PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social INTERVENÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL EM TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR NO IDOSO INSTITUCIONALIZADO: RELATO DE CASO Antonia de Fátima Mota Gregoleti*; Daniela Penachi Parolo Gusman. IPECS - Instituto de Psicologia, Educação, Comportamento e Saúde - São José do Rio Preto - São Paulo, Brasil. Contato: [email protected] Palavras-chave: Terapia institucionalizado. cognitivo-comportamental. Transtorno depressivo maior. Idoso De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSMIV-TR), o Transtorno Depressivo Maior (TDM) manifesta-se no indivíduo durante um período mínimo de duas semanas. Com cinco ou mais dos seguintes sintomas: humor deprimido, perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimentos de desvalia ou culpa inapropriados, redução da concentração e ideias de morte ou de suicídio (APA, 2002). O Transtorno Depressivo pode ser comum entre os idosos e, neste grupo, possui algumas características dos sintomas e com relação aos fatores de risco sejam eles biológicos, sociais e genéticos (Shear, Roose, Lenze & Alexopoulos, 2005). “Em pacientes idosos, podem surgir adicionalmente queixas somáticas, dores crônicas, distúrbios do apetite, irritabilidade, sentimento de inutilidade, fadiga fácil, inquietação e impaciência” (Rebelo, Pires & Carvalho, 2013, p. 492). A admissão em uma ILPI - Instituição de Longa Permanência Para Idosos é um período de mudança para os idosos e pode vir a afetar de maneira negativa o seu senso de bem-estar e seu status cognitivo (Khoury et al., 2009). Portanto, ações com a finalidade de promover e aprimorar as relações interpessoais são importantes para a melhoria da qualidade de vida no ambiente institucionalizado (Campos, Machado & Rabelo, 2013, p. 259). A prevalência da depressão é alta entre idosos institucionalizados, quando comparados com idosos não institucionalizados. Segundo Siqueira, Vasconcelos, Duarte, Arruda, Costa & Cardoso (2009) o índice de prevalência dos sintomas depressivos foi de 51% em um estudo com 55 idosos de uma ILPI, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Cerca de 13% dos idosos da mesma ILPI, desenvolveram episódio depressivo dentro de um a três anos de PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social internação. A incidência de sintomas depressivos isolados nessa parcela da população é de 31%, enquanto em idosos não institucionalizados é de 15%. Para Beck (1997) uma variedade de estratégias cognitivas e comportamentais é utilizada na Terapia Cognitiva. As técnicas visam identificar e reestruturar as concepções errôneas específicas e pressuposições mal adaptativas do paciente. O presente trabalho teve como objetivo descrever o uso da Terapia Cognitivo Comportamental em uma idosa com Transtorno Depressivo Maior, de 64 anos, solteira, ensino fundamental incompleto. Residente em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), submetida a 35 sessões de psicoterapia. Para avaliação e intervenção, foram utilizados os seguintes instrumentos: Entrevista Semi-dirigida; Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; Inventário de Depressão Beck (BDI) (Cunha, 2001) e o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) (Folstein, Folstein & McHugh, 1975). Foi diagnosticado o Transtorno Depressivo com critérios do DSM-IV-TR (APA, 2002) e Inventário de Depressão de Beck - BDI (34 pontos): nível moderado. De acordo com o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) não apresentou comprometimento cognitivo. Durante o processo psicoterápico foi realizada psicoeducação sobre Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Transtorno Depressivo Maior. De acordo com Caminha, Oliveira & Piccoloto (2003), a psicoeducação admite que o paciente seja capaz de abranger as diferenças entre as suas particularidades pessoais e as características do transtorno psicológico que necessita enfrentar. Foi dado enfoque na educação afetiva para compreensão da participante sobre a interrelação entre os pensamentos, sentimentos e comportamentos. A participante foi orientada sobre o que é uma situação, sentimento, pensamento e comportamento. Por meio das imagens dos personagens das histórias infantis, deu-se início à identificação de sentimentos relacionados às situações apresentadas nas diversas cenas. Esse procedimento foi realizado em várias histórias, repetindo-se cenas semelhantes para que o aprendizado fosse reforçado. Foi treinado como interpretar determinada situação, discriminar e nomear adequadamente seus sentimentos para após associá-los às situações e comportamentos. O processo de intervenção foi realizado de forma gradual com utilização de recursos lúdicos, adaptando-se