Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina - PI Semestral ISSN 2358-3142 Página 1 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 2 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira responsabilidade dos autores. Periodicidade Semestral Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal CEP: 64052-410 • Teresina (PI) • Brasil Fone: (086) 3216-7900 / 3216-7901 www.facid.edu.br Página 3 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Revista Facid http://www.facid.edu.br [email protected] Editor - responsável Maria Helena Chaib Gomes Stegun Projeto Gráfico Castino Martins da Silveira e Luiz Carlos dos Santos Júnior Revisão Antonia Osima Lopes, Maria Helena Chaib Gomes Stegun, Maria Rosilândia Lopes de Amorim. Jornalista Responsável Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005 Impressão Gráfica Capa Amanda Paiva e Silva Martins Catulo Coelho dos Santos George Mendes Ribeiro Sousa Juciara Freitas Ribeiro (Egressos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID) Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial. V. 12, N. 2, 2016 / Teresina: DeVry / FACID, 2016. Semestral ISSN 2358-3142 1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico. CDD 509 CDU 001.891 Página 4 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI FACID - Faculdade Integral Diferencial Integral - Grupo de Ensino Superior do Piauí S/C Ltda. Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Diretora Geral Nivea Maria Ribeiro Rocha da Cunha Coordenadora Geral Acadêmica Maria Helena Chaib Gomes Stegun Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação Conselho Editorial da Revista Antonia Osima Lopes Maria Helena Chaib Gomes Stegun Hilris Rocha e Silva Isabel Cristina Cavalcante Moreira Maria do Carmo Bandeira Marinho Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Nivea Maria Ribeiro Rocha da Cunha Thais Barbosa Reis Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão Bibliotecária Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 – 1059 Página 5 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 6 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 EDITORIAL Página 7 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 8 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 EDITORIAL A Revista FACID Ciência & Vida chega ao seu décimo segundo número em 2016. Em seu início, maio de 2005, a Revista era anual e impressa e em 2011, passou a ser semestral, hoje, além de ser semestral, é online, facilitando o acesso ao seu conteúdo. Parece simples ao relatar esta história, mas graças ao comprometimento de nossos colaboradores ela continua como instrumento de socialização das pesquisas de nossos professores e alunos, além de pesquisadores externos, evidenciando a contribuição científica nas soluções dos problemas apresentados em cada área. Nesta Edição, a Revista FACID Ciência & Vida traz doze artigos. Estes artigos, em sua maioria, decorrem de pesquisas realizadas por professores e alunos da DeVry FACID do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PICT) e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), avaliados previamente no processo de submissão à publicação. Os textos apresentados expressam estudos sobre problemas locais e discutem temas relevantes e atuais, que nos auxiliam a pensar sobre os desafios contemporâneos. Dessa forma, a DeVry FACID fortalece cada vez mais a pesquisa e cumpre o papel social de comunicar e disseminar a pesquisa. Esperamos que essa publicação promova uma maior visibilidade à produção acadêmica local, concorrendo para que ela seja socializada de forma ampla, não só em nossa cidade, mas no Brasil e no mundo. Boa leitura! Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Diretora Geral DeVry Facid Página 9 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 10 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 SUMÁRIO Página 11 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 12 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 SUMÁRIO ARTIGOS INCIDÊNCIA DE ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE UM SERVIÇO MÉDICO DE URGÊNCIA Fernanda de Moraes Ribeiro; Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira ..................... 17 CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA ACERCA DA VACINAÇÃO INFANTIL Raquel Gomes Gonzalez; Amália de Carvalho Oliveira ................................................... 28 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE VISCERAL EM CAPITAIS DA REGIÃO MEIO-NORTE DO BRASIL Nataniel Sousa Santos Filho; Augusto César Evelin Rodrigues ......................................... 36 PROCESSO DE CONTROLE MICROBIOLÓGICO DE DESINFECÇÃO DE TUBETES ANESTÉSICOS Diego Dantas Lopes Santos; Sâmmea Martins Vieira , Márcia Socorro da Costa Borba.. 47 PREVALÊNCIA DE QUEILITE ACTÍNICA EM OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM TERESINA-PI Nathália de Maria Torres e Barros, Neiva Sedenho de Carvalho ...................................... 56 AVALIAÇÃO DOS EFEITOS HISTOMORFOMÉTRICOS DE FOLÍCULOS PRÉ-ANTRAIS DE OVÁRIOS DE RATAS EXPOSTAS À FUMAÇA DE CIGARRO Jadson Lener Oliveira dos Santos; Karinne Sousa de Araújo ........................................... 71 RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO-DENTISTA Rafaela Dias e Silva; Márcia Socorro da Costa Borba ...................................................... 78 INCIDÊNCIA E FATORES RELACIONADOS AO CÂNCER COLORRETAL OBSTRUTIVO EM UM SERVIÇO MÉDICO PRIVADO DE TERESINA-PI Érica Patrícia Sousa Reis Meneses, Norma Maria de Cássia Lima Sarmento Veloso Martins, Walysson Toncantins Alves de Sousa ................................................................ 86 EXPERIÊNCIA DE MULHERES NO PUERPÉRIO SOBRE O PARTO NORMAL EM MATERNIDADES MUNICIPAIS DE TERESINA-PI Iziane Bispo de Sousa Leal, Maria de Jesus Lopes Mousinho Neiva ............................... 94 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES SOROPOSITIVOS PARA HIV EM TERESINA-PI Marina Aguiar Barreto Maia , Jonas Moura de Araújo ...................................................... 104 Página 13 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 RELAÇÃO ENTRE A DEFICIÊNCIA, INSUFICIÊNCIA E NÍVEIS NORMAIS DE VITAMINA D E RESISTÊNCIA INSULÍNICA EM PACIENTES DE UM CENTRO MÉDICO DE TERESINA-PI Manoel Ítalo Pinheiro Néri , Jonas Moura de Araújo ........................................................ 114 COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ATRAVÉS DE BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA TETRAPOLAR Aldinês de Sousa Almeida , Jonas Moura de Araújo .......................................................... 126 NORMAS EDITORIAIS ................................................................................................ 139 Página 14 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 ARTIGOS Página 15 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 16 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 INCIDÊNCIA DE ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE UM SERVIÇO MÉDICO DE URGÊNCIA ACCIDENT INCIDENCE WITH BIOLOGICAL MATERIAL FOR PROFESSIONALS OF AN EMERGENCY MEDICAL SERVICE Fernanda de Moraes Ribeiro1, Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira2 RESUMO O ambiente de trabalho na área da saúde oferece muitos riscos aos profissionais de saúde, com destaque ao risco biológico. A exposição a material biológico pode favorecer a aquisição de microrganismos potencialmente infectantes presentes no sangue ou outros fluídos orgânicos. Nesse contexto, o serviço de urgência se destaca por oferecer um ambiente vulnerável a riscos ocupacionais O estudo objetivou verificar a incidência de acidentes com material biológico em profissionais que atuam no serviço de atendimento médico de urgência. Tratou-se de um estudo descritivo de caráter retrospectivo, com abordagem quantitativa, realizado em um Hospital de Urgência de Teresina-PI. A amostra foi constituída de 55 Fichas de Notificação de Acidente de Trabalho registradas entre janeiro e dezembro de 2014, disponibilizadas junto ao SESMT e o SINAN. Os dados foram organizados em planilhas do Excel e agrupados na forma de gráficos e tabelas. A maioria das exposições ocupacionais acometeu os profissionais técnicos de enfermagem (56,4%), gênero feminino (78,2%), na faixa etária de 20-40 anos (78,2%), com ensino superior completo (50,9%) e vacinados (49,1%). O período do dia em que os acidentes ocorreram foi pela manhã (52,7%). Em 74,5% dos casos o acidente foi percutâneo, tendo o sangue como material envolvido em 45,5% destes. A agulha com lúmen foi responsável por 27,3% dos acidentes, em circunstância do descarte inadequado de material perfurocortante (20%) e durante a realização de procedimentos laboratoriais (20%). Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para que os trabalhadores em saúde possam refletir sobre formas seguras para o desempenho de suas atividades. Palavras chave: Incidência. Material Biológico. Profissional. ABSTRACT The working environment in healthcare offers many risks to health professionals, with emphasis on biological risk Exposure to biological material may favor the acquisition of potentially infectious microorganisms present in blood or other body fluids. In this context, the emergency department distinguishes itself by offering a vulnerable environment to occupational hazards The study aimed to determine the incidence of accidents with biological material for professionals working in emergency medical service. This was a descriptive study of retrospective with a quantitative approach, performed in an Emergency Hospital in Teresina-PI. The sample consisted of 55 sheets Work Accident Notification registered between January and December 2014 provided by the SESMT and SINAN. __________________ ¹ Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry). Email: [email protected] 2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí. Professora do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry) Email: [email protected] Página 17 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Data were organized in Excel spreadsheets and grouped in the form of graphs and tables. Most occupational exposures befell the technical nursing professionals (56.4%), female (78.2%), aged 2040 years (78.2%), university graduates (50.9 %) vaccinated (49.1%). The day of the period in which the accident occurred was the morning (52.7%). In 74.5% of the cases the accident was percutaneous taking blood as a material involved in 45.5% thereof. The needle lumen accounted for 27.3% of accidents in case of improper disposal of sharps (20%) and while conducting laboratory procedures (20%). It is expected that the results of this study have contributed to enable workers to reflect on safe ways to carry out their activities. Key words: Incidence. Biological material. Professional. 1 INTRODUÇÃO O exercício profissional expõe os trabalhadores a riscos que podem acarretar vários tipos de acidentes e doenças. Sendo assim trabalhadores da saúde não fogem à regra estando também expostos a estes riscos ocupacionais (CANALLI, 2012). O ambiente de trabalho na área da saúde oferece muitos riscos aos profissionais que nele atuam, com destaque ao risco biológico, considerado o principal gerador de insalubridade a esses trabalhadores (FACCHIN, 2009). A exposição a material biológico, seja ela por contato com fluidos corporais ou por lesões causadas por instrumento perfurocortante durante o cuidado direto ou indireto de pacientes, pode favorecer a aquisição de microrganismos potencialmente infectantes presentes no sangue ou outros fluídos orgânicos (CDC, 2011). Segundo Valim e Marziale (2012), merece atenção devido aos sérios problemas que causam, não apenas ao indivíduo exposto ao risco, mas para a família, a comunidade e o Estado. Nesse contexto, o acidente ocupacional com material biológico, deve ser tratado como emergência médica, uma vez que para obter uma maior eficácia, as intervenções profiláticas devem ser iniciadas logo após o acidente (BRASIL, 2010). Dentre os setores mais insalubres ao trabalhador da saúde, o serviço de urgência se destaca por oferecer um ambiente vulnerável a riscos ocupacionais e consequentes acidentes de trabalho, afirmam Miranda e Stancato (2008). Acidentes são mais frequentes em ambientes com maior número de pacientes, condições físicas precárias, escassez de recursos humanos e materiais, pois geram grande sobrecarga e consequentemente maior número de acidentes (MEDEIROS, 2010). O presente estudo teve como problema de pesquisa a incidência de acidentes com material biológico em profissionais que atuam no serviço de atendimento médico de urgência. Como hipóteses, verificou: se ocorria uma alta incidência de acidentes com material biológico envolvendo profissionais que atuam no serviço médico de urgência; se os acidentes com material biológico envolvendo profissionais que atuam no serviço de urgência se relacionavam ao uso inadequado e não adesão de medidas de proteção e a sobrecarga de trabalho; e se, entre os profissionais envolvidos nos acidentes com material biológico, estava o enfermeiro, o técnico de enfermagem, os estudantes da área da saúde, o médico e o profissional da limpeza. O estudo objetivou investigar a incidência de acidentes com material biológico em profissionais que atuavam em um serviço de atendimento médico de urgência em Teresina-PI. Também se propôs a identificar as situações de risco envolvidas nos acidentes com material biológico, verificar qual a categoria profissional envolvida nos acidentes com material biológico no serviço de urgência, detectar qual o tipo de exposição envolvendo material biológico, estabelecer o agente causador da lesão, como também identificar qual a situação vacinal do profissional no momento do acidente. Página 18 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 2 METODOLOGIA O projeto da pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry) sendo aprovado sob o Protocolo nº 985.113. A execução da pesquisa ocorreu de acordo com os princípios éticos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e normas complementares. Os dados foram coletados após a assinatura do Termo de Compromisso para Uso de Dados (TCUD). Foi realizado um estudo descritivo de caráter retrospectivo, com abordagem quantitativa, mediante análise documental, realizada em um Hospital de referência no serviço de urgência da cidade de Teresina-PI. Utilizou-se uma amostra de 55 Fichas de Notificação de Acidente de Trabalho (FINAT), correspondentes a todas as notificações registradas entre janeiro e dezembro de 2014, disponibilizadas junto ao Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A coleta de dados ocorreu no período de maio a julho de 2015 utilizando um formulário semiestruturado contendo as seguintes variáveis de interesse: sexo, faixa etária, escolaridade, ocupação, hora e local do acidente, situação vacinal, tipo de exposição, material orgânico, agente causador, circunstância do acidente. Após a coleta, os dados foram organizados para análise estatística em uma planilha eletrônica no programa Microsoft Office Excel 2010 e, posteriormente, submetidos a análise e distribuição de frequência simples e percentual por meio de técnicas de estatística básica, com subsequente confecção de gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No período de janeiro a dezembro de 2014 foram notificados e registrados no SINAN e SESMT do Hospital estudado 55 acidentes com material biológico envolvendo diferentes profissionais que nele trabalham. O Gráfico 1 apresenta a distribuição, segundo o gênero, dos profissionais vítimas de acidentes envolvendo material biológico. Gráfico 1 - Características, segundo o gênero, dos profissionais de um serviço de urgência e emergência vítimas de acidentes com material biológico, Teresina-PI, 2015 Feminíno Masculino 21,8% (12) 78,2% (43) Fonte: RIBEIRO (2015) De acordo com o Gráfico 1, 78,2% dos acidentes ocorreram em mulheres e 21,8% em homens. Os dados obtidos mostraram resultado compatível com o encontrado na literatura, com o predomínio dos acidentes em mulheres. No Estado de São Paulo, entre 2007 e 2010, foram notificados 33.856 acidentes, dos quais 76,2% envolveram a categoria feminina (SÃO PAULO, 2011). Marziale et al (2007), em um estudo realizado no Hospital Universitário de Brasília, dos 107 acidentes registrados, 83,3% dos trabalhadores envolvidos eram do sexo feminino. Este resultado pode refletir a composição dos profissionais desta instituição de saúde. A predominância de trabalhadores do sexo feminino em hospitais é confirmada na literatura, Página 19 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 principalmente, devido ao grande contingente de mulheres na equipe de enfermagem, exposta à ocorrência de acidentes de trabalho com material biológico (MARZIALE, NISHIMURA, FERREIRA, 2004; NISHIDE, BENATTI, ALEXANDRE, 2004). Quanto à faixa etária a maioria dos profissionais tinha entre 20-40 anos no momento da exposição, conforme exposto na Tabela 1. Tabela 1 - Características, segundo a faixa etária, dos profissionais de um serviço médico de urgência vítimas de acidentes com material biológico,Teresina-PI, 2015 VARIÁVEIS N % 20 a 40 anos 43 78,2% 41 a 60 anos 12 21,8% Faixa etária Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa. Fonte: dados da pesquisa (2015). Os dados obtidos estão em consonância com a maioria encontrada na literatura com predominância em adultos jovens. No estudo de Santos, Costa e Mascarenhas (2013), dos 268 casos de exposição ocupacional com material biológico entre profissionais de saúde, notificados entre 2007 e 2011, na cidade de Teresina-PI, 40,3% ocorreram no grupo etário de 18 a 29 anos. A média de idade dos profissionais de saúde acidentados foi de 33,3 anos, com uma mediana de 30 anos, no estudo apresentado por Cassoli (2006). No Estado de São Paulo a maioria dos acidentados tinha entre 25 e 39 anos no momento da exposição (SÃO PAULO, 2011). Ainda em concordância com os dados do estudo, Giancotti et. al (2014) verificaram que a maior parte dos acidentes ocorreu entre trabalhadores de 20 a 30 anos (45,6%), seguidos por aqueles de 31 a 40 anos (29,7%), resultado também semelhante ao encontrado por estudo realizado em um Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Ribeirão Preto-SP, onde 37,3% dos acidentes acometeram profissionais na idade entre 20 e 29 anos (CHIODI et.al, 2010). Resultado parecido foi apresentado pelo estudo realizado por Silva et. al (2009), em Campos dos Goytacazes-RJ, onde 69,4% dos acidentados situavam-se na faixa etária dos 20 aos 40 anos. O Gráfico 2 apresenta a distribuição, conforme o grau de escolaridade, dos profissionais de saúde vítimas dos acidentes envolvendo material biológico. Gráfico 2 - Características, segundo a escolaridade, dos profissionais de um serviço médico de urgência vítimas de acidentes com material biológico, Teresina-PI, 2015 50,9%(28) Ensino Superior completo 14,5%(8) Ensino Superior incompleto 27,3%(15) Ensino Médio completo 3,6%(2) Ensino Médio incompleto 3,6%(2) Ensino Fundamental completo 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% Fonte: RIBEIRO (2015) Página 20 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Em relação a variável escolaridade, o estudo aponta que 50,9% dos profissionais tinham ensino superior completo. O resultado não é concordante com a maioria das pesquisas avaliadas. Julio, Filardi e Marziale (2014) verificaram em estudo sobre acidentes de trabalho com material biológico, desenvolvido em municípios de Minas Gerais, que de 460 acidentados 32,4% possuíam o ensino médio completo, sendo os trabalhadores de nível superior responsáveis pela segunda maior parcela de acidentados: 22,8%. Para Medeiros (2010), avaliando os acidentes de trabalho nos profissionais de enfermagem que atuam nas unidades de terapia e urgência, 55,8% dos acidentados afirmaram ter concluído o ensino médio e 28,97% o superior completo. O resultado deste trabalho, no que diz respeito ao grau de escolaridade dos profissionais, deve estar relacionado ao fato da busca constante destes profissionais em concluírem uma graduação com o intuito de assumirem cargos superiores em instituições hospitalares. A distribuição da categoria profissional dos profissionais de saúde vítimas de acidentes com material biológico consta na Tabela 2. Tabela 2 - Características, segundo a categoria profissional, dos profissionais de um serviço médico de urgência vítimas de acidentes com material biológico,Teresina-PI, 2015 VARIÁVEIS N % Auxiliar de serviços gerais 7 12,7% Técnico de Enfermagem 31 56,4% Enfermeiro 7 12,7% Estudante 7 12,7% Médico 2 3,6% Nutricionista 1 1,8% Ocupação Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa. Fonte: dados da pesquisa (2015). Do total de exposições com material biológico, houve predomínio dos profissionais da enfermagem abrangendo técnicos de enfermagem, com 56,4%, e enfermeiros, com 12,7%; os auxiliares de enfermagem neste estudo não tiveram representação em número de acidentes, isso possivelmente refletindo a migração de categorias profissionais (Tabela 2). Destaca-se que no Brasil, os profissionais de enfermagem são divididos em três categorias: enfermeiros; técnicos; e auxiliares de enfermagem. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, os técnicos de enfermagem são a maioria entre esses profissionais (40,4%), seguidos pelos auxiliares de enfermagem (40,1%) e enfermeiros (18,7%) (COFEN, 2011). Resultados semelhantes foram evidenciados em outras pesquisas. Em estudo realizado por Almeida et.al (2015), de 461 indivíduos da área da saúde que sofreram exposição a material biológico potencialmente contaminado, a maioria acometeu os profissionais da enfermagem, com 47,3% de registros. De acordo com Santos, Costa e Mascarenhas (2013) as exposições foram mais frequentes entre auxiliares e técnicos de enfermagem com 67,2% dos casos, em menor proporção, identificaramse casos em enfermeiros (7,5%), trabalhadores da limpeza (6,7%), auxiliares e técnicos de laboratório (3,4%) e médicos (3,4%). A predominância em profissionais de enfermagem ocorre, segundo Lima, Oliveira e Rodrigues (2011), pelo maior tempo de contato desses profissionais com os pacientes e a realização de maior número de procedimentos invasivos. A distribuição quanto ao turno, o tipo de exposição e o material orgânico envolvido nos acidentes consta na Tabela 3. Página 21 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 3 - Características, segundo a circunstância do acidente e o agente causador, dos acidentes com material biológico em profissionais de um serviço médico de urgência, Teresina-PI, 2015 VARIÁVEIS N % Manhã 29 52,7% Tarde 11 20,0% Noite 13 23,6% Não declarado 2 3,6% Percutânea 41 74,5% Mucosa (oral ou ocular) 11 20,0% Pele íntegra 2 3,6% Ignorado 1 1,8% Sangue 25 45,5% Líquido pleural 1 1,8% Líquido ascético 5 9,1% Fluido com sangue 2 3,6% Soro/Plasma 4 7,3% Turno do acidente Tipo de exposição Material orgânico Secreção traqueal 1 1,8% Ignorado 16 29,1% Não declarado 1 1,8% Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa. Fonte: dados da pesquisa (2015). O período do dia em que os acidentes ocorreram também foi levado em consideração, verificando-se que 52,7% destes se deram no período da manhã. Em consonância com o resultado, a pesquisa realizada por Ribeiro, Ribeiro e Lima Júnior (2010), percebeu-se que o turno de trabalho em que mais ocorreu acidente foi o matutino (49%). O turno de maior ocorrência desses eventos foi o da manhã, das 7h às 12h (46,4%) segundo Almeida e Benatti (2007) em seu estudo sobre exposições ocupacionais por fluidos corpóreos. A maioria das exposições ocorreu pela via percutânea (74,5%). Em Julio, Filardi e Marziale (2014) 82,3% das exposições foram percutâneas. De 386 acidentes registrados em um hospital de ensino do interior do Estado de São Paulo, as lesões percutâneas ocorreram em 79% dos casos (MARZIALE et al., 2013). Vieira, Padilha e Pinheiro (2011) também constataram que a exposição percutânea foi a mais incidente dentre os acidentes com material biológico, ocorridos na Grande Florianópolis, no ano 2007, contabilizando 73% do total de exposições. O sangue foi o material orgânico envolvido em 45,5% dos acidentes, no entanto, observouse uma frequência substancial do item “ignorado” (29,1%). Para Campos, Vilar e Vilar (2011) o sangue respondeu por 78,6% das exposições a material biológico sofridas por trabalhadores de um hospital de Campina Grande. Julio, Filardi e Marziale (2014), Valim e Marziale (2012), Vieira, Padilha e Pinheiro (2011) estimaram que o sangue estivesse envolvido em 73,9%, 76%, 69,49%, respectivamente, das exposições à material biológico. A discriminação dos acidentes com material biológico conforme as circunstâncias do acidente e o agente causador constam na Tabela 4. Página 22 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 04 - Características, segundo a circunstância do acidente e o agente causador, dos acidentes com material biológico em profissionais de um serviço médico de urgência, Teresina-PI, 2015 VARIÁVEIS Circunstância do acidente Administração de medicação Aspiração traqueal Desobstrução de acesso central Descarte inadequado de material perfurocortante Lavagem de material Manipulação de medicação Manipulação de frascos de soro Procedimento Laboratorial Procedimentos cirúrgicos Punção Venosa/arterial Reencape Não declarado Agente causador Agulha com lúmen (luz) Agulha sem lúmen Lâmina ou lanceta Intracath Ignorado Não declarado n % 6 2 2 11 2 1 1 11 9 4 2 4 10,9% 3,6% 3,6% 20,0% 3,6% 1,8% 1,8% 20,0% 16,4% 7,3% 3,6% 7,3% 20 14 11 3 1 6 36,4% 25,4% 20,0% 5,4% 1,8% 10,9% Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa. Fonte: dados da pesquisa (2015). Entre as circunstancias, destacam-se aqueles acidentes que ocorreram em virtude do descarte inadequado de material perfurocortante (20%) e durante procedimentos laboratoriais (20%). Em estudo desenvolvido por Julio, Filardi e Marziale (2014), a principal circunstância envolvida foi o descarte inapropriado de material perfurocortante em sacos de lixo ou em bancada, cama, chão, dentre outros locais, perfazendo 29,7% dos casos. Já para Tipple et al (2013) a maioria dos acidentes ocorreu durante a realização de procedimentos (64,4%). Para Araújo et al (2012) 13,7% dos acidentes ocorreram relacionados ao descarte inadequado de perfurocortantes e 13,3% relacionados à procedimentos laboratoriais, com destaque para o teste de glicemia capilar. Este procedimento é considerado, segundo os autores, relativamente simples e, talvez por isso, não se priorize os cuidados necessários quanto ao uso de equipamento de proteção individual (EPI). Afirmam, ainda, que a alta prevalência dos acidentes relacionada ao descarte inadequado de perfurocortantes ressalta a negligência ou o descuido quanto ao destino e armazenamento de agulhas e outros perfurocortantes. Quanto à circunstância do acidente, a administração de medicamentos (12,8%) teve maior número de ocorrências, conforme o estudo de Kon et al (2011), embora a quantidade de dados ignorados, em branco ou outros (28,1%%) possa ter prejudicado a fidedignidade das informações. Vieira, Padilha e Pinheiro (2011) verificaram que os acidentes foram, em 32,20% dos casos, decorrentes de procedimentos cirúrgicos, odontológicos e laboratoriais. Na análise dos achados, constatou-se que a agulha com lúmen é o material mais frequentemente envolvido em acidentes por material biológico, com 36,4% de ocorrências. Esses achados são coerentes com a literatura que ressalta ser a manipulação de agulha o maior risco de acidente por material penetrante entre trabalhadores hospitalares. Lapai, Silva e Spindola (2012), em trabalho sobre a ocorrência de acidentes por material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem intensivista, observaram que a agulha estava envolvida em 69,2% dos acidentes. Santos, Costa e Mascarenhas (2013) encontraram a agulha como responsável por 74,2% das exposições ocupacionais a material biológico A avaliação da situação vacinal dos profissionais envolvidos nos acidentes com material biológico está apresentada no Gráfico 3. Página 23 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Gráfico 3 - Características, segundo a situação vacinal, dos profissionais de um serviço médico de urgência vítimas de acidentes com material biológico, Teresina-PI, 2015 Vacinado Não Vacinado 47,3%(26) Ignorado 49,1%(27) 3,6%(2) Fonte: RIBEIRO, 2015 Quanto à situação vacinal 49,1% dos profissionais eram vacinados no momento do acidente. É importante destacar o alto índice apresentado no item “ignorado”, 47,3%, onde se relaciona ao não preenchimento das fichas de notificação. Lima et al (2012), analisando a frequência e o perfil dos acidentes com material biológico entre estudantes de Odontologia, perceberam que na maioria dos casos, 92,9%, a vacinação contra hepatite B estava presente. Araújo et al (2012) observaram que 64,7% estavam com o esquema vacinal de hepatite B completo no momento do acidente. Para Kon et al., (2011), em um trabalho desenvolvido em Curitiba, 79% dos trabalhadores acidentados apresentaram imunização para hepatite B. Em relação à imunização prévia contra hepatite B foi revelado, por Noronha et al (2012), que 53.2% dos profissionais apresentavam imunização completa, 24.2% não estavam imunizados e 3.2% possuíam imunização incompleta. Quanto à situação vacinal contra a hepatite B, entre os trabalhadores acidentados com material biológico na macrorregião de Florianópolis, no período de janeiro a dezembro de 2007, registrou-se 37 casos (31%) de trabalhadores não vacinados ou com seu estado vacinal ignorado e/ou em branco (VIEIRA; PADILHA; PINHEIRO, 2011). 4 CONCLUSÃO Constatou-se no estudo que a incidência de acidentes ocupacionais com material biológico foi alta, no período de janeiro a dezembro de 2014, com 55 acidentes registrados no Hospital campo do estudo. A maioria dos profissionais envolvidos era do gênero feminino, com idade entre 20 e 40 anos e com nível superior completo no momento do acidente. Dentre os profissionais destaca-se a equipe de técnicos de enfermagem como a mais envolvida nos acidentes com material biológico. O turno onde ocorreu o maior número de acidentes foi o diurno. A maioria dos profissionais relatou contato de fluídos por via percutânea. O sangue esteve envolvido na maioria das exposições. Em relação à circunstância do acidente, grande parte ocorreu em decorrência do descarte inadequado de material perfurocortante e também durante a realização de procedimentos laboratoriais, sendo a agulha com lúmen o principal agente causador. Quanto à situação vacinal, a maioria relatou ser vacinado no momento do acidente, no entanto, um destaque deve ser dado ao número considerável de notificações com este dado não preenchido. Considerando-se a relevância, atualidade do tema e complexidade da assistência prestada pelos serviços de urgência, espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir para desvelar a realidade desta situação, como também fornecer subsídios para que os trabalhadores do serviço médico de urgência possam refletir sobre formas seguras para o desempenho de suas atividades. Página 24 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.C. M. et al. 