VANESSA GOLIN FRUGIVORIA E DISPERSÃO DE SEMENTES DE ARATICUM ANNONA CRASSIFLORA MART. POR ANIMAIS EM ÁREA DE CERRADO MATOGROSSENSE Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre, em Ciências Ambientais. CÁCERES Mato Grosso 2008 VANESSA GOLIN FRUGIVORIA E DISPERSÃO DE SEMENTES DE ARATICUM ANNONA CRASSIFLORA MART. POR ANIMAIS EM ÁREA DE CERRADO MATOGROSSENSE Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre, em Ciências Ambientais. Orientadora: Profª. Drª. Mônica Josene Barbosa Pereira CÁCERES Mato Grosso 2008 Golin, Vanessa. G6262f Frugivoria e dispersão de sementes de Araticum Annona crassiflora Mat. por animais em área de Cerrado matogrossense / Vanessa Golin. – Cáceres, 2008. 62 f. ; 30 cm. Il. Color. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) – Universidade do Estado de Mato Grosso, 2008. Orientador: Mônica Josene Barbosa Pereira 1. Annona crassifora. 2. Cerrado. 3. Conservação. I. Autor. II. Título. CDU 631.53:504 FOLHA DE APROVAÇÃO O homem é parte da natureza e sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo... Temos pela frente um desafio como nunca a humanidade teve, de provar nossa maturidade e nosso domínio, não da natureza, mas de nós mesmos. Rachel Carson, 1962 Dedico esse trabalho Aos meus pais pela credibilidade, apoio e confiança. AGRADEÇO Primeiramente à Deus pela força durante a realização deste trabalho; À minha orientadora, Profª. Drª. Mônica, pelo desafio em me orientar, e pelas críticas e sugestões; Ao coorientador Dr. Manoel, pelas orientações na análise e discussão dos dados, e por sempre estar disposto em ajudar; À Profª. Drª. Beatriz Schwantes Morimon e ao Prof. Dr. José Eduardo, pelas sugestões na banca de qualificação; Ao Prof. Dr. Guilherme Mourão, pelas contribuições na banca de defesa; Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais; À meus queridos pais, Francisco (Chico) e Sônia, pela luta em proporcionarem a mim e aos meus irmãos os nossos estudos, e mesmo estando longe, sempre me deram força nas dificuldades; Ao mano véio, Ricardo, pelas conversas, críticas e incentivos. Ao maninho Henrique, que sempre teve paciência comigo; À minha segunda família tão amada, Tio Ninho, Tia Neusa, Ana (Aninha) e Fernando, pela acolhida, apoio, conselhos e pelos momentos de descontração. Vocês realmente fizeram a diferença em minha vida pessoal e profissional; Ao meu amado, Elison, pela compainha (até mesmo on-line), conselhos, e inúmeras ajudas, principalmente no geo-referenciamento das imagens; À minha sogra querida, Dona Luzia, pela acolhida, atenção e carinho; À minha cunhada, Dilma, por toda força e apoio; Aos velhos amigos que sempre estiveram comigo desde a graduação, Ricardo (Ric), Santo (Jú), Silva, Salma, Viviane (Vivi), Fábio e Phelipe pela compainha nas longas jornadas de estudo e de trabalho de campo, como também pelos diálogos e diversões; Ao Ricardo (Ric), Marilza (Mary), Erenilda (Nilda) e Diogo (Dioguito) pela intensa ajuda no campo desse trabalho; Aos novos amigos, Ivanete (mãezinha), Cláudia (Claudinha), Íris, Hugmar (Hugh), Darci (Kim) e Juan pelos conselhos, atenção, compainha e descontração entre uma jornada e outra de estudos; À todos os outros colegas de mestrado pelas construtivas discussões; Às secretárias, Ediléia e Kele, pela eficiência no trabalho, paciência e carinho; Aos motoristas, Seu Galvão, Seu Paulo e Seu Oacir, pelas incansáveis viagens ao campo e toda ajuda; À Dona Zulmira (Zuca) por ser uma mãe enquanto estive em trabalho de campo, e que a partir disto será para sempre; Ao Clodoveu Franciosi, por ceder a área da Fazenda para a realização deste trabalho, e disponibilizar alojamento e alimentação. Como também ao Edvaldo (gerente) e Eráclito (Iraque, secretário) pelo apoio; Aos biólogos que foram fundamentais neste trabalho, Dr. Dionei, pelas orientações no início da pesquisa, Msc. Mônica Aragona, pela disponibilidade e fornecimento de materiais bibliográficos; Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello e ao Dr. Paschoal Grossi pela identificação dos Scarabaeidae; Profª. Drª. Maria Antônia Carniello, pela identificação do material botânico e desafio de identificar as sementes, pela acolhida no Laboratório de Botânica da Universidade do Estado de Mato Grosso e pelos ensinamentos em botânica, profissional e ético; e à Profª. Drª. Augusta pela disponibilidade e ajuda na correção dos abstracts e dicas de escrita; Aos estagiários do Laboratório de Botânica, especialmente à Eliziane pela ajuda; Aos técnicos do Herbário da UFMT, Libério, pela disponibilidade e identificação das sementes; Ao Tiago pela intensa ajuda laboratorial; Ao prof. Leandro pelo apoio logístico, incluindo o fuscão; À Silva, Clair, Marino e Fernando, do viveiro Ziani Mudas Florestais, pela disponibilidade e ajuda; À Profª. Dr. Carla Galbiatti por disponibilizar o laboratório e a balança para pesar as sementes; À Profª. Milena e ao Prof. Ewerton pelas correções de português da dissertação. À Universidade do Estado de Mato Grosso pela oportunidade de estudo; À CAPES por ter fornecido bolsa na realização deste estudo; Por último, quero agradecer intensamente à Marilza (Mary), pela grande ajuda no trabalho de campo, por não medir esforços, e pela alegria que transmitia, tornando este trabalho mais agradável, mesmo nos momentos de intenso frio, calor, de chuva, de atoleiro, de carrapato na roupa, de cansaço. Não é qualquer uma que deixa a cidade para passar seu aniversário no mato, coletando e lavando fezes de anta, tenho certeza que você não se arrependeu. Valeu pela grande ajuda. SUMÁRIO RESUMO................................................................................................. ABSTRACT............................................................................................. Lista de Figuras...................................................................................... Lista de Tabelas..................................................................................... 1. INTRODUÇÃO GERAL....................................................................... 2. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GERAL........................................... 3. CAPÍTULO I: Frugivoria e dispersão de sementes por antas (Tapirus terrestris- Perissodactyla, Mamallia) em uma área de Cerrado no Mato Grosso....................................................................................... ABSTRACT............................................................................................. RESUMO................................................................................................. INTRODUÇÃO......................................................................................... MATERIAL E MÉTODOS........................................................................ Área de estudo...................................................................................... Procedimentos...................................................................................... Análises estatísticas.............................................................................. RESULTADOS........................................................................................ DISCUSSÃO............................................................................................ AGRADECIMENTOS............................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 4. CAPÍTULO II: Dispersão e predação de sementes de Annona crassiflora Mart. (Annonaceae) por animais em área de Cerrado no Mato Grosso, Brasil.................................................................................. ABSTRACT............................................................................................. RESUMO................................................................................................. INTRODUÇÃO......................................................................................... MATERIAL E MÉTODOS........................................................................ RESULTADOS........................................................................................ DISCUSSÃO............................................................................................ AGRADECIMENTOS............................................................................... LITERATURA CITADA............................................................................ 5. ANEXOS.............................................................................................. Anexo I: Normas para formatação e envio do Capítulo I para o livro: “GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO PROCAD AMAZÔNIA”. VOLUME I.......................................................... Anexo II: Normas para formatação e envio do Capítulo II para a Revista Brasileira de Zoologia................................................................. Páginas 8 9 10 11 12 18 21 21 21 22 23 23 24 24 25 27 30 30 36 36 37 37 39 41 42 48 48 54 55 57 RESUMO Annona crassiflora (araticum) é uma espécie nativa do Cerrado e produz frutos e sementes que servem como alimento para muitos animais. Este trabalho teve por objetivos identificar as sementes dos frutos consumidos por Tapirus terrestris e verificar a possível dispersão e a predação das sementes de araticum por animais, em Cerrado no Mato Grosso. Para isso acompanharam-se 95 plantas de araticum em frutificação, entre fevereiro e maio de 2007, em 300 ha de cerrado sentido restrito. Instalaram-se estações de pegadas sob as plantas de araticum, a fim de verificar a freqüência de visitação (FV) e o consumo de frutos por mamíferos. Sob as plantas marcadas, observaram-se as ações (predação ou dispersão) de insetos em frutos caídos, e coletados para posterior identificação. Analisou-se o consumo de frutos pelas antas através das fezes coletadas. Nas sementes encontradas nas amostras fecais fez-se a identificação e a quantificação. Utilizou-se o teste t para a comparação das sementes intactas e danificadas pelas antas e por insetos. Calculou-se a porcentagem de ocorrência de cada fruto; pesou-se as sementes; e se observou a freqüência de ocorrência de araticum nas amostras fecais. A distância de dispersão das sementes de araticum realizou-se através de miçangas coloridas, inseridas nos frutos. Tomaram-se medidas desde o local em que as fezes foram encontradas com miçanga até a planta da mesma cor da miçanga que estava inserida no fruto. Realizou-se teste de germinação com sementes retiradas de frutos e com sementes coletadas de fezes de antas. Dentre os animais que se alimentaram de frutos de araticum, a anta (T. terrestris) foi a espécie com maior FV e de consumo de frutos (72,34%, 71,43%), seguidos de outros vertebrados tais como mamíferos não identificados (20,21%, 21,21%), lobete (Cerdocyon thous) (1,06%, 2,16%), tatu (Dasypus sp.) (2,13%, 1,73%), aves não identificadas (2,13%, 1,73%), veado catingueiro (Mazama gouazoubira) (1,06%, 0,9%) e gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) (1,06%, 0,86%). Os insetos da família Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis e Canthon sp., alimentaram-se da polpa de frutos e enterraram sementes de araticum, e os da família Curculionidae, Spermologus rufus, predaram e enterraram as sementes. A dieta de T. terrestris, apresentou 36 espécies de frutos, através da análise de 237 amostras fecais, A. crassiflora foi a terceira espécie com maior porcentagem e freqüência de ocorrência (15,11% e 54,01%), sem danificar as sementes (t=4,17, p<0,001). Os insetos S. rufus e Bephratelloides pomorum (Eurytomidae) danificaram significativamente as sementes (t=4,72, p<0,001), quando comparada às sementes danificadas pelas antas. Os locais de defecação das antas ocorreram em terrenos secos, e foram encontradas duas amostras fecais a 1,7 e 1,8 km de distância das plantas de araticum respectivamente. Ocorreu germinação de 4% apenas das sementes que consumidas pelas antas, no período de 414 dias. Conclui-se que várias espécies de animais consumem frutos de araticum, principalmente, T. terrestris, importante dispersora de sementes, e a interação de insetos em sementes de araticum, como prováveis dispersores e predadores, nas plantas e nas fezes de antas. Esses resultados são relevantes na dinâmica populacional e conservação de A. crassiflora no Cerrado. Palavras-chave: Annona crassiflora, animais, dispersão, predação, Cerrado, Conservação. ABSTRACT Annona crassiflora Mart. (araticum) is a native species of the Cerrado and produces fruits and seeds that serve as food for many animals. The objectives of this work went: to identify the seeds of the fruits consumed by Tapirus terrestris and to verify the possible seeds dispersion and the predation of araticum for animals, in Cerrado in the Mato Grosso States. For this 95 araticum plants in fructification were evaluated, between February and May of 2007, in 300 ha of cerrado stricto sensu. Tracks stations were installed under the araticum plants, in order to verify the visitation frequency (FV) and the consumption of fruits by mammals. Under the marked plants, the actions of insects (predation or dispersal) were observed in fallen fruits, and collected for subsequent identification. The consumption of fruits by tapirs was analyzed through the feces collected. The seeds found in the fecal samples it were identified and quantified. The t test was used for the comparison of intact and damaged seeds by the tapirs and insects. The percentage of occurrence of each fruit was calculated; the seeds were weighed; and the araticum frequency of occurrence was observed in the fecal samples. The distance of dispersion of the araticum seeds was accomplished through colored bead inserted in the fruits. Measures were taken from the place in that the feces were found with bead until the plant of the same color of the bead that was inserted in the fruit. Germination test was accomplished with seeds removed directly of fruits and with seeds collected of feces from tapirs. Among the animals that fed