vanessa golin frugivoria e dispersão de sementes de

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VANESSA GOLIN
FRUGIVORIA E DISPERSÃO DE SEMENTES DE ARATICUM ANNONA
CRASSIFLORA MART. POR ANIMAIS EM ÁREA DE CERRADO
MATOGROSSENSE
Dissertação apresentada à Universidade
do Estado de Mato Grosso, para
obtenção do título de Mestre, em
Ciências Ambientais.
CÁCERES
Mato Grosso
2008
VANESSA GOLIN
FRUGIVORIA E DISPERSÃO DE SEMENTES DE ARATICUM ANNONA
CRASSIFLORA MART. POR ANIMAIS EM ÁREA DE CERRADO
MATOGROSSENSE
Dissertação apresentada à Universidade
do Estado de Mato Grosso, para
obtenção do título de Mestre, em
Ciências Ambientais.
Orientadora: Profª. Drª. Mônica Josene
Barbosa Pereira
CÁCERES
Mato Grosso
2008
Golin, Vanessa.
G6262f Frugivoria e dispersão de sementes de Araticum Annona
crassiflora Mat. por animais em área de Cerrado
matogrossense / Vanessa Golin. – Cáceres, 2008.
62 f. ; 30 cm. Il. Color.
Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) –
Universidade do Estado de Mato Grosso, 2008.
Orientador: Mônica Josene Barbosa Pereira
1. Annona crassifora. 2. Cerrado. 3. Conservação. I.
Autor. II. Título.
CDU 631.53:504
FOLHA DE APROVAÇÃO
O homem é parte da natureza e sua
guerra contra a natureza é inevitavelmente
uma guerra contra si mesmo... Temos
pela frente um desafio como nunca a
humanidade teve, de provar nossa
maturidade e nosso domínio, não da
natureza, mas de nós mesmos.
Rachel Carson, 1962
Dedico esse trabalho
Aos meus pais pela credibilidade, apoio e confiança.
AGRADEÇO
Primeiramente à Deus pela força durante a realização deste trabalho;
À minha orientadora, Profª. Drª. Mônica, pelo desafio em me orientar, e pelas críticas
e sugestões;
Ao coorientador Dr. Manoel, pelas orientações na análise e discussão dos dados, e
por sempre estar disposto em ajudar;
À Profª. Drª. Beatriz Schwantes Morimon e ao Prof. Dr. José Eduardo, pelas
sugestões na banca de qualificação;
Ao Prof. Dr. Guilherme Mourão, pelas contribuições na banca de defesa;
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais;
À meus queridos pais, Francisco (Chico) e Sônia, pela luta em proporcionarem a
mim e aos meus irmãos os nossos estudos, e mesmo estando longe, sempre me
deram força nas dificuldades;
Ao mano véio, Ricardo, pelas conversas, críticas e incentivos. Ao maninho Henrique,
que sempre teve paciência comigo;
À minha segunda família tão amada, Tio Ninho, Tia Neusa, Ana (Aninha) e Fernando,
pela acolhida, apoio, conselhos e pelos momentos de descontração. Vocês
realmente fizeram a diferença em minha vida pessoal e profissional;
Ao meu amado, Elison, pela compainha (até mesmo on-line), conselhos, e inúmeras
ajudas, principalmente no geo-referenciamento das imagens;
À minha sogra querida, Dona Luzia, pela acolhida, atenção e carinho;
À minha cunhada, Dilma, por toda força e apoio;
Aos velhos amigos que sempre estiveram comigo desde a graduação, Ricardo (Ric),
Santo (Jú), Silva, Salma, Viviane (Vivi), Fábio e Phelipe pela compainha nas longas
jornadas de estudo e de trabalho de campo, como também pelos diálogos e
diversões;
Ao Ricardo (Ric), Marilza (Mary), Erenilda (Nilda) e Diogo (Dioguito) pela intensa
ajuda no campo desse trabalho;
Aos novos amigos, Ivanete (mãezinha), Cláudia (Claudinha), Íris, Hugmar (Hugh),
Darci (Kim) e Juan pelos conselhos, atenção, compainha e descontração entre uma
jornada e outra de estudos;
À todos os outros colegas de mestrado pelas construtivas discussões;
Às secretárias, Ediléia e Kele, pela eficiência no trabalho, paciência e carinho;
Aos motoristas, Seu Galvão, Seu Paulo e Seu Oacir, pelas incansáveis viagens ao
campo e toda ajuda;
À Dona Zulmira (Zuca) por ser uma mãe enquanto estive em trabalho de campo, e
que a partir disto será para sempre;
Ao Clodoveu Franciosi, por ceder a área da Fazenda para a realização deste
trabalho, e disponibilizar alojamento e alimentação. Como também ao Edvaldo
(gerente) e Eráclito (Iraque, secretário) pelo apoio;
Aos biólogos que foram fundamentais neste trabalho, Dr. Dionei, pelas orientações
no início da pesquisa, Msc. Mônica Aragona, pela disponibilidade e fornecimento de
materiais bibliográficos; Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello e ao Dr. Paschoal Grossi pela
identificação dos Scarabaeidae; Profª. Drª. Maria Antônia Carniello, pela
identificação do material botânico e desafio de identificar as sementes, pela acolhida
no Laboratório de Botânica da Universidade do Estado de Mato Grosso e pelos
ensinamentos em botânica, profissional e ético; e à Profª. Drª. Augusta pela
disponibilidade e ajuda na correção dos abstracts e dicas de escrita;
Aos estagiários do Laboratório de Botânica, especialmente à Eliziane pela ajuda;
Aos técnicos do Herbário da UFMT, Libério, pela disponibilidade e identificação das
sementes;
Ao Tiago pela intensa ajuda laboratorial;
Ao prof. Leandro pelo apoio logístico, incluindo o fuscão;
À Silva, Clair, Marino e Fernando, do viveiro Ziani Mudas Florestais, pela
disponibilidade e ajuda;
À Profª. Dr. Carla Galbiatti por disponibilizar o laboratório e a balança para pesar as
sementes;
À Profª. Milena e ao Prof. Ewerton pelas correções de português da dissertação.
À Universidade do Estado de Mato Grosso pela oportunidade de estudo;
À CAPES por ter fornecido bolsa na realização deste estudo;
Por último, quero agradecer intensamente à Marilza (Mary), pela grande ajuda no
trabalho de campo, por não medir esforços, e pela alegria que transmitia, tornando
este trabalho mais agradável, mesmo nos momentos de intenso frio, calor, de chuva,
de atoleiro, de carrapato na roupa, de cansaço. Não é qualquer uma que deixa a
cidade para passar seu aniversário no mato, coletando e lavando fezes de anta,
tenho certeza que você não se arrependeu. Valeu pela grande ajuda.
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................
ABSTRACT.............................................................................................
Lista de Figuras......................................................................................
Lista de Tabelas.....................................................................................
1. INTRODUÇÃO GERAL.......................................................................
2. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GERAL...........................................
3. CAPÍTULO I: Frugivoria e dispersão de sementes por antas
(Tapirus terrestris- Perissodactyla, Mamallia) em uma área de Cerrado
no Mato Grosso.......................................................................................
ABSTRACT.............................................................................................
RESUMO.................................................................................................
INTRODUÇÃO.........................................................................................
MATERIAL E MÉTODOS........................................................................
Área de estudo......................................................................................
Procedimentos......................................................................................
Análises estatísticas..............................................................................
RESULTADOS........................................................................................
DISCUSSÃO............................................................................................
AGRADECIMENTOS...............................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................
4. CAPÍTULO II: Dispersão e predação de sementes de Annona
crassiflora Mart. (Annonaceae) por animais em área de Cerrado no
Mato Grosso, Brasil..................................................................................
ABSTRACT.............................................................................................
RESUMO.................................................................................................
INTRODUÇÃO.........................................................................................
MATERIAL E MÉTODOS........................................................................
RESULTADOS........................................................................................
DISCUSSÃO............................................................................................
AGRADECIMENTOS...............................................................................
LITERATURA CITADA............................................................................
5. ANEXOS..............................................................................................
Anexo I: Normas para formatação e envio do Capítulo I para o livro:
“GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO
PROCAD AMAZÔNIA”. VOLUME I..........................................................
Anexo II: Normas para formatação e envio do Capítulo II para a
Revista Brasileira de Zoologia.................................................................
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57
RESUMO
Annona crassiflora (araticum) é uma espécie nativa do Cerrado e produz frutos e
sementes que servem como alimento para muitos animais. Este trabalho teve por
objetivos identificar as sementes dos frutos consumidos por Tapirus terrestris e
verificar a possível dispersão e a predação das sementes de araticum por animais,
em Cerrado no Mato Grosso. Para isso acompanharam-se 95 plantas de araticum
em frutificação, entre fevereiro e maio de 2007, em 300 ha de cerrado sentido
restrito. Instalaram-se estações de pegadas sob as plantas de araticum, a fim de
verificar a freqüência de visitação (FV) e o consumo de frutos por mamíferos. Sob as
plantas marcadas, observaram-se as ações (predação ou dispersão) de insetos em
frutos caídos, e coletados para posterior identificação. Analisou-se o consumo de
frutos pelas antas através das fezes coletadas. Nas sementes encontradas nas
amostras fecais fez-se a identificação e a quantificação. Utilizou-se o teste t para a
comparação das sementes intactas e danificadas pelas antas e por insetos.
Calculou-se a porcentagem de ocorrência de cada fruto; pesou-se as sementes; e se
observou a freqüência de ocorrência de araticum nas amostras fecais. A distância de
dispersão das sementes de araticum realizou-se através de miçangas coloridas,
inseridas nos frutos. Tomaram-se medidas desde o local em que as fezes foram
encontradas com miçanga até a planta da mesma cor da miçanga que estava
inserida no fruto. Realizou-se teste de germinação com sementes retiradas de frutos
e com sementes coletadas de fezes de antas. Dentre os animais que se alimentaram
de frutos de araticum, a anta (T. terrestris) foi a espécie com maior FV e de consumo
de frutos (72,34%, 71,43%), seguidos de outros vertebrados tais como mamíferos
não identificados (20,21%, 21,21%), lobete (Cerdocyon thous) (1,06%, 2,16%), tatu
(Dasypus sp.) (2,13%, 1,73%), aves não identificadas (2,13%, 1,73%), veado
catingueiro (Mazama gouazoubira) (1,06%, 0,9%) e gralha-do-campo (Cyanocorax
cristatellus) (1,06%, 0,86%). Os insetos da família Scarabaeidae Phanaeus palaeno,
Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis e Canthon sp., alimentaram-se da polpa
de frutos e enterraram sementes de araticum, e os da família Curculionidae,
Spermologus rufus, predaram e enterraram as sementes. A dieta de T. terrestris,
apresentou 36 espécies de frutos, através da análise de 237 amostras fecais, A.
crassiflora foi a terceira espécie com maior porcentagem e freqüência de ocorrência
(15,11% e 54,01%), sem danificar as sementes (t=4,17, p<0,001). Os insetos S.
rufus e Bephratelloides pomorum (Eurytomidae) danificaram significativamente as
sementes (t=4,72, p<0,001), quando comparada às sementes danificadas pelas
antas. Os locais de defecação das antas ocorreram em terrenos secos, e foram
encontradas duas amostras fecais a 1,7 e 1,8 km de distância das plantas de
araticum respectivamente. Ocorreu germinação de 4% apenas das sementes que
consumidas pelas antas, no período de 414 dias. Conclui-se que várias espécies de
animais consumem frutos de araticum, principalmente, T. terrestris, importante
dispersora de sementes, e a interação de insetos em sementes de araticum, como
prováveis dispersores e predadores, nas plantas e nas fezes de antas. Esses
resultados são relevantes na dinâmica populacional e conservação de A. crassiflora
no Cerrado.
Palavras-chave: Annona crassiflora, animais, dispersão, predação, Cerrado,
Conservação.
ABSTRACT
Annona crassiflora Mart. (araticum) is a native species of the Cerrado and produces
fruits and seeds that serve as food for many animals. The objectives of this work
went: to identify the seeds of the fruits consumed by Tapirus terrestris and to verify
the possible seeds dispersion and the predation of araticum for animals, in Cerrado
in the Mato Grosso States. For this 95 araticum plants in fructification were evaluated,
between February and May of 2007, in 300 ha of cerrado stricto sensu. Tracks
stations were installed under the araticum plants, in order to verify the visitation
frequency (FV) and the consumption of fruits by mammals. Under the marked plants,
the actions of insects (predation or dispersal) were observed in fallen fruits, and
collected for subsequent identification. The consumption of fruits by tapirs was
analyzed through the feces collected. The seeds found in the fecal samples it were
identified and quantified. The t test was used for the comparison of intact and
damaged seeds by the tapirs and insects. The percentage of occurrence of each fruit
was calculated; the seeds were weighed; and the araticum frequency of occurrence
was observed in the fecal samples. The distance of dispersion of the araticum seeds
was accomplished through colored bead inserted in the fruits. Measures were taken
from the place in that the feces were found with bead until the plant of the same color
of the bead that was inserted in the fruit. Germination test was accomplished with
seeds removed directly of fruits and with seeds collected of feces from tapirs. Among
the animals that fed of araticum fruits, the tapir (T. terrestris) it was the species with
larger FV and of consumption of fruits (72,34%, 71,43%), followed by other
vertebrates such as mammals unidentified (20.21%, 21.21%), crab-eating fox
(Cerdocyon thous) (1.06%, 2.16%), armadillo (Dasypus sp.) (2.13%, 1.73%), birds
unidentified (2.13%, 1.73%), grey brocket deer (Mazama gouazoubira) (1.06%, 0.9%)
and Curl-crested Jay (Cyanocorax cristatellus) (1.06%, 0.86%). The insects of the
family Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis
and Canthon sp. consumed the fruits pulp and buried araticum seeds, and the family
Curculionidae, Spermologus rufus, broked and buried the seeds. The diet of T.
terrestris, presented 36 species of fruits, through the analysis of 237 fecal samples,
being A. crassiflora the third species with larger percentage and frequency of
occurrence (15,11% and 54,01%), not damaging the seeds (t=4,17, p <0,001). The
insects S. rufus and Bephratelloides pomorum (Eurytomidae) damaged the seeds
significantly (t=4,72, p <0,001), when compared to the damaged seeds by tapirs. The
places of defecation of the tapirs happened on dry lands, and two fecal samples were
found to 1,7 and 1,8 km of it distance of the araticum plants respectively. It just
happened germination of 4% of the seeds that past by the gut tube of the tapir, in the
period of 314 days. It is concluded that several species of animals consume araticum
fruits, mainly, T. terrestris, important disperser of seeds, and It was verified the
interaction of insects in araticum seeds, as probable seeds dispersers and predators,
in the plants and in the tapirs feces. These results are relevant in the population
dynamics and conservation of A. crassiflora in the Cerrado.
