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Caracterização de eflorescências, sua natureza e mecanismos de formação em
fachadas revestidas com cerâmica e pedra natural
César Correia
Saint-Gobain Weber Cimenfix SA
Portugal
[email protected]
Resumo: O presente trabalho propõe-se estudar as causas mais significativas do aparecimento de
eflorescências em fachadas revestidas com material cerâmico e pedra natural, os materiais utilizados nos
revestimentos de fachadas, assim como, as técnicas de colagem existentes, em Portugal.
Pretende-se, ainda, encontrar meios ou formas de poder evitar que as eflorescências surjam em edifícios
com este tipo de fachadas.
Palavras–chave: eflorescências, cerâmica, pedra natural, fachadas.
1. Introdução
Na arquitectura tradicional portuguesa os materiais de revestimento de fachadas variam do norte para o
sul do país. Esta tradição tem continuidade nos dias de hoje com a arquitectura que podemos observar
nas cidades ao longo do país, verificando-se, no entanto a introdução de novos materiais no
revestimento de fachadas como o metal e a madeira.
Neste trabalho apenas se abordam as fachadas de edifícios revestidas a cerâmica e pedra natural. Estes
tipos de fachadas apresentam uma patologia comum, as eflorescências. As eflorescências constituem
uma patologia comum em edifícios recentes, que pode provocar danos nos revestimentos. Provoca
efeitos inestéticos graves que obrigam à limpeza e manutenção das fachadas envolvendo custos
elevados. É, por isso, importante compreender as origens e o mecanismo deste fenómeno, com vista a
preveni-lo.
2. Causas das eflorescências
A colagem de peças cerâmicas em fachadas, em geral peças cerâmicas de grés, torna as fachadas, de
uma forma geral, impermeáveis à água. No entanto, é comum surgirem eflorescências brancas
emergentes através das juntas de colocação das peças cerâmicas. Estas eflorescências podem manifestarse através da deposição de uma película salina que altera a cor da argamassa de juntas, caso esta seja
colorida, ou pode manifestar-se através de uma camada espessa aderente de sais. Geralmente, neste
último caso, as eflorescências apresentam-se sob a forma de escorridos sobre as peças cerâmicas coladas
na fachada.
Nos materiais de construção as eflorescências são, geralmente, de cor branca; ainda assim, nem todas as
manchas correspondem forçosamente, a eflorescências. Existem eflorescências que podem apresentar
cor castanha, amarela ou verde dependendo da composição química do sal que está na sua
origem.[4][6][7]
No caso de fachadas revestidas com placas de pedra natural, não só podem surgir eflorescências através
das juntas de colocação, como podem surgir depósitos salinos à superfície das placas de pedra, caso
estas sejam porosas.[1]
Os principais problemas relacionados com as eflorescências em fachadas são os efeitos inestéticos.
Ainda assim, o processo de cristalização de sais à superfície de materiais porosos, tais como a cerâmica
porosa e placas pétreas, pode originar tensões que conduzem à degradação e envelhecimento dos
materiais de revestimento, por alteração das suas propriedades físico-químicas e mecânicas.[2][3][8]
Nas causas destas eflorescências estarão os materiais cerâmicos ou pétreos que revestem os edifícios, as
argamassas de colagem e de rejuntamento, ou ainda, as técnicas utilizadas para a colagem do material de
revestimento.
2.1 Material de colagem
As colas para cerâmica podem dividir-se em três grandes grupos: adesivos à base de cimento, adesivos à
base de resinas em dispersão aquosa e adesivos à base de resinas de reacção. Em fachadas utilizam-se,
geralmente, adesivos à base de cimento para fazer a colagem de cerâmica e pedra natural.
2.2 Materiais de revestimento
2.2.1 Material cerâmico
Nos revestimentos cerâmicos de fachadas, em Portugal continental, podemos encontrar todos os tipos de
peças cerâmicas. No entanto, as peças de grés e de grés porcelânico são as mais utilizadas como material
cerâmico para revestimento de fachadas, dadas as excelentes propriedades de resistências mecânicas e
físico-químicas.
2.2.2 Pedra natural
A pedra natural continua a ser um dos materiais mais utilizados para revestir fachadas em Portugal.
