DEGRADAÇÃO da CAATINGA no SERIDÓ PARAIBANO e as

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DEGRADAÇÃO da CAATINGA no SERIDÓ PARAIBANO e as TENDÊNCIAS ao
PROCESSO de “DESERTIFICAÇÃO”.
Eduardo Rubens de Medeiros. (Estudante Geografia - UFPB)
[email protected]
Maria José Vicente de Barros: Geógrafa, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Agronomia do DESER/CCA/UFPB
[email protected]
Prof. Paulo Roberto de Oliveira Rosa. UFPB
[email protected]
RESUMO
A área caracterizada como objeto de estudo apresenta um quadro natural formado por
vegetação de Caatinga, no semi-árido do Seridó paraibano, mais precisamente no município de
Picuí. A Caatinga é um ecossistema típico do sertão do nordeste brasileiro, distribui-se
geralmente em uma região de clima semi-árido com presença de solos litólicos e rasos, com
elevadas temperaturas durante todo o ano e uma distribuição irregular das chuvas,
apresentando apenas duas estações definidas: uma seca com períodos prolongados e outra com
chuvas, reduzidas a períodos relativamente curtos e de alta magnitude, ficando toda a região
sujeita a longos períodos de estiagem que repercutem diretamente nas condições de
permanência de determinadas populações ali radicadas. A adaptação das plantas a essas
condições climáticas, é uma das principais características apresentadas pela flora da caatinga,
que é composta por espécies caducifólias, afilas (sem folhas) e cactáceas. A degradação das
zonas semi-áridas, áridas e sub-úmidas secas, são resultantes de fatores diversos. como
variações climáticas esta porém de ordem natural sujeita cuja elasticidade ambiental permite o
retorno aos sistema antecedente e as atividades humanas inadvertidas cuja persistência acabam
por causar a redução da cobertura vegetal e dos recursos hídricos, gerando uma qualidade de
vida caracterizada como desertificação.
Palavras-chaves: Degradação Ambiental, Desertificação, Paisagem.
Introdução
A desertificação é um processo que vem preocupando pesquisadores de todo o mundo.
No Brasil, de acordo com estudos realizados, os núcleos de desertificação têm sua ocorrência
no Nordeste e dentre os estados nordestinos, a Paraíba é um dos que se destacam com núcleos
que apresentam susceptibilidade a esse processo.
Localizado na parte central do Estado, no seu limite setentrional, mais precisamente na
Microrregião do Seridó Oriental Paraibano, o município de Picuí possui uma área territorial de
734,1km2 (ver Fig.1), onde apresenta alguns núcleos com suscetibilidade ao processo de
desertificação, tornando-se pois objeto deste estudo. A sede do município localiza-se sob as
coordenadas 6º33’19” de Latitude Sul e 36º20’56” de Longitude Oeste, a uma altitude de 439
m. O município é cortado pelo rio Picuí, que dá nome a sub-bacia que deságua na bacia do
Piranhas já no Estado do Rio Grande do Norte; a altimetria varia entre 200 e 600m ficando sua
maior parte em torno dos 400m. O clima é quente e seco com chuvas em curtos períodos e
estação seca prolongada, caracterizando-se por apresentar temperaturas médias anuais em
torno de 26,5º C, com nebulosidade variando de 6/10 a 5/10 do céu, e uma média
pluviométrica de 334mm/ano com variabilidade média de 40mm.
Figura 1 - Localização do município de Picuí.
A Microrregião do Seridó Oriental fica compreendida na Mesorregião da Borborema,
entre o Sertão e o Agreste. Embora seja uma das regiões mais antigas do Estado, em termos de
povoamento, o Seridó apresenta os mais baixos índices de densidade demográfica do Estado e,
associado a isso, estão os baixos índices de precipitação, o que faz com que a atividade
agrícola sofra as conseqüências dessas limitações climáticas. Trata-se portanto, de uma região
fortemente individualizada, pelas limitações naturais, pela atividade econômica ou pela baixa
densidade demográfica. O Seridó abrange a maior parte do Estado do Rio Grande do Norte e
uma pequena porção do Estado da Paraíba. Esta região caracteriza-se por apresentar uma
vegetação baixa, muito espaçada e um solo raso, arenoso e seco, apresentado ainda
afloramentos graníticos. Essas características tornam-se determinantes para aumentar a
fragilidade do ambiente, favorecendo a instalação de processos de degradação ambiental.