Key-words: Annona crassiflora, animals, dispersal, predation, Cerrado,
Conservation.
Lista de Figuras
Páginas
Capítulo I Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo
inserida na Fazenda Aparecida da Serra, nos municípios de Tangará da
Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso. Fonte:
Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG SEPLAN-MT e Secretaria do Estado de Meio Ambiente - SEMA.
Coordenadas Geográficas Datum: SAD69 Brasil......................................
23
Figura 2 - Curva de rarefação estimada para a área de estudo da
Fazenda Aparecida da Serra, que mostra o número de espécies de
frutos consumidas em função do número de amostras fecais de Tapirus
terrestris.....................................................................................................
25
Capítulo II Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo,
inserida nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia,
sudoeste do estado de Mato Grosso, Brasil. Fonte: Banco de dados do
Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e da
Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas
Geográficas Datum: SAD69 Brasil............................................................
52
Figura 2: Mapa da distribuição espacial de plantas de araticum (Annona
crassiflora) em frutificação, com densidade de 32 ind./km2, das
amostras fecais coletadas de Tapirus terrestris e as miçangas das
plantas encontradas em duas amostras fecais. Localização da nascente
do Córrego do Pilão, inseridas na Fazenda Aparecida da Serra, Mato
Grosso. Fonte: Imagem Google Earth em cor verdadeira, TerraMetrics
© 2008. Coordenadas UTM Datum: SAD69 Brasil....................................
53
Lista de Tabelas
Páginas
Capítulo I Tabela 1. Relação dos frutos consumidos por Tapirus terrestris na
Fazenda Aparecida da Serra, MT, por ordem de ocorrência.
Porcentagem de ocorrência de cada fruto no total de frutos consumidos
(PO), número de sementes quantificadas e peso seco total de
sementes...................................................................................................
34
Tabela 2. Relação do número de sementes ingeridas pela anta (Tapirus
terrestris) na Fazenda Aparecida da Serra, MT: total, intactas, total
danificadas, pela anta e por insetos..........................................................
35
Capítulo II Tabela 1: Fauna consumidora de araticum em área de cerrado sentido
restrito da Fazenda Aparecida da Serra, MT. Valores mostram a
freqüência de visitação (FV) por animais em plantas de araticum,
número total de frutos consumidos e frutos totalmente e parcialmente
consumidos com suas respectivas porcentagens.....................................
54
12
1. INTRODUCAO GERAL
A vegetação savânica brasileira, chamada de Cerrado, compreende uma
biodiversidade surpreendente em dois milhões de quilômetros quadrados,
espalhados por dez estados (RATTER, RIBEIRO e BRIDGEWATER, 1997; RIBEIRO
e WALTER, 1998).
Este bioma é uma das 34 áreas do mundo consideradas críticas para a
conservação, denominadas de Hotspots, devido sua riqueza biológica e por restarem
apenas 21% de sua vegetação original (CONSERVATION INTERNATIONAL DO
BRASIL, 2008). No entanto, ele está ameaçado pela alta pressão antrópica,
principalmente quando relacionado às atividades econômicas de monocultura
intensiva de grãos e de pecuária extensiva, as quais têm o potencial de diminuir
drasticamente a biodiversidade, e, especialmente em vista das limitações das áreas
protegidas; pequenas em número e concentradas em poucas regiões (MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE E SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS,
2002).
O principal período de frutificação nesse bioma é durante os meses quentes e
úmidos de novembro a janeiro, com uma diminuição durante os meses secos,
especialmente julho e agosto (OLIVEIRA, 1998). A maior parte das espécies
zoocóricas (dispersão por animais) amadurece seus frutos durante o período quente
e úmido, enquanto que o número de espécies anemo – autocóricas (dispersão pelo
vento e por gravidade), a frutificação é mais alta no início da estação seca
(OLIVEIRA, 1998).
Dentre as espécies vegetais existentes no Cerrado estão as representantes
da família Annonaceae, a qual possui 120 gêneros e aproximadamente 2.100
13
espécies,
a
maioria
constituída
por
plantas
lenhosas,
de
ocorrência
predominantemente tropical (CARVALHO, 2003). No Brasil, estão registrados 29
gêneros e cerca de 260 espécies dessa família (BARROSO et al., 2002). No
Cerrado, das 28 espécies que ocorrem apenas 19 são realmente típicas: uma de
Xylopia, uma de Cardiopetalum, quatro de Duguetia e treze de Annona
(GOTTSBERGER, 1994).
No gênero Annona estão algumas espécies produtoras de frutos comestíveis,
como A. crassiflora Mart. (RIBEIRO et al., 2000; CARVALHO, 2003) popularmente
chamada de araticum, cabeça-de-negro, pinha-do-cerrado e marôlo, que possui
ocorrência em fitofisionomias campestres de cerrado, em cerrado sentido restrito e
em cerradão, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Goiás, Bahia e Tocantins (LORENZI, 2002; DURIGAN, 2004).
Essa espécie apresenta altura de 4 a 8 metros, tronco geralmente tortuoso de
20 a 30 cm de diâmetro, revestido por casca áspera e corticosa que resiste a ação
do fogo (LORENZI, 2002).
Possui folhas alternas, simples, com ápice e base arredondadas, flores
solitárias, axilares, com pétalas engrossadas e carnosas; e florescendo durante os
meses de outubro a novembro (LORENZI, 2002).
Seus frutos são do tipo baga, com grande número de sementes por fruto (de
31 a 168), polpa levemente adocicada e de cheiro agradável, pesam de 500 a 1630
g (NAVES et al.,1995; LORENZI, 2002).
Conforme Pott et al. (2004) suas sementes possuem substâncias tóxicas e de
acordo com Rizzini (1997) possuem bloqueio do tipo morfológico, ou seja,
indiferenciação do embrião, sendo que não podem crescer sem primeiro completar o
seu desenvolvimento.
14
As taxas de germinação dessas sementes em experimentos realizados em
caixas de areia foi de 100% entre 237 a 287 dias no ano de 1969, 82% entre 265300 dias no ano de 1970 e obteve 78% entre 219 a 290 dias no ano de 1971, porém
observou-se que em sementes retardadas ocorreu germinação de 12% em 566-619
dias (RIZZINI, 1973).
Essa espécie apresenta baixa taxa de frutificação e seus frutos amadurecem
a partir de janeiro-fevereiro, e a dispersão dá-se principalmente de forma zoocórica
(BARROSO, 1999; RIBEIRO et al., 1999; LORENZI, 2002).
Existem milhares de espécies vegetais no mundo que produzem frutos
adaptados ao consumo e dispersão de sementes por animais, principalmente aves e
mamíferos, num processo recíproco (mutualístico), porque ambas as partes obtêm
benefícios, que é muito importante na evolução e manutenção destas espécies
vegetais (VAN DER PIJL, 1982).
Todavia a eficácia da dispersão pelos diferentes agentes depende de fatores
quantitativos e qualitativos das sementes dispersas. Nos fatores quantitativos levamse em consideração o número de visitas feitas pelos dispersores e o número de
sementes dispersas por visita. Por sua vez, os fatores qualitativos contribuem para
verificar a probabilidade de uma semente dispersa gerar uma nova planta, além de
considerar a qualidade de deposição da semente após passar pelo trato digestório
do dispersor (SCHUPP, 1993).
O fenômeno de dispersão por mamíferos é bem desenvolvido ou presente em
regiões tropicais, em que certas plantas produzem poucos frutos, grandes e
nutritivos (ricos em proteínas e lipídios). Assim, as características de diáspores
consumidas por mamíferos são: casca resistente, que não impede a oferta; proteção
das sementes apropriada contra o mecanismo de destruição, que é ajudada pela
15
presença de substâncias tóxicas ou amargas; um odor favorável para atração; não
essencialidade de cor e tamanho grande (VAN DER PIJL, 1982).
Os mamíferos têm suas características adaptadas ao consumo desses frutos
como: olfato desenvolvido, providos de dentes, são na maior parte grandes,
raramente possuem a vantagem de hábito arbóreo, e geralmente se alimentam à
noite, quando as cores estão camufladas (VAN DER PIJL, 1982).
Dentre os mamíferos que consomem frutos da família Annonaceae, com a
possibilidade de dispersarem ou predarem suas sementes, está a anta Tapirus
terrestris (Linnaeus) (BODMER, 1991; TÓFOLI, 2006).
Os canídeos também se alimentam de araticum como o lobete Cerdocyon
thous (Linnaeus 1766) citado por Xavier-Filho (2008) e o lobo-guará Chrysocyon
brachyurus (Illiger 1815) citado por Aragona e Setz (2001), Bueno, Belentani e
Motta-Júnior (2002), Rodrigues (2002) e Bueno e Motta-Júnior (2004).
Os veados Mazama americana (Erxleben 1777) e M. gouazoubira podem se
alimentar de araticum e serem predadores de sementes (FISCHER, 1814;
BODMER, 1989; BODMER, 1990b; BODMER, 1991).
Além de mamíferos, várias espécies de aves também consomem frutos de
Annonaceae (FRISCH e FRISCH, 2005).
A anta é dispersora de altas porcentagens de sementes intactas de araticum
(BODMER, 1991; TÓFOLI, 2006). Ela é particularmente importante na estrutura
ecológica de várias espécies de plantas, porque pode distribuir variedade e grande
quantidade de sementes, portando-se muitas vezes como espécie-chave. Assim sua
ausência pode causar rompimento de processos-chave na manutenção da
diversidade e funcionamento do ecossistema (BODMER, 1989; 1990a; 1991).
16
Para Alho (1993), uma das causas do comprometimento da conservação de
mamíferos de grande porte no Cerrado, como a anta, está relacionada à
fragmentação desse bioma. Este problema é especialmente severo para a anta, já
que sua densidade populacional está associada a características na paisagem,
condições de habitat e disponibilidade de frutos (BODMER, 1990a). De acordo com
estudos de Trolle (2007), a densidade de antas em formações florestais foi 0,71
indivíduos km-2, e em formações campestres de 0,31 indivíduos km-2.
A dispersão de sementes por animais em novas áreas, segundo a hipótese de
escape, é afetada pela predação por insetos (pré-dispersão), que reduz o número de
sementes dispersas para longe da planta-mãe, e consequentemente, diminui a
densidade populacional da espécie (JANZEN, 1970).
Essa hipótese baseia-se na mortalidade das sementes, que depende da
densidade de sementes nas proximidades das plantas adultas da mesma espécie,
como o caso da predação de insetos que concentram suas atividades em locais
aonde os recursos são comuns e abundantes. Essa predação de sementes é maior
próximo aos adultos da mesma espécie, devido aos predadores que respondem à
distância das sementes, ou seja, procuram por sementes apenas na vizinhança dos
adultos, e ignoram aquelas que estão mais distantes (JANZEN, 1970).
Em A. crassiflora, alguns insetos utilizam as sementes dos frutos para a
oviposição. A larva se desenvolve ao alimentar-se do endosperma, até atingir a fase
adulta, e nesta fase faz um orifício na semente para sair, como Bephratelloides
pomorum (Hymenoptera: Eurytomidae) (PEREIRA, ANJOS e PICANÇO, 1997;
PEREIRA, ANJOS e EIRAS, 2003) e Spermologus rufus (Coleoptera: Curculionidae)
(BARRETO e ANJOS, 2002).
17
Outros insetos podem agir como dispersores de sementes, como da família
Scarabaeidae, pelo fato de se alimentarem de frutos em decomposição (saprófagos)
e formarem túnel para enterrar as sementes (escavadores) (HALFFTER e
MATTHEWS, 1966).
Desse modo, são importantes nos estudos de frugivoria e dispersão de
sementes, para ampliar os conhecimentos do funcionamento das relações
ecológicas nos ecossistemas do Cerrado, que possam contribuir para planos de
conservação de espécies e seus habitats.
Portanto, este estudo de frugivoria e dispersão de sementes de A. crassiflora
por animais está organizado em capítulos.
O primeiro capítulo teve por objetivo identificar as sementes de frutos
consumidos por T. terrestris e analisar sua predação e dispersão de sementes no
cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso, no período de
março a maio, a fim de contribuir na gestão, manejo e conservação de áreas de
Cerrado.