Dos vários tipos de pedra natural comercializados no mercado português, os mais utilizados são o
calcário, o granito, o mármore e o xisto. Mas, mesmo dentro de cada um destes grupos de pedras
naturais há alguns tipos de rocha ornamental que são mais utilizados do que outros para o revestimento
de fachadas.
2.3 Material de juntas
As juntas em revestimentos cerâmicos podem ser de dois tipos: juntas de colocação e juntas de
deformação ou dilatação. Estas últimas são as que se deixam em zonas de interrupção dos revestimentos
cerâmicos, com o objectivo de permitir pequenas variações nas dimensões estruturais que possam
ocorrer no sistema revestido. As primeiras são as que formam as zonas de união entre as peças,
cerâmicas ou pedra natural, coladas e que são determinadas por linhas rectas equidistantes, verticais e
horizontais, paralelas entre si, que constituem uma formação de quadrados e rectângulos. Estes tipos de
produtos dividem-se em três grandes grupos: juntas à base de cimento, juntas de dispersão e juntas de
resinas reactivas.
2.4 Técnicas de colagem
Antes de terem surgido no mercado as colas à base de cimento, próprias para a colagem de cerâmica,
esta era assente com argamassa, preparada no local da obra. Habitualmente estas argamassas eram
constituídas por areia, cimento e alguma cal. Ao surgirem no mercado argamassas especialmente
preparadas para a colagem de cerâmica, tornou-se mais simples, rápido e limpo fazer assentamento de
cerâmica ou pedra natural. Em Portugal, para se fazer colagem de cerâmica e pedras naturais, em
revestimentos, são utilizadas três técnicas de colocação ou assentamento. A técnica mais antiga e que
tem tendência a desaparecer, a colagem por pontos, a técnica da camada espessa e a técnica mais
avançada, a camada fina.
2.4.1 A técnica da colagem por pontos
Esta técnica consiste em colocar pontos de argamassa de colagem no tardoz da peça cerâmica ou pedra
natural. Estes pontos de cola são pedaços de cola maiores ou menores, dependendo do tamanho da peça
cerâmica, que se colocam em cinco sítios da peça cerâmica. Normalmente aplica-se um pedaço de cola
em cada canto da peça cerâmica e um outro no centro geométrico da mesma peça.
A utilização desta técnica permite que ao fazer-se a colagem de cada uma das peças cerâmicas, se faça
em simultâneo o nivelamento da peça recém colocada, por ajuste directo com as peças vizinhas. Desta
forma faz-se o nivelamento de todo o revestimento cerâmico.
2.4.2 A técnica da camada espessa
Esta é a técnica tradicional pela qual se colam as peças do revestimento directamente sobre o suporte. A
utilização desta técnica permite compensar maiores defeitos de planimetria do suporte. Esta técnica de
assentamento de cerâmica recomenda-se apenas para peças cerâmicas com média e alta absorção de
água (peças cerâmicas com absorção de água superior a 3 %) e para locais com fracas solicitações
mecânicas, ou seja, baixos movimentos esperados por parte do suporte assim como locais de fraco
tráfego.
Aplica-se uma camada de material de colagem uniforme sobre o tardoz da peça a colar de forma a cobrir
toda a sua superfície e imediatamente se assentam sobre o suporte, pressionando de forma a existir um
contacto e nivelamento adequados com as peças adjacentes. Como o próprio nome indica a camada de
material de colagem é espessa, variando normalmente entre os 20 e 40 mm.[5]
2.4.3 A técnica da camada fina
O nome deste sistema de aplicação, colagem em camada fina, resulta da espessura de material de
colagem aplicado sobre a superfície de aplicação. Esta técnica consiste na aplicação de uma camada fina
e contínua e uniforme de adesivo, que devemos assegurar em toda a superfície a aplicar, que vai duma
espessura de 3mm até uma espessura de 10 mm. Esta camada fina de adesivo deverá estar em contacto
com pelo menos 95 % da superfície do revestimento e do suporte.