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Página 27 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA ACERCA DA VACINAÇÃO INFANTIL HEALTH STRATEGY OF NURSES KNOWLEDGE ABOUT FAMILY CHILD VACCINATION Raquel Gomes Gonzalez1 ; Amália de Carvalho Oliveira2 RESUMO No âmbito da Estratégia Saúde da Família, o enfermeiro ganha destaque, sendo o responsável técnico e administrativo pelas atividades em sala de vacina, uma vez que, dentre outras atribuições, acompanha o cumprimento do calendário de vacinação, verificando as contraindicações, aprazamentos ou adiamentos da vacinação infantil. Face a essas considerações, objetivou-se principalmente, nesse estudo, analisar o conhecimento de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família no tocante à vacinação infantil. Estudo descritivo, exploratório, pesquisa de campo e com abordagem quantitativa, realizada por meio de questionários com enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde dos Municípios de Altos – PI, Demerval Lobão – PI e José de Freitas – PI, integrantes da Microrregião do Piauí. Os dados foram processados através da utilização do programa Microsoft Excel (2013) e do software SPSS versão 19.0, com tabelas e gráficos com os resultados. Quando investigados os motivos para as contraindicações e adiamentos gerais das vacinais, somente 28,6% e 14,3%, respectivamente, acertaram integralmente a questão. Muitas das alternativas assinaladas pelos participantes cuidavam-se, na verdade, de falsas contraindicações. Poucos participantes acertaram também integralmente os itens dos quesitos relacionados ao esquema vacinal contra poliomielite em criança com 5 anos sem comprovação vacinal (25%). Este estudo apontou para a necessidade de capacitar os enfermeiros responsáveis pelas imunizações na ESF, no sentido de garantir os benefícios e qualidade da imunização às crianças nos primeiros cinco anos de idade. Palavras chave: Enfermagem. Vacinação. Saúde da Família. ABSCTRACT Under the Health Strategy, the nurse is highlighted, and the technical and administrative responsibility for activities in the vaccine area, since, among other duties, monitors compliance with the vaccination schedule, checking the contraindications, adverse events, Appointments or postponements of childhood vaccination. In view of these considerations, the objective is mainly in this study describe the knowledge of nurses of the Family Health Strategy in relation to childhood vaccination. descriptive, exploratory study, field research and a quantitative approach, conducted through questionnaires with nurses in Basic Health Units of Towns Altos-PI, Demerval Lobão-PI, and José de Freitas- PI, Piaui Microregion of members. The data were processed using Microsoft Excel (2013) and SPSS software version 19.0, with tables and graphs. charts and graphs with the results. When investigated the reasons for the contraindications and general delays of vaccine, only 28.6% and 14.3%, respectively fully agreed the issue. Many of the alternatives indicated by the _________________________ 1 Acadêmica de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial – FACID/ DeVry Brasil, Email: [email protected] em Enfermagem e Professora da Faculdade Integral Diferencial – FACID/ DeVry Brasil, email: [email protected] 2 Mestre Página 28 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 participants tended it is actually false contraindications. A few participants also agreed fully items of items related to the vaccination schedule against poliomyelitis in Children 5 years without vaccination proof (25%). This study pointed to the need to train nurses responsible for immunization in the ESF, to ensure the benefits and quality of immunization to children in the first five years. Key words: Nursing. Vaccination. Family Health. INTRODUÇÃO A vacinação é uma ação importante para toda a população mundial, em especial, para as crianças, pois dos recursos preventivos existentes, constitui o mais eficaz na tutela individual e coletiva contra inúmeras enfermidades, independentemente das diferenças socioeconômicas e culturais (SOUZA, 2014). A inobservância ao calendário básico de vacinação de crianças pode causar diversos agravos que podem se reverter em graves problemas de saúde pública. Aumenta-se o risco, tanto dos infantes quanto das famílias, de adquirir doenças imunopreviníveis e torna real o risco de surgirem epidemias na comunidade. Firmando-se como um dos pilares dos cuidados primários em saúde no Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF) é um importante meio de atuação para o controle e erradicação de doenças infectocontagiosas e imunopreviníveis, além de contribuir para o aumento das coberturas vacinais (ARAUJO, 2005). Ademais, é campo profícuo para operacionalizar-se ações de educação e promoção da saúde, demonstrando à sociedade as evidências dos benefícios da imunização. Nessa perspectiva, no âmbito da Estratégia Saúde da Família o enfermeiro ganha destaque, sendo o responsável técnico e administrativo pelas atividades em sala de vacina, uma vez que, dentre outras atribuições, acompanha o cumprimento do calendário de vacinação, verificando as contraindicações, eventos adversos, aprazamentos ou adiamentos da vacinação infantil. A partir desse ofício, o enfermeiro tem ainda a oportunidade de agir como educador no momento da vacinação, transmitindo informações fundamentais referentes à prevenção de doenças, contribuindo para que as famílias percebam o valor da imunização, definido como método capaz de evitar enfermidades (ANDRADE, et al, 2014). O serviço de imunização obedece aos princípios da integralidade, cujo objetivo é uma assistência humanizada e completa. Assim, para o êxito dos programas de vacinação, todos os profissionais envolvidos devem conhecer o processo, desde a conservação dos imunobiológicos, até o calendário vacinal dos diferentes grupos populacionais (DEUS apud SOUZA, 2014). A participação ativa dos profissionais de enfermagem torna-se elemento fundamental para a prevenção da mortalidade infantil e para a promoção de ações de educação em saúde, que estimulem a prática de hábitos saudáveis que visem à promoção, prevenção e manutenção da saúde. Entretanto, é reconhecido o déficit na execução de suas atividades (CARVALHO; ARAUJO, 2010). Desta forma, chegou-se ao seguinte problema da pesquisa: qual o conhecimento dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família sobre vacinação infantil? Em resposta a tal questionamento, foram levantadas as seguintes hipóteses: há profissionais de enfermagem que não são capacitados em vacinação ou têm conhecimento insuficiente em relação ao processo de vacinação infantil, educação em saúde ou imunização, necessitando de aperfeiçoamento; o enfermeiro possui dentro de várias atribuições da profissão a de realizar ações dentro da Estratégia Saúde da Família, acompanhando o cumprimento do calendário de vacinação, verificando as contraindicações, eventos adversos, aprazamentos ou adiamentos da vacinação infantil; os profissionais da ESF devem ter uma participação ativa na comunidade ou município que atuam, precisam desenvolver ações, ter uma comunicação clara com as famílias para prevenir a mortalidade infantil, assegurar melhorias da situação de saúde ou promover qualidade de vida para as crianças. Página 29 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Face às considerações levantadas, objetivou-se nesse estudo, analisar o conhecimento de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família no tocante à vacinação infantil; caracterizar os enfermeiros, em relação à área de especialização, tempo de formação, capacitação sobre imunização e experiência na ESF; verificar como os enfermeiros da ESF acompanham a evolução científica e tecnológica das vacinas infantis oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização; identificar o conhecimento dos enfermeiros da ESF acerca do calendário de vacinação de crianças com até cinco anos de idade, as contraindicações, aprazamentos e adiamentos da vacinação infantil. O interesse pelo tema surgiu a partir da vivência acadêmica nos campos de estágios localizados em postos de saúde. Observou-se a importância da correta monitoração vacinal para o controle e erradicação das doenças imunopreviníveis, sendo que, nesse procedimento, o enfermeiro exerce um papel fundamental, por ser o responsável pelas atividades em sala de vacina. O conhecimento produzido através deste estudo, certamente será relevante cientificamente para a Enfermagem, pois apresentará dados essenciais e aprofundará acerca do entendimento dos enfermeiros em sua prática de imunização no contexto da ESF, permitindo uma reflexão da forma como esta atividade é desenvolvida, auxiliando a aperfeiçoar a abordagem teórica e prática nesse programa, além de servir como instrumento norteador em pesquisas futuras. 2 METODOLOGIA Estudo descritivo, exploratório, pesquisa de campo e com abordagem quantitativa. Segundo Gil (2007) as pesquisas descritivas têm como primordial a descrição das características de determinada população, fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Essas pesquisas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. A pesquisa foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde dos Municípios de Altos – PI, Demerval Lobão – PI e José de Freitas – PI, integrantes da Microrregião do Estado brasileiro do Piauí. A população do estudo foi composta por 28 enfermeiros (as) que atuavam nas equipes da ESF desses Municípios. Ressalte-se que a escolha da categoria dos enfermeiros se deu, por serem considerados os responsáveis técnicos e administrativos pela sala da vacina. Adotou-se como critério de inclusão os enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde, que estavam trabalhando no ESF. Utilizou-se como critério de exclusão os enfermeiros que não possuíam, no mínimo, um ano de tempo de serviço junto à ESF e as pesquisas que não mostrarem informações sobre o tema. A produção de dados foi realizada, através da aplicação de um questionário semiestruturado com 09 perguntas fechadas sobre, dentre outros temas, idade, sexo, tempo de formação, capacitação sobre imunização e experiência na ESF, além do conhecimento acerca do calendário vacinal infantil, com suas contraindicações e adiamentos. Inicialmente foi realizada a organização dos dados mediante a revisão manual dos questionários. Em seguida, os dados foram organizados em planilhas do programa Microsoft Office Excel 2010, sendo submetidos à avaliação conforme o preconizado pelos métodos da estatística descritiva e posteriormente foram criados gráficos e tabelas para a apresentação. Para a avaliação da correlação das frequências com as variáveis estabelecidas, os dados foram submetidos ao Teste Qui-Quadrado, com intervalo de Confiança de 95%, sendo estabelecida a significância em p<0,05*, os quais, após serem transferidos, para o programa estatístico R i386 3.2.2, foram apresentados em Tabelas e gráficos freqüentistas. O conhecimento foi classificado utilizando-se uma adaptação do estudo de Araújo (2005), que avaliou os conhecimentos, atitudes e práticas da população de Teresina/PI sobre vacinação infantil, bem como de Souza (2014), que fez pesquisa análoga em relação à região denominada “Tabuleiro do Alto Parnaíba”, no Piauí. Assim, para determinar as porcentagens e o conhecimento, Página 30 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 em relação à parte 2 do questionário (conhecimento vacinas/idade), as respostas foram categorizadas em certas, erradas e em parte. No tocante à parte 3 do questionário, havia a possibilidade de mais de um item correto em cada questão. Desta forma, utilizando-se de semelhante metodologia adotada por Souza (2014), apenas foi considerada correta a questão em que os participantes acertaram todas as alternativas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A população de estudo constituiu-se de 28 enfermeiros vinculados a ESF, prevalecendo o sexo feminino com 82,1%, sendo que 57,1% tinham idade superior a 25 anos, com variação de 25 a 60, média igual a 35,57, com desvio padrão de 6,92. A maior parte dos entrevistados tinha menos de 5 anos de formação (42,9%), com variação entre 02 a 20, média de 7,25 e desvio padrão de 5,27. Do total, 64,3% possuíam especialização. Quanto à capacitação para atuar na sala de vacina, 64,3% indicaram não possuir. Em relação à forma como os enfermeiros acompanhavam as evoluções tecnológicas e avanços que acontecem, 71,4% responderam que seria através de notas técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde, 35,7%, por intermédio dos manuais do Ministério da Saúde e 32,1%, a partir de capacitação oferecida pelo Município (Tabela 1). Tabela 1- Características demográficas e funcionais dos profissionais investigados, Teresina/PI – 2016 (n=28) Variáveis N % 5 23 17,90% 82,10% X ± IC 95% Min-Max 35,57 6,92 33,3-38,3 25-60 7,5 5,27 5,5-9,5 2-20 Sexo Masculino Feminino Idade De 0 até 25 Acima 25 até 35 Acima de 35 até 50 Acima de 50 1 16 11 1 3,6% 57,10% 35,70% 3,60% Não Sim 10 18 35,70% 64,30% Especialização Saúde Pública Saúde da Família Outros 8 4 6 33% 22% 44% Possui especialização Tempo de formação 0 até 5 anos 5 até 10 anos 10 até 20 anos 8 12 8 28,60% 42,90% 28,60% Sim 10 35,7% Não Como acompanha as evoluções tecnológicas e avanços que acontecem na vacinação infantil Através de notas técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde 18 64,3% Capacitação em Sala de vacina 20 71,4% Página 31 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Cursos de capacitação oferecida pelo 9 Município Manuais do Ministério da Saúde 10 Outros 3 32,1% 35,7% 10,7% Legenda: x= média, ±= Desvio padrão, IC95%= intervalo de confiança, Min-Max= Mínima e máxima. Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa (2016). Os resultados referentes ao conhecimento sobre as vacinas do calendário infantil dos primeiros cinco anos de vida, indicaram que a maior parte dos profissionais da ESF não respondeu de forma correta quais vacinas devem ser administradas nas respectivas idades (Tabela 2). Do calendário vacinal, não houve a obtenção de um resultado satisfatório pela amostra da pesquisa nas idades de seis meses (46,4%), doze meses e quinze meses (42,9%). Tabela 2 - Conhecimento dos profissionais do estudo sobre as vacinas do calendário infantil dos primeiros cinco anos de vida para as respectivas idades, Teresina/PI – 2016 Conhecimento vacinas/idade n* % Ao Nascer (zero mês) Certo Errado Em parte Dois meses 24 4 85,7 14,3 Certo 22 78,6 Errado 1 3,6 Em parte 5 17,9 Certo 20 71,4 Errado 8 28,6 Em parte - - Certo 21 75,0 Errado 2 7,1 Em parte 5 17,9 Certo 21 75,0 Errado 7 25,0 Em parte - - Certo 13 46,4 Errado 1 3,6 Em parte 14 50,0 Certo 25 89,3 Errado 3 10,7 Em parte - - Três meses Quatro meses Cinco meses Seis Meses Nove meses Doze meses Página 32 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Certo 12 42,9 Errado 7 25,0 Em parte 9 32,1 Certo 12 42,9 Errado 6 21,4 Em parte 10 35,7 Certo 15 53,6 Errado 4 14,3 Em parte 9 32,1 Quinze meses Quatro anos Fonte: Dados da pesquisa (2016). Quando realizada a associação do conhecimento dos enfermeiros com a categoria idade, tendo como primeira variável, a soma das respostas certas, erradas e em parte das idades de 6 meses, 12 meses e 15 meses e, como segunda variável, o resultado das respostas em relação a dois meses, três meses, quatro meses, nove meses e quatro anos, verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre elas (p≤0,05) (Tabela 3). Tabela 3 - Associação do conhecimento sobre o calendário vacinal dos cinco primeiros anos, segundo a categoria idade, Teresina/PI – 2016 Conhecimento vacinas/idade 6 Meses 12 Meses 15 Meses Outros Meses n n p valor* <0,01 Certo Errado Em parte 37 14 33 133 21 14 * O p valor foi obtido pelo teste do Qui- quadrado. O nível de significância estatística foi fixado em p≤0,05 Fonte: Dados da pesquisa (2016). Conforme a Tabela 4, somente 28,6% dos 28 enfermeiros, participantes da pesquisa, conheciam adequadamente os motivos gerais de contraindicação de vacinas dos cinco primeiros anos de vida. Os motivos mais indicados foram, o choque anafilático após receber a vacina (82,1%), seguido das convulsões febris após ter recebido uma dose da mesma vacina anteriormente (57,1%). Tabela 4 - Motivos para a contraindicação de vacinas dos primeiros cincos anos de vida pelos enfermeiros, Teresina/PI – 2016 (n=28) Motivos de contraindicação permanente N % Convulsões febris após ter recebido uma dose da mesma vacina anteriormente Doenças neurológicas estáveis 16 57,1 04 14,3 História pregressa da doença contra qual vai se vacinar Choque anafilático após receber a vacina 01 3,6 23 82,1 Abscesso subcutâneo produzido pela vacina 03 10,7 Página 33 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Reações imunoalérgicas tardias após recebimento da vacina. Percentual geral de acertos e erros sobre contraindicações das vacinas Acertos 09 32,1 8 28,6 Erros 20 71,4 Fonte: Dados da pesquisa (2016). No tocante aos motivos de adiamento permanente das vacinas dos cinco primeiros anos de vida (Tabela 5), apenas 14,3% dos participantes conseguiram acertar a resposta. Nessa questão, o destaque ficou com o usuário de dose imunossupressora de corticoide (53,6%), a prematuridade (64,3%), seguida do uso de corticosteroide independente da dose (42,9%). Tabela 5 - Motivos para o adiamento de vacinas dos primeiros cinco anos de vida pelos enfermeiros, Teresina/PI – 2016 (n=28) Motivos de adiamento geral N % Usuário de dose imunossupressora de corticoide – vacine 90 dias após a suspensão ou o término do tratamento Febre baixa 15 53,6 09 32,1 Desnutrição 09 32,1 Infecções respiratórias do trato superior 03 10,7 Uso de qualquer tipo de antimicrobiano 0 0,0 Aguardar 90 dias após recebimento de sangue ou hemoderivados, para vacinas vivas Uso de corticosteroide independente da dose 7 25 12 42,9 Prematuridade 18 64,3 Acertos 4 14,3 Erros 24 89,3 Percentual geral de acertos e erros sobre adiamento das vacinas Fonte: Dados da pesquisa (2016). 4 CONCLUSÃO Os resultados da pesquisa carreiam importantes informações em relação ao conhecimento de enfermeiros atuantes da ESF, sobre o calendário vacinal dos primeiros cinco anos de vida de uma microrregião do Piauí. Observou-se que a maioria (64,3%) dos profissionais relatou não ter recebido treinamento em sala de vacina, e em consequência, verificou-se pouco conhecimento das vacinas preconizadas para as crianças com até cinco anos, especialmente dos meses em que houve mudança do calendário vacinal, 6, 12 e 15 meses, com percentual de acertos de 46,4%, 42,9% e 42,9%, respectivamente, o que implicou em condutas equivocadas, quanto aos motivos de adiamento e contraindicações de vacinação. É incontroversa a relevância da educação permanente para a efetividade das ações de vacinação para as crianças nos cincos primeiros anos de vida, sendo evidenciada, por intermédio da literatura, a sua inter-relação com baixos níveis de vacinação, uma vez que profissionais poucos capacitados cometem mais adiamentos e falsas contraindicações, o que aumenta as oportunidades perdidas de imunização, reduzindo, desta forma, as taxas de coberturas vacinais e, por consequência, deixando a população em geral exposta a contrair doenças que são evitáveis. Página 34 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Por fim, este estudo indica para a necessidade de capacitar os enfermeiros, considerados responsáveis técnico e administrativo, pelas atividades em sala de vacina, no sentido de garantir os benefícios e qualidade da imunização das crianças. Espera-se que estes achados possam contribuir para a prática dos enfermeiros da ESF no que concerne aos aspectos relacionados à vacinação nesse grupo, fomentando-lhes o interesse para treinamentos constantes, notadamente quanto à imunização. Além disso, auxilie na redução das OPV, secundário a isto, na mortalidade infantil através do alcance das metas globais e nacionais de vacinação. REFERÊNCIAS ANDRADE, D. R. et al. Conhecimento sobre o Calendário de Vacinação e Fatores que levam ao atraso vacinal infantil. 2014. Disponível: <www.ufpr.br>. Acesso: 15 de maio, 2015. ARAÚJO, T. M. E. Vacinação Infantil: conhecimentos, atitudes e práticas da população da área norte/ Centro de Teresina/PI. 2005. 132f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Programa de PósGraduaÇão em Enfermagem, UFRJ, Rio de Janeiro, 2005. CARVALHO, A. M. C; ARAUJO, T. M. E. Fatores associados à cobertura vacinal em adolescentes. Acta Paul Enferm 2010, v. 23, n. 6, p.796-802. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n6/13.pdf>. Acesso em: 15 de abril de 2016. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SOUZA, Isabela Bastos Jácome. Conhecimento de Profissionais da Estratégia Saúde da Família Sobre a Vacinação Infantil.2014. Tese – Uninovafapi. Disponível: <www.mestradouninovafapi.edu.br>. Acesso: 13 de janeiro, 2015. Página 35 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE VISCERAL EM CAPITAIS DA REGIÃO MEIO-NORTE DO BRASIL EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF VISCERAL LEISHMANIASIS IN MID-NORTHERN CAPITALS OF BRAZIL Nataniel Sousa Santos Filho¹; Augusto César Evelin Rodrigues² RESUMO Este estudo teve como objetivo analisar a relação entre o padrão de ocorrência de casos de Leishmaniose Visceral (LV) nas cidades de São Luís-MA e Teresina-PI. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e retrospectiva de dados secundários, cujos participantes foram os casos diagnosticados com LV de pacientes que residiam em São Luís-MA e Teresina-PI durante 2007 a 2013 e estavam registrados nos seus respectivos departamentos de vigilância epidemiológica. Os dados dos casos de LV nas duas cidades foram obtidos na Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão no Departamento de Vigilância Epidemiológica, em São Luís – MA, e da Fundação Municipal de Saúde, no Departamento de Vigilância em Saúde, em Teresina - PI, entre os anos de 2007 a 2013. Esses dados foram agrupados e a análise foi realizada de acordo com a proposta quantitativa do estudo. A apresentação dos resultados foi realizada através de tabelas de frequências, percentagem e gráficos. Constatou-se que as duas cidades apresentam características semelhantes e propícias para o favorecimento da infecção por LV, por apresentarem clima úmido, intensos períodos de chuva e grande densidade populacional em regiões periurbanas. A faixa etária e o gênero mais relevantes foram crianças menores que quatro anos do sexo masculino. A coinfecção de LV com HIV esteve bastante presente, porém São Luís apresentou uma relação duas vezes maior comparada a Teresina. Palavras chave: Leishmaniose. Capitais. Nordeste. ABSCTRACT This study aimed to analyze the relationship between the pattern of occurrence of visceral leishmaniasis cases in São Luís - MA and Teresina - PI. This is a quantitative, descriptive and retrospective in secondary data, whose participants were diagnosed with LV cases, patients who lived in São Luís - MA and Teresina - PI, during 2007 to 2013 and were registered in their respective epidemiological surveillance departments. The data of VL cases in both cities were obtained from the Health State Department of Maranhão Health in the Epidemiological Surveillance Department, in São Luís - MA and from the Municipal Health Foundation, in the Health Surveillance Department, in Teresina-PI, throughout the years of 2007 to 2013. These data analysis was carried out according to the proposed quantitative study. The presentation of the results was performed using frequency tables, percentages and charts. It was found that both cities have similar characteristics favoring the _____________________ ¹ Aluno do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial / Devry Brasil. E-mail: [email protected] ² Professor de Parasitologia do Curso de Medicina da FACID/Devry, Mestre em Saúde Pública. E-mail: [email protected] Página 36 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 LV infection because they had wet weather, heavy rain and high population density in peri-urban regions. The most significant age and gender group were the male children under 4 years. The coinfection of HIV with LV was very present, but São Luís presented a report twice compared to Teresina. Key words: Leishmaniasis. Capital. Northeast. INTRODUÇÃO A Leishmaniose Visceral é uma zoonose que tem como agente etiológico o protozoário tripanosomatídeo do gênero Leishmania, um parasita celular obrigatório das células do sistema fagocítico. No novo mundo, a espécie mais comumente encontrada nos pacientes acometidos é a L. Chagasi (BRASIL, 2006). A doença tem apresentação clínica de variadas formas, desde a apresentação assintomática até o quadro clássico da parasitose, evidenciado por febre, anemia, hepatoesplenomegalia. Com a evolução da doença, outros sinais e sintomas clínicos são evidenciados, em especial a diarreia, icterícia, vômito e edema periférico, que dificultam a identificação de forma precoce (OLIVEIRA et al, 2010). O Nordeste é a região do país mais afetada pela LV, respondendo por quase 50% de todos os casos registrados no Brasil e onde são registradas as maiores incidências da doença. As taxas de incidência da LV vêm aumentando não apenas na região Nordeste, mas também nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Os casos entre crianças de 0 a 9 anos respondem por quase 50% do total (ALVES, 2012). Teresina, capital do Estado do Piauí, foi palco da primeira grande epidemia urbana do país, com mais de mil casos notificados entre 1981 e 1986. Epidemias foram, posteriormente, descritas em outras capitais da região Nordeste, como Natal - RN e São Luís - MA (BRASIL, 2003). No município de São Luís - MA, Mendes et al. (2002), ao analisarem a expansão espacial da Leishmaniose Visceral, constataram a relação da endemia com os fluxos migratórios decorrentes da industrialização que se intensificou nas décadas de 1980 e 1990, atraindo grande contingente populacional e, com isso, a expansão espacial de moradias, impactos ambientais e doenças. A partir do exposto, elaborou-se o seguinte problema: qual a relação existente no padrão epidemiológico de casos de Leishmaniose Visceral em capitais do Meio-Norte do Brasil? Este estudo teve como objetivo geral analisar a relação entre o padrão de ocorrência de casos de Leishmaniose Visceral nas cidades de São Luís - MA e Teresina-PI. Os objetivos específicos foram: identificar os fatores que favorecem o aparecimento de casos de Leishmaniose nas duas capitais; verificar a distribuição dos casos em relação à faixa etária e gênero, nas duas cidades; verificar se a relação entre Leishmaniose Visceral e HIV nas duas cidades é a mesma. O estudo se justifica pelo fato de a LV ser considerada a terceira enfermidade por vetores mais relevante na atualidade. É uma doença que está em expansão e nos últimos vinte anos vem sofrendo mudanças no seu perfil epidemiológico. Além disso, Teresina e São Luís são considerados municípios endêmicos pelo agravo e os estudos realizados ainda não esclareceram a doença e fatores ambientais envolvidos. A pesquisa é de grande relevância por demonstrar se existe ou não relação no padrão de casos de LV nas duas cidades e se existe algum fator significativo em uma delas que favoreça o aparecimento da doença, possibilitando medidas de controle e prevenção do agravo, além de servir como um referencial teórico para outros estudos sobre o tema. Página 37 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 2 METODOLOGIA O estudo foi realizado conforme a Resolução n° 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, e teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (FACID/Devry Brasil). O método utilizado foi a pesquisa quantitativa de natureza descritiva e retrospectiva, participando do estudo todos os casos diagnosticados com Leishmaniose Visceral no período de 2007 a 2013, constituindo uma amostra de 211 casos em São Luís - MA e 532 casos em Teresina - PI, totalizando 743 casos. Utilizaram-se como critério de inclusão os casos diagnosticados com LV, de pacientes que residiam em São Luís - MA e Teresina - PI, durante o período de 2007 a 2013 e que estavam registrados nos seus respectivos departamentos de vigilância epidemiológica. Os dados dos casos de LV nas duas cidades foram obtidos na Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão, Departamento de Vigilância Epidemiológica, em São Luís - MA e da Fundação Municipal de Saúde, Departamento de Vigilância em Saúde, em Teresina - PI, entre os anos de 2007 a 2013. Todos os dados foram colhidos em planilha do Excel® 2007 e identificados por data de diagnóstico (mês e ano), no período do estudo. A análise foi realizada de acordo com a proposta quantitativa do estudo. Os dados foram tabulados no software TABWIN e posteriormente organizados no Excel® 2007. A apresentação dos resultados foi realizada através de tabelas de frequências, percentagem e gráficos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Utilizando os dados coletados, observou-se uma incidência 65,2 e 20,7 por 100.000 habitantes, respectivamente, em Teresina - PI e São Luís - MA, chamando atenção para a alta incidência na capital do Piauí no período estudado, em relação à capital do Maranhão, representando praticamente o triplo do coeficiente. No Gráfico 1 observou-se a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes e percebeu-se que em Teresina - PI, o resultado foi consideravelmente maior que em São Luís - MA. As séries apresentam comportamento oposto, com exceção para os anos de 2011 a 2013 onde a taxa de mortalidade apresenta o mesmo comportamento para ambas as cidades, embora em níveis maiores em Teresina - PI. Taxa de Mortalidade por 100 mil Figura 1 - Taxa de Mortalidade por 100 mil hab: Comparação Teresina x São Luís, de 2007 a 2013 1,40 1,20 1,00 0,80 Teresina-PI São Luís-MA 0,60 0,40 0,20 0,00 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Período Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA) / FMS (Teresina - PI). Página 38 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Em relação ao gênero, observou-se que (Figura 2 e 3), os pacientes do sexo masculino representaram a maioria dos casos nas duas localidades em questão, com exceção para o ano de 2008 em São Luís - MA, em que a incidência foi igual para ambos os sexos e 2012, quando a incidência foi maior para as pessoas do sexo feminino. Em Teresina - PI, todos os anos estudados apresentaram o sexo masculino como a maioria dos casos. Os resultados apresentados corresponderam com a literatura (BRASIL, 2006; PASTORINO et al., 2002), pois o homem é mais exposto ao ambiente durante o dia, em que muitos dos casos são de indivíduos que trabalham em áreas livres em regiões de peridomicílio, sem o uso de camisetas. As mulheres são mais protegidas em relação às roupas, com hábitos de trabalho dentro do domicílio. Porcentagem Figura 2 - Casos de LV em São Luís segundo o gênero, de 2007 a 2013 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total Ano/Total Masculino Feminino Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA). Figura 3 - Casos de LV em Teresina segundo o gênero, de 2007 a 2013 80% 70% Porcentagem 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total Ano/Total Masculino Feminino Fonte: FMS (Teresina - PI). Com relação à idade dos pacientes que contraíram LV, do total de pacientes entre os anos de 2007 e 2013, a incidência foi maior entre crianças de 1 a 4 anos de idade, representando em torno de 50% dos casos nas duas cidades, evidenciando a grande vulnerabilidade das crianças menores de Página 39 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 quatro anos para o acometimento da doença. As pessoas na faixa etária de 10 a 19 anos e de 65 a 79 anos foram os que apresentaram menor incidência de LV. Foi possível notar que esse comportamento foi similar em ambas as cidades (Gráficos 4 e 5). Segundo Goes et al. (2012), a razão da maior suscetibilidade das crianças tem sido explicada pelo estado de relativa imaturidade imunológica celular agravada pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas de LV no Nordeste. Figura 4 - Casos de LV em São Luís segundo a faixa etária, de 2007 a 2013 45% 40% Porcentagem 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% <1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 20-34 35-49 50-64 65-79 Faixa Etária Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA). Figura 5 - Casos de LV em Teresina segundo a faixa etária, de 2007 a 2013 30% Porcentagem 25% 20% 15% 10% 5% 0% <1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 20-34 35-49 50-64 65-79 80 e+ Faixa etária Fonte: FMS (Teresina-PI). Analisando a Figura 6, pode-se ver os casos confirmados de Leishmaniose com coinfecção com HIV. Do total de casos confirmados de 2007 a 2013 nas duas cidades, a quantidade de casos em Teresina - PI foi mais que o dobro dos casos confirmados em São Luís - MA. A quantidade de casos com coinfecção com HIV segue o mesmo caminho, sendo maior em Teresina do que em São Luís. Página 40 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Excluindo-se os casos ignorados, pôde-se perceber que a relação de coinfecção em São Luís (7,3) foi 2 vezes maior que em Teresina (3,7). Figura 6 - Comparação Teresina x São Luís para casos com coinfecção HIV, de 2007 a 2013 400 358 Número de Casos 350 300 250 200 161 150 96 78 100 28 50 22 0 Teresina São Luís Ing/Branco Sim Não Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA) / FMS (Teresina-PI). Analisando-se os dados de distribuição por bairros nas cidades de Teresina e São Luís (Figura 7), observou-se o predomínio de áreas que ainda não se tem uma delimitação do que é urbano e do que é rural, sendo áreas de expansão e de ocupação recente, de constante desmatamento, sendo estes possíveis fatores que favorecem a saída dos mosquitos de seu habitat por perderem sua fonte de alimento (os marsupiais) utilizando então o homem e o cachorro como fontes de alimentos. Sabemos também que estas áreas não apresentam condições ideais de saneamento básico por se apresentarem zonas de invasão populacional, sem nenhum projeto habitacional de construção durante sua ocupação, e que a imunidade de grande parte da população, principalmente crianças, é baixa devido à subnutrição por fatores socioeconômicos. Número de Casos Figura 7 - Bairros com maior incidência de LV em Teresina, de 2007 a 2013 500 400 300 200 100 0 400 45 26 25 Santa Maria da Codipi Zona Rural Angelim 19 16 Santo Promorar Outros Antônio Bairro Fonte: FMS (Teresina-PI) O total da Figura 7 conta apenas 531 casos, pois um registro na ficha não estava preenchido, sendo que a quantidade geral de casos confirmados foi 532 do período de 2007 a 2013. Em Teresina, os cincos bairros com maiores números de casos corresponderam a 24,6% do total de casos registrados no período em estudo. A Figura 8 mostra a distribuição geográfica por bairros em Teresina, evidenciando quatro das cinco principais áreas descritas na Figura 3. Caracteristicamente, estas são áreas limítrofes do município, com aspecto misto (urbano e rural) e de carência quanto ao saneamento básico. Página 41 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 8 - Mapa de Teresina segundo a distribuição por bairros e sensoriamento remoto Fonte: http://www.sefaz.pi.gov.br/mapas/index.htm Figura 9 - Bairros com maior incidência de LV em São Luís, de 2007 a 2013 128 140 Número de casos 120 100 80 60 40 20 16 13 8 8 6 Santa Barbara Estiva Pedrinhas 0 Maracana Quebra Pote Outros Bairros Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA). Página 42 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Observou-se que nos dados obtidos de São Luís não foram encontrados registros de zona rural, não se podendo afirmar se existiu ou não casos durante o período em estudo. Em São Luís, os cinco bairros com maior número de casos corresponderam a 24,1% do total de casos registrados neste estudo, mostrando uma distribuição similar com Teresina. A Figura 10 mostra a distribuição geográfica dos bairros em São Luís. Da mesma forma que em Teresina, os bairros em destaque apresentam característica mista, ou seja, zona rural e urbana, correspondendo áreas de crescimento da Ilha de São Luís. Vale ressaltar que os municípios vizinhos apresentam características semelhantes (ruralização e ocupação recente de bairros nas periferias das cidades). Figura 10 - mapa de São Luís segundo a distribuição por bairros e sensoriamento remoto Fonte: http://www.maramazon.com/pontos_turisticos.php?ptu_id=43 Em relação à distribuição temporal (por mês), pôde-se observar pelas Figura 10 e 11 que os picos, isto é, a maior incidência de casos de LV de 2007 a 2013, aconteceram em agosto para São Luís e julho para Teresina. Página 43 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Número de Casos Figura 10 - Número total de casos de LV ocorridos por mês em São Luís, de 2007 a 2013 40 35 30 25 20 15 10 5 0 34 27 29 23 19 10 10 20 13 11 6 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out 9 Nov Dez Mês Fonte: S. E. S. - MA: Dep. de Vig. Epidemiológica (São Luís - MA). Figura 11 - Número total de casos de LV ocorridos por mês em Teresina, de 2007 a 2013 76 80 69 Número de Casos 70 57 60 49 50 40 30 33 33 Fev Mar 26 47 43 35 35 29 20 10 0 Jan Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês Fonte: FMS (Teresina-PI). Segundo Viana et al. (2011), em um estudo realizado em São Luís entre 2002 e 2010, o período de maior quantidade de casos correspondeu nos meses de junho, julho e agosto, período no qual representa o fim da temporada de chuvas na região, que se inicia em janeiro. Um dos possíveis fatores responsáveis por esta relação é a ocorrência de uma maior invasão de peridomicilio pelos flebotomíneos em busca de sangue em seres humanos durante a estação chuvosa. Em Teresina, o pico da incidência ocorreu com um mês de diferença (julho) comparado a São Luís (agosto), o que corrobora com um estudo feito por Viana (2014) sobre a relação entre a pluviometria, temperatura e a distribuição dos casos de Leishmaniose Visceral, tendo em vista que o período de chuvas nas duas localidades é praticamente igual. Tal fato está relacionado, segundo a literatura, ao período de incubação da doença, que gira em torno de três meses, coincidindo assim com o estudo em questão. 4 CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se constatar que Teresina e São Luís apresentam características semelhantes para o favorecimento de infecção por Leishmaniose Visceral, por apresentarem clima úmido, com períodos de chuvas intensas durante o primeiro semestre e escassez durante o segundo semestre dos anos estudados, apresentando então um uma distribuição Página 44 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 polarizada ao longo dos anos estudados, com pico do número de casos entre os meses de junho, julho e agosto nas duas cidades. Tal fato apresenta estreita relação da pluviosidade com a incidência de casos de Leishmaniose Visceral. A incidência de casos em Teresina mostrou-se maior que em São Luís, correspondendo a mais que o dobro de casos, o que nos faz indagar sobre a possível subnotificação dos casos na capital do Maranhão, já que as populações absolutas apresentam praticamente a mesma quantidade em números. Porém, vale ressaltar que muitos dos casos notificados na cidade de São Luís são de municípios vizinhos e pertencentes à Ilha e que apresentam características rurais (São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar). Caso fossem registrados no presente trabalho, tal fato poderia resultar em resultados não verídicos à pesquisa, de forma que foram excluídos os casos de residentes naquelas cidades. Quanto à faixa etária e o gênero, a distribuição apresentou-se conforme a literatura descreve, tendo o foco em crianças com menos 4 anos, representando mais de 60% dos casos no período em estudo nas 2 cidades, sendo a maioria do gênero masculino. A coinfecção com HIV mostrou-se um importante problema de saúde pública, representando grande porcentagem dos casos. Porém a relação de coinfecção entre LV e HIV mostrou-se duas vezes maior em São Luís que em Teresina, apesar dos números absolutos de Teresina serem maiores tanto em totalidade quando em coinfecção. Portanto, a patologia em questão mostrou-se como um grande problema de saúde pública nas localidades estudadas, fazendo-se necessárias intervenções pelos órgãos responsáveis pelo controle dessa doença. O estudo teve como intuito revelar fatores e aspectos favoráveis para a multiplicação da doença e quais bairros das referidas capitais merecem maior atenção para o agravo. REFERÊNCIAS ALVES, E. B. Fatores de risco para incidência de infecção por Leishmania infantum na cidade de Teresina, Piauí. 