No segundo e último capítulo o objetivo foi verificar a dispersão e a predação
de sementes de A. crassiflora por animais no cerrado sentido restrito da Fazenda
Aparecida da Serra, Mato Grosso.
18
2. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GERAL
Alho, C. J. R. Distribuição da fauna num gradiente de recursos em mosaico. In: Pinto,
N. M. (Org.). Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. 2. ed. Brasília:
Universidade de Brasília, 1993. p. 213 - 262.
Aragona, M.; Setz, E. Z. F. Diet of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus
(Mammalia: Canidae), during wet and dry seasons at Ibitipoca State Park, Brasil.
Journal of Zoology Londres, v. 254, p. 131-136, 2001.
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Zoologia, 2008.
21
3. CAPÍTULO I:
Frugivoria e dispersão de sementes por antas (Tapirus terrestrisPerissodactyla, Mammalia) em uma área de Cerrado no Mato Grosso
Vanessa Golin1; Manoel Santos-Filho2 & Mônica Josene Barbosa Pereira3
Abstract. Frugivory and seed dispersal by tapirs (Tapirus terrestris- Perissodactyla, Mammalia)
in a Cerrado area in the Mato Grosso State. The present work had for objective to analyze the
consumption of fruits and the seeds dispersal by tapirs (Tapirus terrestris), in the cerrado stricto sensu
area in Aparecida da Serra farm, Tangará da Serra, Mato Grosso State, Brazil, in order to contribute
to the management and conservation of that areas. With purpose to observe the consumption of fruits
by tapirs, feces were sought in the latrines or individually in the cerrado studied area (300 ha) during
March to May 2007. The intact and damaged seeds by tapirs were identified, quantified and submitted
to t test for analyze. The percentage of occurrence (PO) of each fruit among all the items consumed
was calculated, as well as all seeds were weighed. 36 plants species were identified through the
seeds contained in 237 samples fecal of tapirs. The higher occurrences were to Emmotum nitens
(20,31%), Buchenavia tomentosa (19,85%) and Annona crassiflora (15,11%). The species with higher
percentages of number from seeds and weight were B. tomentosa (51,36% e 66,6%), E. nitens
(24,85% e 20,55%), Buchenavia sp. (10,09% e 3,97%) and A. crassiflora (5,63% e 2,84%)
respectively. E. nitens was the specie more damaged by tapirs, representing at 88,93% of the
damaged seeds, with 53,67% of their seeds broked during the mastication. T. terrestris consumed
large variety of fruits, with that she can be an important dispersal, specially of B. tomentosa e A.
crassiflora, due to your high consumption, significant amounts of intact seeds eliminated at suitable
places to germination. Thus, the present study showed the importance of T. terrestris species
conservation, and through of this to preserve many plants species through the dispersal of your seeds.
Key-words: Tapir, fruits, seed dispersal, Cerrado, conservation
Resumo
O presente trabalho teve por objetivo analisar o consumo de frutos e a dispersão de sementes pelas
antas (Tapirus terrestris), em área de cerrado sentido restrito na Fazenda Aparecida da Serra,
Tangará da Serra, Mato Grosso, a fim de contribuir com a gestão, manejo e conservação dessas
áreas. Para verificar o consumo de frutos pela anta, procuraram-se fezes em latrinas ou
individualmente, na área de cerrado estudada (300 ha), no período de março a maio de 2007. Fez-se
a identificação, quantificação e análise, a partir do teste t, das sementes intactas e danificadas pelas
antas. Calculou-se a porcentagem de ocorrência (PO) de cada fruto dentre todos os itens
consumidos, e também pesou-se todas as sementes. No total foram identificadas 36 espécies de
plantas através das sementes contidas em 237 amostras fecais de antas. As maiores ocorrências
foram de Emmotum nitens (20,31%), Buchenavia tomentosa (19,85%) e Annona crassiflora (15,11%).
As espécies que apresentaram maiores porcentagens de número de sementes e pesos foram
respectivamente B. tomentosa (51,36% e 66,6%), E. nitens (24,85% e 20,55%), Buchenavia sp.
(10,09% e 3,97%) e A. crassiflora (5,63% e 2,84%). E. nitens foi a espécie mais danificada pela anta,
representando 88,93% do total das sementes danificadas, com 53,67% de suas sementes quebradas
durante a mastigação. T. terrestris consumiu grande variedade de frutos, e com isso pode ser uma
importante dispersora, principalmente de B. tomentosa e A. crassiflora devido ao seu alto consumo e
quantidades significativas de sementes intactas eliminadas em locais propícios à germinação. Assim
o presente estudo mostrou a importância de se conservar a espécie T. terrestris e por meio desta
preservar muitas espécies vegetais através da dispersão de suas sementes.
Palavras-chave: Anta, frutos, dispersão de sementes, Cerrado, conservação.
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT, Cáceres, MT. ([email protected]).
2
Depto de Ciências Biológicas Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT.
3
Depto de Agronomia Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Programa de PósGraduação em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. ([email protected]).
22
Introdução
O estudo de frugivoria avalia qualitativa e quantitativamente quais os frutos
consumidos pela fauna. Visto que determinados animais têm grande dependência de
certas plantas (espécies-chave) como fonte de alimento, é crucial protegê-las e
manejá-las corretamente, pois a extinção dessas plantas pode ocasionar extinção
em cadeia de outras espécies que formam as teias alimentares nas comunidades
(Galetti et al., 2003). Desse modo, estes animais que se alimentam de determinado
fruto de uma planta podem ser os dispersores de suas sementes (dispersão
zoocórica), nesse caso deve-se avaliar o número de sementes dispersadas, a
viabilidade dessas sementes, a distância de dispersão e o local em que são
depositadas (Schupp, 1993).
Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) é o maior frugívoro do Brasil (Emmons &
Feer, 1997; Eisenberg & Redford, 1999). Esta espécie necessita de grandes áreas
para viver, já que sua dieta é constituída de uma variedade de frutos, os quais são
importantes pelo valor nutricional, e age como dispersora e algumas vezes como
predadora de sementes, considerada, dessa forma, importante na estrutura
ecológica dos ecossistemas (Coates-Estrada & Estrada, 1988; Janzen, 1971;
Bodmer, 1991; Alho, 1993; Jordano, 1995; Fragoso & Huffman, 2000; Jordano et al.
2006; Tófoli, 2006).
A diferença na sua densidade populacional está associada a características
da paisagem, condições de habitat e disponibilidade de frutos (Bodmer, 1990).
Percebe-se, em estudos de Trolle (2007), que a densidade de antas em formações
florestais foi (0,71 ind./km2) 95% maior que em formações campestres (0,31
ind./km2), possivelmente devido a maior disponibilidade de alimento e por ser um
ambiente mais seguro.
Alguns estudos a respeito da dieta de T. terrestris e sua dispersão de
sementes foram realizados em várias regiões, como na Amazônia (Bodmer, 1990;
Fragoso & Huffman, 2000; Henry et al., 2000) e na Floresta Atlântica (Galetti et al.,
2001; Tófoli, 2006), mas no Cerrado ainda são raros, apenas Bizerril et al. (2005)
realizou estudo a respeito do consumo e dispersão de sementes de Dimorphandra
mollis Benth. (fava d’anta).
T. terrestris age em processo simbiótico com muitas espécies de plantas
(Coates-Estrada & Estrada, 1988; Jordano, 1995). No Cerrado pode haver
adaptação nas características de frutos, como na família Combretaceae, que
apresenta os frutos com mesocarpo fibroso-carnoso, adocicado e endocarpo
fortemente pétreo; e na família Annonaceae, em que os frutos têm cheiro agradável
e polpa adocicada (Barroso, 1999; Lorenzi, 2002).
Dentre as inúmeras vantagens que as espécies de plantas possuem, devido
ao consumo de seus frutos por mamíferos, está o distanciamento das sementes dos
arredores da planta-mãe, onde há uma intensa predação das sementes e plântulas
pelos animais granívoros e herbívoros (Janzen, 1970).
Estes frugívoros dispersores de sementes também têm o potencial de ajudar
na restauração de ambientes degradados e perpetuarem as espécies vegetais, por
isso, os estudos de relação animal-planta podem ser aplicados em manejo florestal
(Joseph & Wunderle, 1997). Por isso é crucial a conservação de dispersores como a
anta, pois se encontra atualmente vulnerável à extinção, em todo território nacional,
pois apesar de existirem muitas populações nos estados do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, tem sido ameaçada pela caça (IUCN, 2007) e pelo avanço de
atividades agropecuárias no estado de Mato Grosso (Moreira & Vasconcelos, 2007).
23
Bodmer (1991), Galetti et al. (2001) e Galetti (2004) afirmam que a caça e a
fragmentação de habitats causam um processo contínuo de eliminação da
megafauna e ocasionam um efeito direto e negativo nos processos mutualísticos, o
que pode acarretar em rompimento de processos-chave na manutenção da
diversidade e funcionamento dos ecossistemas.
Assim o objetivo deste estudo foi identificar as sementes dos frutos
consumidos por T. terrestris e analisar sua predação e dispersão no cerrado sentido
restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso, no período de março a maio
de 2007, a fim de fornecer informações para a gestão, manejo e conservação de
áreas de Cerrado.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi realizado na fazenda Aparecida da Serra, entre as coordenadas
geográficas (14°18’59” S, 57°45’16” W) e (14°20’23” S, 57°42’39” W), nos municípios
de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste de Mato Grosso.
Essa fazenda possui uma área de 5.760 ha, sendo 1.650 ha utilizados para
plantio de soja orgânico e 4.110 ha de área de reserva legal, dos quais foram
utilizados aproximadamente 300 ha de cerrado sentido restrito, para o estudo
(Figura 1).
Figura 1: Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo inserida
na Fazenda Aparecida da Serra, nos municípios de Tangará da
Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso.
Fonte: Banco de dados do Sistema Integrado de
Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e Secretaria do Estado
de Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum:
SAD69 Brasil.
24
O relevo dessa área é plano, constituído das fitofisionomias de cerrado
sentido restrito, cerradão e mata ciliar, abrigando ainda a nascente do Córrego do
Pilão.
A Fazenda é delimitada ao sul por escarpas e ressaltos topográficos da
Chapada dos Parecis, que é uma extensa área de preservação permanente e ocupa
a porção oeste do Estado, compreendendo extensos planos e patamares com
caimento para o norte, com altitudes que variam de 500 a 800 m (Brasil, 1982;
Moreira & Vasconcelos, 2007).
O predomínio do clima é Tropical Continental Úmido. Apresenta totais
pluviométricos anuais que variam de 1500 a 2200 mm e as temperaturas médias
anuais entre de 21°C a 26,8°C (Moreira & Vasconcelos, 2007).
Procedimentos
Para verificar a dieta de frutos por T. terrestris, em estação chuvosa, realizouse trabalho de campo no período de março a maio de 2007, com esforço amostral de
8 horas por dia, quatro vezes por semana.
As fezes das antas foram localizadas em latrinas (locais que os animais usam
repetidamente para defecarem), abaixo de árvores grandes. Cada amostra forma um
aglomerado de bolas fecais (com 5 a 8 cm de diâmetro cada bola) e isso as torna
distintas umas das outras. Também se observou, por acaso, fezes isoladas no
ambiente. Uma vez encontradas as amostras fecais, registrou-se sua localização
através de GPS (“Global Positioning System”), e as acondicionaram individualmente
em sacos plásticos.
Posteriormente, foram lavadas com auxílio de peneira de malha fina (3 x 3
mm), secas em temperatura ambiente, triadas e identificadas por especialistas. Não
se considerou neste trabalho as sementes menores que 5 mm.
Para auxiliar na identificação das sementes encontradas nas fezes, amostras
de espécies de plantas em frutificação foram coletadas em 10 parcelas sistemáticas
de 50 x 20 m na área de estudo, na mesma época em que coletaram-se as amostras
fecais. Logo após, as amostras foram prensadas e secas em estufa.
Identificaram-se tanto as plantas como as sementes, conforme a classificação
de Cronquist (1981).
Pesaram-se todas as sementes em balança analítica digital - Modelo B-Tec210A (max. 210 g e min. 100 mg), no Laboratório da UNEMAT – Universidade do
Estado de Mato Grosso, Campus de Cáceres.
Análises estatísticas
Calculou-se a porcentagem de ocorrência (PO) de cada fruto dentre todos os
frutos consumidos (n° de ocorrência da espécie x 100 / soma das ocorrências de
todas as espécies).
Para verificar a diferença entre o número de sementes intactas e danificadas
de cada fruto, pela mastigação da anta e por insetos, realizou-se o teste t com
auxílio do programa Systat (Wilkinson, 1990). As probabilidades obtidas nos testes
foram corrigidas pelo método Bonferroni e foram consideradas significativas se p
teve valores menores ou iguais a 0,05.
Também foram realizados testes t entre as sementes intactas e danificadas
pela antas, com as espécies mais danificadas. Consideram-se significativos valores
de p ≤ 0,05.
25
Para avaliar se a coleta de amostras fecais foi representativa, ou seja,
suficiente para amostrar o maior número de espécies de frutos consumidos pelas
antas na área estudada, fez-se uma curva de rarefação baseada em amostras
(Gotelli & Colwell, 2001), através do programa EstimateS, e utilizaram-se os índices
de Sobs Mao Tau (Colwell, 1997).
