volumes (Amabis e Martho; Pezzi, Gowdak e Mattos; Bizzo - volume 2; Lopes e Rosso, v. 3). Dessa forma percebe-se que a maioria das coleções retratam as viroses AIDS, dengue e gripe em apenas um ano do ensino médio, sendo o predomínio dessa abordagem no volume 2 (GRÁF. 2). Gráfico 2 - Percentagem da abordagem do conteúdo sobre AIDS, dengue ou gripe por volumes nos livros aprovados pelo PNLD EM 2012 Fonte: Dados da pesquisa 2 – Espaço dedicado às viroses nos livros didáticos de biologia. Devido às viroses AIDS, dengue e gripe estarem contidas dentro de temáticas maiores, constituindo itens dentro dos capítulos, pode-se caracterizar o espaço dedicado à temática nos LD em três categorias: (1) Citação no texto principal apenas como exemplo de viroses; (2) Citação no texto principal com informações sobre as viroses e (3) Na forma de quadros destacados do texto principal com informações sobre as viroses. 38 Na primeira categoria, as doenças são citadas no texto principal como exemplificação de viroses, não havendo uma inferência mais consistente sobre elas (FIG. 4). Tal fato foi observado na obra de Adolfo, Crozetta e Lago (2005, p. 110), e de Linhares e Gewandsznajder (2010, v. 1, p. 99). Figura 4 – Exemplo da abordagem da AIDS, dengue e gripe apenas como exemplificação de viroses no texto principal Fonte: Adolfo, Crozetta e Lago, 2005, p. 110 Na segunda categoria as viroses foram abordadas no texto principal com informações específicas sobre elas, principalmente sobre sintomas e transmissão (FIG. 5). Essa abordagem se deu, por exemplo, nos livros de Laurence (2005) e Santos, Aguilar e Oliveira (2010, v. 2). Figura 5 – Exemplo da abordagem da dengue no texto principal com informações específicas sobre a virose Fonte: Santos, Aguilar e Oliveira, 2010, v. 2, p. 36 39 Na terceira categoria, a AIDS, a dengue e a gripe são apresentadas em quadros destacados do texto principal. Nessa categoria, houve variação entre a forma como os dados são dispostos: apenas fazendo a citação das doenças (FIG. 6), como observado no livro de Silva Júnior e Sasson (2005, v.1) e Silva Júnior, Sasson e Caldini Júnior (2010, v. 2); ou apresentando algumas informações adicionais como modos de transmissão, sintomas, características da infecção e medidas profiláticas (FIG. 7), observadas nos livros de Amabis e Martho (2005, v. 2) e Silva Júnior, Sasson e Caldini Júnior (2010, v. 3). Figura 6 - Exemplo de abordagem da AIDS, dengue e gripe apenas como exemplificação de viroses em quadros destacados do texto principal Fonte: Silva Júnior, Sasson e Caldini Júnior, 2010, v.2, p. 69 40 Figura 7 - Exemplo da abordagem da AIDS, dengue e gripe em quadros destacados do texto principal com informações específicas sobre as viroses Fonte: Silva Júnior, Sasson e Caldini Júnior, 2010, v. 3, p. 266 3 – Presença de imagens sobre AIDS, dengue e gripe As imagens são representações de algo com a função de ornar e, sobretudo elucidar o texto do livro didático, elas compreendem desenhos, esquemas, fotografias, gráficos, mapas, quadros, retratos e outros. Martins, Gouvea e Piccinini (2005) explicam que as imagens são 41 mais facilmente lembradas do que as representações verbais, o que repercute seu efeito positivo na aprendizagem. De acordo com Núñez et al. (2003) as imagens são empregadas nos livros didáticos para promover o entendimento dos conteúdos teóricos, e em muitos livros as imagens tem a função de contextualizar o conhecimento, sendo sua importância ratificada pelos professores, pois, muitas vezes, a atribuição dada pelos docentes à qualidade gráfica prevalece ao conteúdo, no momento de selecionar os livros didáticos. Com relação às imagens nessa pesquisa, foram detectadas 107 ilustrações dentre fotos, esquemas e figuras sobre AIDS, dengue ou gripe, sendo o tema predominante a estrutura viral da gripe e da AIDS seguida pelo ciclo viral da AIDS. Foram identificadas poucas imagens explorando a prevenção das viroses (apenas sete figuras). Foi percebido, durante a análise, que há repetição das imagens nos livros de mesmo autor em edições diferentes. Dos 20 livros que apresentaram abordagem sobre as viroses retratadas nessa pesquisa, 14 obras apresentaram imagens com a temática AIDS, dengue ou gripe (GRÁF. 3). O número de imagens variou desde duas em Adolfo, Crozetta e Lago (2005) e Santos, Aguilar e Oliveira (2010) a quatorze nos livros de Amabis e Martho (2005), Pezzi, Gowdak e Mattos (2010) e Linhares e Gewandsznajder (2010). Gráfico 3 - Número de imagens sobre AIDS, dengue ou gripe nos livros didáticos analisados Fonte: Dados da pesquisa 42 Quanto à qualidade das imagens, constata-se que, de modo geral, as figuras são claras, coerentes com o texto principal e apresentam legendas adequadas embora em nove coleções analisadas não existe correlação das imagens com o texto principal, ou seja, o texto principal não faz referência às figuras, ficando as mesmas desconectadas das informações (FIG. 8). Figura 8 - Exemplo de imagem apresentada no livro didático sem interação com o conteúdo do texto principal Fonte: Pezzi, Gowdak e Mattos, 2010, v. 2, p. 30 Uma estratégia pouco explorada foi a utilização do material impresso (cartazes, folders, etc.) de campanhas do Ministério da Saúde sobre as viroses em questão como imagens nos livros didáticos. Quando isso ocorreu, as imagens apareceram apenas como ilustração, sem articulação com o texto principal e de forma pouco legível, reduzindo assim seu potencial como recurso didático. Observa-se isso no livro de Amabis e Martho (2010, v.2), que ao retratar as formas de transmissão virais inseriu um cartaz sobre o combate a dengue, contudo, a imagem não ficou bem articulada com o texto principal e no cartaz as formas de prevenção ficaram ilegíveis (FIG. 9). 43 Figura 9 – Exemplo da colocação de material de campanhas do Ministério da saúde nos livros didáticos de biologia Fonte: Amabis e Martho, 2010, v. 2, p. 54 44 É necessário salientar que ,quando a imagem não é articulada ao texto, acaba apresentando informações pouco precisas, ou seja, a imagem não expõe claramente as ideias que ela está representando. Além disso, algumas imagens apresentam problemas na legenda não considerando, por exemplo, as proporções e escala nos desenhos, como também não indicam a utilização de cores-fantasia (FIG. 10), o que pode prejudicar o entendimento da imagem pelo leitor. Figura 10 - Exemplo de imagem sem escala e sem mencionar o uso de cores fantasia nos livros didáticos de biologia Fonte: Silva Júnior, Sasson e Caldini Júnior, 2010, v. 3, p. 269 4 – Aspectos da AIDS, dengue e gripe abordados nos livros didáticos. Nos gráficos a seguir, é apresentada a análise dos aspectos abordados sobre a AIDS (GRÁF. 4) e na mesma perspectiva uma análise sobre a gripe (GRÁF. 5) em um universo amostral de 7 livros para PNLEM 2007 e 13 livros para o PNLD EM 2012, totalizando 20 livros analisados. Os dados estatísticos apontam o percentil da abordagem dos aspectos para cada programa em separado (PNLEM 2007 e PNLD EM 2012). 45 Gráfico 4 - Aspectos abordados sobre a AIDS nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012 Fonte: Dados da pesquisa Gráfico 5 - Aspectos abordados sobre a gripe nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012 Fonte: Dados da pesquisa Observa-se que a abordagem da gripe (GRÁF. 5) e da AIDS (GRÁF. 4), nos livros aprovados no PNLEM 2007 e no PNLD EM 2012, apresentou um perfil semelhante. Foi constatada uma redução significativa na abordagem sobre transmissão e aspectos sociais nos livros aprovados no PNLD EM 2012, o que é considerado preocupante, pois, estes dois 46 aspectos são fundamentais para uma abordagem voltada para a promoção da saúde. Por outro lado, a abordagem sobre epidemiologia e, principalmente sobre o tratamento, aumentou nos livros do PNLD EM 2012 em relação aos do PNLEM 2007. Isto mostra uma abordagem que prioriza aspectos curativos e não preventivos dessas duas viroses, o que é inadequado quando se deseja contribuir para a educação em saúde. Quanto à presença de referências atualizadas, foi observado que nos livros do PNLD EM 2012 houve uma melhora em relação aos do PNLEM 2007. Entretanto, apenas cerca de 40% dos livros do PNLD EM 2012 usam referências atualizadas, sendo que muitas obras repetem as informações de edições anteriores, não se preocupando em atualizá-las. Salienta-se que nenhum dos aspectos investigados foi abordado por 100% dos livros analisados, mostrando que nenhuma das obras traz uma abordagem mais ampla sobre AIDS e gripe. O aspecto priorizado pelos autores dos livros foi o agente etiológico e os aspectos mais negligenciados foram a epidemiologia e os aspectos sociais. Dentre as viroses investigadas, a dengue apresenta a abordagem mais superficial nos livros analisados, conforme observado no Gráfico 6. Gráfico 6 - Aspectos abordados sobre a dengue nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012 Fonte: Dados da pesquisa Em relação à dengue, de modo geral quase todos os aspectos analisados foram negligenciados pelos autores, especialmente dos livros aprovadas no PNLEM 2007. Destacase a baixa porcentagem da abordagem de aspectos como vetor, sintomas, epidemiologia e 47 aspectos sociais essenciais para promover ações de prevenção em relação à virose e da adoção de medidas para a promoção da saúde da população. Nos livros aprovados no PNLD EM 2012, a abordagem sobre essa virose melhora, entretanto, de modo bastante discreto considerando sua importância epidemiológica pela alta incidência e impactos na saúde no Brasil. Destaca-se também a ausência de referências