LEANDRO SILVA WILLISH MARTOS AVALIAÇÃO DA APOPTOSE NAS POPULAÇÕES LEUCOCITÁRIAS DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES SÉPTICOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Mestre em Ciências São Paulo 2010 LEANDRO SILVA WILLISH MARTOS AVALIAÇÃO DA APOPTOSE NAS POPULAÇÕES LEUCOCITÁRIAS DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES SÉPTICOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação em Infectologia. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Salomão São Paulo 2010 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA Chefe do Departamento: Prof. Dr. Angelo Amato Vincenzo De Paola Coordenador do Curso de Pós-Graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz iii LEANDRO SILVA WILLISH MARTOS AVALIAÇÃO DA APOPTOSE NAS POPULAÇÕES LEUCOCITÁRIAS DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES SÉPTICOS Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Salomão BANCA EXAMINADORA TITULARES Dr. Paulo Sérgio Martins Prof. Dr. Fernando Dall-Pizzol Dra. Aparecida Dalboni SUPLENTE Prof. Dr. Francisco Soriano Aprovado em:___/___/___ iv Martos, Leandro Silva Willish Avaliação da apoptose nas populações leucocitárias do sangue periférico de pacientes sépticos xiv, 60f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia. Título em inglês: Evaluation of apoptosis in leukocytes populations of the peripheral blood of septic patients. 1. Apoptose 2. Leucócitos 5. Linfócitos 6. Citometria de fluxo 3. Sepse 4. Choque séptico v Canção da América Amigo é coisa para se guardar Debaixo de sete chaves Dentro do coração Assim falava a canção que na América ouvi Mas quem cantava chorou Ao ver o seu amigo partir Mas quem ficou, no pensamento voou Com seu canto que o outro lembrou E quem voou, no pensamento ficou Com a lembrança que o outro cantou Amigo é coisa para se guardar No lado esquerdo do peito Mesmo que o tempo e a distância digam "não" Mesmo esquecendo a canção O que importa é ouvir A voz que vem do coração Pois seja o que vier, venha o que vier Qualquer dia, amigo, eu volto A te encontrar Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar. Composição: Fernando Brant e Milton Nascimento vi Dedicatória A um grande amigo, um companheiro de estrada que nas curvas da vida acabou nos deixando, meu pai Manoel. A minha mãe Eunice por acreditar e ensinar- me a ser o que sou hoje. A minha irmã Lílian pelo seu carinho. A Deus pela vida que tenho. vii Agradecimentos Ao Prof. Dr. Reinaldo Salomão, o qual abriu as portas da pesquisa em meu caminho, pela confiança em meu trabalho, pela paciência e entendimento das dificuldades que encontrei em meu caminho. À Drª. Milena Karina Coló Brunialti, pela orientação em meu trabalho, pela paciência de ensinar-me; sua ética, responsabilidade, experiência em laboratório, pela ajuda em meus protocolos, pela amizade. A Amanda Barba Alvez, pela ajuda em todo esse trabalho, pela disposição e compreensão. Ao Dr. Paulo Sérgio Martins, por acreditar e confiar em meu trabalho e tambem pela grande amizade que construimos. Ao Dr. Ricardo Bertolla, por toda ajuda na microscopia. A Camila Guindaline, pela ajuda em toda parte estatística. A minha irmã Lilian pelo seu carinho e amor A todos amigos que torcem pelo meu sucesso e dividem comigo muitos momentos felizes e tristes da vida. Obrigado pelo apoio. Aos amigos do laboratório Maria da luz, Aline, Natalia, Sidneia, Charlis, Giovana, Thais, Michelle. Aos colegas do laboratório de Imunologia e Virologia que trocaram experiências de laboratório e vivenciaram comigo todas as dificuldades que passei. Aos médicos que colaboraram para a realização deste estudo através da inclusão de pacientes. viii Aos voluntários que aceitaram participar do estudo. Aos familiares dos pacientes por estarem passando momentos difíceis com seu ente querido e aceitaram colaborar com este estudo. Muito obrigado. ix Resumo A sepse apresenta crescente incidência com elevada morbidade e mortalidade, sendo a principal causa de óbito nas unidades de terapia intensiva. O controle da infecção depende do adequado reconhecimento dos microrganismos pelas células do hospedeiro e de resposta efetora competente. Os linfócitos, monócitos e neutrófilos são as principais populações celulares do sangue periférico envolvidas nesse processo. A apoptose representa um importante mecanismo de controle da resposta imune, mas em condições críticas, a apoptose desregulada dessas células pode levar o hospedeiro a imunossupressão, dificultando o controle da sepse. Este trabalho avaliou-se a porcentagem de apoptose em linfócitos monócitos e neutrófilos do sangue periférico de pacientes sépticos pela exposição de fosfatidilserina na superfície celular e pela detecção intracelular de caspase-3, também foi avaliado o número absoluto e percentual de linfócitos e suas subpopulações por citometria de fluxo. Foram incluídos 40 pacientes, sendo 4 em sepse, 9 em sepse grave e 27 em choque séptico, classificados de acordo com as definições do consenso de 1992. Quinze voluntários sadios foram incluídos para comparação. Nos ensaios de detecção de apoptose foi feita a separação dos leucócitos totais seguida de lise hipotônica das hemácias e marcação com anticorpos de superfície para identificação das populações leucocitarias. Para verificação da apoptose as amostras foram marcadas com anexina-V e coradas com Iodeto de Propídeo (PI) em tampão apropriado ou incubadas com anticorpo anti-caspase-3 após fixação e permeabilização. A contagem de linfócitos foi realizada em tubos TruCOUNT após a marcação com anticorpos anti-CD45, CD3, CD4, CD8, CD16/56 e CD19. Não houve diferença no percentual de linfócitos totais em apoptose, porém observou-se menor apoptose tardia em linfócitos T nos pacientes sépticos quando comparados aos sadios ( P<0,05). Foi observada menor contagem absoluta de linfócitos totais, linfócitos T, TCD4+, TCD8+ e NK de pacientes sépticos (p<0,01), embora o percentual destas populações celulares tenha se mantido inalterado. Os resultados mostram que o menor número de linfócitos circulantes observados durante o quadro de sepse não pôde ser explicado pela presença de apoptose. A diminuição da contagem destas células na periferia pode significar uma migração para os tecidos ou órgãos linfóides desencadeada pela infecção. Nos neutrófilos não foi observada diferença no percentual de células em apoptose precoce entre pacientes e indivíduos sadios. Houve queda no percentual de apoptose tardia e conseqüente aumento no percentual de células viáveis dos pacientes em comparação aos sadios (p<0,05). Não se observou diferença significativa na mensuração intracelular de caspase 3 em neutrófilos de pacientes comparado a indivíduos sadios. A análise da apoptose durante a evolução da sepse não mostrou diferença entre os grupos D0, D7 e D14. Não houve diferença na proporção de células em apoptose entre pacientes com sepse que sobreviveram e pacientes que evoluíram a óbito até o vigésimo oitavo dia após o diagnóstico de sepse. A apoptose tardia em neutrófilos parece estar diminuída. O possível efeito biológico da redução de apoptose tardia seria uma resposta adaptada à x lesão, talvez prolongando a meia vida e atividade dos neutrófilos, entretanto, essa apoptose diminuída pode contribuir para a lesão inflamatória sistêmica e predispor o desenvolvimento da síndrome de disfunção de múltiplos órgãos. Os monócitos foram avaliados unicamente pela detecção intracelular de caspase-3, todavia, não foi encontrado diferença entre pacientes sépticos e indivíduos sadios. O mesmo ocorreu em amostras obtidas na admissão, 7º e 14º dia de seguimento. O percentual de monócitos com positividade para caspase-3 nos dias 0, 7 e 14 de sepse foi relacionado com a evolução dos pacientes em sobreviventes e óbitos, após 28 dias do diagnóstico. A análise realizada com amostras do D0 não indicou diferença na porcentagem de células apoptóticas entre os pacientes sobreviventes e que evoluíram a óbito. Entretanto, o percentual de apoptose observado no D7 mostrou que pacientes que evoluíram a óbito apresentaram menor porcentagem de células positivas para caspase-3 após 28 dias, e essa associação persistiu no seguimento de 60 e 180 dias. O papel da apoptose em monócitos parece ser muito importante na sepse, todavia são necessários novos estudos para elucidar a correlação entre apoptose de monócitos e sobrevida. Palavras-chave: Apoptose, linfócitos, sepse, citometria de fluxo, anexina-V e caspase-3. xi Abstract Sepsis incidence continues to rise with significant morbidity and mortality and is the leading cause of death in intensive care units. Infection control depends on proper recognition of the microorganisms by immune cells and an adequade effector immune response. Lymphocytes, monocytes and neutrophils are the major peripheral blood cell populations involved in this process. Apoptosis is an important mechanism for controlling the immune response, however, in critical conditions, deregulated apoptosis can lead to immune suppression, difficulting the control of sepsis. This study evaluated the percentage of apoptosis in peripheral blood derived lymphocytes, monocytes and neutrophils by means of exposure of phosphatidylserine on the cell surface and detection of intracellular caspase-3 and evaluated the absolute number and percentage of lymphocytes and their subpopulations by flow cytometry. Forty septic patients were included, of whom, 4 were septic, 9 presented severe sepsis and 27 were in septic shock, classified according to the definitions of the 1992´s consensus. Fifteen healthy volunteers’ were included for comparison. For apoptosis assays, total leucocytes were isolated from the whole blood by hypotonic lysis of the red blood cells and stained with surface antibodies in order to identify the leukocyte subpopulations. For apoptosis evaluation samples were stained with annexin-V and propidium iodide (PI) in an appropriate buffer or labeled with anti-caspase-3 after fixation and permeabilization. Lymphocyte counts were performed in TruCOUNT tubes after labeling the cells with anti-CD45, CD3, CD4, CD8, CD16/56 and CD19. There were no statistical differences in the percentage of apoptosis in total leukocytes, however, lower late apoptosis was observed in T lymphocytes of septic patients when compared to healthy subjects (P<0.05). Septic patients showed a smaller absolute count of total lymphocytes, T