RESULTADOS
Durante um período de três meses, coletou-se 237 amostras fecais em 56
latrinas e três isoladas, em cerrado sentido restrito (terreno seco). Encontraram-se
sementes de 36 espécies de plantas nessas amostras, com uma média de 3,6 (± DP
1,8) espécies/amostra, em que 27 pertenciam a 19 famílias, destas, seis foram
identificadas em nível de espécie e nove não foram possíveis ser identificadas, por
não possuir material bibliográfico, como exsicata, disponível para a comparação. Em
apenas três amostras fecais (1,3%) não foram encontradas sementes.
A curva de rarefação entre o número de espécies consumidas pelo número de
amostras demonstrou uma leve tendência a uma assíntota, mas ainda é grande a
variação dos dados em torno da média (Figura 2).
Número de espécies consumidas
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0
50
100
150
200
250
Número de amostras
Figura 2. Curva de rarefação estimada para a área de estudo da Fazenda
Aparecida da Serra, que mostra o número de espécies de
frutos consumidas em função do número de amostras fecais
de Tapirus terrestris.
Algumas amostras fecais tiveram a ocorrência de uma única espécie, como
Emmotum nitens (Benth.) Miers e Buchenavia tomentosa Eichler, que tiveram
exclusividade em dez amostras fecais, o morfotipo 6 (Sapotaceae) em duas
26
amostras, e Annona crassiflora Mart., Buchenavia sp. e Licania sp. em uma amostra,
cada espécie.
O número total de sementes quantificadas nas amostras fecais foi de 27.180
(114,7 ± DP 112,3), com variação de zero a 768 sementes/amostra. O peso seco
total foi de 23.345,8 g (98,1 ± DP 100,4), com variação de zero a 710,3 g/amostra.
As maiores porcentagens de ocorrência (PO) e de peso, dentre os frutos
consumidos pelas antas, foram de E. nitens (20,3% e 20,6%), B. tomentosa (19,9%
e 66,6%), A. crassiflora (15,1% e 2,8%), Diospyros sp. (9%), Buchenavia sp. (7,1%)
e Byrsonima sp. (6%) (Tabela 1).
Outras espécies apresentaram baixa PO, como Psidium sp., com apenas uma
ocorrência, com 167 sementes, porém com peso total de 8,4 g (0,04%). Solanum cf.
lycocarpum também apresentou valor alto de sementes (161), com 1,5% de PO, e
pouco representativa com relação ao peso (4,3g), com 0,02% (Tabela 1).
Ao considerar apenas as amostras fecais com as espécies mais
representativas, como B. tomentosa, a média de sementes por amostra foi de 82,6 ±
DP 93,1, com variação de 1 a 615 sementes, e em amostras que continham apenas
E. nitens, a média de sementes foi de 39,3 ± DP 54,2/amostra, com variação de 1 a
320 sementes.
As espécies com maiores porcentagens de número de sementes foram
respectivamente B. tomentosa (51,4%), E. nitens (24,9%), Buchenavia sp. (10,1%),
A. crassiflora (5,6%) e Licania sp. (2,4%) (Tabela 2).
Dentre as 27.180 sementes quantificadas nas amostras fecais, 78,4%
encontravam-se intactas, com média de 89,9 sementes/amostra (± DP 109,10) e
21,63% danificadas, com média de 24,81 sementes/amostra (± DP 39,56). Das
sementes danificadas, 68,06%, com média de 16,88 (± DP 37,01) sementes/amostra
foram ocasionadas pela mastigação da anta e 31,94%, com média de 7,92 (± DP
14,54) sementes/amostra, foram predadas por insetos (Tabela 2).
O resultado dos testes t entre as sementes consumidas pela anta apresentou
diferença significativamente maior para as sementes intactas em relação às
danificadas durante a mastigação (n = 237, t=9,412, p=0,003), e em relação às
predadas por insetos (n = 237, t=11.524, p=0,003). Quanto ao teste t entre as
sementes danificadas pela anta e predadas por insetos foi significativamente maior o
número de sementes danificadas pela anta (n = 237, t= 3.450, p=0,003).
A espécie mais danificada por esse mamífero foi E. nitens, que representou
88,9% de todas as sementes danificadas (Tabela 2), com 53,7% dessas sementes
quebradas durante a mastigação. O teste t entre as sementes intactas e danificadas
pela anta (n = 172, t = -0,563, p = 0,574) não foi significativo. A segunda espécie
mais danificada foi Licania sp. (3,8%) (Tabela 2), com 23,5% de suas sementes
roídas e quebradas, o teste t também não foi significativo (n = 51, t = 1,478, p =
0,146).
As espécies mais danificadas por insetos foram A. crassiflora (43,9%) (Tabela
2), com 53,8% de suas sementes predadas, o teste t entre as sementes intactas e
predadas (n = 128, t = -0.803, p = 0,424) não foi significativo. A espécie B.
tomentosa foi a segunda mais predada por insetos (42,9%) (Tabela 2), com 5,7% de
suas sementes predadas. Nesse caso, de acordo com o resultado do teste t, foi
significativamente maior o números de sementes intactas (n = 172, t = 10.461, p ≤
0,001).
DISCUSSÃO
27
Em apenas três amostras fecais não ocorreu presença de sementes, de um
total de 237 fezes, o que demonstra que os frutos são um importante alimento na
dieta, em área de Cerrado. Desta forma corroboram-se outros estudos realizados
com dieta de antas que indicam que sementes estão presentes e constituem um
importante recurso de nutrientes em florestas tropicais (Bodmer, 1990; Fragoso &
Huffman, 2000; Henry et al., 2000; Galetti et al., 2001; Quiroga-Castro, 2001;
Quiroga, 2003; Tófoli, 2006).
Embora a amostragem deste trabalho tenha sido relativamente alta (maior
que grande parte dos outros estudos) em apenas três meses (estação chuvosa), de
acordo com a curva de rarefação, esta ainda não foi suficiente para incluir todas as
espécies de plantas consumidas pelas antas na área de estudo. Por exemplo, em
regiões de Floresta Amazônica, Bodmer (1990) obteve 44 amostras fecais em seu
trabalho, Henry et al. (2000) obteve seis amostras estomacais em estação seca e 19
em chuvosa. Em Floresta Atlântica Galetti et al. (2001) e Tófoli (2006) encontraram
com 33 e 115 amostras fecais em estação seca e 13 e 57 em chuvosa,
respectivamente. O Chaco Boliviano Quiroga (2003) encontrou 88 amostras na
estação seca e 65 na chuvosa.
O número de amostras deste estudo só foi menor que o realizado por Fragoso
& Huffman (2000) em Floresta Amazônica, que durante 14 meses coletaram 356
amostras fecais, 161 em estação seca e 191 em chuvosa.
Ao analisar o número de sementes encontradas por amostra fecal, o consumo
de T. terrestris foi relativamente alto (114,7, ± 112,27 sementes/amostra), em três
meses de estação chuvosa no cerrado sentido restrito matogrossense. Resultados
semelhantes foram obtidos por Fragoso & Huffman (2000) em área de Floresta
Amazônica, com uma média de 101,6 ± 378,3 sementes coletadas que, ao contrário
deste estudo, consideraram sementes menores de 5 mm, num total de 127 amostras
analisadas em laboratório, durante 14 meses de coleta.
A grande quantidade de sementes encontradas nas fezes de T. terrestris se
deve provavelmente, pela maior produção e disponibilidade de frutos durante a
estação chuvosa, uma vez que, segundo Ribeiro & Walter (1998), espécies
zoocóricas têm seus frutos amadurecidos e suas sementes dispersas durante esta
estação.
Em estudos realizados por Galetti et al. (2001) e Tófoli (2006), em áreas de
Floresta Atlântica, encontraram-se, em média, 147 e 520 sementes por amostra,
durante cinco e dois anos de coleta, respectivamente. O que provavelmente
contribuiu para esses altos valores de ocorrência foi o fato de considerarem as
sementes menores que 5 mm de comprimento.
A ocorrência de 36 espécies durante a estação chuvosa (três meses) no
cerrado sentido restrito é alta, se considerarmos o curto período de tempo e a
exclusão de sementes menores que 5 mm.
Apesar de outros estudos encontrarem valores de riqueza maiores que o
presente trabalho seus autores consideraram todos os tamanhos de sementes e
tiveram um maior período de amostragem, Fragoso & Huffman (2000), em Floresta
Amazônica com 39 espécies, em 14 meses, e Tófoli (2006), na Floresta Atlântica,
com 58 espécies, durante 24 meses. Segundo Tabarelli et al. (2005) e Tófoli (2006),
a alta riqueza de espécies encontradas nas amostras em Floresta Atlântica deve-se
provavelmente à grande variedade de espécies existentes neste bioma.
Na dieta de frutos de T. terrestris, as espécies E. nitens (Icacinaceae), B.
tomentosa (Combretaceae) e A. crassiflora (Annonaceae) apresentaram maiores
28
porcentagens de ocorrência (PO) e pesos de sementes, provavelmente devido a
grande disponibilidade desses frutos no ambiente, durante o período da coleta.
Segundo Bodmer (1990), a anta forrageia em diferentes ambientes, de acordo
com a disponibilidade e abundância de frutos. O que também explica o fato das
espécies E. nitens, B. tomentosa e A. crassiflora serem as únicas encontradas em
algumas amostras fecais. Diferente de trabalhos realizados durante todo o ano, nas
Florestas Amazônica e Atlântica (Bodmer, 1990, 1991; Fragoso & Huffman; 2000;
Galetti et al., 2001), as famílias Icacinaceae, Combretaceae e Annonaceae não
ocorrem ou aparecem em menor PO na dieta das antas, e a família Arecaceae
apresentou-se como a mais consumida, justamente devido à disponibilidade de
plantas desta família nos ambientes durante todo o ano.
No entanto, em estudo de Tófoli (2006), em Floresta Atlântica, evidenciou-se
que apesar da família Arecaceae, principalmente a espécie Syagrus romanzoffiana
Cham., ter sido mais consumida na dieta de T. terrestris, isto ocorreu devido a alta
disponibilidade na estação seca. Quando frutos da estação chuvosa se tornaram
disponíveis, eles foram mais consumidos, e ocorreu a substituição desta família
pelas Annonaceae (Annona cacans Warm.), Myrtaceae (Psidium guajava Linnaeus)
e Caricaceae (Jaracatia spinosa (Aubl.) A. DC.).
No presente trabalho A. crassiflora (Annonaceae) apresentou valores mais
altos de peso e PO quando comparado com A. cacans (Annonaceae), em estudo
realizado por Tófoli (2006) em Floresta Atlântica. No entanto Psidium sp.
(Myrtaceae) apresentou baixo peso e PO, quando comparado com os resultados de
Tófoli (2006), já J. spinosa (Caricaceae) não ocorreu no presente trabalho.
O alto consumo de frutos de A. crassiflora por antas, além da disponibilidade
no ambiente, deveu-se provavelmente aos frutos apresentarem cheiro, mesocarpos
carnosos e adocicados quando maduros, conforme descrito por Lorenzi (2002).
No período do presente estudo a espécie B. tomentosa (Combretaceae) foi
considerada o principal alimento da dieta de T. terrestris, com mais de 50% do total
de sementes consumidas. Deve-se esse alto consumo provavelmente ao fato do
fruto possuir um mesocarpo fibroso-carnoso, segundo características citadas por
Barroso (1999), como também por essa espécie ter disponibilizado grande
quantidade de frutos maduros. A mesma pode ter sido beneficiada pela dispersão de
suas sementes grandes (entre 15 a 25 mm), depositadas intactas em locais
favoráveis de terreno seco.
De acordo com Fragoso & Huffman (2000), Downer (2001) e Galetti (2004),
espécies de frutos com sementes grandes (acima de 15 mm) necessitam quase que
exclusivamente de animais de grande porte para dispersarem suas sementes, o que
pode ser um perigo para essas espécies, pois devido perturbações do homem no
planeta, a megafauna vem sendo extinta desde o Pleistoceno até os dias de hoje, e
agora restam poucos dispersores contemporâneos, como T. terrestris, o qual está
em declínio em toda a extensão de seu território.
A espécie E. nitens foi pela primeira vez registrada em dieta de T. terrestris.
Seu consumo havia sido verificado apenas por morcegos, descrito por Aguiar (2005),
em área de Cerrado.
Os frutos dessa espécie possuem características que se enquadram na
síndrome de dispersão por morcegos (quiropterocoria), descritas por Van der Pijl
(1982), como a ausência de mudança de cor no processo de maturação (o fruto
permanece verde), o odor desagradável e a disposição na periferia da copa.
Segundo Moreira (1987), a semente de E. nitens encontra-se protegida por
um endocarpo lenhoso, que funciona como barreira contra fatores externos,
29
considerado uma unidade básica de dispersão, uma vez que não ocorre a liberação
das sementes. Porém, no presente estudo, T. terrestris danificou muitas sementes
dessa espécie durante a mastigação, provavelmente para retirar suas reservas
cotiledonares, e apesar disso, pode ser dispersora da espécie, devido ao alto
consumo e por ter eliminado grande quantidade de sementes intactas no ambiente.
No período de estudo, T. terrestris também danificou a maioria das sementes
de algumas espécies dos gêneros Vochysia sp. e Caryocar sp. e de alguns
indivíduos da família Arecaceae. No entanto, a confirmação da eficiência da
dispersão se dará através da verificação de consumo destas espécies ao longo do
ano. Uma vez que, segundo Fragoso & Huffman (2000), deve-se levar em
consideração o mecanismo estrutural dos ecossistemas, pois é sabido que algumas
plantas frutificam o ano todo e outras em períodos específicos.