2012. 53 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. MENDES, W. da S. et al. Expansão espacial da leishmaniose visceral americana em São Luís, Maranhão, Brasil. da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba, v. 35, n. 3, p. 227231, jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003786822002000300005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 jan 2015. OLIVEIRA, J. M. et al. Mortalidade por leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 43, n. 2, p. 188-193, abr. 2010. 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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003786822011000600013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 nov. 2014. Página 46 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 PROCESSO DE CONTROLE MICROBIOLÓGICO DE DESINFECÇÃO DE TUBETES ANESTÉSICOS MICROBIOLOGICAL CONTROL OF THE PROCESS OF DISINFECTING ANESTHETIC CARTRIDGES Diego Dantas Lopes Santos1 , Sâmmea Martins Vieira2 , Márcia Socorro da Costa Borba3 RESUMO Em toda atividade odontológica, tão importante quanto o aprimoramento técnico e científico é a conscientização dos riscos de contaminação durante o atendimento odontológico, por isso, realiza-se a desinfecção de materiais, estando incluso os anestésicos locais. O objetivo do estudo foi obter dados a respeito de quais procedimentos e substâncias de controle microbiológico de desinfecção de tubetes anestésicos são mais eficazes. Foi realizada a análise microbiológica de desinfecção de tubetes anestésicos locais em diferentes embalagens e materiais, que foram submetidos a diferentes tempos e métodos de desinfecção, utilizando as substâncias desinfectantes Clorexidina 2%, Álcool a 70% e PVP-I (iodopolivinilpirrolidona), através dos métodos de fricção e imersão. Foram colhidas amostras de um tubete de anestésico de cada embalagem com cada solução (lidocaína e mepivacaína) para a verificação da possível contaminação inicial, imergindo por 24 horas no caldo BHI (Brain Heart Infusion), sendo semeadas após o crescimento em meio de cultura TSA (Tryptone Soya Agar). Após semeio, as placas foram incubadas em estufa de aerobiose a 37°C durante 48 horas. Como análise final, as colônias de bactérias foram incontáveis em todas as placas, mas por método visual, observou-se que a clorexidina a 2%, tanto por fricção quanto por imersão, teve melhores resultados para a ação desinfetante, em relação às demais substâncias utilizadas, sendo a de melhor escolha para o cirurgião-dentista. Palavras chave: Desinfecção. Anestésico. Controle de infecção. Odontologia. ABSCTRACT Throughout dental activity, as important as the technical and scientific improvement is the awareness of the risks of contamination during dental care, carried out disinfection materials being included local anesthetics. The objective was to obtain data about which procedures and microbiological control of substances of anesthetic cartridges disinfection are more effective. It was conducted microbiological analysis disinfecting local anesthetic cartridges in different containers and materials that were submitted at different times and disinfecting methods of using disinfectant substances: Chlorhexidine 2%, Alcohol 70% and PVP-I (iodopolivinilpirrolidona), through methods of friction __________________________ Aluno do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial (FACID|DeVry), Teresina – PI, e-mail: [email protected]. Aluna do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial (FACID|DeVry), Teresina – PI, e-mail: [email protected]. 3 Professora do Curso de Odontologia da FACID|DeVry, Teresina – PI, Doutora em Clínica Odontológica, e-mail: [email protected] 1 2 Página 47 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 and immersion. Samples an anesthetic cartridge of each package were taken with each solution (lidocaine and mepivacaine) for verification of possible initial contamination by immersing for 24 hours in BHI broth (Brain Heart Infusion) and seeded after growth in culture media TSA (Tryptone Soya Agar). After seeding the plates were incubated in greenhouse aerobically at 37 ° C for 48 hours. As a final analysis, the bacterial colonies were countless in all plates, but for visual method, it was observed that the 2% chlorhexidine either by friction or by immersion, had the best results for the disinfectant action on other substances used and is the best choice for the dentist. Key words: Disinfection. Anesthetic. Infection control. Dentistry. INTRODUÇÃO A cada dia pesquisas vêm demonstrando que, em todos os instrumentos odontológicos, dos mais simples aos mais sofisticados, esconde-se um universo de microrganismos patogênicos (BUHTZ, 1995; FERREIRA, 1995). A biossegurança envolve um conjunto de condutas e medidas técnicas que devem ser empregadas por profissionais da área de saúde ou afins, para prevenir acidentes e contaminação cruzada em ambientes biotecnológicos, hospitalares e clínicas ambulatoriais (BRASIL, 1990; GONÇALVES; TRAVASSOS; SILVA, 1996). A prevenção da infecção cruzada é aspecto crucial na prática odontológica e o controle de infecção tem se tornado uma preocupação cada vez mais frequente entre os profissionais da área odontológica. De acordo com a Centers for Disease Control and Prevention (CDC), todos os recursos disponíveis tem sido empregados para impedir a contaminação em consultórios odontológicos. O problema é que qualquer tipo de descuido pode intensificar o ciclo de infeções cruzadas (AUTIO, 1980; CRAWFORD; BRODERIUS, 1988; PALENIK; BURKE; MILLER, 2000; WARREN, 2001; SILVA; JORGE, 2002; GALVANI et al., 2004; KNACKFUSS; BARBOSA; MOTA, 2010). Um dos procedimentos de grande importância para o controle de infecção cruzada em Odontologia tem sido a desinfecção, uma vez que é impossível realizar um procedimento de esterilização em todos os equipamentos e matérias utilizados pelo cirurgião-dentista durante um atendimento odontológico (GUIMARÃES UNIOR, 2001). Mesmo com toda a preocupação de evitar a contaminação, a desinfecção de tubetes anestésicos ainda é um fato de pouca importância para maioria dos odontólogos, seja por eles acreditarem que a carpule (instrumento usado para aplicar anestesia local) já esteja estéril ou não seja necessário a desinfecção dos tubetes anestésicos. Diante disso, existem dois tipos de desinfecção: a desinfecção de imersão, através do qual os instrumentos ou peças são colocados dentro dos desinfetantes; e a de superfície (fricção), pela qual os desinfetantes são aplicados nas partes externas das área a serem desinfetadas (TEIXEIRA; SANTOS, 1999). No Brasil são usados cerca de 250 milhões de tubetes anestésicos por ano. No comércio brasileiro existem inúmeras soluções comerciais à base de lidocaina, mepivacaina, prilocaina, bupivacaina e articaina. Muitas destas soluções anestésicas são, pela descrição contida em suas bulas, idênticas em suas formulações, variando no seu fabricante o material, sendo tubetes de plástico ou vidro e embalagem, seja caixa de papel ou Blister. Alguns autores mostraram que a forma de armazenamento e o manuseio dos tubetes anestésicos podem alterar o seu desempenho (GERKE et al., 1978; FRY; CIARIONE, 1980; COOLEY; LUBOW, 1981; BRENNAN; MORLEY; LANGDON, 1987; BERTIFILD et al., 1992). Assim, o propósito do estudo foi obter dados a respeito de quais procedimentos e substâncias de controle microbiológico de desinfecção de tubetes anestésicos, são mais eficazes. Página 48 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 2 METODOLOGIA Para a análise microbiológica de desinfecção de tubetes anestésicos foi selecionado um tubete de cada tipo de material (vidro ou plástico) e de cada tipo de embalagem (caixa de papel ou blister). Os tubetes de cada embalagem e material foram submetidos a diferentes tempos e métodos de desinfecção. As substâncias avaliadas como desinfetantes, foram: Clorexidina 2%, Álcool a 70% e PVP-I (iodopolivinilpirrolidona). A desinfecção dos tubetes anestésicos foi realizada através de dois métodos distintos: fricção e imersão. Desta forma, foram avaliadas 3 substâncias desinfetantes em dois métodos de desinfecção (fricção e imersão), totalizando 6 formas diferentes de desinfecção dos tubetes. Além disso, foram feitos três procedimentos de controle: a fricção de uma gaze estéril seca (sem a adição de agentes desinfetantes), a fricção de uma gaze estéril embebida em NaCl 0,9% e a imersão em soro fisiológico (NaCl a 0,9%). A pesquisa foi realizada em uma Faculdade de Teresina. Durante a abertura de cada embalagem, foram colhidas amostras de 1 tubete de cada embalagem de cada solução (lidocaína e mepivacaína) para a verificação da possível contaminação inicial. Um “swab” estéril, embebido em 0,1 mL de NaCl a 0,9%, foi friccionado de forma padronizada contra um tubete. Imediatamente imergido por 24 horas no caldo BHI (Brain Heart Infusion). Após transcorrido esse tempo, imediatamente após a colheita inicial dos tubetes, foram submetidos a cada uma das seguintes condições: 1) imersão em 40 mL de clorexidina a 2%; 2) imersão em 40 mL de alcool a 70%; 3) imersão em 40 mL de PVP-I; 4) imersão em 40 mL de NaCI 0,9%; 5) fricção por gaze esterilizada contendo 1 mL de clorexidina a 2%; 6) fricção par gaze esterilizada contendo 1 mL de alcool a 70%; 7) fricção por gaze esterilizada contendo 1 mL de PVP-I; 8) fricção par gaze esterilizada contendo 1 mL de NaCI 0,9%; 9) fricção por gaze seca e esterilizada (SEM desinfetante). Após a secagem cuidadosa em gaze estéril, os tubetes das condições 1 até 8 foram submetidos a colheita de amostras, através de "swab" estéril, embebido em 0,1mL de NaCI a 0,9%. Os “swabs” foram imediatamente imergidos por 24 horas em tubos com caldo BHI (Brain Heart Infusion). Após esse tempo, alíquotas de 0,1 ml dos tubos onde houve crescimento, foram semeadas em meio de cultura Tryptone Soya Agar, mediante a utilização de alça de Driklaski. Após semeio as placas foram incubadas em estufa de aerobiose a 37°C durante 48 horas. De acordo com os procedimentos descritos no item anterior, os tubetes destinados as condições 1 a 4 foram imergidos por 4 minutos nas soluções descontaminantes e os itens 5 a 9 foram friccionados por 15 segundos. Todo experimento foi repetido após duas semanas com os tubetes restantes de cada embalagem. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados, analisados e comparados os resultados de cada método de desinfecção feitos nos tubetes anestésicos. As técnicas de desinfecção dos tubetes pela ação de fricção e de imersão possuiam entre si diferença pouco significativa (Figuras de 1 a 9). Página 49 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 1 – Fricção por gaze esterilizada contendo 1ml de clorexidina a 2% Figura 2 – Fricção por gaze seca e esterilizada sem desinfectante Figura 3 – Fricção por gaze esterilizada contendo 1ml de NaCI 0,9% Figura 4 – Fricção por gaze esterilizada contendo 1ml de Álcool 70% Página 50 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 5 – Fricção por gaze esterilizada contendo 1ml de PVP-I Figura 6 – Imersão em 40ml de Clorexidina a 2% Figura 7 – Imersão em 40ml de PVP-I Figura 8 – Imersão em 40ml de NaCI 0,9% Página 51 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 9 – Imersão em 40ml de Álcool a 70% As colônias de bactérias foram incontáveis em todas as placas com as diferentes substâncias e técnicas diferentes. Contudo, observou-se por método visual que a clorexidina a 2%, tanto por fricção quanto por imersão, tiveram melhores resultados quanto à ação desinfetante em relação as demais substâncias utilizadas (Figuras 1 e 6). A desinfecção consiste na destruição dos germes patogênicos ou na inativação de suas toxinas ou de seu desenvolvimento, podendo ser afetada por diferentes fatores: a) limpeza prévia do material; b) período de exposição ao germicida; c) concentração de solução germicida; d) temperatura e pH do processo de desinfecção, estando relacionado ao dentista por um meio para proteção contra a infecção cruzada (HOEFEL et al. 2003; CHUTTER, 2008). Segundo Fantinato et al. (1994), a prevenção da infecção cruzada é parte fundamental na conduta prática de um tratamento odontológico, sendo um dos procedimentos fundamentais para manter a biossegurança nos consultórios odontológicos a realização da desinfecção de superfícies. Guandalini, Melo e Santos (2000) afirmaram que a desinfecção deve ser realizada com substâncias químicas desinfetantes de nível médio ou intermediário, empregando em locais que se encontram microrganismos carregados pelos aerossóis ou pelas mãos da equipe odontológica, sendo elas: chão, armários, paredes, equipamento, mocho e também os anestésicos locais, que muitos dentistas ainda não levam em consideração. Os tubetes são formados pelo cilindro de vidro ou plástico, o êmbolo, a cápsula de alumínio e o diafragma de borracha, pelo qual líquidos podem ser difundidos contaminando a solução anestésica. Isso comumente acontece pela imersão de tubetes em soluções com álcool 70%, tendo como objetivo a desinfecção da superfície (MALAMED, 2013). Diante do estudo realizado, pode-se confirmar que o álcool a 70% em processo de imersão e fricção, assim como as outras substâncias utilizadas, não obtiveram resultados satisfatórios comparado a clorexidinha a 2%. A clorexidina é uma substância química que foi introduzida há muitos anos como anti-séptico de largo espectro contra bactérias Gram-positivas e negativas (DAVIES et al., 1954). É uma biguandina com propriedades catiônicas. Quimicamente é classificada como Digluconato de Clorexidina, é uma molécula estável, que quando ingerida é excretada pelas vias normais, sendo que a pequena porcentagem retida no organismo não é tóxica. Quando em baixas concentrações, provoca lixiviação de substâncias de pequeno peso molecular, como o potássio e o fósforo, exercendo efeito bacteriostático e bactericida em altas concentrações, tendo grande eficácia na desinfecção de tubetes anestésicos (SILVA; JORGE, 2002). Tanto no método de imersão como no de fricção com Clorexidina a 2%, houve níveis menores de colônias bacterianas. Mas, é recomendado, mediante esse estudo, que na rotina odontológica seja de melhor eficácia a fricção com Clorexidina, por ser um método mais rápido e com uma boa substância desinfectante (HORTENSE et al, 2010). Para completar a eficácia dos resultados, mostrando grande eficiência da Clorexidina, foi utilizado o meio de cultura Tryptone Soya Agar, que é usado para quantificação de bactérias não Página 52 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 fastidiosas, sem que seja necessária a sua identificação. Presta-se também para conservação de cepaspadrão para controle de qualidade de meios de cultura e procedimentos em bacteriologia, podendo observar um resultado melhor, juntamente com a solução de caldo BHI, que é um meio de utilização geral, adequado para a cultura de uma grande variedade de tipos de organismos, incluindo bactérias, leveduras e fungos filamentosos provenientes de amostras clínicas, sendo também de grande eficácia para o resultado final do experimento desse estudo (DIFCO; BBL Manual, 2003; MURRAY, P. R. et al., 2007; OPLUSTIL, 2000). Obsevou-se, mediante essa pesquisa, que a Clorexidina a 2%, nas duas técnicas aplicadas, é eficaz na desinfecção de tubetes anestésicos. Porém, levando em consideração os padrões de uma Clínica Odontológica, a técnica de melhor escolha é a de fricção com Clorexidina, por ser um técnica mais rápida, durante o atendimento e que satisfaz na eliminação de microrganismos patogênicos, minimizando a infecção cruzada, possibilitando aos profissionais da área e aos pacientes, uma melhor proteção nos procedimentos, se adequando as requisitos de biossegurança (BENTHEY; BURKEHART; CRAWFORD, 1994; CARRANZA; NEWMAN, 1997; GJERMO, 1978; TEIXEIRA; SANTOS, 1999; HORTENSE et al, 2010). 4 CONCLUSÃO Comprovou-se, através dessa pesquisa, a eficácia da Clorexidina a 2% por meio das técnicas de fricção e imersão na desinfecção de tubetes anestésicos. Em relação ao dia-a-dia no atendimento na Clínica Odontológica, o melhor a se fazer para um atendimento rápido e seguro, é com o uso da Clorexidina a 2% por meio da fricção. É importante que o cirurgião-dentista conheça as substâncias que estará usando para desinfecção e também, se adeque as normas de biossegurança propostas, para um melhor atendimento ao paciente, com procedimentos seguros e proteção contra infecção cruzada. REFERÊNCIAS AUTIO KL. Studies on cross-contamination in the dental clinic. J Am Dent Assoc., v.100, n. 3, p. 358-361, 1980. BARTFIELD, J. M. et al. Buffered lidocaine as a local anesthetic: investigation of shelf life. Ann Emerg Med., v. 21, n.1, p. 16-19, 1992. BENTHEY, C. D.; BURKEHART, N. W.; CRAWFORD, J. J. Evaluating spatter and aerosol contamination during dental procedures. J Am Assoc., v.125, n.5, p.579-84, may,1994. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 set. 1990. 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O objetivo desta pesquisa foi levantar a prevalência de queilite actínica numa população de 131 operários de uma construção civil em Teresina-PI, selecionados através de sorteio, sendo 45 de ambos os gêneros, acima dos 18 anos e sem restrição quanto a cor de pele. Previamente ao sorteio, foi proferida palestra educativa, através de álbum seriado seguida da distribuição de panfleto ilustrativo visando conscientizá-los sobre a necessidade da proteção labial. Todos os participantes da amostra submeteram-se ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e aqueles que aceitaram, foram entrevistados e examinados em seu local de trabalho. As alterações labiais diagnosticadas no exame clinico foram registradas em ficha clinica própria. Os dados foram organizados em forma de tabelas e gráficos em planilhas Microsoft Excel 2013. As variáveis foram tratadas e organizadas no programa SPSS Statistcs e transformadas em números e percentagens. Pode-se concluir que 62,22% dos operários da construção civil foram acometidos por queilite actínica (QA), enquanto que 37,78% não exibiam esta patologia; 50,0% dos participantes, independente do gênero, que apresentavam a patologia, exibiam QA em grau leve, como também 50,0% apresentavam o grau severo; 63,6% dos homens e 75,0% das mulheres da amostra sofreram exposição ao sol por tempo acumulado num período inferior a 10 anos; 26,9%, independente do gênero, expuseram-se às radiações solares por um período de 10 a 20 anos; 71,11%, independente do gênero, não faziam uso de proteção labial o que contribuiu para o aparecimento de alterações teciduais no lábio inferior. É dever do Cirurgião Dentista prevenir, diagnosticar, tratar e proservar a queilite actínica, pois a mesma acontece no âmbito de trabalho deste profissional. Palavras chave: Queilite Actínica. Lábio inferior. Lesão cancerizável. __________________________ 1 Aluna do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID) Email: [email protected] 2 Professora do Curo de Odontologia da DeVryFACID, Mestre em Odontologia. Email: [email protected] Página 56 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 ABSCTRACT There are several changes caused by continued and unprotected lip exposure to ultraviolet radiation, particularly actinic cheilitis. The effects are manifested mainly in the lower lip and appear as dryness, flaking, cracking, swelling, lip hardening, loss of the boundary between skin and semimucosa, between it and labial mucosa, ulceration, eritroplasic areas, leukoplakic areas and crusting, and may worsen. The objective of this research was to identify the prevalence of actinic cheilitis in a population of 131 workers of a construction site in Teresina-PI, selected by lottery, 45 of both genders, over 18 and without restriction as to skin color. Prior to the draw, educational lecture was given by a serial album followed by illustrative flyer distribution aimed at making them aware about the need of lip protection. All participants for the sample submitted to the FCTC and those who accepted were interviewed and examined in their workplace. The lip changes diagnosed in clinical examination were recorded on clinical record. The data were organized in tables and graphs in Microsoft Excel 2013 spreadsheets. The variables were treated and organized in the SPSS Statistcs progam and transformed into numbers and percentages. It can be concluded that 62,22% of construction workers were afflicted with actinic cheilitis, while 37,78% did not exhibit this disease; 50,0% of respondents, regardless of gender, who had the disease, showed A.Q in mild degree, as well as 50,0% had severe degree; 63,6% of men and 75,0% of the women sample were exposed to the sun for a cumulative time of less than 10 years; 26,9%, regardless of gender, were exposed to sunlight for a period of 10 to 20 years; 71,11%, regardless of gender, did not used lip protection, which contributed to the appearance of tissue changes in the lower lip. It is the duty of the DS to prevent, diagnose, treat and observe the actinic cheilitis, because it happens in the scope of work of this professional and should be considered, also, that this condition displays high malignant potential. Key words: Actinic cheilitis. Bottom lip. Malignantly injury. INTRODUÇÃO A queilite actínica é considerada lesão pré-maligna ou uma forma incipiente e superficial do carcinoma de células escamosas do lábio inferior. É comumente encontrada em indivíduos cujas atividades profissionais estão relacionadas à exposição solar crônica (PIÑERA-MARQUES et al., 2010). Arnauld et al.(2014) apontaram duas formas da queilite actínica: aguda e crônica. A forma aguda caracteriza-se por edema e eritema discretos, fissuras e úlceras ocorrendo, geralmente, frente à exposição excessiva ao sol, em curto espaço de tempo, com possível resolução dessas alterações. Já a forma crônica ocorre quando o individuo se expõe prolongada e cumulativamente aos raios ultravioleta com manifestações epiteliais mais severas e irreversíveis. Comumente, o lábio inferior apresenta-se ressecado, fissurado, com aumento de volume discreto e difuso, perda do limite entre a semi-mucosa labial e pele, bem como pápulas e/ou manchas leucoplásicas. A queilite actínica (QA) tem como diagnóstico, o reconhecimento clínico. Contudo, os estudos histopatológicos e a biópsia são necessários nos casos que forem detectadas áreas erosivas persistentes ou inflamatórias. O indivíduo não apresenta sintomas, porém em alguns casos, pode ocorrer a presença de descamação intensa do lábio inferior, assim como dor, prurido e queimação. Segundo Vieira et al.(2012) as alterações vão depender do tipo, da dose, do tempo e da taxa de exposição solar, bem como da sensibilidade da área afetada.A radiação solar é o mais importante fator de risco para o desenvolvimento de lesões no lábio, contudo não é o único, pois alguns fatores estão associados, exercendo assim um papel essencial na evolução da queilite actínica para o quadro de carcinoma epidermóide. Página 57 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 No momento atual questiona-se a prevalência de queilite actínica em operários da construção civil, justificando-se a realização desta pesquisa, pois, de acordo com Segundo et al. (2004), 31% dos casos de Q.A sofrem transformação maligna. Este estudo objetivou verificar a prevalência da queilite actínica em operários da construção civil em Teresina-PI, bem como realizar exames clínicos; identificar as alterações teciduais que, num segundo momento, poderão sofrer malignização; estabelecer métodos terapêuticos; proferir palestra educativa, distribuir panfleto ilustrativo e orientar a realização do autoexame da boca visando a prevenção e/ou diagnóstico precoce de alterações presentes especificamente na semi-mucosa labial inferior. Os objetivos elencados nasceram da hipótese de que os operários da construção civil ficam expostos ao sol por período de tempo prolongado, tendo maior possibilidade de apresentar queilite actínica. É dever do Cirurgião Dentista (CD) prevenir, diagnosticar, tratar e proservar esta patologia, pois a mesma acontece na esfera de trabalho deste profissional. 2 METODOLOGIA O projeto de pesquisa que originou este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), sob o protocolo n° 51535315.7.0000.5211. Inicialmente foi proferida palestra educativa intitulada “Prevalência de queilite actínica em operários da construção civil em Teresina-PI”, através de álbum seriado ilustrativo, para todos os operários da construção civil contratados pela Construtora Mota Machado, a obra selecionada para o estudo. Todos os ouvintes da palestra receberam um panfleto, também de caráter educativo, sobre o tema abordado. Foram sorteados 45 operários da Construtora, dentre os 131 cadastrados junto ao Engenheiro Civil responsável pela. Os operários eram de ambos os gêneros, acima dos 18 anos, de todas as cores de pele, independente do grau de escolaridade e do estado civil. Posteriormente, os operários foram esclarecidos quanto a sua participação neste estudo e receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a ser preenchido. Após a devolução do Termo, devidamente preenchido e autorizado, foram realizados os procedimentos inerentes ao exame clinico ou exame do paciente, constituído por anamnese, exame físico e exames complementares, cujos dados obtidos foram registrados em uma ficha clínica. Uma vez realizado minunciosamente o exame do paciente, com ênfase no lábio inferior, e estabelecidos os diagnósticos, foram distribuídos batons de manteiga de cacau, bem como camisetas com estampa referente ao projeto. Os exames clínicos com ênfase no lábio inferior foram realizados em ambiente confortável cuja iluminação foi complementada com o auxilio de lanterna manual. A pesquisadora seguiu as normas de biossegurança preconizadas como a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) constituídos de avental, gorro, luvas e máscara. A palestra educativa, a distribuição do panfleto ilustrativo e os exames clínicos foram realizados na sede do edifício em construção “Reserva do Horto” situado na Avenida Coronel Costa Araújo, 2184, Horto Florestal, Teresina-PI. Os dados foram organizados em forma de tabelas e gráficos em planilhas Microsoft Excel 2013. As variáveis foram tratadas e organizadas no programa SPSS Statistcs e transformadas em números e percentagens. Os resultados obtidos foram analisados e discutidos com outros estudos similares. Página 58 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta a distribuição percentual da amostra de acordo com o gênero. Figura 1 - Distribuição percentual da amostra de acordo com o gênero Fonte: dados da pesquisa (2016). Ao analisar a Figura 1 verificou-se que a amostra foi constituída em sua maioria por homens, ou seja, 80%, sendo o restante por mulheres, 20%. Isso deve-se ao fato de que a construção civil concentra mais operários do gênero masculino, embora tenha uma participação cada vez mais crescente de mulheres nesse mercado de trabalho. Dorigon et al. (2006) estudaram a prevalência de alterações labiais em uma amostra constituída exclusivamente por homens da ilha de Santa Catarina que desenvolviam atividade pesqueira. Freitas (2007), ao avaliar a prevalência de queilite actínica em horticultores de TeresinaPI, encontrou 65,7% de casos no gênero feminino e 34,3% no masculino, visto que muitas donas de casa, para complementar a renda família, desenvolviam essa ocupação. A Tabela 1 exibe a distribuição em número absoluto e percentual da amostragem por gênero segundo a faixa etária, estado civil e cor da pele. Tabela 1 – Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo a faixa etária, estado civil e cor da pele Faixa Etária Estado Civil Cor da Pele 18 a 30 anos 31 a 50 anos acima de 50 anos Casado Solteiro Separado Viúvo Branco Parda Preta Masculino N % 11 30,6 20 55,6 Gênero Feminino N % 5 55,6 3 33,3 Total N % 16 23 35,6 51,1 5 13,9 1 11,1 6 13,3 18 17 1 4 29 3 50,0 47,2 2,8 11,1 80,6 8,3 2 7 1 7 1 22,2 77,8 11,1 77,8 11,1 20 24 1 5 36 4 44,4 53,3 2,2 11,1 80,0 8,9 Página 59 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Total 36 100,0 9 100,0 45 100,0 Fonte: dados da pesquisa (2016). Pode-se observar que a maioria dos participantes deste trabalho em relação à faixa etária, apresentava em maior quantidade, considerando o gênero masculino, um total de 55,6% entre 31 a 50 anos e o feminino com um total de 55,6% entre 18 a 30 anos. No entanto, foi observado que somente seis dos participantes de ambos os gêneros encontravam-se acima dos 50 anos, totalizando 13,3%. Freitas (2007) observou que a maioria dos participantes de seu estudo, 52,2%, foi constituída por mulheres de 51 a 60 anos e 50% por homens mais velhos com faixa etária compreendia entre 61 a 70 anos. Dorigon et al. (2006) constataram que a média de idade dos participantes da amostra foi de 47,73 anos, tendo o pescador mais jovem 16 e o mais velho 86 anos. Martins et al. (2007) afirmaram que a QA afeta, principalmente, homens variando entre 40 a 80 anos. A forma aguda acomete jovens que ficam expostos ao sol durante o verão e a crônica atinge, principalmente, homens acima de 40 anos de idade, que no decorrer da vida permanecem expostos aos raios UV por longo período de tempo. Já em relação ao estado civil, constatou-se que 50% dos homens eram casados e 77,8% das mulheres eram solteiras. Freitas (2007) constatou que 78,3% de mulheres e 75,0% de homens eram casados. O aparecimento da queilite actínica não tem conotação com o estado civil do indivíduo. Considerando a cor da pele dos participantes, verificou-se que a maioria dos operários era parda, sendo 80,6% do gênero masculino e 77,8% do feminino. Foi constatado, também, que cinco dos indivíduos de ambos os gêneros, tinham a cor branca de pele, totalizando 11,1% e que quatro dos trabalhadores eram da cor preta de pele, ou seja, 8,9%. A maioria dos autores concorda que a QA ocorre mais em pessoas de pele clara, devido a menor quantidade de melanina na pele das pessoas de cor branca ficando menos protegida da exposição aos raios ultravioleta A e B, de menor comprimento de onda e grande poder de penetração (NEVILLE et al., 2009; MARTINS et al., 2007; PIRES et al., 2001). A Tabela 2 ilustra a distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo a profissão exercida anteriormente. Tabela 2 - Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo a profissão exercida anteriormente Profissão Anterior Pedreiro Ajudante Camelô Agricult or Outros Total Masculino Nº % 7 19,4 10 27,8 2 5,6 5 13,9 12 36 33,3 100,0 Gênero Feminino Nº % 2 22,2 7 9 77,8 100,0 Total Nº 7 12 2 % 15,6 26,7 4,4 5 11,1 19 45 42,2 100,0 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 60 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Na Tabela 2 observou-se que 19 dos participantes tinham outras profissões que não os expunham demasiadamente as radiações actínicas, sendo 33,3% homens e 77,8% mulheres. Notouse que 12 dos operários, tinham como profissão anterior a de ajudante, sendo 27,8% do sexo masculino e 22,2% do feminino. Foi observado, ainda, que 19,4% eram pedreiros, 5,6% camelôs e 13,9% agricultores, sendo todos do gênero masculino. Em relação à profissão exercida anteriormente pelos horticultores de sua amostra, Freitas (2007) constatou que a maioria era constituída por lavradores, onde 73,9% e 58,4% correspondiam, respectivamente ao gênero feminino e masculino. Somente 8,3% dos homens haviam trabalhado como operários da construção civil e jardineiros. Quanto às demais profissões exercidas anteriormente, 26,1% das mulheres foram lavadeiras e 25,0% dos homens motoristas ou vigias. Os resultados expostos concordam com Neville et al. (2009), Soares (2003), Martins et al. (2007), Pires et al. (2001), Costa et al. (2000), Torres (2002); Nicolau e Balus (1964), Pindborg (1981), Awde, Kogon e Morin (1996), ao afirmarem que a QA ocorre, principalmente, em pessoas que se expõem continuamente aos raios solares, como marinheiros, agricultores, pescadores e operários da construção civil. A Tabela 3 evidencia a distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo a profissão atual. Tabela 3 - Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo a profissão atual Gênero Pedreiro Profissão Atual Masculino Nº % 17 47,2 Feminino Nº % - Total Nº % - 17 37,8 77,8 15 33,3 Ajudante 8 22,2 Camelô Agricult or Outros - - - - - - - - - - - - 11 30,6 2 22,2 13 28,9 Total 36 100,0 9 100,0 45 100,0 7 Fonte: dados da pesquisa (2016). A Tabela 3 mostra em maior número que o gênero masculino atua predominantemente nas construções civis, sendo 47,2% como pedreiros. Já em relação aos ajudantes, os homens decaem para 22,2% e as mulheres predominam com 77,8%. Mais uma vez os resultados deste trabalho estão em sintonia com Neville et al. (2009), Soares (2003), Martins et al. (2007), Pires et al. (2001), Costa et al. (2000), Torres (2002), Nicolau e Balus (1964), Pindborg (1981), Awde, Kogon e Morin (1996), quando afirmam que a QA ocorre, predominantemente, em pessoas que se expõem frequentemente às radiações actínicas. A Tabela 4 exibe a distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o tempo de exposição às radiações ultravioleta acumulado em anos. Página 61 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 4 - Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o tempo de exposição às radiações ultravioleta acumulado em anos Gênero Masculino N % Tempo de exposição categorizada Feminino N % Total N % Menos de 10 anos 14 63,6 3 75,0 17 65,4 10 a 20 anos 6 27,3 1 25,0 7 26,9 21 a 30 anos 1 4,5 1 3,8 1 4,5 1 3,8 Acima de 30 anos Total 22 100,0 - - - 4 100,0 26 100,0 Fonte: dados da pesquisa (2016). Em relação à tabela 4 foram estabelecidas quatro faixas, ou seja, menos de 10 anos; 10 a 20 anos; 21 a 30 anos e acima de 30 anos. Constatou-se que 63,6% dos homens e 75,0% das mulheres da amostra sofreram exposição ao sol por tempo acumulado num período inferior a 10 anos. Sete participantes desta pesquisa, independente do gênero, ou seja, 26,9% expuseram-se às radiações solares por um período de 10 a 20 anos. Apenas um homem relatou ter se exposto a esse fator de risco por um período de 21 a 30 anos bem com ouve relato de um outro operário ter sofrido exposição solar por tempo superior a 30 anos. Freitas (2007) estabeleceu cinco faixas, ou seja, 10 – 20; 21 – 30; 31 – 40; 41 – 50 e acima de 50, em relação aos anos de exposição às radiações ultravioleta por conta das atividades profissionais desenvolvidas pelos horticultores de sua amostra. Constatou que 50% dos homens sofrerão exposição solar por tempo superior a 50 anos, enquanto que 39,2% das mulheres labutaram há 41 anos no mínimo e 50 anos no máximo, expostas aos raios ultravioletas. Por outro lado, Dorigon et al. (2006) constataram que os pescadores de sua amostra distribuíram-se uniformemente nas quatro faixas por ele adotadas, ou seja, 01 – 15; 15 – 30; 30 – 45; 45 – 65, segundo o tempo de exposição à radiação UV acumulado em anos. Manganaro, Will e Poulos (1997), Pires et al. (2001), Neville et al. (2009); Cerri A., Soares e Cerri R (2006), Costa