O município de Picuí está incluso nessa pequena porção do Estado paraibano em que o
Seridó abrange, apresentado condições semelhantes com pequenas variabilidades. Em seu
quadro natural, pode-se destacar a vegetação, que se constitui de caatinga arbustiva arbórea. A
fisionomia dessa sub-formação é marcada por uma vegetação caducifólia, podendo ser aberta
ou fechada conforme a densidade e distribuição das espécies, sendo basicamente constituída
por estrato arbustivo e arbóreo significativos e distintos.
A Caatinga é um bioma típico do sertão do nordeste brasileiro, distribui-se geralmente
em uma região de clima semi-árido, que apresenta insolação e temperaturas elevadas, baixa
nebulosidade, distribuição irregular das chuvas durante o ano, e apenas duas estações
definidas, uma seca com períodos prolongados e uma com chuvas, reduzida, ficando assim
toda a região sujeita a longos períodos de estiagem, que repercutem diretamente nas condições
de permanência de determinadas populações ali radicadas. Em decorrência de todas essas
condições, essa região foi delimitada pelo Conselho Nacional de Geografia em 1949 e
denominada de “Polígono das Secas” (Duque, 1980, p.25). Os impactos dessas condições
ecológicas repercutem na cobertura vegetal e no solo, que geralmente, é pouco friável e
desgastado. As espécies da caatinga. (ver Fig. 2), em sua grande maioria, apresentam afilia
e/ou caducifólia, bem como, outras adaptações para suportarem as condições do rigor
climático presentes no local, das quais pode-se destacar o engrossamento da cutícula,
cobertura de cera, redução da superfície foliar; entre outros mecanismos que permitam-lhes a
sobrevivência.
Figura 2 – Vegetação da Caatinga no município de Picuí. Data: abril/2003
Antes da colonização, a caatinga já era bastante utilizada pelas tribos indígenas que
habitavam a região, depois a exploração ficou por conta dos colonizadores que iniciaram o
processo de utilização do solo para a prática da agricultura que se faz presente, pecuária, que é
praticada de forma extensiva, extração mineral e vegetal e assim, o processo de devastação da
vegetação da Caatinga foi cada vez mais se intensificando. Essa utilização, em alguns
momentos, de forma indevida, acaba por propiciar uma mudança no ritmo dos elementos
formadores desse bioma. Essa mudança no ritmo desencadeia alterações nesse ambiente, com
um elevado índice de degradação em algumas regiões, com isso pode-se identificar manchas
desnudas de vegetação, expondo assim o solo aos agentes intempéricos, acarretando processos
erosivos provocados pelo escoamento superficial, que vão degradar os solos, tirando destes a
pouca formação pedogenética existente, o que provoca posteriormente, o assoreamento dos
cursos d’água existentes na região.
A expansão dessas manchas faz com que a região das caatingas, caracterize-se como
um ecossistema propício aos processos de desertificação, problema esse definido pelas Nações
Unidas como sendo "a degradação das terras áridas, semi-áridas e subúmidas secas resultantes
de vários fatores, incluindo variações climáticas e atividades humanas" (Conti,1998. p 66).
Segundo o conceito pode-se dizer que existem duas características de desertificação: a
climática e a ecológica. A climática ocorre com a redução progressiva das precipitações de
uma determinada região provocada por causas naturais. A ecológica, ocorre quando o
ecossistema perde sua capacidade de regeneração, verificando-se a rarefação da fauna e a
redução da cobertura vegetal, seguida da degradação dos solos. As principais causas da
degradação1 das zonas semi-áridas se constituem do uso indevido dos recursos da terra,
agravados pelas secas. A partir de então busca-se saber quais os elementos que contribuem
para a ocorrência dos possíveis processos de “desertificação” no Seridó paraibano.