Com relação ao consumo de sementes de Dimorphandra mollis Benth.,
encontraram-se todas intactas nas fezes, sendo a décima maior porcentagem de
ocorrência (1,65%) na dieta, contendo 5,71 ± 8,5 sementes por amostra, consumo
considerado baixo, fato explicável devido ao período de estudo ter sido realizado no
início de sua frutificação, que segundo Bizerril et al. (2005), é de maio a setembro.
De acordo com esse autor, o consumo de frutos de D. mollis por T. terrestris é
alto durante seu período de frutificação. Em seu trabalho, analisou 81 amostras
fecais em 6 áreas de cerrado sentido restrito, e encontrou 50,8 ± DP 98,5 sementes
por amostra, com 94% destas intactas.
Com relação a dispersão de sementes por T. terrestris, esta possivelmente foi
eficiente quanto aos locais de defecação, pois depositou as sementes em áreas de
terreno seco de cerrado sentido restrito. Haja vista que em algumas localidades ela
tem o hábito de defecar dentro da água ou em locais de inundação sazonal, o que
para algumas espécies dificulta o estabelecimento, a não ser que tenham
dispersores secundários como roedores ou suas sementes adaptadas, que
favorecem sua germinação (Bodmer, 1991; Fragoso & Huffman, 2000; QuirogaCastro, 2001).
Contudo, o presente estudo mostrou a grande variedade de frutos
consumidos por T. terrestris em apenas um período de estação chuvosa, no cerrado
sentido restrito. Isso demonstrou que essa fitofisionomia possui alta riqueza de
espécies, e que poderá ser maior, quando somado à estação seca, onde outras
espécies frutificam.
Por ter-se amostrado somente parte da comunidade em frutificação disponível
nesse período de tempo, sugere-se que em trabalhos futuros, em áreas de Cerrado,
seja aumentado o esforço de coleta e o período de estudo, como anuais, para a
análise de sementes intactas e danificadas de determinadas espécies, nas fezes de
antas.
No entanto, o presente estudo demonstrou a importância desse mamífero
para a manutenção da biodiversidade do Cerrado, pela variedade de espécies de
sementes que consome, por defecar a maioria delas intactas e por dispersá-las em
locais de terreno seco.
Segundo Fragoso (1997) e Fragoso & Huffman (2000), essa manutenção
depende, em muitos casos, de frugívoros de grande porte, como as antas, que
dispersam grande quantidade e variedade de sementes para locais distantes da
planta-mãe e, com isso, têm influência nos processos ecológicos da comunidade
vegetal.
Por isso, estudos como este são importantes para subsidiarem propostas de
gestão e manejo de áreas de Cerrado, sendo essencial um plano de conservação
30
que considere grandes áreas e a ligação de fragmentos para a dispersão das antas
e forrageamento de espécies frutíferas, as quais podem depender da distribuição
daquelas para aumentar suas chances de sobrevivência.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais,
representado pelas professoras Carolina Joana da Silva e Carla Galbiati, ao
PROBIO pelo suporte financeiro, à CAPES pela concessão da bolsa de estudos, à
bióloga Marilza da Costa, por auxiliar no campo, à botânica Maria Antônia Carniello,
pela identificação das sementes e a todos que de uma forma ou de outra
colaboraram para a realização deste estudo.
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34
Tabela 1. Relação dos frutos consumidos por Tapirus terrestris na Fazenda
Aparecida da Serra, MT, por ordem de ocorrência. Porcentagem de ocorrência de
cada fruto no total de frutos consumidos (PO), número de sementes quantificadas e
peso seco total de sementes.
35
Tabela 2. Relação do número de sementes ingeridas pela anta (Tapirus terrestris)
na Fazenda Aparecida da Serra, MT: total, intactas, total danificadas, pela anta e por
insetos.
36
4. CAPÍTULO II:
Dispersão e predação de sementes de Annona crassiflora Mart. (Annonaceae) por
animais em área de Cerrado no Mato Grosso, Brasil
Vanessa Golin1, Manoel Santos-Filho2 & Mônica Josene Barbosa Pereira3
1
Programa de Mestrado em Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Cáceres,
MT. (e-mail: [email protected]).
2
Depto de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT. Programa de Mestrado em
Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. Rua Santa Izabel, n° 45, Bairro Santa Izabel, Cáceres-MT, Cep.:
78.200.000. (e-mail: [email protected]).
3
Depto de Agronomia, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Programa de Mestrado em
Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. (e-mail: [email protected]).
ABSTRACT. Seed dispersal and predation of Annona crassiflora Mart. (Annonaceae) by
animals in area of Cerrado in the Mato Grosso State, Brazil. Annona crassiflora Mart. has
fruit that are part of the diet of animals, which can be seeds dispersers or predators. This study
aimed to assess the seed dispersal and predation of araticum by animals, in cerrado stricto
sensu, in Mato Grosso State, Brazil. For this tracks stations were installed in 95 araticum
plants to verify the frequency of visitation (FV) and the consumption of fruit by the mammals.
Under the araticum plants, the actions of insects (predation or dispersal) were observed in
fallen fruit, and collected for later identification. 237 fecal samples were analyzed, checking
the number of seed araticum, their frequency of occurrence (FO) in each fecal sample and
damage by tapirs and insects. The significance of these damages was analyzed by t test. The
distance of seeds dispersal from araticum was accomplished through colored beads inserted in
the ripe fruits, being measured of the point of the feces with bead to the plant of the same
color of the bead inserted in the fruit. Test of seed germination was conducted with seeds
taken of fruits and of fecal samples from tapirs. During the fruiting of araticum, the tapir
(Tapirus terrestris) was the specie with largest FV and consumption of fruits (72.3%, 71.4%),
followed by other vertebrates such as mammals unidentified (20.2%, 21.2%), crab-eating fox
(Cerdocyon thous) (1.1%, 2.2%), armadillo (Dasypus sp.) (2.1%, 1.7%), birds unidentified
(2.1%, 1.7%), grey brocket deer (Mazama gouazoubira) (1.1%, 0.9%) and Curl-crested Jay
(Cyanocorax cristatellus) (1.1%, 0.9%). The insects of the family Scarabaeidae Phanaeus
palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis and Canthon sp. consumed the fruits
pulp and buried araticum seeds, and the families Curculionidae, Spermologus rufus and
Eurytomidae, Bephratelloides pomorum, broked and buried the seeds. In the diet of T.
terrestris, A. crassiflora has 54% of FO in fecal samples, not damaging the seeds (n=128,
t=4.302, p=0.003). The insects S. rufus and B. pomorum damaged seeds significantly (n=128,
t=4.919, p=0.003), when compared to damaged seeds by tapirs, but it was not significant
when compared to the intact seeds (n=128, t=-0.803, p=1.272). Places of defecation of tapirs
were on dry land, and found two feces over long distances from araticum plants (1.7 and 1.8
km). Germination occurred in only seeds that passed by the digestive tract of the tapir (4% in
414 days). Thus, the results obtained in this study allow conclude that various animals species
consume araticum fruits, being the main, T. terrestris, considered important seed disperser,
how also was verified the interaction of Scarabaeidae (probably dispersers), eurytomídeos
(predators) and Curculionidae (predators and probably dispersers) in araticum fruits.
KEY WORDS. Araticum; conservation; dispersers; predators.
37
RESUMO. Annona crassiflora Mart. possui frutos que fazem parte da dieta de animais, os
quais podem ser dispersores ou predadores de suas sementes. Com isso, o presente estudo
teve por objetivo verificar a dispersão e a predação das sementes de A. crassiflora por animais,
em cerrado sentido restrito, no Mato Grosso, Brasil. Para tanto, instalaram-se estações de
pegadas sob 95 plantas de araticum, a fim de verificar a freqüência de visitação (FV) e o
consumo de frutos por mamíferos. Sob as plantas de araticum, observaram-se as ações
(predação ou dispersão) de insetos em frutos caídos e coletados para posterior identificação.
Analisou-se 237 amostras fecais, e verificou-se o número de sementes de araticum, sua
freqüência de ocorrência (FO) em cada amostra fecal e a danificação pelas antas e por insetos.
A significância destes danos foi analisada pelo teste t. A distância de dispersão das sementes
de araticum realizou-se através de miçangas coloridas inseridas nos frutos maduros, sendo
medida do ponto das fezes com miçanga até a planta da mesma cor da miçanga inserida no
fruto. Realizou-se também teste de germinação com sementes retiradas de frutos e de
amostras fecais de antas. No período de frutificação do araticum, a anta (Tapirus terrestris)
foi a espécie com maior FV e de consumo de frutos (72.3%, 71.4%), seguidos de outros
vertebrados, tais como mamíferos não identificados (20.2%, 21.2%), lobete (Cerdocyon thous)
(1.1%, 2.2%), tatu (Dasypus sp.) (2.1%, 1.7%), aves não identificadas (2.1%, 1.7%), veado
catingueiro (Mazama gouazoubira) (1.1%, 0.9%) e gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus)
(1.1%, 0.9%). Os insetos da família Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon,
Diabroctis mirabilis e Canthon sp. se alimentaram da polpa de frutos e enterraram sementes
de araticum. Os das famílias Curculionidae, Spermologus rufus e Eurytomidae,
Bephratelloides pomorum predaram as sementes. Na dieta de T. terrestris, A. crassiflora
possuiu 54% de FO nas amostras fecais, sem danificar as sementes (n=128, t=4.302, p=0.003).
Os insetos S. rufus e B. pomorum danificaram significativamente as sementes (n=128, t=4.919,
p=0.003), quando comparada às sementes danificadas pela anta, mas não foi o dano tão
significativo, quando comparado às intactas (n=128, t=-0.803, p=1.272). Os locais de
defecação das antas ocorreram em terrenos secos, sendo encontradas duas fezes com
miçangas, a 1.7 e 1.8 km das plantas de araticum. Ocorreu germinação apenas nas sementes
que passaram pelo trato digestório da anta (4% em 414 dias). Assim, os resultados obtidos
neste trabalho permitem concluir que várias espécies de animais consomem frutos de araticum,
sendo a principal, T. terrestris, considerada importante dispersora de sementes. Também foi
verificada a interação de escarabeídeos (prováveis dispersores), eurytomídeos (predadores) e
curculionídeos (predadores e prováveis dispersores) em frutos de araticum.
PALAVRAS-CHAVE. Araticum; conservação; dispersores; predadores.
INTRODUÇÃO
O principal período de frutificação, no bioma Cerrado, ocorre durante os meses
quentes e úmidos, quando a maior parte das espécies zoocóricas amadurece seus frutos
(Oliveira 1998).
Dentre as espécies produtoras de frutos comestíveis nesse bioma, está Annona
crassiflora Mart., (Annonaceae) (Ribeiro et al. 2000, Carvalho 2003) popularmente chamada
de araticum, cabeça-de-negro, pinha-do-cerrado e marôlo, com ocorrência em fitofisionomias
campestres de cerrado, em cerrado sentido restrito e em cerradão nos estados de São Paulo,
38
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Tocantins (Lorenzi 2002,
Durigan 2004).
Os frutos de A. crassiflora são do tipo baga, com grande número de sementes por fruto
(Barroso 1999). Segundo Rizzini (1997) suas sementes possuem dormência por
indiferenciação embrionária, ou seja, o embrião imaturo não pode crescer sem primeiro
completar o seu desenvolvimento, e podem levar mais de 200 dias para germinar.
Esses frutos amadurecem a partir de janeiro-fevereiro, com a polpa levemente
adocicada e de cheiro agradável (Ribeiro et al. 1999, Lorenzi 2002). Essas características
podem atrair alguns mamíferos e aves, como uma fonte de recurso alimentar, e assim,
dispersarem suas sementes (Wilson 1993, Frisch 2005).
A dispersão, de acordo com critérios descritos por Schupp (1993), pode ser eficiente
ou não, e vai depender de fatores quantitativos e qualitativos de dispersão das sementes. Os
fatores quantitativos consideram o número de sementes dispersas, o número de visitas feitas
pelos dispersores e o número de sementes dispersas por visita. Já os fatores qualitativos levam
em consideração a qualidade do tratamento dado às sementes pela passagem na boca e
intestino, como a qualidade da deposição de sementes.
De acordo com Bodmer (1991) e Tófoli (2006), frutos da família Annonaceae fazem
parte da dieta alimentar de antas (Tapirus terrestris, Linnaeus 1758), que eliminam altas
porcentagens de sementes intactas. Podem agir como dispersoras, mas também como
predadora de várias espécies de sementes, e influenciar na manutenção da biodiversidade nos
ecossistemas (Bodmer 1989, Bodmer 1990a, Bodmer 1991, Fragoso 1997, Fragoso &
Huffman 2000, Downer 2001).
Frutos dessa família estão dentre os mais consumidos por veados Mazama americana
(Erxleben 1777) e M. gouazoubira (Fischer 1814), porém estes são considerados predadores
de sementes por danificá-las em sua digestão (fermentação do rúmen) (Bodmer 1989, Bodmer
1990b, Bodmer 1991). Na dieta do lobete, Cerdocyon thous (Linnaeus 1766), frutos de
anonáceas também são freqüentes (Xavier-Filho 2008).