A aplicação do adesivo faz-se com a talocha denteada inclinada, gerando cordões de adesivo com uma
espessura de 3 mm de espessura, aproximadamente. Depois de esmagados, os cordões de adesivo, dão
origem a uma camada uniforme de adesivo com uma espessura de 1,5 mm.[10]
3. Análise de casos
A visita e, nalguns casos, o acompanhamento destas obras surgiu a pedido do responsável dessa mesma
obra. Os únicos critérios para a escolha destas obras, foi o estado patológico das fachadas e o interesse
do próprio construtor em melhor compreender o fenómeno, o que permitiu um melhor acompanhamento
da obra.
3.1 Caso 1
Esta obra localiza-se em Monção, no Alto Minho.
O revestimento da fachada deste edifício é constituído por placas de grés porcelânico de tamanho 30x30
cm. Estas peças cerâmicas foram coladas com um cimento-cola de ligantes mistos e as juntas de
colocação, com 5 mm de largura, foram preenchidas com uma argamassa à base de cimento.
Da visita e do acompanhamento que foi efectuado a esta obra pôde observar-se o surgir das
eflorescências três meses depois do revestimento cerâmico da fachada ter sido terminado. As
eflorescências tinham cor branca e apresentam-se uniformemente espalhadas pela fachada sul do
edifício. Na fachada norte do edifício nunca surgiram eflorescências.
Na figura 1 pode observar-se a fachada sul do edifício em causa onde são visíveis as eflorescências. Na
fotografia constante da figura 2 pode observar-se a fachada norte, onde não se verificam eflorescências.
Figura 1 – Fachada sul da obra de Monção onde se Figura 2 – Fachada norte da obra de Monção, onde
podem observar eflorescências por toda a fachada. não se observam eflorescências.
Desta obra foram recolhidas amostras de eflorescências e analisadas por
Verificou-se que o sal depositado sobre as peças cerâmicas e argamassas de
cálcio sob a forma de calcite. Recolheram-se também, da fachada, amostras
utilizada para fazer o preenchimento das juntas de colocação. Estas amostras
química por fluorescência de Raios X.
difracção de Raios X.
juntas era carbonato de
da argamassa de juntas
foram sujeitas a análise
4.3 Caso 2
Esta obra está localizada na cidade do Porto. O revestimento de fachada deste edifício é composto por
placas pétreas de natureza calcária. Ao nível do rés-do-chão as placas de pedra natural são de calcário
azul e as placas que revestem os restantes andares do edifício são de calcário branco.
Para se fazer a colagem destas placas foi utilizada um cimento-cola de ligantes mistos, bi-componente.
As juntas de colocação, com largura de 4 mm, não foram preenchidas. As eflorescências surgiram 5 a 6
meses depois do revestimento da fachada estar terminado.
O facto de as juntas de colocação terem sido deixadas abertas proporciona que toda a água da chuva
possa penetrar na fachada. Esta penetração de água ao infiltrar-se entre o cimento-cola e as placas
pétreas vai lixiviando o material de colagem, dissolvendo sais, arrastando-os até à superfície, originando
eflorescências. Nesta obra podiam observar-se depósitos de eflorescências salina que preenchiam as
juntas de colocação, podiam, ainda, observar-se eflorescências à superfície das placas pétreas. A
superfície de algumas destas placas encontravam-se degradadas, podia observar-se que a superfície da
pedra apresentava efeitos de lascagem. Podia observar-se, ainda, manchas na superfície da pedra, zonas
de maior concentração de eflorescências, indicadoras que era nestas áreas que a água acumulada entre a
cola e o tardoz da placa de pedra atingia a superfície.
Figura 3 – Pormenor das manchas nas placas de Figura 4 – Pormenor da superfície de uma das
pedra natural ao nível do rés-do-chão.
pedras do rés-do-chão. Pode observar-se que, à
superfície, a pedra está a lascar.
4.7 Caso 3
Esta obra localiza-se em Santiago do Cacém, no Litoral Alentejano. Trata-se duma obra pública que foi
visitada diversas vezes durante a sua construção. A fachada deste edifício é revestida com peças
cerâmicas de grés porcelânico de dimensões 60x60 cm, com juntas de colocação com 6 mm de largura.
As peças cerâmicas foram fixadas mecanicamente e simultaneamente coladas com uma cola de ligantes
mistos, tendo sido utilizada a técnica da colagem dupla. As juntas foram preenchidas com uma
argamassa industrial, para aplicação em exteriores.