et al. (2000) e Torres (2002) são unânimes em afirmar que a exposição cumulativa à radiação solar, resulta em quelite actínica. A Figura 2 dois ilustra a distribuição percentual da amostra em relação à proteção labial. Página 62 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 2 - Distribuição percentual da amostra em relação à proteção labial Fonte: dados da pesquisa (2016). A Figura 2, que ilustra a distribuição percentual da amostra em relação à proteção labial, mostra que a maioria dos operários, 71,11%, independente do gênero, não faz uso de proteção labial o que contribui para o aparecimento de alterações teciduais no lábio inferior. A Construtora onde os operários estavam contratados no momento desta pesquisa, tem a preocupação em ofertar protetor solar para a pele entre os seus contratados. Porém, por desconhecimento da QA a mencionada empresa não oferta batom com fator de proteção solar ou mesmo de manteiga de cacau. O uso de chapéu de aba larga não é permitido, visto que são utilizados capacetes como um dos Equipamentos de Proteção Individual. Dorigon et al. (2006) concluíram que 55,8% dos pescadores componentes da amostra faziam uso de boné, chapéu ou protetor labial e, 44,1% não utilizavam nenhuma forma de proteção labial Freitas (2007) constatou que 91,7% dos homens e 78,3% das mulheres não tinham cuidado contra os raios solares, por desconhecerem os fatores de proteção para a queilite actínica. Apenas 21,7% do gênero feminino e 8,3% do masculino faziam uso do protetor labial e nem um dos horticultores da amostra utilizavam chapéu como fator de proteção contra as radiações actínicas. Pacca (1999), Pires et al. (2001), Birman, Marcucci e Weinfeld (2005), Neville et al. (2009) são unânimes em recomendar o uso dos meios de proteção labial contra os raios solares através dos fatores discutidos anteriormente. A Tabela 5 e as Figuras 3 e 4 expõem, respectivamente, a distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o tabagismo, o percentual da amostra em relação ao tabagismo, bem como o percentual em relação ao hábito do tabagismo no passado. Tabela 5 - Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o tabagismo Gênero Masculino Feminino N N % % Total N % Sim 10 27,8 2 22,2 12 26,7 Não Já fumou Sim 26 13 72,2 50,0 7 1 77,8 14,3 33 14 73,3 42,4 Fumantes Página 63 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Não 13 50,0 6 85,7 19 57,6 Total 26 100,0 7 100,0 33 100,0 Fonte: dados da pesquisa (2016). Figura 3 - Distribuição percentual da amostra em relação ao tabagismo Fonte: dados da pesquisa (2016). Figura 4 - Distribuição percentual da amostra em relação ao hábito do tabagismo no passado Fonte: dados da pesquisa (2016). Considerando o tabagismo, verificou-se que apenas 10 dos homens faziam uso frequente do cigarro industrializado no momento da coleta de dados e duas das mulheres também utilizavam frequentemente a mesma forma de fumo, totalizando 26,7%. Em relação ao hábito do tabagismo no passado, constatou-se que 14 dos componentes da amostra eram ex-fumantes sendo 13 homens e uma mulher totalizando 42,4%. Página 64 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Ainda considerando o tabagismo, Freitas (2007) verificou que somente 16,7% dos horticultores faziam uso frequente do cigarro tanto industrializado como do confeccionado artesanalmente. Já, 21,7% das horticultoras utilizavam somente o cigarro industrializado. Observou ainda que 58,3% dos homens e 43,5% das mulheres de sua amostra já haviam deixado este hábito nocivo. Dorigon et al. (2006) concluíram que 33,3% dos pescadores fumavam frequentemente; a mesma percentagem era de ex-úsuarios e de não usuários. Segundo Arnoud et al. (2014) a malignização da QA tendem a se agravar caso estejam associados aos fatores carcinogênicos, álcool e fumo. A Tabela 6 e as Figuras 5 e 6 demonstram, respectivamente, a distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o etilismo, o percentual da amostra em relação ao etilismo, bem como de acordo com a ingestão de bebida alcoólica no passado. Tabela 6 - Distribuição em número absoluto e percentual da amostra por gênero segundo o etilismo Gênero Etilismo Já bebeu Masculino Feminino N N Sim Não 27 9 % 75,0 25,0 5 4 % 55,6 44,4 Sim 6 16,7 2 Não 3 8,3 Total 36 100,0 Total N 32 13 % 71,1 28,9 22,2 8 17,8 2 22,2 5 11,1 9 100,0 45 100,0 Fonte: dados da pesquisa (2016). Figura 5 – Distribuição percentual da amostra segundo o etilismo Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 65 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 6 – Distribuição percentual da amostra segundo a ingestão de bebida alcoólica no passado Fonte: dados da pesquisa (2016). Ainda sobre os hábitos nocivos, foi observado que 32 dos participantes, independente do gênero, faziam uso frequente de bebida alcoólica, chegando ao total de 71,1%. Em relação ao hábito de consumir bebida alcoólica no passado, constatou-se que seis dos operários masculinos já haviam bebido anteriormente, bem como dois do gênero feminino, totalizando assim 17,8%. Na amostra de Freitas (2007), em relação ao etilismo, foi constatado que somente 41,7% dos horticultores tinham o hábito de consumir frequentemente bebidas alcoólicas como cachaça e cerveja e que 8,7% das horticultoras relataram, que consumiam esporadicamente as mesmas bebidas. Já em relação aos estudos de Dorigon et al. (2006), os mesmos encontraram em sua amostra 14,4% para uso frequente, 47,7% relacionado ao uso esporádico, 16,2% aos ex-usuários e 21,6% voltado para não usuários de bebidas alcoólicas, respectivamente. Cerri A, Soares e Cerri R (2006), bem como Arnaud (2014), ressaltaram que a possível evolução da QA está relacionada ao uso frequente de bebidas alcoólicas. A Figura 7 ilustra a distribuição percentual da amostra segundo a prevalência de queilite actína. Figura 7 – Distribuição percentual da amostra segundo a prevalência de queilite actínica Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 66 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 A Figura 7 mostra que 62,22% dos operários, independente do gênero, são acometidos pela QA e que somente 37,78% não apresentam tal patologia. Acredita-se que a elevada percentagem de queilite actínica se deve ao fato do desconhecimento dos participantes, em relação ao risco que a radiação UV pode causar no lábio inferior, tanto que o gráfico dois, anteriormente discutido, evidenciou que 71,11% não faziam uso de protetor labial o que resulta, a longo prazo em quadro clínico desta patologia. Os resultados desta pesquisa são quase coincidentes com os obtidos por Freitas (2007) o qual encontrou 65,7% do horticultores acometidos por QA, justificando que essa elevada percentagem devia-se ao desconhecimento, por parte de sua amostra, de que as radiações actínicas constituem o fator de risco principal para a referida alteração. Já Dorigon et al. (2006) constataram que 43,2% dos pescadores exibiam QA em diversos graus de severidade. A diferença de aproximadamente 20% entre os resultados obtidos nesta pesquisa, 62,22% por Freitas (2007), 65,7% e Dorigon et al. (2006), 43,2% confirmaram que a queilite actínica está relacionada ao clima continental caracterizado por verão de longa duração, com média de temperatura acima dos 30ºC e maior exposição a luz solar (NICOLAU; BALUS, 1964; PINDBORG, 1981; AWDE; KOGON; MORIN,1996). As informações anteriormente expostas ocorreram no nordeste brasileiro onde foram desenvolvidas as pesquisas com operários da construção civil e horticultores, cuja temperatura pode, às vezes, superar os 40ºC. Já no sul do pais onde, ocorreu o trabalho com pescadores as estações do ano são mais definidas e o verão não apresenta temperaturas tão elevadas. A Figura 8 evidencia a distribuição percentual da amostra segundo a prevalência de queilite actínica e gênero. Figura 8 – Distribuição percentual da amostra segundo a prevalência de queilite actínica e gênero Fonte: dados da pesquisa (2016). Analisando a Figura 8 observou-se que 66,67% das mulheres e 61,11% dos homens desta pesquisa apresentavam algum grau de QA. O que chamou a atenção foi que mais participantes do gênero feminino exibiam a patologia, embora uma diferença não significativa de 5,56%, o que pode ser explicado, pois devido às atividades laborais não permitirem reaplicação frequente do protetor labial. Página 67 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Freitas (2007) encontrou 11,4% de casos de QA em mulheres a mais do que em homens e justificou, à época, que a maioria das horticultoras não disponibilizava de recursos financeiros para aquisição dos fatores de proteção solar como prevenção da patologia. Dorigon et al. (2006) trabalharam exclusivamente com pescadores o que não permite comparação de resultados entre os gêneros masculino e feminino. A queilite actínica não tem conotação com o gênero da pessoa, mas sim com sua profissão exercida sob as radiações acínicas e sem a devida proteção. A Figura 9 expõe a distribuição percentual da amostra de acordo com os graus de severidade da queilite actínica. Figura 9 – Distribuição percentual da amostra de acordo com os graus de severidade da queilite actínica Leve Severo Fonte: dados da pesquisa (2016). Tendo como base os trabalhos desenvolvidos por Dorigon et al. (2006) e Freitas (2007), nesta pesquisa os graus de severidade da QA foram classificados em leve, moderado e severo. O grau leve ou inicial refere-se à presença de ressecamento e/ou descamação na seminucosa labial inferior. O moderado exibe um quadro de ressecamento e/ou descamação mais severos acompanhados de fissuras labiais. O severo mostra edema, endurecimento do lábio, perda do limite entre pele e semimucosa, entre esta e mucosa labial, ulcerações, úlceras, áreas eritroplásicas ou vermelhas, leucoplásicas ou brancas e crostas. Soares (2003) não classifica os diversos aspectos clínicos da QA de acordo com o grau de severidade, descrevendo o lábio como disforme, ressecado, friável e esbranquiçado, descamado, com perda da linha úmida do lábio, com contorno alterado e com sobreposição de erosões, úlceras, sulcos, fissuras e vermelhidões. A medida que a lesão vai evoluindo o lábio vai perdendo a elasticidade, aumentando de volume com, o surgimento de placas brancas acompanhado de erosão ou úlceras com facilidade de sangramento. Os resultados encontrados nesta pesquisa apontam que 50,0% dos operários da Construtora, independente do gênero que apresentavam a patologia, exibiam QA em grau leve, ou seja, com presença de ressecamento e/ou descamação da semimucosa inferior, como também 50,0% apresentavam o grau severo. Dentro desta classificação foi encontrado apenas o apagamento do limite entre pele e semimucosa. Ainda em relação ao grau desta patologia não foi evidenciado nenhum quadro de queilite actínica no estado moderado. Freitas (2007) diagnosticou os três graus de severidade da queilite actínica sendo 28,6%, 14,3% e 57,10% para os homens nos graus leve moderado e severo respectivamente. Em relação às mulheres, 13,30% no grau leve, 46,7% no quadro moderado e 40,0% na forma severa. Foi proferida palestra educativa seguida de distribuição de panfleto ilustrativo sobre QA para o universo de operários da construção civil cadastrado pela construtora em questão. Página 68 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Todos os componentes da amostra foram agraciados com um batom de manteiga de cacau com fotoprotetor. O mencionado batom serviu como método terapêutica ao portados de queilite actínica nos graus leve ou inicial. Já para os operários com QA no grau severo foram reforçadas as orientações quanto a adoção dos fatores de proteção, bem como afastamento do fator de risco principal, ou seja, as radiações actínicas. 4 CONCLUSÃO Após análise e discussão dos resultados obtidos acerca da prevalência de queilite actínica em operários de uma Construtora em Teresina-PI, conclui-se que: 62,22% dos operários da construção civil foram acometidos por queilite actínica, enquanto que 37,78% não exibiam esta patologia; 50,0% dos participantes, independente do gênero, que apresentavam a patologia, exibiam QA em grau leve, como também 50% apresentavam o grau severo; 63,6% dos homens e 75,0% das mulheres da amostra sofreram exposição ao sol por tempo acumulado num período inferior a 10 anos; 26,9%, independente do gênero, expuseram-se às radiações solares por um período de 10 a 20 anos; 71,11%, independente do gênero, não faziam uso de proteção labial o que contribuiu para o aparecimento de alterações teciduais no lábio inferior. É dever do Cirurgião Dentista prevenir, diagnosticar, tratar e proservar a queilite actínica, pois a mesma acontece no âmbito de trabalho deste profissional. REFERÊNCIAS ABREU, M. A. M. M. de, et al. Queilite actínica adjacente ao carcinoma espinocelular do lábio como indicador de prognóstico. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 72, n. 6, p. 167-71, nov. 2006. AWDE, J. D.; KONGO, S. L.; MORIN, R. J. Lip câncer: a rewiew. J Can Dent Assoc, v.62, n.8, p.634-636, aug. 1996. ARNAUD, R. R. et al. Queilite actínica: avaliação histopatológica de 44 casos. Revista Odontol UNESP, v. 43, n.6, p. 384-389, nov. 2014. BRIMAN, E. G.; MARCUCCI, G.; WEINFELD, I. Alterações de cor da mucosa bucal e dos dentes. In: MARCUCCI, G. Estomatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 92-3. CERRI, A.; SOARES, H. A.; CERRI, R. A. Condutas atuais no diagnóstico e tratamento das lesões cancerizáveis da mucosa bucal. In: DIB, L. L.; SADDY, M. S. Atualização clínica em odontologia. 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Página 70 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 AVALIAÇÃO DOS EFEITOS HISTOMORFOMÉTRICOS DE FOLÍCULOS PRÉANTRAIS DE OVÁRIOS DE RATAS EXPOSTAS À FUMAÇA DE CIGARRO HISTOMORPHOMETRIC ANALYSIS OF OVARY PREANTRAL FOLLICLES OF RATS EXPOSED TO CIGARETTE SMOKE Jadson Lener Oliveira dos Santos1 , Karinne Sousa de Araújo2 RESUMO O tabagismo tem se tornado uma das grandes causas de doenças no mundo. Diante do exposto surgiu o problema: a exposição à fumaça de cigarro promove alterações histomorfométricas nos folículos pré-antrais de ovários de ratas? O objetivo deste estudo foi analisar a histomorfometria dos folículos pré-antrais de ovários de ratas expostas ou não à fumaça de cigarro por meio da verificação da área celular destes folículos. O projeto da pesquisa foi aprovada pelo CEUA/FACID sob protocolo 058/14. Foram selecionados 14 animais da espécie Rattus norvegicus, fêmeas, com 60 dias de idade e peso médio de 300g, divididos em dois grupo: experimental e controle, contendo sete animais cada. Os animais do grupo experimental foram expostos à fumaça produzida pela combustão de quatro cigarros por 30 minutos, duas vezes ao dia, seis dias semanais durante 60 dias. Os animais do grupo controle não foram expostos. Após o período de 60 dias, os animais de ambos os grupos foram eutanasiados e as amostras dos ovários foram dissecadas e encaminhadas para processamento laboratorial de rotina para posterior análise por microsopia de luz. A área dos folículos pré-antrais foram calculadas com o auxílio do software ImageJ. Em seguida, foram calculadas as médias das áreas e desvios-padrão de cada subgrupo de animais, para posterior comparação histomorfométrica intergrupos. Os resultados foram submetidos à análise estatística, utilizando-se teste T de Student, com nível de significância estabelecido em 5% (p<0,05). A análise estatística dos dados demonstrou que a média da área celular dos túbulos seminíferos do grupo não exposto foi significativamente maior do que a área celular dos túbulos seminíferos do grupo exposto (p<0,05). Pode-se concluir que a exposição de ratos à fumaça de cigarro desencadeou alterações histomorfométricas nos ovários, por promover redução da área celular dos folículos pré-antrais. Palavras chave: Ovários. Folículos pré-antrais. Fumaça de cigarro. ABSCTRACT Tabagism has become one of the great causes of diseases in the world. Against this, a problem arises: does the exposition to cigarette smoke promote histomorphometric alterations in rats’ preantral ovarian follicles? The objective of this work was to analyze the histomorphometric of preantral ovarian follicles of female rats, exposed or not, by checking the cellular area of these follicles. The research was approved by CEUA/FACID under the protocol 058/14. 14 female Rattus norvegicus were selected, with 60 days old and average weight of 300g, divided in two groups: experimental and ____________________ 1Aluno do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), Teresina, Piauí, [email protected] 2Cirurgiã-Dentista. Mestre. Professora da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), Teresina, Piauí, [email protected] E-mail: E-mail: Página 71 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 control, containing seven animals each. The animals of the experimental group were exposed to the smoke produced by the combustion of 4 cigarettes, for 30 minutes, twice a day, six days a week during 60 days. The animals of the control group weren’t exposed. After a period of 60 days, the animals from both groups were euthanized and the ovaries’ samples were dissected and forwarded to routine laboratory processing in order to further analysis by light microscopy. The area of preantral follicles was calculated with the help of the software ImageJ. Then, the average of the areas and the standard deviations of each animal subgroup were calculated, to further histomorphometric comparison between groups. RESULTS: The results were submitted to statistical analysis. Test T of Student was used, and the established level of significance was 5% (p<0,05). The data analysis showed that, the average of the preantral follicles cellular areas of the non-exposed group was significantly bigger than the preantral follicles cellular areas of the exposed group (p<0,05). It can be concluded that the exposition of rats to cigarette smoke unleashed histomorphometric alterations in the ovaries, reducing the preantral follicles cellular area. Key words: Ovary. Preantral follicles. Cigarette smoke. INTRODUÇÃO O tabagismo tem se tornado uma das grandes causas de doenças no mundo, fator preocupante na estratégia de saúde. Estudos já demonstraram associação do tabaco com doenças cardiovasculares, pulmonares e cancerígenas, e sugerem doenças testiculares que podem promover infertilidade (CORRAL et al., 2010). Justifica-se, portanto, a presente pesquisa, devido a importância crescente de quadros patológicos ocasionados pelo tabaco, buscando atingir um maior número de pesquisas sobre o tema e maior ação de logística de saúde para evitar as complicações. Na queima de um cigarro há produção de 4.720 substâncias, das quais 60 apresentam atividade cancerígena, e outras são reconhecidamente tóxicas. Além da nicotina, monóxido de carbono e hidrocarbonetos aromáticos, citam-se amidas, imidas, ácidos carboxílicos, lactonas, ésteres, aldeídos, cetonas, álcoois, fenóis, aminas, nitritos, carboidratos, anidritos, metais pesados e substâncias radioativas com origem nos fertilizantes fosfatados (ROSEMBERG, 2004). A nicotina é uma droga de alta toxicidade e que tem como consequências diretas: hipertensão; aterosclerose; espaçamentos da parede das artérias e sua obliteração, provocando, conforme as regiões, gangrena das extremidades (doença de Reynaud), impotência, doenças coronárias, angina do peito, infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (NUNES; CASTRO; CASTRO, 2011). A inalação da fumaça resultante da queima de derivados de todo tipo de tabaco, por nãofumante, constitui o chamado tabagismo passivo, exposição involuntária ao tabaco ou à poluição tabágica ambiental (PTA). O tabagismo passivo é considerado a terceira causa de morte evitável no mundo, após o tabagismo ativo e o alcoolismo. Estima-se que metade das crianças do mundo encontram-se expostas à PTA; dessas, 9 a 12 milhões com menos de cinco anos de idade são atingidas em seus ambientes domiciliares (SBPT, 2010). O tabagismo, por meio das reações celulares decorrentes das elevadas concentrações de nicotina no tecidos celulares, pode antecipar em até oito meses a menopausa em mulheres (fumantes ativas), dependendo do número de cigarros fumados por dia (ALDRIGHI et al., 2005). Outro estudo mais recente mostrou, por meio de uma meta-análise, que o tabagismo é um fator com alta interferência na antecipação da menopausa natural, aumentando o risco disso acontecer em até 26% dos casos (SUN et al., 2012). Considerando-se os pontos acima expostos, levantou-se o seguinte questionamento: a fumaça de cigarro promove alterações morfométricas em ovários de ratas expostas a ela? O objetivo geral dessa pesquisa foi verificar a histomorfometria dos folículos pré-antrais de ovários de ratas expostas à fumaça de cigarro e as alterações provocadas. Página 72 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 2 METODOLOGIA Após aprovação do estudo pela Comissão de Ética no Uso em Animais (CEUA) da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), sob protocolo 058/14, realizou-se o estudo no Laboratório Multidisciplinar dessa Faculdade, respeitando os princípios éticos estabelecidos pela Lei n. 11.794/2008, conhecida como Lei Arouca. Todo o experimento obedeceu aos princípios éticos em experimentação animal, preconizados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (CONCEA, 2013). Foi realizado um estudo experimental, longitudinal, intervencionista, tipo caso-controle com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no laboratório multidisciplinar da DeVryFACID, localizada em Teresina, Estado do Piauí, região nordeste do Brasil. Foram utilizadas 14 fêmeas adultas de Rattus norvegicus da linhagem Wistar, pesando aproximadamente 300g, mantidas no Biotério da Faculdade, confinadas em gaiolas plásticas, em ambiente com temperatura, umidade, luminosidade e ruído controlados, em ciclo claro-escuro de 12 horas e alimentadas com ração balanceada tipo Purina e água ad libitum. Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: o grupo I (controle; n=7), foi mantido com ração e água filtrada, oferecidos ad libitum, durante oito semanas (60 dias consecutivos). O grupo II (com intervenção; n=7), além de receber sua alimentação habitual e água filtrada, foram expostos à queima de 04 cigarros por cerca de 30 minutos, duas vezes ao dia, seis dias semanais, por um período de 60 dias consecutivos. Para a exposição dos animais à fumaça do cigarro foi utilizada uma câmara de inalação (Figura 1), construída com madeira (100x44x44cm), hermeticamente fechada, com janelas de vidro nas superfícies frontal e superior para a visualização dos animais e do processo de combustão dos cigarros, dividida em dois compartimentos iguais (I e II) por uma tela de madeira (MDF) com orifícios de 2,5cm de diâmetro. O Compartimento I foi utilizado para realizar a combustão dos cigarros, que eram colocados em suportes de gesso, confeccionados para possibilitar um contato direto dos cigarros com fluxo de ar lançado no interior da caixa, proporcionando uma combustão completa dos mesmos. Figura 1 - Representação gráfica da caixa de madeira usada para exposição dos animais à fumaça de cigarro Uma fonte contínua de ar com vazão de 10 litros por minuto foi utilizada no compartimento I, possibilitando uma combustão contínua dos cigarros, ao mesmo tempo que o fluxo de ar conduzia a fumaça liberada pelos cigarros através do orifícios da tela de madeira existente entre os compartimentos levando-a até o compartimento II, onde estavam os animais. Página 73 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Todas as exposições dos animais à fumaça do cigarro foram realizadas no Laboratório da Faculdade, com a caixa no interior de exaustão, evitando a inalação da mesma pelos pesquisadores envolvidos no processo. Os cigarros utilizados foram adquiridos comercialmente, produzindo em cada queima 8mg de alcatrão, 0,7mg de nicotina e 7mg de monóxido de carbono (segundo o fabricante). Foi utilizada uma marca de cigarro que está entre as mais consumidas pela população brasileira em virtude do preço acessível, e também possui os maiores níveis de nicotina e outros compostos tóxicos. Após um período de 60 dias, os animais foram eutanasiados de acordo com os princípios éticos do CONCEA, para então ser realizada a dissecação das amostras que foram submetidas à análise. Os resultados obtidos referentes à análise morfométrica dos folículos ovarianos foram expressos como médias ± desvios padrão (M ± DP). Esses resultados foram organizados por meio de tabelas e gráficos e submetidos à análise estatística. As variáveis obtidas no estudo foram analisadas com o auxílio do programa GraphPadInStat® versão 3.1 (Figura 2). Realizou-se o teste T de Student para análise dos dados. O nível de significância estabelecido foi de 5 % (p<0,05). Figura 2 - Software Image J utilizado para calcular área do folículo pré-antral Imagem 1. Analise histomorfométrica do folículo pre-antral do ovário de rata do grupo controle realizada no Image J; Imagem 2- Análise histomorfométrica do folículo pre-antral do ovário de rata do grupo experimental realizada no Image J. (Aumento de 200x, H.E.) Os animais receberam uma aplicação via intracardíaca de anestésico Tiopental Sódico (Cristália), na dose de 0,05 ml/100g. Após 5 minutos, foi realizada a aplicação de cloreto de potássio 19,1% (Equiplex), via intracardíaca em dose única de 0,4 ml/100g, seguindo as normas do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Logo após a eutanásia dos animais, foram obtidas as amostras para análise com a excisão do ovários das ratas e subsequente fixação em solução de formol a 10% por 48h. Em seguida, as amostras foram encaminhadas para o processo laboratorial de rotina, para a inclusão em parafina. Obtido os blocos, foram realizados cortes longitudinais com espessura de 5 µm em micrótomo rotativo, resultando em cortes semi-seriados, que foram corados em hemotoxilina-eosina (H.E). Para análise e escolha dos folículos pré-antrais foi utilizada a proposta de classificação de oócitos e folículos em ovário já descrita em literatura. Para a determinação da histomorfometria dos folículos pré-antrais, foi realizado o registro fotográfico digital da imagem microcóspica do ovário de cada amostra, utilizando aumento padrão de 400x. A imagem da fotografia foi importada para o software Image J, para o cálculo da área dos folículos pré-antrais de cada animal. Com esse software foi possível delimitar a área do folículo, através de uma escala que converte pixels da fotomicrografia em unidade métrica (micrometro), e Página 74 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 assim calcular área do folículo em μm2. Em seguida foram calculadas, por meio do programa Excel®, as médias das áreas e desvios padrão para cada subgrupo de animal, para posterior comparação intergrupos (Figura 2). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados da análise histomorfométrica da área dos folículos pré-antrais dos ovários dos animais do grupo controle e do grupo exposto à fumaça de cigarro, estão expressos na Figura 3. Figura 3 - Médias e desvios padrão das áreas (μm2) dos folículos pré-antrais de animais do grupo controle e experimental - Teresina, PI - 2014 ÁREA DO FOLÍCULO 90 80 70 Área (μm2) 60 50 40 30 20 10 0 GRUPO NÃO EXPOSTO GRUPO EXPOSTO Fonte: Dados da pesquisa (2015). Após análise e comparação dos dados referentes à histomorfometria da área folículos préantrais ovarianos, pode-se observar que os animais do grupo controle e experimental apresentaram as médias da área dos folículos pré-antrais de 58 ± 21 μm2 e 15 ± 12 μm2, respectivamente. A análise estatística dos dados demonstrou que, após o período de exposição, a média da área do folículos pré-antrais dos animais do grupo controle foi significativamente superior (p<0,05) quando comparada à média da área do folículos pré-antrais dos ovários dos animais que foram expostos à fumaça de cigarro. Na presente pesquisa, estudou-se o efeito histomorfometrico em folículos pré-antrais de ratas após exposição à fumaça de cigarro, com o objetivo de avaliar a alterações na área desses folículos. Foi observada uma redução estatisticamente significativa nas áreas dos folículos pré-antrais do grupo experimental, ou seja, nos animais que foram expostos à fumaça de cigarro. Estes dados estão de acordo com um trabalho que demonstrou uma microanálise da matriz do tecido ovariano que revelou um complexo mecanismo de ‘ovotoxicidade’ envolvendo genes associados com metabolismo auto degenerativo, crescimento e desenvolvimento celular, morte celular, eliminação de radicais livres, e respostas imunológicas (ZENZES; REED; CASPER, 1997). A análise histomorfológica identificou redução do crescimento de folículos pré-antrais em ovários dos camundongos expostos e aumento da atividade enzimáticas, causando danos no DNA em folículos antrais. Aumento dos níveis de estresse oxidativo também foram detectados em ovários do animais expostos à fumaça de cigarro, levando à redução do potencial de fertilização em oócitos. Página 75 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Os resultados da presente pesquisa também corroboram com outro trabalho que avaliou os efeitos de uma exposição breve e longa à fumaça de cigarro no número de células da granulosa, no crescimento do oócito e no tamanho do folículo durante a puberdade em camundongos Swiss fêmeas (PAIXÃO et al., 2012). Foram usados dez camundongos fêmeas com idade média de 35 dias os quais foram expostos aos cigarros em uma máquina automática durante oito horas por dia, sete dias por semana, durante 15 dias. Dez animais no grupo controles pareados por idade foram mantidos numa sala diferente e expostos ao ar ambiente. No final de 15 dias, cinco animais em cada grupo foram eutanasiados e os ovários foram analisados por morfometria folicular e contagem de células da granulosa. Os demais animais foram mantidos por mais 30 dias para posterior análise. Verificou-se que a fumaça do cigarro prejudicou o crescimento folicular antral, mesmo após a cessação da exposição. Os animais que foram expostos à fumaça de cigarro apresentaram diâmetro do folículo similar, mesmo aqueles que passaram 30 dias sem fumar, considerados “ex-tabagistas”. No entanto, na mesma fase folicular, o número de células da granulosa foi menor no grupo de “ex-tabagistas” em comparação com os animais “tabagistas”. Os autores concluíram que os efeitos negativos do tabagismo parecem durar mesmo após da exposição ser interrompida. Além disso, uma breve exposição durante a puberdade pode induzir perturbações oócito, o que poderia, por sua vez levar a diminuição da taxa de fecundidade. É sabido que o fumo passivo causa doenças sérias e até fatais em adultos e crianças, além de contribuir para a diminuição na fertilidade de homens e mulheres (CORRAL et al., 2010). Um estudo revelou que nas mulheres que desejam engravidar e que não usam métodos contraceptivos hormonais, a presença do tabagismo diminui a taxa de fertilidade de 75% para 57% (HOTHAM; GILBERT; ATKINSON, 2005). 4 CONCLUSÃO Após a aplicação da metodologia proposta, análise e discussão dos resultados encontrados neste estudo, pode-se concluir que a exposição de ratas à fumaça de cigarro provocou redução da área dos folículos ovarianos pré-antrais, com consequente alterações histomorfométricas no ovários destes animais. REFERÊNCIAS ALDRIGHI, J. M. et al. Tabagismo e antecipação da idade da menopausa. Rev Assoc Med Bras, São Paulo, v. 51, n. 1, p. 51-53, 2005. CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. Diretriz brasileira para o cuidado e a utilização de animais para fins científicos e didáticos - DBCA. Brasília, 2013. CORRAL, T. et al. (Coord.) Manual para agentes de saúde: prevenção, caminho para saúde. 2. ed. Rio de Janeiro: ACT, 2010. HOTHAM, E. D.; GILBERT, A. 