A proposta de se fazer um estudo sobre essa área, justifica-se por ela estar localizada
na zona semi-árida e em área limítrofe identificada pelo Ministério do Meio Ambiente como
Núcleo de Desertificação, áreas onde os efeitos do processo estão concentrados em pequena e
delimitada parte do território, porém, com danos de profunda gravidade. A partir de então
1
A degradação é por nós entendida como sendo a alteração da paisagem a partir do desgaste ocorrido nos
componentes do ambiente como solo, recursos hídricos, vegetação e biodiversidade, que acaba afetando na
qualidade de vida das pessoas.
busca-se, através de observação empírica, perceber as modificações que essa paisagem vem
sofrendo nos últimos tempos, principalmente no que refere à sua cobertura vegetal.
Sendo assim cabe-nos investigar de maneira aprofundada através de observações no campo
quais os processos de degradação que essa região vem sofrendo, e tentar mostrar soluções para
que eles não venham desencadear o desequilíbrio desse ecossistema.
Referencial Teórico Conceitual
A problemática da desertificação vem preocupando cientistas do mundo todo. De
acordo com Conti (1998, p.66) essa problemática “pode ser entendida como um conjunto de
fenômenos que conduz à transformação de determinadas áreas em desertos ou a eles
assemelhados”. Nimer (1988, p. 10) também discute a temática, relacionado-a ao clima, e em
um segundo momento às ações humanas. Assim o autor diferencia o processo de
desertificação do deserto propriamente dito, onde conceitua o deserto como sendo “um
fenômeno de certa forma acabado e resultante da evolução de processos que alcançaram uma
certa estabilidade final, e que pode ser definida como um clímax ecológico”; o processo de
desertificação é caracterizado como “um fenômeno em transformação dinâmica cuja evolução
ambiental está apontada para a direção do deserto” (id).
No Brasil alguns locais são apontados como sendo suscetível a esse processo, entre
eles, as terras do nordeste seco cujo clima predominante é o semi-árido, esses ambientes são
indicados devido à sua sensibilidade decorrente das condições climáticas inerentes a essa
paisagem. Tratando da temática, Ab’Sáber conceitua “como processos parciais de
desertificação, todos aqueles fatos pontuais ou areolares, suficientemente radicais para criar
degradações irreversíveis da paisagem e dos tecidos ecológicos naturais” (1977, p. 1). O autor
atribui o acréscimo de degradações pontuais no domínio das caatingas às atividades agrárias
rústicas praticadas pela população, dessas destaca o pastoreio extensivo juntamente com outras
ações deliberadas como propiciantes das “ulcerações dos tecidos ecológicos” (Ibid, p 2). A
partir de então, observa-se a inserção de outros termos que devem ser discutidos com
profundidade para o entendimento da questão.
A Terra é regida por um sistema de componentes ligados entre si que funcionam como uma
unidade (Drew, 1986). Partindo da Teoria dos Sistemas que aponta a entrada, processo e saída
de energia e matéria no sistema, observamos a paisagem como sendo a interação dos
conjuntos naturais litológico, o climático e o hidrográfico processando energia e matéria de
forma sistêmica (Strahler e Strahler, 1989 e Drew, id); essa interatividade faz com que a
paisagem esteja sempre em movimento, por isso dinâmico.
O termo paisagem tem sido trabalhado por diversos autores, entre eles Dolfuss, que
indica “toda paisagem é composta, formada por um conjunto de elementos geográficos que se
interagem uns com relação aos outros” (1973:p. 13). Porém Tricart (1982) em exposição mais
contundente realça que o “conceito científico de paisagem abrange uma realidade que reflete
profundas relações, freqüentemente não visíveis, entre os elementos”. O autor apresenta ainda
o seguinte conceito como forma mais substancial “Uma paisagem é uma porção perceptível a
um observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e invisíveis e interações as
quais, num dado momento, não percebemos senão o resultado global” (id). A vegetação pode
ser entendida como o resultado das condições desses conjuntos componentes da paisagem em
cada específico (Strahler e Strahler, 1989).