Para o lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger 1815), frutos de araticum
constituem um dos principais alimentos de sua dieta (Motta-Júnior et al. 1996, Bueno,
Belentani & Motta-Júnior 2002, Jácomo 2004), principalmente na ausência do fruto da lobeira
(Solanum lycocarpum St. Hill.) (Aragona & Setz 2001, Rodrigues 2002).
Insetos da família Scarabaeidae também podem agir como dispersores de sementes,
pelo fato de se alimentarem de frutos em decomposição (saprófagos) e enterrarem sementes
(escavadores) (Halffter & Matthews 1966). Em contrapartida, existem insetos como
39
Bephratelloides pomorum Fab. 1908 (Hymenoptera: Eurytomidae) que ovipositam em
sementes de anonáceas em formação, alimentando-se do endosperma, quando atingem a fase
adulta fazem um orifício na semente e constróem uma galeria na polpa do fruto, saindo para o
exterior (Pereira, Anjos & Picanço 1997, Pereira, Anjos & Eiras 2003). Outro inseto que
apresenta hábito semelhante é o besouro Spermologus rufus Boheman 1843 (Coleoptera:
Curculionidae) no entanto, a oviposição é realizada em sementes maduras (Barreto & Anjos
2002).
Desse modo, o presente trabalho teve por objetivo verificar a dispersão e a predação
das sementes de A. crassiflora por animais em área de cerrado sentido restrito da Fazenda
Aparecida da Serra, Mato Grosso.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido na área de reserva legal da fazenda Aparecida da Serra, entre
as coordenadas geográficas (14°18’59” S, 57°45’16” W) e (14°20’23” S, 57°42’39” W),
inserida nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste de Mato Grosso
(Figura 1).
A área de reserva legal da fazenda possui 4.110 ha constituída de fitofisionomias de
Cerrado (sentido restrito, cerradão e mata ciliar), e abriga a nascente do Córrego do Pilão. A
área selecionada para o estudo foi de 300 ha de cerrado sentido restrito, devido ao
posicionamento mais concentrado de plantas de araticum em frutificação (Figura 2).
A Fazenda é delimitada ao sul por escarpas e ressaltos topográficos da Chapada dos
Parecis, que constitui uma extensa área de preservação permanente, e ocupa a porção oeste do
Estado, com altitudes que variam entre 500 a 800 m (Brasil 1982, Moreira & Vasconcelos
2007).
O predomínio do clima é Tropical Continental Úmido, apresenta totais pluviométricos
anuais que variam de 1500 a 2200 mm e as temperaturas médias anuais entre de 21 a 26,8°C
(Moreira & Vasconcelos 2007).
O período para estudar o consumo de frutos de araticum, dispersão e predação de suas
sementes por animais foi de fevereiro a maio de 2007, com esforço amostral de 8 horas por
dia, quatro vezes por semana.
Vistoriaram-se 95 plantas de araticum em frutificação e quantificaram-se os frutos
viáveis para o consumo de animais, que foram os sadios e os parcialmente danificados por
insetos.
40
Para verificar a freqüência de visitação (FV) e a quantidade de frutos consumidos por
mamíferos, instalaram-se estações de pegadas (retirada da serrapilheira e o revolvimento do
solo) num raio do tamanho da copa das plantas e quantificava-se (quatro vezes por semana)
todos os frutos de cada planta. Nesses locais, as pegadas foram fotografadas e identificadas
com o auxílio dos guias-de-campo de Becker & Dalponte (1999) e de Lima-Borges & Tomás
(2004).
Caracterizaram-se como frutos totalmente consumidos, aqueles onde restavam até 10
sementes com casca, já os frutos consumidos parcialmente, restavam mais de 10 sementes
com casca.
Observou-se tanto a interação (predação ou dispersão) de insetos que estavam em
frutos sob as plantas de araticum, como a predação de insetos em sementes de araticum nas
fezes de antas. Os insetos foram coletados, montados, etiquetados e enviados à especialistas
para identificação.
Para verificar a dispersão das sementes de araticum pelas antas, inseriram-se
aproximadamente dez miçangas de cor específica para cada planta onde se encontravam
frutos maduros caídos intactos, deixando-os abaixo da planta, na estação de pegadas.
Após o consumo desses frutos, efetuaram-se coletas de fezes nas latrinas, durante o
período de frutificação do araticum, para posterior verificação da presença ou ausência das
miçangas ingeridas.
A distância de dispersão de sementes pela anta foi efetuada com uso de GPS (“Global
Positioning System”), e mediu-se desde as fezes contendo as miçangas de cor específica até a
planta correspondente.
Além do número de sementes de araticum encontradas nas fezes realizou-se o cálculo
de freqüência de ocorrência (FO) destas sementes em cada amostra fecal (n° de ocorrência das
sementes de araticum nas amostras fecais x 100/ n° de amostras fecais).
Verificou-se a diferença entre o número de sementes de araticum intactas e
danificadas pela mastigação de antas e predação por insetos através do teste t, com auxílio do
programa Systat (Wilkinson 1990). As probabilidades obtidas nos testes foram corrigidas pelo
método Bonferroni e consideraram-se significativos valores de probabilidade menores ou
iguais a 0,05.
Realizou-se, no dia 05 de maio de 2007, um experimento de germinação com
sementes de araticum, no viveiro Ziani Mudas Florestais, cidade de Tangará da Serra - MT,
um tratamento com sementes extraídas diretamente do fruto (controle), coletados de 20
41
árvores diferentes e o outro tratamento de fezes de anta, retiradas de 20 amostras fecais de 15
latrinas.
Semearam-se as sementes a dois centímetros de profundidade, em sacos polietileno,
contendo 40% de substrato Plantmax fibra, 40% de terra, 10% de areia e 10% de esterco de
galinha, com cobertura de tela (50% de sombra) e regadas duas vezes ao dia. Foram semeadas
cinco sementes por repetição, totalizando 100 repetições por tratamento.
RESULTADOS
No período de frutificação do araticum, dos 323 frutos viáveis para o consumo, 231
(71.52%) foram consumidos por mamíferos de médio e grande porte e aves, durante o período
de março (177) e abril (54). O restante não foi consumido (28.48%).
As plantas de araticum foram visitadas 188 vezes por animais para o consumo de
frutos, dentre eles, Tapirus terrestris com 136 visitas, e consumo de 71.4% dos frutos, destes
61.8% foram totalmente consumidos e 38.2% consumidos parcialmente (Tabela 1).
Em menor freqüência, registraram-se oito visitas e consumo de frutos (4.8%) por
outros mamíferos como: Cerdocyon thous (lobete), Dasypus sp. (tatu) e Mazama gouazoubira
(veado catingueiro). Mamíferos que não foram identificadas as pegadas visitaram 38 vezes as
plantas e consumiram 21.2% dos frutos (Tabela 1).
Além de mamíferos, registraram-se seis visitas de aves, como a gralha-do-campo
Cyanocorax cristatellus, que consumiu 0.9% dos frutos, sendo que um ainda estava na planta
e o outro no chão. E 1.7% dos frutos foram consumidos por aves não identificadas (Tabela 1).
Apesar de não ocorrerem rastros de Chrysocyon brachyurus (lobo-guará) nas estações
de pegadas, verificaram-se oito sementes de araticum em uma das quatro fezes encontradas na
estrada que margeia a área de estudo.
Na dieta de T. terrestris, das 237 amostras fecais coletadas (Figura 2), A. crassiflora
(araticum) possuiu FO de 54% nas amostras fecais, com 1531 sementes consumidas.
Considerou-se apenas as amostras que continham sementes de araticum, a média foi de 12.1 ±
DP 18.2, variando de 1 a 96 sementes por amostra.
A maioria dessas sementes estava danificada (57.2%), sendo 3.3% ocasionada na
passagem pelo trato digestório das antas e 53.8% predadas por insetos (Tabela 2). Destes, foi
observado o besouro Spermologus rufus (Coleoptera: Curculionidae) em sementes triadas de
fezes, e a vespa Bephratelloides pomorum (Hymenoptera: Eurytomidae) observada somente
em frutos maduros, mas que a anta pode tê-los ingerido com oviposição e eliminado as
42
sementes já danificadas. Esses insetos foram depositados na coleção de insetos do Laboratório
de Entomologia - Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Tangará da Serra.
O resultado do teste t entre as sementes intactas e danificadas por insetos não foi
significativo (n=128, t=-0.803, p=1.272). Foi significativamente baixo o número de sementes
danificadas pelas antas (n=128, t=4.302, p=0.003) e o número de sementes predadas por
insetos foi significativamente maior quando comparadas com as danificadas pelas antas
(n=128, t=4.919, p=0.003).
No total, foram inseridas miçangas em 40 frutos, dos quais 35 foram consumidos por
T. terrestris (registrados através de suas pegadas sob as plantas marcadas). Registraram-se
apenas duas amostras fecais contendo miçangas, cada uma de uma cor, distanciadas a 1.7 e
1.8 km das respectivas plantas de araticum (Figura 2).
No teste de germinação, apenas quatro sementes que passaram pelo trato digestório
das antas germinaram, duas em 89 dias, uma em 173 dias e outra em 214 dias, totalizando 4%
germinadas em 414 dias. E as sementes do controle não germinaram.
Quanto aos insetos associados aos frutos de araticum, representantes da família
Scarabaeidae, Phanaeus palaeno (Blanchard 1843), Oxysternon palaemon (Castelnau 1840),
Diabroctis mirabilis (Harold 1877) e Canthon sp., foram observados dentro de frutos maduros
caídos, que estavam abertos (parcialmente consumidos por animais), esses carregavam e
enterravam sementes embaixo dos frutos, e também levavam-nas para longe da planta-mãe, a
aproximadamente 1.2 m. Esses escarabeídeos foram depositados na coleção de referência
pessoal de Fernando Z. Vaz-de-Mello na Universidade Federal de Lavras-MG.
Observaram-se curculionídeos S. rufus em frutos maduros caídos (recém caídos ou
parcialmente consumidos por animais), esses revolveram o solo para enterrarem parcialmente
os frutos, furaram as sementes para efetuarem a oviposição e enterraram-nas no solo sob a
planta de araticum.
DISCUSSÃO
De acordo com os critérios quantitativos de dispersão de Schupp (1993), a anta foi a
visitante mais freqüente em plantas de araticum, consumiu a maioria dos frutos maduros, e
apresentou em sua dieta alta freqüência de ocorrência dessa espécie de fruto.
No entanto, em estudos de dieta de T. terrestris em área de Floresta Amazônica, a
freqüência de ocorrência de sementes de Annonaceae foi baixa (3.1%) (Bodmer 1991), o
mesmo padrão foi encontrado em Floresta Atlântica com porcentagem de ocorrência baixa
43
(5.7%) em relação aos outros frutos consumidos, mas com a maioria das sementes intactas
(70.71%) (Tófoli 2006).
M. gouazoubira (veado catingueiro) teve uma freqüência de visitação baixa em plantas
de araticum, com o consumo de apenas dois frutos. Diferente dos resultados obtidos por
Bodmer (1989) e Bodmer (1990b), em Floresta Amazônica, onde o autor considerou essa
espécie como frugívora que consome grandes proporções de frutos, sendo frutos da família
Annonaceae um dos mais consumidos.
Dasypus sp. (tatu) teve baixos valores de FV e de consumo de frutos de araticum.
Conforme Castaldelli et al. (2008), em trabalho realizado durante três anos no estado do
Paraná, a dieta de tatu galinha (Dasypus novemcinctus) constituiu-se de baixo consumo de
frutos (3.7%), sendo que o principal alimento são insetos adultos (49%).
O lobete (C. thous) visitou com pouca freqüência as plantas de araticum, e consumiu
apenas cinco frutos. Talvez na época de amostragem, durante o período chuvoso, essa espécie
tenha consumido mais animais, principalmente artrópodos que estão mais disponíveis na área.
No Pantanal, além do C. thous possuir hábito alimentar generalista, a Annonaceae está
dentre as famílias de frutos mais consumidas (Xavier-Filho et al. 2008). Entretanto, Bueno &
Motta-Júnior (2004) ao estudar sua dieta durante um ano em área de Cerrado, e Rocha, Reis
& Sekiama (2004) em estudos de dois anos em Floresta Atlântica, encontraram baixa
ocorrência de itens vegetais, sem a presença de frutos de Annonaceae. Resultado diferente a
desses autores foi obtido por Amaral (2007) o qual encontrou alta freqüência de ocorrência de
itens vegetais em Floresta Atlântica, mas também não encontrou sementes de Annonaceae.
Apesar de não haver registros de pegadas de C. brachyurus (lobo-guará) nas estações,
este pode ter consumido frutos de plantas não monitoradas ou ainda, estarem dentre aquelas
pegadas não identificadas nas estações, uma vez que ocorreram registros de pegadas e a
presença de uma amostra fecal com sementes de araticum na estrada do entorno da área de
estudo.
De acordo com Motta-Junior et al. (1996), Aragona & Setz (2001), Bueno, Belentani
& Motta-Júnior (2002), Rodrigues (2002) e Jácomo (2004), em estudos sobre dieta do loboguará no bioma Cerrado, os frutos de A. crassiflora constituem um dos principais elementos
em sua dieta de frutos. Todavia, em estudo de Bueno & Motta-Júnior (2004), houve uma
baixa ocorrência desse fruto, apenas duas, no mesmo bioma.
Assim, esses canídeos são considerados generalistas e oportunistas, pois consumem
itens mais freqüentes no ambiente e alteram o consumo em função da sua disponibilidade
(Motta-Junior et al. 1996, Rocha, Reis & Sekiama 2004, Rodrigues 2002).