Os trabalhos de revestimento da fachada deste edifício fizeram-se ao longo de 4 meses, de Maio a
Agosto do ano 2001. Em meados do mês de Setembro, do mesmo ano, iniciaram-se os trabalhos de
preenchimento das juntas de colocação. Durante os meses Março e Abril, de 2002, foram efectuadas
várias visitas a esta obra devido às eflorescências que surgiram nas fachadas. Verificou-se que estas
eflorescências predominavam na fachada virada a sul e que tendiam a diminuir quer em intensidade quer
em número à medida que se descia do topo do edifício até ao nível do chão.
Figura 5 – Vista da fachada voltada a sudeste, onde Figura 6 – Pormenor de uma das eflorescências da
se observam duas eflorescências de grande fachada voltada a sudeste.
intensidade.
Figura 7 – Vista geral do topo de betão da parede Figura 8 – Pormenor onde se pode observar o
em alvenaria da fachada voltada a sudeste.
espaço deixado entre a cerâmica e a parede de
betão.
5. Trabalho Experimental
5.1 Análise das amostras recolhidas em obra
Recolheram-se amostras da argamassa de juntas já endurecida, na junta de colocação do revestimento
cerâmico da fachada, assim como amostras de eflorescências, na obra que se visitou em Monção. As
amostras de junta endurecida e da argamassa em pó que lhe deu origem, foram submetidas a análises de
composição química através da fluorescência de raios X.
Os resultados dessas análises químicas constam na tabela 1.
Tabela 1 – Resultados comparados das análises químicas de uma argamassa de junta recolhida em obra
e da argamassa original em pó.
Amostra
Fe2O3
(%)
Argamassa 0,20
endurecida
Argamassa 0,19
em pó
MnO
(%)
0,02
TiO2
(%)
2,23
CaO
(%)
44,26
K2O
(%)
0,29
P2O5
(%)
0,15
SiO2
(%)
8,58
Al2O3
(%)
2,40
MgO
(%)
2,42
Na2O
(%)
0,12
P.R.
(%)
38,69
0,02
3,00
53,68
0,2
0,11
9,22
2,42
2,36
0,41
27,2
Da comparação das análises químicas pode-se verificar que apenas em relação ao óxido de cálcio existe
uma alteração significativa. A redução de óxido de cálcio na argamassa endurecida recolhida na obra é
de 17,5 %, em relação à quantidade de óxido de cálcio presente na argamassa em pó que lhe deu origem.
Das análises, de difracção de raios X, efectuadas nas amostras de eflorescências recolhidas nas obras
visitadas, verificou-se que os sais brancos depositados sobre as juntas de colocação eram de carbonato
de cálcio, sob a forma de calcite.
Figura 9 – Difractograma de Raios X das amostras de eflorescências recolhidas nos vários casos
estudados.
O cálcio necessário para o efeito resulta da lixiviação pela água que atravessa a argamassa de junta e
fica depositado à superfície sob a forma de hidróxido de cálcio, que por posterior reacção com o dióxido
de carbono da atmosfera origina carbonato de cálcio, sob a forma de calcite.
5.2 Análise às argamassas de rejuntamento
Para avaliar a permeabilidade de argamassas de juntas à base de cimento, fizeram-se provetes, de
dimensões 4x4x16 cm, com aquelas argamassas produzidas com vários tipos de cimento. Os provetes
foram submetidos à carbonatação, capilaridade e área carbonatada.
A tabela 2 mostra os diferentes tipos de argamassas utilizadas para fazer os provetes e testar a sua
permeabilidade.
Tabela 2 – Tipos de argamassas utilizadas e tipo de cimento respectivo, utilizados nos ensaios de
avaliação experimental da permeabilidade das argamassas.