atualizadas nos livros didáticos do PNLEM 2007 e a baixa porcentagem (23%) das mesmas nos livros do PNLD EM 2012, o que, com certeza, prejudica a abordagem contextualizada e baseada na realidade do aluno preconizada pelos PCN. No Gráfico 7 é apresentado uma análise geral da abordagem das três viroses nos livros investigados. Gráfico 7 – Análise geral dos aspectos abordados sobre as viroses AIDS, dengue e gripe nos livros didáticos de biologia do PNLEM 2007 e do PNLD EM 2012 Fonte: Dados da pesquisa Percebe-se que a abordagem destes conteúdos nos LD é bastante rasa e muitas vezes incompleta, ou seja, quando o aspecto é abordado, é feito de forma sintetizada com omissão de detalhes importantes. Destaca-se ainda que alguns aspectos como epidemiologia, transmissão, prevenção e o contexto social, fundamentais para uma abordagem que atinja a educação em saúde conforme preconiza os PCN, são escassos nos LD analisados. Nos PCN ressalta-se que a temática saúde deve ser tratada de forma contínua, sistemática e com abrangência, integrando todas as áreas do ensino, devendo ser relacionada inclusive com questões da atualidade. A educação em Saúde é um tema que atravessa todas as disciplinas, tendo como critério para defini-la como transversal, dentre outros, a urgência social, favorecimento a compreensão da realidade e a participação social. Assim, além de ser 48 um tema considerado urgente, deve ser trabalhado respeitando sua inserção em um contexto social e abrangendo a realidade na qual esta abordagem está inserida. (BRASIL, 1998b) Quando avaliadas as questões sobre as viroses propostas pelos autores nas obras analisadas, detectou-se que o tema mais abordado foi a AIDS, seguido pela gripe. Observou ainda que a maioria das questões é retirada de vestibulares e que poucas são do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A maior parte das questões propostas pelos autores é do tipo discursiva, ou seja, não tem uma solução definida, tendo o aluno que formular a solução a partir de suas deduções. Observa-se no Quadro 6 que refere à quantidade de questões correspondente às viroses AIDS, dengue e gripe. Quadro 6 - Número de questões sobre AIDS, dengue e gripe nos livros analisados Programa Viroses Número Questões propostas pelos Questões de Questões de autores vestibulares do ENEM questões Objetivas Discursivas PNLEM AIDS 41 0 12 29 0 2007 Dengue 5 0 1 4 0 Gripe 8 0 8 0 0 AIDS e 1 0 0 1 0 dengue AIDS e 1 0 0 1 0 gripe PNLD EM AIDS 39 0 12 26 2 Dengue 14 1 1 10 2 Gripe 7 1 1 5 0 2012 AIDS e 1 0 0 1 0 dengue AIDS e 4 0 3 1 0 gripe Fonte: Dados da pesquisa De acordo com o Guia dos livros didáticos 2012, todas as obras aprovadas dedicam aos exames de vestibular grande parte da discussão e da proposição de critérios e formas de avaliação. No caso das viroses AIDS, dengue e gripe, constata-se a abordagem predominantemente em questões de vestibulares com respostas diretas, mas para proporcionar situações de ensino em que os alunos tenham um papel mais participativo, não é favorável dar ênfase em questões de vestibular e do Enem como prioritárias para a avaliação em detrimento de questões mais relacionadas com o cotidiano do aluno. As atividades propostas nos livros que abordam as viroses restringem-se quase que exclusivamente a perguntas que requerem respostas dissertativas ou interpretação de dados, havendo uma escassez de atividades de caráter mais prático ou dinâmico com participação 49 ativa do aluno. Apenas quatro obras apresentaram atividades em grupo das quais propõem discussão em relação à temática, sendo essas de Linhares e Gewandsnajder (2010, v.1), Silva Júnior, Sasson e Caldini (2010, v. 2 e 3) e Pezzi, Gowdak e Mattos (2010, v. 2) com as respectivas abordagens: Na obra de Silva Júnior, Sasson e Caldini (2010, v. 3, p. 262), uma das questões sobre a leitura complementar intitulada “Epidemias” é solicitado ao aluno realizar uma pesquisa relatando o motivo pelo qual o controle da dengue é mais difícil do que o da febre amarela, se ambas são viroses transmitidas pela mesma espécie de mosquito. No manual do professor é sugerido que o docente incentive os alunos a pesquisarem sobre a gripe espanhola e sobre medidas de transmissão da dengue. Já no v. 2, é feito uma sugestão no livro do professor para solicitar aos alunos uma pesquisa sobre as medidas tomadas contra a propagação da gripe H1N1 em 2009. Pezzi, Gowdak e Mattos sugerem duas questões para serem trabalhadas em grupo, dentre as quais para responder a questão “Por que a descoberta de uma vacina para prevenir a AIDS não basta para resolver essa pandemia mundial que já matou milhões de pessoas?” (PEZZI; GOWDAK; MATTOS, v. 2, 2010, p. 39). Já Linhares e Gewandsznajder (2010, v.1), apresentam três opções para pesquisa abordando as viroses conforme a Figura 11. Figura 11 - Sugestão de pesquisa em grupo com a temática AIDS, dengue e gripe Fonte: Linhares e Gewandsznajder, 2010, v.1, p. 332 50 É raro detectar na abordagem das viroses, mais precisamente no caso da AIDS, a presença de dados relacionados ao preconceito que envolve o portador de HIV ou aidético. Foi observado apenas no livro de Laurence e Mendonça (FIG. 12), no qual representa o laço símbolo da luta contra a AIDS junto da imagem de um indivíduo isolado em uma bolha por ser aidético. Figura 12 – Abordagem da questão do preconceito ao aidético com a frase: “O preconceito isola” Fonte: Mendonça e Laurence, 2010, v.2, p. 34 Um aspecto positivo detectado na análise foi a presença nos livros de textos geralmente extraídos de jornais e revistas, sugeridos como leituras complementares, que contextualizam e adicionam informações sobre o conteúdo que está sendo abordado. Os resultados da análise das leituras complementares presentes nos livros analisados estão apresentados no Quadro 7. Quadro 7 – Informações sobre as leituras complementares que abordam as viroses AIDS, dengue ou gripe nos livros analisados Título do texto complementar AIDS – História de uma epidemia Um problema mundial de saúde: gripe Obra Amabis e Martho. 2005, v. 2, p. 43. Amabis e Martho. 2010, v. 2, p. 5153 Apresenta referência bibliográfica Sim Apresenta questões sobre o texto complementar Não Não Sim 51 Título do texto complementar Epidemias Algas para enfrentar a AIDS. AIDS, a derrota dos linfócitos ...Aids, você sabe qual é a origem do HIV ? Sucessos e desafios no combate à AIDS ...sucesssos no combate à AIDS, você sabia que cientistas desenvolveram um gel que impede a contaminação pelo HIV nas mulheres? Pandemias de gripe na História O dia mundial de luta contra a AIDS Resfriado e gripe são estágios diferentes da mesma doença? Vacina anti – HIV e tratamento de pessoas infectadas Doenças emergentes e ressurgentes Obra Apresenta referência bibliográfica Não Silva Júnior, Sasson e Candini. 2010, v. 3, p. 261262 Santos, Aguilar e Oliveira. 2010, v. 2, p. 43 Apresenta questões sobre o texto complementar Sim Sim Sim Não Sim Não Não Sim Não Sim Não Pezzi, Gowdak, Mattos. 2010, v. 2, p. 35 – 38 Laurence e Mendonça. 2010, v. 2, p. 43 Não Não Não Sim Silva Júnior, Sasson e Caldini. 2010, v. Não Sim Não Não Não Não Silva Júnior e Sasson. 2005, v. 1, p. 287 – 288 Pezzi, Gowdak, Mattos. 2010, v. 2, p. 32 – 33 Pezzi, Gowdak, Mattos. 2010, v. 2, p. 33-34 Pezzi, Gowdak, Mattos. 2010, v. 2, p. 34 2, p. 63 – 64 Lopes e Rosso, 2010, v. 3, p. 41; 2005, v. único, p. 196-197 Lopes e Rosso. 2010, v. 3, p. 42 – 45 Fonte: Dados da pesquisa Foi observado que, muitas vezes, os textos complementares não são devidamente referenciados e que a exploração do texto, quando ocorre, é através da proposição de questões sobre o assunto tratado nos mesmos. Alguns livros apresentam sugestões de leituras complementares para serem pesquisadas na internet, como, Silva Júnior, Sasson e Candini (2010, v. 2 e 3), que sugerem os seguintes assuntos: 52 Dengue é o fim da picada!. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.ex/sys/start.htm?infoid=968&dis=8>. Atchin! É a gripe?. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=751&sid=8> HIV é centenário. Disponível em: <http://www.agencia.fapesp.br/materia/9516/divulgacao-cientifica/hiv-ecentenario.htm>. Influenza aviária: questões centrais. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v9n1/002.pdf>. Como a gripe se espalha pelo mundo. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/matéria/8728/divulgacao-cientifica/como-a-gripe-seespalha-pelo-mundo.htm> Nessa perspectiva, Bizzo (2010, v. 2, p. 134) apresenta 3 sugestões sobre a gripe (FIG. 13). Na mesma obra, há uma sugestão no manual do professor para leitura de um artigo sobre a vacina da dengue. Figura 13 - Sugestões de leituras complementares acessíveis na internet Fonte: Bizo, 2010, v. 2, p. 134 Quanto à qualidade do conteúdo, os textos das obras, em termos gerais, apresentam redação clara e objetiva. Contudo, em alguns casos, as obras não se mostram conceitualmente precisas, por exemplo, Lopes e Rosso (2005, p. 197) descrevem como modo de transmissão da dengue a picada do mosquito Aedes aegypti, o que pode levar ao entendimento de que todo mosquito é capaz de transmitir essa virose, o que não é verdade, pois se o mosquito não estiver infectado com o vírus isto não irá ocorrer. Pezzi, Gowdak e Mattos (2010, v.2, p.28) mencionam como meio de transmissão da gripe: gotículas de salivas, espirros e tosse, porém nas secreções de uma pessoa não infectada pelo vírus influenza não ocorre à transmissão. 