of araticum fruits, the tapir (T. terrestris) it was the species with larger FV and of consumption of fruits (72,34%, 71,43%), followed by other vertebrates such as mammals unidentified (20.21%, 21.21%), crab-eating fox (Cerdocyon thous) (1.06%, 2.16%), armadillo (Dasypus sp.) (2.13%, 1.73%), birds unidentified (2.13%, 1.73%), grey brocket deer (Mazama gouazoubira) (1.06%, 0.9%) and Curl-crested Jay (Cyanocorax cristatellus) (1.06%, 0.86%). The insects of the family Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis and Canthon sp. consumed the fruits pulp and buried araticum seeds, and the family Curculionidae, Spermologus rufus, broked and buried the seeds. The diet of T. terrestris, presented 36 species of fruits, through the analysis of 237 fecal samples, being A. crassiflora the third species with larger percentage and frequency of occurrence (15,11% and 54,01%), not damaging the seeds (t=4,17, p <0,001). The insects S. rufus and Bephratelloides pomorum (Eurytomidae) damaged the seeds significantly (t=4,72, p <0,001), when compared to the damaged seeds by tapirs. The places of defecation of the tapirs happened on dry lands, and two fecal samples were found to 1,7 and 1,8 km of it distance of the araticum plants respectively. It just happened germination of 4% of the seeds that past by the gut tube of the tapir, in the period of 314 days. It is concluded that several species of animals consume araticum fruits, mainly, T. terrestris, important disperser of seeds, and It was verified the interaction of insects in araticum seeds, as probable seeds dispersers and predators, in the plants and in the tapirs feces. These results are relevant in the population dynamics and conservation of A. crassiflora in the Cerrado. Key-words: Annona crassiflora, animals, dispersal, predation, Cerrado, Conservation. Lista de Figuras Páginas Capítulo I Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo inserida na Fazenda Aparecida da Serra, nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso. Fonte: Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG SEPLAN-MT e Secretaria do Estado de Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum: SAD69 Brasil...................................... 23 Figura 2 - Curva de rarefação estimada para a área de estudo da Fazenda Aparecida da Serra, que mostra o número de espécies de frutos consumidas em função do número de amostras fecais de Tapirus terrestris..................................................................................................... 25 Capítulo II Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo, inserida nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso, Brasil. Fonte: Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum: SAD69 Brasil............................................................ 52 Figura 2: Mapa da distribuição espacial de plantas de araticum (Annona crassiflora) em frutificação, com densidade de 32 ind./km2, das amostras fecais coletadas de Tapirus terrestris e as miçangas das plantas encontradas em duas amostras fecais. Localização da nascente do Córrego do Pilão, inseridas na Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso. Fonte: Imagem Google Earth em cor verdadeira, TerraMetrics © 2008. Coordenadas UTM Datum: SAD69 Brasil.................................... 53 Lista de Tabelas Páginas Capítulo I Tabela 1. Relação dos frutos consumidos por Tapirus terrestris na Fazenda Aparecida da Serra, MT, por ordem de ocorrência. Porcentagem de ocorrência de cada fruto no total de frutos consumidos (PO), número de sementes quantificadas e peso seco total de sementes................................................................................................... 34 Tabela 2. Relação do número de sementes ingeridas pela anta (Tapirus terrestris) na Fazenda Aparecida da Serra, MT: total, intactas, total danificadas, pela anta e por insetos.......................................................... 35 Capítulo II Tabela 1: Fauna consumidora de araticum em área de cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, MT. Valores mostram a freqüência de visitação (FV) por animais em plantas de araticum, número total de frutos consumidos e frutos totalmente e parcialmente consumidos com suas respectivas porcentagens..................................... 54 12 1. INTRODUCAO GERAL A vegetação savânica brasileira, chamada de Cerrado, compreende uma biodiversidade surpreendente em dois milhões de quilômetros quadrados, espalhados por dez estados (RATTER, RIBEIRO e BRIDGEWATER, 1997; RIBEIRO e WALTER, 1998). Este bioma é uma das 34 áreas do mundo consideradas críticas para a conservação, denominadas de Hotspots, devido sua riqueza biológica e por restarem apenas 21% de sua vegetação original (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL, 2008). No entanto, ele está ameaçado pela alta pressão antrópica, principalmente quando relacionado às atividades econômicas de monocultura intensiva de grãos e de pecuária extensiva, as quais têm o potencial de diminuir drasticamente a biodiversidade, e, especialmente em vista das limitações das áreas protegidas; pequenas em número e concentradas em poucas regiões (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS, 2002). O principal período de frutificação nesse bioma é durante os meses quentes e úmidos de novembro a janeiro, com uma diminuição durante os meses secos, especialmente julho e agosto (OLIVEIRA, 1998). A maior parte das espécies zoocóricas (dispersão por animais) amadurece seus frutos durante o período quente e úmido, enquanto que o número de espécies anemo – autocóricas (dispersão pelo vento e por gravidade), a frutificação é mais alta no início da estação seca (OLIVEIRA, 1998). Dentre as espécies vegetais existentes no Cerrado estão as representantes da família Annonaceae, a qual possui 120 gêneros e aproximadamente 2.100 13 espécies, a maioria constituída por plantas lenhosas, de ocorrência predominantemente tropical (CARVALHO, 2003). No Brasil, estão registrados 29 gêneros e cerca de 260 espécies dessa família (BARROSO et al., 2002). No Cerrado, das 28 espécies que ocorrem apenas 19 são realmente típicas: uma de Xylopia, uma de Cardiopetalum, quatro de Duguetia e treze de Annona (GOTTSBERGER, 1994). No gênero Annona estão algumas espécies produtoras de frutos comestíveis, como A. crassiflora Mart. (RIBEIRO et al., 2000; CARVALHO, 2003) popularmente chamada de araticum, cabeça-de-negro, pinha-do-cerrado e marôlo, que possui ocorrência em fitofisionomias campestres de cerrado, em cerrado sentido restrito e em cerradão, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Tocantins (LORENZI, 2002; DURIGAN, 2004). Essa espécie apresenta altura de 4 a 8 metros, tronco geralmente tortuoso de 20 a 30 cm de diâmetro, revestido por casca áspera e corticosa que resiste a ação do fogo (LORENZI, 2002). Possui folhas alternas, simples, com ápice e base arredondadas, flores solitárias, axilares, com pétalas engrossadas e carnosas; e florescendo durante os meses de outubro a novembro (LORENZI, 2002). Seus frutos são do tipo baga, com grande número de sementes por fruto (de 31 a 168), polpa levemente adocicada e de cheiro agradável, pesam de 500 a 1630 g (NAVES et al.,1995; LORENZI, 2002). Conforme Pott et al. (2004) suas sementes possuem substâncias tóxicas e de acordo com Rizzini (1997) possuem bloqueio do tipo morfológico, ou seja, indiferenciação do embrião, sendo que não podem crescer sem primeiro completar o seu desenvolvimento. 14 As taxas de germinação dessas sementes em experimentos realizados em caixas de areia foi de 100% entre 237 a 287 dias no ano de 1969, 82% entre 265300 dias no ano de 1970 e obteve 78% entre 219 a 290 dias no ano de 1971, porém observou-se que em sementes retardadas ocorreu germinação de 12% em 566-619 dias (RIZZINI, 1973). Essa espécie apresenta baixa taxa de frutificação e seus frutos amadurecem a partir de janeiro-fevereiro, e a dispersão dá-se principalmente de forma zoocórica (BARROSO, 1999; RIBEIRO et al., 1999; LORENZI, 2002). Existem milhares de espécies vegetais no mundo que produzem frutos adaptados ao consumo e dispersão de sementes por animais, principalmente aves e mamíferos, num processo recíproco (mutualístico), porque ambas as partes obtêm benefícios, que é muito importante na evolução e manutenção destas espécies vegetais (VAN DER PIJL, 1982). Todavia a eficácia da dispersão pelos diferentes agentes depende de fatores quantitativos e qualitativos das sementes dispersas. Nos fatores quantitativos levamse em consideração o número de visitas feitas pelos dispersores e o número de sementes dispersas por visita. Por sua vez, os fatores qualitativos contribuem para verificar a probabilidade de uma semente dispersa gerar uma nova planta, além de considerar a qualidade de deposição da semente após passar pelo trato digestório do dispersor (SCHUPP, 1993). O fenômeno de dispersão por mamíferos é bem desenvolvido ou presente em regiões tropicais, em que certas plantas produzem poucos frutos, grandes e nutritivos (ricos em proteínas e lipídios). Assim, as características de diáspores consumidas por mamíferos são: casca resistente, que não impede a oferta; proteção das sementes apropriada contra o mecanismo de destruição, que é ajudada pela 15 presença de substâncias tóxicas ou amargas; um odor favorável para atração; não essencialidade de cor e tamanho grande (VAN DER PIJL, 1982). Os mamíferos têm suas características adaptadas ao consumo desses frutos como: olfato desenvolvido, providos de dentes, são na maior parte grandes, raramente possuem a vantagem de hábito arbóreo, e geralmente se alimentam à noite, quando as cores estão camufladas (VAN DER PIJL, 1982). Dentre os mamíferos que consomem frutos da família Annonaceae, com a possibilidade de dispersarem ou predarem suas sementes, está a anta Tapirus terrestris (Linnaeus) (BODMER, 1991; TÓFOLI, 2006). Os canídeos também se alimentam de araticum como o lobete Cerdocyon thous (Linnaeus 1766) citado por Xavier-Filho (2008) e o lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger 1815) citado por Aragona e Setz (2001), Bueno, Belentani e Motta-Júnior (2002), Rodrigues (2002) e Bueno e Motta-Júnior (2004). Os veados Mazama americana (Erxleben 1777) e M. gouazoubira podem se alimentar de araticum e serem predadores de sementes (FISCHER, 1814; BODMER, 1989; BODMER, 1990b; BODMER, 1991). Além de mamíferos, várias espécies de aves também consomem frutos de Annonaceae (FRISCH e FRISCH, 2005). A anta é dispersora de altas porcentagens de sementes intactas de araticum (BODMER, 1991; TÓFOLI, 2006). Ela é particularmente importante na estrutura ecológica de várias espécies de plantas, porque pode distribuir variedade e grande quantidade de sementes, portando-se muitas vezes como espécie-chave. Assim sua ausência pode causar rompimento de processos-chave na manutenção da diversidade e funcionamento do ecossistema (BODMER, 1989; 1990a; 1991). 16 Para Alho (1993), uma das causas do comprometimento da conservação de mamíferos de grande porte no Cerrado, como a anta, está relacionada à fragmentação desse bioma. Este problema é especialmente severo para a anta, já que sua densidade populacional está associada a características na paisagem, condições de habitat e disponibilidade de frutos (BODMER, 1990a). De acordo com estudos de Trolle (2007), a densidade de antas em formações florestais foi 0,71 indivíduos km-2, e em formações campestres de 0,31 indivíduos km-2. A dispersão de sementes por animais em novas áreas, segundo a hipótese de escape, é afetada pela predação por insetos (pré-dispersão), que reduz o número de sementes dispersas para longe da planta-mãe, e consequentemente, diminui a densidade populacional da espécie (JANZEN, 1970). Essa hipótese baseia-se na mortalidade das sementes, que depende da densidade de sementes nas proximidades das plantas adultas da mesma espécie, como o caso da predação de insetos que concentram suas atividades em locais aonde os recursos são comuns e abundantes. Essa predação de sementes é maior próximo aos adultos da mesma espécie, devido aos predadores que respondem à distância das sementes, ou seja, procuram por sementes apenas na vizinhança dos adultos, e ignoram aquelas que estão mais distantes (JANZEN, 1970). Em A. crassiflora, alguns insetos utilizam as sementes dos frutos para a oviposição. A larva se desenvolve ao alimentar-se do endosperma, até atingir a fase adulta, e nesta fase faz um orifício na semente para sair, como Bephratelloides pomorum (Hymenoptera: Eurytomidae) (PEREIRA, ANJOS e PICANÇO, 1997; PEREIRA, ANJOS e EIRAS, 2003) e Spermologus rufus (Coleoptera: Curculionidae) (BARRETO e ANJOS, 2002). 17 Outros insetos podem agir como dispersores de sementes, como da família Scarabaeidae, pelo fato de se alimentarem de frutos em decomposição (saprófagos) e formarem túnel para enterrar as sementes (escavadores) (HALFFTER e MATTHEWS, 1966). Desse modo, são importantes nos estudos de frugivoria e dispersão de sementes, para ampliar os conhecimentos do funcionamento das relações ecológicas nos ecossistemas do Cerrado, que possam contribuir para planos de conservação de espécies e seus habitats. Portanto, este estudo de frugivoria e dispersão de sementes de A. crassiflora por animais está organizado em capítulos. O primeiro capítulo teve por objetivo identificar as sementes de frutos consumidos por T. terrestris e analisar sua predação e dispersão de sementes no cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso, no período de março a maio, a fim de contribuir na gestão, manejo e conservação de áreas de Cerrado. No segundo e último capítulo o objetivo foi verificar a dispersão e a predação de sementes de A. crassiflora por animais no cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso. 18 2. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GERAL Alho, C. J. R. Distribuição da fauna num gradiente de recursos em mosaico. In: Pinto, N. M. (Org.). Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. 2. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1993. p. 213 - 262. Aragona, M.; Setz, E. Z. F. 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The intact and damaged seeds by tapirs were identified, quantified and submitted to t test for analyze. The percentage of occurrence (PO) of each fruit among all the items consumed was calculated, as well as all seeds were weighed. 36 plants species were identified through the seeds contained in 237 samples fecal of tapirs. The higher occurrences were to Emmotum nitens (20,31%), Buchenavia tomentosa (19,85%) and Annona crassiflora (15,11%). The species with higher percentages of number from seeds and weight were B. tomentosa (51,36% e 66,6%), E. nitens (24,85% e 20,55%), Buchenavia sp. (10,09% e 3,97%) and A. crassiflora (5,63% e 2,84%) respectively. E. nitens was the specie more damaged by tapirs, representing at 88,93% of the damaged seeds, with 53,67% of their seeds broked during the mastication. T. terrestris consumed large variety of fruits, with that she can be an important dispersal, specially of B. tomentosa e A. crassiflora, due to your high consumption, significant amounts of intact seeds eliminated at suitable places to germination. Thus, the present study showed the importance of T. terrestris species conservation, and through of this to preserve many plants species through the dispersal of your seeds. Key-words: Tapir, fruits, seed dispersal, Cerrado, conservation Resumo O presente trabalho teve por objetivo analisar o consumo de frutos e a dispersão de sementes pelas antas (Tapirus terrestris), em área de cerrado sentido restrito na Fazenda Aparecida da Serra, Tangará da Serra, Mato Grosso, a fim de contribuir com a gestão, manejo e conservação dessas áreas. Para verificar o consumo de frutos pela anta, procuraram-se fezes em latrinas ou individualmente, na área de cerrado estudada (300 ha), no período de março a maio de 2007. Fez-se a identificação, quantificação e análise, a partir do teste t, das sementes intactas e danificadas pelas antas. Calculou-se a porcentagem de ocorrência (PO) de cada fruto dentre todos os itens consumidos, e também pesou-se todas as sementes. No total foram identificadas 36 espécies de plantas através das sementes contidas em 237 amostras fecais de antas. As maiores ocorrências foram de Emmotum nitens (20,31%), Buchenavia tomentosa (19,85%) e Annona crassiflora (15,11%). As espécies que apresentaram maiores porcentagens de número de sementes e pesos foram respectivamente B. tomentosa (51,36% e 66,6%), E. nitens (24,85% e 20,55%), Buchenavia sp. (10,09% e 3,97%) e A. crassiflora (5,63% e 2,84%). E. nitens foi a espécie mais danificada pela anta, representando 88,93% do total das sementes danificadas, com 53,67% de suas sementes quebradas durante a mastigação. T. terrestris consumiu grande variedade de frutos, e com isso pode ser uma importante dispersora, principalmente de B. tomentosa e A. crassiflora devido ao seu alto consumo e quantidades significativas de sementes intactas eliminadas em locais propícios à germinação. Assim o presente estudo mostrou a importância de se conservar a espécie T. terrestris e por meio desta preservar muitas espécies vegetais através da dispersão de suas sementes. Palavras-chave: Anta, frutos, dispersão de sementes, Cerrado, conservação. 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT, Cáceres, MT. ([email protected]). 2 Depto de Ciências Biológicas Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. 3 Depto de Agronomia Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Programa de PósGraduação em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. ([email protected]). 22 Introdução O estudo de frugivoria avalia qualitativa e quantitativamente quais os frutos consumidos pela fauna. Visto que determinados animais têm grande dependência de certas plantas (espécies-chave) como fonte de alimento, é crucial protegê-las e manejá-las corretamente, pois a extinção dessas plantas pode ocasionar extinção em cadeia de outras espécies que formam as teias alimentares nas comunidades (Galetti et al., 2003). Desse modo, estes animais que se alimentam de determinado fruto de uma planta podem ser os dispersores de suas sementes (dispersão zoocórica), nesse caso deve-se avaliar o número de sementes dispersadas, a viabilidade dessas sementes, a distância de dispersão e o local em que são depositadas (Schupp, 1993). Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) é o maior frugívoro do Brasil (Emmons & Feer, 1997; Eisenberg & Redford, 1999). Esta espécie necessita de grandes áreas para viver, já que sua dieta é constituída de uma variedade de frutos, os quais são importantes pelo valor nutricional, e age como dispersora e algumas vezes como predadora de sementes, considerada, dessa forma, importante na estrutura ecológica dos ecossistemas (Coates-Estrada & Estrada, 1988; Janzen, 1971; Bodmer, 1991; Alho, 1993; Jordano, 1995; Fragoso & Huffman, 2000; Jordano et al. 2006; Tófoli, 2006). A diferença na sua densidade populacional está associada a características da paisagem, condições de habitat e disponibilidade de frutos (Bodmer, 1990). Percebe-se, em estudos de Trolle (2007), que a densidade de antas em formações florestais foi (0,71 ind./km2) 95% maior que em formações campestres (0,31 ind./km2), possivelmente devido a maior disponibilidade de alimento e por ser um ambiente mais seguro. Alguns estudos a respeito da dieta de T. terrestris e sua dispersão de sementes foram realizados em várias regiões, como na Amazônia (Bodmer, 1990; Fragoso & Huffman, 2000; Henry et al., 2000) e na Floresta Atlântica (Galetti et al., 2001; Tófoli, 2006), mas no Cerrado ainda são raros, apenas Bizerril et al. (2005) realizou estudo a respeito do consumo e dispersão de sementes de Dimorphandra mollis Benth. (fava d’anta). T. terrestris age em processo simbiótico com muitas espécies de plantas (Coates-Estrada & Estrada, 1988; Jordano, 1995). No Cerrado pode haver adaptação nas características de frutos, como na família Combretaceae, que apresenta os frutos com mesocarpo fibroso-carnoso, adocicado e endocarpo fortemente pétreo; e na família Annonaceae, em que os frutos têm cheiro agradável e polpa adocicada (Barroso, 1999; Lorenzi, 2002). Dentre as inúmeras vantagens que as espécies de plantas possuem, devido ao consumo de seus frutos por mamíferos, está o distanciamento das sementes dos arredores da planta-mãe, onde há uma intensa predação das sementes e plântulas pelos animais granívoros e herbívoros (Janzen, 1970). Estes frugívoros dispersores de sementes também têm o potencial de ajudar na restauração de ambientes degradados e perpetuarem as espécies vegetais, por isso, os estudos de relação animal-planta podem ser aplicados em manejo florestal (Joseph & Wunderle, 1997). Por isso é crucial a conservação de dispersores como a anta, pois se encontra atualmente vulnerável à extinção, em todo território nacional, pois apesar de existirem muitas populações nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tem sido ameaçada pela caça (IUCN, 2007) e pelo avanço de atividades agropecuárias no estado de Mato Grosso (Moreira & Vasconcelos, 2007). 23 Bodmer (1991), Galetti et al. (2001) e Galetti (2004) afirmam que a caça e a fragmentação de habitats causam um processo contínuo de eliminação da megafauna e ocasionam um efeito direto e negativo nos processos mutualísticos, o que pode acarretar em rompimento de processos-chave na manutenção da diversidade e funcionamento dos ecossistemas. Assim o objetivo deste estudo foi identificar as sementes dos frutos consumidos por T. terrestris e analisar sua predação e dispersão no cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso, no período de março a maio de 2007, a fim de fornecer informações para a gestão, manejo e conservação de áreas de Cerrado. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi realizado na fazenda Aparecida da Serra, entre as coordenadas geográficas (14°18’59” S, 57°45’16” W) e (14°20’23” S, 57°42’39” W), nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste de Mato Grosso. Essa fazenda possui uma área de 5.760 ha, sendo 1.650 ha utilizados para plantio de soja orgânico e 4.110 ha de área de reserva legal, dos quais foram utilizados aproximadamente 300 ha de cerrado sentido restrito, para o estudo (Figura 1). Figura 1: Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo inserida na Fazenda Aparecida da Serra, nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso. Fonte: Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e Secretaria do Estado de Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum: SAD69 Brasil. 24 O relevo dessa área é plano, constituído das fitofisionomias de cerrado sentido restrito, cerradão e mata ciliar, abrigando ainda a nascente do Córrego do Pilão. A Fazenda é delimitada ao sul por escarpas e ressaltos topográficos da Chapada dos Parecis, que é uma extensa área de preservação permanente e ocupa a porção oeste do Estado, compreendendo extensos planos e patamares com caimento para o norte, com altitudes que variam de 500 a 800 m (Brasil, 1982; Moreira & Vasconcelos, 2007). O predomínio do clima é Tropical Continental Úmido. Apresenta totais pluviométricos anuais que variam de 1500 a 2200 mm e as temperaturas médias anuais entre de 21°C a 26,8°C (Moreira & Vasconcelos, 2007). Procedimentos Para verificar a dieta de frutos por T. terrestris, em estação chuvosa, realizouse trabalho de campo no período de março a maio de 2007, com esforço amostral de 8 horas por dia, quatro vezes por semana. As fezes das antas foram localizadas em latrinas (locais que os animais usam repetidamente para defecarem), abaixo de árvores grandes. Cada amostra forma um aglomerado de bolas fecais (com 5 a 8 cm de diâmetro cada bola) e isso as torna distintas umas das outras. Também se observou, por acaso, fezes isoladas no ambiente. Uma vez encontradas as amostras fecais, registrou-se sua localização através de GPS (“Global Positioning System”), e as acondicionaram individualmente em sacos plásticos. Posteriormente, foram lavadas com auxílio de peneira de malha fina (3 x 3 mm), secas em temperatura ambiente, triadas e identificadas por especialistas. Não se considerou neste trabalho as sementes menores que 5 mm. Para auxiliar na identificação das sementes encontradas nas fezes, amostras de espécies de plantas em frutificação foram coletadas em 10 parcelas sistemáticas de 50 x 20 m na área de estudo, na mesma época em que coletaram-se as amostras fecais. Logo após, as amostras foram prensadas e secas em estufa. Identificaram-se tanto as plantas como as sementes, conforme a classificação de Cronquist (1981). Pesaram-se todas as sementes em balança analítica digital - Modelo B-Tec210A (max. 210 g e min. 100 mg), no Laboratório da UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Cáceres. Análises estatísticas Calculou-se a porcentagem de ocorrência (PO) de cada fruto dentre todos os frutos consumidos (n° de ocorrência da espécie x 100 / soma das ocorrências de todas as espécies). Para verificar a diferença entre o número de sementes intactas e danificadas de cada fruto, pela mastigação da anta e por insetos, realizou-se o teste t com auxílio do programa Systat (Wilkinson, 1990). As probabilidades obtidas nos testes foram corrigidas pelo método Bonferroni e foram consideradas significativas se p teve valores menores ou iguais a 0,05. Também foram realizados testes t entre as sementes intactas e danificadas pela antas, com as espécies mais danificadas. Consideram-se significativos valores de p ≤ 0,05. 25 Para avaliar se a coleta de amostras fecais foi representativa, ou seja, suficiente para amostrar o maior número de espécies de frutos consumidos pelas antas na área estudada, fez-se uma curva de rarefação baseada em amostras (Gotelli & Colwell, 2001), através do programa EstimateS, e utilizaram-se os índices de Sobs Mao Tau (Colwell, 1997). RESULTADOS Durante um período de três meses, coletou-se 237 amostras fecais em 56 latrinas e três isoladas, em cerrado sentido restrito (terreno seco). Encontraram-se sementes de 36 espécies de plantas nessas amostras, com uma média de 3,6 (± DP 1,8) espécies/amostra, em que 27 pertenciam a 19 famílias, destas, seis foram identificadas em nível de espécie e nove não foram possíveis ser identificadas, por não possuir material bibliográfico, como exsicata, disponível para a comparação. Em apenas três amostras fecais (1,3%) não foram encontradas sementes. A curva de rarefação entre o número de espécies consumidas pelo número de amostras demonstrou uma leve tendência a uma assíntota, mas ainda é grande a variação dos dados em torno da média (Figura 2). Número de espécies consumidas 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 50 100 150 200 250 Número de amostras Figura 2. Curva de rarefação estimada para a área de estudo da Fazenda Aparecida da Serra, que mostra o número de espécies de frutos consumidas em função do número de amostras fecais de Tapirus terrestris. Algumas amostras fecais tiveram a ocorrência de uma única espécie, como Emmotum nitens (Benth.) Miers e Buchenavia tomentosa Eichler, que tiveram exclusividade em dez amostras fecais, o morfotipo 6 (Sapotaceae) em duas 26 amostras, e Annona crassiflora Mart., Buchenavia sp. e Licania sp. em uma amostra, cada espécie. O número total de sementes quantificadas nas amostras fecais foi de 27.180 (114,7 ± DP 112,3), com variação de zero a 768 sementes/amostra. O peso seco total foi de 23.345,8 g (98,1 ± DP 100,4), com variação de zero a 710,3 g/amostra. As maiores porcentagens de ocorrência (PO) e de peso, dentre os frutos consumidos pelas antas, foram de E. nitens (20,3% e 20,6%), B. tomentosa (19,9% e 66,6%), A. crassiflora (15,1% e 2,8%), Diospyros sp. (9%), Buchenavia sp. (7,1%) e Byrsonima sp. (6%) (Tabela 1). Outras espécies apresentaram baixa PO, como Psidium sp., com apenas uma ocorrência, com 167 sementes, porém com peso total de 8,4 g (0,04%). Solanum cf. lycocarpum