Lídia Gabriela Rodrigues de Souza Graduanda em Geografia Licenciatura pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN. E-mail: [email protected] Narla Satler Musse Mestre em Geologia pela UFMG e docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. E-mail: [email protected] DESCOBRINDO O RELEVO PELO TATO: A INCLUSÃO PERMEANDO A GEOGRAFIA RESUMO O presente trabalho elabora a construção de uma maquete com o intuito de auxiliar na formação do conhecimento a compressão de curvas de nível. Propõe uma estratégia para inclusão de alunos com deficiência visual em disciplinas de geografia física, tais como: geologia, geomorfologia, cartografia, ou qualquer disciplina que necessite de uma verificação do relevo com diferentes altimetrias, nessas disciplinas normalmente uma das metodologias mais utilizadas é a observação. A visualização do relevo se dá através da visão, mas com a produção de maquetes e através do tato é possível entender, conceituar e diferenciar conceitos vistos em tais disciplinas. Neste caso optou-se por trabalhar com a observação do relevo, para tanto foi escolhido um mapa de diferentes altitudes, as curvas de nível são elementos de estudo para o relevo. E no decorrer deste trabalho será explicado o passo-a-passo dessa construção, que pode ser concluída junto aos demais alunos, como estratégia para que se crie um ambiente de convivência mais harmônico, onde todos os alunos interagem e constrói conhecimentos, independente de suas limitações, recebendo a mesma educação, laica e de qualidade. Esperasse que ao fim de seguidos processos como este o aluno possa ter uma boa convivência social e ter obtido o conhecimento esperado em tais disciplinas. Enfim, no decorrer do trabalho pretendem-se conceituar a deficiência visual, as etapas metodológicas para a construção da maquete e as conclusões finais. Para fundamentação deste trabalho se baseou principalmente nos trabalhos de Amiralian (2004), Gomes (2005) e Ventorini (2007). PALAVRAS-CHAVE: inclusão, curva de nível, maquete, deficiência visual. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 DESCOBRINDO O RELEVO PELO TATO: A INCLUSÃO PERMEANDO A GEOGRAFIA 1. INTRODUÇÃO Este artigo surgiu de uma necessidade de ensinar disciplinas como geologia, geomorfologia, cartografia, da geografia física para alunos com deficiência visual. É de extrema importância incluir pessoas com deficiências na educação, independentemente da necessidade que apresentem. Neste trabalho será enfatizada a deficiência visual com o objetivo de trabalhar a temática de relevo, usando maquetes, com ênfase para as curvas de nível que são primordiais para a compreensão dos mapas topográficos. Assim, será possível verificar as possibilidades desta estratégia metodológica para o ensino desta temática em um ambiente inclusivo. Pretende-se conhecer a deficiência visual e suas potencialidades para que se possam minimizar as dificuldades. Tendo como objetivo do trabalho propor uma estratégia metodológica para o ensino de relevo em ambiente inclusivo. A maquete é uma das formas de representação do espaço que tem como vantagem o fato de permitir a percepção do teórico na prática. Ou seja, neste caso permite que o aluno com deficiência visual possa compreender as conceituações de curva de nível – representada bidimensionalmente no mapa topográfico – seja apresentada em relevo – representado tridimensionalmente na maquete. No que tange a Geografia, saber construir e interpretar as representações cartográficas são fundamentais para a formação do raciocínio geográfico, daí a necessidade da alfabetização cartográfica. A representação cartográfica mais utilizada é o mapa. No entanto muitas crianças em idade escolar chegam à juventude e ao final do ensino básico sem entendê-la e sem saber o sentido de sua utilização no seu dia-a-dia. Principalmente os alunos que não podem como o sentido da visão e se apropriam do mundo pelos outros sentidos. É necessário que os educadores pensem em metodologias que possibilitem aos alunos se apropriar deste conteúdo utilizando primordialmente o tato, sem deixar de lado os outros sentidos que interagem entre si na construção de conhecimentos e na apropriação do mundo. 2 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Para Alves (1999), “O mapa, coisa que se faz com símbolos para representar o espaço, só tem sentido se estiver ligado a um espaço ou não é símbolo, feito de montanhas, rios de verdade, planícies e mares. Saber um mapa é ver, pelos símbolos, o espaço que ele representa”. Entender o mapa desta maneira é compreender que, para a Geografia, ele significa uma representação gráfica do discurso geográfico, importante para uma leitura crítica do mundo. Para Gomes (2005), [...] neste contexto que a maquete se torna um importante recurso de apoio didático pedagógico. Ao trabalhar com as informações em relevo, permitindo a visão tridimensional do espaço, ela aproxima o abstrato do real e ao mesmo tempo, possibilita a construção dos conceitos necessários para o entendimento da representação bidimensional – o mapa -, na medida em que o professor mediador do processo de ensino-aprendizagem – realiza a construção da maquete, a partir do mapa, e do mapa, a partir da maquete. Contudo, este processo não pode escapar do objetivo principal da atividade, ou seja, o ensino da representação – que é cartográfica - para a aprendizagem de seu conteúdo – que é geográfico e acima de tudo levar os alunos a esta compreensão. 