PROVETES
AG
AP
FC
FF
FP
TIPO DE ARGAMASSA
Argamassa tradicional
Argamassa tradicional
Argamassa industrial
Argamassa industrial
Argamassa industrial
CIMENTO UTILIZADO
Cimento cinza Tipo II 42,5
Cimento cinza Tipo IV
Cimento branco Tipo II 42,5
Cimento branco Tipo II 42,5
Cimento aluminoso
As argamassas tradicionais foram produzidas utilizando 3 partes de areia de granulometria controlada e
uma parte de cada um dos tipos de cimento. As argamassas industriais foram utilizadas tal qual os
fabricantes destes tipos de produtos as comercializa.
Os teores de água de amassadura para produzir as respectivas argamassas constam na tabela 3.
Tabela 3 – Percentagem de água em peso utilizada para amassar as argamassas utilizadas nos ensaios.
Argamassa
Água de amassado
(% em peso)
AG
16
AP
16
FC
35
FF
29
FP
20
Deixou-se passar um período de 28 dias, porque se considera que todas as reacções químicas entre o
cimento e a água estão terminadas e que as argamassas à base de cimento atingem a resistência máxima,
desde que sejam mantidas a uma temperatura constante e que não sejam submetidas a qualquer tipo de
tensões.
5.3 Capilaridade
O coeficiente de capilaridade traduz a capacidade de absorção de água líquida pelo material por área de
contacto, através da sucção capilar, ou seja, quando o material não está sujeito a pressão hidrostática.
Este coeficiente depende da quantidade, do tamanho e da forma dos poros presentes no material em
estudo.[9]
A medição do coeficiente de capilaridade para cada um dos provetes testados foi efectuada utilizando a
norma EN 1015-18. De acordo com esta norma verifica-se que o coeficiente de capilaridade entre os 90
min e os 10 min é numericamente igual à expressão:
C=0,1(M90-M10)
Onde:
C – Coeficiente de capilaridade kg/m2.m1/2
M90 – Massa do provete aos 90 minutos
M10 – Massa do provete aos 10 minutos
Da figura 10 pode observar-se que foram as argamassas tradicionais as que absorveram maior massa de
água por capilaridade.
Na figura 11 pode observar-se que o coeficiente de capilaridade é maior para as argamassas tradicionais.
O coeficiente de capilaridade inferior para as argamassas industriais deve-se ao facto de na formulação
destas argamassas se introduzirem agentes químicos redutores da capilaridade (ex: estearato de cálcio,
oleato de cálcio).
Aumento de massa dos provetes por absorção de água por capilaridade
10
9
AG1
AG2
AG3
FC1
FC2
FC3
FF1
FF2
FF3
FP1
FP2
FP3
AP1
AP2
AP3
8
Aumento de massa (g)
7
6
5
4
3
2
1
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
Tempo (min)
Figura 10 – Absorção de água por capilaridade dos provetes de argamassas de juntas.
Coeficiente de capilaridade
1
Coeficiente de capilaridade (kg/m2.m)
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
AG1
AG2
Ag3
FF1
FF2
FF3
FC1
FC2
FC3
FP1
FP2
FP3
AP1
AP2
AP3
Provetes
Figura 11 – Representação do coeficiente de capilaridade para as argamassas de juntas.
5.4 Ensaios de carbonatação
Para avaliar a permeabilidade das argamassas os provetes, após os 28 dias, foram novamente pesados.
Posteriormente, foram introduzidos numa câmara de envelhecimento com temperatura e humidade
controlada e com uma atmosfera rica em CO2, onde passaram 3 dias. Dentro da câmara de carbonatação
colocaram-se duas tinas com uma solução saturada de KNO31, para garantir uma maior estabilidade da
humidade. Dentro da câmara de carbonatação as condições de temperatura, humidade relativa e pressão
de CO2, utilizadas, foram as seguintes: T=25±1 ºC, HR=80±10 % e PCO2=0,2 bar.
Deixou-se na sala de cura, em condições de temperatura e humidade controladas e com atmosfera
normal, um provete de cada um dos vários tipos de argamassas para servir como provete padrão
relativamente ao envelhecimento em atmosfera de CO2.
Depois de retirados os provetes da câmara de envelhecimento eles são colocados na sala de cura,
durante 15 dias, para que a água se liberte devido à humidade relativa da câmara, os provetes sequem e
tenhamos a garantia que o aumento de massa dos provetes se deve apenas à carbonatação. Após este
tempo foi medida a massa dos provetes, sujeitos à carbonatação e do provete que ficou na sala de cura e
avaliadas a capilaridade e a área carbonatada.