lymphocytes, CD4+, CD8+ and NK cells when compared to the healthy individuals (P<0.01), although the percentage of these cell populations has remained unchanged. These results demonstrate that the smallest number of circulating lymphocytes observed during sepsis could not be explained by the presence of apoptosis. The decrease of peripheral blood cell counts could be xii a result of the cell migration to the lymphoid tissues or organs triggered by infection. There were no differences in the percentage of early apoptosis in neutrophils of patients and healthy individuals. There was a decrease in the percentage of late apoptosis and a consequent increase in the percentage of viable cells in the patients when compared to the healthy subjects (P<0.05). There was no significant differences in the measurement of intracellular caspase-3 in neutrophils of patients compared to the healthy individuals. Analysis of apoptosis during the development os sepsis did not differ among the D0, D7 an D14 groups. There was no difference in the proportion of cells undergoing apoptosis between patients with sepsis who survived and those who died by the twenty-eight (D28) after the diagnosis of sepsis. Late apoptosis in neutrophils appears to be diminished. The possible biological effect of the reduction of apoptosis would be an adapted response to the injury, perhaps extending the half life and activity of neutrophils, however, this decreased apoptosis may contibute to inflammatory injury and predispose to the development of the multiple organ dysfunction syndrome. Only intracellular caspase-3 was evaluated in monocyte population, and no differences were found between this marker on septic patients and healthy individuals. The same results were observed in samples from adminssion, 7 and 14 days of follow-up. The percentage of monocytes with caspase-3 activity on days 0, 7 and 14 of sepsis was related to patient outcome as regards of survival and non-survival, after 28 days of diagnosis. The analysis performed on samples from D0 did not indicate differences in the percentage of apoptotic cells among the survivors and non-survivors. To counterpoint, when this analysis was performed on D7, the percentage of cells positive for caspase-3 were lower in those who died when compared with the survivors after 28 days; besides, this association persisted on 60 and 180 days follow-up. The role of apoptosis in monocytes seems to be important in sepsis, however, further research is needed to elucidate the correlation between monocyte apoptosis and survival. Key Words: Apoptosis, lymphocytes, sepsis, flow cytometry, annexin-V, caspase-3. xiii Sumário DEDICATÓRIA.............................................................................................. vii AGRADECIMENTOS.. ................................................................................. viii RESUMO...................................................................................................... x LISTAS.......................................................................................................... xvi 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1 1.1 Definição da Sepse............................................................................ 2 1.2 Epidemiologia da Sepse ................................................................... 3 1.3 Fisiopatologia..................................................................................... 4 1.4 Desencadeamento da resposta inflamatória..................................... 6 1.5 Necrose e Apoptose. ........................................................................ 8 1.6 Apoptose na sepse............................................................................ 16 2. OBJETIVOS.............................................................................................. 19 3. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 21 3.1. Reagentes e soluções...................................................................... 22 3.2 Anticorpos.......................................................................................... 23 3.3. Grupo de indivíduos sadios e pacientes sépticos............................. 24 3.4. Coleta de sangue.............................................................................. 25 3.5. Casuística......................................................................................... 25 3.5.1 Critérios de Inclusão.................................................................. 25 3.5.2 Critérios de exclusão................................................................. 26 3.5.3 Estadios da Sepse.................................................................. 26 3.5.4 Informações clínicas e epidemiológicas dos pacientes sépticos e indivíduos sadios......................................................................... 27 3.6. Extração de leucócitos totais............................................................ 30 3.7. Detecção de apoptose através da marcação por Anexina-V e Iodeto de Propídeo (PI)................................................................................. 31 3.8. Detecção de apoptose através da marcação intracelular de Caspase 3..................................................................................................... 3.9 Contagem absoluta de linfócitos com TruCount................................ 32 34 xiv 3.10 Citometria de fluxo........................................................................... 35 3.10.1 Estratégia de aquisição para contagem absoluta de linfócitos 39 3.10.2 Análise das populações de linfócitos totais e subpopulações. 40 3.11. Análise estatística........................................................................... 45 4. RESULTADOS.......................................................................................... 46 4.1 Linfócitos............................................................................................ 47 4.2 Linfócitos T......................................................................................... 54 4.3 Monócitos........................................................................................... 60 4.4 Neutrófilos.......................................................................................... 65 4.5 Contagem absoluta e percentual das populações e subpopulações de linfócitos................................................................................................... 72 5. DISCUSSÃO............................................................................................. 87 6. CONCLUSÃO........................................................................................... 96 7. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 99 8. ANEXOS................................................................................................... 104 xv Lista de figuras Figura 1: Representação esquemática do LPS de Salmonella................... 7 Figura 2: Principais diferenças entre apoptose e necrose........................... 9 Figura 3: Características morfológicas da apoptose.................................... 11 Figura 4: Exteriorização da fosfatidilserina…………………………………… 12 Figura 5: Representação esquemática das vias de ativação da apoptose.. 13 Figura 6: Representação esquemática dos eventos apoptóticos................ 16 Figura 7: Estratégia de aquisição……………………………………………… 36 Figura 8: Estratégia de análise de linfócitos................................................ 37 Figura 9: Estratégia de análise de monócitos e neutrófilos......................... 37 Figura 10: Estratégia de análise da detecção de apoptose através da marcação por Anexina-V e Iodeto de Propídeo (PI)..................................... 38 Figura 11: Estratégia de análise da detecção de apoptose através da marcação de caspase-3................................................................................ 38 Figura 12: Aquisição de eventos para contagem linfócitos.......................... 39 Figura 13: Estratégia de análise de linfócitos T........................................... 40 Figura 14: Estratégia de análise das subpopulações de linfócitos T................41 Figura 15: Contagem das partículas de referências.................................... 42 Figura 16: Estratégia de análise das populações de linfócitos B e NK........ 43 Figura 17: Contagem das partículas de referências.................................... 43 Figura 18: Linfócitos em apoptose e células viáveis no sangue periférico de indivíduos sadios e pacientes sépticos.................................................... 48 Figura 19: Apoptose em linfócitos de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento......................................................................................... 50 Figura 20: Linfócitos dos pacientes sépticos durante os 14 dias de evolução da sepse relacionado com sobrevida............................................ 53 Figura 21: Células em apoptose e células viáveis em linfócitos T do sangue periférico de indivíduos sadios e pacientes sépticos avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo.................................................. 55 Figura 22: Apoptose em linfócitos T de pacientes sépticos nos 14 dias de seguimento.................................................................................................... 57 xvi Figura 23: Linfócitos T de pacientes sépticos durante os 14 dias de evolução da sepse relacionado com sobrevida............................................ 59 Figura 24: Percentuais de monócitos do sangue periférico em apoptose de indivíduos sadios e pacientes sépticos avaliada pela detecção intracelular de caspase-3.............................................................................. 60 Figura 25: Percentuais de monócitos em apoptose de pacientes sépticos nos 14 dias de seguimento. 61 Figura 26: Monócitos positivos para marcação intracelular de caspase-3.. 64 Figura 27: Neutrófilos em apoptose e viáveis no sangue periférico de indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................... 66 Figura 28: Neutrófilos de pacientes sépticos durante os 14 dias de acompanhamento......................................................................................... 68 Figura 29: Apoptose de neutrófilos de pacientes sépticos durante os 14 dias de evolução da sepse relacionado com sobrevida............................... 