A CHEIA DO RIO NEGRO EM MANAUS E SEUS IMPACTOS NO CENTRO E NA PONTA NEGRA EM 2009 Diego Lopes Morais1 1 Graduando em Geografia / Universidade do Estado do Amazonas - UEA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/ NPCHS/LAES. [email protected] 1. INTRODUÇÃO A cidade de Manaus localizada a margem esquerda do Rio Negro, sofreu com as consequências da cheia histórica, considerada a maior do século, ocorrida durante o mês de Junho do ano de 2009. A principal causa da elevação do nível das águas está relacionada principalmente a grande intensidade de chuvas, aumentando a sua vazão até o encontro com o rio Amazonas, o que teve como consequência o aumento do seu volume. O resultado dessa ordem de eventos foram os impactos sentidos em maiores proporções nos bairros mais populosos localizados à orla do rio, sendo suas ações mais notáveis nas alterações de ordem física e social, principalmente em lugares como o Centro da cidade, pelo fator comercial e a oeste, na praia da Ponta Negra com o turismo. Na ciência Geográfica é possível compreender os fatos que se sucedem, permitindo fazer uma análise da espacialização desses impactos, mostrando através da sua ótica as situações vivenciadas pela sociedade manauara em um determinado período. Fluxograma 01 – A relação da cheia e a ordem de fatores que levaram a ocorrência dos Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 impactos. 2. OBJETIVOS: 2.1 - Geral Identificar através de uma abordagem geossistêmica e de formação social as principais ocorrências de impactos gerados pela grande cheia do rio Negro, através dos fatores de ordem climática na Amazônia, responsáveis pelo controle da sua dinâmica fluvial e, consequentemente, as alterações do cotidiano causadas à sociedade manauara, para assim propor medidas e soluções para lidar com possíveis cheias em ocasiões futuras (com a repetição de eventos desta ordem em ocasiões futuras). 2.2 - Objetivo Específico 1 Realizar uma análise dos fatores climáticos e um estudo do regime fluvial do rio Negro, responsáveis pela cheia na cidade de Manaus; 2.3 – Objetivo Específico 2 Descrever os impactos negativos da cheia ocorridos no Centro da cidade de Manaus, a alteração da paisagem e a situações enfrentadas nas áreas comerciais; 2.4 - Objetivo Específico 3 Mostrar os impactos positivos da cheia na praia da Ponta Negra, a gravitacionalidade gerada através do turismo, o aquecimento do comércio com a presença de pessoas de diferentes classes sociais atraídas pela inundação dos calçadões na orla. 3. METODOLOGIA A relação dos impactos ocorridos na cidade de Manaus apresenta na ótica do empirista um contraste de aspectos diferenciados para a análise e pesquisas de impactos (COELHO, 2000), sendo que a cheia não afetou a cidade de forma homogênea, o que possibilita um recorte das afetadas em unidades espaciais de análise (Figura 01), onde podemos compreender por meio de uma abordagem geossistêmica e de formação social de estudos realizados na orla de Manaus (COSTA, 2005) para compreensão da importância desses locais para a cidade (sua gravitacionalidade através de forças centrípetas), além da sua significância na economia e no cotidiano através das relações sociais e do fator espaço-tempo, assim integrando os fatores climáticos, fluviais e sociais (AB’SÁBER, 2004). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Figura 01 – Unidades Espaciais de Análise: locais afetados pelos impactos da cheia. FONTE: Google Earth / Elaboração: LOPES, D.M. 4. RESULTADOS PRELIMINARES Durante o mês de Junho do ano de 2009 a cidade de Manaus, localizada a margem esquerda do Rio Negro, com uma população estimada de 1.738.870 habitantes (IBGE: 2009), sofreu com as consequências da maior cheia até então já registrada. As causas que nos levam a compreender os fatores responsáveis pela elevação do nível das águas apontam para o aumento na intensidade de chuvas, estas que tornaram maior a sua vazão até o encontro com o rio Solimões, consequentemente elevando o seu volume e inundando toda a borda oeste e sul da cidade. O que se seguiu foi uma série de ocorrências de inundações, principalmente na orla do rio Negro e nas proximidades dos igarapés (canais fluviais), onde há grande concentração de moradias e de propriedades públicas e privadas utilizadas para atividades econômicas ou sociais, originando assim os impactos. Estes foram mais notáveis em áreas como no Centro Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 da cidade, uma zona comercial e na praia da Ponta Negra, localizada a 12 km ao Oeste do Centro de Manaus, local característico para o turismo e para o lazer. A relação dos impactos ocorridos nas áreas abordadas comporta uma maneira diferenciada para analisar o contraste da situação, sendo que ambas as áreas são consideradas referenciais no âmbito comercial e turístico da cidade. 