Décimo Quinto Boletim de Física e Espiritualidade O Modelo Padrão BOLETIM 15 – FÍSICA E ESPIRITUALIDADE Prof. MARCUS VINÍCIUS – AMEABC [email protected] – Dezembro/2012 Olá meus queridos irmãos em Cristo Nos boletins anteriores, tivemos uma visão panorâmica de alguns conceitos físicos. Eles são fundamentos necessários para os estudos da dimensão espiritual do ser. Naturalmente, em alguns momentos, conceitos mais profundos que esses serão necessários, mas isso será tarefa da academia, quando a espiritualidade for finalmente aceita como uma dimensão fundamental do ser e não apenas como algo alegórico e desnecessário. Tudo a seu tempo e sabemos que se aproxima o momento em que o homem se deparará com a realidade espiritual como elemento importante para o entendimento da realidade em sua totalidade. No boletim desse mês, falaremos um pouco sobre a estrutura da matéria. Temos acompanhado na mídia várias informações sobre a busca pelo bóson de Higgs. Esses questionamentos nos fazem questionar: como os físicos entendem a matéria hoje? Será que nossa visão de matéria já tem elementos que nos permitem, por exemplo, assumir a existência do fluido cósmico universal e compreender como a manipulação desse fluido pode gerar as partículas da natureza? Todas essas questões têm, em seu cerne, um ponto central: o quanto ainda estamos distanciados da estrutura da matéria que os espíritos nos apresentam? É importante salientar que esse texto é bastante simples e informativo. O tema é árido e uma rápida abertura de um livro de física de partículas ou de teoria quântica de campos nos dá uma ideia da complexidade do assunto, não apenas em nível teórico, mas principalmente porque muitos físicos têm sugerido que o Modelo Padrão, a estrutura que organiza nossa visão de matéria, parece clamar também por uma mudança epistemológica da realidade. Desafios que espíritos em evolução desvendaremos com o tempo. Bons estudos! ESTRUTURA DA MATÉRIA - O MODELO PADRÃO 1. Compreendendo o problema Em 14 de dezembro de 2011, vários periódicos brasileiros e de outros países do mundo lançaram reportagens falando sobre a possível descoberta do chamado Bóson de Higgs ou como a mídia tem chamado, de "partícula de Deus". Para verificar se esse título tem sentido, compreendamos o problema. A Física atual organizou todo o conhecimento que temos de partículas no chamado Modelo Padrão. A figura abaixo mostra uma visão esquemática desse modelo. Figura 1: Modelo Padrão de Partículas (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-11172009000100006&script=sci_arttext) Segundo a Física que conhecemos atualmente, todas as interações da natureza são classificadas em quatro forças, que no quadro acima são as interações fundamentais: nuclear forte, nuclear fraca, gravitacional e eletromagnética. Cada uma dessas interações possui uma partícula mediadora, que conhecemos como bósons. Na força eletromagnética, a partícula mediadora é o fóton. A Física atual entende que, quando duas partículas, por exemplo, de carga oposta interagem, ocorre atração elétrica. Tais cargas geram um campo ao seu redor, que é a manifestação física da existência daquela carga. Quando uma partícula é colocada dentro do campo da outra, sente sua presença e interage com ela, trocando fótons. Esse processo também acontece com as outras interações conhecidas. Vejamos mais um exemplo: no interior dos núcleos de átomos, atua uma força de curtíssimo alcance, denominada força nuclear forte. O núcleo de um átomo, pelo menos numa visão clássica que temos dele, é uma região altamente instável: suponha um átomo de urânio (com 92 prótons no núcleo), todos altamente concentrados numa região muito pequena. Do ponto de vista elétrico, cargas positivas se repelem, o que suscita uma importante questão: o que mantém o núcleo ligado se suas partículas se repelem fortemente? Do ponto de vista do modelo padrão, a resposta são as partículas mediadoras, os bósons, que no caso da interação nuclear é o glúon. Prótons e nêutrons trocam entre si partículas mediadoras que garantem uma força de atração e concomitantemente certa estabilidade ao núcleo. Em resumo, prótons se repelem eletricamente, mas se atraem nuclearmente. Como a atração nuclear é muito maior que a repulsão elétrica, os prótons mantêm-se juntos. De maneira análoga, a força fraca possui seus bósons, no caso, as partículas W e Z. A força fraca se manifesta principalmente nos processos de decaimento. Materiais radioativos apresentam núcleos em estados excitados e, de modo a se desexcitarem, emitem, dentre outras, partículas α, βe radiação γ. Procedimentos médicos como radioterapia se baseiam nos efeitos que emissões desse tipo têm com tecidos cancerosos. Não