2. CONCEITO DE DEFICIÊNCIA VISUAL O conceito deficiência visual engloba duas categorias: as pessoas cegas e as pessoas com baixa visão. A identificação das pessoas com deficiências visuais baseia-se no diagnóstico oftalmológico e através da medida da acuidade visual pelos oftalmologistas (Amiralian, 2004). A acuidade visual é a capacidade de discriminação de formas, medida por oftalmologistas por meio de apresentações de linhas, símbolos ou letras em tamanhos diversificados. A pessoa com baixa acuidade visual apresenta dificuldades para perceber formas, sejam de perto, longe, ou em ambas as situações (SOUZA, et al., 2005). Para os médicos a cegueira centra-se na capacidade visual apresentada pelo sujeito que passou por todos os tratamentos ópticos possíveis. Segundo Ventorini (2007, p. 20), “Até a década de 70, o encaminhamento para o ensino pelo método braille tinha como base o diagnóstico médico, entretanto a constatação de que muitos alunos considerados cegos utilizavam a visão e não o tato para lerem o braille, ocasionou uma reformulação do conceito de cegueira”. 3 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 3. ETAPAS METODOLÓGICAS PARA CONSTRUÇÃO DA MAQUETE Realizada tais reflexões passaremos agora a apresentar as etapas para construção de modelo cartográfico. 1ª Etapa: • Escolha do tema. Seja esse planalto, planície ou depressão. Nesse caso a escolha de um mapa de altitudes, não foi em vão, uma vez que para conseguirmos a terceira dimensão, são necessárias as curvas de nível, porém, após a montagem da maquete pode-se optar por representar qualquer outro tema. • A definição da e s c a l a horizontal e vertical. (Ex: placas de isopor de 0,5 cm, 1 cm, 1,5 cm etc.). Figura 1 – Mapa escolhido 2ª Etapa: • Seleção do material a ser utilizado: placas de isopor, papel machê, tintas, cola de isopor, cola branca, cortador de isopor, barbante, canetas hidrocor e pincéis. 4 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Figura 2 – Material utilizado 3ª Etapa: • Desenhar em várias folhas de papel mapas de curvas a serem utilizados separadamente, formando uma coleção de mapas, para posteriormente repassar para as folhas de isopor. 4ª Etapa: • Transferir os contornos para as placas do isopor. Em um lado da maquete desenhar estes contornos com barbante e adicionar legendas em braile para valores que determinam a altura das curvas. E na outra parte recortar as placas de isopor com as suas alturas determinadas. Figura 3 – Maquete em andamento 5ª Etapa: • Colocar papel machê na segunda parte a fim de suavizar as curvas e definir as cores. 5 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Figura 4 – Maquete finalizada (vista de cima) Figura 5 – Maquete finalizada (vista de lado) 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante ressaltar que a própria elaboração da maquete é um processo de ensino-aprendizagem, pois é possível trabalhar lado a lado com o aluno, perguntando-o como poderia ficar mais compreensível seja na legenda, na construção ou no produto final. E na escolha do material que facilmente pode ser substituído por material reciclado, coletado no 6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 próprio bairro dos alunos, tais como: caixa de papelão, isopor de empresas que muitas vezes são lançados na rua, enfim em cima dessas possibilidades trabalharem neste tipo de projeto. Despertando ainda, reflexões sobre como estes alunos poderiam utilizar material cartográfico em 3D, em especial maquetes táteis, para ampliarem seus conhecimentos. Além da experiência prática que instigará reflexões sobre as percepções e formas de organização do espaço do grupo de alunos, fazendo com que haja interação com os alunos que não possuem deficiência visual. Para Ventorini, [...] a adaptação de material didático de cartografia para este grupo não consiste simplesmente em substituir cores por texturas ou efetuar contornos em relevo ou inserir informações em braille, assim como a abordagem de conteúdos de Geografia e Cartografia ensinados para cegos e indivíduos de baixa visão não podem ter como referencial a percepção e organização espacial de pessoas que enxergam Atividades como a criação de maquetes em sala de aula permitem aos deficientes visuais enxergar com as mãos, facilitando o seu aprendizado uma vez que se torna mais viável a compreensão do que se pode ver, seja com qual quer dos olhos que se veja. Conclui-se também que o aprofundamento deste estudo deve continuar considerando a realidade de trabalho dos professores, sejam salariais ou de acesso às informações, materiais e equipamentos de informática disponíveis para a realização de suas atividades didáticas nas escolas públicas. 7 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 REFERÊNCIAS ALVES, R. O rio São Francisco no Paraná. São Paulo: Folha de São Paulo, 11 de jul. 1999. AMIRALIAN, M. L.T.M. Sou cego ou enxergo? As questões da baixa visão. Revista Educar, Curitiba, n. 23, p. 15-28, 2004. GOMES, Marquiana de Freitas Vilas Boas. Paraná em relevo: proposta pedagógica para construção de maquetes. Revista do Departamento de Geociências. Londrina, v. 14, n. 1, Disponível em http://www.geo.uel.br/revista, 2005. SOUZA, A. D.; BOSA, C. A.; HUGO, C.N. As Relações entre deficiência visual congênita, condutas do espectro do autismo e estilo materno de Interação. Revista de Estudos de Psicologia, v. 22, n. 4, p 355-364, 2005. VENTORINI, Silvia Elena. A experiência como fator determinante na representação espacial do deficiente visual, 2007. 144f. Dissertação (Mestrado em Geografia: Organização do Espaço) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2007. 8 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8