1 ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO ENTRE PRODUTORES E INDÚSTRIA NA COMERCIALIAÇÃO DO LEITE1 Mateus Kwiatkowski Porto2 RESUMO Este trabalho acadêmico versa sobre o tema marketing de relacionamento entre a cooperativa/indústria e os produtores de leite. Procura-se compreender a respeito do papel do agronegócio na cadeia produtiva do leite, a fim de averiguar através da ótica reversa, a percepção do produtor de leite sobre as principais estratégias incorporadas pelas diferentes empresas na fidelização do fornecedor de leite, na comercialização do produto, considerando que cada indústria utiliza a ação competitiva que melhor convém. Com intuito de descobrir esses questionamentos realizou-se uma pesquisa quanti-qualitativa com 80 produtores leite do município de Catuípe/RS. Como resultado deste estudo percebeu-se que o produtor de leite é o elo mais frágil da cadeia e que o principal motivo para este ser fiel á cooperativa/indústria é o preço competitivo e o preço pago pela qualidade do leite. Palavras-chave: Agronegócio, Cadeia do leite, Estratégia, Marketing de relacionamento. 1 Trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Finanças e Mercado de Capitais, sob orientação do professor Dr. Jorge Oneide Sausen. 2 Graduado em Design. – UNIJUÍ; Especialista em Administração e Marketing - UNINTER; Cursando MBA em Finanças e Mercado de Capitais - UNIJUÍ; Mestrando no curso de Desenvolvimento – UNIJUÍ. E-mail: [email protected]. 2 INTRODUÇÃO O presente trabalho acadêmico, têm como elemento de estudo as estratégias de relacionamento entre produtores e indústria na comercialização do produto leite. Procura entender quais são os fatores decisivos, segundo a percepção dos produtores de leite, na opção de entrega do produto para a indústria. O objetivo geral deste estudo é identificar os fatores determinantes na opção de entrega do leite à cooperativa/indústria, pela ótica dos produtores de leite. Os objetivos específicos que acompanham o presente trabalho são: mapear os principais fatores que influenciam o produtor na opção de escolha da indústria para a entrega do produto; descrever as estratégias adotadas pela cooperativa/indústria que têm fidelizado os produtores, conforme a ótica reversa; propor estratégias de relacionamento entre cooperativa/indústria com o produtor, que potencializa a fidelização. O caráter da pesquisa de campo é aplicado utilizando-se de uma abordagem quantitativa, sendo que a classificação da pesquisa é descritiva, pois “visa identificar, expor e descrever os fatos ou fenômenos de determinada realidade em estudo característica de um grupo, comunidade ou contexto social” (ZAMBERLAN [et. al]. 2014, pg. 96). Os sujeitos da pesquisa foram 80 produtores de leite, residentes no município de Catuípe/RS. O motivo pelo qual se decidiu trabalhar a cadeia produtiva do leite deve-se ao fato de ser uma atividade econômica regional, através da qual muitas famílias do município valem-se para obter sua renda mensal. Sabe-se, por meio dos estudos realizados por Castro et. Al (1998), que entre as partes envolvidas na cadeia produtiva do leite, a mais frágil são os produtores de leite. Portanto, torna-se necessário que as usinas de beneficiamento desenvolvam um programa para fidelizar o produtor de leite e ajudá-lo a reduzir os gastos desnecessários dentro da propriedade. O incentivo ao aprimoramento da produção ajudando aos produtores de leite a compreender onde investir de forma eficiente, garantindo-lhes ferramentas que proporcionem ganho em qualidade e quantidade de matéria prima com as vacas leiteiras, traz benefícios não somente a estes mas também à indústria. Com efeito, para que os produtores possam manter-se na atividade precisam satisfazer as suas necessidades “dentro da porteira” e assim, como consequência, suprir-se-ão as necessidades da demanda de leite para a indústria. Uma vez incentivada a produção de leite, possibilitar-se-á o fomento do mercado de consumo brasileiro e externo, ou seja, o “depois da porteira”, o que proporcionará que seja suprida a demanda que atualmente encontra-se carente. 3 Sendo o produtor o elo mais fraco da cadeia do leite e também um dos mais importantes, busca-se, através do presente trabalho, identificar os fatores determinantes na opção de entrega do produto leite a indústria. Para isso torna-se indispensável, mapear os principais fatores que influenciam o produtor na opção de escolha da indústria para a entrega do produto, também precisou-se descrever as estratégias que foram adotas pela indústria que têm fidelizado os produtores de leite, segundo a ótica reversa. Ao concluir a análise e pesquisa de campo, propor estratégias de relacionamentos para a indústria utilizar com os seus produtores, afim de fidelizá-los e com isso poder desenvolver um trabalho duradouro e potencializar a produção dentro da propriedades, o que será um ganho para ambas as partes. 