53 Em determinados casos, devido ao fato do conteúdo estar muito sintetizado, as informações apresentadas podem comprometer o entendimento das viroses, por exemplo, Laurence e Mendonça (2010, v. 2, p. 41) na seguinte colocação: “A gripe é transmitida por via respiratória e costuma evoluir de maneira benigna (...)” não deixa claro para o leitor as formas de contágio dessa virose, ficando os dados sobre a transmissão incompletos e leva o leitor a desconsiderar a gravidade da gripe em casos específicos. 3.3 Considerações gerais sobre a abordagem de AIDS, dengue e gripe nos livros didáticos de biologia analisados na pesquisa Ao analisar os livros didáticos de biologia em um contexto histórico percebe-se que nas décadas de 1950 até 1970 os livros escolares apresentavam um capítulo destinado a Higiene e saúde no qual, embora nem sempre, abordavam o conteúdo de forma detalhada e as doenças prevalecentes naquele período, de forma geral, eram retratadas. No final da década de 1970 esse capítulo deixou de ser apresentado nos livros, sendo as doenças abordadas junto a outras temáticas. No caso das viroses a abordagem passou a acontecer principalmente no capítulo destinado ao estudo dos vírus. Dessa forma, houve uma redução dos conteúdos diretamente ligados à saúde para priorizar conteúdos estritamente biológicos. Nesse período os autores complementaram os livros didáticos através da publicação de livros paradidáticos com a intenção de colaborar com a ampliação do conteúdo existente nos livros escolares. Na atualidade, embora os livros didáticos sejam uma ferramenta essencial para o ensino, as informações sobre doenças virais, ainda que presentes, são insuficientes quando se almeja ações de educação para a saúde. O conteúdo de doenças viróticas é encontrado basicamente no capítulo destinado a vírus, em que a ênfase está mais voltada para a definição e caracterização biológica desses microrganismos. Apesar de algumas vezes o tema aparecer dentro de outros conteúdos nos livros didáticos, a abordagem é bastante simplificada, ou seja, muitas vezes restrita à presença de citações dispostas na forma de tabela ou quadros resumidos ou a explicações no texto principal e ilustrações desconectadas e sucintas. Há um desequilíbrio no tratamento das viroses nas obras. Dá-se muita ênfase à AIDS que inúmeras vezes é utilizada nos textos principais para ilustrar as viroses ou como uma abordagem aprofundada nas leituras complementares e nas atividades. Por outro lado, a gripe e a dengue, viroses epidemiologicamente relevantes no nosso país e que estão presentes no cotidiano de todos (mais do que a AIDS), são relegadas a segundo plano e tratadas sem profundidade. 54 Mesmo havendo um volume maior de informações sobre a AIDS, a abordagem é insuficiente quando se busca educação em saúde, principalmente em relação à prevenção e às questões sociais que envolvem esta virose. Portanto, considera-se que é necessário investir na abordagem destes aspectos, sendo a divulgação das formas de prevenção essenciais na educação em saúde e a reflexão sobre os problemas sociais, como discriminação e preconceito aos portadores de HIV, importante em um contexto educacional em que se busca a inclusão de todos. Sendo imprescindível que algumas visões distorcidas sejam rompidas para que não haja barreiras entre as pessoas no convívio diário pela falta de informação. Os livros didáticos são a materialização mais evidente dos saberes e propósitos escolares. Porém, seria muito mais interessante, para a realidade social atual, se os livros pudessem traduzir com maior intensidade as relações da biologia com as questões impostas na contemporaneidade, tal qual as doenças infecciosas. Contudo, observa-se que a maioria das obras analisadas não tem favorecido o estabelecimento de relações entre o conhecimento científico e as experiências sociais dos alunos, estando o conteúdo apresentado por meio de conceitos e definições que não são, porém, problematizados e situados no cotidiano do aluno. Como explicitado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996) é o Ensino Médio a etapa final da Educação Básica. Dessa forma, se faz necessário que nessa etapa se produza um conhecimento efetivo, de significado próprio, e não seja somente um estágio preparatório para os cursos superiores ou de caráter profissionalizante. Contudo, de acordo com o Currículo Básico Comum (CBC) o ensino, ainda hoje, incorpora níveis de detalhamento e perde o foco do entendimento dos processos básicos, que alicerçam a maioria das explicações das vivências práticas desse conhecimento. (MINAS GERAIS, 2007) Além disso, os livros didáticos atuais, em regra geral, ainda dialogam pouco com a condição marcante do tempo atual, em que os recursos tecnológicos aprimoraram as formas de se obter informações de forma mais dinâmica e atualizada. (BRASIL, 2011). Dessa forma, se faz necessário buscar recursos complementares aos LD dos quais suscitem reflexões mais amplas sobre a biologia de nosso tempo. Através da adoção de uma metodologia de aprendizado ativa e interativa. O quadro descrito acima mostra, portanto, a necessidade do professor buscar outras fontes de consulta e pesquisa e investir na complementação do conteúdo presente nos livros didáticos para uma abordagem mais efetiva sobre essas viroses na sala de aula. 55 4 ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS UTILIZADAS NA ELABORAÇÃO DO PRODUTO O guia dos livros didáticos 2012 faz uma consideração sobre o papel do livro didático na atualidade como uma das fontes de informação a chegar através da escola às mãos de professores e alunos que poderia se comunicar mais intensamente com os outros textos circulantes nas sociedades, provenientes das diferentes mídias. Contudo, isso de modo geral vem ocorrendo de forma tímida. Nesse contexto, é proposto aos professores que façam uso de textos midiáticos, pois, segundo o Guia do livro didático (2011, p. 18), os livros didáticos de biologia enfatizam conteúdos enciclopédicos e marcadamente conceituais. Dessa forma, a maioria das obras gira ao redor dos conhecimentos científicos, reafirmando-os, não sendo dada ênfase à aplicação das informações nas várias experiências da vida das pessoas. Nesse trabalho o objetivo principal foi elaborar um livro do professor que possibilite: (1) abordagens complementares que atendam aos anseios das políticas vigentes em tornar o ensino mais contextualizado; (2) utilização de tecnologias na educação, utilizando recursos multimídias; e (3) ampliação e atualização do conteúdo sobre as viroses AIDS, dengue e gripe, possibilitando colaborar com o conteúdo já existente nos livros didáticos e, dessa forma, revigorar o ensino. Diante desse desafio, foram selecionadas estratégias didáticometodológicas viáveis para confecção e que vêm apresentando resultados favoráveis em sala de aula com alunos do ensino médio. Na elaboração do material foi considerada a utilização de diferentes estratégias metodológicas associadas, com o intuito de contribuir para uma aprendizagem significativa e visando proporcionar diferentes formas de estímulos e habilidades, procurando atender aos interesses de um público estudantil heterogêneo. A seguir essas estratégias serão brevemente apresentadas. a) Uso de questionário para avaliação de conhecimento prévio Os alunos utilizam diferentes recursos e informações para conhecer e interpretar a realidade, tornando-se necessário que o modo como os educandos representem os fatos através de suas experiências, expectativas e valores sejam vistos e debatidos no ambiente educativo para se chegar a um entendimento mais próximo do real. De acordo com Ausubel et al. (1980, p. 137) se fosse necessário restringir toda psicologia educacional em um único elemento, sendo esse elemento aquilo que contribuirá para um resultado mais importante que influenciará a aprendizagem, deve-se considerar aquilo que o aprendiz já conhece. 56 Dessa forma, é importante desenvolver atividades que permitam averiguar as idéias ou concepções prévias dos alunos antes de partir para uma abordagem mais consistente de um determinado conteúdo. Assim, foi sugerida como atividade inicial na abordagem dos conteúdos sobre as viroses, no e-book proposto, a aplicação de um questionário para avaliar a compreensão dos estudantes a respeito da temática. Logo, essa atividade tem o papel de identificar os conhecimentos prévios dos alunos para que os novos aprendizados façam sentido. b) Segmentação de texto por meio de questões Ensinar exige do educador alguns recursos, dentre os quais se destaca uma fonte de informações relevantes a ser disponibilizada aos estudantes sobre o que se vai estudar. De acordo com Pinto (2011), uma estratégia para estimular e guiar a leitura promovendo aprendizado significativo é focar a atenção do leitor em aspectos específicos através da inserção de questões. A incorporação das habilidades de compreensão de leitura e estratégias na instrução científica através de uso da estratégia de perguntas e resposta para estudantes tornarão os alunos leitores mais estratégicos de textos científicos e de outros tipos de textos usados na sua vida escolar o que certamente, contribuíra para a melhoria da sua aprendizagem. (PINTO, 2011, p. 35). Sendo assim, a segmentação de textos por meio de questões permite realçar pontos que devem ser destacados e discutidos, dando mais sentido ao texto, pois, ao ser questionado, o aluno terá uma leitura mais atenta e fará reflexões sobre o que está sendo lido. c) Produção de material multimídia De acordo com a Secretária de Educação de Santa Catarina (2011), “as escolas devem proporcionar o incentivo à pesquisa, com vistas ao crescimento das potencialidades tecnológicas exigidas pela