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Para tanto, foram aplicados questionários a 97 cirurgiões-dentistas, com perguntas fechadas, sobre o perfil do participante e sobre o tema proposto. Os resultados demonstraram que nenhum cirurgião-dentista foi acionado judicialmente por conduta decorrente da profissão; 46,4% dos profissionais têm conhecimento do seguro de responsabilidade civil e apenas 37,1% solicitavam o preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Relacionado ao contrato de prestação de serviços odontológicos, 80,4% dos profissionais afirmaram ter conhecimento e apenas 30,9% relataram formalizar o referido contrato. No que se refere ao prontuário odontológico, 85,6% dos cirurgiões-dentistas afirmaram realizar o arquivamento e 96,9% relataram ter ciência de sua importância legal. Com base nos resultados obtidos, foi observado que os cirurgiões-dentistas têm conhecimento da responsabilidade civil, sabem da importância da documentação odontológica, mas muitos desconsideram aspectos relevantes, e com isso comprometem seu resguardo profissional. Palavras chave: Cirurgião-dentista. Responsabilidade Civil. Odontologia legal. ABSCTRACT The liability of the dentist have been the subject of much discussion because of the significant number of lawsuits involving this professional class. This study aimed to evaluate the knowledge of Dentists on civil liability; if these professionals were triggered by judicially conduct arising from the profession; if dentists formalized the contract to provide dental services and demanded their patients completing and signing the Consent and Informed - IC, on the same occasion, also sought to examine whether these professionals know the importance of dental records to defend themselves in potential lawsuits and have knowledge of liability insurance. Therefore, 97 questionnaires were applied to 97 ____________________ 1 ¬¬¬¬¬Aluna do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial (DeVrryFACID). Email: [email protected] 2 Professora do Curso de Odontologia da DeVrryFACID; Doutora em Clínica Odontológica pela Universidade Estadual de Campinas.Email: [email protected] Página 78 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 dentists, with twelve questions about the participant's profile and issues covering the theme. The results showed that no dentist was sued for conduct arising from the profession, 46,4% of professionals have knowledge of liability insurance, only 37,1% request completing and signing the Consent and Informed 80,4% of professionals have knowledge about the dental services contract and only 30,9 formalize this agreement. With regard to dental records, 85,6% of dentists filing this document, but only 14,4% carry the archive indefinitely and 96,9% claim to have knowledge of their legal significance. Based on these results, it was observed that dentists have limited knowledge of what governs the liability, know the importance of dental records, but many ignore relevant aspects, that compromise their professional guard. Key words: Dental surgeon. Civil liability. Forensic dentistry. INTRODUÇÃO Com a evolução da sociedade, o número de processos judiciais em desfavor dos cirurgiõesdentistas está ocorrendo com maior frequência, devido a gama de informações que chegam à população, além da facilidade de acesso à justiça (BARBOSA; ARCIERI, 2003; GUZELLA; BARROS; SOUSA JÚNIOR, 2016). O cirurgião-dentista está sujeito a obrigações de ordem civil, ética, penal e administrativa, por consequência da responsabilidade pelas ações exercidas em sua atividade laboral. O profissional que não cumprir com suas obrigações contratuais ou deveres legais e, por decorrência desse descumprimento, causar dano ao paciente, poderá ser acionado judicialmente. Nesse sentindo, o instituto da responsabilidade civil objetiva resgatar a harmonia das relações que imperavam anteriormente a conjunção de fatos danosos, garantindo ao paciente lesado, o ressarcimento do prejuízo pelo cirurgião-dentista que causou o dano (TERADA; GALO; SILVA, 2014). Para falar em responsabilidade civil, é necessário a existência do dano, que pode ocorrer por ação voluntária ou involuntária, no exercício da profissão. Para que haja o dever de reparar o dano, há a necessidade de alguns pressupostos, como: ação ou omissão do sujeito; dolo ou culpa do sujeito; nexo de causalidade entre a ação ou omissão; e prejuízo causado em decorrência de dano sofrido pela vítima. O ato danoso que gera o dever de indenizar pode ocorrer não só por ação, como também por omissão. Isto é, quando o agente tinha o dever de praticar determinado ato e deixou de fazê-lo (GUZELLA; BARROS; SOUSA JÚNIOR, 2016; MEDEIROS; COLTRI, 2014). Tendo em vista essa nova tendência, na qual a maioria das pessoas lesadas têm conhecimento do seu direito de buscar reparação do dano que lhe foi causado, tornou-se a relação paciente/profissional da área odontológica mais centrada na qualidade dos serviços, podendo os cirurgiões-dentistas responderem pelos seus atos profissionais (BRITO, 2005). A relevância deste estudo dá-se pelo crescente número de processos contra cirurgiõesdentistas, pois com o avanço da tecnologia e facilidade de informação, os pacientes mostram-se mais exigentes com os resultados dos tratamentos contratados. Desta forma urge nos profissionais a postura no que tange a informação sobre deveres, direitos e responsabilidade, como forma de prevenir e antever possíveis ações judiciais movidas por pacientes. A presente pesquisa teve como objetivo geral, avaliar o conhecimento dos cirurgiõesdentistas sobre a responsabilidade civil, considerando os seguintes parâmetros: citação judicial por condutas decorrentes da profissão; formalização do contrato de prestação de serviço; exigência do preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ao mesmo tempo, analisou-se o conhecimento dos profissionais acerca da importância do prontuário odontológico, bem como do conhecimento do seguro de responsabilidade civil. Página 79 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 2 METODOLOGIA O projeto desse estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (DeVry FACID), de acordo com a Resolução nº 466/2012, sob protocolo 46099215.3.0000.5211, tendo obtido a aprovação necessária para a execução da pesquisa. Foi solicitado por meio de ofício da FACID ao Conselho Regional de Odontologia Secção Piauí (CRO-PI), a relação de cirurgiões dentistas (CDs) da cidade de Teresina-PI regularmente inscritos no período de 2010 a 2015, tendo sido informado 97 profissionais. Foi realizado um estudo de campo, de natureza descritiva e com abordagem quantitativa, envolvendo procedimentos técnicos de levantamento. Os participantes foram os 97 cirurgiõesdentistas informados pelo CRO-PI. No momento da coleta de dados, a pesquisadora dirigia-se ao cirurgião-dentista e o convidava para participar da pesquisa, cujo instrumento de coleta de dados foi um questionário com 12 perguntas fechadas, onde constavam informações sobre o perfil do participante e questões abrangendo o tema da pesquisa. Ao aceitar o convite, o participante recebia o TCLE, lia e assinava, ficando com a segunda via, e em seguida respondia o questionário. Os profissionais que aceitaram participar do estudo foram informados da garantia do sigilo em relação a sua identificação e as informações dadas. Os dados foram coletados no período de setembro de 2015 a março de 2016. Foram digitados no programa Microsoft Excel 2010 e depois importados para o programa Statistical Package for the Social Sciences - SPSS for Windows (versão 19.0). Foram realizadas análises descritivas e bivariadas. Tratando-se de variáveis categóricas, o teste selecionado para observar a relação entre as variáveis do estudo foi o Teste do Qui – quadrado. Após obtenção dos resultados, foram distribuídos em gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1- Distribuição das variáveis referentes às características das condutas procedimentais N=97 % Sim Não Tem conhecimento a respeito do seguro de responsabilidade civil, caso seja acionado judicialmente por um paciente 97 100,0 Sim Não Solicita do paciente o preenchimento e assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido – TCLE 45 52 46,4 53,6 Sim Não Às vezes Depende da especialidade 36 41 12 8 37,1 42,3 12,4 8,2 Variáveis Foi acionado judicialmente por alguma conduta profissional Página 80 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tem conhecimento a respeito do contrato de prestação de serviços odontológicos Sim Não Formaliza contrato de prestação de serviços odontológicos Sim Não Às vezes 78 19 80,4 19,6 30 40 27 30,9 41,2 27,8 Fonte: dados da pesquisa (2016). De acordo com dados observados na Tabela 1, nenhum cirurgião-dentista foi acionado juridicamente por atos decorrentes da profissão. Rossi (2013), concluiu que a maioria dos profissionais processados são aqueles que estão há mais tempo no mercado de trabalho. Foi observado que o seguro de responsabilidade civil, ainda não é de conhecimento amplo dos profissionais. Existe a necessidade de maior orientação e divulgação para os cirurgiões-dentistas dessa forma de proteção, pois apenas 46,4% têm conhecimento desse meio de resguardo. Diferentemente foram os estudos de Terada, Galo e Silva (2014), onde 72,0% dos pesquisados tinham conhecimento do seguro de responsabilidade civil, mas apenas 45,0% faziam uso desse tipo de apólice. Foi identificado o notório o conhecimento por parte dos profissionais no que se refere ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como sobre o contrato de prestação de serviços odontológicos. Do total de participantes, 42,3% não solicitavam do paciente o preenchimento e assinatura do TCLE e somente 37,1% cumpriam essa etapa documental. No entanto, 80,4% informaram ter conhecimento do contrato de prestação de serviços odontológicos, enquanto apenas 30,9% faziam uso deste. Brito (2005) concluiu que apenas 24,2% dos cirurgiões-dentistas solicitavam do paciente o preenchimento e assinatura do TCLE, e apenas 11,3% formalizavam o contrato de prestação de serviços odontológicos. Os resultados encontrados do presente estudo corroboram com o entendimento de que muitos profissionais negligenciam o uso da documentação odontológica. No entanto, os mesmo denotam conhecimento, mas omitem-se de utilizá-los, impossibilitando assim, possível defesa caso sejam acionados judicialmente. Na Tabela 2 as variáveis reportam sobre o arquivamento e conhecimento da importância legal do prontuário odontológico. Tabela 2 - Distribuição das variáveis referentes às características dos prontuários odontológicos Variáveis N=97 % Sim 83 85,6 Não 14 14,4 Arquiva o prontuário odontológico Página 81 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tem conhecimento da importância legal do prontuário odontológico Sim 94 96,9 Não 3 3,1 Fonte: dados da pesquisa (2016). De acordo com a Tabela 2, observa-se que 85,6% dos profissionais afirmaram arquivar o prontuário e 96,9% denotaram saber da importância legal do mesmo. O presente estudo apresenta resultado semelhante ao de Silva et al. (2010), no qual 93,44% dos dentistas, afirmaram arquivar e ter conhecimento da importância legal do prontuário. Esses dados são relevantes, pois sabe-se que o prontuário odontológico é indispensável nos casos de lides judiciais, por acusações de erros, iatrogênias ou outro fato que promova desentendimento entre o profissional e o paciente. Diferente foi o resultado do estudo de Brito (2005), pois apenas 35,4%, dos profissionais afirmaram arquivar e ter conhecimento da importância legal do prontuário. Diante da cronologia dos estudos, percebe-se que o conhecimento dos profissionais tem avançado com o passar dos anos, sendo resultante do aumento de ações judiciais movidas por pacientes envolvendo cirurgiões-dentistas. Ao comparar os resultados encontrados em Franca-SP, por Latorraca, Flores e Silva (2012), foi constatado que 66,0% dos cirurgiões-dentistas arquivavam o prontuário odontológico por tempo indeterminado, corroborando com entendimento de que a guarda e conservação da documentação odontológica deve ocorrer por tempo indeterminado, não somente para defender-se de possíveis ações judiciais, como também para fins de identificação humana. Tabela 3 - Tabela cruzada de distribuição das variáveis independentes do estudo na variável solicita do paciente assinatura e preenchimento do TCLE (n= 97) Solicita do paciente preenchimento e assinatura do TCLE Sim Não/ Às vezes/ Em parte n(%) n(%) Idade (em anos) Menos de 30 30 e mais Tempo de formação (em anos) Até 2 Mais de 2 até 5 Tem especialidade Sim Não p valor 0,05 30(42,9) 6(22,2) 40(57,1) 21(77,8) 6(33,3) 30(38,0) 12(66,7) 49(62,0) 26(37,1) 10(37,0) 44(62,9) 17(63,0) 0,71 0,99 Legenda: O p valor foi obtido pelo teste do qui- quadrado. O nível de significância estatística foi fixado em p≤0,05. Fonte: dados da pesquisa (2016). A Tabela 3 mostra a distribuição da variável idade e da variável dependente do estudo, (solicita do paciente preenchimento e assinatura e do TCLE), com p valor de 0,05, do qual, foi observado que 42,9% dos profissionais que têm menos de 30 anos solicitam do paciente o preenchimento e assinatura no TCLE, enquanto apenas 22,2% dos profissionais com mais de 30 anos realizavam tal solicitação. As demais variáveis não apresentaram associação estatisticamente significativa. Divergente em parte foram os estudos realizados por Brito (2005), com os cirurgiõesdentistas de Natal-RN, no qual 6,13% dos profissionais tinham menos de 30 anos de idade, Página 82 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 porcentagem bem diferente ao presente estudo, contudo assemelha-se, a mesma faixa etária que mais solicitou o TCLE. Baseado nos dados obtidos pelo presente estudo fica evidente que os profissionais com menos de 30 anos estão mais informados sobre a necessidade e a importância da documentação odontológica. Destarte, é necessário que os cirurgiões-dentistas arquivem os prontuários odontológicos contendo o TCLE preenchido e assinado pelo paciente, para que frente acusações de negligência, imperícia, imprudência, erros, iatrogênias do dentista, seja cabível ao profissional, provar que realizou de forma correta o procedimento questionado na lide. Tabela 4 - Tabela cruzada de distribuição das variáveis independentes do estudo na variável formalização dos contrato. (n= 97) Formalização do contrato de prestação de serviços odontológicos Sim Não/Às vezes n(%) n(%) p valor Idade (em anos) 0,10 Menos de 30 25(35,7) 45(64,3) 30 e mais 5(18,5) 22(81,5) Tempo de formação (em anos) 0,05 Até 2 9(50,0) 9(50,0) Mais de 2 até 5 21(26,6) 58(73,4) Tem especialidade 0,07 Sim 18(25,7) 52(74,3) Não 12(44,4) 15(55,6) Legenda: O p valor foi obtido pelo teste do qui-quadrado. O nível de significância estatística foi fixado em p≤0,05. Fonte: dados da pesquisa (2016). Na Tabela 4, a variável que apresentou associação foi o tempo de formação, com p valor de 0,05, do qual, 50,0% dos profissionais com até 2 anos de graduação, formalizavam contratos de prestação de serviço, em contraposição a apenas 26,6% da categoria acima de 2 anos – até 5 ano) de graduação. A última categoria do presente estudo mostrou que aproximadamente ¼ dos profissionais formalizavam contrato de prestação de serviços odontológicos, similar aos dados mencionados por Latorraca, Flores e França (2012) em que 36,0% dos cirurgiões-dentistas cumpriam essa etapa documental. Observou-se no presente estudo a discrepância dos resultados obtidos com dentistas que têm até 2 anos de graduação, pois 50% formalizavam o contrato de prestação de serviços odontológicos. Esse achado difere do estudo realizado em Franca-SP por Latorraca, Flores e França (2012), emque 64,0% dos cirurgiões-dentistas com essa mesma faixa etária, negligenciavam essa etapa do prontuário. Com os dados ora mencionados, compreende-se que os cirurgiões-dentistas participantes dessa pesquisa, graduados em até 2 anos, estão mais comprometidos em cumprir com a responsabilidade do prontuário odontológico, comparados com os graduados acima de 2 anos – até 5 anos. É de suma importância salientar, que o contrato deve ser elaborado pelo profissional e assinado pelo paciente. Contratos verbais ou mesmo por escrito sem assinatura do paciente, são vulneráveis se as informações forem levantadas judicialmente. É de suma importância a formalização contratual com anuência por meio da assinatura do paciente ou do seu responsável legal. Vale frisar também, que é necessário o conhecimento do paciente ou do seu responsável legal sobre todas as alterações decorrentes do seu estado de saúde no transcorrer do tratamento. Segundo o Código de Direito do Consumidor, no seu artigo 6º inciso III, Página 83 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 “são direitos básicos do consumidor: a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”. 4 CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, foi observado que os cirurgiões-dentistas participantes desse estudo têm conhecimento limitado do que rege a responsabilidade civil. Não obstante, há a necessidade de maiores informações no que tange este instituto, sendo importante ressaltar que o seguro de responsabilidade ainda não é de conhecimento amplo por parte dos profissionais. Verificou-se que os profissionais participantes dessa pesquisa não foram acionados judicialmente por conduta profissional. De acordo com as informações prestadas, conclui-se que os cirurgiões-dentistas têm ciência da importância da documentação odontológica, mas muitos desconsideram aspectos relevantes, como preenchimento e assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) e formalização do contrato de prestação de serviços odontológicos, comprometendo, assim, seu resguardo profissional. Recomenda-se que haja um estudo mais otimizado, pertinente ao conhecimento dos cirurgiões-dentistas no que tange os elementos que compõem o prontuário odontológico, seu arquivamento e atualização. REFERÊNCIAS BARBOSA, F. Q.; ARCIERI, R. M. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista: aspectos éticos e jurídicos no exercício profissional segundo odontólogos e advogados da cidade de Uberlândia/MG. Revista do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 9, n. 3, p. 163168, jul./set. 2003. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/95639562-1-PB.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2016. BRITO, E. W. G. A documentação odontológica sob a ótica dos cirurgiões-dentistas de Natal/RN. 2005. 63 f. Dissertação. (Mestrado em Odontologia) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, Rio Grande do Norte. 2005. Disponível em: <ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/EwertonWGB.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016 GUZELLA, A. R. M.; BARROS, C. F. P., SOUSA JÚNIOR, F. S. S. Responsabilidade civil odontológica: como prevenir erros. Revista da ABO, São Paulo, n. 20, p. 45-47, jan. 2016. LATORRACA, M. M; FLORES, M. R. P; SILVA, R. H. A. Conhecimento dos aspectos legais da documentação odontológica de Cirurgiões-dentistas do município de Franca, SP, Brasil Revista da Faculdade de Odontologia, Passo Fundo, v.17, n.3, p. 268-272, set./dez. 2012. MEDEIROS, U. V; COLTRI, A. R. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. RBO - Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v.71, n.1, p.10-6, jan./jun.2014. ROSSI, G. K. Responsabilidade civil do cirurgião dentista causas e consequências. 2013. 79 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Odontologia) - Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Odontologia, Florianópolis 2013. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/100332/TCC%20Respons.%20Civil.pdf?se quence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10 abr. 2015. SILVA, A. A. L. S. et al. Nível de conhecimento dos cirurgião-dentista sobre a qualidade dos prontuários odontológicos para fins de identificação humana. Rev. Odontol Bras Central, v, 19, n.51, 2010. Página 84 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 TERADA, A. S. S. D.; GALO, R.; SILVA, R. H. A. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista: conhecimento dos profissionais. Arq. Odontol., Belo Horizonte, v. 50, n.2. jun. 2014. Diponível em: <http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151609392014000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 abr. 2016. Página 85 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 INCIDÊNCIA E FATORES RELACIONADOS AO CÂNCER COLORRETAL OBSTRUTIVO EM UM SERVIÇO MÉDICO PRIVADO DE TERESINA-PI INCIDENCE AND FACTORS RELATED TO OBSTRUCTIVE COLORECTAL CANCERIN A PRIVATE SERVICE TERESINA -PI Érica Patrícia Sousa Reis Meneses1 , Norma Maria de Cássia Lima Sarmento Veloso Martins2, Walysson Toncantins Alves de Sousa3 RESUMO O câncer colorretal é a principal neoplasia maligna mais prevalentes no trato gastrointestinal, sendo caracterizada pela presença de tumores em cólon ou reto. Nesse estudo foram determinadas a incidência de pacientes com câncer colorretal que foram diagnosticados em um quadro de obstrução intestinal, identificada a faixa etária dos tumores obstrutivos e não obstrutivos, verificado o tipo histológico do tumor e estadiado os tumores obstrutivos e não obstrutivos. A coleta das variáveis foi realizada através da análise dos prontuários dos pacientes incluídos na pesquisa. Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, de levantamento e análise de prontuários. Foram estudados dados de pacientes diagnosticados com câncer colorretal em situação de obstrução, entre janeiro e dezembro de 2013. A incidência de câncer colorretal foi identificada através do diagnóstico\CID e alterações histopatológicas registradas nos prontuários dos pacientes selecionados para o estudo. Conclui-se que o câncer colorretal predomina em homens com idade acima de 60 anos, 22,5% dos pacientes com câncer colorretal foram diagnosticados em situação de abdome agudo obstrutivo. Já no câncer colorretal obstrutivo foram, em sua maioria, do sexo masculino, com média de idade acima dos 60 anos e com doença avançada. Palavras chave: Câncer colorretal. Obstrução. Incidência. ABSCTRACT Colorectal cancer is the leading most prevalent malignancy in the gastrointestinal tract. Characterized by the presence of tumors in the colon or rectum. In this study, we determined the incidence of colorectal cancer patients who have been diagnosed with a bowel obstruction, identify the age group of obstructive tumors and unobtrusive; check the histological type of tumor staging and obstructive and non-obstructive tumors. The collection of variables was performed by analyzing the records of patients included in the study. It is an epidemiological study, retrospective survey and analysis of medical records. We studied patients were diagnosed with colorectal cancer obstruction situation between January and December 2013. The incidence of colorectal cancer has been identified by diagnosing \ CID and histopathological changes recorded in the medical records of patients selected for the study. It concludes that colorectal cancer predominates in men over the age of 60, 22.5% of people with RCC patients were diagnosed in obstructive acute abdomen situation. CCR obstructive were mostly male, with an average age above 60 years and with advanced disease. Key words: Colorectal cancer. Obstruction. Incidence. _____________________ 1 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID). Email: [email protected] Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID). Email: [email protected] 3 Professor do Curso de Medicina da FACID, Mestre em Medicina (Clínica Integrada). Email: [email protected] 2 Página 86 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 INTRODUÇÃO Câncer colorretal (CCR) é uma afecção caracterizada pela presença de tumores em cólon ou reto, sendo a neoplasia maligna mais comum do aparelho digestivo (DUARTE-FRANCO; FRANCO, 2004; ZANONI, 2005). Por ter sua incidência aumentada nos últimos anos, houve necessidade de aprofundar os estudos das afecções colorretais tumorais e sua incidência relacionada a quadros de obstrução intestinal. A maioria dos casos de obstrução aguda do cólon é secundária ao câncer colorretal. Até 20% dos pacientes com diagnóstico de câncer de cólon apresentam sintomas de obstrução aguda. A cirurgia de emergência para obstrução aguda do cólon está associada a um risco significativo de morbidade e mortalidade e com uma alta porcentagem de criação de estoma (temporário ou permanente). A maioria dos CCR tem evolução lenta a partir de pólipos adenomatosos, através da sequência adenoma-carcinoma oriunda de uma combinação de alterações genéticas e ambientais (BRASIL, 2003; TAFNER, 2010; ZANONI, 2005). Embora muito frequente na população, apenas uma pequena parcela destas lesões precursoras progridem para câncer No entanto, mesmo com a progressão lenta, observa-se uma alta incidência de câncer colorretal obstrutivo, os quais são diagnosticados em serviços de urgência por queixas primárias de obstrução, hipótese que se quer comprovar (BRASIL, 2003; TAFNER, 2010; ZANONI, 2005). Acredita-se que alguns fatores possam estar envolvidos na incidência de câncer colorretal obstrutivo. A partir do presente estudo objetivou-se analisar a incidência de câncer de colorretal obstrutivo em um centro médico em Teresina-Piauí, bem como avaliar dentro do grupo dos tumores obstrutivos, aspectos clínicos e epidemiológicos relacionados. O câncer colorretal abrange tumores que acometem o intestino grosso (o cólon) e o reto. É tratável e, na maioria dos casos, curável ao ser detectado precocemente. Sua elevada incidência justifica a aplicação de programas de prevenção. No Brasil existem diversos determinantes que dificultam a realização de uma efetiva política de preventiva para o CCR. Consequentemente existe atraso no diagnóstico e tratamento das lesões (BRASIL, 2003; TAFNER, 2010; ZANONI, 2005). Com este estudo pode-se contribuir com a melhora do perfil epidemiológico e evolutivo da doença, assim como traçar metas para diagnóstico precoce e melhora do prognóstico da doença. O câncer é uma das patologias de maior impacto social e psicológico, na sua maioria de diagnóstico tardio. Com o surgimento de novas drogas e melhoria do tratamento, os pacientes estão aumentando as chances de cura e\ou expectativa de vida. Deste estudo foi a necessidade de identificar a incidência de (CCR obstrutivo) obstrução intestinal e dentre essas obstruções quais foram diagnosticadas com câncer colorretal em um centro especializado de Teresina, procurando identificar faixa etária de ocorrência, tipo histológico e estadiamento desses tumores, perfil este que certamente trará relevantes informações sobre a epidemiologia desta afecção, bem como subsidiará melhorias em sua prevenção e tratamento à comunidade médica e científica com interesse neste procedimento. Os objetivos desse estudo foram: determinar a incidência de pacientes com câncer colorretal que foram diagnosticados em um quadro de obstrução intestinal; identificar a faixa etária dos tumores obstrutivo; verificar o tipo histológico do tumor; e definir o estadiamento dos tumores obstrutivos. 2 METODOLOGIA O estudo foi iniciado após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial DeVryFACID, respeitando os princípios éticos estabelecidos pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, transversal de levantamento e análise de prontuários. Os casos foram pesquisados a partir da busca ao sistema de gerenciamento de prontuário eletrônico, através da digitação dos CIDs correspondentes ao câncer colorretal: C18, C19 e C20 que retornou um total de 129 prontuários dos quais, após pesquisa individual, foram Página 87 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 confirmados 31 casos de CCR. A partir deste filtro inicial, foram selecionados os prontuários de pacientes com câncer colorretal diagnosticados em um quadro de obstrução intestinal, sendo formado dois grupos: Grupo I, de pacientes não obstruídos e Grupo II, de pacientes que entraram em obstrução intestinal. Foram coletados os dados clinico - epidemiológicos em ficha específica: faixa etária, sexo, tipo histológico do tumor e estadiamento dos tumores. A amostra consistiu de prontuários de pacientes em tratamento e acompanhamento no Serviço de Oncologia do Hospital Prontomed - Oncomédica no período de janeiro a dezembro de 2013. As informações foram obtidas a partir de informações registradas nos prontuários dos pacientes selecionados para o estudo. As variáveis estudadas foram: a idade de ocorrência, gênero, estadiamento e tipo histológico dos tumores. Os dados foram agrupados em formulário elaborado e preenchido pelo autor principal da pesquisa. Os dados foram apresentados em frequências, percentuais, médias, valores mínimos e máximos. Os resultados foram organizados em tabelas e gráficos elaborados pelo Word da Microsoft Office. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Incidência de Câncer Colorretal Obstrutivo Do total de pacientes diagnosticados com CCR, sete apresentaram um quadro de obstrução intestinal, o que representou 22,5 % do total de prontuários (Figura 1). Figura 1 - Distribuição de pacientes com câncer colorretal obstrutivo e nãoobstrutivo em um hospital privado de Teresina, 2013 100 80 60 40 20 77,5 7 24 22,5 0 Câncer Colorretal obstrutivo N % Não Obstrutivo Fonte: dados da pesquisa (2013). Sexo Os casos distribuíram-se entre sexo da seguinte maneira: no grupo 1: 5 homens (71,4%) e 2 mulheres (28,6%), já no grupo 2: 11 homens (45,8%) e 13 mulheres (54,2%) (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição de sexo de pacientes com câncer colorretal obstrutivo e não-obstrutivo em um hospital privado de Teresina, 2013 SEXO HOMENS MULHERES OBSTRUTIVO N (%) 5 (71,4%) 2 (28,6%) NÃO-OBSTRUTIVO N(%) 11 (45,8%) 13(54,2%) TOTAL N(%) 16 (100%) 15 (100%) Fonte: dados da pesquisa (2013). Página 88 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 O câncer colorretal é o terceiro câncer mais diagnosticado, tanto em homens, quanto em mulheres. Com relação à mortalidade, o câncer colorretal fica também com a terceira colocação entre as causas mais comuns de morte, por câncer, nos Estados Unidos (HABR-GAMA, 2005). Estatísticas americanas mostram que 26.801 homens e 26.395 mulheres faleceram por câncer colorretal nos Estados Unidos, em 2006. Na presente casuística, a média e a proporção por gêneros foram comparáveis aqueles descritos na literatura relata. Conforme os dados do INCA (2014) a incidência de câncer colorretal por 100 mil habitantes do sexo masculino, no Nordeste, foi estimada de 6,48% e para o gênero feminino de 6,68%. Já nesse estudo, em relação ao Grupo 1 houve predomínio do sexo masculino em relação ao feminino. Por outro lado, no Grupo 2 Houve um equilíbrio na distribuição dos pacientes entre os dois sexos. Assim, o Grupo 2 encontra-se em consonância com a literatura relatada. Faixa etária A média etária dos pacientes foi de 63 anos, com extremos de 30 e 83 anos, sendo as sexta e sétima décadas responsáveis por 51,4% dos pacientes (Figura 2). Segundo De Dombal et al. (2009), a mais comum causa de obstrução intestinal no paciente idoso é, sem dúvida, o câncer, sendo que 60% das obstruções intestinais nessa faixa etária devem-se ao câncer do intestino grosso, porém não há nada sugestivo que isso se deva à peculiaridade do tumor relacionado à idade do paciente. Figura 2 - Média de idade dos pacientes com câncer colorretal em um Hospital privado de Teresina, 2013 Fonte: dados da pesquisa (2013). A sugestão de que o paciente, em qualquer idade, com o carcinoma obstrutivo seja portador de uma forma mais maligna da doença, com comportamento mais agressivo e de pior prognóstico está alicerçada na observação de alguns autores, como Fitchett e Hoffman (2006) e Matheson (2009), mas é necessário de comprovação científica definitiva. Tal como relatado por Enblad et al (2010), soa como a sugestão do comportamento pior que teria o adenocarcinoma do intestino grosso incidente no paciente jovem.. Comparativamente, o Grupo 1 apresentou média de 63,5 anos enquanto que o Grupo 2 de 65 anos. Tal fato, é justificado por Habr-Gama (2005) que afirmou que o câncer colorretal é prevalente na sexta e sétima décadas de vida. Em razão disso, houve uma proporção equivalente nos grupos do estudo. Os pacientes apresentaram uma idade média de 63 anos ao diagnóstico, dados condizentes com a literatura, pois há um aumento da incidência deste câncer com o aumentar da idade. Segundo Way e Doherty (2004) alguns deles desenvolveram este câncer em idade jovem, mas apresentações como essas são relativamente raras e têm um padrão mais agressivo. O aparecimento de câncer colorretal em idade jovem apresenta um risco de desenvolvimento do mesmo câncer aos seus parentes Página 89 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 próximos, sendo, portanto, recomendado nessas situações que a investigação nesses indivíduos seja feita 10 anos antes do aparecimento de caso na família. Localização dos tumores no intestino grosso O local de comprometimento do tumor no cólon se distribuiu conforme Tabela 2. Com relação à localização dos tumores, a maioria (66,2%) se localizava no reto e sigmoide. O exame proctológico completo realizado no Brasil, que inclui a realização de retossigmoidoscopia rígida até 25 cm acima do ânus, pode ser útil na identificação de lesões nessas localizações. Tumores proximais têm sido responsáveis por uma parcela maior dos casos na literatura. Rim et al. (2009) encontraram tumores de cólon proximais, responsáveis por 42,3% dos casos de câncer colorretal, ficando à frente dos tumores do cólon distal (25,3%) e do reto (27,4%) Tabela 2 - Distribuição por localização dos tumores de pacientes portadores de câncer colorretal, em um Hospital privado de Teresina, 2013 Câncer coloretal Cólon direito Transverso Cólon esquerdo Reto N 9 3 14 5 % 29,0 9,68 45,1 16,1 Fonte: dados da pesquisa (2013). De acordo com os dados do INCA (2014), no Brasil constataram-se 18,08% das lesões no cólon direito, 21,98% no cólon esquerdo e 57,82% no reto. Nesse estudo, a proporção observa os mesmo valores da literatura exposta, tanto para os obstrutivos quanto para os não-obstrutivo predominando no cólon esquerdo (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição por localização dos tumores de pacientes com câncer colorretal obstrutivo e não obstrutivo, em um Hospital privado de Teresina, 2013 Câncer coloretal obstrutivo Cólon direito Obstrutivo N% (valores absolutos) 26% Não-obstrutivo N% 30% Transverso 7% 9% Cólon esquerdo 55% 43% Reto 12% 18% Fonte: dados da pesquisa (2013). Histologia A exceção de um caso de tumor carcinoide, todos os demais casos tratavam-se de adenocarcinoma (Tabela 4). Página 90 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 4 - Tipo histológico dos tumores ressecados de pacientes com câncer colorretal obstrutivo e não obstrutivo, em um Hospital privado de Teresina, 2013 TIPO HISTOLÓGICO OBSTRUTIVO N% Adenocarcinoma Outros NÃO-OBSTRUTIVO N% 7 (100%) 0 ( 0%) 23 (96%) 1 (4%) Fonte: dados da pesquisa (2013). Assim, de acordo com Neto e Junior (2005), o adenocarcinoma é o tipo histológico mais frequente, encontrado em até 90 % dos casos. Igualmente, o tipo histológico constitui variável de significância semelhante na literatura. Estadiamento O estadiamento do câncer colorretal dos pacientes, pela classificação de TNM, no momento do diagnóstico variou conforme representado na Figura 3. Figura 3 - Distribuição do estadiamento dos tumores de pacientes com câncer colorretal obstrutivo e não-obstrutivo em um Hospital privado de Teresina, 2013 Fonte: dados da pesquisa (203). IIB; 0; 0% IIA; 0; 0% III; 0; 0% IIC; 0; 0% I; 0; 0% INDEFINIDO T2N0M0; 0; 0% I IIIB; 2; 29% IIA IIB IIC III IIIC; 0; 0% IIIB IV; 5; 71% IIIC IV INDEFINIDO T2N0M0 Nesse estudo, a proporção no câncer colorretal obstrutivo correspondeu a 71,4% estágio IV 28,6% IIB. Enquanto que o câncer colorretal não obstrutivo apresentou proporções de I de 0%, IIA de 25%, IIB de 4,2%, IIC de 4,2%, III de 12,5%, IIIB de 4,2% , IIIC de 12,5%, IV de 33,2% e Indefinido de 4,2%. Dessa forma, é possível inferir que os tumores quando diagnosticados, encontravam-se predominantemente em estádio avançado, tanto para os tumores obstrutivos e nãoobstrutivos. Mortalidade Houve 12 óbitos (16,2%), dois dos quais diretamente relacionados à cirurgia (um caso de deiscência de anastomose e um de evisceração); três relacionados a complicações de ordem clínica (dois casos de tromboembolismo pulmonar – TEP e um de broncopneumonia); e sete a comorbidades, cinco das quais crônicas (um caso de obesidade com hipertensão e quatro casos de caquexia e Página 91 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 desnutrição) e duas agudas (um paciente com abdome agudo perfurativo e outro com abdome agudo obstrutivo). Destes, 8 óbitos eram pertencentes ao Grupo 1 dos câncer colorretal obstrutivo. Em determinadas circunstâncias, que correspondem a 25% de todos os casos, o paciente com câncer do intestino grosso obstrutivo recebeu um tratamento não planejado, em caráter de urgência ou emergência, seja por causa de obstrução (18% dos casos) seja por causa de perfuração e peritonite (7% dos casos). Nesse sentido encontramos base nas palavras de Buechter et al. (2011) que relataram que nessas situações, dentre outras complicações, a morte pode ter incidência de 20% ou mais, aumentando quando a operação é paliativa, podendo atingir valor tão alto quanto 70% na dependência da idade e do estado geral de desnutrição do paciente. Em geral, seriamente comprometido por causa da eventual disseminação abdominal do câncer e, também, porque a solução tem um tratamento em caráter de emergência. Segundo Scott, Jeacock e Kingston (2005), o que mais sobressai desses casos, além da faixa etária dos pacientes, é o fato deles serem mais doentes que os admitidos para tratamento eletivo, razão porque os esforços empreendidos para diminuir a morbimortalidade, nesse grupo, são infrutíferos. Por outro lado, não é incomum que os atendimentos de emergências fiquem a cargo de médicos plantonistas (clínicos e cirurgiões gerais), nem sempre experientes e afeitos aos problemas especiais representados pelas obstruções malignas do intestino grosso. Portanto, o diagnóstico precoce é o ponto principal no tratamento e diminuição da mortalidade do câncer colorretal. É feito através de exames de triagem, que devem ser oferecidos a pacientes a partir dos 50 anos sem fatores de risco identificados ou 10 anos antes do diagnóstico em indivíduos com história familiar positiva. 4 CONCLUSÃO Neste estudo foi possível determinar que 22,5% dos pacientes portadores de câncer colorretal foram diagnosticados em situação de abdome agudo obstrutivo. Os casos de câncer colorretal obstrutivos foram, em sua maioria, do sexo masculino, com média de idade acima dos 60 anos e com doença avançada. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da saúde. Instituto Nacional do Câncer. 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Página 93 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 EXPERIÊNCIA DE MULHERES NO PUERPÉRIO SOBRE O PARTO NORMAL EM MATERNIDADES MUNICIPAIS DE TERESINA-PI EXPERIENCE OF MOTHERS OF NORMAL BIRTH IN MUNICIPAL MATERNITY HOSPITALS IN TERESINA-PI Iziane Bispo de Sousa Leal1, Maria de Jesus Lopes Mousinho Neiva2 RESUMO Este estudo teve como objetivos conhecer as experiências vividas por mulheres que tiveram parto normal em maternidades municipais, identificar o perfil de mulheres que tiveram o parto normal, descrever as vantagens do parto normal, identificar os pontos positivos e negativos do parto humanizado nas perspectivas das mulheres que tiveram parto normal. Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem quanti-qualitativa, com uma amostra de 41 puérperas, que no momento da entrevista encontravam-se internadas nas três maternidades municipais de Teresina-PI. Os resultados mostraram que o perfil das puérperas participantes do estudo em sua maioria são primíparas, jovens, ensino médio completo, pardas, em união estável, e residentes no município de Teresina. As puérperas foram internadas no período latente do trabalho com acesso ao acompanhante durante o processo do parto, utilização de métodos não farmacológicos sendo utilizados com boa satisfação. Foi possível verificar que de fato os preceitos da Rede Cegonha com a humanização do parto estão se confirmando no âmbito do município de Teresina, o que torna a mulher mais emponderada do seu papel no ato de parturição. Palavras chave: Parto humanizado. Parto normal. Puerpério. ABSCTRACT This study aimed to understand the experiences of women who had normal birth in local hospitals, identify the profile of women who had normal birth, describe the benefits of normal birth, identify the strengths and weaknesses humanizing childbirth, by the perspectives of women who had normal birth. This study deals with a quantitative and qualitative approach of descriptive research based on the collection of information about the problem and the research objectives, it had as sample 41 postpartum women, who at the time of the interview were hospitalized in the three municipal hospitals of Teresina-PI. The results showed that the profile of the participating postpartum women of the study are mostly primiparae, young people, complete high school, of brown skin tone and in a stable relationship, and living in the city of Teresina. The women of them had been admitted in the latent period of labor with access to a companion during the birth process, the non-pharmacological methods were satisfactory. Therefore it can be affirmed that in fact the precepts of the Rede Cegonha institution related to the humanization of childbirth are being confirmed in the city of Teresina, which makes the women more empowered at the parturition act. Key words: Humanized childbirth. Normal birth. Puerperium. ______________________ 1 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial (DeVry FACID). Teresina, Piauí, Brasil. Email: [email protected] 2Professora Mestre do Curso de Enfermagem da DeVry FACID. Email: [email protected] Página 94 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 INTRODUÇÃO Com o advento da ciência obstétrica, o parto normal foi incorporado ao espaço institucionalizado e amparado pelas inovações tecnológicas, deixando o âmbito domiciliar e passando a ser realizado no hospital. A experiência da parturição é um evento natural e fisiológico permeado pelo medo e pela ansiedade (ALMEIDA; MEDEIROS; SOUZA, 2012). A institucionalização do parto representa um grande avanço no que se refere à saúde da mulher, contribuindo na redução das taxas de morbimortalidade materna e perinatal, entretanto o modelo biomédico trouxe resultados negativos (SCHMALFUSS, et al., 2010). Conforme dados da pesquisa Nascer, no Brasil (2014) é registrado o elevado número de partos cesáreos, o que contraria as recomendações da Organização Mundial da Saúde. As complicações decorrentes do parto normal em relação ao parto cesariano são menores, sendo um dos principais fatores para a estimulação ao parto normal. Levando em consideração que o parto normal é um procedimento doloroso e de muito sofrimento, que por longos tempos foi realizado de forma desumanizada, e que com a implantação do projeto Rede Cegonha em 2011, preconizando a importância do parto humanizado, com todos os direitos assegurados, esta realidade vem mudando a cada dia, na qual a atenção humanizada à parturiente é o ponto chave desse novo modelo de atenção à saúde. Vale ressaltar que os profissionais de saúde, em especial os profissionais de enfermagem estão engajados nesse modelo, e estão presentes durante todo o trabalho de parto, oferecendo à mãe o apoio psicológico e emocional, além de técnicas de relaxamento e massagens, música ou quaisquer outras práticas alternativas que tragam alívio e conforto à gestante durante o trabalho de parturição, e ainda, lhes garantindo a presença de um acompanhante de livre escolha. Neste contexto, com o presente estudo espera-se contribuir para incentivar as mulheres a optar pelo parto normal e a importância e as vantagens do mesmo, tanto para a mãe como para o filho, e mostrar que após a implementação do parto humanizado muitas tradições mudaram. 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa foi realizada em três maternidades municipais da cidade de Teresina - PI, localizadas, respectivamente, na zona Sul, em que foram entrevistadas 13 puérperas, na zona Leste a pesquisa foi realizada com de 13 mulheres no puerpério, na zona Sudeste foram realizadas entrevistas com 15 mulheres no período puerperal, instituições vinculadas à Fundação Hospitalar de Teresina (FHT). A amostra foi constituída por 41 puérperas, que no momento da pesquisa encontravam-se internadas nas três maternidades municipais. Como critérios de inclusão consideraram-se as mulheres que se encontraram em pós-parto de parto normal, internadas na maternidade, no dia da entrevista. Já como critério de exclusão determinou-se que seriam adolescentes na faixa etária entre 15 a 17 anos que se encontravam internadas na maternidade em pós-parto de parto normal. A aplicação da entrevista ocorreu entre janeiro e março de 2016, em conformidade com a Resolução CNS nº 466/2012, que trata de pesquisa com seres humanos. Os dados coletados foram digitados em uma planilha Microsoft Office Excel® 2010. Para avaliação da significância os mesmos foram submetidos ao teste qui quadrado com Intervalo de Confiança de 95% e significância estabelecida em p<0,05. Posteriormente os dados foram organizados em tabelas e gráficos e para tanto foram transferidos para o programa estatístico R 3 2. As entrevistas foram transcritas e analisada na integra conforme a técnica de análise de conteúdo. A caracterização dos sujeitos foi encerrada quando houve a saturação das respostas. Para a identificação as puérperas foram nomeadas por flores (Orquídea, Lírio e Jasmim). Assim, a respectiva análise dos dados resultou na formação de uma categoria temática: o conhecimento acerca do parto humanizado. Página 95 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Este estudo buscou conhecer a experiência das puérperas que vivenciaram o parto normal em três maternidades municipais de Teresina-PI no período de janeiro a março de 2016. Neste período foram entrevistadas 41 mulheres que se encontravam no pós-parto de parto normal. A Figura 1 apresenta o perfil de mulheres no período reprodutivo, em relação à idade, cuja faixa etária mais significante foi a de puérperas entre 25 a 29 anos, que corresponde 31,7% da amostra, seguida de 18 e 19 anos, com 29,3%, e amostras que se apresentaram iguais de puérperas com 20 a 24 anos e igual ou maiores de 30 anos, com 19,5%. Figura 1 - Distribuição das classes de idade das mulheres puérperas avaliadas, Teresina, 2016 19,5%(8) Igual ou maior a 30 anos 31,7%(13) 25 a 29 anos 19,5%(8) 20 a 24 anos 29,3%(12) 18 e 19 anos 0% 10% 20% 30% 40% Fonte: dados da pesquisa (2016). Para Almeida, Medeiros e Sousa (2012), mulheres entre 18 e 31 anos apresentaram menor risco obstétrico. De acordo com os dados, observa-se que as mulheres estão mais esclarecidas quanto aos métodos contraceptivos e a própria gestação. Outros autores afirmaram que a gestação em mulheres jovens é considerada um problema de saúde pública, que muitas vezes está relacionado às características socioeconômicas desfavoráveis. Já a gestação em mulheres de idade mais avançada vem se tornando cada vez mais frequente, o que explica esse fato é que essas mulheres estão deixando para engravidar quando alcançam estabilidade financeira. Nos extremos de idades para as mulheres, são encontrados os riscos obstétricos. Nas gestantes mais jovens, pela imaturidade fisiológica, e em mulheres em idade avançada, estão associados à própria idade materna e aumentada pela presença de doenças crônicas (SANTOS et al, 2009). A Tabela 1 apresenta uma avaliação sócio demográfica das mulheres puérperas avaliadas. Quando questionadas sobre a cor de sua pele, 61,0% se consideraram pardas, 19,5% negras,12,2% brancas e 7,3% amarelas. Página 96 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 1 - Avaliação sócio demográfico das mulheres puérperas avaliadas, Teresina, 2016 VARIÁVEIS N % P 5 25 3 8 12,2% 61,0% 7,3% 19,5% <0,001*** 8 10 23 19,5% 24,4% 56,1% 0,01** 11 7 23 26,8% 17,1% 56,1% 0,006** 35 6 85,4% 14,6% <0,001*** 26 15 63,4% 36,6% 0,0858 Cor Branca Parda Amarela Negra Escolaridade Ensino fundamental incompleto Ensino médio incompleto Ensono médico completo Estado civil Solteiro Casado União estável Zona da moradia Urbano Rural Renda familiar Até um salário mínimo De 2 a 3 salários mínimos Fonte: dados da pesquisa (2016). Dados semelhantes em relação à cor das puérperas foram discutidos por Gama et al. (2009) em que os números significativos foram de puérperas que se consideravam de cor parda ou negra, com maior predominância da cor parda. O que explica este número bem significativo, é a miscigenação que ocorre no Brasil pela mistura de raças. Quanto ao nível de escolaridade, 56,1% das mulheres entrevistadas concluíram o ensino médio, 24,4% não concluiu o ensino médio, seguido de 19,5% que não concluíram o ensino fundamental (Tabela 1). Dados semelhantes foram encontrados por Gama et al. (2009) em três maternidades do Rio de Janeiro, no qual puérperas cursaram ensino fundamental e médio. Para Ramos e Cuman (2009) o nível de escolaridade interfere nas condições de vida e saúde das pessoas, ressaltando que quanto menor o nível de conhecimento, maior a dificuldade de entendimento de cuidados durante o parto e puerpério e a própria gestação. A Tabela 1 revela também o estado civil das entrevistadas, em que 56,1% das puérperas mantinham união estável com seu parceiro, 26,8% relataram ser solteiras, 17,1% eram casadas. De acordo com Ramos e Cuman (2009) a presente realidade mostra que está havendo uma grande mudança na estrutura das famílias, que está sendo motivada pelas condições sociais, econômicas e culturais, onde as puérperas não encontram o apoio de um companheiro. Conforme se evidencia na Tabela 1, as parturientes residiam em zona urbana com um percentual de 92,7% e 14,6% residiam em zona rural. Esses resultados revelam que os mesmos podem estar relacionados ao acesso aos serviços de saúde, porém as puérperas que residiam em zona urbana tinham acesso às unidades de saúde com mais facilidade, assim como mais informações sobre o que preconiza o parto humanizado. As que residiam em zona rural, tinham restrições ao acesso dos serviços de saúde e informações. Quanto a renda mensal, 63,4% das puérperas sobreviviam com uma renda familiar de um salário mínimo, e 36,6% recebiam entre 2 a 3 salários mínimos por mês (Tabela 1). Pode-se considerar Página 97 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 que o baixo padrão sócio econômico está relacionado à baixa escolaridade, o que limita o acesso a informações e orientações, com a difícil busca pelos direitos (RAMOS; CUMAN, 2009). A Tabela 2 apresenta os dados relativos ao número de filhos das participantes do estudo. Os resultados mostram que 53,7% tinham parido seu 1º filho, 29,3% possuiam apenas 2 filhos, 2,4% tinham 4 filhos e 7,3% possuiam 3 ou mais de 4 filhos. Tabela 2 - Avaliação das puérperas quanto a situação gestacional por quanto passou, Teresina, 2016 Variáveis Quantidade de filhos 1 filho 2 filhos 3 filhos 4 filhos Mais de 4 filhos Semanas de gestação Até as 35 semanas Até as 37 semanas Até as 38 semanas Até as 39 semanas Até as 40 semanas Até as 41 semanas Não souberam responder Atividade física durante a gestação Sim Não Trabalho durante a gestação Sim Não Complicações durante a gestação Sim Não N % P 22 12 3 1 3 53,7% 29,3% 7,3% 2,4% 7,3% <0,001*** 1 6 8 11 9 3 3 2,4% 14,6% 19,5% 26,8% 22,0% 7,3% 7,3% 0,0319* 14 27 34,1% 65,9% 0,0423* 8 33 19,5% 80,5% <0,001*** 13 28 31,7% 68,3% 0,0192* Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; P, para teste qui-quadrado, com IC de 95% e significância de p<0,05. Fonte: dados da pesquisa (2016). De acordo com os dados obtidos, observa-se que a maioria das puérperas eram primíparas, o que mostra que, mesmo com pouca informação, as mulheres estão se conscientizando quanto ao parir. Do total de participantes 2, 26,8% pariram com 39 semanas de gestação; 22,0% com 40 semanas de gestação; 19,5% com 38 semanas de gestação; 14,6% com 37 semanas de gestação; 7,3% com 41 semanas de gestação; e 2,4% com 35 semanas de gestação. Uma puérpera não soube informar com quantas semanas de gestação pariu. A prematuridade pode ocorrer com mais frequência em mulheres com menos de 20 anos de idade por conta da imaturidade física. Santos et al (2009), afirmaram que mulheres com idade entre 35 anos ou mais, têm um maior risco de prematuridade. Ximenes e Oliveira (2004) revelaram que a prematuridade pode estar associada a complicações durante a gravidez, como hipertensão arterial e infecção urinaria, dentre outras intercorrências clinicas. Página 98 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 As onze puérperas que pariram com 39 semanas, tiveram o parto a termo, onde os mesmos não apresentaram nenhuma intercorrência. A Tabela 2 indica que 65,9% das puérperas não realizaram atividade física durante a gestação, enquanto 34,1% informaram que realizaram atividades físicas durante a gestação. Para Silva (2007), a prática de atividade física na gestação oferece uma grande vantagem para a mulher, como no aspecto emocional, tornando a gestante mais confiante durante o seu trabalho de parto. Os benefícios da atividade física durante o trabalho de parto são relevantes, porém permite alterações endócrinas ocorridas no período gestacional, que incidem nas articulações e ligamentos pélvicos, contribuindo com uma maior flexibilidade, facilitando o parto e a passagem do feto, tornando o processo do parto mais rápido. Quanto à atividade profissional, 80,5% das participantes informaram não terem trabalhado durante a gestação. As mulheres mais jovens que não informaram ter trabalho remunerado, eram mais dependentes financeiramente do companheiro, o que pode torná-las mais expostas a situações de risco social pela falta de orientação. Quanto a complicações na gestação, 68,3% das participantes informaram não ter tido quaisquer complicação durante a gestação. Dentre as complicações mais encontradas durante a gestação estão a hipertensão arterial, infecção urinária e a sífilis. A sífilis é uma DST que pode ser transmitida pela relação sexual (sífilis adquirida) e vertical (sífilis congênita) pela placenta da mãe para o feto. Uma pesquisa realizada no ano de 2014 mostra que no Brasil a notificação atinge somente 32% dos casos de sífilis gestacional e 17,4% apenas de sífilis congênita. Este resultado é ocasionado pela má qualidade de assistência no pré-natal ou a não realização do mesmo, o uso de drogas ilícitas pela gestante, múltiplos parceiros, o baixo nível de escolaridade e socioeconômico, acompanhado da falta de orientação (DAMASCENO et al., 2014). Segundo Vettore et al. (2011), as síndromes hipertensivas são as principais causas de morte materna levando a sérias complicações durante o trabalho de parto. Dados revelam que mulheres com idade igual ou superior a 30 anos, que se apresentam de cor parda, são mais predispostas a ter hipertensão gestacional. A infecção urinaria é uma das complicações mais comuns durante a gestação, sendo um problema de fácil e rápido tratamento. Se a infecção na gestante não for tratada, pode resultar em um prognostico ruim tanto pata a mãe como para o bebê. Sabe-se que durante a gestação a diurese da mulher se torna com o pH mais ácido, fazendo com que o trato urinário fique favorável para a proliferação de bactérias (DUARTE, 2008). A Tabela 3 apresenta dados sobre o momento do parto. Quanto à presença de acompanhantes durante o trabalho de parto, 95,1% das participantes informaram que tiveram a presença de familiares. De acordo com Oliveira et al. (2011), cabe ao profissional respeitar a escolha feita pela parturiente com quem ela deseja dividir o momento lhe dando força, coragem, confiança e conforto emocionalmente. Inserir o acompanhante na sala de parto faz parte dos métodos não farmacológicos com o objetivo de redução da dor, seja ele escolhido pela parturiente, seja a pessoa treinada (doula). A presença desse acompanhante é capaz de promover bem-estar emocional e físico. No que diz respeito à alimentação durante o trabalho de parto, 34,1% das participantes se alimentaram (Tabela 3). Segundo Velho, Oliveira e Santos (2010), o oferecimento de líquidos como suco, mingau ou sopas durante o trabalho de parto, tem uma boa aceitação das parturientes. O oferecimento de alimentos para as parturientes deve ser de preferência líquidos, substituindo a água por isotônicos. A ingestão de alimentos para as parturientes é um dos métodos do parto humanizado, que é preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2001). Página 99 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Tabela 3 - Avaliação das puérperas quanto ao momento do parto pelo qual passou, Teresina, 2016 Variáveis Presença de familiares Sim Não Alimentação durante as contrações Sim Não Atividades durante as contrações Caminhada Bola Agachamento Banho Não realizaram Dilatação no momento do parto De 1 a 3 centímetros De 4 a 6 centímetros De 7 a 10 centímetros Não sabem informar Parto em residência n 39 2 14 27 13 4 4 6 14 12 10 8 9 1 % P 95,1% 4,9% <0,001*** 34,1% 65,9% 0,042* 31,7% 9,8% 9,8% 14,6% 34,1% 29,3% 24,4% 19,5% 22,0% 2,4% 0,058 Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; P, para teste qui-quadrado, com IC de 95% e significância de p<0,05. Fonte: dados da pesquisa (2016). No que diz respeito ao uso dos métodos não farmacológicos, identificou-se que 31,7% das puérperas realizaram caminhada durante o trabalho de parto; 34% relataram não ter feito nenhuma atividade no momento do trabalho de parto; 14,6% realizaram o banho; 9,8% fizeram exercício com a bola suíça; 9,8% fizeram o agachamento. Todos os exercícios foram realizados com a intenção de tornar o parto mais rápido e promover o relaxamento. Para Pinheiro e Bittar (2012) as estratégias não farmacológicas empregadas durante o trabalho de parto, podem aliviar a dor oferecendo mais conforto e diminuindo o sofrimento, preservando a integridade física e psíquica das parturientes. O profissional de saúde que assiste a parturiente deve fornecer orientações de como saber lidar com a dor e o desconforto, realizando adequadamente exercícios respiratórios, estimular a fazer o banho no chuveiro, a deambulação, a praticar o agachamento, exercícios com a bola, banquinho cavalinho, massagem, enfim, fazer o uso desses recursos para tornar o parto menos doloroso e fazendo com que a parturiente fique mais relaxada e colaborativa, tornando o trabalho de parto mais rápido e diminuindo o sofrimento da mulher De acordo com o estudo, 29,3% das puérperas se internaram com dilatação de 1 a 3 centímetros; 24,4% de 4 a 6 centímetros de dilatação; 19,5% de 7 a 10 centímetros de dilatação; uma puérpera pariu em casa, equivalente a 2,4%; 22% não souberam informar com quantos centímetros de dilatação se internaram. A dilatação ocorre em dois períodos: o de fase latente e fase ativa. A fase latente acontece quando as contrações começam e chegam até os 4 centímetros de dilatação, já a fase ativa ocorre dos 5 centímetros até os 10 centímetros, quando acontece o parto propriamente dito. Muitas parturientes se internam na fase latente assim como na fase ativa, no qual essas mulheres que recebem o acolhimento nas instituições de saúde na fase latente se tornam beneficiadas pelo difícil acesso as Página 100 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 maternidades a falta de acompanhante ou por apresentarem alguma complicação durante gestação, sendo uma gravidez de alto risco (BRASIL, 2001). Nesse estudo observou-se que houve um maior número de mulheres internadas na fase latente, o que prolonga o tempo de internação fazendo com que a mulher fique mais exposta a intervenções hospitalares desnecessárias. A fase ativa da internação é quando a mulher já entrou em trabalho de parto e começa a ocorrer a dilatação cervical (SANTOS, 2009). Figura 2 - Declaração das puérperas avaliadas quanto a informação sobre parto humanizado, Teresina, 2016 Sim 41,5%(17) Não 58,5%(24) Fonte: dados da pesquisa (2016). Conforme observado na Figura 2, 58,5% das participantes relataram não ter tido qualquer informação sobre o parto humanizado, enquanto 41,5% informaram ter conhecimento acerca do parto humanizado. Isso pode ser visto nos depoimentos a seguir. Não eu nunca ouvi falar sobre isso, nas minhas consultas nunca me disseram nada. (Orquídea) Eu já tinha ouvido falar uma vez, mais eu não sabia como era, quando cheguei aqui me mandaram ficar em cima de uma bola, caminhar, e me mandaram banhar também, eu acho que diminuiu mais a dor né...(risos). (Lírio) Eu sei tudo de parto humanizado, por que eu sempre procurava ler alguma coisa que falasse disso, que eu sempre quis que meu parto fosse normal, e nas minhas consultas eu sempre perguntava para a enfermeira, e na caderneta que a gente recebe da gestante fala tudo bem direitinho também, e eu gostei acho que pari mais ligeiro por que o banho relaxa agente né, e também caminhei muito aqui pelo corredor. (Jasmim) Observou-se que teve uma pequena diferença entre as puérperas que tiveram e as que não tiveram informações sobre o parto humanizado. Sabe-se que tais informações devem ser abordadas durante o pré-natal, nas consultas mensais e nas reuniões que devem acontecer ao longo da gestação. As gestantes devem ser orientadas quanto aos direitos que as asseguram durante o parto e o pós-parto. A rede cegonha é uma estratégia do Ministério da Saúde que foi implementada pela Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011, cujo objetivo é assegurar às mulheres seus direitos e assistência humanizada na gravidez, parto e puerpério, garantindo também às crianças um nascimento seguro e sem distorcia, com crescimento e desenvolvimento saudável. Página 101 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 4 CONCLUSÃO Através desse estudo permitiu-se identificar o perfil sócio demográfico das mulheres que tiveram parto normal, destacando-se que eram mulheres jovens, com idades entre 25 a 29 anos, com ensino médio completo, viviam em união estável com seus companheiros, residiam na zona urbana de Teresina e sobreviviam com renda familiar de um salário mínimo por mês. Ao que preconiza o parto humanizado, as puérperas foram internadas no período latente do trabalho de parto, o que diminui o sofrimento e a peregrinação dessas mulheres em maternidades. A maioria dessas mulheres tiveram a presença de um acompanhante durante o processo do parto de sua escolha minimizando o sentimento de solidão. O uso de métodos não farmacológicos, como a deambulação, banho, bola suíça e agachamento, reduziu a dor e promoveu relaxamento, diminuindo a ansiedade e fazendo com que o tempo do trabalho de parto fosse reduzido. REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. A. M; MEDEIROS, M; SOUZA, M. R. Perspectivas de dor do parto normal de primigestas no período pré-natal. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.21, n.4 p. 819-827, out./dez., 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n4/12.pdf > Acesso em: 05 de mar 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento: Cadernos Humaniza SUS; v. 4, Universidade Estadual do Ceará. 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Página 103 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES SOROPOSITIVOS PARA HIV EM TERESINA-PI CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HIV INFECTED PATIENTS IN TERESINA -PI Marina Aguiar Barreto Maia1 , Jonas Moura de Araújo2 RESUMO O quadro da AIDS no Brasil evidencia uma epidemia que tem tido transformações na sua evolução e distribuição geográfica. Realizou-se um estudo transversal, retrospectivo e prospectivo, documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa, que teve como objetivo identificar o perfil clínico e epidemiológico de pacientes soropositivos para HIV em um SAE (Serviço de Atendimento Especializado) em HIV/AIDS de Teresina-PI. Dos 101 prontuários avaliados, foi possível verificar que 68,3% eram do sexo masculino e 31,7% do sexo feminino. Predominaram indivíduos com idade de 20 a 39 anos, com maior participação das mulheres na faixa etária dos 13 aos 19 anos e acima dos 50 anos. A raça parda foi predominante (68,3%). Prevaleceu a orientação heterossexual (54,5%), sendo que 49,5% relataram ter múltiplos parceiros. Destes, 67,6% eram do sexo masculino. O estado civil que sobressaiu foi o solteiro, com 60,4% dos casos. Observou-se baixo nível de escolaridade, onde 27,7% tinham ensino fundamental incompleto e 39,6% ensino médio completo. Dentre as doenças oportunistas diagnosticadas, a mais frequente foi a diarreia crônica (10,9%). Estes dados encontram-se de acordo com o atual perfil epidemiológico brasileiro, porém mais estudos, com maior número de participantes são necessários para melhores conclusões. O monitoramento contínuo das pessoas vivendo com HIV/AIDS é necessário para implementação de novas propostas diagnósticas, terapêuticas e profiláticas, bem como para diminuir a taxa de transmissão desse vírus. Palavras chaves: AIDS. Epidemia. Doenças oportunistas. ABSCTRACT The studies of AIDS in Brazil shows a disease that has been through changes in its evolution and geographical distribution. Thus, there was a documentary, retrospective and prospective, descriptive and quantitative approach that evaluated 101 medical records of patients treated between January 1, 2014 and January 1, 2016. Through this study we found out that from the 101 patients, 68.3% were male and 31.7% female. There’s prevalence among people aged 20 to 29 years (32.67%) and 30 to 39 years (40.59%). And the gender also varied according to age, with greater participation of women in the age group 13 to 19 years and above 50 years. The prevalent race in the studied population was the mulattos, with 68.3% of cases. With regard to sexual orientation, prevailed heterosexual way with 54.5% of the total, and marital status that stood out was the single with 60.4% of cases. We found a low level of education, where 27.7% had incomplete primary education and 39.6% completed high ______________________ 1 2 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVry FACID). E-mail: [email protected] Professor do Curso de Medicina da DeVryFACID, Mestre em Farmacologia. E-mail: [email protected] Página 104 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 school. Among the opportunistic diseases diagnosed, the most common was chronic diarrhea (10.9%). These data are in accordance with the current Brazilian epidemiological profile, but more studies with a larger number of participants makes it necessary to better conclusions. Continuous monitoring of people living with HIV / AIDS is necessary for implementation of new diagnostic proposals, therapeutic and prophylactic as well as to reduce the rate of transmission of this virus. Key words: AIDS. Epidemic. Opportunistic diseases. INTRODUÇÃO Os primeiros casos de AIDS (Acquired Immuno Deficiency Syndrome) ocorreram na década de 1970, sendo diagnosticados casos dessa epidemia inicialmente nos Estados Unidos da América (EUA) em 1977, e no Haiti e África Central em 1978. No Brasil o primeiro caso aconteceu em 1980, no Estado de São Paulo, mas a nova síndrome só foi classificada em 1982 (BRASIL, 2004). Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 798.366 mil pessoas convivam com o HIV no Brasil atualmente, ocasionando um importante impacto sobre o sistema de saúde e sobre a qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus (BRASIL, 2004). A epidemia representa fenômeno global, dinâmico e instável, cuja forma de ocorrência nas diferentes regiões do mundo depende, entre outros determinantes, do comportamento humano individual e coletivo. O perfil epidemiológico da doença sofreu modificações ao longo do tempo, passando a ser disseminada por relações heterossexuais e, por conseguinte, contaminando as mulheres (FONSECA; BASTOS, 2007). O perfil epidemiológico observado nos últimos anos evidenciou distribuição dos casos de Aids se expandindo para todo o território nacional, redução dos casos em mulheres e aumento em homens, refletindo na razão entre os sexos de 19 casos de aids em homens para cada 10 mulheres, em 2014. A maior concentração dos casos está nos indivíduos com idade de 25 a 39 anos, e destaca-se o aumento em jovens de 15 a 24 anos. A proporção de casos entre indivíduos autodeclarados como pardos aumentou e houve diminuição na proporção entre brancos. Maior incidência entre aqueles com ensino médio completo (BRASIL, 2015). Atualmente, verifica-se o tipo de epidemia brasileira concentrada em populações-chave que respondem pela maioria de casos novos do HIV em todo o país, como gays e homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e transexuais, pessoas que usam drogas e profissionais do sexo (BRASIL, 2015). Nesse contexto, o monitoramento clínico das pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) tornase essencial para se conhecerem os esforços necessários, a maximização dos efeitos das intervenções e norteamento das ações para conter o avanço desta epidemia. Cerca de 130 mil indivíduos infectados pelo HIV não conhecem seu diagnóstico e quase um terço das PVHA continuam sem terapia antirretroviral - TARV (NOSYK et al., 2014; BRASIL, 2015). Existe uma heterogeneidade epidemiológica dos portadores de HIV em cada região do país e é necessário conhecer o perfil clínico e epidemiológico, para o surgimento de novas propostas de intervenção diagnóstica, profilática e terapêutica, bem como traçar objetivos para a redução da transmissão deste vírus e decréscimo da prevalência de pessoas com AIDS. Esta pesquisa fez-se necessária para conhecer qual o perfil clínico e epidemiológico de pacientes soropositivos para HIV em Teresina, pressupondo-se que são em sua maioria indivíduos do gênero masculino, da raça parda, adultos jovens, heterossexuais e com baixa escolaridade. Já as características clínicas podem ser variáveis, dependendo da fase em que se encontra a doença, além de apresentarem infecções oportunistas responsáveis pela internação hospitalar e aumento da morbimortalidade desses pacientes. Esse estudo teve como objetivos identificar as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes soropositivos para HIV atendidos em um serviço de atendimento especializado (SAE) em Página 105 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 HIV/AIDS em Teresina-PI, além de verificar as doenças oportunistas mais frequentemente associadas no decorrer da infecção. 