também apresentou valor alto de sementes (161), com 1,5% de PO, e pouco representativa com relação ao peso (4,3g), com 0,02% (Tabela 1). Ao considerar apenas as amostras fecais com as espécies mais representativas, como B. tomentosa, a média de sementes por amostra foi de 82,6 ± DP 93,1, com variação de 1 a 615 sementes, e em amostras que continham apenas E. nitens, a média de sementes foi de 39,3 ± DP 54,2/amostra, com variação de 1 a 320 sementes. As espécies com maiores porcentagens de número de sementes foram respectivamente B. tomentosa (51,4%), E. nitens (24,9%), Buchenavia sp. (10,1%), A. crassiflora (5,6%) e Licania sp. (2,4%) (Tabela 2). Dentre as 27.180 sementes quantificadas nas amostras fecais, 78,4% encontravam-se intactas, com média de 89,9 sementes/amostra (± DP 109,10) e 21,63% danificadas, com média de 24,81 sementes/amostra (± DP 39,56). Das sementes danificadas, 68,06%, com média de 16,88 (± DP 37,01) sementes/amostra foram ocasionadas pela mastigação da anta e 31,94%, com média de 7,92 (± DP 14,54) sementes/amostra, foram predadas por insetos (Tabela 2). O resultado dos testes t entre as sementes consumidas pela anta apresentou diferença significativamente maior para as sementes intactas em relação às danificadas durante a mastigação (n = 237, t=9,412, p=0,003), e em relação às predadas por insetos (n = 237, t=11.524, p=0,003). Quanto ao teste t entre as sementes danificadas pela anta e predadas por insetos foi significativamente maior o número de sementes danificadas pela anta (n = 237, t= 3.450, p=0,003). A espécie mais danificada por esse mamífero foi E. nitens, que representou 88,9% de todas as sementes danificadas (Tabela 2), com 53,7% dessas sementes quebradas durante a mastigação. O teste t entre as sementes intactas e danificadas pela anta (n = 172, t = -0,563, p = 0,574) não foi significativo. A segunda espécie mais danificada foi Licania sp. (3,8%) (Tabela 2), com 23,5% de suas sementes roídas e quebradas, o teste t também não foi significativo (n = 51, t = 1,478, p = 0,146). As espécies mais danificadas por insetos foram A. crassiflora (43,9%) (Tabela 2), com 53,8% de suas sementes predadas, o teste t entre as sementes intactas e predadas (n = 128, t = -0.803, p = 0,424) não foi significativo. A espécie B. tomentosa foi a segunda mais predada por insetos (42,9%) (Tabela 2), com 5,7% de suas sementes predadas. Nesse caso, de acordo com o resultado do teste t, foi significativamente maior o números de sementes intactas (n = 172, t = 10.461, p ≤ 0,001). DISCUSSÃO 27 Em apenas três amostras fecais não ocorreu presença de sementes, de um total de 237 fezes, o que demonstra que os frutos são um importante alimento na dieta, em área de Cerrado. Desta forma corroboram-se outros estudos realizados com dieta de antas que indicam que sementes estão presentes e constituem um importante recurso de nutrientes em florestas tropicais (Bodmer, 1990; Fragoso & Huffman, 2000; Henry et al., 2000; Galetti et al., 2001; Quiroga-Castro, 2001; Quiroga, 2003; Tófoli, 2006). Embora a amostragem deste trabalho tenha sido relativamente alta (maior que grande parte dos outros estudos) em apenas três meses (estação chuvosa), de acordo com a curva de rarefação, esta ainda não foi suficiente para incluir todas as espécies de plantas consumidas pelas antas na área de estudo. Por exemplo, em regiões de Floresta Amazônica, Bodmer (1990) obteve 44 amostras fecais em seu trabalho, Henry et al. (2000) obteve seis amostras estomacais em estação seca e 19 em chuvosa. Em Floresta Atlântica Galetti et al. (2001) e Tófoli (2006) encontraram com 33 e 115 amostras fecais em estação seca e 13 e 57 em chuvosa, respectivamente. O Chaco Boliviano Quiroga (2003) encontrou 88 amostras na estação seca e 65 na chuvosa. O número de amostras deste estudo só foi menor que o realizado por Fragoso & Huffman (2000) em Floresta Amazônica, que durante 14 meses coletaram 356 amostras fecais, 161 em estação seca e 191 em chuvosa. Ao analisar o número de sementes encontradas por amostra fecal, o consumo de T. terrestris foi relativamente alto (114,7, ± 112,27 sementes/amostra), em três meses de estação chuvosa no cerrado sentido restrito matogrossense. Resultados semelhantes foram obtidos por Fragoso & Huffman (2000) em área de Floresta Amazônica, com uma média de 101,6 ± 378,3 sementes coletadas que, ao contrário deste estudo, consideraram sementes menores de 5 mm, num total de 127 amostras analisadas em laboratório, durante 14 meses de coleta. A grande quantidade de sementes encontradas nas fezes de T. terrestris se deve provavelmente, pela maior produção e disponibilidade de frutos durante a estação chuvosa, uma vez que, segundo Ribeiro & Walter (1998), espécies zoocóricas têm seus frutos amadurecidos e suas sementes dispersas durante esta estação. Em estudos realizados por Galetti et al. (2001) e Tófoli (2006), em áreas de Floresta Atlântica, encontraram-se, em média, 147 e 520 sementes por amostra, durante cinco e dois anos de coleta, respectivamente. O que provavelmente contribuiu para esses altos valores de ocorrência foi o fato de considerarem as sementes menores que 5 mm de comprimento. A ocorrência de 36 espécies durante a estação chuvosa (três meses) no cerrado sentido restrito é alta, se considerarmos o curto período de tempo e a exclusão de sementes menores que 5 mm. Apesar de outros estudos encontrarem valores de riqueza maiores que o presente trabalho seus autores consideraram todos os tamanhos de sementes e tiveram um maior período de amostragem, Fragoso & Huffman (2000), em Floresta Amazônica com 39 espécies, em 14 meses, e Tófoli (2006), na Floresta Atlântica, com 58 espécies, durante 24 meses. Segundo Tabarelli et al. (2005) e Tófoli (2006), a alta riqueza de espécies encontradas nas amostras em Floresta Atlântica deve-se provavelmente à grande variedade de espécies existentes neste bioma. Na dieta de frutos de T. terrestris, as espécies E. nitens (Icacinaceae), B. tomentosa (Combretaceae) e A. crassiflora (Annonaceae) apresentaram maiores 28 porcentagens de ocorrência (PO) e pesos de sementes, provavelmente devido a grande disponibilidade desses frutos no ambiente, durante o período da coleta. Segundo Bodmer (1990), a anta forrageia em diferentes ambientes, de acordo com a disponibilidade e abundância de frutos. O que também explica o fato das espécies E. nitens, B. tomentosa e A. crassiflora serem as únicas encontradas em algumas amostras fecais. Diferente de trabalhos realizados durante todo o ano, nas Florestas Amazônica e Atlântica (Bodmer, 1990, 1991; Fragoso & Huffman; 2000; Galetti et al., 2001), as famílias Icacinaceae, Combretaceae e Annonaceae não ocorrem ou aparecem em menor PO na dieta das antas, e a família Arecaceae apresentou-se como a mais consumida, justamente devido à disponibilidade de plantas desta família nos ambientes durante todo o ano. No entanto, em estudo de Tófoli (2006), em Floresta Atlântica, evidenciou-se que apesar da família Arecaceae, principalmente a espécie Syagrus romanzoffiana Cham., ter sido mais consumida na dieta de T. terrestris, isto ocorreu devido a alta disponibilidade na estação seca. Quando frutos da estação chuvosa se tornaram disponíveis, eles foram mais consumidos, e ocorreu a substituição desta família pelas Annonaceae (Annona cacans Warm.), Myrtaceae (Psidium guajava Linnaeus) e Caricaceae (Jaracatia spinosa (Aubl.) A. DC.). No presente trabalho A. crassiflora (Annonaceae) apresentou valores mais altos de peso e PO quando comparado com A. cacans (Annonaceae), em estudo realizado por Tófoli (2006) em Floresta Atlântica. No entanto Psidium sp. (Myrtaceae) apresentou baixo peso e PO, quando comparado com os resultados de Tófoli (2006), já J. spinosa (Caricaceae) não ocorreu no presente trabalho. O alto consumo de frutos de A. crassiflora por antas, além da disponibilidade no ambiente, deveu-se provavelmente aos frutos apresentarem cheiro, mesocarpos carnosos e adocicados quando maduros, conforme descrito por Lorenzi (2002). No período do presente estudo a espécie B. tomentosa (Combretaceae) foi considerada o principal alimento da dieta de T. terrestris, com mais de 50% do total de sementes consumidas. Deve-se esse alto consumo provavelmente ao fato do fruto possuir um mesocarpo fibroso-carnoso, segundo características citadas por Barroso (1999), como também por essa espécie ter disponibilizado grande quantidade de frutos maduros. A mesma pode ter sido beneficiada pela dispersão de suas sementes grandes (entre 15 a 25 mm), depositadas intactas em locais favoráveis de terreno seco. De acordo com Fragoso & Huffman (2000), Downer (2001) e Galetti (2004), espécies de frutos com sementes grandes (acima de 15 mm) necessitam quase que exclusivamente de animais de grande porte para dispersarem suas sementes, o que pode ser um perigo para essas espécies, pois devido perturbações do homem no planeta, a megafauna vem sendo extinta desde o Pleistoceno até os dias de hoje, e agora restam poucos dispersores contemporâneos, como T. terrestris, o qual está em declínio em toda a extensão de seu território. A espécie E. nitens foi pela primeira vez registrada em dieta de T. terrestris. Seu consumo havia sido verificado apenas por morcegos, descrito por Aguiar (2005), em área de Cerrado. Os frutos dessa espécie possuem características que se enquadram na síndrome de dispersão por morcegos (quiropterocoria), descritas por Van der Pijl (1982), como a ausência de mudança de cor no processo de maturação (o fruto permanece verde), o odor desagradável e a disposição na periferia da copa. Segundo Moreira (1987), a semente de E. nitens encontra-se protegida por um endocarpo lenhoso, que funciona como barreira contra fatores externos, 29 considerado uma unidade básica de dispersão, uma vez que não ocorre a liberação das sementes. Porém, no presente estudo, T. terrestris danificou muitas sementes dessa espécie durante a mastigação, provavelmente para retirar suas reservas cotiledonares, e apesar disso, pode ser dispersora da espécie, devido ao alto consumo e por ter eliminado grande quantidade de sementes intactas no ambiente. No período de estudo, T. terrestris também danificou a maioria das sementes de algumas espécies dos gêneros Vochysia sp. e Caryocar sp. e de alguns indivíduos da família Arecaceae. No entanto, a confirmação da eficiência da dispersão se dará através da verificação de consumo destas espécies ao longo do ano. Uma vez que, segundo Fragoso & Huffman (2000), deve-se levar em consideração o mecanismo estrutural dos ecossistemas, pois é sabido que algumas plantas frutificam o ano todo e outras em períodos específicos. Com relação ao consumo de sementes de Dimorphandra mollis Benth., encontraram-se todas intactas nas fezes, sendo a décima maior porcentagem de ocorrência (1,65%) na dieta, contendo 5,71 ± 8,5 sementes por amostra, consumo considerado baixo, fato explicável devido ao período de estudo ter sido realizado no início de sua frutificação, que segundo Bizerril et al. (2005), é de maio a setembro. De acordo com esse autor, o consumo de frutos de D. mollis por T. terrestris é alto durante seu período de frutificação. Em seu trabalho, analisou 81 amostras fecais em 6 áreas de cerrado sentido restrito, e encontrou 50,8 ± DP 98,5 sementes por amostra, com 94% destas intactas. Com relação a dispersão de sementes por T. terrestris, esta possivelmente foi eficiente quanto aos locais de defecação, pois depositou as sementes em áreas de terreno seco de cerrado sentido restrito. Haja vista que em algumas localidades ela tem o hábito de defecar dentro da água ou em locais de inundação sazonal, o que para algumas espécies dificulta o estabelecimento, a não ser que tenham dispersores secundários como roedores ou suas sementes adaptadas, que favorecem sua germinação (Bodmer, 1991; Fragoso & Huffman, 2000; QuirogaCastro, 2001). Contudo, o presente estudo mostrou a grande variedade de frutos consumidos por T. terrestris em apenas um período de estação chuvosa, no cerrado sentido restrito. Isso demonstrou que essa fitofisionomia possui alta riqueza de espécies, e que poderá ser maior, quando somado à estação seca, onde outras espécies frutificam. Por ter-se amostrado somente parte da comunidade em frutificação disponível nesse período de tempo, sugere-se que em trabalhos futuros, em áreas de Cerrado, seja aumentado o esforço de coleta e o período de estudo, como anuais, para a análise de sementes intactas e danificadas de determinadas espécies, nas fezes de antas. No entanto, o presente estudo demonstrou a importância desse mamífero para a manutenção da biodiversidade do Cerrado, pela variedade de espécies de sementes que consome, por defecar a maioria delas intactas e por dispersá-las em locais de terreno seco. Segundo Fragoso (1997) e Fragoso & Huffman (2000), essa manutenção depende, em muitos casos, de frugívoros de grande porte, como as antas, que dispersam grande quantidade e variedade de sementes para locais distantes da planta-mãe e, com isso, têm influência nos processos ecológicos da comunidade vegetal. Por isso, estudos como este são importantes para subsidiarem propostas de gestão e manejo de áreas de Cerrado, sendo essencial um plano de conservação 30 que considere grandes áreas e a ligação de fragmentos para a dispersão das antas e forrageamento de espécies frutíferas, as quais podem depender da distribuição daquelas para aumentar suas chances de sobrevivência. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, representado pelas professoras Carolina Joana da Silva e Carla Galbiati, ao PROBIO pelo suporte financeiro, à CAPES pela concessão da bolsa de estudos, à bióloga Marilza da Costa, por auxiliar no campo, à botânica Maria Antônia Carniello, pela identificação das sementes e a todos que de uma forma ou de outra colaboraram para a realização deste estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, L. M. de S. 2005. First record on the use of leaves of Solanum lycocarpum (Solanaceae) and fruits of Emmotum nitens (Icacinacea) by Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy) (Chiroptera, Phyllostomidae) in the Brazilian Cerrado. Revista Brasileira de Zoologia. v. 22, n. 2, p. 509-510. Alho, C. J. R. 1993. Distribuição da fauna num gradiente de recursos em mosaico. In: PINTO, N. M. (Org.). Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. 2. ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. cap. 7. p. 213 - 262. Barroso, M. C.; Morim, M. 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Relação do número de sementes ingeridas pela anta (Tapirus terrestris) na Fazenda Aparecida da Serra, MT: total, intactas, total danificadas, pela anta e por insetos. 36 4. CAPÍTULO II: Dispersão e predação de sementes de Annona crassiflora Mart. (Annonaceae) por animais em área de Cerrado no Mato Grosso, Brasil Vanessa Golin1, Manoel Santos-Filho2 & Mônica Josene Barbosa Pereira3 1 Programa de Mestrado em Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Cáceres, MT. (e-mail: [email protected]). 2 Depto de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT. Programa de Mestrado em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. Rua Santa Izabel, n° 45, Bairro Santa Izabel, Cáceres-MT, Cep.: 78.200.000. (e-mail: [email protected]). 3 Depto de Agronomia, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Programa de Mestrado em Ciências Ambientais, UNEMAT, Cáceres, MT. (e-mail: [email protected]). ABSTRACT. Seed dispersal and predation of Annona crassiflora Mart. (Annonaceae) by animals in area of Cerrado in the Mato Grosso State, Brazil. Annona crassiflora Mart. has fruit that are part of the diet of animals, which can be seeds dispersers or predators. This study aimed to assess the seed dispersal and predation of araticum by animals, in cerrado stricto sensu, in Mato Grosso State, Brazil. For this tracks stations were installed in 95 araticum plants to verify the frequency of visitation (FV) and the consumption of fruit by the mammals. Under the araticum plants, the actions of insects (predation or dispersal) were observed in fallen fruit, and collected for later identification. 237 fecal samples were analyzed, checking the number of seed araticum, their frequency of occurrence (FO) in each fecal sample and damage by tapirs and insects. The significance of these damages was analyzed by t test. The distance of seeds dispersal from araticum was accomplished through colored beads inserted in the ripe fruits, being measured of the point of the feces with bead to the plant of the same color of the bead inserted in the fruit. Test of seed germination was conducted with seeds taken of fruits and of fecal samples from tapirs. During the fruiting of araticum, the tapir (Tapirus terrestris) was the specie with largest FV and consumption of fruits (72.3%, 71.4%), followed by other vertebrates such as mammals unidentified (20.2%, 21.2%), crab-eating fox (Cerdocyon thous) (1.1%, 2.2%), armadillo (Dasypus sp.) (2.1%, 1.7%), birds unidentified (2.1%, 1.7%), grey brocket deer (Mazama gouazoubira) (1.1%, 0.9%) and Curl-crested Jay (Cyanocorax cristatellus) (1.1%, 0.9%). The insects of the family Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis and Canthon sp. consumed the fruits pulp and buried araticum seeds, and the families Curculionidae, Spermologus rufus and Eurytomidae, Bephratelloides pomorum, broked and buried the seeds. In the diet of T. terrestris, A. crassiflora has 54% of FO in fecal samples, not damaging the seeds (n=128, t=4.302, p=0.003). The insects S. rufus and B. pomorum damaged seeds significantly (n=128, t=4.919, p=0.003), when compared to damaged seeds by tapirs, but it was not significant when compared to the intact seeds (n=128, t=-0.803, p=1.272). Places of defecation of tapirs were on dry land, and found two feces over long distances from araticum plants (1.7 and 1.8 km). Germination occurred in only seeds that passed by the digestive tract of the tapir (4% in 414 days). Thus, the results obtained in this study allow conclude that various animals species consume araticum fruits, being the main, T. terrestris, considered important seed disperser, how also was verified the interaction of Scarabaeidae (probably dispersers), eurytomídeos (predators) and Curculionidae (predators and probably dispersers) in araticum fruits. KEY WORDS. Araticum; conservation; dispersers; predators. 37 RESUMO. Annona crassiflora Mart. possui frutos que fazem parte da dieta de animais, os quais podem ser dispersores ou predadores de suas sementes. Com isso, o presente estudo teve por objetivo verificar a dispersão e a predação das sementes de A. crassiflora por animais, em cerrado sentido restrito, no Mato Grosso, Brasil. Para tanto, instalaram-se estações de pegadas sob 95 plantas de araticum, a fim de verificar a freqüência de visitação (FV) e o consumo de frutos por mamíferos. Sob as plantas de araticum, observaram-se as ações (predação ou dispersão) de insetos em frutos caídos e coletados para posterior identificação. Analisou-se 237 amostras fecais, e verificou-se o número de sementes de araticum, sua freqüência de ocorrência (FO) em cada amostra fecal e a danificação pelas antas e por insetos. A significância destes danos foi analisada pelo teste t. A distância de dispersão das sementes de araticum realizou-se através de miçangas coloridas inseridas nos frutos maduros, sendo medida do ponto das fezes com miçanga até a planta da mesma cor da miçanga inserida no fruto. Realizou-se também teste de germinação com sementes retiradas de frutos e de amostras fecais de antas. No período de frutificação do araticum, a anta (Tapirus terrestris) foi a espécie com maior FV e de consumo de frutos (72.3%, 71.4%), seguidos de outros vertebrados, tais como mamíferos não identificados (20.2%, 21.2%), lobete (Cerdocyon thous) (1.1%, 2.2%), tatu (Dasypus sp.) (2.1%, 1.7%), aves não identificadas (2.1%, 1.7%), veado catingueiro (Mazama gouazoubira) (1.1%, 0.9%) e gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) (1.1%, 0.9%). Os insetos da família Scarabaeidae Phanaeus palaeno, Oxysternon palaemon, Diabroctis mirabilis e Canthon sp. se alimentaram da polpa de frutos e enterraram sementes de araticum. Os das famílias Curculionidae, Spermologus rufus e Eurytomidae, Bephratelloides pomorum predaram as sementes. Na dieta de T. terrestris, A. crassiflora possuiu 54% de FO nas amostras fecais, sem danificar as sementes (n=128, t=4.302, p=0.003). Os insetos S. rufus e B. pomorum danificaram significativamente as sementes (n=128, t=4.919, p=0.003), quando comparada às sementes danificadas pela anta, mas não foi o dano tão significativo, quando comparado às intactas (n=128, t=-0.803, p=1.272). Os locais de defecação das antas ocorreram em terrenos secos, sendo encontradas duas fezes com miçangas, a 1.7 e 1.8 km das plantas de araticum. Ocorreu germinação apenas nas sementes que passaram pelo trato digestório da anta (4% em 414 dias). Assim, os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que várias espécies de animais consomem frutos de araticum, sendo a principal, T. terrestris, considerada importante dispersora de sementes. Também foi verificada a interação de escarabeídeos (prováveis dispersores), eurytomídeos (predadores) e curculionídeos (predadores e prováveis dispersores) em frutos de araticum. PALAVRAS-CHAVE. Araticum; conservação; dispersores; predadores. INTRODUÇÃO O principal período de frutificação, no bioma Cerrado, ocorre durante os meses quentes e úmidos, quando a maior parte das espécies zoocóricas amadurece seus frutos (Oliveira 1998). Dentre as espécies produtoras de frutos comestíveis nesse bioma, está Annona crassiflora Mart., (Annonaceae) (Ribeiro et al. 2000, Carvalho 2003) popularmente chamada de araticum, cabeça-de-negro, pinha-do-cerrado e marôlo, com ocorrência em fitofisionomias campestres de cerrado, em cerrado sentido restrito e em cerradão nos estados de São Paulo, 38 Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Tocantins (Lorenzi 2002, Durigan 2004). Os frutos de A. crassiflora são do tipo baga, com grande número de sementes por fruto (Barroso 1999). Segundo Rizzini (1997) suas sementes possuem dormência por indiferenciação embrionária, ou seja, o embrião imaturo não pode crescer sem primeiro completar o seu desenvolvimento, e podem levar mais de 200 dias para germinar. Esses frutos amadurecem a partir de janeiro-fevereiro, com a polpa levemente adocicada e de cheiro agradável (Ribeiro et al. 1999, Lorenzi 2002). Essas características podem atrair alguns mamíferos e aves, como uma fonte de recurso alimentar, e assim, dispersarem suas sementes (Wilson 1993, Frisch 2005). A dispersão, de acordo com critérios descritos por Schupp (1993), pode ser eficiente ou não, e vai depender de fatores quantitativos e qualitativos de dispersão das sementes. Os fatores quantitativos consideram o número de sementes dispersas, o número de visitas feitas pelos dispersores e o número de sementes dispersas por visita. Já os fatores qualitativos levam em consideração a qualidade do tratamento dado às sementes pela passagem na boca e intestino, como a qualidade da deposição de sementes. De acordo com Bodmer (1991) e Tófoli (2006), frutos da família Annonaceae fazem parte da dieta alimentar de antas (Tapirus terrestris, Linnaeus 1758), que eliminam altas porcentagens de sementes intactas. Podem agir como dispersoras, mas também como predadora de várias espécies de sementes, e influenciar na manutenção da biodiversidade nos ecossistemas (Bodmer 1989, Bodmer 1990a, Bodmer 1991, Fragoso 1997, Fragoso & Huffman 2000, Downer 2001). Frutos dessa família estão dentre os mais consumidos por veados Mazama americana (Erxleben 1777) e M. gouazoubira (Fischer 1814), porém estes são considerados predadores de sementes por danificá-las em sua digestão (fermentação do rúmen) (Bodmer 1989, Bodmer 1990b, Bodmer 1991). Na dieta do lobete, Cerdocyon thous (Linnaeus 1766), frutos de anonáceas também são freqüentes (Xavier-Filho 2008). Para o lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger 1815), frutos de araticum constituem um dos principais alimentos de sua dieta (Motta-Júnior et al. 1996, Bueno, Belentani & Motta-Júnior 2002, Jácomo 2004), principalmente na ausência do fruto da lobeira (Solanum lycocarpum St. Hill.) (Aragona & Setz 2001, Rodrigues 2002). Insetos da família Scarabaeidae também podem agir como dispersores de sementes, pelo fato de se alimentarem de frutos em decomposição (saprófagos) e enterrarem sementes (escavadores) (Halffter & Matthews 1966). Em contrapartida, existem insetos como 39 Bephratelloides pomorum Fab. 1908 (Hymenoptera: Eurytomidae) que ovipositam em sementes de anonáceas em formação, alimentando-se do endosperma, quando atingem a fase adulta fazem um orifício na semente e constróem uma galeria na polpa do fruto, saindo para o exterior (Pereira, Anjos & Picanço 1997, Pereira, Anjos & Eiras 2003). Outro inseto que apresenta hábito semelhante é o besouro Spermologus rufus Boheman 1843 (Coleoptera: Curculionidae) no entanto, a oviposição é realizada em sementes maduras (Barreto & Anjos 2002). Desse modo, o presente trabalho teve por objetivo verificar a dispersão e a predação das sementes de A. crassiflora por animais em área de cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido na área de reserva legal da fazenda Aparecida da Serra, entre as coordenadas geográficas (14°18’59” S, 57°45’16” W) e (14°20’23” S, 57°42’39” W), inserida nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste de Mato Grosso (Figura 1). A área de reserva legal da fazenda possui 4.110 ha constituída de fitofisionomias de Cerrado (sentido restrito, cerradão e mata ciliar), e abriga a nascente do Córrego do Pilão. A área selecionada para o estudo foi de 300 ha de cerrado sentido restrito, devido ao posicionamento mais concentrado de plantas de araticum em frutificação (Figura 2). A Fazenda é delimitada ao sul por escarpas e ressaltos topográficos da Chapada dos Parecis, que constitui uma extensa área de preservação permanente, e ocupa a porção oeste do Estado, com altitudes que variam entre 500 a 800 m (Brasil 1982, Moreira & Vasconcelos 2007). O predomínio do clima é Tropical Continental Úmido, apresenta totais pluviométricos anuais que variam de 1500 a 2200 mm e as temperaturas médias anuais entre de 21 a 26,8°C (Moreira & Vasconcelos 2007). O período para estudar o consumo de frutos de araticum, dispersão e predação de suas sementes por animais foi de fevereiro a maio de 2007, com esforço amostral de 8 horas por dia, quatro vezes por semana. Vistoriaram-se 95 plantas de araticum em frutificação e quantificaram-se os frutos viáveis para o consumo de animais, que foram os sadios e os parcialmente danificados por insetos. 