sociedade, a democratização das informações, bem como desmistificar os conhecimentos nas ciências e tecnologias.” Contudo, a metodologia para realização de pesquisas deve ir além da simples busca por informações em fontes de consulta, como nas enciclopédias e em sites de busca como Google e Wikipédia, nos quais é certa a localização do conhecimento solicitado pelo professor. Nesse caso, a pesquisa termina ao digitar o que se precisa e surge o texto já elaborado e pronto para ser copiado ou impresso. Dessa forma, é preciso implementar 57 metodologias de pesquisa que utilizem as tecnologias de informação, mas que também valorizem a construção do conhecimento pelos alunos. Segundo Ulhôa et al. (2008), é grande a necessidade da formação de alunos capazes de selecionar as informações e de realizar pesquisas mais significativas. A educação contemporânea não deve se limitar a formar alunos para dominar determinados conteúdos, mas sim que saibam pensar, refletir, propor soluções sobre problemas e questões atuais, trabalhar e cooperar uns com os outros. A escola deve favorecer a formação de seres críticos e participativos, conscientes de seu papel nas mudanças sociais. (ULHÔA et al., 2008, p. 25). De acordo com Morán (2008, p. 6), o uso de tecnologias incorporando aspectos do cotidiano do aluno desperta o gosto pela pesquisa e possibilita transformar a escola em um conjunto de espaços ricos de aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivem os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo, serem pró-ativos, saber tomar iniciativas e interagir. Nesse aspecto, as pesquisas na escola devem ser dotadas de significado, tendo relação com fatos ligados a realidade dos estudantes além de proporcionar o uso das tecnologias presentes no dia a dia do aluno, tal como o celular. Acreditamos que os recursos didáticos são componentes do ambiente de aprendizagem que estimulam o aprendiz. Assim, tudo o que se encontra no ambiente onde ocorre o processo ensino-aprendizagem pode se transformar em um ótimo recurso didático, desde que utilizado de forma adequada e correta. Eles são instrumentos complementares que ajudam a transformar as idéias em fatos e em realidades, além de auxiliar na transferência de situações, experiências, demonstrações, sons, imagens e fatos para o campo da consciência. Dentre os recursos didáticos mais utilizados estão os multimídias porque utilizam nossos sentidos de captação (auditivos e visuais) para a aquisição de conhecimentos e apreensão de informações. O uso de recursos multimídia na educação possibilita aos usuários maior capacidade para encontrar as informações que eles necessitam, mais facilmente e em menor tempo e de forma mais completa (VOLPE e SABBATINI, 1994, p. 6). Em pesquisa realizada com alunos do Ensino Médio Almeida, Coutinho e Chaves (2009) verificaram que os docentes confirmam que o uso de multimídias facilita a aprendizagem de biologia, além de promover uma nova forma de aprendizagem e interação, enriquecem o ambiente educacional e despertam prazer, interesse e motivação no aprendiz, sendo, portanto, um importante aliado ao livro didático (SILVA, 2011, p. 8). 58 d) Aprendizagem Baseada em Problemas Para Berbel (1998) e Silva e Delizoicov (2008), a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) é uma metodologia em que os problemas são propostos pelos educadores contemplando conhecimentos com a finalidade de atingir objetivos de aprendizagem planejados. Essa metodologia possibilita ao educando realizar um estudo atento, criterioso, crítico e abrangente, em busca de solucionar o problema proposto. Dessa forma, os alunos são estimulados a se organizarem para buscar as informações que deverão ser estudadas sobre o problema, para compreendê-lo e encontrar formas de solucioná-lo ou desencadear passos nessa direção; sendo, portanto, uma metodologia que estimula uma atitude ativa do aluno em busca do conhecimento. De acordo com o PCNEM (1999): Os alunos, confrontados com situações-problema, novas mas compatíveis com os instrumentos que já possuem ou que possam adquirir no processo, aprendem a desenvolver estratégia de enfrentamento, planejando etapas, estabelecendo relações, verificando regularidades, fazendo uso dos próprios erros cometidos para buscar novas alternativas; adquirem espírito de pesquisa, aprendendo a consultar, a experimentar, a organizar dados, a sistematizar resultados, a validar soluções; desenvolvem sua capacidade de raciocínio, adquirem autoconfiança e sentido de responsabilidade; e, finalmente, ampliam sua autonomia e capacidade de comunicação e de argumentação. (BRASIL, 1999, p. 52). Essa metodologia possibilita também um estímulo ao aprendizado com a participação efetiva e o desenvolvimento da responsabilidade social dos alunos, pois permite que eles possam discutir possíveis ações (resoluções de problemas) na realidade em que vivem. Isso pode fazê-los sentir de fato detentores de um saber significativo e atribuir, assim, sentido ao conhecimento. Dentro dessa perspectiva é que a ABP foi utilizada na elaboração do material didático. e) Uso de textos de divulgação científica Embora o texto de divulgação científica seja um recurso presente nos livros didáticos, especialmente na forma de leituras complementares, a ampliação do uso desse recurso através da seleção de novos textos pelo professor possibilita trabalhar com informações atualizadas. Os livros didáticos impressos por demandarem tempo para sua confecção, editoração e para chegada ao seu público final não conseguem manter os conteúdos atualizados de acordo com a velocidade em que as informações têm sido apresentadas na atualidade, ou seja, com veiculação das informações próxima ao tempo real dos acontecimentos. 59 Segundo Gomes, Da Poian e Goldbach (2011), textos de divulgação científica constituem um importante material para uso como ferramenta didática em sala de aula, pois apresentam em sua constituição elementos desejáveis que proporcionam uma formação de qualidade para os estudantes. Dentre esses elementos, Nascimento (2005) cita a possibilidade de atualizar os conteúdos apresentados nos livros didáticos e a contribuição desses textos publicados nos meios de comunicação como motivadores de estudo por possibilitar o desencadeamento de debates e por estabelecer relações com o cotidiano dos estudantes. Dessa forma, o uso de textos científicos complementares pode garantir uma abordagem atrativa para o aluno, uma vez que na maioria das vezes trata de questões presentes na realidade do estudante, além de permitir fazer interconexão entre o que é aprendido em sala de aula e o que está sendo noticiado na mídia. f) Uso de materiais informativos do Sistema Único de Saúde (SUS) De acordo com Freitas e Rezende (2010), os materiais educativos produzidos pelos profissionais da área de saúde e disponibilizados para a população têm como objetivos orientar e adaptar comportamentos, promover a saúde, prevenir futuros acometimentos ou informar sobre riscos e estilos saudáveis de vida. Além de divulgar conteúdos considerados importantes para a prevenção ou tratamento de enfermidades. Embora na literatura não se encontre dados específicos sobre o uso desses materiais como recurso didático nos meios formais de ensino, trata-se de uma ferramenta que pode ser empregada com sucesso em sala de aula para promover a aprendizagem com enfoque na promoção da saúde, obviamente com a devida orientação do professor. Isso porque se trata de materiais atualizados que apresentam o conteúdo utilizando uma linguagem acessível, uma vez que eles são produzidos com intuito de atender as demandas da população de modo geral. Dessa forma, o uso de materiais educativos disponibilizados pelo SUS no contexto escolar, através de atividades orientadas pelo professor, pode resultar em benefícios no aprendizado por ampliar situações de aprendizado contextualizadas, que se traduzem em formas de ver a realidade e de se construir significados. 60 g) O Jogo Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006): Os jogos e brincadeiras são elementos muito valiosos no processo de apropriação do conhecimento. Permitem o desenvolvimento de competências no âmbito da comunicação, das relações interpessoais, da liderança e do trabalho em equipe, utilizando a relação entre cooperação e competição em um contexto formativo. O jogo oferece o estímulo e o ambiente propícios que favorecem o desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos e permite ao professor ampliar seu conhecimento de técnicas ativas de ensino, desenvolver capacidades pessoais e profissionais para estimular nos alunos a capacidade de comunicação e expressão, mostrando-lhes uma nova maneira, lúdica, prazerosa e participativa de relacionar-se com o conteúdo escolar, levando a uma maior apropriação dos conhecimentos envolvidos. (BRASIL, 2006, p. 28). Como estratégia didática e em conformidade aos PCN, o jogo é extremamente eficiente no processo de ensino-aprendizagem: tem o professor como condutor, estimulador e avaliador, estimula o interesse dos alunos, desenvolve os variados níveis de experiências pessoais e sociais e auxilia na construção de novas descobertas, promovendo um relacionamento emocional do aluno com a estratégia de ensino (CAMPOS; CAVASSAN, 2003). Dessa forma, o jogo se constitui como estratégia de ensino que permite ao educador perceber de forma imediata as ideias e opiniões dos alunos sobre uma determinada temática e, a partir disso, pode-se aprofundar o assunto, esclarecer dúvida e promover discussões. De acordo com Andrade et al. (2008), o uso de jogos contendo afirmações reais e mitos para discussão de temas relacionados à educação em saúde possibilitam debater o assunto proposto, reforçar conceitos e estimular a participação efetiva de todos, sendo registrado aumento significativo na proporção do conhecimento adquirido para o público que participou do jogo em relação ao que não teve acesso a esse recurso. Diante do exposto, a estratégia de jogos sobre mitos e verdades foi selecionada para avaliar o aprendizado sobre as viroses abordadas no material didático proposto nesse estudo. h) Uso de vídeos O vídeo é um recurso importante a ser integrado no cotidiano do trabalho docente, uma vez que agrega valor à capacidade representacional do professor (TIMM et al., 2008, p. 2) e aproxima a sala de aula do cotidiano, das linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade, além de introduzir novas questões no processo educacional (MORÁN, 1995). 