1 AGRONEGÓCIO O atual cenário econômico mundial indica que o Brasil até 2018 será o maior país agrícola do mundo. Lourenço (2008) descreve o agronegócio brasileiro como sendo uma atividade próspera, segura e rentável. Já Batalha (2002) conceitua o agronegócio como "o conjunto de negocios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista econômico”. Os fatores que contribuem para isso, envolvem a localização em que se insere o país geograficamente, como também possuir um clima favorável, ter energia solar abundante, um solo fértil que faz com que a produtividade da terra aumente devido a disponibilidade de 13% de toda água doce do planeta e que encontra-se no Brasil. Caracterizado pelo CEPEA (2014) o agronegócio é um setor estratégico para a economia brasileira e, especialmente, em 2015, pode ser o grande condicionante do seu desempenho. Representa atualmente 23% do PIB brasileiro. O potencial desse setor econômico para a economia brasileira é representado pela renda de R$ 1,17 trilhão em 2014, desses 69% (R$ 805 bilhões) são resultados da agricultura, 31% (R$ 370 bilhões) da pecuária. Conforme Barros (2014) não é só diretamente que o agronegócio cresceu, mas também os setores e segmentos ligados a ele. O agronegócio é marcado pela prevalência das classes alta e dominante que havia no Brasil até o inicio do século atual. Conforme Bezerra (2012 p. 117) "Desde sua “descoberta" no século XVI até a atual configuração do século nascente, a agricultura no Brasil é marcada pelo domínio expresso da classe dominante no espaço agrário". Fernandes (2005) considera o agronegócio como o novo nome atribuído a uma nova forma de desenvolvimento econômico da agropecuária capitalista. Enquanto que Batalha 4 (2002), conceitua o agronegócio como sendo o conjunto de negócios relacionados à agricultura partindo de um ponto de vista econômico. A utilização do termo agribusniess e/ou agronegócio é muito recente, Davis e Goldberg (1957) estudaram a respeito das atividades que estavam conectadas ao sistema agropecuário e foram os pioneiros na utilização do termo, conceituando-o como sendo “(…) a somas total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas propriedades agrícolas; o armazenamento, processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”. Dessa forma, o "agribusiness"engloba os fornecedores de bens e serviços à agricultura, os produtores agrícolas, os processadores, transformadores e distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final. Participam também nesse complexo os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços. (ARAÚJO; WEDEKIN; PINAZZA, 1990, p3) Bezerra (2012) considera o agronegócio um “super setor" pelo fato de este interligar diversos segmentos da economia, “pois dentro e fora da porteira desenvolvem-se uma série de dinâmicas intercaladas entre os vários segmentos produtivos ligados à reprodução do setor” (BEZERRA, 2012, p. 119) Para Barros (2014), é de suma importância do agronegócio em nosso país. Conforme dados por ele relatados “O setor agropecuário chega a 2014 como um segmento muito grande. A cadeia produtiva é bem longa e deve representar, hoje, aproximadamente 25% do PIB. O ano de 2013 foi exemplo: enquanto a indústria cresceu 1,3%, e o setor de serviços 2%, a agropecuária expandiu-se 7%." Conforme o autor, não é só diretamente o agronegócio que cresceu, mas também os setores e segmentos ligados a ele. "Mas ainda, os segmentos industriais que se ligam ao agronegócio foram os que melhor desempenho mostraram: caminhões, tratores, implementos, fertilizantes, defensivos e produtos veterinários" (BARROS, 2014). As pessoas precisam compreender que agricultura não é uma atividade que faz apenas comida (…) A agricultura é responsável por muito mais do que isso. Não há papel sem árvore, e a árvore é produzida por agricultores, de modo que jornalistas, escritores, professores e alunos não teriam onde escrever seus apontamentos se não houvesse o agricultor plantando árvores. Que também fornece as madeiras para construções, que não existem sem a atividade agrícola. Sapatos, bolsas, cintos, estofamentos de veículos só existem porque há couro, que vem do boi, que por sinal só