71 Figura 30: Contagem de linfócitos por microlitro de sangue periférico de indivíduos sadios e pacientes sépticos (D0)................................................. 74 Figura 31: Porcentagem de linfócitos T entre indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 75 Figura 32: Porcentagem de linfócitos T CD4+ entre indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 76 Figura 33: Porcentagem de linfócitos T CD8+ entre indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 77 Figura 34: Porcentagem de linfócitos B entre indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 78 Figura 35: Porcentagem de células NK entre indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 79 Figura 36: Linfócitos por microlitro de sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento................................................... 81 Figura 37: Percentual e numero absoluto de linfócitos T por microlitro de sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento. 82 Figura 38: Percentual e numero absoluto de linfócitos T CD4+ por microlitro de sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de xvii seguimento.................................................................................................... 83 Figura 39: Percentual e numero absoluto de linfócitos T CD8+ por microlitro de sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento.................................................................................................... 84 Figura 40: Percentual de linfócitos e numero absoluto de linfócitos B por microlitro de sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento.................................................................................................... 85 Figura 41: Percentual e contagem absoluta de células NK do sangue periférico de pacientes sépticos nos dias 0, 7 e 14 de seguimento.............. 86 . xviii Lista de tabelas Tabela 1: Lista de anticorpos utilizados no estudo...................................... 23 Tabela 2: Informações clínicas e epidemiológicas dos pacientes sépticos. 28 Tabela 3: Painel de anticorpos utilizados em cada tubo para o ensaio de anexina-V e iodeto de propídeo.................................................................... 31 Tabela 4: Painel de marcação com anexina v e iodeto de propídeo........... 32 Tabela 5: Painel de anticorpos utilizados em cada tubo para o ensaio de caspase-3...................................................................................................... 32 Tabela 6: Painel de marcação com caspase-3............................................ 33 Tabela 7: Apoptose em linfócitos, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, em indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................... 48 Tabela 8: Apoptose em linfócitos, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, durante a evolução dos pacientes sépticos.................................................................. 49 Tabela 9: Avaliação da apoptose em linfócitos e sobrevida dos pacientes D0 em 28 dias após o diagnóstico de sepse................................................ 51 Tabela 10: Avaliação da apoptose em linfócitos e sobrevida dos pacientes D7 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................... 52 Tabela 11: Avaliação da apoptose em linfócitos e sobrevida dos pacientes D14 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................. 52 Tabela 12: Apoptose em linfócitos T, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, em indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................... 54 Tabela 13: Apoptose em linfócitos T, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, durante a evolução dos pacientes sépticos.................................................................. 56 Tabela 14: Avaliação da apoptose em linfócitos T e sobrevida dos pacientes D0 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................... 58 Tabela 15: Avaliação da apoptose em linfócitos T e sobrevida dos pacientes D7 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................... 58 xix Tabela 16: Avaliação da apoptose em linfócitos T e sobrevida dos pacientes D14 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................. 59 Tabela 17: Detecção intracelular de caspase-3, em indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................................................... 60 Tabela 18: Apoptose em monócitos, avaliada pela detecção intracelular de caspase-3, durante a evolução dos pacientes sépticos.......................... 61 Tabela 19: Avaliação da apoptose em monócitos e sobrevida dos pacientes em 28 dias após o diagnóstico de sepse..................................... 62 Tabela 20: Avaliação da apoptose em monócitos e sobrevida dos pacientes em 60 dias após o diagnóstico de sepse..................................... 63 Tabela 21: Avaliação da apoptose em monócitos e sobrevida dos pacientes em 180 dias após o diagnóstico de sepse................................... 63 Tabela 22: Apoptose em neutrófilos, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, em indivíduos sadios e pacientes sépticos......................................................... 65 Tabela 23: Apoptose em neutrófilos, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, durante a evolução dos pacientes sépticos............................................................... 67 Tabela 24: Avaliação da apoptose em neutrófilos e sobrevida dos pacientes D0 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................... 69 Tabela 25: Avaliação da apoptose em neutrófilos e sobrevida dos pacientes D7 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................... 70 Tabela 26: Avaliação da apoptose em neutrófilos e sobrevida dos pacientes D14 em 28 dias após o diagnóstico de sepse............................. 70 Tabela 27.1: Contagem absoluta e percentual de linfócitos em amostras de sangue periférico de pacientes................................................................ 73 Tabela 27.2: Contagem absoluta e percentual de linfócitos em amostras de sangue periférico de voluntários sadios.................................................. 73 Tabela 28: Contagem percentual e absoluta realizada nas populações de linfócitos, linfócitos T, linfócitos T auxiliar (CD4+), linfócitos T citotóxico (CD8+), linfócitos B e células NK, durante a evolução dos pacientes sépticos........................................................................................................ 80 xx Lista de Abreviaturas e Símbolos AP-1: proteína ativadora-1 APC: aloficocianina BD: Becton Dickinson BSA: albumina bovina Bpm: batimentos por minuto CD: “cluster of differentiation” CO2:dióxido de carbono °C: graus Celsius EDTA: ácido etilenodiaminotetraacético Eros: espécies reativas de oxigênio FADD: proteína associada ao domínio de morte de FAS FC: freqüência cardíaca FCS: soro fetal bovino FITC: fluoresceína isotiocianato FR: freqüência respiratória G: gravidade (velocidade de centrifugação) g: grama IκB: inibidor de NF-κB ICS: infecções da corrente sanguínea IFN: interferon IL: interleucina IL-1β: interleucina-1 beta IL-1R: receptores de IL-1 IL-6: interleucina-6 IL-10: interleucina-10 IRAK: quinase associada ao IL-1R IRF: fator regulador de interferon LBP: proteína ligante de lipopolisacarídeo LPS: lipopolissacarídeo µg: micrograma µl: microlitro M: molaridade Mal/TIRAP: proteína adaptadora tipo MyD88 MALP-2: lipopeptídeo estimulador de macrófagos MAPKs: proteínas quinases ativadoras de mitose MD-2: proteína de diferenciação mielóde-2 Min: minuto ml: mililitro MyD88: proteína de diferenciação mielóide 88 mRNA: ácido ribonucléico mensageiro NF-κ κβ: fator nuclear-kappa B NO: óxido nítrico NOD: “nucleotide-binding oligomerization domain” PAMP: padrão molecular associado à patógenos PBS: solução tampão fosfatada xxi PE: ficoeritrina PerCP: clorofila peridinina PRR: receptor de reconhecimento padrão ROS: espécies reativas de oxigênio SIRS: síndrome da resposta inflamatória sistêmica sCD14: CD14 sóluvel TGF-β β: fator transformador de crescimento-beta TICAM-1/TRIF: molécula adaptadora contendo o domínio TIR-1 TIR: domínio homólogo ao receptor Toll/IL-1 TIRAP/MAL: proteína adaptadora tipo MyD88 TLR: “Toll-like Receptor” tlr4: “toll-like receptor-4 gene” TNF-α α: fator de necrose tumoral-alfa TNFR: receptor de TNF TRAM: molécula adaptadora relacionada à TRIF TRIF: molécula indutora de interferon-beta UTI: unidade de terapia intensiva xxii _______________________ Introdução 1. INTRODUÇÃO 1.1 - Definição da Sepse A sepse pode ser definida como a repercussão sistêmica da infecção. Manifestando-se como diferentes estadios clínicos de um mesmo processo fisiopatológico, é, para o médico, um de seus maiores desafios, uma emergência médica associada à elevada morbidade e mortalidade. No início da década de 90, em reunião de consenso das Sociedades de Terapia Intensiva e de Pneumonologistas (American College of Chest Physicians/ Society of Critical Care - Bone et al.; 1992a) se procurou estabelecer uma padronização para o diagnóstico de sepse e suas complicações, levando-se em consideração os avanços da compreensão de sua fisiopatologia. Reconheceu-se que uma grande diversidade de causas poderia levar um quadro clínico comum, caracterizado pelo desencadeamento da resposta inflamatória do hospedeiro. Este quadro foi definido como Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS, do inglês Systemic Inflammatory Response Syndrome) e seria desencadeado por pancreatite, queimaduras, trauma e outros, ficando o termo sepse restrito a SIRS causada por infecção, ou seja, resposta inflamatória causada por infecção. SIRS, sepse, sepse grave e choque séptico representam um continuum clínico de gravidade fisiopatológica. O processo começa com uma infecção, com ou sem resposta inflamatória sistêmica, podendo progredir a resposta sistêmica com sepse grave ou choque séptico. SIRS/sepse seria reconhecida pela presença de dois ou mais dos seguintes critérios: alteração 2 de temperatura (hipotermia ou hipertermia), elevação de freqüência respiratória (FR>20 irpm), de freqüência cardíaca (FC> 90 bpm), e presença de leucocitose, leucopenia ou de células imaturas no sangue periférico. A presença de sepse e pelo menos uma disfunção orgânica caracteriza a sepse grave. A existência de hipotensão refratária à adequada administração de fluído com hipoperfusão evidencia o choque séptico onde representa sua expressão mais grave. (Bone et al., 1992b). 