61 Segundo Lopes e Barcelos (2010), em enquete realizada com professores e alunos, o uso de vídeos como ferramenta auxiliar a educação foi citado como preferência de ambos. Sendo nesse trabalho justificada a escolha dos docentes pelo seguinte fato: Os professores relataram que o filme é um estímulo visual impactante além de ser uma atividade prazerosa o que possibilita aos alunos entenderem melhor o assunto abordado, além disso, o filme estimula outras ações constituindo um momento de magia, de sentir, de perceber e de descobrir, assim esse recurso enriquece a interação entre alunos e o mundo, uma vez que o conteúdo passa a ser visualizado como parte integrante do cotidiano do aluno tornando o aprendizado algo atrativo e de fácil compreensão. (LOPES; BARCELOS, 2010, p. 7). Assim, a partir de um conteúdo no qual o professor esteja trabalhando pode-se utilizar desse recurso multimídia fazendo as indicações relativas às imagens a serem registradas. A partir da pesquisa das estratégias metodológicas apresentadas e da análise dos livros didáticos apresentada no capítulo 2, foi possível decidir quais e como os tópicos sobre as viroses AIDS, dengue e gripe seriam explorados no manual do professor. 62 5 O PRODUTO De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCN), as características da tradição escolar em apresentar conteúdos padronizados, não referidos a contextos reais, em parte, ainda refletem a pouca participação do estudante nas atividades formativas. Dessa forma, privilegiar a aplicação da teoria na prática e enriquecer a vivência da ciência na tecnologia e destas no contexto social passa a ter uma significação especial no desenvolvimento da sociedade contemporânea. Os PCN do Ensino Médio propõem que o ensino, efetivamente, propicie um aprendizado que envolva de forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos práticos, contextualizados, que respondam às necessidades da vida contemporânea, evitando tópicos cujos sentidos só possam ser compreendidos em outra etapa de escolaridade. Ou seja, é defendida uma ideia de um ensino mais consistente e focado na realidade dos educandos, sem deixar pendências para serem atendidas em outros momentos com o pretexto de que no ensino superior as lacunas educacionais serão preenchidas, mesmo porque nem todos os alunos farão um ensino superior, e ainda que o façam há opções de três áreas de conhecimento distintas biológicas, exatas e humanas. Isso justifica a necessidade do aluno ter acesso a um grau de compreensão consolidado em conteúdos, como a educação em saúde, na educação básica. Além de inferir sobre a importância em ministrar conteúdos de forma completa, o PCN aponta o uso da tecnologia no ensino como uma importante forma de acarrear recursos, dentre os quais se destacam o uso de celulares e computadores, que tem se tornado cada vez mais acessíveis em detrimento de outros recursos como o microscópio. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998). Acredita-se que a educação em saúde deva valorizar questões do cotidiano do estudante, dando a este a oportunidade de aproximar dos problemas que lhe são impostos pelo processo de compreensão, reflexão e crítica. Possibilitando assim uma maior dinamização no uso das informações que circulam informalmente, promovendo assim a valorização do saber do educando de modo que este aprenda a questioná-los, tornando-se capazes de realizar ações em prol de solucionar problemas impostos em caráter mais contextualizado. Nesse contexto, foi elaborado o produto dessa dissertação embasado nos dados obtidos nas pesquisas aqui descritas (bibliográfica e nos livros didáticos). Elas estabeleceram parâmetros para elaborar um livro eletrônico desenvolvido com intuito de dar maior ênfase à abordagem dos conteúdos dengue, AIDS e gripe no ensino médio, em resposta as lacunas verificadas nos livros didáticos de biologia. 63 5.1 Apresentação O livro eletrônico (e-book) elaborado - Educação em Saúde nas Escolas: uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, Dengue e Gripe - foi confeccionado em formato digital e está disponibilizado na íntegra no endereço eletrônico http://www.myebook.com/ebook_viewer. php?ebookId=113534. O formato escolhido permite uma manipulação permanente da publicação pelo autor, o que torna fácil o processo de realizar alterações no material no intuito de atualizá-lo ou até mesmo, se for necessário, fazer alguma adaptação; também, constitui-se um espaço virtual livre e de fácil manuseio que possibilita a utilização de recursos multimídia como imagens e áudio. O e-book elaborado (FIG. 14) destina-se a professores do ensino médio, sem restrição da disciplina lecionada, uma vez que a Educação em saúde é um tema transversal proposto nos PCN, que permeia as diversas áreas do conhecimento, pois, os temas transversais retratam processos vividos pela sociedade em geral e abordam questões em que todas as pessoas são convocadas a adotar, sempre que possível, uma postura no cotidiano, em casa, no trabalho, na rua e na sala de aula. Figura 14 - Página inicial do e-book - Educação em Saúde nas Escolas: uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, Dengue e Gripe Fonte: Arquivo pessoal 64 No decorrer do e-book foram disponibilizados aos professores recursos para obterem maiores informações sobre as viroses AIDS, dengues e gripe através de um link de acesso ao Guia de vigilância epidemiológico referente a essas viroses no início dos capítulos ou através da sugestão de leituras complementares no final dos capítulos. Foram disponibilizados também, sempre que oportuno, vídeos obtidos em sites do governo ou recebidos via e-mail, sendo transferidos para uma conta pessoal do YouTube (site de compartilhamento de vídeos em formato digital), condição para serem acessíveis no e-book, não havendo o risco dos vídeos serem repentinamente removidos ou terem o acesso dificultado. Foram disponibilizados, também, desenhos (FIG. 15) e infográficos (FIG. 16) criados para representar visualmente informações que se desejou retratar no e-book. Com o mesmo intuito, foram utilizadas algumas imagens disponibilizadas na internet (FIG. 17). Figura 15 – Representação de um mosquito picando uma pessoa Fonte: Desenho de Alexandra Chaves Figura 16 – Infográfico representando o uso da câmera do celular Fonte: Infográfico de Andréa Viana 65 Figura 17 – Imagem obtida da internet para ilustrar os modos de transmissão da gripe aviaria Fonte: GOLONO, 2010 A seguir são apresentados de forma resumida os itens que compõem o e-book. • Instruções para uso do e-book Para facilitar a utilização do material pelos professores, foram disponibilizadas instruções com informações de como utilizar os recursos contidos no livro eletrônico. • Apresentação Nesse item, o material é apresentado aos professores esclarecendo seus objetivos, os tópicos e as estratégias didáticas utilizadas na abordagem das viroses AIDS, Dengue e Gripe. • Roteiro das estratégias de ensino e descrição da metodologia utilizada na abordagem dos tópicos sobre viroses que compõem o material Para cada tópico proposto no livro eletrônico, foi sugerido uma estratégia de ensino diferenciada (veja exemplo na figura 18), sendo argumentado de forma sucinta o motivo de escolha da estratégia. Nesse espaço também foram apresentados as competências e habilidades que podem ser trabalhadas com essa atividade, o material necessário para sua realização, o número de aulas destinadas à atividade e sugestão para avaliação. 