4.1 - O CLIMA COMO FATOR DETERMINANTE PARA A CHEIA DO RIO NEGRO A dinâmica fluvial do rio Negro (com regimes de cheias e estiagens) deve-se a fatores climáticos que controlam a situação em períodos de chuvas e secas. O aumento do volume de água é consequência das chuvas torrenciais na nascente e nas calhas do rio, sendo que o período de chuvas na região estende-se de novembro a maio, porém alcançando o seu auge no mês de abril (Gráfico 01 - Precipitação), resultado do acúmulo de umidade sobre as camadas atmosféricas da própria Amazônia e do aquecimento e vaporização de águas oceânicas. Esta umidade chega ao solo em forma de precipitação, que se torna frequente e atua aumentando o fluxo das águas da sua nascente, localizada próxima ao município de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Estado, como também pelos seus afluentes em toda a sua bacia. Precipitação na Amazônia (mm - milímetros) Maiores cotas do rio Negro (m - metro) Gráfico 01 – Índices pluviométricos da Amazônia (à esquerda); e as maiores índices de cheias já registradas do rio Negro (à direita). FONTES: INMET ,CPRM e ANA. / Elaboração: LOPES, D.M. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 4.2 - O RIO NEGRO A água flui por toda a extensão do rio Negro, passando pelo sítio urbano de Manaus e chegando até a confluência com o rio Amazonas, onde há represamento proveniente da diferença entre ambos os rios em fatores como densidade, acidez, temperatura, entre outros, o que controla o fluxo da sua vazão (SIOLI, 1951). Estas ações somadas implicam na elevação do nível de suas águas inundando as áreas de várzea, onde existem moradias sem infraestrutura para suportar as enchentes, o que aumenta as ocorrências de alagações. O CPRM (Serviço Geológico do Brasil) é o órgão encarregado de monitorar as cheias do rio Negro, estas que vem sendo feitas desde o ano de 1902. As maiores médias já registradas foram nos anos de 1953 (29,69 metros); 1976 (29,61 metros); e 1989 (29,42 metros), com o índice da cota de 2009 atingindo 29,71 metros (Gráfico 01 - maiores cotas do rio Negro). 4.3 - A CIDADE DE MANAUS AFETADA PELA CHEIA DE 2009 Na cidade de Manaus houve um impacto muito grande, pelo fato da cidade tem inúmeros canais com suas respectivas micro bacias, áreas de moradia de grupos sociais com pouco poder aquisitivo, com pouca ou sem condições de residir em locais com infraestrutura. Os bairros localizados a margem do rio e cortados por canais foram os mais afetados, contudo, os contrastes mais notáveis ocorreram no Centro da cidade e na praia da Ponta Negra. 4.4 - OS IMPACTOS NEGATIVOS NO CENTRO: AS ALTERAÇÕES NO FATOR COMERCIAL O Centro está localizado a margem do rio Negro entre as rias do igarapé do Educandos e do São Raimundo. É um lugar caracteristicamente comercial, pois abriga uma grande variedade de lojas, restaurantes e também histórico, com construções do período colonial. Realizando uma análise através do metabolismo urbano (AB’SÁBER, 2004), esta localidade de Manaus compreende um sistema de drenagem desenvolvido com galerias pluviais construídos pelos ingleses no final do Século XIX para fluir a carga de água da chuva e também o esgoto doméstico, sendo que nos dias de hoje não mais atende as necessidades Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 da população. Elas ainda são utilizadas por moradores e comerciantes do centro, sendo que há pouca ou nenhuma manutenção dessas galerias, ocasionando constantes problemas de escoamento. Figura 02 – As ruas mais próximas a margem do rio foram diretamente afetadas com a inundação e o comercio da localidade sofreu com a falta de mercadorias e consumidores. FONTES: LOPES, D.M. e BARBOSA, M.S. Com a elevação do nível do Rio Negro, estas galerias tornaram-se ineficientes e passou a fluir sua vazão para a rede de drenagem extravasando nas ruas e esgotos um volume considerável de água somado a detritos. As ruas e acessos próximos a margem foram os mais afetados, restringindo a passagem de pessoas e impedindo o tráfego de veículos, inundando comércios e residências, trazendo grande ordem de prejuízo material e consequentemente econômico, pois suas características enfatizam uma importante área comercial, com um grande fluxo de mercadorias e consumidores. Figura 03 – A situação das ruas