44
Apesar de C. thous e C. brachyurus consumirem frutos de A. crassiflora, podem
desfavorecer a germinação pelo fato de possuírem o hábito de defecarem em estradas. De
acordo com Rocha, Reis & Sekiama (2004) e Rodrigues (2002), a eficiência da dispersão de
sementes por esses canídeos é questionável, porque depositam suas fezes em locais de
destaque e observável por indivíduos da mesma espécie, que são desfavoráveis à germinação
e ao estabelecimento de muitas plântulas, como lugares altos (montes, cupinzeiros,
formigueiros) dentro da mata, bordas de floresta, áreas abertas e estradas, expostas a fatores
ambientais negativos como alta radiação solar, baixa umidade e compactação do solo.
As gralhas-do-campo (C. cristatellus), ao consumirem frutos de araticum, podem ter
sido atraídas pela sua polpa e sementes que estavam disponíveis em grande quantidade no
ambiente. De acordo com Sigrist (2006), estas aves comem tanto animais como frutos e
sementes, sendo assim, consideradas onívoras, e podem efetuar a dispersão por meio da
regurgitação ou eliminação pelas fezes.
Segundo Frisch & Frisch (2005), algumas aves são atraídas pelo araticum, mas apesar
disso, este fruto não possui todas as adaptações específicas ao consumo de aves, como
sinalização de cor, quando maduros, fixação permanente e exposição das sementes. No
entanto, possuem um elemento comestível (polpa adocicada) que é atrativo, e também
inibições, como proteção externa contra o consumo prematuro (casca verde), e uma proteção
interna nas sementes contra a alimentação, que de acordo Pott, Pott & Sobrinho (2004), é uma
substância tóxica.
De acordo com Van der Pijl (1982), as plantas apresentam diversas síndromes de
dispersão de sementes e as define como um conjunto de características, às vezes generalistas,
às vezes restritas e precisas, que os propágulos apresentam, e que indicam o modo de
dispersão da planta. Entretanto, nem todas características devem estar necessariamente
presentes, sendo, algumas vezes, suficiente e decisiva a presença de apenas uma.
No entanto, não se sabe qual é a eficiência de dispersão de C. cristatellus, devido ao
curto período destinado à observação no campo. Pode assim, ser dispersora eficiente ou até
mesmo predadora, porque de acordo com Janzen (1971) aves da família Corvidae (gralhas)
são predadoras de sementes.
Os besouros da família Scarabaeidae também estiveram associados aos frutos de
araticum como prováveis dispersores, uma vez que ao enterrarem as sementes com polpa,
provavelmente se alimentem apenas desta polpa, e deixem as sementes intactas.
Para Halffter & Matthews (1966) esses escarabeídeos se enquadram na saprofagia
secundária, que envolve o ataque a frutos maduros caídos. Como também formam túneis em
45
qualquer direção abaixo ou ao seu lado, para onde levam seu alimento, podem aumentar
grandemente o número de sementes dispersas que acabam em locais onde a predação de
sementes é baixa e a germinação potencial é alta, desta forma desempenham um importante
papel ecológico (Janzen 1970; Shepherd & Chapman 1998).
Ao analisar a relação existente entre o araticum e a anta, percebe-se que estas espécies
possuem características que podem ser adaptações de consumo. De acordo com Van der Pijl
(1982) a co-evolução de plantas frutíferas e mamíferos pode estar relacionada a características
que essas plantas possuem para atraírem esses animais como: casca resistente, odor forte, cor
marrom (não vibrante), tamanho grande e sementes tóxicas que pode ser uma proteção contra
o mecanismo de destruição por mamíferos. Essas características se enquadram nos frutos de
araticum (Lorenzi 2002, Pott, Pott & Sobrinho 2004).
Os mamíferos, como a anta, possuem características e hábitos que propiciam o
consumo e dispersão, como: olfato desenvolvido, dentes para o consumo de frutos, hábito
terrestre e alimentação noturna, quando as cores estão camufladas (Van der Pijl 1982).
T. terrestris dispersou sementes de araticum intactas em locais que podem ser
propícios à germinação, portanto pode ter sido importante para aumentar a probabilidade de
estabelecimento de plântulas, devido aos diferentes locais de deposição de sementes em
terreno seco.
A característica dos locais de defecação pode favorecer a germinação para
determinadas espécies adaptadas, e a distribuição de sementes gerar adultos dispersos da
planta-mãe, o que contribuirá para perpetuação e evolução das espécies (Fragoso & Huffman
2000; Quiroga-Castro 2001).
Entretanto, o método utilizado para medir a distância de sementes de plantas de
araticum dispersadas por antas, não alcançou êxito pelo fato de não ser possível uma maior
amostragem e coleta de material fecal nas áreas que as antas possivelmente carregaram.
Apesar de ter sido explorado aproximadamente 3 km2, e ter o conhecimento de que a
densidade de T. terrestris pode variar de 0.31 a 0.71 ind./km2 (Trolle et al. 2007), a área de
estudo ainda suportaria aproximadamente mais de um indivíduo.
A baixa taxa de germinação das sementes de araticum (4%) coletadas nas fezes de T.
terrestris e a não germinação das sementes controle, devem estar relacionadas com o curto
tempo do experimento, pelo fato das sementes serem retardadas, e não necessariamente
relacionadas à inviabilidade delas, ou devido às condições inadequadas condicionas aos
tratamentos, como umidade, luminosidade e temperatura.
46
De acordo com Rizzini (1997), o embrião das sementes de araticum é indiferenciado
(imaturo), mede 2 mm, e não pode crescer sem primeiro completar o seu desenvolvimento,
pois necessita de um período maior para sua maturidade e germinação.
Em experimentos com germinação de sementes de A. crassiflora realizados em caixas
de madeira com areia de restinga, ao ar livre e em incubadora (temperatura de 30° C) a taxa
foi de 100% entre 237 a 287 dias no ano de 1969, 82% entre 265-300 dias no ano de 1970 e
obteve 78% entre 219 a 290 dias no ano de 1971, porém observou-se que em sementes
retardadas ocorreu germinação de 12% em 566-619 dias (Rizzini, 1973).
O fato das sementes de A. crassiflora possuírem dormência, com longo período de
germinação e seus frutos amadurecerem na estação chuvosa, corrobora o estudo de Oliveira
(1998), no qual associa a dormência e a dispersão durante as chuvas, como uma forma de
ajustar a germinação com a estação chuvosa seguinte, que maximiza o período de
estabelecimento.
As antas dispersaram grande quantidade de sementes de araticum, porém muitas foram
predadas por insetos. Provavelmente esse ataque foi ocasionado por curculionídeos S. rufus,
em algumas amostras fecais que apresentaram grande quantidade de sementes sem polpa, o
que diminuiu o número de sementes propícias à germinação.
Resultados semelhantes foram obtidos por Silvius & Fragoso (2002), que concluíram
que a passagem das sementes pelo tubo digestório de antas e a contaminação das fezes não
são suficientes para deter a oviposição, pois as sementes enterradas nas fezes são protegidas,
mas as que ficam expostas nas pilhas fecais são predadas por insetos.
A fêmea de S. rufus usualmente faz orifício para colocar seu ovo na semente madura, e
após algum tempo a larva eclode e se alimenta do endosperma da mesma, o que o deixa
inviável para a germinação, e quando atinge a fase adulta, o besouro constrói um orifício na
semente para sair (Barreto & Anjos 2002).
Esse inseto também danificou sementes sob plantas de araticum, e diminuiu o número
de sementes viáveis e disponíveis para a dispersão por outros animais. Desta forma pode-se
dizer que esse ato corrobora o estudo de Janzen (1970), no qual a predação de sementes prédispersas, causada por insetos, é alta em frutos próximos a planta-mãe e diminui à medida que
se distância desta, ou seja, em sementes que são levadas por dispersores.
A espécie B. pomorum predou as sementes em frutos ainda na planta, e também
danificou e diminuiu as sementes viáveis para a dispersão. O adulto faz a oviposição na
semente em desenvolvimento, a larva se desenvolve no interior destas, alimentando-se do
albúmen, até atingir a fase adulta, quando faz um orifício na semente já madura e em seguida
47
constrói uma galeria na polpa do fruto para sair (Pereira, Anjos & Picanço 1997, Pereira,
Anjos & Eiras 2003).
Assim, as diferentes interações dos animais com o araticum, tanto de dispersão como
de predação, podem propiciar o controle populacional dessa espécie na comunidade, pois de
acordo com Van der Pijl (1982), muitos frutos são consumidos por aves e mamíferos, e esse
consumo por vários animais pode contribuir para uma maior amplitude de dispersão de
sementes, em diferentes locais de deposição, o que aumenta a probabilidade de
estabelecimento.
Dentre esses animais, T. terrestris se destacou pela alta freqüência de visitação em
plantas de araticum, grande quantidade de frutos consumidos, eliminação de sementes intactas
em locais de terreno seco (provavelmente propícios à germinação), sendo assim, considerada
importante dispersora de sementes de A. crassiflora em área de cerrado sentido restrito, ao
mesmo tempo esse fruto foi também um recurso alimentar importante para as antas dessa
região.
Contudo, apesar de ter sido verificada a maior parte dos critérios de eficiência de
dispersão, ainda não se pode afirmar que T. terrestris é eficiente dispersora de sementes de
araticum, pelo fato de ser insignificante a porcentagem de sementes germinadas que passaram
pelo seu trato digestório.
Os resultados obtidos nesse trabalho mostraram a variedade de animais associados aos
frutos de araticum, que possuíram relações de dispersão, com destaque de T. terrestris, e
predação de sementes por S. rufus e B. pomorum. Provavelmente esses animais são
importantes para aumentar a variabilidade genética e controlar a população de A. crassiflora
em área de cerrado sentido restrito.
AGRADECIMNENTOS
Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Estado
de Mato Grosso – UNEMAT, pela oportunidade de desenvolvermos esse estudo. À Marilza
da Costa pelo auxílio na coleta dos dados. Aos Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello e Dr. Paschoal
Grossi pela identificação dos Scarabaeidae. Ao Clodoveu Franciosi, por ceder a área da
Fazenda para a realização deste trabalho, e apoio logístico. Ao PROBIO pelo suporte
financeiro e à CAPES pela concessão da bolsa de estudos.
48
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alimentares de quati (Nasua nasua) e cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) na Fazenda
Nhumirim, Pantanal, MS. Anais XXVII Congresso Brasileiro de Zoologia.
52
Figura 1: Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo, inserida nos municípios de
Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso, Brasil. Fonte:
Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e da
Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum: SAD69
Brasil.
53
Figura 2: Mapa da distribuição espacial de plantas de araticum (Annona crassiflora) em
frutificação, com densidade de 32 ind./km2, das amostras fecais coletadas de Tapirus
terrestris e as miçangas das plantas encontradas em duas amostras fecais. Localização da
nascente do Córrego do Pilão, inseridas na Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso. Fonte:
Imagem Google Earth em cor verdadeira, TerraMetrics © 2008. Coordenadas UTM Datum:
SAD69 Brasil.
54
Tabela 1: Fauna consumidora de araticum em área de cerrado sentido restrito da Fazenda
Aparecida da Serra, MT. Valores mostram a freqüência de visitação (FV) por animais em
plantas de araticum, número total de frutos consumidos e frutos totalmente e parcialmente
consumidos com suas respectivas porcentagens.
55
5. ANEXOS
Anexo I: Normas para formatação e envio do Capítulo I para o livro: “GESTÃO E
EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO PROCAD AMAZÔNIA”. Volume
I.
Organizadores Responsáveis: José Eduardo dos Santos & Carla Galbiati
APRESENTAÇÃO
A publicação do Livro "GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO
PROCAD AMAZÔNIA”, Volume I, representa uma estratégia fundamental para reunir e
resgatar a pesquisa relacionada à gestão e educação ambiental, desenvolvida por
pesquisadores credenciados nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA), UNEMAT, MT. Pretende descrever o estado da arte e o direcionamento das atividades
de pesquisa no âmbito do PPG-CA, associadas a um processo de capacitação de recursos
humanos, na perspectiva da formação de gestores e educadores ambientais e de núcleos
potenciais de pesquisa em suas instituições de origem e vínculo empregatício.
O conteúdo do livro deverá contemplar capítulos, envolvendo a abordagem e /ou
desenvolvimento conceitual e aplicação da fundamentação teórica da e gestão e educação
ambiental e das políticas públicas associadas aos mesmos;
- aos ambientes naturais, representados por diversas categorias de Unidades de Conservação,
tratando em sua maioria de aspectos descritivos do padrão espacial (estrutura) da paisagem,
principalmente relacionado aos usos da terra na perspectiva do zoneamento ambiental e do
plano de manejo das Unidades de Conservação;
- as unidades de gerenciamento da paisagem, basicamente caracterizadas pelas bacias
hidrográficas, analisando desde os aspectos conceituais e estruturais da paisagem até os
processos histórico e desenvolvimentista responsáveis pela atual fragmentação e
heterogeneidade espacial da mesma na perspectiva do desenvolvimento sustentável ou para a
conservação da biodiversidade;
- aos estudos que enfatizam a integração dos aspectos conceituais e aplicados específicos à
dimensão ecológica, bem como a incorporação das dimensões sócio-econômica, histórica e
sócio-cultural para a compreensão e manejo de unidades de gerenciamento da paisagem.