1.2 - Epidemiologia da Sepse A importância da sepse pode ser inferida pela sua elevada morbidade e mortalidade. Avaliando incidência e mortalidade associadas às infecções de corrente sanguínea (ICS) no Hospital São Paulo, hospital de ensino da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), entre 1985 e 1986, foram encontrados 21,7 episódios por 1000 admissões, com mortalidade de 33,4% (Salomão et al., 1992; 1993). Estudo conduzido na Universidade de Iowa, Estados Unidos da América (EUA), entre 1980 e 1992, mostrou aumento de praticamente três vezes na incidência de ICS adquiridas no hospital (Pittet & Wenzel, 1995). Mais recentemente estudos utilizando diagnósticos clínicos e laboratoriais de sepse e com base populacional foram conduzidos. O mais completo, avaliando internações entre o ano de 1979 a 2000, com amostragem representativa do conjunto dos hospitais americanos, mostrou que a incidência aumentou de 82,7 episódios/100.000 habitantes em 1979 para 240,4 episódios/ 100.000 habitantes em 2000 (Martin et al., 2003). 3 Outro estudo estimou a ocorrência de 750.000 casos de sepse anualmente nos EUA, com cerca de 210.000 óbitos (Angus et al., 2001). Um estudo brasileiro multicêntrico observacional (BASES - Brazilian Sepsis Epidemiological Study) conduzido em cinco unidades de terapia intensiva, de maio de 2001 a janeiro de 2002, mostrou incidência de sepse 61,4; sepse grave 35,6 e choque séptico 30,0 para cada 1000 pacientes-dia. As taxas de mortalidade para os pacientes em sepse, sepse grave e choque séptico foram de 34,7%; 47,3% e 52,2%; respectivamente (Silva et al., 2004). 1.3 - Fisiopatologia A compreensão da sepse é complexa porque envolve múltiplos fatores simultaneamente como virulência, tamanho do inóculo, doenças de base, estado nutricional, idade e presença de polimorfismos que interferem na resposta imune. Os mecanismos adaptativos da resposta imune e inflamatória do hospedeiro na sepse são imperativos no controle da infecção, e ao mesmo tempo, é mediadora de alterações funcionais, que são a base fisiopatológica das manifestações clínicas. Importantes progressos foram obtidos no entendimento da patogenia da sepse nos últimos anos destacando-se o mecanismo de reconhecimento de antígenos bacterianos e a melhor compreensão dos mecanismos de sinalização celular, que são descritos a seguir. As citocinas inflamatórias e outros mediadores desencadeados por estas ou por agentes patogênicos induzem uma série de alterações nas células alvo. Embora um amplo espectro de células seja sensível aos seus efeitos, na 4 sepse, as alterações induzidas na célula endotelial constituem um importante substrato fisiopatológico. Há alterações do seu citoesqueleto, alterações funcionais, como síntese de mediadores com efeitos quimiotáticos, além do aumento da expressão de moléculas de adesão. Ainda, a liberação de vasodilatadores potentes como o óxido nítrico (NO) pelas células inflamatórias e endoteliais leva a uma importante vasodilatação. As citocinas inflamatórias desencadeiam também a cascata de coagulação, principalmente pela exposição do fator tissular, criando um ambiente de exacerbação da inflamação e coagulação. A regulação negativa de proteínas com função anticoagulante contribui ainda mais para a indução da coagulação. Como resultado tem-se a adesão de neutrófilos e monócitos às células endoteliais, migração para o extravascular, extravasamento de fluídos para o interstício, coagulação intravascular, que em conjunto com alteração do tônus resultam em alterações da microcirculação e levam à hipóxia tecidual e consequente disfunção de órgãos e sistemas. Importante ainda, a disfunção celular desencadeada pela sepse pode persistir mesmo após estabelecimento do fluxo sanguíneo aos tecidos, por mecanismos de sofrimento celular, referido como choque citopático (Salomão et al., 1999; Rigato et al., 2001; Cohen, 2002; Hotchkiss & Karl, 2003). A melhor percepção da fisiopatologia da sepse é importante para identificar possíveis alvos e estratégias de tratamento na sepse. 5 1.4 - Desencadeamento da resposta inflamatória A similaridade entre os efeitos fisiopatológicos agudos induzidos pelo LPS e as manifestações da sepse por Gram-negativos levou a hipótese de que o LPS, liberado da bactéria in vivo, é responsável pela indução dos sintomas da septicemia. As bactérias Gram-negativas possuem em sua membrana externa o LPS, que desempenha importante função na viabilidade bacteriana e na interação com o hospedeiro (Rietschel et al., 1982). Após a morte e lise, e também quando a bactéria se multiplica, o LPS é liberado da superfície bacteriana. A molécula do LPS pode ser dividida, estrutural e funcionalmente, em três sub-regiões: polissacarídeo O, região central ("core") e o lipídeo A (figura 1). O lipídeo A representa a estrutura mais conservada do LPS e retém a toxicidade da molécula (Galanos et al., 1979a). Por intermédio do lipídeo A, o LPS interage com vários tipos celulares, como células mononucleares, células endoteliais, polimorfonucleares e de particular importância os monócitos e macrófagos. A ativação dos macrófagos pelo LPS resulta na liberação de mediadores como o fator de necrose tumoral-alfa (TNFα), interleucina-1 (IL-1), IL-6, IL-8 e IL-10. Estes mediadores têm atividade bioativa potente e podem atuar em sinergismo ou ter efeito antagônico a endotoxina (Rietschel et al., 1994). In vivo, estas moléculas podem ter ação local ou serem liberadas na circulação, através da qual são transportados para diferentes células e órgãos suscetíveis, resultando na repercussão sistêmica da infecção (Rietschel et al., 1982). 6 Figura 1: Representação esquemática do LPS de Salmonella (adaptado de Galanos et al., 1979a). A ação biológica do LPS é modulada por proteínas presentes no soro, como a proteína ligante de lipopolissacarídeo (LBP) (Schumann et al., 1990). A LBP facilita a ligação do LPS ao CD14, potencializando a ativação do macrófago induzida pelo LPS, e subsequente produção de citocinas proinflamatórias, como o TNF-α (Schumann et al., 1990; Wright et al., 1990). O CD14, caracterizado inicialmente como o mais importante receptor de LPS, apresenta-se em duas formas: o CD14 solúvel (sCD14) e o CD14 ligado à membrana celular (mCD14) (Wright et al., 1990). O CD14 é encontrado na membrana de monócitos, macrófagos e em menor proporção em granulócitos (Ziegler-Heitbrock & Ulevitch, 1993). O CD14 não possui porção intracelular e para transmitir o sinal de ativação utiliza o receptor tipo Toll (“Toll-like receptor 4” - TLR4). O receptor Toll foi originalmente descoberto na Drosophila melanogaster. O primeiro homólogo humano do Toll de Drosophila foi descrito por Medzhitov et al em 1997, devido sua capacidade de ativar a imunidade adaptativa. Os TLRs são compostos por proteínas transmembranas ricas em leucina com porção citoplasmática muito similar ao receptor de interleucina-1, consequentemente funcionam como transdutores de sinalização. A descoberta do TLR4 e sua importância na sinalização do LPS deu-se através da 7 investigação em camundongos sensíveis (C3H/HeN) e resistentes (C3H/HeJ e C57Bl10/ScCR) ao LPS por Poltorak et al. (1998). O TLR4 necessita da proteína de diferenciação mielóide-2 (MD-2) que se encontra acoplada a parte extracelular do TLR4, conferindo uma maior sensibilidade ao LPS, provavelmente através da estabilização dos dímeros do TLR4 (Shimazu et al., 1999). A cascata de sinalização tem caminhos que se sobrepõem e resultam na ativação de fatores de transcrição. A cascata de ativação é desencadeada após a ligação do LPS ao complexo TLR4/MD-2, existem quatro proteínas adaptadoras envolvidas na sinalização da ativação pelo TLR4: fator de diferenciação mielóide 88 (MyD88), adaptadora tipo MyD88 (Mal) também chamada de proteína adaptadora contendo o domínio TIR (TIRAP), molécula adaptadora contendo o domínio TIR-1 (TICAM-1) também chamada de adaptadora indutora de interferon-β (TRIF) e molécula adaptadora relacionada à TRIF (TRAM) (Takeda & Akira, 2005). 1.5 - Necrose e Apoptose Definição e vias de ativação A necrose é uma forma patológica de morte celular que pode ser induzida por injúria grave, como hipertemia, hipóxia ou altas concentrações de substâncias tóxicas. A necrose é caracterizada por um aumento no volume total da célula e de suas organelas, seguindo-se a autólise, que envolve dissolução das membranas e ruptura da célula, com liberação de seus 8 subprodutos, os quais estimulam uma inflamação exudativa. Essa característica é importantíssima na diferenciação de apoptose e necrose, pois na apoptose não ocorre esse processo inflamatório intenso devido a não liberação das enzimas lisossomais tóxicas e proteases no espaço intersticial. Nas células necróticas o núcleo sofre desorganização da cromatina e intumescimentos, podendo exibir estruturas vacuolizadas (figura 2) (Hotchkiss et al., 2003). Figura 2: Principais diferenças entre apoptose e necrose (Adaptado de http://ihome.cuhk.edu.hk/~b105122/n6.htm). O termo morte celular programada ou apoptose é uma forma fisiológica de morte celular, proporcionando um mecanismo seguro para eliminação de células potencialmente nocivas ao nosso organismo (Cooper, 2001). 