40 Para verificar a freqüência de visitação (FV) e a quantidade de frutos consumidos por mamíferos, instalaram-se estações de pegadas (retirada da serrapilheira e o revolvimento do solo) num raio do tamanho da copa das plantas e quantificava-se (quatro vezes por semana) todos os frutos de cada planta. Nesses locais, as pegadas foram fotografadas e identificadas com o auxílio dos guias-de-campo de Becker & Dalponte (1999) e de Lima-Borges & Tomás (2004). Caracterizaram-se como frutos totalmente consumidos, aqueles onde restavam até 10 sementes com casca, já os frutos consumidos parcialmente, restavam mais de 10 sementes com casca. Observou-se tanto a interação (predação ou dispersão) de insetos que estavam em frutos sob as plantas de araticum, como a predação de insetos em sementes de araticum nas fezes de antas. Os insetos foram coletados, montados, etiquetados e enviados à especialistas para identificação. Para verificar a dispersão das sementes de araticum pelas antas, inseriram-se aproximadamente dez miçangas de cor específica para cada planta onde se encontravam frutos maduros caídos intactos, deixando-os abaixo da planta, na estação de pegadas. Após o consumo desses frutos, efetuaram-se coletas de fezes nas latrinas, durante o período de frutificação do araticum, para posterior verificação da presença ou ausência das miçangas ingeridas. A distância de dispersão de sementes pela anta foi efetuada com uso de GPS (“Global Positioning System”), e mediu-se desde as fezes contendo as miçangas de cor específica até a planta correspondente. Além do número de sementes de araticum encontradas nas fezes realizou-se o cálculo de freqüência de ocorrência (FO) destas sementes em cada amostra fecal (n° de ocorrência das sementes de araticum nas amostras fecais x 100/ n° de amostras fecais). Verificou-se a diferença entre o número de sementes de araticum intactas e danificadas pela mastigação de antas e predação por insetos através do teste t, com auxílio do programa Systat (Wilkinson 1990). As probabilidades obtidas nos testes foram corrigidas pelo método Bonferroni e consideraram-se significativos valores de probabilidade menores ou iguais a 0,05. Realizou-se, no dia 05 de maio de 2007, um experimento de germinação com sementes de araticum, no viveiro Ziani Mudas Florestais, cidade de Tangará da Serra - MT, um tratamento com sementes extraídas diretamente do fruto (controle), coletados de 20 41 árvores diferentes e o outro tratamento de fezes de anta, retiradas de 20 amostras fecais de 15 latrinas. Semearam-se as sementes a dois centímetros de profundidade, em sacos polietileno, contendo 40% de substrato Plantmax fibra, 40% de terra, 10% de areia e 10% de esterco de galinha, com cobertura de tela (50% de sombra) e regadas duas vezes ao dia. Foram semeadas cinco sementes por repetição, totalizando 100 repetições por tratamento. RESULTADOS No período de frutificação do araticum, dos 323 frutos viáveis para o consumo, 231 (71.52%) foram consumidos por mamíferos de médio e grande porte e aves, durante o período de março (177) e abril (54). O restante não foi consumido (28.48%). As plantas de araticum foram visitadas 188 vezes por animais para o consumo de frutos, dentre eles, Tapirus terrestris com 136 visitas, e consumo de 71.4% dos frutos, destes 61.8% foram totalmente consumidos e 38.2% consumidos parcialmente (Tabela 1). Em menor freqüência, registraram-se oito visitas e consumo de frutos (4.8%) por outros mamíferos como: Cerdocyon thous (lobete), Dasypus sp. (tatu) e Mazama gouazoubira (veado catingueiro). Mamíferos que não foram identificadas as pegadas visitaram 38 vezes as plantas e consumiram 21.2% dos frutos (Tabela 1). Além de mamíferos, registraram-se seis visitas de aves, como a gralha-do-campo Cyanocorax cristatellus, que consumiu 0.9% dos frutos, sendo que um ainda estava na planta e o outro no chão. E 1.7% dos frutos foram consumidos por aves não identificadas (Tabela 1). Apesar de não ocorrerem rastros de Chrysocyon brachyurus (lobo-guará) nas estações de pegadas, verificaram-se oito sementes de araticum em uma das quatro fezes encontradas na estrada que margeia a área de estudo. Na dieta de T. terrestris, das 237 amostras fecais coletadas (Figura 2), A. crassiflora (araticum) possuiu FO de 54% nas amostras fecais, com 1531 sementes consumidas. Considerou-se apenas as amostras que continham sementes de araticum, a média foi de 12.1 ± DP 18.2, variando de 1 a 96 sementes por amostra. A maioria dessas sementes estava danificada (57.2%), sendo 3.3% ocasionada na passagem pelo trato digestório das antas e 53.8% predadas por insetos (Tabela 2). Destes, foi observado o besouro Spermologus rufus (Coleoptera: Curculionidae) em sementes triadas de fezes, e a vespa Bephratelloides pomorum (Hymenoptera: Eurytomidae) observada somente em frutos maduros, mas que a anta pode tê-los ingerido com oviposição e eliminado as 42 sementes já danificadas. Esses insetos foram depositados na coleção de insetos do Laboratório de Entomologia - Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Tangará da Serra. O resultado do teste t entre as sementes intactas e danificadas por insetos não foi significativo (n=128, t=-0.803, p=1.272). Foi significativamente baixo o número de sementes danificadas pelas antas (n=128, t=4.302, p=0.003) e o número de sementes predadas por insetos foi significativamente maior quando comparadas com as danificadas pelas antas (n=128, t=4.919, p=0.003). No total, foram inseridas miçangas em 40 frutos, dos quais 35 foram consumidos por T. terrestris (registrados através de suas pegadas sob as plantas marcadas). Registraram-se apenas duas amostras fecais contendo miçangas, cada uma de uma cor, distanciadas a 1.7 e 1.8 km das respectivas plantas de araticum (Figura 2). No teste de germinação, apenas quatro sementes que passaram pelo trato digestório das antas germinaram, duas em 89 dias, uma em 173 dias e outra em 214 dias, totalizando 4% germinadas em 414 dias. E as sementes do controle não germinaram. Quanto aos insetos associados aos frutos de araticum, representantes da família Scarabaeidae, Phanaeus palaeno (Blanchard 1843), Oxysternon palaemon (Castelnau 1840), Diabroctis mirabilis (Harold 1877) e Canthon sp., foram observados dentro de frutos maduros caídos, que estavam abertos (parcialmente consumidos por animais), esses carregavam e enterravam sementes embaixo dos frutos, e também levavam-nas para longe da planta-mãe, a aproximadamente 1.2 m. Esses escarabeídeos foram depositados na coleção de referência pessoal de Fernando Z. Vaz-de-Mello na Universidade Federal de Lavras-MG. Observaram-se curculionídeos S. rufus em frutos maduros caídos (recém caídos ou parcialmente consumidos por animais), esses revolveram o solo para enterrarem parcialmente os frutos, furaram as sementes para efetuarem a oviposição e enterraram-nas no solo sob a planta de araticum. DISCUSSÃO De acordo com os critérios quantitativos de dispersão de Schupp (1993), a anta foi a visitante mais freqüente em plantas de araticum, consumiu a maioria dos frutos maduros, e apresentou em sua dieta alta freqüência de ocorrência dessa espécie de fruto. No entanto, em estudos de dieta de T. terrestris em área de Floresta Amazônica, a freqüência de ocorrência de sementes de Annonaceae foi baixa (3.1%) (Bodmer 1991), o mesmo padrão foi encontrado em Floresta Atlântica com porcentagem de ocorrência baixa 43 (5.7%) em relação aos outros frutos consumidos, mas com a maioria das sementes intactas (70.71%) (Tófoli 2006). M. gouazoubira (veado catingueiro) teve uma freqüência de visitação baixa em plantas de araticum, com o consumo de apenas dois frutos. Diferente dos resultados obtidos por Bodmer (1989) e Bodmer (1990b), em Floresta Amazônica, onde o autor considerou essa espécie como frugívora que consome grandes proporções de frutos, sendo frutos da família Annonaceae um dos mais consumidos. Dasypus sp. (tatu) teve baixos valores de FV e de consumo de frutos de araticum. Conforme Castaldelli et al. (2008), em trabalho realizado durante três anos no estado do Paraná, a dieta de tatu galinha (Dasypus novemcinctus) constituiu-se de baixo consumo de frutos (3.7%), sendo que o principal alimento são insetos adultos (49%). O lobete (C. thous) visitou com pouca freqüência as plantas de araticum, e consumiu apenas cinco frutos. Talvez na época de amostragem, durante o período chuvoso, essa espécie tenha consumido mais animais, principalmente artrópodos que estão mais disponíveis na área. No Pantanal, além do C. thous possuir hábito alimentar generalista, a Annonaceae está dentre as famílias de frutos mais consumidas (Xavier-Filho et al. 2008). Entretanto, Bueno & Motta-Júnior (2004) ao estudar sua dieta durante um ano em área de Cerrado, e Rocha, Reis & Sekiama (2004) em estudos de dois anos em Floresta Atlântica, encontraram baixa ocorrência de itens vegetais, sem a presença de frutos de Annonaceae. Resultado diferente a desses autores foi obtido por Amaral (2007) o qual encontrou alta freqüência de ocorrência de itens vegetais em Floresta Atlântica, mas também não encontrou sementes de Annonaceae. Apesar de não haver registros de pegadas de C. brachyurus (lobo-guará) nas estações, este pode ter consumido frutos de plantas não monitoradas ou ainda, estarem dentre aquelas pegadas não identificadas nas estações, uma vez que ocorreram registros de pegadas e a presença de uma amostra fecal com sementes de araticum na estrada do entorno da área de estudo. De acordo com Motta-Junior et al. (1996), Aragona & Setz (2001), Bueno, Belentani & Motta-Júnior (2002), Rodrigues (2002) e Jácomo (2004), em estudos sobre dieta do loboguará no bioma Cerrado, os frutos de A. crassiflora constituem um dos principais elementos em sua dieta de frutos. Todavia, em estudo de Bueno & Motta-Júnior (2004), houve uma baixa ocorrência desse fruto, apenas duas, no mesmo bioma. Assim, esses canídeos são considerados generalistas e oportunistas, pois consumem itens mais freqüentes no ambiente e alteram o consumo em função da sua disponibilidade (Motta-Junior et al. 1996, Rocha, Reis & Sekiama 2004, Rodrigues 2002). 44 Apesar de C. thous e C. brachyurus consumirem frutos de A. crassiflora, podem desfavorecer a germinação pelo fato de possuírem o hábito de defecarem em estradas. De acordo com Rocha, Reis & Sekiama (2004) e Rodrigues (2002), a eficiência da dispersão de sementes por esses canídeos é questionável, porque depositam suas fezes em locais de destaque e observável por indivíduos da mesma espécie, que são desfavoráveis à germinação e ao estabelecimento de muitas plântulas, como lugares altos (montes, cupinzeiros, formigueiros) dentro da mata, bordas de floresta, áreas abertas e estradas, expostas a fatores ambientais negativos como alta radiação solar, baixa umidade e compactação do solo. As gralhas-do-campo (C. cristatellus), ao consumirem frutos de araticum, podem ter sido atraídas pela sua polpa e sementes que estavam disponíveis em grande quantidade no ambiente. De acordo com Sigrist (2006), estas aves comem tanto animais como frutos e sementes, sendo assim, consideradas onívoras, e podem efetuar a dispersão por meio da regurgitação ou eliminação pelas fezes. Segundo Frisch & Frisch (2005), algumas aves são atraídas pelo araticum, mas apesar disso, este fruto não possui todas as adaptações específicas ao consumo de aves, como sinalização de cor, quando maduros, fixação permanente e exposição das sementes. No entanto, possuem um elemento comestível (polpa adocicada) que é atrativo, e também inibições, como proteção externa contra o consumo prematuro (casca verde), e uma proteção interna nas sementes contra a alimentação, que de acordo Pott, Pott & Sobrinho (2004), é uma substância tóxica. De acordo com Van der Pijl (1982), as plantas apresentam diversas síndromes de dispersão de sementes e as define como um conjunto de características, às vezes generalistas, às vezes restritas e precisas, que os propágulos apresentam, e que indicam o modo de dispersão da planta. Entretanto, nem todas características devem estar necessariamente presentes, sendo, algumas vezes, suficiente e decisiva a presença de apenas uma. No entanto, não se sabe qual é a eficiência de dispersão de C. cristatellus, devido ao curto período destinado à observação no campo. Pode assim, ser dispersora eficiente ou até mesmo predadora, porque de acordo com Janzen (1971) aves da família Corvidae (gralhas) são predadoras de sementes. Os besouros da família Scarabaeidae também estiveram associados aos frutos de araticum como prováveis dispersores, uma vez que ao enterrarem as sementes com polpa, provavelmente se alimentem apenas desta polpa, e deixem as sementes intactas. Para Halffter & Matthews (1966) esses escarabeídeos se enquadram na saprofagia secundária, que envolve o ataque a frutos maduros caídos. Como também formam túneis em 45 qualquer direção abaixo ou ao seu lado, para onde levam seu alimento, podem aumentar grandemente o número de sementes dispersas que acabam em locais onde a predação de sementes é baixa e a germinação potencial é alta, desta forma desempenham um importante papel ecológico (Janzen 1970; Shepherd & Chapman 1998). Ao analisar a relação existente entre o araticum e a anta, percebe-se que estas espécies possuem características que podem ser adaptações de consumo. De acordo com Van der Pijl (1982) a co-evolução de plantas frutíferas e mamíferos pode estar relacionada a características que essas plantas possuem para atraírem esses animais como: casca resistente, odor forte, cor marrom (não vibrante), tamanho grande e sementes tóxicas que pode ser uma proteção contra o mecanismo de destruição por mamíferos. Essas características se enquadram nos frutos de araticum (Lorenzi 2002, Pott, Pott & Sobrinho 2004). Os mamíferos, como a anta, possuem características e hábitos que propiciam o consumo e dispersão, como: olfato desenvolvido, dentes para o consumo de frutos, hábito terrestre e alimentação noturna, quando as cores estão camufladas (Van der Pijl 1982). T. terrestris dispersou sementes de araticum intactas em locais que podem ser propícios à germinação, portanto pode ter sido importante para aumentar a probabilidade de estabelecimento de plântulas, devido aos diferentes locais de deposição de sementes em terreno seco. A característica dos locais de defecação pode favorecer a germinação para determinadas espécies adaptadas, e a distribuição de sementes gerar adultos dispersos da planta-mãe, o que contribuirá para perpetuação e evolução das espécies (Fragoso & Huffman 2000; Quiroga-Castro 2001). Entretanto, o método utilizado para medir a distância de sementes de plantas de araticum dispersadas por antas, não alcançou êxito pelo fato de não ser possível uma maior amostragem e coleta de material fecal nas áreas que as antas possivelmente carregaram. Apesar de ter sido explorado aproximadamente 3 km2, e ter o conhecimento de que a densidade de T. terrestris pode variar de 0.31 a 0.71 ind./km2 (Trolle et al. 2007), a área de estudo ainda suportaria aproximadamente mais de um indivíduo. A baixa taxa de germinação das sementes de araticum (4%) coletadas nas fezes de T. terrestris e a não germinação das sementes controle, devem estar relacionadas com o curto tempo do experimento, pelo fato das sementes serem retardadas, e não necessariamente relacionadas à inviabilidade delas, ou devido às condições inadequadas condicionas aos tratamentos, como umidade, luminosidade e temperatura. 