por acaso tratamos da força gravitacional em último lugar. É ela o centro desse texto. Em meados do século XVII, quando Newton publicou sua obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, em que apresenta sua concepção de gravidade como a responsável pela queda dos corpos. Newton foi muito criticado nesse período por reintroduzir qualidades ocultas1 na Filosofia. Isso decorre do fato de que a ideia de gravidade ser algo bastante anti- 1 Chamemos aqui de qualidades ocultas as propriedades da matéria que não podem ser captadas diretamente pelos sentidos, essas chamadas de qualidades primárias. Na filosofia à época de Newton, havia uma tentativa generalizada de construir uma descrição da realidade baseada apenas em dados captáveis pelos sentidos, evitando recurso a propriedades que beiravam ao uso de entidades metafísicas. intuitivo, afinal, como pode um corpo (a Terra) executar força sobre outro corpo sem estar encostado nele, um problema que historicamente é conhecido como problema da ação à distância. Nessa obra, Newton assume que a massa do corpo é algo intrínseco a ele (tal definição é apresentada no Escólio dessa obra). Nos séculos subsequentes, outras ideias acerca da massa do corpo são sugeridas. Ernst Mach, na segunda metade do século XIX, fornece uma explicação diferente do conceito de massa dos corpos, criticando a posição newtoniana, por considerá-la uma pseudo-definição. Segundo Mach, a massa de um corpo é um conceito estritamente relacional, ou seja, que só pode ser medido em relação a outros corpos. Clarifiquemos isso: se aplico a mesma "força" (outro conceito que Mach critica por ser metafísico) em dois corpos e um deles acelera mais, isso implica que sua massa é menor. Se ele acelerar o dobro de outro corpo, deve ter, portanto, metade da massa. Na visão de Mach, todas as massas do universo só podem ser medidas de maneira relacional. Essa discussão adentra o século XX e Einstein, na formulação da Teoria da Relatividade Geral, apresenta uma teoria da variação das massas de um corpo com a velocidade, advogando, não nos mesmos termos de Mach, a tese de que as massas dos corpos não são conceitos absolutos, mas relativos. Nessa mesma teoria, apresenta sua teoria de gravidade, abrindo mão do conceito de ação à distância, assumindo que a gravidade se desloca no espaço-tempo com velocidade limitada pela velocidade da luz. Desse modo, se o Sol desaparecesse nesse momento do céu, como a luz dele gasta cerca de 8 minutos para atingir a Terra, os efeitos gravitacionais que o desaparecimento do Sol teriam sobre a Terra também só seriam percebidos depois desse tempo. Quando outras forças da natureza começam a ser compreendidas no começo do século XX e uma grande quantidade de partículas, além de prótons, elétrons e nêutrons vão sendo detectadas, os físicos organizam tudo isso no mencionado Modelo Padrão de Partículas. O lado esquerdo da figura 1 apresenta algumas delas. Passadas algumas décadas do completo estabelecimento desse modelo, um mistério permanece: a existência das partículas de gravidade, os grávitons ou, como conhecidos mais tecnicamente, os bósons de Higgs. Essa é a única das partículas do Modelo Padrão ainda não identificada pela Física de Altas Energias, área da Física que busca entender as interações da matéria em seu nível mais fundamental. Figura 5: Bósons das principais interações de natureza física Até meados da década de 70, os físicos não se interessavam por uma questão de cunho mais epistemológico: o que dá massa às partículas? Por que as partículas elementares têm as massas que possuem? De onde vem essa massa? Peter Higgs, um físico inglês, postulou a existência de um campo, o chamado Campo de Higgs, que conferiria massa aos corpos. O LHC (Large Hadron Collider)2, grande acelerador recém inaugurado na Europa, além de outros importantes centros de pesquisa do mundo, têm se debruçado a essa busca: encontrar uma evidência empírica da existência do Bóson de Higgs. Quando essas questões epistemológicas começam a ser postas, uma outra surge: se existe o bóson de Higgs e ele confere massa às partículas conhecidas e essa "massa"é oriunda do campo de Higgs, de onde viria a massa do campo de Higgs? Quem confere massa a ele? Creio poder afirmar nesse ponto da exposição que a doutrina espírita pode apresentar possíveis pistas para a investigação. Vejamos um pouco disso. 