9 A palavra apoptose é de origem grega e descreve o processo da queda de folhas das árvores no outono, uma parte necessária no ciclo de vida das plantas. O termo apoptose foi utilizado pela primeira vez por Kerr, Wyllie e Currie em 1972 onde descreveram morfologicamente a forma distinta das células mortas. No entanto, certos componentes do conceito de apoptose já haviam sido descritos vários anos antes. Este é um fenômeno muito frequente, tanto em estados fisiológicos como patológicos, onde a célula é estimulada a acionar mecanismos que culminam em sua morte (Kerr et al., 1972; Kerr, 2002). Em condições normais é um mecanismo importante na remodelação de órgãos durante a embriogênese e na vida pós-natal, além do controle da diferenciação e proliferação celular. Em estados patológicos, os danos podem ser associados à resistência da apoptose, como no caso de alguns tipos de câncer, doenças autoimunes e malformações; ou podem ser associados ao excesso de apoptose, como processos infecciosos, doenças neurodegenerativas e neuromusculares (Brasileiro & Bogliolo, 2001). A morte celular por apoptose é geneticamente mediada por um percurso bioquímico e foi primeiramente caracterizada como tal por mudanças nos aspectos morfológicos celulares identificados ao microscópio. Muitos estudos utilizam um fenômeno clássico para investigar o decurso da apoptose como a exposição da fosfatidilserina, que em células viáveis encontra-se interiorizada e em células apoptóticas apresenta-se exteriorizada, devido as mudanças na estrutura da membrana (Engeland et al., 1998). Morfologicamente, a apoptose é caracterizada pela perda da integridade celular, havendo condensação e segregação da cromatina, que passa a ocupar 10 a margem nuclear contra o envelope nuclear e concentração do citoplasma. A condensação da cromatina é acompanhada por invaginação das membranas celular e nuclear, seguida pela ruptura do núcleo em fragmentos, que se tornam circundados por partes do envoltório nuclear (figura 3). Surgem então os corpos apoptóticos (ou vesículas apoptóticas), contendo parte do citoplasma e do núcleo, expressando marcadores de superfície que permitem serem rapidamente reconhecidos e fagocitados por macrófagos ou outras células do sistema imune ou ainda, por células adjacentes (“fagócitos”) (Elmore S, 2007). Figura 3: Características morfológicas da apoptose (Adaptado de KERR, 1972). O encolhimento e a condensação do citoplasma se devem à perda de água e ao acúmulo de proteínas desnaturadas, embora haja evidências de aumento de proteólise. Os brotamentos se fazem por rearranjo ativo do citoesqueleto, que formam verdadeiras depressões na superfície da célula, 11 culminado com sua fragmentação. A condensação da cromatina parece decorrer da ação de endonucleases que clivam os filamentos de cromatinas nos espaços entre os nucleossomos gerando fragmentos de DNA (Schroeder et al., 2001). Durante a formação dos corpos apoptóticos ocorre a inversão da localização dos fosfolípides da membrana plasmática devido às mudanças em sua estrutura. A fosfatidilserina é um fosfolipídio presente nas camadas mais internas da membrana plasmática. Quando a célula entra em apoptose e se formam os corpos apoptóticos este fosfolípide é exteriorizado, ou seja, está presente na porção externa da célula como mostra a figura 4 (Azevedo, 2007). Figura 4: Exteriorização da fosfatidilserina (Adaptado de Van Engeland, 1998). De maneira geral, a morte celular por apoptose resulta de uma das duas vias possíveis: via mitocondrial ou retículo endoplasmático (via intrínseca), via do receptor de morte celular (via extrínseca) (Figura 5). 12 Via Intrínseca Via Extrínseca estresse, viroses, etc Citoplasma Fragmentação do DNA do hospedeiro APOPTOSE Figura 5: Representação esquemática das vias de ativação da apoptose. (http://homepage.usask.ca/~vim458/advirol/SPCV/mitochondria/mitochondria.html). A via intrínseca pode ser desencadeada em diversas situações, como na presença de citocinas, espécies reativas de oxigênio (EROs), esteróides, danos no DNA e carência de fator de crescimento. A sinalização por esta via é mediada através de um complexo de estímulos que envolvem a mitocôndria e, algumas vezes a via do retículo endoplasmático, proporcionando a liberação do citocromo C, que em condições normais de sobrevivência celular encontra-se junto ao espaço intermembrana da mitocôndria (Lindoholm et al., 2004). As proteínas da família Bcl-2 são determinantes principais da sobrevivência da célula, controlando a formação de poros na membrana da mitocôndria induzidos pelos diferentes sinais de morte que convergem na organela. Esses poros são importantíssimos na liberação do citocromo C para o citosol (Danial & Korsmeyer, 2004), onde forma-se um complexo conhecido como 13 apoptossomo, constituído por citocromo C, adaptador (Apaf-1) e caspase-9 (Hengartner, 2000), levando a ativação por autoclivagem da caspase-9 e assim ativando a cascata de caspases, que são enzimas, ou seja, proteases de cisteínas, que clivam cadeias de proteínas após resíduos de ácido aspártico, resultando em morte celular (Aceham et al., 2002). A complexidade deste caminho permite a regulação minuciosa da morte da célula e fornece a possibilidade de intervenção na cascata antes ou após o envolvimento da mitocôndria. Em geral, os principais estímulos pró-apoptóticos responsáveis pela ativação da via intrínsica são decorrentes da ativação de proteínas da família Bcl-2, como por exemplo, Bax (Bcl-2 associated X protein) e Bak (Bcl-2 antagonist/killer). Portanto, células desprovidas dessas proteínas são resistentes a apoptose mediada por essa via (Lindoholm & Arumae, 2004). A via do retículo endoplasmático é importante devido o seu mecanismo aparentemente envolver o aumento de cálcio no conteúdo intracelular. Há indícios que moléculas como Bax, Bak e Bcl-2, também induzem as alterações de cálcio no conteúdo do retículo endoplasmático proporcionando liberação de cálcio no citossol e propagação do estímulo apoptótico. A ativação da apoptose via liberação de cálcio pode liberar o citocromo C da mitocôndria, sendo a interação mais conhecida entre as vias mitocondriais e do retículo endoplasmático na apoptose. Entretanto o aumento de cálcio é capaz de induzir apoptose por clivagem da Bid ou por ativação de caspase 12, que aparentemente migra para o citosol e ativa a caspase-9 independente da formação do apoptossomo (Silva & Velascos 2007). A via extrínseca é melhor caracterizada. Um dos mecanismos mais importantes é a interação da molécula receptora Fas (CD95) e seu ligante 14 FasL. Tanto o Fas quanto o seu ligante, são normalmente induzidos durante uma resposta imune adaptativa (Marsik et al., 2003). A apoptose é iniciada pela estimulação do receptor Fas através da ligação do FasL, induzindo trimerização do receptor. As porções citoplasmáticas dos receptores ligam-se às moléculas adaptadoras (FADD) que, por sua vez, ligam-se à uma caspase contracorrente, chamada caspase-8. Isso leva à ativação de caspase-8 por autoclivagem, que então ativa a cascata de caspases (Engeland et al., 1998). As vias intrínseca e extrínseca interagem em suas cascatas de ativação intracelular. A caspase-8 não cliva somente outras caspases, mas também um membro da família Bcl-2, chamado Bid. A Bid, ao contrário de outros membros da família Bcl-2, induz a apoptose. Normalmente, ela está retida em forma inativa no citosol. Entretanto, a clivagem por caspase-8 permite à Bid translocar para a mitocôndria, onde ela rompe a membrana e libera o citocromo C para o citosol. Isto leva à ativação de caspase-9, promovendo a amplificação da cascata de caspases iniciada pela ativação direta de caspase-8 em receptores de morte celular (Hotchkiss et al., 2005). Embora existam diferentes vias de sinalização, todas culminam em uma única caspase denominada caspase-3 efetora (figura 6). Em seguida ocorre a ativação de uma DNAse (CAD), esta por sua vez entra no núcleo e cliva o DNA, produzindo fragmentos característicos de uma célula apoptótica. Uma das descobertas mais emocionantes foi a elucidação do mecanismo de ativação da nuclease. Essa nuclease fragmenta o DNA genômico entre os nucleossomos, gerando fragmentos de DNA. A presença desta fragmentação do DNA foi usada extensivamente como marcador para a morte apoptótica da célula (Hengartner, 2000). 15 Figura 6: Representação esquemática dos eventos apoptóticos (VENKATACHALAM, 2000). 1.6 - Apoptose na sepse Os modernos conhecimentos da biologia celular têm revelado a cada dia que a morte celular programada e seus indutores e inibidores podem ser a chave para a compreensão de muitas patologias e doenças. Apoptose e suas disfunções têm um papel crucial na sepse, onde tem sido observado mudanças na dinâmica e regulação da apoptose. Essas mudanças são observadas nos neutrófilos, entre outras células do sistema imune inato, e nos linfócitos T, que fazem parte do sistema imune adaptativo (Mahidhara & Billiar, 2000). Os linfócitos B e T têm papel importante no desenvolvimento da resposta imune adaptativa e rapidamente se expandem em resposta a citocinas e apresentação de antígeno. Normalmente, a apoptose de linfócitos é um 16 processo relacionado à deleção de linfócitos auto-reativos ou à contenção da ativação de células imunes. Em condições críticas, a apoptose desregulada no timo, no baço e no tecido linfóide associado a mucosas pode levar o hospedeiro a imunossupressão, dificultando o controle da sepse (Silva & Velascos, 2007). Modelos animais demonstram que o bloqueio da apoptose de linfócitos melhora a sobrevida na sepse. A utilização de estratégias para inibir a apoptose pode melhorar a sobrevida e proporcionar uma terapia eficaz (Hotchkiss et al., 2005). Em modelo experimental Hotchkiss et al. observaram a melhora na sobrevida de camundongos sépticos depletados de caspase-3 quando comparado com camundongos selvagens. O uso de inibidor seletivo de caspase-3 nos animais selvagens também resultou em melhora, indicando que a redução da apoptose pode aumentar a sobrevida na sepse (Hotchkiss et al., 2000). Tulzo et al. e Schroeder et al. mensuraram a apoptose através da detecção da fosfatidilserina na membrana celular de linfócitos em sangue total de pacientes sépticos e observaram um aumento significativo da apoptose nos linfócitos T (Tulzo et al., 2002; Schroeder et al., 2001). Além disso, Salomão et al. observaram uma expressão aumentada de CD95 em linfócitos T de pacientes com sepse quando comparado com voluntários sadios (Salomão et al., 2002). Adrie et al. estudaram monócitos de sangue periférico e observaram um aumento significativo da porcentagem de monócitos com despolarização mitocondrial e aumento no potencial de membrana no grupo de pacientes 17 sépticos comparado ao grupo controle. Neste mesmo estudo, ao dividir-se o grupo de pacientes com sepse grave em sobreviventes e não sobreviventes obtiveram um aumento significativo na porcentagem de células com despolarização na mitocôndria no grupo de não sobreviventes. Ao verificar a expressão de Bcl-2 detectaram um aumento também significativo desta proteína nos indivíduos sobreviventes quando comparado com os não sobreviventes (Adrie et al., 2001). Utilizando-se a citometria de fluxo, Taneja et al. observaram diminuição da apoptose em neutrófilos de pacientes sépticos em relação ao grupo controle, demonstrado pela redução da expressão de caspase-9 e 3 (Taneja et al., 2004). Em oposição, Martins et al. observaram um aumento na apoptose de neutrófilos de pacientes sépticos, ( Martins et al., 2003). Desta forma, a apoptose é um evento regulado de forma complexa na sepse. Por um lado, estudos experimentais demonstram que o bloqueio da apoptose em linfócitos pode ser protetor na sepse. Entretanto, estudos clínicos apontam para exacerbação da apoptose em linfócitos circulantes de pacientes sépticos (Silva & Velascos, 2007). A melhor caracterização do papel da apoptose na sepse e na disfunção de múltiplos órgãos pode ser de grande importância na decisão de qual ou quais métodos terapêuticos devem ser adotados no controle dessas patologias (Martins et al., 2003). 