Métodos e Técnicas
A concepção analítica da compreensão da organização de qualquer ambiente que
envolve atores, requer uma relação o mais fidedigna possível dos conceitos como forma e
fundo, que é o real. Nesse sentido a busca de autores que se transformaram em cânones na
leitura geográfica do Nordeste Seco é premissa indiscutível para uma análise mas significativa
e assim podermos, nas investidas no campo, olhar e ver o aparente e buscar o desvelamento do
“invisível” na paisagem.
A visita a área inicialmente foi uma excursão preliminar, para que pudéssemos
identificar em imagem de satélite as nuances relativas a descontinuidade da cobertura vegetal
no Município picuiense. A imagem Landsat disposnibilizada pela EMBRAPA, nos permite
uma primeira aproximação pois a escala do zoom chega até a 1:25.000, e a falsa cor permite a
identificação das áreas com e sem cobertura vegetal, cuja representação da vegetação é pela
presença do verde e as demais cores ausência (ver Fig 3). A partir dessa excursão virtual é
imprescindível uma outra análise que nos remeteu a verificação em campo das regiões
degradadas, é a leitura de dados relativos às precipitações pluviais no município. Esses dados
estão no boletim da SUDENE que disponibiliza o volume e o local em que se encontra a
Estação coletora.
Figura 3 – Imagem LANDSAT denunciando em falsa cor as áreas descobertas de vegetação
Fonte: EMBRAPA http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br/
Os dados climáticos foram transportados para planilha eletrônica e tratados de forma
estatística para o fornecimento de gráficos que melhor fossem visualizados e indicando as
correlações concernentes às possíveis inferências relativas ao processo de desertificação no
cenário em tela. A partir desse elenco de dados fez-se necessária uma visita ao campo, para
checagem aproximativa dos dados e das informações
No trabalho de campo observamos os elementos que constituem o ecossistema da
caatinga, procurando compreender a relação conseqüente entre os processos que vêm
ocorrendo, antrópicos ou de ordem natural com a questão considerada como processo de
desertificação.
Resultados e Discussão
Para verificar a ocorrência do processo de desertificação no sentido de relação
climática com o ambiente, foram tratados, de forma estatística, os dados pluviométricos
contidos no Boletim da SUDENE referente a três períodos distintos no município de Picuí. Os
dados tratados são médias mensais, cujo somatório aponta a média de intervalos anuais
compreendidos nas décadas entre 1911 a 1920, de 1951 a 1960 e de 1979 a 1985 (Ver Tabela
1).
Tabela 1 – Inventário climático registrando o comportamento médio pluvial no
Município de Picuí
ANO JAN
1911
1912
1913
1914
1915
1916
1917
1918
1919
1920
15,6
38,9
1,3
160,9
5,5
56
12,9
25,1
0
7,3
1951 0
1952 0
1953 0
1954 7
1955 33,5
1956 0
1957 2,2
1958 6
1959 0
1960 14
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
FEV MAR ABR
MAI
JUN
JUL
22,5
123,1
270,2
60,1
0
39,2
216,6
44,1
9,8
2,5
16,7
43,4
175,4
34,4
76,5
69,6
22,4
80,9
15,9
157,3
6,9
62,7
89,1
89
20,2
69,3
130
59,3
13,5
23,1
1,2
22,4
36,9
74,9
4,8
13,7
2,8
40,2
37,4
18,5
5,4
9,1 0,3
7,5
9,4
0
31,1
0
0
26,1 112,2 8,3
12,2 4,7
0
4,2
0
0
2,7
0
3,5
0
12,1 9,3
6,9
0
0
6,9
0
0
0
0
0
12,4
0
0
0
0
1,5
1,5
0
15
9,5
12
73
14
0
0
17
36
12,7 11,9
12,8 131,4 84,7
35 128,1 91,6
0
89
59,3
25,5
0
0
51,7 90,2 4,7
7,6 386,1 19,6
8
13
16
70,5