avança com pastagem cultivada. Assim como a lã dos casacos e dos cobertores, que só existe com ovelhas. Assim como o algodão usado para confeccionar calças jeans, camisetas e toalhas de linho. Enfim, estes materiais porque temos agricultores produzindo a matéria-prima para eles. Uma fabrica de cerveja só tem empregos para operários que nela trabalham porque tem alguém plantando cevada. Esse mesmo setor também é responsável pela contratação de operários nas fábricas de garrafas, de copos, de refrigeradores, de caminhões para transportar cerveja e até de roupas para garçons, portanto, o conceito de que o setor produtivo rural está por trás do desenvolvimento agro-industrial, que gera emprego 5 no setor de serviços, no comércio e na indústria, é que tem que ser compreendido e aceito pela sociedade (RODRIGUES, 2004, p.57). 2 CADEIAS PRODUTIVAS No agronegócio, o sistema de produção torna-se cada vez mais complexo. Neste viés, a fim de especificar tal sistema explanar-se-á o conceito de cadeias produtivas, o qual propagou-se nos anos 90. Para melhor compreensão a respeito do tema é preciso entender o mercado, o qual é conceituado por seu espaço físico, social e até virtual, que oferece condições de troca, de bens ou serviços. Brum (2012) descreve que existem três grandes tipos de mercados, quais sejam: a) Mercado de produtos; b) Mercado de trabalho; c) Mercado de capitais. Zylberstajn (2006) indica que as avaliações sobre o setor agrícola não podem mais ser feitas de forma isolada, porém é preciso considerar as questões ligadas a suprimentos e distribuição, os quais fazem parte do processo, contribuindo para definir políticas agroindústrias e estratégias privadas. Brum (2012) conceitua cadeia produtiva como sendo uma sucessão de operações e transformações dissociáveis, que podem ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico. O surgimento do termo cadeia produtiva, deu-se através dos estudos de Davis e Goldberg (1957), que seguem a Corrente do Commodity System Approach, que tem como ponto de partida o estudo de um produto no início da cadeia, ou seja, a partir do produtor rural (CSA), cuja origem foi nos Estados Unidos. 2.1 Cadeia produtiva do leite Neves (2006) descreve que, a partir de 1940, o Estado se preocupou em oferecer segurança nos produtos de origem animal ao consumidor final. Para alcançar este objetivo foi necessário indicar processos de regulamentação da atividade leiteira a qual restou marcada pelas intervenções Estatais na formação do preço do leite o que ocasionou que o período de 1946 a 1991 ficasse conhecido como sendo o período da regulamentação. Criaram-se então parâmetros e critérios sanitários do processamento e distribuição desses produtos. Ao tabelar o preço do leite fluido na capital federal, em 1945, o Estado, mesmo não sendo esse seu propósito, acabou fixando a ideia de que “todo leite é igual”. Os preços (inclusive margens) estabelecidas pela norma legal não davam espaço para o tratamento diferenciado do leite o que, na prática, fazia mesmo com que todo leite fosse tratado como igual. (MEIRELES, 2012, p. 28) 6 Inobstante a fixação de parâmetros sanitários de processamento e distribuição do leite produzido, partir do momento em que o Estado passou a tabelar o preço houve menor preocupação em zelar pela qualidade do produto oferecido, pois não havia compensação pecuniária. Tal situação comprova que a intervenção do Estado na delimitação da politica de preços foi, e ainda é, um sistema defasado, conforme aduz Misses (2010). Mises (2010) explica ainda a respeito do livre mercado onde, pela não interferência do Governo/Estado, o preço de um determinado produto cobre os custos de produção. Os acordos voluntários de preços ou livre mercado, só vieram a contribuir na atividade leiteira. A livre negociação de preços, portanto, gerou inicialmente um quadro de turbulência, motivado por interesses diferenciados entre produtores e indústria. (…) o que se verificou foi um esforço no sentido de reduzir custos e ineficiências, bem como melhorar a qualidade e diversificar os derivados ofertados. A busca pela eficiência ultrapassou o nível da fazenda e chegou até o varejo, com investimentos realizados em todos os segmentos. (NEVES, 2006, p. 51) A cadeia produtiva do leite, não poderia ser diferente das demais, em que existem particularidades dos atores no relacionamento uns com os outros, onde as idiossincrasias a eles inerentes interferem no resultado final. Zylbersztain (2005) explica que existem dificuldades na construção de cadeias de produção ou