O coeficiente de difusão de vapor de água traduz-se na massa de vapor de água que atravessa a
argamassa após secagem, sob acção de uma variação de pressão parcial.
Este coeficiente traduz a noção de “respiração” ou “transpiração” de um material. Nas argamassas de
juntas para cerâmica é benéfico que elas permitam as trocas de vapor de água de forma a evitar o
aparecimento de manchas de humidade que se traduzem em manchas inestéticas. Além deste facto
permitem ainda a evasão ou evaporação do vapor de água para o exterior das paredes dos edifícios,
evitando a acumulação de vapor de água em excesso dentro dos edifícios, que proporciona a degradação
das paredes interiores.
Este processo de difusão é regido pela primeira lei de Fick:
1
O composto KNO3 quando em solução saturada, é uma substância líquida condicionadora, muito
utlilizada para manter a humidade relativa do ar dentro de limites de tolerância de ±2 %.
J =Κ
dP
dx
1)
onde:
J – Fluxo de vapor de água (kg/m2s)
K – Coeficiente de permeabilidade ao vapor de água
dP – Gradiente de Pressão (Pa)
dx – Espessura do material (m)
Mediu-se a carbonatação, pulverizando cada uma das metades dos provetes com fenolftaleína. Passada 1
hora, visualmente, podemos verificar se os provetes estão carbonatados e mede-se a profundidade da
carbonatação.
Da observação das fotografias dos provetes após ensaio de carbonatação, pode concluir-se que a
argamassa que mais sofreu carbonatação foi a argamassa tradicional AP. Os provetes desta argamassa
que foram submetidos ao ensaio de carbonatação, ficaram completamente carbonatados. Mesmo o
provete que serviu de padrão foi o que mais carbonatou quando comparado com os outros provetes
padrão.
Os provetes das argamassas industriais FC e FF sofreram uma maior carbonatação do que os provetes da
argamassa tradicional AG. Em relação às duas argamassas industriais FC e FF, esta última carbonatou
mais que a primeira.
Relativamente à argamassa industrial FP, os provetes não sofreram qualquer carbonatação, não havendo
distinção entre os provetes que estiveram submetidos ao ensaio de carbonatação e aquele que serviu
como padrão. A inexistência de carbonatação por parte desta argamassa deve-se ao tipo de cimento
utilizado na sua formulação, cimento aluminoso, já que é este o componente desta argamassa e que faz a
diferença relativamente às outras argamassas.
AG
FC
FP
FF
AP
Figura 12 – Fotografias dos provetes das várias argamassas após ensaios de carbonatação.
6. Conclusões
Da análise química efectuada à amostra de junta endurecida recolhida na obra de Monção, e a mesma
análise ao pó que lhe deu origem, conclui-se que o fenómeno de lixiviação dissolve e arrasta os sais de
cimento, ricos em cálcio, até à superfície da junta de colocação originado aí eflorescências de carbonato
de cálcio.
Observou-se nos casos 1 e 2, que as fachadas que apresentavam eflorescências eram as fachadas
voltadas a sul. As fachadas voltadas a norte, tinham o mesmo material cerâmico ou pétreo e não
apresentavam eflorescências. Daqui se pode concluir que a orientação geográfica do edifício pode
potenciar o aparecimento de eflorescências. As fachadas voltadas a sul estão mais sujeitas à acção solar
que eleva a temperatura do revestimento da fachada, potenciando uma maior libertação de vapor de
água, conduzindo a uma maior lixiviação das argamassas e consequentemente ao surgimento de
eflorescências.
Da análise efectuada ao caso 3 pode concluir-se que o desrespeito pelo preenchimento das juntas de
colocação, a utilização incorrecta das técnicas de colagem, assim como a não protecção do revestimento
das fachadas, permite a infiltração de grandes quantidades de água entre o revestimento, cerâmico ou
pétreo, da fachada e o suporte.
No caso 2 a falta de preenchimento das juntas de colocação permite a penetração de água entre o
revestimento pétreo da fachada e o suporte, originando eflorescências salinas nas juntas de colocação.