2 METODOLOGIA A pesquisa realizou-se respeitando os princípios éticos estabelecidos pela nº466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que define as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID) e pela Fundação Municipal de Saúde. Foi solicitada a autorização do fiel depositário. Não houve necessidade de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), visto que as informações foram coletadas em prontuários dos pacientes. A pesquisa não causou quaisquer riscos, prejuízos, desconforto ou lesões aos pacientes envolvidos, uma vez que somente os prontuários foram consultados. Os resultados obtidos poderão auxiliar o desenvolvimento de estratégias preventivas. Tratou-se de um estudo transversal, retrospectivo e prospectivo, documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa. Foram analisados 101 prontuários de pacientes soropositivos para HIV atendidos em um ambulatório do Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS (SAE) em Teresina-PI, que iniciaram seu atendimento no período de 01 de janeiro de 2013 a 01 de janeiro de 2016. Foram analisadas as características clínicas e epidemiológicas destes pacientes. Para realização desse estudo foi necessária a confecção de um formulário específico para a coleta de dados provenientes dos prontuários analisados, a fim de obter informações suficientes para o desenvolvimento da pesquisa. O formulário tinha as seguintes variáveis: idade; raça; estado civil; gênero; profissão; escolaridade; orientação sexual; uso de drogas injetáveis; presença de múltiplos parceiros; naturalidade; cidade de residência; data do diagnóstico; doenças oportunistas diagnosticadas. Os dados coletados foram organizados em planilha eletrônica no Excel 2007, em seguida analisados pelo programa estatístico SPSS 20.0 para Windows e por meio deste foram confeccionados os gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da análise dos dados obtidos, observou-se que a população estudada reforça a caracterização sociodemográfica no Brasil. Verificou-se que 68,3% eram do sexo masculino e 31,7% do sexo feminino, com uma proporção de casos entre homens e mulheres de 2 para 1, respectivamente. Tais dados refletem a tendência de queda na participação das mulheres na epidemia da Aids observada nos últimos dez anos (Figura 1). Figura 1- Distribuição dos pacientes segundo gênero, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 106 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde 2015 (BRASIL, 2015), com o aumento da transmissão da doença em relações heterossexuais, no período de 1980 a 2008, houve aumento da participação das mulheres nos casos de Aids. Entretanto, a partir de 2009, observase um aumento do número de casos em homens e redução dos casos em mulheres. Atualmente a proporção é de 1,9 homens acometidos para cada caso em mulheres no Nordeste. Esses dados diferem do observado no estudo realizado por Morais e Amaral (2013), cuja proporção entre os sexos encontrada foi de cerca de um homem acometido para cada mulher. Na Figura 2 observa-se a distribuição dos pacientes segundo a faixa etária. Houve maior incidência entre os indivíduos com idade de 20 a 29 anos (32,67%) e 30 a 39 anos (40,59%). Segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), observa-se maior concentração da AIDS no Brasil entre os indivíduos de 25 a 39 anos para ambos os sexos, coincidindo com os dados obtidos neste estudo. Predomina o acometimento de adultos jovens em idade fértil, talvez por serem um grupo vulnerável por conta da intensa atividade sexual com diferentes parceiros, bem como a inconsistência no uso do preservativo. Figura 2- Distribuição dos pacientes segundo a faixa etária, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). A Figura 3 representa a distribuição dos pacientes segundo idade e gênero. Observou-se prevalência de mulheres entre os 13 aos 19 anos, e acima dos 50 anos. Diferindo dos dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), nos quais foi observado um aumento da taxa de detecção entre os homens com 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 60 anos ou mais nos últimos dez anos. Como a amostra de 13 a 19 anos e acima dos 60 anos foi pequena, o resultado talvez tivesse sido diferente com uma amostra maior. Sugere-se estudos com maior número de participantes para melhores esclarecimentos. Página 107 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 3- Distribuição dos pacientes segundo idade e gênero, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). A Figura 4 é referente à distribuição dos pacientes segundo raça/cor. Houve predomínio da raça parda (68,3%) na população estudada, seguido da raça branca (15,8%), negra (14,9%). Não foram observados indivíduos autodeclarados como amarelos e indígenas. Esta distribuição está de acordo com os casos notificados pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no qual, a maioria são da raça parda, seguida pela branca, com proporção de 46% e 42,9%, respectivamente. Uma minoria dos indivíduos é da raça amarela e indígena. Tem se observado aumento na proporção de casos entre indivíduos da raça parda e uma queda na proporção entre brancos no Brasil (BRASIL, 2015). Figura 4- Distribuição dos pacientes segundo raça/cor, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Em relação à orientação sexual, 54,5% referiram-se heterossexuais, 38,6% homossexuais, e 6,9% bissexuais, sugerindo que a via de transmissão heterossexual constitui a mais importante característica da dinâmica da epidemia, justificando talvez aumento da participação feminina ao longo dos anos (Figura 5). Página 108 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 5 - Distribuição dos pacientes segundo a orientação sexual, Teresina, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). No início da epidemia, o segmento populacional constituído por homens que fazem sexo com outros homens — homossexuais e bissexuais — foi o mais atingido. No ano de 1984, 71% dos casos notificados eram referentes a homossexuais e bissexuais masculinos. Com a mobilização social e a mudança de comportamento no sentido de práticas sexuais mais seguras, houve redução na participação desta subcategoria de exposição. Entretanto, estudos recentes demonstram que este grupo responde pela maioria dos novos casos de HIV diagnosticados no país (SZWARCWALD, 2000; BRASIL, 2015). Atualmente, é imprescindível que a dicotomia sexo-prática segura seja desmistificado no casal. É necessário haver campanhas que integrem o casal num debate franco e de mútua cooperação sobre o sexo seguro, além de fortes ações sociais e governamentais na população em situação de maior risco e vulnerabilidade (SCHAURICH; FREITAS, 2011). Quanto à presença de múltiplos parceiros, observou-se que 50,5% relataram ter único parceiro, ao passo que 49,5% relataram ter múltiplos parceiros, sendo que destes, 67,6% eram do sexo masculino (Figura 6). Isto talvez justifique o aumento da prevalência de HIV em homens nos últimos dez anos, levando-se em consideração que a principal forma de transmissão do HIV atualmente é sexual. Figura 6- Distribuição dos pacientes segundo a presença de múltiplos parceiros e gênero, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 109 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 A Figura 7 refere-se à distribuição dos pacientes segundo o uso de drogas injetáveis. Observou-se que 95% não usaram drogas injetáveis, ao passo que 5% eram usuários desses tipos de drogas. Porém, atualmente, os usuários de drogas injetáveis estão entre os indivíduos que respondem pela maioria dos casos novos do HIV no Brasil, juntamente com os HSH, gays, travestis, transexuais e profissionais do sexo. Diferindo, portanto, do atual cenário brasileiro (BRASIL, 2015). Figura 7- Distribuição dos pacientes segundo uso de drogas injetáveis, Teresina, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Quanto ao grau de instrução, pôde-se observar que a maioria dos pacientes possuíam ensino médio completo (39,6%) e ensino fundamental incompleto (27,7%). Apenas 9,9% possuíam ensino superior completo. Entre as ocupações, pôde-se verificar que 93% não tem ocupação qualificada, ou seja, para exercício de tal, não necessitou de formação superior, enquanto apenas 7% tem ocupação qualificada. Os indivíduos estudados apresentaram baixo nível de escolaridade e ocupações não qualificadas (Figura 8). Esses dados são concordantes com os dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, 2015, onde uma maior concentração de casos de AIDS encontra-se entre aqueles com ensino médio completo (23,9%) e ensino fundamental incompleto (21,1%). Figura 8- Distribuição dos pacientes segundo grau de escolaridade, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). A principal arma preventiva para combater epidemias é a conscientização da população quanto a comportamentos de riscos que facilitam a transmissão do vírus. A educação tem um papel Página 110 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 fundamental na assimilação de campanhas informativas e na propensão a mudanças de hábitos e comportamentos sociais (IRFF; SOARES; DESOUZA, 2010). Walque (2006) observou que a educação tanto é condizente com um comportamento mais seguro como com o uso de preservativo ou uso de conselhos e experiências. Observou-se que 82,2% dos pacientes não apresentaram doenças oportunistas diagnosticadas. Dentre as complicações, a mais frequente foi a diarreia crônica (10,9%), seguida pelo herpes zoster (2%), candidíase esofagiana (1%), tuberculose ganglionar (1%), tuberculose pulmonar (1%), meningite criptocócica (1%), neurotoxoplasmose (1%) (Figura 9). Figura 9- Distribuição dos pacientes segundo infecções oportunistas diagnosticadas, TeresinaPI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), a pneumocistose é a doença oportunista mais frequente, seguida pela toxoplasmose do sistema nervoso central e tuberculose pulmonar atípica ou disseminada. Neste estudo não foram encontrados pacientes que apresentaram pneumocistose. A incidência de neurotoxoplasmose e tuberculose pulmonar atípica foi de apenas 1% cada. Dessa forma, pode-se inferir que a diarreia crônica foi mais prevalente na população estudada do que a pneumocistose. O mesmo foi observado por Morais e Amaral (2013). A causa parasitária mais comum de diarreia crônica nos pacientes com AIDS é a criptosporidiose, uma infecção causada pelo protozoário do gênero Cryptosporidium spp., que infecta células epiteliais do trato gastrointestinal dos seres humanos e dos animais, cuja transmissão decorre da ingestão de água ou alimentos contaminados (NAVIN, 1984 apud NETO et al., 1998). Sugerindo a falta de saneamento básico e de medidas de higiene pessoal na população estudada, talvez pela maioria apresentar baixos níveis socioeconômicos e de instrução. 4 CONCLUSÃO Os resultados encontrados neste estudo apontam que os indivíduos mais acometidos eram homens, jovens, em plena idade reprodutiva. A participação das mulheres ainda persiste, porém, menos expressiva. Dentre os jovens de 13 a 19 anos e adultos acima dos 50 anos, observou-se maior prevalência das mulheres. Entre a raça/cor houve predomínio dos indivíduos autodeclarados como Página 111 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 pardos. Com relação à orientação sexual, predominaram os casos em heterossexuais, talvez por essa ser a principal via de transmissão do vírus atualmente. Dentre os indivíduos que declararam ter múltiplos parceiros, a maioria era do sexo masculino, justificando talvez o aumento da prevalência de HIV nesse gênero. Prevaleceram indivíduos que não eram usuários de drogas injetáveis. A maioria dos pacientes estudados tinha baixo nível de escolaridade, uma vez que apenas 10% possuíam ensino superior completo. Isto sugere a dificuldade de conscientização da população quanto aos comportamentos de risco. A infecção oportunista mais comumente encontrada foi a diarreia crônica. Talvez pelo fato de ser uma doença transmitida por água ou alimentos contaminados, sugerindo-se assim, a falta de saneamento básico e de medidas de higiene pessoal na população estudada, justificada pela apresentação de baixos níveis socioeconômicos e de instrução da maioria dos indivíduos. Este estudo é importante para o surgimento de novas propostas de intervenção diagnóstica, profilática e terapêutica, bem como para traçar objetivos para a redução da transmissão do vírus, e decréscimo da prevalência de pessoas com AIDS. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST/AIDS. Boletim epidemiológico de Aids. Brasília, ano I, n. 01, jan/jun., 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim epidemiológico Aids/DST. Brasília, 2015. Disponível em: < http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/58534/boletim_aids_11_2015_w eb_pdf_19105.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2015. FONSECA, M. G. P.; BASTOS, F. I. 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Página 113 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 RELAÇÃO ENTRE A DEFICIÊNCIA, INSUFICIÊNCIA E NÍVEIS NORMAIS DE VITAMINA D E RESISTÊNCIA INSULÍNICA EM PACIENTES DE UM CENTRO MÉDICO DE TERESINA-PI RELATIONSHIP BETWEEN DISABILITY , IMPAIRMENT AND NORMAL VITAMIN D LEVELS AND INSULIN RESISTANCE IN PATIENTS OF THE MEDICAL CENTER OF TERESINA, PI Manoel Ítalo Pinheiro Néri1 , Jonas Moura de Araújo2 RESUMO A vitamina D é formada basicamente através da irradiação solar (raios UVB) sobre a pele em uma substância derivada do colesterol, originando uma substância chamada provitamina D3 na pele, a qual ganha à circulação e chega ao fígado sendo hidroxilada e transformada em 25 – hidroxivitamina D3 (25(OH)D3) pelo citocromo P450S. A demonstração de uma forte correlação inversa entre glicemia e níveis de 25(OH)D3, sugere um papel direto e importante da deficiência dessa vitamina na ação insulínica. O objetivo geral foi identificar incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D, e resistência insulínica e sua correlação, em pacientes de um Centro Médico de Teresina-PI. Os objetivos específicos foram analisar os níveis de vitamina D, de insulina sérica, glicemia de jejum, Idade, Gênero e IMC, identificando a incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D e resistência insulínica; correlacionar a deficiência, insuficiência de vitamina D com a resistência insulínica, Idade, Gênero e IMC. Tratou-se de um estudo transversal, prospectivo, observacional, de caráter descritivo com abordagem quantitativa, relacionando a deficiência, insuficiência e níveis normais de vitamina D com a resistência insulínica em pacientes de ambulatório em um Centro Médico de Teresina-PI. Foram coletadas amostras de sangue de 99 pacientes atendidos no referido Centro. Os dados foram coletados e correlacionados a fim de se identificar alguma relação direta ou indiretamente entre os níveis de vitamina D e Resistencia Insulínica. Os resultados obtidos apontaram que existe uma alta incidência nos níveis de insuficiência e deficiência de vitamina D na amostra estudada em Teresina-PI, bem como a resistência insulínica avaliada pelo HOMA-IR. Concluiu-se houve uma maior insuficiência e deficiência de vitamina D no gênero feminino, contrariamente ao gênero masculino, que apresentou maior suficiência desta. Os pacientes que possuem deficiência e insuficiência de vitamina D, apresentaram também resistência insulínica. Palavras chave: Vitamina D. Resistência à insulina. HOMA-IR. ___________________ 1Aluno do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVry FACID). Email : [email protected] do curso de Medicina da DeVry FACID, Mestre em Farmacologia. Email: [email protected] 2Professor Página 114 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 ABSCTRACT Vitamin D is basically formed by solar irradiation (UVB) on the skin in a derived cholesterol substance, yielding a substance called Provitamin D3 in the skin, which gains movement and reaches the liver being hydroxylated and converted into 25 - hydroxyvitamin D3 (25 (OH) D3) by cytochrome P450s. The demonstration of a strong inverse correlation between blood glucose and levels of 25 (OH) D3, suggests a direct and important role of this vitamin deficiency in insulin action. The overall objective was to identify the incidence of deficiency and vitamin D insufficiency and insulin resistance and its correlation in a medical center of Teresina-PI. The specific objectives were to analyze the vitamin D levels, serum insulin, fasting glucose, Age, Gender and BMI; Identifying the incidence of disability and lack of vitamin D and insulin resistance; Correlate the deficiency, vitamin D insufficiency with insulin resistance, age, gender and BMI. The work dealt with is a cross-sectional, prospective, observational study of descriptive with quantitative approach, relating to disability, impairment and normal vitamin D levels with insulin resistance in patients of a clinic in a medical center of Teresina-PI. Blood samples were collected from 99 patients treated at that center. Data were collected and correlated in order to identify any direct or indirect relationship between vitamin D levels and Resistencia Insulin. The results obtained in this study showed that there is a high incidence in insufficient levels and vitamin D deficiency in the sample studied in the city of Teresina, PI, and that insulin resistance measured by HOMA. The female was concluded that there was a greater failure and vitamin D deficiency, contrary to males with the highest sufficiency of this. In conclusion that patients have deficiency and vitamin D deficiency, also have insulin resistance. Key words: Vitamin D. Resistance to insulin. HOMA-IR INTRODUÇÃO Nos últimos anos, um vigoroso interesse em vitamina D por parte de todo o mundo veio à tona, tanto no meio médico, quanto entre as pessoas leigas. A partir de dados divulgados pelo National Health and Nutrition Examination Survey - NHANES (2004), que quando comparado com o NHANES de 1998, verificou-se um aumento significativo no número de pessoas com níveis de vitamina D (25 Hidroxivitamina D3) inferior a 30ng/ml. Muitos estudos nos dias de hoje têm demonstrado a expressão do receptor de vitamina D em vários tecidos corporais como o cérebro, pele, intestino, gônadas, próstata, mamas e células do sistema imune e do pâncreas, revelando a interação dessa vitamina em distúrbios associados ao sistema imunológico e ao metabolismo da glicose. Nos últimos anos a vitamina D e seus precursores têm sido alvo de um número crescente de pesquisas, demonstrando sua função, além do metabolismo do cálcio e da formação óssea (MARQUES et al., 2010). A vitamina D atua em inúmeros sistemas como, secreção de insulina, cérebro, coração e sistema imune, entre outros, além de promover o aumento da absorção de cálcio e fosfato pelo intestino, sendo essencial para o desenvolvimento dos ossos e dentes. Portanto, em seu estado de deficiência, a vitamina D pode favorecer a uma maior mobilização do cálcio dos ossos, piorando a estrutura óssea. A função primitiva da vitamina D3 se dá na geração de citocinas produzidas por macrófagos/monócitos que protegem o hospedeiro contra ataques de invasores (QUARLES, 2008). Em condições de baixa exposição solar, a vitamina D é considerada um micronutriente essencial, obtida pela síntese cutânea na presença da luz ultravioleta, quando o composto 7deidrocolesterol se transforma em colecalciferol (vitamina D3). Além de ser obtida de forma exógena, essa vitamina possui também etapa de síntese endógena, onde é absorvida para a corrente sanguínea, pois precisa ser metabolizada chegando ao fígado onde sofre ação da enzima do grupo P450S até 1,25 (OH)2D3, sua forma biologicamente ativa (CAPRIO; MAMMI; ROSANO, 2012). Página 115 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 O interesse cresceu não só pela queda mundial nos níveis séricos de vitamina D, mas também pela associação entre obesidade e diminuição da sensibilidade à insulina, que já está bem estabelecida. Estudos demonstram que obesos têm prevalência aumentada de hipovitaminose D, o que possivelmente se deve à eventual menor exposição solar e ao maior sequestro do tecido adiposo, diminuindo sua biodisponibilidade (AZOURY et a., 2003). A demonstração de uma forte correlação inversa entre glicemia e níveis de 25(OH)D, sugere um papel direto e importante da deficiência dessa vitamina na patogenia da doença. Parece que níveis adequados de vitamina D no organismo são essenciais no processo de sensibilidade à insulina, como apontam algumas pesquisas (WITHAM et al., 2010). Quanto à participação da vitamina D no diabetes, a deficiência desta vitamina diminui a síntese e liberação de insulina, pois atua na função das células ᵝ do pâncreas e na ação periférica desse hormônio, sugerindo sua participação na patogênese dessa doença crônica. Muitas pesquisas recentes sugerem que os mecanismos envolvidos na fisiopatologia de doenças cônicas, como diabetes mellitus, câncer e doenças cardiovasculares, podem estar relacionadas com a deficiência e as novas funções fisiológicas da vitamina D (BELL, 2011). A vitamina D participa da resposta insulínica ao estímulo da glicose direta ou indiretamente. Seus efeitos diretos são mediados pela ligação da 1,25(OH)2D3 ao receptor VDR da célula ᵝ, enquanto o efeito indireto é mediado pelo fluxo de cálcio nessas células. Mediante esses resultados esta vitamina atua por meio da interação de seu receptor (VDR) com as células ᵝ e com a proteína ligadora de cálcio dependentes de vitamina D no tecido pancreático (BARENGOLTS, 2010). Segundo Holick et al. (2011), a deficiência de vitamina D é definida em pessoas com níveis de 25 hidroxivitamina D3 menores que 20 ng/ml e insuficiência de vitamina D como valores de 25 hidroxivitamina D3 entre 21-29 ng/ml. Portanto, valores maiores que 30 ng/ml são considerados suficientes. Contudo essa vitamina não apresenta definição quanto a doses tóxicas. O presente estudo teve como pergunta norteadora: “qual a incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D em pacientes de um centro médico da cidade Teresina e suas relações com a resistência insulínica?”. A compreensão dessa relação possibilita um melhor acompanhamento clínico dos pacientes, pois existe uma alta incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D na cidade de Teresina-PI, compatíveis com a população mundial, e pelo fato de existir uma possível relação inversa entre níveis de vitamina D e a resistência insulínica a qual é um fator de risco independente para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Há uma importância crescente da vitamina D em muitas ações do organismo, principalmente, em pacientes com níveis insulínicos alterados, pois além de suas ações calciotrópicas, vale ressaltar que esta vitamina possui ação anti-obesidade, ação antioxidante, ação sobre o controle da Pressão Arterial Sistêmica, influencia na ação e no controle do sistema renina angiotensina aldosterona, tem função protetora contra doenças cardiovasculares e está relacionada com uma redução do risco de câncer em indivíduos com níveis insulínicos normais e alterados. Nesse contexto, buscou-se como objetivo geral identificar incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D, e resistência insulínica e sua correlação, em um Centro Médico de Teresina-PI. Como objetivos específicos: analisar os níveis de vitamina D, de insulina sérica, glicemia de jejum, Idade, Gênero e IMC em pacientes de um Centro Médico da cidade de Teresina – PI, identificando a incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D, bem como identificar a resistência insulínica, na mesma população; correlacionar a deficiência, insuficiência de vitamina D com a resistência insulínica, Idade, Gênero e IMC. 2 METODOLOGIA O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial e também à Comissão de Ética da Instituição na qual a pesquisa foi realizada. O projeto foi submetido à Plataforma Brasil em 10 de maio de 2016 com o protocolo de número 54412716.1.0000.5211. Página 116 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 A execução da pesquisa foi feita de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que define as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo principalmente seres humanos. Foram solicitadas as devidas autorizações através do termo de consentimento institucional e assinatura do Termo de Fiel Depositário pelo responsável. Trata-se de um estudo transversal, prospectivo, observacional, de caráter descritivo com abordagem quantitativa (Níveis de vitamina D, Níveis de Insulina, Glicemia de Jejum, Idade, Gênero, IMC e Índice de HOMA), para determinar a suficiência, deficiência e insuficiência de vitamina D além da resistência insulínica em pacientes atendidos em um serviço de ambulatório privado da cidade de Teresina - PI. O estudo foi realizado com 99 (noventa e nove) pacientes de um Centro Médico Ambulatorial na cidade de Teresina – PI. Os critérios de inclusão foram: ser pacientes, de ambos os gêneros, atendidos no referido Centro Médico; pacientes que tinham planos de Saúde. Critérios de exclusão: pacientes que fazem reposição de vitamina D, em uso de medicações hipoglicemiantes e/ou que possuem patologias que alterem o metabolismo da mesma (insuficiência renal ou insuficiência hepática já em tratamento), Diabetes tipo I e II. A coleta de dados foi realizada por único pesquisador, durante o período de agosto de 2015 a maio de 2016, no qual foram avaliados através de dados coletados de prontuários que mostraram exames realizdos em laboratórios da cidade de Teresina – PI. Não houve distinção de gênero, raça, idade e/ou outro parâmetro e os pacientes foram distribuídos, foram anotados os seguintes parâmetros como gênero, idade e os níveis de 25 hidroxivitamina D3, Níveis de Glicemia de Jejum e Níveis de Insulina em Jejum. Foi realizado avaliação da resistência insulínica através do modelo HOMA-IR (Homeostasis Model Assessment – Insulin Resistance) e a classificação de vitamina D em suficiência, deficiência e insuficiência segundo escala de Holick. Após coletados, os dados foram organizados em uma tabela do Excel, 2007 em seguida analisados através do programa estatístico SPSS 13.0 para Windows e posteriormente os resultados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas. Os dados foram coletados por meio do resultado das amostras de sangue de cada paciente. Todos os participantes tiveram seus nomes substituídos por números para que assim a pesquisa se tornasse mais segura quanto ao risco de exposição dos participantes. Eem seguida foram analisados e organizados em uma tabela contendo as variáveis: idade, gênero, IMC, e por fim foram correlacionados quanto à escala de Holick (deficiência, suficiência ou insuficiência). A literatura atual mostra que o índice de HOMA, é o método mais aceito para diagnosticar resistência insulínica. Este critério consiste na fórmula (glicemia de jejum mg/dL X insulina de jejum mUI/mL/405). Apesar de muitas variações, aceita-se como resistência insulínica valores acima de 1,7, sendo considerados sem resistência insulínica os valores abaixo de 1,7. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a análise dos dados obtidos em prontuários de pacientes de um centro médico da cidade de Teresina-PI, foram selecionados uma amostra total de 99 pacientes, e coletados dados sobre idade, gênero, IMC, níveis de vitamina D, glicemia de jejum e insulina. A média de idade foi 47 ± 9,81 anos, a do IMC foi 28,7 ± 5,2 Kg/m², a dos níveis de vitamina D foi 31,31 ± 18,4 ng/dL, a de glicemia foi 84,5 ± 10,9 mg/dL. Já a média dos níveis de insulina de jejum foi 13,9 ± 13,1 mUI/ml. Tabela 1 - Médias de idade, gênero, IMC, níveis de vitamina D, glicemia de jejum e insulina N Válido Ausente Níveis de Vit D 99 0 Glicemia Jejum 99 0 Idade 99 0 Insulina Jejum 99 0 IMC 99 0 Página 117 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Média Desvio Padrão Percentis 25 50 75 31,3182 18,49722 21,3000 28,0000 35,4000 84,562 10,9234 77,000 83,000 92,000 47,11 9,814 37,00 46,00 53,00 13,9742 13,12101 6,6000 9,8000 15,7000 28,728 5,2814 24,600 27,900 31,600 Fonte: dados da pesquisa (2016). Os dados da Figura 1 mostram a classificação da amostra quanto ao gênero. De um total de 99 indivíduos analisados, 51,52% (n=50) eram do gênero masculino e 48,48% (n=49) do gênero feminino, o que demonstrou uma equidade na amostra quanto a variável analisada. Os cálculos estatísticos mostraram que não houve correlação estatisticamente significativa entre a idade e os níveis de vitamina D (dados não mostrados). Figura 1 - Classificação quanto ao gênero dos participantes Fonte: dados da pesquisa (2016). O risco de desenvolver diabetes é aumentado mesmo com níveis de glicemia de jejum considerados normais. Estudos relataram que, em um grupo de jovens israelenses, o risco de diabetes incidente aumentou progressivamente com uma glicemia de jejum plasmática ≥ 85 mg/dl comparada com uma glicemia de jejum < 80 mg/dl (QUARLES, 2008). Matthews (2001), discutiu sobre a manutenção da glicemia normal, na qual a mesma depende principalmente da capacidade funcional das células-ᵝ pancreáticas (BcC) quanto a sua sensibilidade tecidual à ação da insulina (SI) e em secretar insulina. A disfunção das células-b e a resistência insulínica (RI) são anormalidades metabólicas, o que evidencia uma forte inter-relação aos casos descritos na etiologia do diabetes melito do tipo 2. A Figura 2 aponta os níveis de vitamina D devidamente classificados quanto à escala segundo Holick. Baseado nesta referência proposta, 39,39% (n=39) dos pesquisados obtiveram os níveis de vitamina D considerados suficientes (> 30 ng/ml), sendo que 39,39% (n=39) apresentaram níveis insuficientes de vitamina D (entre 21-29 ng/ml) e 21,21% (n=21) estão com seus níveis de vitamina D deficientes (< 20 ng/ml). Página 118 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura02 - Níveis de vitamina D de acordo com a escala de Holick Fonte: dados da pesquisa (2016). Segundo Holick et al. (2011, este resultado mostrou-se compatível com a literatura, que existe uma epidemia de deficiência e insuficiência de vitamina D a nível mundial. Baseado nos dados gerais que a população do estudo nos mostra, os indivíduos envolvidos não estão com níveis de vitamina D satisfatórios, o que pode ser um fator prejudicial para a saúde dos mesmos. Desta forma, de acordo com os resultados obtidos, verificou-se uma grande incidência tanto de deficiência como de insuficiência de vitamina D na amostra estudada no Centro Médico em Teresina-PI. Mesmo com as diferentes intensidades de radiações ultravioletas na cidade, os dados estão de acordo com a tendência brasileira, que é praticamente a mesma em todas as regiões. Segundo Saraiva et al. (2007), um estudo realizado, com idosos, na cidade de São Paulo, demonstrou que concentrações inadequadas de vitamina D foram encontradas em uma amostra de 43,8% da população envolvida no estudo. Portanto, apesar de os raios solares se fazerem presentes em praticamente todas as estações do ano e de maneira mais vertical, a cidade de Teresina possui uma localização onde os dados apontam que há um considerável índice de deficiência e insuficiência de vitamina D o que caracteriza uma hipovitaminose D na maioria dos envolvidos no estudo. Pode-se pressupor que a população seria mais propensa a se proteger, permanecendo a maior parte do tempo em ambientes protegidos, devido as altas temperaturas e a incidência de raios solares na maior parte do ano em Teresina. Os dados da Figura 3 mostram a distribuição dos pacientes quanto ao índice HOMA. De acordo com eles, 62,63% (n=62) apresentaram índice HOMA >1,7, sendo portanto classificados com resistência insulínica enquanto que 37,37%(n=37) aprestaram índice HOMA < 1,7, sendo classificados como sem resistência insulínica. Portanto houve um predomínio de Rrsistencia insulínica segundo este critério. Página 119 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 3 - Níveis de resistência insulínica do subgrupo A e subgrupo B, segundo os critérios de HOMA Fonte: dados da pesquisa (2016). A resistência à insulina, embora francamente estudada e reconhecida, ainda não dispõe de um método de investigação laboratorial que preencha todos os critérios para que seja universalmente aceita e utilizada. O método ideal de investigação da RI deveria preencher os seguintes critérios: valores obtidos com razoável esforço, em um tempo limitado e com um risco mínimo para o paciente, medida suficientemente precisa para comparar a RI entre indivíduos, medida podendo ser obtida independentemente da glicemia na qual está sendo obtidos (hipoglicemia, normoglicemia ou hiperglicemia), dados obtidos dentro da faixa fisiológica de ação insulínica, possibilidade de insight sobre os mecanismos celulares responsáveis pela sensibilidade insulínica, baixo custo e possibilidade de aplicação clínica. Por se aplicar mais facilmente, o índice de HOMA-IR (Homeostasis Model Assessment of Insulin Resistance), é uma das alternativas para a avaliação da RI nos estudos epidemiológicos e por apresentar correlação forte com o clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico (VASQUES et al., 2008). Analisados juntos, os dados demonstram, uma alta incidência de deficiência e insuficiência de vitamina D e uma alta incidência de resistência insulínica avaliada pelo índice de HOMA. Isto levou a sugerir uma correlação entre estas variáveis. O índice HOMA relaciona níveis de glicemia e Insulina em jejum e quanto maior forem os valores destes, maior será o HOMA. Portanto, quanto maior for o valor de insulina maior será o valor do HOMA que demonstrará aumento da resistência insulínica. A Figura 4 compara a classificação dos níveis de vitamina D (deficiência, insuficiência e suficiência) correlacionados com a insulina de jejum dos indivíduos pesquisados. Assim, analisando os dados da Figura, estes mostraram que há uma tendência a um aumento dos níveis de Insulina no nosso corpo à medida que os níveis de vitamina D diminuem. No entanto, não houve uma correlação estatisticamente significativa entre essas variáveis, baseado no Test t de student que demonstrou um (p>0,05). Isto sugere que a vitamina D possa estar relacionada com a ação insulínica. Porém mais estudos fazem-se necessários para melhor elucidar tal correlação. Talvez uma amostra maior e com mais variáveis tais como estilo de vida, composição corporal, possa esclarecer tal relação. Página 120 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 4 - Níveis de deficiência, insuficiência e suficiência de vitamina D³, relacionados a resistência insulínica Fonte: dados da pesquisa (2016). Essa tendência observada está de acordo com um estudo publicado por Schuch, Garcia e Martini (2009) mostrando que a hipovitaminose D nos indivíduos com IMC aumentados não seria apenas consequência da menor exposição solar, mas também pelo fato dos depósitos de vitamina D concentrarem nos adipócitos, diminuindo, assim, a sua biodisponibilidade. Os dados da Figura 5 mostram a correlação da resistência insulínica através do índice HOMA e a deficiência, insuficiência e suficiência de vitamina D, mostram também que que há um predomínio de resistência insulínica na deficiência e insuficiência de vitamina D. Pacientes com deficiência apresentaram 22,58% (resistência insulínica), enquanto 18,92% (sem resistência insulínica); já os pacientes que apresentaram níveis insuficientes de vitamina D, apresentaram 41,94% (resistência insulínica) e 35,14%(sem resistência insulínica); nos pacientes com suficiência desta vitamina houve um predomínio de paciente (sem resistência insulínica) 45,95%, enquanto que 35,48% apresentaram (resistência insulínica). No entanto os cálculos não apresentara correlação estatisticamente significativa (p>0,05). Página 121 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 5 - Classificação dos Níveis de Vitamina D³ (deficiência, insuficiência e suficiência), relacionados à Resistência Insulínica Fonte: dados da pesquisa (2016). O índice HOMA, mais conhecido como Modelo de Avaliação da Homeostase, representa uma das alternativas à técnica de clampe para avaliação da RI e da capacidade funcional das célulasb pancreáticas. Fornece uma medida indireta da RI ao avaliar, em condições de homeostase e jejum, a insulina endógena e a glicemia. Durante as últimas décadas, métodos alternativos para a avaliação da RI e da BcC (capacidade funcional das células-b pancreáticas) têm sido propostos. Portanto este método vem sendo amplamente utilizado, principalmente, em estudos envolvendo um grande número de participantes, por ser um método de fácil aplicação, rápido e de menor custo (BONORA et al., 2007). A Figura 6 compara a classificação dos níveis de vitamina D correlacionados com o gênero dos indivíduos pesquisados. Os dados mostraram que indivíduos do gênero masculino apresentaram maior percentual de suficiência (45,1%) do que os gênero feminino (45,1% contra 33%, respectivamente). Já os indivíduos do gênero feminino apresentaram um maior número de insuficiência de vitamina D 43,75%, enquanto os do gênero masculino 35,29%. Os níveis de deficiência de vitamina D também mostraram que o gênero feminino apresenta 22,92%, enquanto os do gênero masculino 19,61%, embora os dados não tenham sido estatisticamente significativos. Página 122 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 6 - Níveis de vitamina D (deficiência, insuficiência e suficiência) correlacionados com o gênero Fonte: dados da pesquisa (2016). Um estudo, realizado por Diniz et al. (2012), mostrou que, relativamente, os indivíduos do gênero feminino apresentaram hipovitaminose D. Outro estudo realizado por Saraiva et al. (2007), mostrou que os resultados encontram-se de acordo com a afirmativa de que o gênero feminino apresenta uma maior tendência a valores de níveis séricos de vitamina D mais baixos. Talvez, exista uma correlação quanto aos dados deste estudo, que possam ser justificados pela maioria das mulheres sofrer menos exposição ao sol, quando comparados aos indivíduos do gênero masculino, uma vez que estas possuem hábitos mais frequentes de cuidados com a exposição e passam boa parte do tempo protegidas dos raios solares. Alguns questionamentos são importantes destacar, pois não foi aplicado nenhum inquérito quanto ao local de trabalho, alimentação, tempo de exposição solar e uso de protetores solares, fator esse que se apresenta de grande importância na influência sobre os níveis de vitamina D no corpo. 4 CONCLUSÃO Os resultados obtidos no presente estudo apontaram que existe uma alta incidência nos níveis de insuficiência e deficiência de vitamina D na amostra estudada na cidade de Teresina-PI, bem como que a resistência insulínica avaliada pelo HOMA se evidenciou com um grau de incidência alto. Outro dado de relevância acerca do tema, chama atenção para a questão de gênero e suas implicações, aqui diferencialmente apresentadas, entre gênero masculino e feminino. Isso se confirmou, pois ao analisar os dados coletados do gênero feminino conclui-se que houve uma maior insuficiência e deficiência de vitamina D, contrariamente ao gênero masculino, que apresentou suficiência desta, evidenciando, pois a correlação antagônica entre os gêneros nos dados aqui coletados. Diante desses resultados foi possível observar também que não houve uma correlação estatisticamente significativa entre os níveis de vitamina D e a resistência insulínica avaliada pelo HOMA, o que implica dizer que foram evidenciados dados que apontam que houve somente uma tendência entre os níveis de resistência insulínica e a deficiência e insuficiência de vitamina D. Deste modo, conclui-se que dentre os pacientes estudados, os que possuem deficiência e insuficiência de vitamina D, apresentaram também resistência insulínica. Destarte, é necessário ressaltar que embora essa tendência tenha se evidenciado nas amostras aqui estudadas, não descartaPágina 123 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 se a necessidade de maiores estudos e com uma amostra maior de pacientes para que se obtenha uma análise mais ampla dos dados. REFERÊNCIAS AZOURY, M. et al. Effects of a short-term calcium and vitamin D treatment on serum cytokines, bone markers, insulin and lipid concentrations in healthy postmenopausal women. J Endocrinol Invest., n. 26, v.8, p.748-53, 2003. BARENGOLTS, E. Vitamin D and use for pre-diabetes. Endocr Pract., n. 16, p. 476-485, 2010. BELL, D. S. 