28,7
10,3
0
32
25,8
0
43
18
76
40,6
0
29,3
0
3
22,2
11,6
0
0
3
0
0
23,6
23
11
13,7
17,5
0
0
0
0
2
1
7,3
2,2
18,7
3
0
0
0
0
0,5
0
0
0
0
0
24,1
0,2
10,3
20,5
9,6
29
71,3
16,9
27,6
14,3
10,3
7,4
0,8
17,1
40
1
1,4
2,1
0,4
13,5
27,4
0
23,3
2,2 1,4
0
1,2
13,1
0
6
0
10,4 4,4
4,4
0
0,2 11,8
1
84,8
34,3 57,3
0
40,9
1,2 47,2
3,7 17,4
7,9 196,4
87,1
129,1
43,4
67,1
15
80,3
106,2
42,5
0
130,5
10,4
26,4
250,9
22,9
32,1
96,9
199,3
29,2
14,5
31,8
71
10,8
132,7
372
AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1,2
0
0
5,8
4,8
0
4,8
10
0
0
0,2
1,2
0,1
0
0
0
7,4
0
0
0
9,2
1,8
2,3
8,7
0
14,5
177
446,5
647,4
645,4
148,3
335,3
499,5
322,2
85
362,1
Média 366,87
0
63
138,5
0
4
134
0
0
112
0
0
178,7
0
0
293,6
0
0
318,9
0
0
180,8
0
0
79,7
0
0
227
0
1,4
460,8
Média 212,4
1
2
158,9
1,3 7,4
169
2,3 58,2
462
2,2
0
183
0
0
120,5
0,3
15
328,9
5
14,7 915,5
Média 333,97
Tabela 1 - Dados pluviométricos do município de Picuí – PB.
Fonte: SUDENE - Banco de Dados Hidroclimatológicos do Nordeste -
Verificamos que a distribuição das chuvas durante o ano está concentradas em um
período compreendido entre os meses de fevereiro a abril, chegando as vezes até o mês de
junho, começando a partir daí a escassez das precipitações pluviais a tal ponto que de
setembro a dezembro praticamente não ocorre. Nota-se também uma tendência para as
anormalidades, com oscilações apresentando muita dispersão, para mais ou para menos em
relação à média pluviométrica da região. Na década de 1950 verificou-se que ocorreu a média
mais baixa, em virtude de ter ocorrido longos períodos de estiagem (secas), onde a média
dessas precipitações só ultrapassaram os 200mm anuais nos anos de 1955, 1956 e 1959,
podendo apontar que nesses anos o clima teve uma conotação de árido.
De acordo com o gráfico 1 verifica-se uma irregularidade muito grande na distribuição
das chuvas, ultrapassando os 600mm em 1914, porém
no ano seguinte ficando apenas
próximo dos 150mm; a linha de tendência mostra-se estável, estando próxima dos 300 mm
anuais de precipitação. Especulando no sentido de alerta a um processo que poderíamos
considerar como a borda de desastre que, se o processo continuasse de forma decrescente, a
longo prazo se torna um problema, mostrando um dos indicadores para “a desertificação
climática que corresponde à redução progressiva das chuvas, determinada por causas naturais”
(Conti, 1998,p.66), no entanto esse fato não foi constatado por isso consideramos que a área
não apresenta dados climáticos que comprovem uma susceptibilidade ao processo de
desertificação climática.
Pluviosidade em Picuí-PB
Precipitação (mm)
1000
800
600
400
200
0
1911-1920
1951-1960
1979-1985
Gráfico 1 – Distribuição anual das chuvas, observando-se linha de tendência.
A ocorrência de secas periódicas (a estiagem pode durar de sete a nove meses)
estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas, deixando o sol
incidir direto no solo, fazendo com que as folhas que caem sejam consumidas pelo calor sem
formar manta florestal. Com a chegada das chuvas, mesmo com um período muito curto,
chegando de três a cinco meses, os vegetais apresentam um poder de regeneração e
rebrotamento muito vigoroso, com isso a paisagem muda muito rapidamente cobrindo-se de
folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas, por isso pode-se afirmar que a Caatinga
apresenta uma grande eficiência no convívio em ambientes de clima rigoroso.