18 _____________________ Objetivos 2. OBJETIVOS Avaliar a ocorrência de apoptose precoce, apoptose tardia e células viáveis em linfócitos, linfócitos T e neutrófilos através do método de anexina V e iodeto de propídeo assim como pela marcação intracelular de caspase-3 ativa em linfócitos, linfócitos T, monócitos e neutrófilos do sangue periférico de pacientes sépticos. Investigar se o índice de apoptose em pacientes sépticos está relacionado com a sobrevida dos pacientes sépticos. Avaliar a contagem absoluta dos linfócitos, linfócitos T, linfócitos T CD4, CD8, linfócitos B e de células NK em sangue periférico de voluntários sadios e pacientes séptico durante os 14 dias de acompanhamento. 20 ________________________ Materiais e Métodos 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Reagentes e soluções - PBS 0,15M pH 7,2 (8g NaCl (Labsynth, Diadema, SP, Brasil); 0,2g KH2PO4 (Labsynth); 1,15g Na2HPO4 (Labsynth); 0,2g KCl (Labsynth) diluído em 1 litro de água destilada). - Tampão de Marcação pH 7,4-7,6 (PBS 1% Soro Fetal Bovino (Invitrogen, cidade, estado, país); 0,1% Azida Sódica (Sigma, Saint Louis, MO, EUA). - Solução de NaCl 0,2% (1g de NaCl diluído em 500mL de água destilada). - Solução de NaCl 1,6% (8g de NaCl diluído em 500mL de água destilada). - Kit para Detecção de Apoptose por Anexina V (BDBioscience, San Diego, CA, EUA) composto por Anexina V-FITC, Iodeto de Propídeio e tampão de marcação 10x concentrado. - Trypan Blue ( Sigma) 0,1% em PBS. - Tampão de Fixação [PBS 4% paraformaldeído (Polysciences, Warrington, PA ,EUA), pH 7,4-7,6]. - Tampão de Permeabilização [solução de lise BDBiocience diluída para 2 vezes concentrada em água destilada; 0,05% Tween 20 (Casa Americana de Artigos para Laboratório, São Paulo, SP, Brasil)]. - Tampão de marcação pH 7,4-7,6 (soro bovino fetal 1%, Azida sódica 0,1% diluídos em PBS) 22 3.2 Anticorpos Os anticorpos utilizados para caracterização das diferentes populações leucocitárias encontram-se listados na tabela1, com descrição dos clones e isotipos dos mesmos. Tabela 1: Lista de anticorpos utilizados no estudo. Anticorpo Quantidade Clone Isotipo Fabricante CD3 APC1 2µL HIT3a mouse IgG2a BD Biosciences CD19 APC 2µL SJ25C1 mouse IgG1 BD Biosciences CD14 PerCP2 4µL MφP9 mouse IgG2b BD Biosciences CD45 FITC3 5µL 2DI mouse IgG1 BD Biosciences HLA-DR PE4 2µL 27-35 mouse IgG2b BD Biosciences CD3 APC 2µL HIT3a mouse IgG2a BD Biosciences CD19 PerCP3 6µL 4G7 mouse IgG1 BD Biosciences CD14 FITC 5µL MφP9 mouse IgG2b BD Biosciences CD15 APC 5µL HI98 mouse IgM BD Biosciences CD3 FITC SK7 CD8 PE SK1 CD45 PerCP3 2D1 BD Biosciences 10µL SK3 CD4 APC with BD 23 trucount tubes CD3 FITC SK7 CD16/56 PE B73.1 CD45 PerCP3 NCAM 16.2 BD Biosciences 10µl CD19 APC 2D1 with BD SJ25C1 trucount tubes Caspase-3 10µL C92-605 rabbit IgG BD Biosciences ativa PE CD45: Marcador leucocitário. CD3: Marcador de linfócitos T. CD4: Marcador de linfócitos T auxiliador. CD8: Marcador de linfócitos T citotóxicos. CD19: Marcador de linfócitos B. CD14: Marcador de monócitos. CD 15: Marcador de neutrófilos. CD 16/56: Marcador de células NK. 3.3. Grupo de indivíduos sadios e pacientes sépticos Voluntários sadios e pacientes sépticos, de diferentes faixas etárias, que preencheram os critérios de inclusão do estudo e participaram espontaneamente do estudo. Foi solicitada aos voluntários ou responsáveis legais a assinatura de um termo de consentimento (anexo) previamente aprovado pelo comitê de ética e 24 pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/Hospital São Paulo, Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Sírio Libanês (anexo). 3.4. Coleta de sangue Foram coletados 10mL de sangue de voluntários sadios e pacientes sépticos em tubos à vácuo contendo heparina sódica (BD, Plymouth, Inglaterra) e 5mL de sangue em tubo de EDTA (BD). As amostras de sangue colhidas foram imediatamente processadas no Laboratório de Virologia e Imunologia I da Disciplina de Infectologia, UNIFESP. 3.5 Casuística 3.5.1 Critérios de Inclusão Voluntários: Voluntários sadios, de diferentes faixas etárias, que não esteja em uso de medicação e que participe espontaneamente do estudo. Pacientes: Foram incluídos pacientes com quadro clínico e laboratorial de sepse, sepse grave ou choque séptico, classificados de acordo com as definições adaptadas do consenso de 1992, admitidos no Hospital São Paulo, Hospital Sírio Libanês, Hospital Albert Einstein e Hospital Santa Marcelina, na cidade de São Paulo. Os pacientes foram incluídos nas primeiras 72 horas do diagnóstico de sepse, ou nas primeiras 48 horas do evento definidor de sepse grave ou choque 25 séptico. Novas amostras foram coletadas nos dias 7, 14, 28 após a coleta da primeira amostra. 3.5.2 Critérios de exclusão 1. Pacientes menores de 18 anos ou com doença em estádio terminal, como neoplasias ou Aids. 2. Pacientes que estejam recebendo alguma terapia experimental. 3. O evento definidor de sepse grave ou choque ocorreu há mais de 48 horas. 4. Pacientes moribundos ou com morte iminente. 3.5.3 Estadios da Sepse Sepse: entidade clínica presente em um paciente com sítio de infecção identificado, associando-se uma resposta inflamatória sistêmica decorrente dessa infecção, onde estejam presentes sinais como: a) temperatura >38°C ou <36°C; contagem de leucócitos >12.000 ou <4.000 células/mm3 ou formas imaturas >10%; c) freqüência cardíaca >90 bpm; d) freqüência respiratória >20 ipm ou necessidade de ventilação mecânica; e) alteração do estado mental; f) edema significativo ou balanço positivo (>20 mL/Kg/24h); g) hiperglicemia (glicose plasmática >120 mg/dL) na ausência de diabete. Sepse grave: sepse complicada por alguma disfunção orgânica refletida por hipoxemia (PaO2/FiO2 <300), disfunção renal (oligúria <0,5 mL/Kg/h ou aumento de creatinina >0,5mg/dL), distúrbios de coagulação (RNI >1,5 ou TTPA >60 segundos), trombocitopenia <100.000, hiperbilirrubinemia > 4 mg/dL, hiperlactatemia, alteração da perfusão da pele e íleo paralítico. Choque séptico: sepse grave associada à hipotensão a despeito de adequada reposição volêmica. Entende-se por hipotensão uma pressão sistólica 26 <90 mmHg ou redução de mais de 40 mmHg na pressão sistólica basal, ou ainda se houver necessidade de infusão de inotrópicos para manter níveis pressóricos adequados. 3.5.4 Informações clínicas e epidemiológicas dos pacientes sépticos e indivíduos sadios Foram incluídos em nosso protocolo 15 voluntários sadios e 40 pacientes sépticos após assinatura do consentimento livre e esclarecido por eles mesmos ou responsáveis. Voluntários sadios: foram incluídos 15 indivíduos sadios, de diferentes faixas etárias. A média das idades foi de 63±16 anos, sendo 66,7% do gênero masculino. Pacientes: foram incluídos 40 pacientes, admitidos no Hospital São Paulo, Hospital Universitário da Escola Paulista de Medicina, UNIFESP,na cidade de São Paulo, Hospital Sírio Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein. O grupo de pacientes foi constituído de 67,5% do gênero masculino com idade média de 63±19 anos. De acordo com as definições do consenso de sepse de 1992 (American College of Chest Physicians/ Society of Critical Care - Bone et al.; 1992a), 4 pacientes apresentavam quadro clínico e laboratorial de sepse, 9 sepse grave e 27 choque séptico. 27 Os principais focos primários de infecção foram: pneumonia, associada ou não a outra doença, em 18 pacientes; infecção abdominal em 12 pacientes; infecção do trato urinário em 5 pacientes. O desfecho clínico foi avaliado em relação a evolução na UTI e após 28 dias do diagnóstico de sepse. Vinte e oito pacientes (70%) receberam alta da UTI e 12 evoluíram para óbito na própria unidade. A mortalidade após 28 dias foi de 35%. A mediana do escore APACHE destes pacientes foi de 19, com mínimo de 10 e máximo de 35, e a mediana do SOFA de admissão foi de 7, com mínimo de 1 e máximo de 14. Tabela 2: Informações clínicas e epidemiológicas dos pacientes sépticos Paciente Idade (anos) Gênero 1 59 H 2 84 H 44 H 82 H 3 4 Estadio Foco infeccioso Primário Escores de Gravidade Evolução Escore APACHE SOFA ADM SOFA D1 SOFA D3 Desfecho na UTI 28 dias Pneumonia 13 3 2 1 Alta Óbito Pneumonia 28 11 8 7 Alta internado ICS 20 10 10 9 Óbito Óbito choque séptico Pneumonia 23 6 6 5 Alta domicílio 22 7 8 9 Óbito Óbito sepse grave choque séptico choque séptico 5 53 H choque séptico Pneumonia / Inf. Abdominal 6 51 M choque séptico Pneumonia 35 5 5 11 Óbito Óbito 7 19 M choque séptico Pneumonia 14 5 7 7 Alta domicílio 8 92 H choque séptico Inf. Abdominal 21 2 9 6 Alta internado 9 73 H ITU 19 5 5 Óbito Óbito 10 49 H Inf. Abdominal 19 7 9 10 Alta domicílio 11 69 H Pele ou partes moles 19 5 5 alta Alta internado 12 50 H Pneumonia 12 10 6 6 Alta internado 13 71 H Inf. Urinária 23 6 10 15 Alta internado 14 66 M Inf. Urinária 12 2 2 0 Alta internado choque séptico choque séptico sepse grave choque séptico choque séptico sepse grave 28 15 87 M choque séptico Inf. Abdominal 25 6 3 3 Alta domicílio 16 74 H choque séptico Inf. Urinária 11 3 4 6 Alta internado 17 80 M choque séptico 21 7 12 7 Óbito Óbito 18 81 H choque séptico 24 10 10 6 Alta Óbito 19 47 H choque séptico 10 10 6 0 Alta domicílio 20 93 M sepse grave Pneumonia 29 7 2 7 Alta internado 21 49 H sepse grave Pneumonia 16 10 9 7 Alta domicílio 22 75 M sepse Inf. Urinária 33 5 7 4 Alta internado 23 71 H 24 77 H 25 78 26 Inf. Abdominal Inf. Abdominal / Endocardite Inf. Abdominal choque séptico choque séptico Pneumonia 17 7 9 9 Óbito Óbito Pneumonia / Inf.urinária 21 2 6 7 Óbito Óbito H sepse Inf.abdominal 25 11 8 11 Alta internado 68 H choque séptico 26 13 Óbito Óbito 27 57 H sepse grave 12 5 2 2 Alta internado 28 75 M choque séptico 19 9 8 8 Óbito Óbito 29 48 M sepse Ferida Operatória Inf. Da Corrente Sanguínea Inf. Abdominal Inf. Abdominal 15 1 1 3 Alta domicílio 30 75 M choque