46 De acordo com Rizzini (1997), o embrião das sementes de araticum é indiferenciado (imaturo), mede 2 mm, e não pode crescer sem primeiro completar o seu desenvolvimento, pois necessita de um período maior para sua maturidade e germinação. Em experimentos com germinação de sementes de A. crassiflora realizados em caixas de madeira com areia de restinga, ao ar livre e em incubadora (temperatura de 30° C) a taxa foi de 100% entre 237 a 287 dias no ano de 1969, 82% entre 265-300 dias no ano de 1970 e obteve 78% entre 219 a 290 dias no ano de 1971, porém observou-se que em sementes retardadas ocorreu germinação de 12% em 566-619 dias (Rizzini, 1973). O fato das sementes de A. crassiflora possuírem dormência, com longo período de germinação e seus frutos amadurecerem na estação chuvosa, corrobora o estudo de Oliveira (1998), no qual associa a dormência e a dispersão durante as chuvas, como uma forma de ajustar a germinação com a estação chuvosa seguinte, que maximiza o período de estabelecimento. As antas dispersaram grande quantidade de sementes de araticum, porém muitas foram predadas por insetos. Provavelmente esse ataque foi ocasionado por curculionídeos S. rufus, em algumas amostras fecais que apresentaram grande quantidade de sementes sem polpa, o que diminuiu o número de sementes propícias à germinação. Resultados semelhantes foram obtidos por Silvius & Fragoso (2002), que concluíram que a passagem das sementes pelo tubo digestório de antas e a contaminação das fezes não são suficientes para deter a oviposição, pois as sementes enterradas nas fezes são protegidas, mas as que ficam expostas nas pilhas fecais são predadas por insetos. A fêmea de S. rufus usualmente faz orifício para colocar seu ovo na semente madura, e após algum tempo a larva eclode e se alimenta do endosperma da mesma, o que o deixa inviável para a germinação, e quando atinge a fase adulta, o besouro constrói um orifício na semente para sair (Barreto & Anjos 2002). Esse inseto também danificou sementes sob plantas de araticum, e diminuiu o número de sementes viáveis e disponíveis para a dispersão por outros animais. Desta forma pode-se dizer que esse ato corrobora o estudo de Janzen (1970), no qual a predação de sementes prédispersas, causada por insetos, é alta em frutos próximos a planta-mãe e diminui à medida que se distância desta, ou seja, em sementes que são levadas por dispersores. A espécie B. pomorum predou as sementes em frutos ainda na planta, e também danificou e diminuiu as sementes viáveis para a dispersão. O adulto faz a oviposição na semente em desenvolvimento, a larva se desenvolve no interior destas, alimentando-se do albúmen, até atingir a fase adulta, quando faz um orifício na semente já madura e em seguida 47 constrói uma galeria na polpa do fruto para sair (Pereira, Anjos & Picanço 1997, Pereira, Anjos & Eiras 2003). Assim, as diferentes interações dos animais com o araticum, tanto de dispersão como de predação, podem propiciar o controle populacional dessa espécie na comunidade, pois de acordo com Van der Pijl (1982), muitos frutos são consumidos por aves e mamíferos, e esse consumo por vários animais pode contribuir para uma maior amplitude de dispersão de sementes, em diferentes locais de deposição, o que aumenta a probabilidade de estabelecimento. Dentre esses animais, T. terrestris se destacou pela alta freqüência de visitação em plantas de araticum, grande quantidade de frutos consumidos, eliminação de sementes intactas em locais de terreno seco (provavelmente propícios à germinação), sendo assim, considerada importante dispersora de sementes de A. crassiflora em área de cerrado sentido restrito, ao mesmo tempo esse fruto foi também um recurso alimentar importante para as antas dessa região. Contudo, apesar de ter sido verificada a maior parte dos critérios de eficiência de dispersão, ainda não se pode afirmar que T. terrestris é eficiente dispersora de sementes de araticum, pelo fato de ser insignificante a porcentagem de sementes germinadas que passaram pelo seu trato digestório. Os resultados obtidos nesse trabalho mostraram a variedade de animais associados aos frutos de araticum, que possuíram relações de dispersão, com destaque de T. terrestris, e predação de sementes por S. rufus e B. pomorum. Provavelmente esses animais são importantes para aumentar a variabilidade genética e controlar a população de A. crassiflora em área de cerrado sentido restrito. AGRADECIMNENTOS Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, pela oportunidade de desenvolvermos esse estudo. À Marilza da Costa pelo auxílio na coleta dos dados. Aos Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello e Dr. Paschoal Grossi pela identificação dos Scarabaeidae. Ao Clodoveu Franciosi, por ceder a área da Fazenda para a realização deste trabalho, e apoio logístico. Ao PROBIO pelo suporte financeiro e à CAPES pela concessão da bolsa de estudos. 48 LITERATURA CITADA Amaral, C. 2007. Dieta de duas espécies carnívoras simpátricas (graxaim-do-mato Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) e quati Nasua nasua (Linnaeus, 1766) nos municípios de Tijucas do Sul e Agudos do Sul, estado do Paraná. 2007. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Aragona, M. & E.Z.F. Setz. 2001. Diet of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus (Mammalia: Canidae), during wet and dry seasons at Ibitipoca State Park, Brasil. Journal of Zoology 254: 131-136. Barreto, M.R. & N. Anjos. 2002. Mecanismos de defesa e comportamentos alimentar e de dispersão de Spermologus rufus, Boheman 1843 (Coleoptera: Curculionidae). Ciência Agrotécnica 26 (4): 804-809. Barroso, M.C.; M.P. Morim; Peixoto, A.L. & Ichaso, C.L.F. 1999. 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Cerrado: Ambiente e Flora. Planaltina: Embrapa, Brasília, DF – CPAC, 1998. cap. 4. p. 169-192. 50 Pereira, M.J.B.; N. Anjos & M.C. Picanço. 1997. Ciclo biológico del barrenador de semillas de guanabana Bephratelloides pomorum (Fab., 1908) (Hymenoptera: Eurytomidae). Agronomia Tropical 47 (4): 507-519. Pereira, M.J.B.; N. Anjos & Á.E. Eiras. 2003. Oviposição da broca-da-semente de graviola Bephratelloides pomorum (Fabricius, 1908) (Hymenoptera: Eurytomidae). Arquivos do Instituto Biológico 70 (2): 221-224. Pott, A.; V.J. Pott & A.A.B. Sobrinho. 2004. Plantas Úteis à Sobrevivência do Pantanal. Anais IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Corumbá/MS. Quiroga-Castro, V.D. 2001. The fate of Attalea phalerata (Palmae) seed a dispersed to a tapir latrine. Biotropica 33 (3): 472-477. Ribeiro, J.E.L. da S.; M.J.G. Hopkins; Vicentini, A.; Sothers, C.A.; Costa, M.A. da S.; Brito, J.M. de; Souza, M.A.D. de; Martins, L.H.P.; Lohmann, L.G.; Assunção, P.A.C.L.; Pereira, E. da C.; Silva, C.F. da; Mesquita, M.R. & Procópio, L.C. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação de plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. Manaus: INPA, 816 p. Ribeiro, J.F. et al. 2000. Araticum. Jaboticabal: Funep, SBF, 52 p. In: Toda Fruta. Araticum. Disponível em: <http://www.todafruta.com.br/> Acesso em: 25 janeiro 2007. Rizzini, C.T. 1973. Dormancy in seeds of Annona crassiflora Mart. Journal of Experimental Botany 24 (78):117-123. Rizzini, C.T. 1997. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2. ed. Âmbito Cultural Edições Ltda., 147 p. Rocha, V.J.; N.R. Reis & M.L. Sekiama. 2004. Dieta e dispersão de sementes por Cerdocyon thous (Linnaeus) (Carnívora, Canidae), em um fragmento florestal do Paraná, Brasil. 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Frugivoria e dispersão de sementes pó Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) na paisagem fragmentada do Pontal do Paranapanema São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo. Trolle, M.; A.J. Noss; Cordeiro, J.L.P. & Oliveira, L.F.B. 2007. Brazilian tapir density in the Pantanal: A comparison of systematic camera-trapping and line-transect surveys. Biotropica 0 (0): 070925063121002. Van der Pijl, L. 1982. Principles of dispersal in higher plants. 2. ed. New York: Springer, 161 p. Wilkinson, L. 1990. Systat: The system for statistics. SYSTAT Inc. Evanston, Illinois. Wilson, M.F. 1993. Mammals as seed-dispersal mutualists in north America. Oikos 67: 159176. Xavier-Filho, L.N.; R.C. Campos; Bianchi, R.C.; Olifiers, N. & Mourão, G.M. 2008. Hábitos alimentares de quati (Nasua nasua) e cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) na Fazenda Nhumirim, Pantanal, MS. Anais XXVII Congresso Brasileiro de Zoologia. 52 Figura 1: Mapa de localização e vias de acesso da área de estudo, inserida nos municípios de Tangará da Serra e Nova Marilândia, sudoeste do estado de Mato Grosso, Brasil. Fonte: Banco de dados do Sistema Integrado de Geoprocessamento - SIG - SEPLAN-MT e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA. Coordenadas Geográficas Datum: SAD69 Brasil. 53 Figura 2: Mapa da distribuição espacial de plantas de araticum (Annona crassiflora) em frutificação, com densidade de 32 ind./km2, das amostras fecais coletadas de Tapirus terrestris e as miçangas das plantas encontradas em duas amostras fecais. Localização da nascente do Córrego do Pilão, inseridas na Fazenda Aparecida da Serra, Mato Grosso. Fonte: Imagem Google Earth em cor verdadeira, TerraMetrics © 2008. Coordenadas UTM Datum: SAD69 Brasil. 54 Tabela 1: Fauna consumidora de araticum em área de cerrado sentido restrito da Fazenda Aparecida da Serra, MT. Valores mostram a freqüência de visitação (FV) por animais em plantas de araticum, número total de frutos consumidos e frutos totalmente e parcialmente consumidos com suas respectivas porcentagens. 55 5. ANEXOS Anexo I: Normas para formatação e envio do Capítulo I para o livro: “GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO PROCAD AMAZÔNIA”. Volume I. Organizadores Responsáveis: José Eduardo dos Santos & Carla Galbiati APRESENTAÇÃO A publicação do Livro "GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A EXPERIÊNCIA DO PROCAD AMAZÔNIA”, Volume I, representa uma estratégia fundamental para reunir e resgatar a pesquisa relacionada à gestão e educação ambiental, desenvolvida por pesquisadores credenciados nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA), UNEMAT, MT. Pretende descrever o estado da arte e o direcionamento das atividades de pesquisa no âmbito do PPG-CA, associadas a um processo de capacitação de recursos humanos, na perspectiva da formação de gestores e educadores ambientais e de núcleos potenciais de pesquisa em suas instituições de origem e vínculo empregatício. O conteúdo do livro deverá contemplar capítulos, envolvendo a abordagem e /ou desenvolvimento conceitual e aplicação da fundamentação teórica da e gestão e educação ambiental e das políticas públicas associadas aos mesmos; - aos ambientes naturais, representados por diversas categorias de Unidades de Conservação, tratando em sua maioria de aspectos descritivos do padrão espacial (estrutura) da paisagem, principalmente relacionado aos usos da terra na perspectiva do zoneamento ambiental e do plano de manejo das Unidades de Conservação; - as unidades de gerenciamento da paisagem, basicamente caracterizadas pelas bacias hidrográficas, analisando desde os aspectos conceituais e estruturais da paisagem até os processos histórico e desenvolvimentista responsáveis pela atual fragmentação e heterogeneidade espacial da mesma na perspectiva do desenvolvimento sustentável ou para a conservação da biodiversidade; - aos estudos que enfatizam a integração dos aspectos conceituais e aplicados específicos à dimensão ecológica, bem como a incorporação das dimensões sócio-econômica, histórica e sócio-cultural para a compreensão e manejo de unidades de gerenciamento da paisagem. Em síntese, esta publicação representa uma contribuição para o exercício de uma ciência integrada, baseada na aplicação dos princípios para a implementação efetiva da inserção social junto a gestão ambiental, como contrapartida aos esforços efetuados na formação e capacitação de recursos humanos. Provavelmente, sua maior contribuição será a de promover uma mudança na forma com que as investigações possam ser conduzidas pelos ecólogos, educadores, planejadores e tomadores de decisão ao enfatizar a importância da integração das dimensões sócio-econômica-cultural junto a ecológica na gestão ambiental. INFORMAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DOS TEXTOS Objetivos Organização do conhecimento científico relacionado aos processos de como as atividades humanas, tanto deliberada como inadvertidamente, vêm modificando os padrões e processos existentes na paisagem e de organização social, alterando a estrutura e funcionamento de diferentes sistemas ambientais e sociais. A compreensão destes padrões e processos no âmbito da gestão ambiental é de importância fundamental para o planejamento e manejo racional do uso da terra, seja na perspectiva da produção ou para a conservação da biodiversidade. Instruções para os autores 56 Os trabalhos deverão ser redigidos de forma concisa, com exatidão e clareza para a compreensão dos mesmos. Serão considerados para publicação somente aqueles previamente submetidos aos Exames de Qualificação junto ao PPG-CA, e à análise de revisores, conforme a indicação dos Organizadores, bem como estarem enquadrados nas normas definidas para a elaboração dos mesmos. A necessidade de correção, após a realização dos Exames de Qualificação, com base nas considerações efetuadas pelos componentes da banca Examinadora será efetuada pelos próprios autores. O trabalho deverá ter, no máximo, 30 páginas, incluindo tabelas e figuras. O texto deve ser preparado em Word for Windows em disquete ou CD . Texto O trabalho deverá ser digitado em papel tipo A4, espaço simples, com margem 3 cm à esquerda e 2cm à direita, Times New Roman 12. De modo geral, o trabalho