A visita ao Município de Picuí permitiu uma aproximação real entre o conceito por nós
trabalhado e o cenário que contempla o fenômeno denominado de desertificação. A coleta de
informes junto aos habitantes do lugar nos permitiu um breve aprofundamento na questão
relativa à ocorrência da dinâmica de processos de degredacionais. Numa primeira vista a
paisagem, bastante antropizada com a presença de atividades sócio-econômicas, aponta uma
situação inadvertida no trato como o meio ambiente relativo àquela paisagem sensível à
presença de duas grandes indústrias de cerâmica, cuja matéria prima utilizada é a argila para a
fabricação de tijolos e telhas, sendo a energia que se utiliza nos fornos de origem vegetal.
A Caatinga naquele lugar, encontra-se bastante alterada a partir da substituição de
espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens (ver Fig. 4). O desmatamento ainda é uma
prática comum no preparo da terra para a agricultura e para a pecuária que, além de destruir a
cobertura vegetal, a qualidade da água, o equilíbrio do clima e consequentemente do solo,
prejudica a manutenção de populações da fauna existente (ver Fig. 5). Apesar do elevado grau
de antropismo ainda pudemos observar a presença de várias espécies típicas, tais como: coroade-frade (Melocactus bahiensis), facheiro (Pilosocereus squamosus), faveleira (Cnidosculus
phyllacanthus), jurema-preta (Mimosa nigra), macambira (Bromelia laciniosa), mandacaru
(Cereus jamacaru), marmeleiro (Croton sincorensis), mofumbo (Combretum
leprosum),
pinhão (Jatropha pohliana), xique-xique (Pilosocereus gounellei), entre outras.
Figura 4 – Cultivo de leguminosas(abril/2003)
Figura 5 – Antropismo com queimada(abril/2003)
Considerações Finais
A interpretação está ainda no nível elementar pois a paisagem contida no cenário
referente ao Município de Picuí, apesar de ser considerado pelo MMA como sendo um Núcleo
de Desertificação, não nos pareceu como tal. Tomamos como parâmetro as questões climáticas
e também a diversidade de indivíduos vegetais componentes daquele lugar. Porém, o que ficou
caracterizado é que há uma situação de clima cuja estiagem é e tem sido real e que os
habitantes do lugar não conseguiram ainda conviver, com a questão da estiagem vista como
seca.
Nos períodos de “tempo bom”, aqueles momentos de precipitação pluvial com relativa
abundância, a população vegetal consegue se recuperar e as atividades sócio-econômicas,
voltadas para a agricultura de subsistência, tiram certo proveito desses momentos em que o
solo permite uma produção de adequação de mercado.
Num outro momento pode-se averiguar que a relação entre a sociedade e o meio
natural não tem sido de forma adequada, pois o uso de procedimentos agrícolas estressam o
solo, ou mesmo a alteração da paisagem de cenário natural para um cenário agrícola, tem sido
uma atividade inadequado em relação à convivência com o ritmo ambiental. Não resta dúvida
que domar o clima não tem sido possível, porém conviver com ele e suas nuances pode ser
uma alternativa não apenas de cunho econômico mas sim cultural. A cultura da seca precisa
ser substituída pela cultura da convivência com a estiagem, por isso deve-se compreender a
oscilação climática e saber aproveitar o tempo bom no quesito estocagem de água, a partir de
modelos convencionais como os açudes e principalmente pela forma do uso das cisternas
aproveitamento os telhados das casas.
A cultura da estiagem é uma forma temática que deve ser abordada por dentro dos
temas geográficos, observados no ensino fundamental e médio, e assim a convivência com o
clima rigoroso tendo a estiagem e não a seca como referência no saber da geografia do
Nordeste seco.
Bibliografia
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