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Página 125 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ATRAVÉS DE BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA TETRAPOLAR BODY COMPOSITION OF EDUCATION PROFESSIONAL THROUGH TETRAPOLAR ELECTRIC BIOIMPENDENCE Aldinês de Sousa Almeida1 , Jonas Moura de Araújo2 RESUMO O papel da avaliação da composição corporal tem recebido importância cada vez maior devido ao impacto que as alterações dos componentes corporais provocam na saúde humana. O presente estudo trata-se de pesquisa de abordagem quantitativa, de caráter exploratório e descritivo. A amostra foi composta por 24 funcionários com maiores de 18 anos de uma instituição privada de ensino superior (12 professores e 12 servidores administrativos). Para coleta de dados utilizou-se uma ficha com dados pessoais, antropométricos, percentual de gordura corporal, dentre outros, com o objetivo de analisar a composição corporal de profissionais da área da educação através da técnica de bioimpedância elétrica. Buscou-se também classificar e mensurar o peso, altura, IMC, massa magra corporal, massa gorda corporal e percentual de gordura e realizar análise comparativa dos dados entre os profissionais professores com os servidores administrativos da mesma instituição. Verificou-se que 58,33% dos professores eram do gênero masculino e 41,67% feminino, enquanto 50% dos servidores administrativos eram do gênero masculino e 50% feminino. Metade dos professores apresentaram IMC dentro da normalidade, 33,3% com sobrepeso e 16,7% com baixo peso, enquanto 66,7% dos servidores administrativos apresentaram IMC dentro da normalidade, 25% sobrepeso e 8,3% obesidade. Com relação ao percentual de gordura, 66,7% dos professores mostraram excesso e 33,3% estavam normais. Dos servidores administrativos 58,3% estavam em excesso e 41,7% normais. Comparando os dois grupos pesquisados com relação à média do IMC, altura, peso corporal, massa magra, massa gorda, percentual de gordura e gordura abdominal, os dados apresentaram médias muito próximas Palavras chave: Composição corporal. Bioimpedância elétrica. Gordura corporal. ABSCTRACT The role of body composition assessment has received increasing importance due to the impact that the alterations of body components cause in human health. This study deals with a quantitative approach research, and with an exploratory and descriptive character. The sample consisted of 24 employees over the age of 18 in a private institution of higher education (12 professors and 12 administrative staff). For data collection was used an anamnesis form with personal data, anthropometric (weight, height), body fat percentage (BF%), among others, with the aim of analyzing the body composition of professionals in the field of education through bioelectrical impedance technique. It sought to classifying and measuring weight, height, BMI, lean body mass, body fat mass and percentage fat and perform comparative analysis of data among professional professors with _____________________ 1 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), Teresina, Piauí. E-mail: [email protected]. Professor do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (DeVryFACID), Mestre em Farmacologia, Teresina, Piauí. Email: [email protected] 2 Página 126 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 administrative staff from the same institution. It was found that 58.33% of professors were male and 41.67% female, while 50% of the administrative staff were male and 50% female. Half of the professors had normal BMIs, 33.3% were overweight and 16.7% underweight, while 66.7% of the administrative staff had BMI within the normal range, 25% were overweight and 8.3% obese. With respect to the percentage of fat, 66.7% of the professors have shown been overweight and 33.3% were normal. The administrative servers were 58.3% overweight and 41.7% were normal. Comparing the two groups surveyed in relation to the mean BMI, height, body weight, lean mass, fat mass, fat percentage and abdominal fat, the data have very close averages. Key words: Body composition. Electric bioimpendance. Body fat. INTRODUÇÃO O papel da avaliação da composição corporal tem recebido importância cada vez maior devido ao impacto que as alterações dos componentes corporais provocam na saúde humana. A gordura corporal em excesso tem participação direta no surgimento de várias doenças e o tratamento desses agravos determina elevados custos financeiros para o sistema de saúde, além de causar danos à qualidade de vida da população atingida (BAHIA; ARAÚJO, 2014). Indivíduos com elevado índice de massa corporal (IMC) estão mais propensos a desenvolver hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, doença coronária, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, acidente vascular encefálico, asma, doença biliar, câncer de mama, colorretal, renal, prostático, ovariano, endometrial, pancreático e esofágico (GUH et al., 2009). Além do IMC, existem outros métodos comumente utilizados na avaliação da composição corporal em nível populacional. Dentre eles a Bioimpedância Elétrica (BIA) é um método que se caracteriza por não ser invasivo, rápido na aquisição das informações, prático, baixo custo, não é operador dependente e avalia a composição, com ênfase no cálculo da massa magra, massa gorda, o que lhe proporciona vantagens adicionais sobre os outros métodos (EICKEMBERG et al., 2011) Essa técnica fundamenta-se no princípio de que os tecidos corporais oferecem diferentes oposições à passagem da corrente elétrica. Através das medidas da impedância, resistência e reactância dos tecidos, é possível discriminar a composição corporal de um indivíduo (KYLE et al., 2004). A informação sobre a composição corporal é de grande interesse em relação à regulação energética, hidratação, podendo variar em virtude de influências biológicas como idade, sexo e estado de saúde (WILMORE; COSTILL, 2010). Sabe-se que indivíduos fisicamente ativos e atletas possuem maior conteúdo mineral ósseo, densidade mineral óssea e tecido muscular esquelético (CARBUHN et al., 2010). Dessa forma, estilos de vida inadequados decorrentes do exercício profissional, da má alimentação, da ausência da prática de exercício físicos em virtude da jornada de trabalho, favorecem ao sobrepeso e à obesidade. Este estudo teve como problema de pesquisa se os profissionais da área da educação possuem níveis inadequados de composição corporal e excesso de peso. Justifica-se este estudo a partir da importância de avaliar a composição corporal dos indivíduos, em virtude da relação existente entre o excesso de gordura e a distribuição da gordura corporal com o surgimento de doenças como o diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, câncer, entre outras, associado à influência que algumas profissões podem ter no acúmulo excessivo de gordura corporal em decorrência de variações no gasto energético inerentes à própria atividade laboral, ao estresse diário e à jornada de trabalho cumprida pelos diferentes tipos de profissionais. O estudo teve como objetivo geral analisar a composição corporal de profissionais da área da educação em uma instituição de ensino superior, através da técnica de bioimpedância elétrica tetrapolar. Os objetivos específicos foram: determinar a composição corporal entre as diferentes classes profissionais (professores e servidores); classificar e mensurar o peso, altura, IMC, massa Página 127 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 magra corporal, massa gorda corporal e percentual de gordura; realizar análise comparativa dos dados entre os profissionais professores com os demais profissionais desta mesma instituição. Como os profissionais avaliados costumam desempenhar atividades com menor nível de gasto energético, foi esperado que eles apresentassem maior nível de gordura corporal. 2 METODOLOGIA Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (DeVry FACID), sendo aprovado em conformidade às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos propostos na Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados foi iniciada após autorização da instituição campo da pesquisa, mediante declaração garantindo aos pesquisadores acesso às dependências. O termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), contendo todas as informações referentes à pesquisa realizada, foi oferecido a cada participante voluntário. Os participantes do estudo foram submetidos a riscos mínimos de possível constrangimento diante da solicitação à participação da pesquisa, assim como a ideias negativas referentes ao sigilo das informações registradas na ficha de análise de dados a ser utilizado pelo pesquisador durante a consulta. No entanto, estes eventos foram minimizados através de informações detalhadas sobre as dúvidas referentes a cada quesito no início da avaliação, além da garantia de sigilo absoluto dos dados obtidos. Trata-se de um estudo de campo que visa descrever características de uma população ou problema e utilizou-se de ficha de análise de dados e observação sistemática. A presente pesquisa foi um estudo de abordagem quantitativa, de caráter exploratório e descritivo. A análise foi elaborada a partir de dados adquiridos durante a avaliação da composição corporal dos indivíduos envolvidos no estudo. O tamanho da amostra foi de 24 indivíduos, divididos em dois grupos. O grupo 1 foi constituído por professores escolhidos em uma amostra espontânea e o grupo 2 por funcionários da Faculdade, através de coleta espontânea e aleatória. Porem foram feitas 43 coletas, sendo que, para efeito de comparação, foram excluídas 19 amostras escolhidas aleatoriamente, para que se fizesse uma comparação equitativa entre os dois grupos. Foram incluídos nesse estudo os funcionários da Faculdade acima referida (professores e servidores administrativos), maiores de 18 anos, de ambos os sexos. Foram excluídos indivíduos sabidamente portadores de insuficiência cardíaca, renal ou hepática ou outra condição que poderia interferir na coleta de dados, segundo as recomendações da Sociedade Européia de Nutrição Enteral e Parenteral (KYLE et al., 2004). Além de indivíduos que utilizaram bebidas alcoólicas, bem como os que realizaram atividades físicas no dia do exame. A estimativa da composição corporal foi feita com a utilização de um único aparelho bioimpedância tetrapolar, modelo In Body R20, que calculou os dados baseados na resistência e reactância corporal oferecida pelos diferentes tecidos corporais durante o exame, fornecendo dados como IMC, massa magra corporal, massa gorda corporal, massa de músculo esquelético, percentual de gordura, água corporal total, relação cintura-quadril e taxa de metabolismo basal. Os cálculos também foram feitos levando-se em conta o peso, a idade e altura dos indivíduos que foram obtidos através de uma ficha desenvolvido pelos pesquisadores. Os dados referentes à profissão, o gênero, se fazia o uso do tabaco, se consumiam bebidas alcoólicas foram coletados através de ficha de coleta de dados. As medidas de bioimpedância foram executadas seguindo as recomendações da Sociedade Européia de Nutrição Enteral e Parenteral (KYLE et al., 2004): o aparelho devidamente calibrado, os eletrodos conservados em sacos fechados, protegidos do calor. O exame foi executado em um mesmo local, somente pelo pesquisador e supervisionado pelo técnico no exame, com os indivíduos em posição supina, se colocando em uma mesma posição, em um mesmo turno da tarde. Os indivíduos Página 128 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 foram orientados a esvaziar a bexiga antes do exame. A distribuição e normalidade dos resultados foram calculadas com o teste Kolmogorov-Smirnov para análise de variância. Os dados foram coletados no mês de fevereiro de 2016. Nesse estudo, a avaliação da composição corporal foi descrita a partir da coleta dos dados obtidos através da bioimpedância tetrapolar, como massa magra, massa gorda, percentual de gordura, dados pessoais de peso, altura, IMC, se etilista e se tabagista, classificação do IMC e classificação do percentual de gordura. A classificação do IMC foi de acordo com a norma Diretriz da Abeso 2009/2010, que classifica os indivíduos como: Abaixo do peso se IMC< 18,5 kg/m2; Peso normal se 18,5 > IMC < 25; Excesso de peso ou sobrepeso se 25 > IMC< 29,9; obesidade se IMC > 30 kg/m2. O percentual de gordura foi considerado de acordo com a Associação Brasileira de Nutrologia e Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, onde classificou-se da seguinte maneira: percentual de gordura normal menor que 20% para homens e menor que 24 % para mulheres. Valores acima disto foram considerados excesso de gordura corporal. Os dados foram registrados em uma ficha de coleta de dados. Após coleta, os dados foram agrupados em frequências absolutas e relativas, em medidas de tendência central, como média e desvio-padrão, através do software Microsoft Excel 2010 e organizados em gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Este estudo compreendeu a análise da composição corporal de profissionais da área da educação em uma instituição de ensino particular, em Teresina. Foram analisadas 24 pessoas, sendo 12 (50%) professores e 12 (50%) servidores administrativos, que preencheram os critérios de inclusão e exclusão. A idade dos professores variou de 27 a 68 anos e dos servidores, de 18 a 49 anos. Entre os professores, 58,33% eram do gênero masculino, enquanto 41,67% eram do gênero feminino (Figura 1). Já entre os servidores administrativos, 50% eram do gênero feminino e 50% do gênero masculino (Figura 2). Figura 1 – Distribuição dos professores avaliados segundo gênero, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 129 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 2 – Distribuição dos servidores administrativos avaliados segundo gênero, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Com relação ao consumo de álcool, 33,3% dos professores e 41,7% dos servidores administrativos eram etilistas, enquanto 66,7% dos professores e 58,3% dos servidores não consumiam álcool (Figura 3). O etanol é uma fonte energética intermediária em relação às proteínas e aos carboidratos, fornecendo 7,1 kcal/g calorias em seu metabolismo, enquanto proteínas e carboidratos fornecem 4,0 kcal/g e os lipídios 9,0 kcal/g. Fatores como o estado nutricional, a frequência e modo de consumo irão definir como o organismo do indivíduo irá aproveitar a energia fornecida pelas bebidas alcoólicas. Sendo assim, indivíduos com consumo moderado de álcool podem tornar-se obesos ou com sobrepeso, e etilistas crônicos podem tornar-se desnutridos. Lahti-Koski et al. (2000) observaram associação positiva entre o alto consumo de bebida alcoólica com IMC. Os que consumiam a partir de 80ml de bebida alcoólica por dia apresentaram maior relação cintura/quadril do que aqueles com consumo de bebida alcoólica menor que 80 ml por dia. O consumo de no mínimo 30g de etanol/dia já afeta o metabolismo do ser humano, alterando a homeostosase energética, aumentando o apetite e provocando ganho de peso corporal. Figura 3 – Distribuição dos professores e servidores administrativos avaliados segundo consumo de álcool, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 130 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 No estudo de Tolstrup et al. (2005), foi observado que a frequência de consumo de bebidas alcoólicas teve maior associação com o aumento da circunferência da cintura do que a quantidade ingerida de álcool. Além das calorias provindas do consumo, a ingestão de bebidas alcoólicas influencia no aumento da secreção de cortisol que, por sua vez, está relacionado ao acúmulo de gordura abdominal. Todos os professores avaliados não eram tabagistas, assim como a maioria dos servidores administrativos (91,7%) também negaram o uso de tabaco, e apenas 8,3% dos servidores eram fumantes (Figura 4). De acordo com Chatkin e Chatkin (2007), é comum que tabagistas apresentem menores índices de massa corporal, quando comparados a não fumantes. Além disso, já foi observada uma significativa relação inversa entre o uso regular de tabaco e o peso corporal, sendo que este tende a ser menor entre os fumantes quando comparados aos não fumantes. Figura 4 – Distribuição dos professores e servidores administrativos avaliados segundo consumo de tabaco, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Os dados da Tabela 1 mostram as médias dos dois grupos pesquisados com base nos parâmetros estudados como IMC, altura, peso corporal, massa magra, massa gorda, percentual de gordura e gordura abdominal. Os referidos dados apresentaram médias muito próximas quando se comparou professores com funcionários. Tabela 1 – Médias de IMC, altura, peso corporal, massa magra, massa gorda, percentual de gordura e gordura abdominal dos professores e servidores administrativos, Teresina-PI, 2016 Função N Erro padrão da média Média Professor 12 23,82 1,10 Funcionário 12 24,44 1,09 Professor 12 1,66 0,02 Funcionário 12 1,64 0,02 Professor 12 66,37 4,41 Funcionário 12 65,47 2,28 IMC (kg/m²) Altura (m) Peso (kg) Página 131 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Professor 12 26,77 2,07 Funcionário 12 26,88 1,32 Professor 12 18,10 2,23 Funcionário 12 17,22 2,28 Professor 12 26,85 2,64 Funcionário 12 25,90 3,04 Professor 12 9,44 1,31 Funcionário 12 8,87 1,29 Massa magra (kg) Massa Gorda (kg) Percentual de gordura (%) Gordura abdominal (kg) Fonte: dados da pesquisa (2016). A média do IMC de ambos os grupos estavam dentro da normalidade, os professores com media 23,82 e servidores administrativos com 24,44. A OMS utiliza os pontos de corte no IMC de 18,5 e 25 para definir, respectivamente, os indivíduos em baixo, médio e elevado risco de morbidades (ABESO, 2009). De acordo com a Associação Brasileira de Nutrologia e Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, o percentual de gordura normal varia de 16 a 20% para homens e mulheres de 20 a 24 %. Nesse estudo, tanto professores quanto servidores administrativos apresentaram média superiores ao valor considerado normal. Os professores obtiveram media de 26,85 de percentual de gordura e 9,44 de gordura abdominal, enquanto os servidores administrativos tiveram media de 25,90 para percentual de gordura e 8,87 para gordura abdominal. Segundo Kaplowitz (2008), o uso do IMC como único parâmetro para avaliação do excesso de gordura corporal em meninos e meninas pode levar a uma má interpretação, pois a relação entre IMC e gordura corporal é menor em meninos do que em meninas. Durante a puberdade o aumento da massa muscular relacionada ao efeito anabólico do aumento dos níveis de testosterona nos meninos pode causar um aumento de peso e do IMC independente do aumento da gordura corporal. Nesse estudo o IMC também não pôde ser considerado um parâmetro seguro, pois apesar de uma maior porcentagem dos profissionais ter apresentado IMC normal, seu percentual de gordura encontrou-se elevado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1997), a classificação do IMC compreende <18,5 baixo peso, entre 18,5 - 24,9 normal, de 25-29,9 sobrepeso e acima de 30 obesidade. Como mostra a Figura 5, metade dos professores apresentaram IMC dentro da normalidade, 33,3% com sobrepeso e 16,7% com baixo peso. Um maior número de servidores administrativos apresentou IMC normal (66,7%), 25% sobrepeso e 8,3% obesidade. Esses dados foram condizentes com o estudo de Silva et al. (2007), que observaram em seu estudo a prevalência de excesso de peso (classificada pelo IMC) em 30,5% de sua amostra. Esses dados são preocupantes, devido à significante associação entre a adiposidade corporal elevada e doenças metabólicas e cardiovasculares, como diabetes e hipertensão e a associação entre sobrepeso e obesidade com a mortalidade do indivíduo Gigante (1997), encontrou 21% de obesidade e de 40% de sobrepeso na população adulta do sul do pai. Em estudo realizado por Ell (1999), foi encontrado 6,4% de obesidade e 27,8% de sobrepeso. Através desses estudos é possível observar uma inversão nas prevalências de sobrepeso/obesidade e baixo peso nas últimas décadas. Página 132 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Figura 5 – Distribuição dos professores e servidores administrativos avaliados segundo IMC, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Com relação ao percentual de gordura (Figura 6), na classe dos professores 66,7% mostrou excesso e 33,3% estavam normais. Dos servidores administrativos 58,3% estavam em excesso e 41,7% normais. Esse elevado percentual de gordura pode acarretar futuramente no surgimento de inúmeras outras doenças crônicas não transmissíveis, ficando assim evidente a importância de investigar quais os motivos desse elevado percentual, seja pela falta de atividade física ou pela alimentação inadequada dos profissionais estudados. No estudo de Glaner (2005), 320 moças (46,12%) e 207 rapazes (28,87%) apresentaram gordura acima do recomendado, porém o IMC classificou-os dentro do padrão ideal. Diante disso, é evidente a limitação do IMC como parâmetro para verificação do nível de gordura corporal adequado em relação à saúde, já que um indivíduo com IMC normal pode apresentar nível de gordura corporal excessivo, ou apresentar um IMC abaixo do ideal enquanto a quantidade de gordura corporal é classificada como normal. Figura 6 – Distribuição dos professores e servidores administrativos avaliados segundo percentual de gordura, Teresina-PI, 2016 Fonte: dados da pesquisa (2016). Página 133 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 A rotina de trabalho de professores e servidores administrativos não costuma incluir atividades que exijam elevado esforço físico, caracterizando essas profissões como sedentárias. Isso colabora para o aumento de peso e gordura corporal, provocando um maior risco de obesidade e doenças cardiovasculares. Diversos estudos mostram que essas profissões apresentam muitos indivíduos acima do peso. No estudo de Oliveira et al. (2011) foi verificado que 51,04% dos professores de uma universidade pública de Minas Gerais estavam com excesso de peso. Segundo Berria et al. (2013), entre os servidores de uma universidade pública do distrito Federal, mais da metade (63,60%) dos homens e 49,70% das mulheres encontravam-se acima do peso. Diante desses dados, é evidente a relação entre as profissões incluídas nesse estudo e o aumento de peso e gordura corporal. 4 CONCLUSÃO A maioria dos professores e funcionários apresentaram IMC dentro da normalidade. Porém, quando se analisou o percentual de gordura tanto os professores quanto os servidores administrativos, demonstraram um excesso. Não houve diferença estatística entre percentual de gordura e IMC dos professores e servidores administrativos. É importante lembrar que o IMC, embora seja um método de fácil aplicação, pode provocar uma interpretação equivocada, pois em grupos como atletas a massa muscular pode superestimar os valores, enquanto em pessoas sedentárias o IMC pode estar dentro da normalidade mesmo com um elevado percentual de gordura. Assim, para melhor análise, o IMC deve ser associado a outro método, como por exemplo, a bioimpedância, para que os valores de massa corporal sejam quantificados e as medidas para otimizar a saúde do indivíduo sejam realizadas corretamente. REFERÊNCIAS BAHIA, L. R.; ARAÚJO, D. V. Impacto econômico da obesidade no Brasil. Revista HUPE, v.13, n. 1, p.13-17, jan/mar, 2014. BERRIA, J et al. Excesso de peso, obesidade abdominal e fatores associados em servidores de uma Universidade Federal Brasileira. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v. 15, n. 5, p. 535550, 2013. CARBUHN, A. F., et al. Sport and traininig influence bone and body composition in women collegiate athletes. 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Jul/Ago, 2005. GUH, D. P., et al. The incidence of co-morbidities related to obesity and overweight: A systematic review and meta-analysis. BMC Public Health, v. 9, n. 88, 2009. KAPLOWITZ, P. Link Between Body Fat and the Timing of Puberty. Pediatrics, v. 121, n. 3, p. 5208- 17, 2008. KYLE U.G., et al. Bioelectrical impedance analysis - part I: review of principles and methods. Clinical Nutrition, v. 23, p. 1226-46, 2004. LAHTI-KOSKI, M, et al. Trends in waist-to-hip ratio and its determinants in adults in Finland from 1987 to 1997. Am J Clin Nutr, v. 72, n. 6, p. 1436-44, dec, 2000. OLIVEIRA, R. A. R. et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade em professores da Universidade Federal de Viçosa. Fisioter Mov., v. 24, n. 4, p. 603-12, out/dez, 2011. SILVA, A. B. et al. Avaliação do perfil dos freqüentadores de academia do plano piloto profile evaluation of gymnastic academies users in brasília. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. 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Página 135 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 136 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 NORMAS EDITORIAIS Página 137 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Página 138 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica e técnica dos professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial, bem como de profissionais da comunidade. A Revista tem periodicidade semestral e está aberta à publicação de trabalhos na forma de ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar sobre temas nas áreas da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Sociais, Tecnologia, dentre outros, fomentando a análise e reflexão de idéias, experiências e resultados de pesquisas, experiências de vida e manifestações artísticoculturais, contribuindo para o desenvolvimento científico e cultural do País. ARTIGOS – Texto que discute um tema investigado para publicação de autoria declarada, que apresenta título em português e em inglês, nome dos autores, resumo e abstract do texto, palavraschave e key-words, introdução, material e métodos, resultados e discussão, conclusão, referências , apêndices e anexos (opcionais). Serão considerados “artigos de revisão” os textos que discutam temas com base em informações já publicadas. Quando se tratar de artigo de revisão esta deverá ser, preferencialmente, do tipo sistemática e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave, abstract, key-words, introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão, e referências. O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas. Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras ou expressões como: “Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras. Apenas a primeira letra da primeira palavra deve ser maiúscula. Título em inglês - Transcrição do título em português. Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem abreviatura, abaixo do título com somente a primeira letra maiúscula, um após outro, separados por vírgula e centralizados. Em nota de rodapé na primeira página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/ vinculação, instituição, cidade e Estado, endereço eletrônico). O número de autores não deverá ser maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma instituição devem ser mencionados em uma única nota, utilizando o sobrescrito correspondente. Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o objetivo, material e métodos, resultados e conclusão em um só parágrafo. O Abstract deve ser a transcrição do resumo. Palavras-chave e key words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco termos para indexação, que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não deverão constar no título. Para a escolha dos termos para indexação (descritores) na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS” , elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br) ou na lista da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http:// nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html). Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado, demonstrando sua importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas no artigo. As citações presentes devem ser atualizadas e pertinentes ao tema, adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para fundamentarem a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão. Não deve conter mais de 550 palavras. Página 139 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser detalhados de modo que possam ser confirmados, incluindo os procedimentos utilizados, universo e amostra. Indicar os testes estatísticos utilizados. As questões éticas devem ser apresentadas nesta sessão. Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados nesta forma não devem ser repetidos no texto. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e figuras devem trazer informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados obtidos, evitando-se hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se relacionar-se aos conhecimentos existentes e aos apresentados por outros estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas de pesquisas. Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes ao objeto de estudo. As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se relacionar os resultados obtidos com as hipóteses apresentadas. Podem ser apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo ou para outros problemas surgidos no desenvolvimento. Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a maioria, preferencialmente, em periódicos dos últimos cinco anos. No caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no máximo 35 citações. Devem incluir todos os autores referenciados no texto. Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o questionário aplicado, termo de consentimento livre e esclarecido, roteiro de entrevistas. É opcional. Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações, retiradas da bibliografia. Ítem opcional. ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se chegou. Pode ser de caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção criadora do autor e pode ser caracterizado como formal, onde a brevidade, serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste tipo de publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o espírito crítico e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de interesse coletivo. Pode ter até 10 (dez) páginas. RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem suscitar no leitor o desejo de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o título da obra, nome completo do autor, editora e ano publicado. Instruções aos Colaboradores 1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua portuguesa, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. 2 Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma correspondência ao Editor solicitando que o texto seja publicado. Uma vez recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para publicação, podendo ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para alterações e/ou correções. 3 O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas, margens superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e abstract o espaçamento deverá ser simples. Página 140 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 4 As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, encabeçadas pelo título, com indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas inseridas devem ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho 12. 5 Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas, algoritmos etc), deve-se numerá-las consecutivamente com algarismos arábicos, com indicação do título na parte superior e da fonte após o seu limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos, fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em que foram citadas pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como: Figura 1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo 300dpi. 6 As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) - formato autor-data. 7 A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo com as normas ABNT – 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço simples entre uma referência e outra). Modelos de referências bibliográficas Livros (um autor) SOARES, L. S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis, 2004. Livros (dois autores) ROCHA, B.; PEREIRA, L. H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001. Livros com mais de três autores POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. Capítulos de livros OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas da bioética brasileira a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética: bioética no Brasil hoje. São Paulo: Gaia, 2006. p.35-50. Artigos de periódicos empressos com mais de três autores PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto e Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 3205, abr/jun. 2007. Teses ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de complexos de cobre(II). 2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Artigo de jornal assinado DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul. 2002. Folha Campinas, p. 2. Página 141 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Artigo de jornal não assinado FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 2002. Cotidiano, p. 2. Artigo de periódico formato eletrônico VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an updates. American Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832, dez. 2007. Disponível em: < www.aafp.org/afp>. Acesso em: 29 de março de 2010. Decretos, Leis BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p. 1435- 1436, 27. jan. 1997. Seção 1. Constituição Federal BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Trabalho publicado em Anais de Congresso MARTINS, I. S.; SILVA FILHO, F. J. V.; ALVES NETO, F. E. Abordagemcirúrgica em ginecomastia gigante em pseudo-hermafrodita masculino. In: I JORNADA DE MEDICINA DA FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo, 2006, p.212. 8 Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou autores com a filiação profissional e a qualificação acadêmica do(s) autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o telefone (folha modelo). 9 O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa e em CD (processador Word for Windows), pelos correios ou via e-mail: [email protected]. Ao Conselho Editorial é reservado o direito de publicar ou não o trabalho. 10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O autor responsável pela submissão do artigo receberá um exemplar do fascículo por artigo publicado. 11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não. 12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável pela submissão do artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos: Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais. Página 142 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo Página 143 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 12, n. 2, Setembro 2016 OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não serão encaminhadas para análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas para publicação na Revista FACID Ciência & Vida. Conselho Editorial da Revista FACID Ciência & Vida A/C Esp. Maria Helena Chaib Gomes Stegun Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal. Cep: 64052-410/ Teresina-PI. Tel.: 3216-7931 • Email: [email protected] Página 144