deverá constar com os seguintes ítens: Modelo 1: Título; Autores: Filiação Profissional, Endereço e e-mail; Abstract, Key-words; Resumo; Palavras-chave; Introdução; Material e Métodos; Resultados / Discussão e Referências Bibliográficas. A seriação dos itens de Introdução até Agradecimentos só se aplica aos trabalhos capazes de adotá-la. O texto deve conter os locais onde as tabelas & figuras devem ser inseridas. Título do Trabalho: Deve conter a idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível. Negrito. Times New Roman 12. Nomes Completos dos Autores (Times New Roman 12, Negrito) Instituições & Endereços & e-mail (Times New Roman 10) Resumo (Times New Roman - 10) Palavras-Chave (máximo de 5) Abstract e Título do trabalho em inglês (Times New Roman 10) Key-words (máximo de 5) Referências Bibliográficas No texto será usado o sistema AUTOR - ANO para as citações bibliográficas, utilizando-se (&) no caso de dois autores e et al . no caso de mais de dois autores. As referências bibliográficas deverão constar em ordem alfabética. Deverão conter nome(s) e iniciais do(s) autor(es), ano, título por extenso, nome da revista, volume e primeira e última páginas. Citações de livros deverão incluir a Editora e, conforme citação, indicar o capítulo do livro. Deve(m) também constar o(s) nome(s) do editor(es) da coletânea e total de páginas. Tabelas & Figuras As tabelas e figuras devem vir em páginas separadas do texto, mas com indicação do local onde devem ser inseridas no texto. Devem ser numeradas em algarismo arábico, com os títulos explicativos e demais informações necessárias à compreensão das mesmas. As Figuras deverão estar necessariamente na forma de documento JPEG, TIFF ou PCX. RECOMENDAÇÕES Na preparação do material ilustrativo (tabelas & figuras), deve ser considerado o tamanho da página útil do Livro (14 x 20 cm), bem como a idéia de conservar o sentido vertical e que as mesmas serão publicadas em branco& preto. Figuras exageradamente grandes poderão perder a nitidez quando reduzidas às dimensões da página útil. 57 Anexo II: Normas para formatação e envio do Capítulo II para a Revista Brasileira de Zoologia. INSTRUCTION TO AUTHORS GENERAL ORIENTATIONS Manuscripts should be prepared preferentially in English but Portuguese is accepted. The authors should be aware that the intention of the editorial board of RBZool is to only publish articles in English in the near future. Manuscript submission to RBZool is available online only at the address http://submission.scielo.br/index.php/rbzool/index. Register in this page at least as author of the Revista Brasileira de Zoologia. The system is userfriendly and allows authors to monitor the submission process. All documents should be prepared with a word processor software (preferably MS WORD or compatible). RBZool refrains from publishing simple occurrence notes, new records (e.g. geographic, host), distribution notes, case studies, list of species, and similar purely descriptive studies, unless well justified by the authors. Justification should be sent prior submission to the Managing Editor. A new journal, Zoologia Letters, is being prepared to attend the need of publication of significant new records, morphological and behavioral notes and other short notes considered of importance to the understanding of animal evolution, biogeography, or biology. RESPONSIBILITY Manuscripts are received by RBZool with the understanding that: – all authors have approved submission; –the results or ideas contained therein are original; –the paper is not under consideration for publication elsewhere and will not be submitted elsewhere unless rejected by RBZool or withdrawn by written notification to the Managing Editor; –if accepted for publication and published, the article, or portions thereof, will not be published elsewhere unless consent is obtained in writing from the Managing Editor; –reproduction and fair use of articles in RBZool are permitted provided the intended use is for nonprofit educational purposes. All other use requires consent and fees where appropriate; –the obligation for page charges and text revision fees is accepted by the authors. –the authors are fully responsible for the scientific content and grammar of the article. FORMS OF PUBLICATION Articles: original articles on all areas of the Zoology. MANUSCRIPTS The text should be left-justified and the pages numbered. The front page must include: 1) the title of the article including the name(s) of the higher taxonomic category(ies) of the animals treated; 2) the name(s) of the author(s) with their professional affiliation. 3) Name of the Corresponding Author with complete addresses for correspondence, including email; 4) an abstract and key words in same language of the article, or in Portuguese if the article is in English, and equivalent to those used in the English abstract; 5) up to five key words in English, in alphabetical order and different of those words used in the title. The total information on the items 1 to 5 cannot exceed 3,500 characters including the spaces. 58 Literature citations should be typed in small capitals, as follows: Smith (1990), (Smith 1990), Smith (1990: 128), Lent & Jurberg (1965), Guimarães et al. (1983). Articles by the same author or sequences of citations should be in chronological order. Only the names of genera and species should be typed in italics. The first citation of an animal or plant taxon in the text must be accompanied by its author’s name in full, the date (of plants, if possible) and the family. The manuscript of scientific articles should be organized as indicated below. Other major sections and subdivisions are possible but the Managing Editor and the Editorial Committee should accept the proposed subdivision. Articles and Invited Review Title. Avoid verbiage such as “preliminary studies on...” and “biology or ecology of...”. Do not use author and date citations with scientific names in the title. When taxon names are mentioned in the title, it should be followed by the indication of higher categories in parenthesis. Abstract. The abstract should be factual (as opposed to indicative) and should outline the objective, methods used, conclusions, and significance of the study. Text of the abstract should not be subdivided nor should it contain literature citations. It should contain a single paragraph. Key words. Up to five key words in English, in alphabetical order and different of those words used in the title, separated by semicolon. Avoid using composite key words. Introduction. The introduction should establish the context of the paper by stating the general field of interest, presenting findings of others that will be challenged or expanded, and specifying the specific question to be addressed. Accounts of previous work should be limited to the minimum information necessary to give an appropriate perspective. The introduction should not be subdivided. Material and Methods. This section should be short and concise. It should give sufficient information to permit repetition of the study by others. Previously published or standard techniques must be referenced, but not detailed. If the material and methods section is short, it should not be subdivided. Avoid extensive division into paragraphs. Results. This section should contain a concise account of the new information. Tables and figures are to be used as appropriate, but information presented in them should not be repeated in the text. Avoid detailing methods and interpreting results in this section. Taxonomic papers have a distinct style that must be adhered to in preparing a manuscript. In taxonomic papersthe results section is to be replaced by a section headed DESCRIPTION, beginning at the left-hand margin. The description is followed with a taxonomic summary section. The taxonomicsummary section comprises a listing of site, locality and specimens deposited (with respective collection numbers). The appropriate citation sequence and format include: Country, Province or State: City or County (minor area as locality, neighborhood, and others, lat long, altitude, all in parenthesis), number of specimens, sex, collection date, collector followed by the word leg., collection number. This is a general guideline that should be adapted to different situations and groups. Several examples can be found at the website of SBZ.The taxonomic summary is followed by a remarks section. The remarks section replaces the discussion of other articles and gives comparisons to similar taxa. Museum accession numbers for appropriate type material (new taxa) and for voucher specimens (surveys) are required. Type specimens, especially holotypes (syntypes, cotypes), should not be maintained in a private collection. Appropriate photographic material should be deposited if necessary. Frozen tissues must also include accession numbers if deposited in a museum. Discussion. An interpretation and explanation of the relationship of the results to existing 59 knowledge should appear in the discussion section. Emphasis should be placed on the important new findings, and new hypotheses should be identified clearly. Conclusions must be supported by fact or data. Subdivision are possible. Acknowledgments. These should be concise. Ethics require that colleagues be consulted before being acknowledged for their assistance in the study. Literature Cited. Citations are arranged alphabetically. All references cited in the text must appear in the literature cited section and all items in this section must be cited in the text. Citation of unpublished studies or reports is not permitted, i.e., a volume and page number must be available for serials and a city, publisher, and full pagination for books. Abstracts not subjected to peer review may not be cited. Work may be cited as "in press" only exceptionally. If absolutely necessary, a statement may be documented in the text of the paper by "pers. comm.", providing the person cited is aware of the manuscript and the reference to his person therein. Personal communications do not appear in the Literature Cited section. The references cited in the text should be listed at the end of the manuscript, according to the examples below. The title of each periodical must be complete, without abbreviations. Periodicals Nogueira, M.R.; A.L. Peracchi & A. Pol. 2002. Notes on the lesser white-lined bat, Saccopteryx leptura (Schreber) (Chiroptera, Emballonuridae), from southeastern Brazil. Revista Brasileira de Zoologia 19 (4): 1123-1130. Lent, H. & J. Jurberg. 1980. Comentários sobre a genitália externa masculina em Triatoma Laporte, 1832 (Hemiptera, Reduviidae). Revista Brasileira de Biologia 40 (3): 611-627. Smith, D.R. 1990. A synopsis of the sawflies (Hymenoptera, Symphita) of America South of the United States: Pergidae. Revista Brasileira de Entomologia 34 (1): 7-200. Books Hennig, W. 1981. Insect phylogeny. Chichester, John Wiley, XX+514p. Chapterofbook Hull, D.L. 1974. Darwinism and historiography, p. 388-402. In: T.F. Glick (Ed.). The comparative reception of Darwinism. Austin, University of Texas, IV+505p. Electronicresources Marinoni, L. 1997. Sciomyzidae. In: A. Solis (Ed.). Las Familias de insectos de Costa Rica. Available at: http://www.inbio.ac.cr/papers/insectoscr/texto630.html [date of access]. Illustrations and Tables. Photographs, line drawings, graphs, and maps should be termed figures. Photos must be clear and have good contrast. Please, organize, whenever possible, line drawings (including graphics, if it is the case) as plates of figures or pictures considering the size of the page of the journal. Never create plates with line figures and half-tone together! The size of an illustration, if necessary, should be indicated using horizontal or vertical scale bars (never as a magnification in the legend). Each figure must be numbered in Arabic numerals in the lower right corner. When preparing the illustrations, authors should bear in mind that the journal has a matter size of 17.0 by 21.0 cm and a column size of 8,3 by 21,0 cm including space for captions. Figures must be referred to in numerical sequence in the text; indicate the approximate placement of each figure in the margins of the manuscript. 60 All figures should be inserted at the end of the text, following the tables for review purposes. The authors should be aware that, if accepted for publication in RBZool, all figures and graphics should be sent to the editor in the adequate quality (below). Illustrations must be saved and sent as separate TIFF files with LZW compression. The required final resolution is 300 for half-tone or color photos and 600 dpi for line art. Do not send original drawings or photos when submitting the manuscript unless specifically requested by the editor. Color figures can be published if the additional cost is covered by the author. These figures should be also incorporated, with a lower resolution, directly in the manuscript for review purposes only. Tables should be generated by the table function of the word-processing program being used, numbered in Roman numerals and inserted after the list of figures captions. Captions of the figures should be typewritten right after the References. Use a separate paragraph for the caption of each figure or group of figures. Short Communications Manuscripts are to be organized in a format similar to original articles with the following modifications. Text: The text of a research note (i.e. Introduction + Material and methods + Discussion) is written directly, without sections. Acknowledgments may be given, without heading, as the last paragraph. Literature is cited in the text as described for articles. Literaturecited, tables, figurecaptions, and figures: These items are in the form and sequence described for articles. VOUCHER AND TYPE SPECIMENS The manuscript should mention the museum or institution where the specimens are deposited, when appropriate, as proof of the validity of the taxonomic identification.