séptico Inf. Abdominal 18 10 7 2 Alta domicílio 31 45 H choque séptico Pneumonia 15 10 3 alta Alta domicílio 32 58 H choque séptico 19 14 13 14 Óbito Óbito 33 53 M choque séptico 20 10 11 11 Alta internado 34 47 H sepse grave Pneumonia 16 11 7 7 Alta 35 80 M choque séptico Pneumonia 15 7 4 3 Alta internado 36 87 M Pneumonia 28 11 11 12 Alta internado 37 71 H Pneumonia 10 3 3 3 Alta internado 38 78 H Inf. Abdominal 22 3 3 Alta domicílio 39 53 H Pneumonia 13 9 9 9 Óbito Óbito 40 57 H Pneumonia 14 10 10 11 Óbito Óbito choque séptico sepse grave sepse sepse grave choque séptico Inf. Abdominal Inf. Da Corrente Sanguínea M = Masculino, F = Feminino, APACHE = do inglês, Acute Physiology and Chronic Health Evaluation, SOFA = do inglês, Sequential Organ Failure Assessment, Adm = Admissão no estudo, D1 = Primeiro dia após admissão, D3 = Terceiro dia após admissão, ICS = infecção da corrente sanguinea, ITU = infecção do trato urinário, 29 3.6. Extração de leucócitos totais O sangue heparinizado foi centrifugado a 1300g durante 15 minutos a temperatura ambiente. A camada de leucócitos acima das hemácias foi transferida para tubo cônico de 50mL. Foi realizada a lise hipotônica com adição de 20mL de NaCl 0,2% (gelado). O tubo foi homogeneizado durante 20 segundos por inversão. Em seguida, a amostra recebeu 20mL de NaCl 1,6% (gelado),foi homogeneizada e ajustado o volume com PBS (gelado) para 50 mL . As amostras foram centrifugadas a 650 g durante 5 minutos a 4°C, e a lise repetida de duas a três vezes, se necessário. Após a lise das hemácias o botão de leucócitos foi suspendido em 5mL de PBS, para a contagem em câmara de Neubauer, para isso uma alíquota da suspensão de células foi diluída 1:10 em trypan blue e as células foram contadas no microscópio. Após a contagem a concentração celular foi ajustada para 2x106 células por mL. 30 3.7. Detecção de apoptose através da marcação por Anexina-V e Iodeto de Propídeo (PI) Após obtenção dos leucócitos totais como previamente descrito, distribuímos uma alíquota de 1x106 células nos tubos nos seguintes tubos para a descritos na tabela 3: Tabela 3: Painel de anticorpos utilizados em cada tubo para o ensaio de anexina-V e iodeto de propideo. Tubo FL1 FL2/FL3 FL4 1 - - CD3 2 3 CD19 - - CD15 Os tubos foram centrifugados a 650g durante 5 minutos a 4°C e os sobrenadantes desprezados. Foi realizada a marcação de superfície celular com os anticorpos da tabela acima. Os tubos foram homogeneizados em vórtex e incubados durante 15 minutos no escuro a temperatura ambiente. Em seguida, receberam 2mL de PBS e foram novamente centrifugados a 650g durante 5 minutos a 4°C. As células foram suspendidas em 100µL de tampão de marcação do kit diluído em água destilada até a concentração de uso (1x), e acrescentado anexina V e PI como descrito na tabela 4: 31 Tabela 4: Painel de marcação com anexina v e iodeto de propideo. Tubo Células Anexina V Iodeto de Propideo Tampão de anexina 1 1x106 5µL 10µL 300µL 2 1x106 5µL 10µL 300µL 3 1x106 5µL 10µL 300µL 4 1x106 5µL 10µL 300µL As amostras foram novamente incubadas durante 20 minutos a temperatura ambiente no escuro. Após este tempo, foram acrescentados 200µL de tampão de marcação 1x para a leitura em citômetro de fluxo. 3.8. Detecção de apoptose através da marcação intracelular de caspase-3 Após a extração dos leucócitos totais como previamente descrito no item 3.6., distribuímos uma alíquota de 1x106 células nos seguintes tubos descritos na tabela 5: Tabela 5: Painel de anticorpos utilizados em cada tubo para o ensaio de caspase-3 Tubo FL1 FL2 FL3 FL4 1 - - CD14 CD15 2 CD45 - CD19 CD3 32 Os tubos foram centrifugados a 650g durante 5 minutos a 4°C e os sobrenadantes desprezados. Foi realizada a marcação de superfície celular com os anticorpos descritos na tabela 5. Os tubos foram homogeneizados em vórtex e incubados durante 15 minutos no escuro a temperatura ambiente. Em seguida, receberam 2mL de PBS, novamente centrifugados a 650g durante 5 minutos e os sobrenadantes desprezados. As células foram fixadas com 2mL de paraformaldeído 4% e deixadas em repouso durante a noite ao abrigo da luz em geladeira (2-8°C). No dia seguinte os tubos foram centrifugados a 650g durante 5 minutos a temperatura ambiente e os sobrenadantes desprezados. As células foram lavadas em 2mL de PBS e novamente centrifugadas. Foram acrescentados 750µL de tampão de permeabilização em cada tubo e incubados durante 30 min a temperatura ambiente no escuro. As células foram lavadas com 2mL de PBS e em seguida foi realizada a marcação intracelular com o anticorpo anti-caspase-3 como descrito abaixo (tabela 6): Tabela 6: Painel de marcação com caspase-3. Tubo células Anti Caspase-3 PE Tampão 1 1x106 10µL 300µL 2 1x106 10µL 300µL As células foram incubadas durante 30 minutos a temperatura ambiente ao abrigo da luz. Após a incubação foram adicionados 2mL de PBS e os tubos novamente centrifugados. Após desprezar os sobrenadantes foram adicionados 33 300µL de tampão de marcação, e as amostras estavam prontas para serem adquiridas em citômetro de fluxo. 3.9. Contagem absoluta de linfócitos com TruCount Este teste determina o número absoluto de linfócitos através da técnica de imunofenotipagem, ou seja, através da ligação específica de anticorpos marcados com fluorocromo aos antígenos de superfície dos linfócitos. A técnica é realizada em tubos TruCOUNT (BD Biosciences) que contêm um número conhecido de partículas de referência liofilizadas, que possuem fluorescência. Estas partículas são lidas na citometria de fluxo, simultaneamente com as células de interesse já marcadas. A contagem destas partículas auxilia no cálculo da contagem absoluta da população de linfócitos. Os tubos TruCOUNT foram identificados e receberam 10µL da mistura de anticorpos CD3-FITC, CD8-PE, CD45-PerCP e CD4-APC ou CD3-FITC, CD16/56PE, CD45-PerCP e CD19-APC. O sangue coletado em tubo contendo EDTA foi homogeneizado e foram transferidos 50µL de sangue total por pipetagem reversa para os tubos TruCOUNT. Após serem homogeneizados em vórtex, os tubos foram incubados durante 15 minutos no escuro a temperatura ambiente. Em seguida, as hemácias foram lisadas acrescentando-se 450µL da solução de lise (BD Biosciences). Os tubos foram homogeneizados em vórtex e incubados durante 15 minutos em temperatura ambiente no escuro. Após a incubação foi feita a aquisição em citometro de fluxo. 34 3.10 Citometria de fluxo A leitura das amostras foi realizada em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Bioscience) equipado com dois laseres, um de argônio e outro de diodo, com emissão de comprimentos de onda de 488nm e 633nm, respectivamente. O laser de argônio possibilita a excitação de três fluorocromos, FITC, PE e PerCP, e o de diodo excita o fluorocromo APC. As dispersões frontal (FSC) e lateral (SSC) de luz detectam, sem auxílio de fluorescência, tamanho e complexidade celular, respectivamente, e foram observadas em escala linear. Desta forma foi possível detectar até seis parâmetros para cada evento adquirido, sendo que cada evento foi considerado como uma célula. Foi realizada compensação entre os canais de fluorescências com a finalidade de excluir a sobreposição do comprimento de onda dos respectivos fluorocromos. O citômetro é acoplado a unidade constituída por microcomputador Macintosh Power PC, modelo G4 (Apple Computer Inc., Cupertino, CA, EUA), que permite controle sobre o citômetro e armazenamento dos dados em arquivos. Para a aquisição dos eventos utilizou-se um gráfico de dispersão frontal de luz (FSC) versus dispersão lateral de luz (SSC) para identificação das populações de leucócitos. Desta forma foi possível estabelecer a região de Linfócitos (R1). Através da janela R1 Foram adquiridos 10.000 eventos, ou seja, células que tivessem morfologia de linfócitos (figura 7). Tanto a aquisição dos eventos quanto a análise dos resultados foram realizadas através do programa CellQuest (BD Bioscience). 35 600 800 1000 400 200 Dispersão lateral de luz R1 0 R1 0 200 400 600 800 1000 Dispersão frontal de luz Figura 7: Estratégia de aquisição. O gráfico acima mostra a dispersão frontal de luz (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada), correspondendo ao tamanho e complexidade celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população característica de linfócitos onde foram adquiridos 10.000 eventos. Todos os eventos, mesmo os fora da região R1, foram armazenados. Para a análise dos dados de linfócitos, foi utilizado gráfico de dispersão frontal versus lateral de luz definindo-se uma região na morfologia de linfócitos R1, onde analisamos os linfócitos totais, como mostra a figura 8A. Em outro gráfico de dispersão lateral de luz versus expressão de CD3, desenhou-se outra região (R2) nas células CD3+ (figura 8B). Combinando os eventos contidos nas janelas R1 e R2 foi possível identificar os linfócitos T (CD3+) de menor tamanho e excluir a contaminação de monócitos e neutrófilos. 36 R1 0 200 400 600 800 1000 400 R2R2 0 0 R1 B 200 Dispersão lateral de luz 600 800 1000 400 200 Dispersão lateral de luz A 100 600 800 1000 101 102 103 104 CD45 CD3 Dispersão frontal de luz Figura 8: Estratégia de análise de linfócitos. O gráfico A acima mostra a dispersão frontal de luz (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada), correspondendo ao tamanho e complexidade celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população característica de linfócitos. O gráfico B mostra expressão de CD3 (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada). A região 2 (R2) separa os eventos CD3+. Na análise dos dados de monócitos e neutrófilos, utilizou-se estratégia similar, gráfico de dispersão frontal versus lateral de luz definindo-se uma região na morfologia de monócitos (R1) e neutrófilos (R2) figura 9A. Os monócitos foram analisados após a combinação das regiões R1 e R4 (CD14+) e os neutrófilos após 600 800 1000 600 800 1000 200 400 600 200 800 1000 Dispersão frontal de luz 200 400 0 A B 0 200 R1 R1 R4 400 R3 R3 100 101 102 CD15 103 104 C 0 600 800 1000 400 R2 R2 0 Dispersão lateral de luz a combinação das regiões R2 e R3 (CD15+), conforme descrito na figura 9. 