2. O que os espíritos nos dizem? Quando falamos de estrutura da matéria, o primeiro conceito a que nos remetemos na codificação é o fluido cósmico universal. Na questão 27 do Livro dos Espíritos, temos o seguinte trecho: "Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo como elemento material, se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não fosse. Está colocado entre matéria e Espírito; é fluido, como a matéria, e suscetível, por suas inumeráveis combinações com esta e sob ação do Espírito, de produzir a infinita variedade de coisas que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiririas as qualidades que a gravidade lhe dá." Analisemos com cuidado o trecho, que nos permite extrair conclusões interessantes: primeiramente, verifica-se que o fluido é algo que intermedeia a matéria, pelo menos no sentido em que a conhecemos: grosseira, impenetrável; E o Espírito, de natureza desconhecida a nós humanos no estágio evolutivo em que nos encontramos. Esse fluido é algo plástico, maleável, pois que o espírito pode exercer sua ação sobre ela, moldando-a. Logo mais abaixo, há uma passagem que confirma isso, ao dizer que "sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade de coisas que apenas conheceis uma parte mínima". 2 Grande Colisor de Hádrons (hadrons são partículas que possuem estrutura interna) Assim, sob certas condições, esses fluidos podem ser moldados, produzindo manifestações distintas. Assim é que temos, por exemplo, a eletricidade e o magnetismo. Por acaso você já refletiu sobre o que é a eletricidade? Aprendemos na escola que temos os átomos e o movimento ordenado desses átomos gera o que chamamos corrente elétrica. Mas vale dizer que isso é um modelo. No início do século XX, com o advento do fóton, vimos que as partículas podem ser tratadas com caráter ondulatório, da mesma forma que ondas podiam ser descritas como pacotes corpusculares de energia. A dualidade nos sugere isso, ao mesmo tempo em que o Princípio da Complementaridade atesta que as duas coisas coexistem simultaneamente enquanto possibilidades. Pois bem, se partículas não têm essa materialidade que acreditamos terem, pelo menos no senso comum, é lícito pensar que elas sejam oriundas de algum processo de manipulação do fluido, que tomamos aqui como o elemento primordial da natureza. Assim é que a eletricidade e/ou o magnetismo, assim como as demais forças da natureza vistas acima, a nuclear forte, a nuclear fraca ou mesmo a eletromagnética, todas com seus bósons, ou partículas intermediadoras, são nada mais que variações do fluido. A busca tão sonhada pela teoria do campo unificado, a teoria que unificaria todas as forças da natureza em uma, passará, certamente, pelo entendimento das propriedades extremamente plásticas do fluido universal. Uma última questão ainda precisa ser respondida: que mecanismos são esses que permitem, dada à maleabilidade do fluido, gerar forças e partículas tão distintas umas das outras? Por ora, apenas mencionaremos que o pensamento é o agente causador desse processo. Trataremos disso no próximo boletim, pois é importante compreender como o pensamento e a vontade atuam poderosamente na manipulação do fluido. Quando entendermos isso, veremos que somos grandes geradores de fluido manipulado, uma grande fábrica, no qual entra o fluido bruto como matéria prima e sai um fluido animalizado, modificado. A matéria prima da realidade, sejam coisas boas, sejam ruins, é toda produzida no interior de cada espírito que, a cada momento, gera enormes quantidades de fluido e estes podem ser usados em processos enobrecedores, como os fluidos produzidos em atos mais elevado, seja em processos dolorosos, oriundos de nosso ódio, inveja, orgulho e ressentimento. CONCLUSÃO A partir deste boletim, começaremos a utilizar os conteúdos físicos discutidos em boletins anteriores. A proposta é que incorporemos, pouco a pouco, os conhecimentos abençoados da doutrina do Mestre Jesus, de modo a entendermos como a dimensão espiritual do ser afeta nosso entendimento da realidade. Com este exercício, esperamos cumprir aos imperativos da doutrina, em que se assume que qualquer tese espírita não deve se furtar, em qualquer tempo, a dialogar prontamente com a ciência. Se a fé tradicional se coloca como uma alternativa à Ciência, o Espiritismo lhe dá as mãos e busca compreender a realidade em uníssono, crendo que tudo, absolutamente tudo, emana do Criador e que entender suas leis é uma ode à sua magnanimidade. Continuemos estudando e sigamos firmes junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Prof. Marcus Vinícius Russo Loures Bibliografia Luiz, André. Mecanismos da Mediunidade: a vida no mundo espiritual. 26ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1959. Ferreira, Paulo Antonio. Universo dual: a estrutura da matéria segundo os espíritos. Apostila psicografada. Guitton, Jean. Deus e a ciência. 5a impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 76a ed, 1995. Denis, Leon. 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