66 Figura 18 - Exemplo de como os tópicos foram descritos no e-book Fonte: Dados da pesquisa 67 Após esses itens foram iniciados os capítulos 1, 2 e 3 respectivamente sobre Dengue (FIG. 19), Gripe e AIDS. Figura 19 – Página que inicia o capítulo sobre a dengue Fonte: Arquivo pessoal Cada capítulo foi estruturado de acordo com os tópicos e estratégias apresentados no quadro 8. Quadro 8 – Estratégias de ensino utilizadas na abordagem dos tópicos sobre as viroses AIDS, dengue e gripe TÓPICO Ideias prévias Visão geral/Epidemiologia Agente etiológico/Transmissão Sintomas/Tratamento Aspectos sociais Prevenção Mitos e Verdades Fonte: Dados da pesquisa ESTRATÉGIA DE ENSINO Uso de questionário Segmentação de texto Produção de material multimídia Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) Uso de textos de divulgação científica Uso de materiais informativos do Sistema Único de Saúde (SUS) Jogo 68 A seguir descrevemos os tópicos abordados no e-book sobre as viroses. Tópico: Ideias prévias Com objetivo de averiguar o conhecimento prévio dos alunos, foi elaborado e disponibilizado um questionário para cada virose abordada (AIDS, dengue e gripe) cada um com 18 sentenças afirmativas. As questões versam principalmente sobre as vias de transmissão das viroses abordadas. Os questionários (veja exemplo na figura 20) trazem duas opções de resposta, se a sentença é um mito ou uma verdade. Eles devem ser respondidos individualmente pelo aluno sem consulta aos colegas ou a algum material informativo. Essa atividade permite ao professor dimensionar o conhecimento de seus alunos e a partir dos resultados, ponderar qual situação -ensinar, revisar ou aprofundar- os tópicos devem ser trabalhados com a turma. Figura 20 - Questionário sobre AIDS para avaliar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema Fonte: Dados da pesquisa 69 Tópico: Visão geral e epidemiologia Para abordar a visão geral e epidemiologia das viroses, foram inseridos nove textos adaptados dos guias de doenças infecciosas e parasitárias (2010) e de vigilância epidemiológica (2009), segmentados por questões com o objetivo de focar a atenção dos leitores nas informações mais relevantes. Assim, através das respostas elaboradas pelos alunos o professor pode verificar a compreensão da leitura pelos alunos e realizar considerações pertinentes ao assunto com intuito de esclarecer dúvidas e aprimorar a abordagem. Tópico: Transmissão, agente etiológico e vetor Nesse tópico foram disponibilizadas informações sobre agente etiológico, vetores, transmissão e o período de transmissibilidade das viroses dengue, AIDS e gripe. Posteriormente, foram propostas atividades para a elaboração de material multimídia pelos alunos utilizando os celulares, um recurso normalmente de fácil acesso para os alunos, embora raramente seja utilizado em um contexto educacional. Com o uso do celular é possível criar: vídeos, fotografias, músicas, poesias ou blogs. Essas atividades também constituem uma oportunidade para desenvolver o trabalho em grupo, estimular a criatividade e dar oportunidade aos alunos produzirem materiais sobre o conteúdo ao invés de ter acesso a materiais prontos. Nessa perspectiva, foi sugerido aos professores que, a partir de um roteiro, solicitem a seus alunos a elaboração de materiais multimídias solicitando aos educandos que capturem, com o celular, informações na sua comunidade ou em local especificado pelo docente e depois produzam os materiais. Sugestões de roteiros diferenciados para essa atividade foram disponibilizadas para os professores. No roteiro da dengue, os alunos são orientados a tirar fotos que retratem a transmissão e a não transmissão dessa virose, ou seja, como se pega e como não pega a dengue. É sugerido que as imagens sejam apresentadas a turma e posteriormente sejam usadas para montar um esquema do ciclo da dengue. Também foi sugerida a confecção de um mural na escola, principalmente se houver imagens retratando focos de transmissão na comunidade, com as quais poderá ser feito um alerta para a necessidade de aprimorar os cuidados com a transmissão dessa virose. No roteiro da gripe os alunos são orientados a produzir um vídeo e no roteiro da AIDS é sugerida a elaboração de um arquivo de áudio, para tal os educandos devem elaborar um texto antes de gravar o áudio tendo um tempo máximo estipulado. Os materiais produzidos devem retratar a transmissão e o agente etiológico dessas viroses. 70 Para essas atividades é solicitado aos alunos como tarefa inicial a elaboração de um plano de ação que deve ser entregue ao professor que irá validar a ideia antes da execução da mesma. Tópico: Sintomas e tratamento Esse tópico foi construído com intuito de apresentar acontecimentos do cotidiano para propor discussões sobre os sintomas e tratamento das viroses AIDS, dengue e gripe. Os alunos são estimulados a elaborar uma linha de raciocínio para argumentar sobre as situações problema que lhes são apresentadas, tornando o ensino mais participativo. Para tal foi utilizada a estratégia de ensino que utiliza a Aprendizagem Baseada em Problemas sendo disponibilizados seis casos para estudo, dentre os quais três são verídicos, apresentados em vídeos que expõem histórias noticiadas em telejornais e três são fictícios (FIG. 21). Figura 21 – Proposta de atividade sobre gripe utilizando como estratégia a Aprendizagem Baseada em Problemas Fonte: Arquivo pessoal 71 Tópico: Aspectos sociais Para esse tópico, foram disponibilizadas nove sugestões de textos atualizados e divulgados em publicações impressas de grande circulação no Brasil, como as revistas Veja e Época e os jornais O globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Dentre os textos explorados sobre a dengue, dois relatam a incidência de casos da virose relacionada às más condições de saneamento básico e outro aponta o aumento da incidência do número de casos da doença em uma cidade no interior de São Paulo, sendo o último texto rico em informações para discussão, como, por exemplo, as seguintes passagens: “(...) o controle depende da colaboração das pessoas.” “Hoje não podemos usar venenos mais fortes.” Sobre a gripe foram selecionados três textos que apresentam dados sobre a transmissão da virose de um indivíduo a outro, além da divulgação da produção de um filme denominado “Contágio”, que descreve um possível cenário de uma epidemia letal, bastante semelhante ao vírus da gripe que se transmite por contato de mãos e toques de superfícies, como copos e maçanetas; um dos textos, embora não seja recente (datado de setembro de 2009), possibilita retratar um período de grande preocupação sobre a propagação da gripe, quando foi vivenciada a ameaça de uma pandemia. Nesse texto, o período escolar é referido como risco de aumento da infecção devido maior contato entre os estudantes e traz dados sobre a gripe sazonal que mata entre 250 mil e 500 mil pessoas em todo o mundo retratando as pessoas mais vulneráveis a uma infecção viral. Sobre a AIDS, as publicações descrevem: a divulgação de dados sobre essa doença, fornecido pelo Ministério da Saúde entre 1980 e junho de 2011, sendo exposto o número de casos, o coeficiente de mortalidade e as maiores taxas de incidência por faixa etária, gênero (masculino e feminino) e região. Além de abordar informações especificas do estado de São Paulo, que teve em 2010 uma média de 8,6 mortes por dia devido a AIDS. Os dados mostram ainda um aumento na proporção de infecções, tanto em homossexuais como heterossexuais, no período entre 2000 e 2010, na mesma época em que os casos entre usuários de drogas injetáveis tiveram queda. Outra publicação traz dados baseados em um relatório sobre a resposta global ao HIV/AIDS demonstrando que, embora em um cenário mundial tenha ocorrido uma queda de 15% de portadores do HIV nos últimos cinco anos, na América Latina foi registrado considerável aumento devido principalmente ao sexo sem proteção entre homens e a falta de programas nacionais de prevenção e tratamentos dirigidos. A última reportagem explorada é uma publicação, que descreve o relato de um rapaz que tinha a percepção da AIDS como doença exclusiva de homossexual e que o consumo de álcool era 72 um fator que contribuía para não fazer uso da camisinha, fato apontado como corriqueiro entre seus amigos. Atualmente, embora contaminado, o rapaz informou não estar preocupado com a doença contraída por existir medicamentos que vão garantir a normalidade de sua vida. No contexto da educação em saúde para a prevenção da AIDS direcionada aos jovens esse texto permite fazer vários alertas sobre a importância do sexo seguro e de se realizar debates, por exemplo, sobre o tratamento disponível atualmente para a AIDS e suas limitações. Todos os textos utilizados nesse tópico englobam aspectos sociais que possibilitam a promoção de debates e trocas de opiniões principalmente em relação às questões mais polêmicas como, por exemplo, no caso do uso de álcool e sua interferência na opção pelo sexo seguro (FIG. 22). Os textos foram ajustados com o intuito de reduzir o conteúdo para manter um padrão de espaço para essa atividade, mantendo as informações mais pertinentes à abordagem em pauta. Figura 22 – Reportagem da revista Veja retratando os jovens como grupo de risco do HIV Fonte: Dados da pesquisa 73 Tópico: Prevenção O uso de materiais informativos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma proposta que possibilita indicar a utilização de vídeos, cartilhas (FIG. 23) e impressos de campanhas Nacionais e regionais referentes à prevenção das viroses. Além disso, possibilita ilustrar o conteúdo através da exposição desses materiais. É sugerido ao professores realizar uma ampliação das campanhas preventivas, voltada ao público local, através da confecção pelos alunos de impressos, panfletos e marcadores de livros com intuito de orientá-los e, sempre que possível, encaminhar o trabalho produzido pelos alunos para informar a comunidade local. Dessa forma, é relevante que sejam priorizados dados embasados na realidade local da escola. Por exemplo, se for uma região que apresenta más condições de saneamento básico, é importante focar a necessidade de cuidados relacionados ao saneamento e a ameaça da dengue. Figura 23 – Cartilha produzida pelo Ministério da Saúde para a campanha de combate a dengue Fonte: Ministério da saúde 74 Tópico: Mitos e verdades Para finalizar a abordagem sobre as viroses foi proposto um jogo sobre mitos e verdades, que permite perceber a compreensão dos alunos sobre o tema estudado, possibilitando, assinalar os erros, esclarecer as dúvidas, lembrar os conceitos aprendidos e verificar o progresso dos educandos. O jogo (FIG. 24) é composto de (1) instruções de uso; (2) um tabuleiro que pode ser impresso em folha