aos procedimentos infantis, para facilitar o aprendizado. PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social Para desenvolver a habilidade de identificar e nomear outros sentimentos foi utilizado o baralho das emoções. De acordo com Caminha & Caminha (2007) o instrumento baralho das emoções auxilia o terapeuta acompanhar o processo terapêutico do paciente, monitorando suas emoções, bem como suas intensidades ao longo do tempo de psicoterapia. Na sequência da intervenção, deu-se início à identificação de pensamentos automáticos (PA) e associado aos seus sentimentos e comportamentos. Além dos exemplos do cotidiano da participante foram trazidas para as sessões, situações vividas por ela nas atividades desenvolvidas pela terapeuta no grupo de idosas da ILPI. Durante intervenção foram trabalhadas técnicas de solução de problema com estratégias relacionadas às cores do semáforo. De acordo com Stallard (2009), a imagem de um sinal de trânsito auxilia o paciente a parar, decidir sobre um plano de ação e depois implementá-lo. Com as estratégias das cores do semáforo, a participante aprendeu a pensar melhor diante de determinado problema. A técnica da distração cognitiva também foi trabalhada no sentido de mudar o foco da atenção do mundo interno para o ambiente externo. Teve como objetivo incentivar a paciente a focalizar a atenção em outros estímulos, que não as sensações físicas, auxiliando na redução dos sintomas de depressão. (Rangé & Bernik, 2001; Ventura, 2005). Foi realizado treino de habilidade social com objetivo de desenvolver as relações interpessoais da participante, aumentar sua capacidade de relacionamento na Instituição em que residia. Essas atividades foram realizadas com o grupo de idosas da ILPI que já ocorria uma vez na semana. De acordo com Del Prette & Del Prette (2005, p. 31), “o termo habilidades sociais refere-se à existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais”. Durante o processo psicoterápico a participante apresentou-se motivada o que possibilitou uma melhor compreensão das técnicas e estratégias utilizadas, favorecendo melhor engajamento na terapia. O vínculo estabelecido possibilitou à participante expressar seus sentimentos, aumentar seu repertório e auxiliar no desenvolvimento da inter-relação entre pensamentos, sentimentos e comportamentos. A relação terapêutica foi caracterizada por uma relação de ajuda e compreensão. À medida que a participante percebia o aprendizado sentia-se valorizada. PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O estudo de caso demonstrou como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ser utilizada em uma idosa com Transtorno Depressivo Maior, residente em uma Instituição de Longa Permanência. Pode-se notar mudanças cognitivas e comportamentais da participante, assim como melhora na sua qualidade de vida. Passou a identificar e nomear adequadamente os sentimentos, houve aumento em seu repertório de emoções e realização de atividades que há muito tempo não mais praticava. Também passou a não mais ficar tão distraída em seus pensamentos. Constatou-se melhora nas habilidades sociais, o que pode favorecer suas relações no grupo de idosas da Instituição. Novos estudos são relevantes em idosos com Transtorno Depressivo Maior, residentes em Instituições de Longa Permanência para Idosos. Em busca de avaliar a eficácia das intervenções psicológicas, e assim possibilitar outros programas efetivos de tratamento. Referências APA - American Psychiatric Association. DSM-IV-TRTM. (2002). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Claudia Dornelles. 4. ed. Revista. Porto Alegre: Artmed. Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas. Caminha, R. M. & Caminha, M.G. (2007). Baralho das Emoções-Acessando a criança no trabalho clínico. 3. ed. Porto Alegre: Sinopsy. Caminha, R. W. R., Oliveira, M. & Piccoloto, N. (2003). Psicoterapias CognitivoComportamentais: Teoria e Prática. São Paulo: Casa do Psicólogo. Cunha, J. A. (2001). Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo. Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Base conceitual da área das habilidades sociais. In: ______. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Rio de janeiro: Vozes. p. 30-40. Folstein, M. F., Folstein, S. E. & McHugh PR. (1975). Mini-mental state: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatric Res.12:189-98. Khoury, H.T.T. et al. (2009). Bem-estar subjetivo de idosos residentes em Instituições de Longa Permanência. Em D. V. S Falcão & L. F. Araújo (Orgs), Psicologia do envelhecimento: Relações sociais, bem-estar subjetivo e atuação profissional em contextos diferenciados (pp. 103-136). Campinas, SP: Papirus. 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