inundadas: moradores e comerciantes passam a adaptar-se Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 com as novas condições e utilizam para isso os meios mais viáveis. FONTE: LOPES, D.M. e BARBOSA, M.S. 4.5 – OS IMPACTOS POSITIVOS NA PRAIA DA PONTA NEGRA A praia da Ponta Negra também localizada na orla do Rio Negro está a doze quilômetros de distância do Centro de Manaus, nas adjacências do Igarapé do Tarumã-Açu. A sua praia é referencia como local de entretenimento e lazer, constituindo-se essencialmente por pacotes de areia, com uma orla formada por taludes protegidos em certos momentos por contenções. A mudança da paisagem evidenciou um dos mais notáveis impactos físicos, com a inundação por completo da praia, fazendo o nível das águas alcançarem a altura dos taludes e transbordarem nas proximidades dos calçadões, onde há pistas utilizadas para práticas desportivas e ciclovias. Ao contrário dos acontecimentos ocorrentes no centro da cidade, a situação refletiu-se em um aspecto positivo, atraindo a presença de banhistas, e também aquecendo o faturamento de vendedores ambulantes e comerciantes. Os apartamentos localizados frente à praia são habitados por pessoas que pertencem às classes sociais com um maior poder aquisitivo, sendo que, boa parcela das pessoas que frequentam a praia, os bares e pequenos restaurantes são das classes mais baixas. Figura 04 – Parte do calçadão da praia da Ponta Negra tomado pela enchente (esquerda); Banhistas e curiosos são atraídos para as partes inundadas a fim de observarem a mudança na paisagem na localidade (direita). FONTE: LOPES, D.M. e SILVA, L.G. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Podemos concluir que uma série de fatores naturais refletem através de alterações na sociedade, permitindo observações de aspectos positivos como os evidenciados na praia da Ponta Negra e negativos no Centro da cidade, onde houve danos a infraestrutura ao comércio e a circulação de pessoas. Com o conhecimento de tais aspectos torna-se possível fundamentar um trabalho de cunho interdisciplinar, a fim de buscar meios para minimizar esses impactos quando houver novos indícios de situações idênticas ou até mesmo de maior grandeza. A dinâmica espacial das enchentes não afetou a cidade de forma homogênea, houve uma diferenciação de impactos, por isso a constituição de duas unidades espaciais de análise, paisagisticamente diversas, ambas com forças centrípetas e densidades diferentes não somente na economicidade, mas também no cotidiano (espaço-tempo e relações sociais e história em movimento) manauara. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AB’SÁBER, Aziz Nacib (org.). Previsão de impactos: o estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul: experiências no Brasil, na Rússia e na Alemanha. São Paulo: Edusp, 1994; ___________________. A sociedade urbano-industrial e o metabolismo urbano: mais do que nunca há a necessidade de interação entre a ecologia social e as peculiaridades do metabolismo urbano nas grandes cidades. São Paulo, 2004; COSTA, Reinaldo Correa. Áreas de risco no sítio urbano de Manaus: geossistema e formação social como fundamentos de análise. 2005; COELHO, M.C.N. Impactos ambientais em áreas urbanas - teorias, conceitos, métodos de pesquisa In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da (organizadores). Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000; SIOLI, Harald. Amazônia: fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais. Tradução de Johan Becker. Petrópolis: Ed. Vozes, 1951; OUTRAS FONTES: Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Agencia Nacional de Águas - ANA. Informações e dados acerca da bacia hidrográfica amazônica. Disponível em: <http://www2.ana.gov.br/Paginas/portais/bacias/amazonica.aspx>. Acesso em: 14 de Maio de 2010; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. IBGE Cidades – Dados populacionais. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: 25 de Maio de 2010; Serviço Geológico Brasileiro - CPRM. Informações e dados acerca dos recursos hidrológicos na Amazônia. Disponível em: < http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=482&sid=34> Acesso em: 14 de Abril de 2010; Instituto Nacional de Meteorologia - INMET. Gráficos Climatológicos para as capitais brasileiras. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/html/clima/graficos/plotGraf.php?chklist=2%2C4%2C&capita=mana us%2C&peri=&precipitacao=2&manaus=28&tempmed=4&Enviar=Visualizar> Acessado em: 26 de Maio de 2010. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9