Estes sais resultam da lixiviação do cimento-cola, assim como das argamassas utilizadas para preparar o
suporte. Dada a quantidade de água infiltrada, e porque o material de revestimento, neste caso, é poroso,
verifica-se à superfície das placas pétreas a cristalização de sais que acaba por destruir a superfície
dessas mesmas placas.
No caso 3 as eflorescências surgem devido à incorrecta utilização da técnica de colagem, à utilização de
juntas de colocação muito estreitas que não permitem a “transpiração” do revestimento cerâmico, e
ainda, à falta de protecção no topo do revestimento cerâmico que permite a penetração de grande
quantidade de água entre o revestimento e o suporte. Esta água infiltrada terá forçosamente de sair
através da argamassa de junta, uma vez que a cerâmica é estanque, lixiviando aquele material e
originando eflorescências.
Do trabalho experimental, efectuado com argamassas industriais e argamassas tradicionais, conclui-se
que a argamassa tradicional AP carbonatou completamente quando comparada com as argamassas
industriais. A argamassa tradicional AG carbonatou menos que as argamassas industriais. Este facto
mostra que a argamassa AG será mais compacta, uma vez que se utiliza maior quantidade de cimento do
que numa argamassa industrial deste tipo.
Relativamente aos ensaios de capilaridade as argamassas tradicionais são as que apresentam maiores
valores para o coeficiente de capilaridade. Esta diferença deve-se ao facto de se introduzirem agentes
químicos redutores da capilaridade nas argamassas industriais.
Da análise destes resultados pode-se concluir que as argamassas industriais, apesar de sofrerem
carbonatação, são as mais indicadas para o preenchimento das juntas de colocação em fachadas, uma
vez que possuem coeficientes de capilaridade baixos.
7. Referências
[1] Alves, Adelino; Veiga, Maria do Rosário da Silva (2003) – Patologia Inerente aos Revestimentos
Exteriores com Placas de Pedra Natural. Comunicação apresentada no 1º encontro nacional sobre
Patologia e Reabilitação de Edifícios (PATORREB2003), Porto, 2003.
[2] Campante, E. F.; Sabbatini, F. H.; Paschoal, J. O. A. (2001) – Procedimentos para a manutenção e
reparo de revestimentos cerâmicos de fachada. Comunicação apresentada no Congresso Nacional da
Construção CONSTRUÇÃO 2001. Lisboa 2001.
[3] Campante, E. F.; Sabbatini, F. H.; Paschoal, J. O. A. (2001) – Fatores intervenientes na durabilidade
dos revestimentos cerâmicos da fachada. Comunicação apresentada no Congresso Nacional da
Construção CONSTRUÇÃO 2001. Lisboa 2001.
[3] Correia, António Sousa; Hennetier, Luc (2001) – Eflorescências nos materiais cerâmicos de
construção. Kéramika. Ano XXVI, Revista nº 247, Maio/Junho de 2001
[4] Curso de especialização sobre revestimentos de paredes – Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Lisboa, 2000
[5] Eflorescências nos Materiais Cerâmicos de Construção (2000) – Centro Tecnológico da Cerâmica e
do Vidro.
[6] Eflorescências Causas e Mecanismos Parte I de II (1997) – Notas Técnicas para a Construção em
Tijolo. Brick Industry Association. Reedição da Nota Técnica de 1985.
[7] Flain, E. P.; Frazão, E. B.; Frascá, M. H. B. De O. (2001) – Aspectos de manifestações patológicas
em revestimentos com placas pétreas no Brasil alguns estudos de caso. Comunicação apresentada no
Congresso Nacional da Construção CONSTRUÇÃO 2001. Lisboa 2001.
[8] Freitas, Vasco Peixoto de; Pinto, Paulo da Silva (1998) – Permeabilidade ao vapor de Materiais de
Construção – Condensações Internas. Nota de Informação Técnica – NIT- 002- LFC 1998
[9]Hartog, Peter (2000) – La experiência que no há servido de lección: Defectos que se repiten y
defectos futuros en la colocación de baldosas cerámicas. Comunicação apresentada no VI Congreso
Mundial de la Calidad del Azulejo y del Pavimento Cerámico. Castellon – Espanha.
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