A4 sendo que cada folha pode ser utilizada por até 6 pessoas simultaneamente; (3) modelo de peões que também podem ser impressos e (4) cartas com sugestões de frases para serem utilizadas no seu desenvolvimento. Figura 24 – Elementos que compõem o jogo (instruções, cartas, tabuleiro e peões) Fonte: Dados da pesquisa Tópico: Propostas adicionais Como propostas adicionais, foram sugeridas atividades que utilizam recursos acessíveis e passiveis de serem utilizadas para auxiliar no processo ensino e aprendizagem das viroses. Foi proposto o uso de um aplicativo – Dengue Ville - disponível nas redes sociais Facebook e Orkut por ser um ambiente virtual atualmente bastante difundido pelos alunos; um jogo –ZIG ZAIDS– para abordar a AIDS, podendo ser utilizado conectado à internet ou 75 impresso e utilizado sem precisar de um computador conectado à internet; o documentário Positivas, com relatos de mulheres que contraíram AIDS dos maridos, podendo levar à reflexão da importância de usar camisinha, mesmo em um relacionamento duradouro; e um experimento – Por que lavar as mãos. Após os capítulos sobre dengue, gripe e AIDS, foram disponibilizadas no e-book as referências citadas no mesmo incluindo, quando possível, os arquivos em formato de documentos portável (PDF) para facilitar o acesso e leitura pelo professor dessas referências. Finalizando, no e-book foi colocada uma mensagem ao professor incentivando-o a divulgar informações e contribuir para educação em saúde sobre a dengue, gripe e AIDS nas suas escolas, conforme pode ser visto na figura 25. Figura 25 - Página final do e-book Fonte: Arquivo pessoal 5.2 A avaliação O e-book proposto nessa pesquisa foi avaliado por meio de um questionário eletrônico (Apêndice A) elaborado através do site http://questionform.com e que pode ser visualizado na versão digital no link 76 http://educacaoemsaude.questionform.com/public/Educa%C3%A7%C3%A3o-emsa%C3%BAde-nas-escolas. O questionário foi disponibilizado ao grupo de diálogos sobre o ensino de biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBIO) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), composto por profissionais deste campo de conhecimento (professores, pesquisadores, e estudantes da Educação Superior e da Educação Básica) de várias regiões do Brasil. O material também foi avaliado por alunos professores de uma turma do Programa do Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da PUC – Minas. Dessa forma, o produto foi avaliado por profissionais de instituições estaduais, federais, municipais e particulares englobando a opinião de diversas realidades educacionais do ensino Nacional. Numa análise preliminar, consideramos as respostas de 33 entrevistados a partir das quais impetramos as considerações a seguir. Sobre a abordagem das viroses AIDS, dengue e gripe no ensino, 27 professores (81,8%) responderam tratar esses assuntos em sala de aula. Em relação ao ano e ao conteúdo nos quais se dá essa abordagem, foram obtidas as seguintes respostas: 8 professores (24,2%) abordam apenas no primeiro ano do ensino médio, no conteúdo sobre vírus; 6 professores (18,1%) abordam apenas no segundo ano do ensino médio, no conteúdo sobre vírus; 4 professores (12,1%) abordam junto ao conteúdo sobre vírus, independente do ano do ensino médio; 2 professores (6%) abordam no primeiro ano do ensino médio, no conteúdo sobre vírus e no segundo ano do ensino médio, no conteúdo sobre sistemas do corpo humano; 3 professores (9%) abordam no primeiro ano do ensino médio, no conteúdo sobre vírus, exceto a AIDS que é abordada em outros momentos do ensino médio, nos conteúdos sobre doenças sexualmente transmissíveis e reprodução; 3 professores (9%) abordam no ensino médio em geral, junto ao conteúdo sobre vírus, DST, ecologia e meio ambiente; 1 professor (3%) aborda no ensino superior, nos conteúdos sobre doenças infecciosas; 6 professores (18,1%) não responderam essa pergunta. Percebe-se que a maioria dos entrevistados é professor do ensino médio, sendo que grande parte (54,5%) vincula o ensino sobre viroses ao conteúdo sobre vírus, sendo essa 77 abordagem restrita a apenas um ano do ensino médio. Somente 8 professores (24,2%) mencionaram outros conteúdos dos quais também trabalham a temática sobre viroses, sendo que desses, 3 abordam as viroses junto à temática sobre vírus e exclusivamente a AIDS é abordada em outros momentos. Os demais professores (21%) não omitiram opinião nesse tópico. No gráfico 8 pode-se visualizar os recursos didáticos utilizados pelos professores para fazer a abordagem das viroses AIDS, dengue e gripe. Gráfico 8 – Recursos didáticos utilizados pelos docentes para abordar as doenças viróticas AIDS, dengue e gripe Fonte: Dados da pesquisa Embora a maioria dos professores faça uso do livro didático (72,7%), é notório que esse não é o único recurso utilizado pelos docentes, que usam também apresentações em PowerPoint (63,6%), imagens (54,5%), vídeos (45,5%) e animações (27,3%). Também foram listadas outras atividades complementares como trabalhos em grupo, palestras com profissionais da área da saúde e uso de livros paradidáticos. Ao avaliarem as estratégias de ensino utilizadas no livro eletrônico, os 33 professores deram as notas apresentadas no quadro 9. 78 Quadro 9 – Avaliação das estratégias de ensino que compõem o e-book ESTRATÉGIA DE ENSINO Máximo Mínimo Média (em 5) (em 5) (em 5) Uso de questionário 5 3 4,5 Segmentação de texto 5 3 4,3 Produção de material multimídia 5 4 4,8 Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) 5 4 4,6 Uso de textos de divulgação científica 5 4 4,5 Uso de materiais informativos do 5 3 4,5 Sistema Único de Saúde (SUS) Jogo 5 3 4,4 Fonte: Dados da pesquisa As estratégias apontadas como as mais e menos interessantes estão apresentadas no quadro 10 e coincidem com as médias das notas dadas pelos professores. Ressalta-se que 51,5% (17 professores) não apontaram as estratégias menos interessantes, sendo citado o fato de terem aprovado o e-book proposto sem ressalvas. Quadro 10 – Estratégias mais e menos interessantes do e-book segundo os professores avaliadores Mais interessantes Produção de material multimídia ABP Uso de textos de divulgação cientifica Jogos Vídeos Esquemas da transmissão das doenças Respostas (%) 48,4 Menos interessantes Segmentação de texto Respostas (%) 12,1 21,2 9 Jogo Uso de questionário prévio 9 3 9 Utilização de materiais de divulgação do SUS 3 6 3 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os professores a produção de material multimídia e a ABP são atividades que certamente despertam mais a atenção dos alunos, sendo o motivo principal por serem eleitas como prediletas por eles. Sobre as atividades menos interessantes, foi citada por um docente a dificuldade em trabalhar estratégicas lúdicas em sala de aula, motivo pelo qual escolheu o jogo; um professor comentou sobre o tamanho do questionário, sendo uma atividade com aplicação muito rápida. Embora tenha sido detectado como problema, essa foi 79 uma das intenções de produzi-lo nesse formato, o fato de possibilitar uma tarefa de avaliação da compreensão do conteúdo rápida e fácil de ser corrigida, possibilitando dar um retorno a turma de forma ágil; sobre os materiais produzidos pelo SUS, foi feito uma observação em relação a esses materiais não apresentarem muito cuidado no uso das metáforas, o que pode trazer um entendimento errôneo sobre essas viroses; e a atividade apontada como menos interessante (opinião de 4 educadores), foi a segmentação de texto por questões, escolha que não foi justificada por nenhum deles. Os aspectos positivos do livro eletrônico apontados pelos professores foram: Linguagem adequada. Qualidade do conteúdo. Material de fácil visualização. Instruções para o uso produtivo. Fácil acessibilidade e manuseio. Material multimídia de qualidade. Reunião de diversas fontes de informações. Disponibilização de bibliografia pertinente. Apresenta diferentes formas de abordar os conteúdos. Apresenta linguagem simples e fácil de ser assimilada. Resume de forma bastante didática os conteúdos abordados. Facilidade em busca de informações sobre os assuntos propostos. Propostas metodológicas e formas de uso variável de vários equipamentos. Possibilidade de trabalhar em sala o gênero textual da divulgação científica. As imagens apresentadas favorecem a construção do conhecimento. Agrega valor ao instrumento através de recursos pedagógicos variados e muito bem estruturados. Aborda os temas de forma clara e concisa e traz propostas de atividades acessíveis aos recursos dos alunos. Estimula a criatividade e envolve o interesse a partir de ferramentas de comum utilização dos alunos como celular, Orkut e Facebook. Uso de metodologias que chamam a atenção dos alunos como os jogos e metodologias que os incentivam a leitura e raciocínio, como os textos científicos e a ABP. 80 A seguir são colocados os aspectos negativos do livro eletrônico apontados pelos professores seguidos por comentários sobre cada situação pontuada. Dificuldades de uso da internet. Possivelmente esse é um aspecto pessoal do professor que não domina com plenitude o uso da internet. Demora em abrir as páginas do livro eletrônico. A demora em abrir as páginas do livro virtual está vinculada a velocidade de conexão da internet, portanto, a rapidez para as informações serem acessíveis não depende da estrutura do e-book. Pouca divulgação em escolas. O livro virtual foi divulgado para avaliação dos professores no grupo do SBEnBIO composto por 1044 associados e por alunos professores do Mestrado da PUC