Em síntese, esta publicação representa uma contribuição para o exercício de uma ciência
integrada, baseada na aplicação dos princípios para a implementação efetiva da inserção
social junto a gestão ambiental, como contrapartida aos esforços efetuados na formação e
capacitação de recursos humanos. Provavelmente, sua maior contribuição será a de promover
uma mudança na forma com que as investigações possam ser conduzidas pelos ecólogos,
educadores, planejadores e tomadores de decisão ao enfatizar a importância da integração das
dimensões sócio-econômica-cultural junto a ecológica na gestão ambiental.
INFORMAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DOS TEXTOS
Objetivos
Organização do conhecimento científico relacionado aos processos de como as atividades
humanas, tanto deliberada como inadvertidamente, vêm modificando os padrões e processos
existentes na paisagem e de organização social, alterando a estrutura e funcionamento de
diferentes sistemas ambientais e sociais. A compreensão destes padrões e processos no âmbito
da gestão ambiental é de importância fundamental para o planejamento e manejo racional do
uso da terra, seja na perspectiva da produção ou para a conservação da biodiversidade.
Instruções para os autores
56
Os trabalhos deverão ser redigidos de forma concisa, com exatidão e clareza para a
compreensão dos mesmos. Serão considerados para publicação somente aqueles previamente
submetidos aos Exames de Qualificação junto ao PPG-CA, e à análise de revisores, conforme
a indicação dos Organizadores, bem como estarem enquadrados nas normas definidas para a
elaboração dos mesmos.
A necessidade de correção, após a realização dos Exames de Qualificação, com base nas
considerações efetuadas pelos componentes da banca Examinadora será efetuada pelos
próprios autores.
O trabalho deverá ter, no máximo, 30 páginas, incluindo tabelas e figuras. O texto deve ser
preparado em Word for Windows em disquete ou CD .
Texto
O trabalho deverá ser digitado em papel tipo A4, espaço simples, com margem 3 cm à
esquerda e 2cm à direita, Times New Roman 12.
De modo geral, o trabalho deverá constar com os seguintes ítens:
Modelo 1:
Título; Autores: Filiação Profissional, Endereço e e-mail; Abstract, Key-words; Resumo;
Palavras-chave; Introdução; Material e Métodos; Resultados / Discussão e Referências
Bibliográficas.
A seriação dos itens de Introdução até Agradecimentos só se aplica aos trabalhos capazes de
adotá-la.
O texto deve conter os locais onde as tabelas & figuras devem ser inseridas.
Título do Trabalho: Deve conter a idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível.
Negrito. Times New Roman 12.
Nomes Completos dos Autores (Times New Roman 12, Negrito)
Instituições & Endereços & e-mail (Times New Roman 10)
Resumo (Times New Roman - 10)
Palavras-Chave (máximo de 5)
Abstract e Título do trabalho em inglês (Times New Roman 10)
Key-words (máximo de 5)
Referências Bibliográficas
No texto será usado o sistema AUTOR - ANO para as citações bibliográficas, utilizando-se
(&) no caso de dois autores e et al . no caso de mais de dois autores.
As referências bibliográficas deverão constar em ordem alfabética. Deverão conter nome(s) e
iniciais do(s) autor(es), ano, título por extenso, nome da revista, volume e primeira e última
páginas.
Citações de livros deverão incluir a Editora e, conforme citação, indicar o capítulo do livro.
Deve(m) também constar o(s) nome(s) do editor(es) da coletânea e total de páginas.
Tabelas & Figuras
As tabelas e figuras devem vir em páginas separadas do texto, mas com indicação do local
onde devem ser inseridas no texto. Devem ser numeradas em algarismo arábico, com os
títulos explicativos e demais informações necessárias à compreensão das mesmas.
As Figuras deverão estar necessariamente na forma de documento JPEG, TIFF ou PCX.
RECOMENDAÇÕES
Na preparação do material ilustrativo (tabelas & figuras), deve ser considerado
o tamanho da página útil do Livro (14 x 20 cm), bem como a idéia de conservar
o sentido vertical e que as mesmas serão publicadas em branco& preto.
Figuras exageradamente grandes poderão perder a nitidez quando reduzidas às
dimensões da página útil.
57
Anexo II: Normas para formatação e envio do Capítulo II para a Revista Brasileira de
Zoologia.
INSTRUCTION TO AUTHORS
GENERAL ORIENTATIONS
Manuscripts should be prepared preferentially in English but Portuguese is accepted. The
authors should be aware that the intention of the editorial board of RBZool is to only
publish articles in English in the near future. Manuscript submission to RBZool is available
online only at the address http://submission.scielo.br/index.php/rbzool/index. Register in
this page at least as author of the Revista Brasileira de Zoologia. The system is userfriendly and allows authors to monitor the submission process. All documents should be
prepared with a word processor software (preferably MS WORD or compatible).
RBZool refrains from publishing simple occurrence notes, new records (e.g.
geographic, host), distribution notes, case studies, list of species, and similar purely
descriptive studies, unless well justified by the authors. Justification should be sent
prior submission to the Managing Editor. A new journal, Zoologia Letters, is being
prepared to attend the need of publication of significant new records, morphological and
behavioral notes and other short notes considered of importance to the understanding of
animal evolution, biogeography, or biology.
RESPONSIBILITY
Manuscripts are received by RBZool with the understanding that:
– all authors have approved submission;
–the results or ideas contained therein are original;
–the paper is not under consideration for publication elsewhere and will not be submitted
elsewhere unless rejected by RBZool or withdrawn by written notification to the Managing
Editor;
–if accepted for publication and published, the article, or portions thereof, will not be
published elsewhere unless consent is obtained in writing from the Managing Editor;
–reproduction and fair use of articles in RBZool are permitted provided the intended use is
for nonprofit educational purposes. All other use requires consent and fees where
appropriate;
–the obligation for page charges and text revision fees is accepted by the authors.
–the authors are fully responsible for the scientific content and grammar of the article.
FORMS OF PUBLICATION
Articles: original articles on all areas of the Zoology.
MANUSCRIPTS
The text should be left-justified and the pages numbered. The front page must include: 1)
the title of the article including the name(s) of the higher taxonomic category(ies) of the
animals treated; 2) the name(s) of the author(s) with their professional affiliation. 3) Name
of the Corresponding Author with complete addresses for correspondence, including email; 4) an abstract and key words in same language of the article, or in Portuguese if the
article is in English, and equivalent to those used in the English abstract; 5) up to five key
words in English, in alphabetical order and different of those words used in the title. The
total information on the items 1 to 5 cannot exceed 3,500 characters including the spaces.
58
Literature citations should be typed in small capitals, as follows: Smith (1990), (Smith
1990), Smith (1990: 128), Lent & Jurberg (1965), Guimarães et al. (1983). Articles by the
same author or sequences of citations should be in chronological order.
Only the names of genera and species should be typed in italics. The first citation of an
animal or plant taxon in the text must be accompanied by its author’s name in full, the date
(of plants, if possible) and the family.
The manuscript of scientific articles should be organized as indicated below. Other major
sections and subdivisions are possible but the Managing Editor and the Editorial
Committee should accept the proposed subdivision.
Articles and Invited Review
Title. Avoid verbiage such as “preliminary studies on...” and “biology or ecology of...”. Do
not use author and date citations with scientific names in the title. When taxon names are
mentioned in the title, it should be followed by the indication of higher categories in
parenthesis.
Abstract. The abstract should be factual (as opposed to indicative) and should outline the
objective, methods used, conclusions, and significance of the study. Text of the abstract
should not be subdivided nor should it contain literature citations. It should contain a single
paragraph.
Key words. Up to five key words in English, in alphabetical order and different of those
words used in the title, separated by semicolon. Avoid using composite key words.
Introduction. The introduction should establish the context of the paper by stating the
general field of interest, presenting findings of others that will be challenged or expanded,
and specifying the specific question to be addressed. Accounts of previous work should be
limited to the minimum information necessary to give an appropriate perspective. The
introduction should not be subdivided.
Material and Methods. This section should be short and concise. It should give sufficient
information to permit repetition of the study by others. Previously published or standard
techniques must be referenced, but not detailed. If the material and methods section is
short, it should not be subdivided. Avoid extensive division into paragraphs.
Results. This section should contain a concise account of the new information. Tables and
figures are to be used as appropriate, but information presented in them should not be
repeated in the text. Avoid detailing methods and interpreting results in this section.
Taxonomic papers have a distinct style that must be adhered to in preparing a manuscript.
In taxonomic papersthe results section is to be replaced by a section headed
DESCRIPTION, beginning at the left-hand margin. The description is followed with a
taxonomic summary section. The taxonomicsummary section comprises a listing of site,
locality and specimens deposited (with respective collection numbers). The appropriate
citation sequence and format include: Country, Province or State: City or County (minor
area as locality, neighborhood, and others, lat long, altitude, all in parenthesis), number of
specimens, sex, collection date, collector followed by the word leg., collection number.
This is a general guideline that should be adapted to different situations and groups.
Several examples can be found at the website of SBZ.The taxonomic summary is followed
by a remarks section. The remarks section replaces the discussion of other articles and
gives comparisons to similar taxa. Museum accession numbers for appropriate type
material (new taxa) and for voucher specimens (surveys) are required. Type specimens,
especially holotypes (syntypes, cotypes), should not be maintained in a private collection.
Appropriate photographic material should be deposited if necessary. Frozen tissues must
also include accession numbers if deposited in a museum.
Discussion. An interpretation and explanation of the relationship of the results to existing
59
knowledge should appear in the discussion section. Emphasis should be placed on the
important new findings, and new hypotheses should be identified clearly. Conclusions
must be supported by fact or data. Subdivision are possible.
Acknowledgments. These should be concise. Ethics require that colleagues be consulted
before being acknowledged for their assistance in the study.
Literature Cited. Citations are arranged alphabetically. All references cited in the text must
appear in the literature cited section and all items in this section must be cited in the text.
Citation of unpublished studies or reports is not permitted, i.e., a volume and page number
must be available for serials and a city, publisher, and full pagination for books. Abstracts
not subjected to peer review may not be cited. Work may be cited as "in press" only
exceptionally. If absolutely necessary, a statement may be documented in the text of the
paper by "pers. comm.", providing the person cited is aware of the manuscript and the
reference to his person therein. Personal communications do not appear in the Literature
Cited section.
The references cited in the text should be listed at the end of the manuscript, according to
the examples below.
The title of each periodical must be complete, without abbreviations.
Periodicals
Nogueira, M.R.; A.L. Peracchi & A. Pol. 2002. Notes on the lesser white-lined bat,
Saccopteryx leptura (Schreber) (Chiroptera, Emballonuridae), from southeastern Brazil.
Revista Brasileira de Zoologia 19 (4): 1123-1130.
Lent, H. & J. Jurberg. 1980. Comentários sobre a genitália externa masculina em Triatoma
Laporte, 1832 (Hemiptera, Reduviidae). Revista Brasileira de Biologia 40 (3): 611-627.
Smith, D.R. 1990. A synopsis of the sawflies (Hymenoptera, Symphita) of America South
of the United States: Pergidae. Revista Brasileira de Entomologia 34 (1): 7-200.
Books
Hennig, W. 1981. Insect phylogeny. Chichester, John Wiley, XX+514p.
Chapterofbook
Hull, D.L. 1974. Darwinism and historiography, p. 388-402. In: T.F. Glick (Ed.). The
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Rica. Available at: http://www.inbio.ac.cr/papers/insectoscr/texto630.html [date of access].
Illustrations and Tables. Photographs, line drawings, graphs, and maps should be termed
figures. Photos must be clear and have good contrast. Please, organize, whenever possible,
line drawings (including graphics, if it is the case) as plates of figures or pictures
considering the size of the page of the journal. Never create plates with line figures and
half-tone together!
The size of an illustration, if necessary, should be indicated using horizontal or vertical
scale bars (never as a magnification in the legend).
Each figure must be numbered in Arabic numerals in the lower right corner. When
preparing the illustrations, authors should bear in mind that the journal has a matter size of
17.0 by 21.0 cm and a column size of 8,3 by 21,0 cm including space for captions. Figures
must be referred to in numerical sequence in the text; indicate the approximate placement
of each figure in the margins of the manuscript.
60
All figures should be inserted at the end of the text, following the tables for review
purposes. The authors should be aware that, if accepted for publication in RBZool, all
figures and graphics should be sent to the editor in the adequate quality (below).
Illustrations must be saved and sent as separate TIFF files with LZW compression. The
required final resolution is 300 for half-tone or color photos and 600 dpi for line art. Do not
send original drawings or photos when submitting the manuscript unless specifically
requested by the editor. Color figures can be published if the additional cost is covered by
the author. These figures should be also incorporated, with a lower resolution, directly in
the manuscript for review purposes only.
Tables should be generated by the table function of the word-processing program being
used, numbered in Roman numerals and inserted after the list of figures captions.
Captions of the figures should be typewritten right after the References. Use a separate
paragraph for the caption of each figure or group of figures.
Short Communications
Manuscripts are to be organized in a format similar to original articles with the following
modifications.
Text: The text of a research note (i.e. Introduction + Material and methods + Discussion) is
written directly, without sections. Acknowledgments may be given, without heading, as the
last paragraph. Literature is cited in the text as described for articles.
Literaturecited, tables, figurecaptions, and figures: These items are in the form and
sequence described for articles.
VOUCHER AND TYPE SPECIMENS
The manuscript should mention the museum or institution where the specimens are
deposited, when appropriate, as proof of the validity of the taxonomic identification.
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