100 101 102 103 104 CD14 Figura 9: Estratégia de analise de monócitos e neutrófilos. O gráfico A acima mostra a dispersão frontal de luz (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada), correspondendo ao tamanho e complexidade celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a morfologia característica de monócitos e a região 2 (R2) os neutrófilos. O gráfico B mostra a região 3 (R3) onde separa-se os eventos CD15+. Os neutrófilos foram identificados através da combinação das regiões R2 e R3. O gráfico C mostra a região 4 (R4) onde separa-se os eventos CD14+. Os monócitos foram identificados através da combinação das regiões R1 e R4. 37 Após a identificação das subpopulações celulares como descrito nas figuras 8 e 9, foi possível analisar a apoptose pelas técnicas de anexina-V e iodeto de 4 3 1 2 102 100 101 PI 103 104 propídeo (figura 10) e caspase-3 (figura 11). 100 101 102 103 104 Anexina V 600 800 1000 400 200 0 Dispersão lateral de luz Figura 10: Estratégia de análise da detecção de apoptose através da marcação por Anexina-V e Iodeto de Propídeo (PI). O quadrante 1 mostra as células viáveis, quadrante 2 células em apoptose precoce (anexina-V +), quadrante 3 células em apoptose tardia/necrose (anexina-V+ e iodeto de propídeo +), e o quadrante 4 células em necrose (iodeto de propídeo +). 100 101 102 Caspase-3 103 104 100 101 102 103 104 Caspase-3 Figura 11: Estratégia de análise da detecção de apoptose através da marcação de caspase-3. Utilizando um tubo não marcado com caspase-3 (gráfico a esquerda) determinou-se um quadrante para verificar a expressão basal de caspase-3. Em outro tubo marcado com caspase-3 (gráfico a direita) utilizou-se o mesmo quadrante da condição anterior para determinar a expressão real de caspase-3. 38 3.10.1 Estratégia de aquisição para contagem absoluta de linfócitos A aquisição e análise das amostras para contagem de linfócitos foi realizada no programa MultiSET (BD Biosciences). No primeiro gráfico de dispersão lateral de luz versus CD45 (figura 12) foi possível identificar a população de linfócitos, que tem baixa complexidade e alta expressão de CD45 (região R1). Foram adquiridos e armazenados no total 15000 eventos. Figura 12: Aquisição de eventos para contagem linfócitos. O gráfico acima mostra expressão de CD45 (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada). A região R1 delimita a população de linfócitos CD45+ onde foram adquiridos no mínino 2000 eventos. 39 3.10.2 Análise das populações de linfócitos totais e subpopulações O primeiro tubo analisado foi aquele previamente marcado com os anticorpos CD45, CD3, CD8 e CD4. Neste foi realizada a contagem absoluta de linfócitos utilizando-se um gráfico de dispersão lateral de luz versus expressão de CD45 (figura 13A) definindo-se uma região de linfócitos CD45+ (R1). Em outro gráfico de dispersão lateral de luz versus expressão de CD3, desenhou-se outra região (R2) nas células CD3+ (figura 13B). Combinando os eventos contidos nas janelas R1 e R2 foi possível identificar os linfócitos T (CD3+). Figura 13: Estratégia de análise de linfócitos T. O gráfico A apresenta expressão de CD45 (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada) correspondendo a complexidade celular. A região 1 (R1) delimita a população característica de linfócitos CD45+. O gráfico B mostra expressão de CD3 (abscissa) e dispersão lateral de luz (ordenada). A região 2 (R2) separa os eventos CD3+. Para análise das subpopulações de linfócitos T foi utilizado um novo gráfico de expressão de CD4 versus expressão de CD8 (figura 14). Foram definidas as 40 regiões R3 e R4 que correspondem aos linfócitos T auxiliares e citotóxicos, respectivamente. Figura 14: Estratégia de análise das subpopulações de linfócitos T. Combinando os eventos contidos nas regiões R1 e R2 (figura 14) obteve-se a população de linfócitos T (CD3+). A partir desses eventos construiu-se o gráfico de expressão de CD4 (ordenada) versus expressão de CD8 (abscissa) e foi possível identificar as subpopulações de linfócitos T onde a região 3 (R3) separa a população característica de linfócitos T CD4+ e a região 4 (R4) delimita a população T CD8+. Na figura 15 observa-se uma população de partículas de referência contidas nos tubos Trucount, cujo número varia de acordo com o lote. Estas partículas foram utilizadas pelo programa para cálculo da contagem absoluta da população e subpopulações de linfócitos totais, CD3 e CD4, CD8, respectivamente. 41 Figura 15: Contagem das partículas de referências. No gráfico de expressão de CD8 (ordenada) versus expressão de CD3 (abscissa) é delimitada a região 5 (R5) onde o programa realiza a contagem das partículas de referências adquiridas no primeiro tubo de amostra. O segundo tubo analisado foi aquele previamente marcado com os anticorpos CD3, CD19 e CD16/56. Neste foi realizada a contagem de linfócitos totais (CD45+) e linfócitos T (CD3+) de maneira similar ao tubo anterior (figura 16). Para contagem das populações de linfócitos B (CD19+) e Natural Killer (NK - CD16/56+) foi utilizado um novo gráfico de expressão de CD3 versus dispersão lateral de luz (figura 16A). A região R2 delimita os linfócitos T enquanto que a região R3 define a população de linfócitos CD3 negativos. A partir de R3 um gráfico (figura 16B) de expressão de CD16/56 (ordenada) versus expressão de CD19 (abscissa) permitiu analisar as células NK e os linfócitos B, respectivamente. 42 Figura 16: Estratégia de análise das populações de linfócitos B e NK. Utilizando os eventos contidos na região R3, linfócitos CD3 negativos, (gráfico A) construiu-se o gráfico B de expressão de CD16/56 (ordenada) versus expressão de CD19 (abscissa), onde foi possível identificar as populações de linfócitos B (CD19+) contidos na região 4 (R4) e linfócitos NK (CD16/56+) contidos na região 5 (R5). De maneira similar ao tubo primeiro tubo observa-se a população de partículas de referência contidas nos tubos TruCOUNT (figura 17). Estas partículas foram utilizadas pelo programa para cálculo da contagem absoluta das populações de linfócitos totais, CD3, CD19 e CD16/56. Figura 17: Contagem das partículas de referências. No gráfico de expressão de CD16/56 versus expressão de CD3 delimita-se a região 6 (R6) que contém as partículas de referência adquiridas no segundo tubo do experimento. 43 Assim, para determinação da contagem absoluta de cada população e subpopulação de linfócitos o programa MultiSET realiza automaticamente o cálculo: Número de partículas contadas pelo citômetro X Quantidade de sangue total pipetado (50 µL) Total de partículas (dados do Kit) = µL de sangue aspirado pelo citômetro Número de linfócitos contados µL de sangue aspirado pelo citômetro = linfócitos / µL de sangue O número de partículas adquiridas pelo citômetro de fluxo é multiplicado pela quantidade de sangue pipetado (50µL) e dividido pela quantidade total de partículas contidas no tubo TruCOUNT. Obtém-se o volume de sangue adquirido e assim, a quantidade de células contidas na região de interesse pode ser dividida por este volume resultando no valor absoluto da população celular de interesse. No caso das contagens de linfócitos totais (CD45+) e linfócitos T (CD3+) o programa libera como resultado final a média da contagem dos dois tubos. O cálculo da porcentagem das populações de linfócitos é realizado a partir do número absoluto das células da população de interesse dividido pelo número absoluto de linfócitos totais (CD45+) identificados em R1 como mostrado na figura 14A. Veja a seguir o esquema do cálculo. Número absoluto da população de interesse Número absoluto de linfócitos CD45+ X 100 = Porcentagem de células da população de interesse Assim, os resultados foram apresentados tanto em número de células por microlitro de sangue quanto em porcentagem de células positivas em relação à população de linfócitos totais. 44 3.11. Análise estatística. As análises foram realizadas utilizando o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences v15.0), Para comparação de dados quantitativos entre 3 ou mais grupos independentes, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, seguindo o teste de Mann-Whitney U para comparar 2 grupos independentes, quando necessário. Quando comparamos os dados quantitativos intra-grupo dependentes, foi realizado o teste de Friedman. O valor de significância estatística foi estabelecido em 5%, ou p<0,05. 45 _______________________ Resultados 4. Resultados A apoptose foi analisada nas populações de linfócitos, linfócitos T e neutrófilos pelos métodos de anexina V e iodeto de propídeo e também pela mensuração intracelular da caspase-3 ativa. Nos monócitos foi realizado apenas o método de caspase-3. 4.1 Linfócitos Os percentuais de linfócitos em apoptose, avaliada pela técnica de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, dos pacientes sépticos e dos indivíduos sadios estão descritos na tabela 7. Dados de apoptose em linfócitos foram obtidos de 40 pacientes. Não houve diferença no percentual de apoptose, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo, entre o grupo controle e os pacientes sépticos (D0) (, em relação a apoptose precoce (figura 18A) e apoptose tardia (figura 18B), assim como no percentual de células viáveis (figura 18C), Dado semelhante foi observado quando se mensurou o percentual de células positivas para caspase-3 (tabela 7; figura 18D) (p>0,05, teste de MannWhitney). 47 Tabela 7: Apoptose em linfócitos, avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo e pela detecção intracelular de caspase-3, em indivíduos sadios e pacientes sépticos. Linfócitos Apoptose Precoce Controles Pacientes (D0) Apoptose Tardia Controles Pacientes (D0) Células Viavéis Controles Pacientes (D0) Caspase-3 Controles Pacientes (D0) n Média Desvio Padrão Mediana Mínimo Máximo 15 35 13,89 13,12 8,77 5,89 11,31 11,50 6,28 4,50 34,54 30,99 15 35 20,65 15,32 17,23 12,03 20,39 9,92 2,66 2,11 63,25 53,10 15 35 58,06 64,41 15,55 15,63 57,88 66,02 26,64 22,45 85,26 84,49 15 33 6,94 7,91 7,23 6,46 3,02 5,83 0,65 0,48 24,10 22,33 B Apoptose Tardia (%) Apoptose Precoce (%) A Sadios Pacientes (D0) D Células Positivas para Caspase-3 (%) Células Viáveis (%) C Sadios Pacientes (D0) Figura 18: Linfócitos em apoptose e células viáveis no sangue periférico de indivíduos sadios (n=15) e pacientes sépticos (D0; n= 35). São representados os percentuais de apoptose precoce (A), apoptose tardia (B) e de células viáveis (C), avaliada pelo método de anexina V e iodeto de propídeo. Na figura D são representados os percentuais de células positivas para caspase-3. Estão representados os valores máximo e mínimo, os percentis 25% e 75% (caixas), mediana dos grupos e valores 48