Minas. Logo, inicialmente o material foi exposto a um público aproximado de 1050 professores, além de estar acessível na internet para todos os usuários. Pretende-se ampliar sua divulgação através da exposição da pesquisa em eventos científicos e em sites que aceitam divulgar esse tipo de material. Limitação no acesso por parte da população. A forma encontrada para possibilitar o alcance e divulgar o material foi a internet por ser um meio acessível em qualquer parte do planeta. Dessa forma, é possível vencer as fronteiras geográficas e presenciais, mas, estamos cientes que infelizmente a internet ainda não está acessível para todas as pessoas. Material extenso, sendo necessárias muitas aulas para abordar o assunto. A primeira atividade, ideias prévias, foi sugerida justamente para diagnóstico de quais tópicos e aspectos devem ser priorizados na abordagem, podendo o professor propor as atividades que melhor convier a ele a seus alunos, não sendo necessário abordar todo o conteúdo e-book. Isso é facilitado pela individualização de cada atividade proposta. O livro traz alguns termos técnicos que não seriam facilmente entendidos por um leigo na área das ciências biológicas, restringindo o uso somente a um trabalho com a supervisão de um professor de ciências ou biologia. O material foi elaborado para que os professores possam aprofundar o assunto e esclarecer termos biológicos desconhecidos. Ressalta-se que os educandos podem, ao longo de suas vidas, terem acesso ou deparar com situações ou informações em que esses termos serão 81 empregados, dessa forma é importante que no ambiente escolar tais termos da área sejam abordados e “decodificados”. Além disso, foram disponibilizadas no e-book sugestões de leituras complementares que podem ser consultadas pelos professores para aprofundamento e esclarecimento de dúvidas sobre a temática. Após analisar o livro eletrônico, 93,9% dos professores declararam que usariam as estratégias desse material em sala de aula, pois, o e-book proposto mantém os alunos bem informados sobre sua saúde; torna as aulas mais diversificadas e atrativas; possui metodologias que estimulam os alunos; possui uma linguagem bem didática a respeito de temas na maioria das vezes difíceis de serem trabalhados em sala de aula; é um material objetivo; facilita a exposição do tema; apresenta estratégias acessíveis, mesmo se tratando de um trabalho com alunos de baixa renda; apresenta produções criativas e de baixo custo e por abranger de forma diferente o conteúdo. Apenas um professor afirmou que não usaria o e-book proposto por não ser uma estratégia que auxilia grande parte dos alunos. E um professor declarou que usaria parcialmente o material, especificamente as ideias alternativas e avaliações, sendo as demais tarefas aplicadas como atividade extraclasse. Com base nos dados obtidos percebe-se que na visão dos professores avaliadores o ebook Educação em saúde nas escolas: Uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, dengue e gripe foi bem aceito, não apresentou grandes problemas de elaboração, possui uma qualidade admissível, e apresenta boas possibilidades de atingir seu objetivo, ou seja, ser utilizado pelos professores para ampliar a abordagem do conteúdo sobre as viroses AIDS, dengue e gripe expondo novas situações de aprendizado com intuito de dinamizar a abordagem, possibilitando complementação do livro didático e apresentando alternativas de estratégias didáticas diferentes. 82 6 CONCLUSÃO Uma forma de promover a educação em saúde é investir na informação e, sabidamente, a escola é um dos principais locais passíveis de intervenção nesse campo. Torna-se, portanto, urgente e necessário colocar em prática atividades escolares que abordem temáticas em prol da educação em saúde, o que significa ir além do conteúdo proposto nos livros didáticos e considerar, por exemplo, questões relacionadas às experiências de vida dos alunos e das comunidades em que vivem. A investigação realizada nesse trabalho mostrou que, embora os livros didáticos sejam uma ferramenta essencial para o ensino, as informações sobre doenças virais, ainda que presentes, são insuficientes quando se almeja ações de educação para a saúde. O conteúdo de doenças viróticas é encontrado basicamente no capítulo destinado a vírus, em que a ênfase está mais voltada para a definição e caracterização biológica desses microrganismos. Apesar de algumas vezes o tema aparecer dentro de outros conteúdos nos livros didáticos, a abordagem é bastante simplificada. As estratégias e os aportes governamentais dedicados à promoção da saúde, através das políticas públicas de saúde mostram-se insuficientes para o atendimento das demandas educacionais da população, tornando ainda mais relevante o papel da educação em saúde no ambiente escolar. Sabe-se que nem sempre é possível promover/incorporar novas informações de imediato nos LD, sendo importante complementá-lo com materiais que permitam mantê-los atualizados. Isso ocorre, pois, o processo de confecção e editoração demanda tempo, e uma mesma edição de um livro é utilizada por três anos consecutivos, não sendo possível manter os conteúdos atualizados de acordo com a velocidade em que as informações têm sido apresentadas na atualidade, ou seja, com veiculação das informações próxima ao tempo real dos acontecimentos. No contexto educacional para educação em saúde, isso não é ideal, pois, por exemplo, as medidas preventivas de doenças que deveriam ser ensinadas ou revisadas no momento em que ocorre um surto com intuito de fornecer informações, esclarecer dúvidas e evitar contágios, na maioria das vezes, não está disponível nos LD. Nesse contexto, pode-se exemplificar o caso da dengue. Embora se tenha registrado várias epidemias dessa virose, desde a década de 1990, observa-se que não houve mudanças significativas na sua abordagem nos LD no sentido de fornecer informações consistentes e atualizadas para os estudantes, o que seria de extrema importância para prevenir o aparecimento de novos casos da doença. No intuito de facilitar o vínculo e a responsabilização da comunidade escolar, que envolve professores, alunos, funcionários e familiares, aqui foi proposto um livro eletrônico 83 para o professor, complementar ao livro didático, para que os professores possam atuar com seus alunos, principalmente, na perspectiva de fortalecer aspectos de promoção em saúde preventiva. O livro do professor propõe a utilização de metodologias participativas que favorecem o diálogo entre a escola e os problemas enfrentados pela sociedade com objetivo de proporcionar um ensino significativo. Foi promovida a valorização dos procedimentos de pesquisa através do uso de ferramentas como observação, leituras e produção de materiais, proporcionando ao aluno um contato dirigido com a realidade em que ele está inserido. A escolha da elaboração de um livro virtual, além de complementar as informações dos LD, possibilita a inserção de novas formas de abordagem do conteúdo por possibilitar o emprego de recursos de mídia impossíveis de serem utilizados nos livros impressos. Além de proporcionar uma abordagem atualizada e consistente das viroses AIDS, dengue e gripe, o livro eletrônico também possibilitou informar e divulgar diferentes metodologias que podem ser empregadas, com as devidas adaptações, na abordagem de outros conteúdos podendo contribuir assim na formação continuada dos professores. Adicionalmente, por ser digital, a inserção de novos conteúdos e a atualização das informações ficam facilitadas, o que constitui uma vantagem importante no contexto da educação em saúde. Uma análise preliminar mostrou que o livro eletrônico foi bem aceito e poderá contribuir para o aprimoramento do processo de ensino e de aprendizagem das viroses dengue, AIDS e gripe, colaborando assim, para a educação em saúde na escola. Ressalta-se ainda que o processo de elaboração do livro virtual aqui apresentado pode ser replicado e/ou reinventado de acordo com a realidade local de cada contexto escolar. 84 REFERÊNCIAS ADOLFO, Augusto; CROZETTA, Marcos; LAGO, Samuel Ramos. Biologia: ensino médio: volume único. 2. ed. São Paulo: IBEP, 2005. 343 p. (Coleção Vitória-Régia) ALMEIDA, Rosiney Rocha; COUTINHO, Francisco Ângelo; CHAVES, Andréa Carla Leite. Percepção de alunos do Ensino médio sobre a utilização de recursos multimídias no Ensino de Biologia, 2009. In anais do VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Educação em Ciências. AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. A ciência da biologia. São Paulo: Moderna, 1984. AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. 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Visualize o E-book “EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ESCOLAS: Uma abordagem sobre as doenças viróticas AIDS, Dengue e Gripe” disponível em: http://www.myebook.com/ebook_viewer.php?ebookId=113534 e atribua uma nota para as seguinte estratégias de ensino utilizadas no livro eletrônico (1-5): ESTRATÉGIA DE ENSINO Uso de questionário Segmentação de texto Aprendizagem Baseada em Problemas Uso de textos de divulgação científica Produção de material multimídia NOTA Uso de cartilhas e materiais do Sistema Único de Saúde (SUS) Jogo 5. Enumere aspectos positivos para o livro eletrônico proposto 6. Enumere aspectos negativos para o livro eletrônico proposto. 7. Você usaria as estratégias desse material em sala de aula? Por quê? 8. Entre as estratégias propostas, qual você achou mais interessante? 9. E a menos interessante? 10. Qual nota você atribui para esse livro eletrônico? (1-5)