na reconstrução de cadeias em declínio. Existe o modismo muito comentado, relativo ao qual trata-se sobre as cadeias de agribusiness 3 , do que se trabalha no sentido de formatá-las, de reconstruí-las, quando necessário e criar condições para o seu funcionamento eficiente. Conforme Neves et al (2005) vários pesquisadores ressaltam sobre a importância de compreender de maneira ampla o ambiente no qual uma determinada empresa - foco está inserida. Ainda conforme este autor, o mapeamento e a quantificação de Sistemas Agroindustriais foram desenvolvidos e aplicados pelo Pensa4, com foco basicamente em três cadeias produtivas, a do trigo, da laranja e do leite. O método foi desenvolvido pela união de conhecimentos acadêmicos e contribuições de executivos”. 3 “(…) a somas total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas propriedades agrícolas; o armazenamento, processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”. Davis e Goldberg (1957) Dessa forma, o "agribusiness" engloba os fornecedores de bens e serviços à agricultura, os produtores agrícolas, os processadores, transformadores e distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final. Participam também nesse complexo os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços. (ARAÚJO; WEDEKIN; PINAZZA, 1990, p3) 4 Pensa é um centro avançado, dedicado à Gestão e Coordenação de Agronegócios, que atua nos cenários nacional e internacional. Esse método foi reconhecido e publicado nos anais da Academia Européia de Marketing (Múrcia, Espanha), na Associação Mundial de Agrobusiness (Montreux, Suíça) e na Conferencia de Cadeias e Redes (Wageningen, Holanda), todas em 2004. Teve como co-autores Ricardo Messias Rossi, Frederico Fonseca Lopes, Matheus Kfouri Marino e Luciano Thomé e Castro. 7 Para Neves et al (2005), o método utilizado para caracterizar e quantificar o Sistemas Agroindustriais, pode ser resumido em seis etapas, conforme a figura 1, que segue: Figura 1 - Metodo utilizado para caracterizar e quantificar Sistemas Agroindustriais Fonte: Neves (2001) Já para Canziani (2003), a cadeia leiteira divide-se em quatro pontos principais, os quais são: 1) Fornecedores de insumos; 2) Setor de produção; 3) Industria do leite; 4) Distribuição para o consumidor final. Atualmente, após exigências impostas pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) o produtor de leite precisa informado a respeito das leis e normativas que regem sua atividade. Uma das principais exigências feitas pelo MAPA são níveis de Contagem Bacteriana Total (CTB), a Contagem de Células Somáticas (CCS) e a refrigeração em refrigeradores a granel, as quais pertencem a Normativa 62. Essas exigências são para garantir ao consumidor final que o leite produzido no Brasil tenha uma melhor qualidade, seja de procedência segura, além de ser nutritivo e saboroso. 3 ESTRATÉGIA A palavra estratégia possuí origem no latim, atendendo por Strategia, esta deriva de dois termos gregos, Stratos (exército) e Agein (conduzir e/ou guiar). Dessa forma o significado de estratégia seria a arte de conduzir o exército. O General, estrategista e filósofo chinês Sun Tzuo (2002) foi um dos pioneiros na utilização do termo estratégia, ele afirmava que todos os homens podem ver as táticas através das quais ocorre a conquista, porém, o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual as grandes vitórias são obtidas. Kotler conceitua estratégia como o adesivo, por meio do qual se constrói e fornece proposição de valor consistente e diferenciada ao mercado-alvo. Mintzberg e Quinn (2001) referem que a estratégia respeita um padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequência de ações em uma organização que resulta em um todo coerente. Uma estratégia bem formulada ajuda a ordenar e alocar os recursos de uma organização para uma postura singular e viável, com base em suas competências e deficiências internas relativas mudanças no ambiente antecipadas e providências contingentes realizadas por oponentes inteligentes.” 8 O quadro 1, abaixo, apresenta algumas das principais definições de estratégia pelos autores e suas contribuições. Autor Definição de estratégia ou conceito relacionado Chandler (1962) Determinação dos objetivos básicos de longo prazo e a adoção de formas de ações e alocação de recursos neves. Ansoff (1965) Meios para alcançar objetivos. Andrews (1987) O molde de decisões que determina e revela seus objetivos, propostas ou metas, produzindo as principais políticas e planos para alcançar esses objetivos. Buzzell e Gale (1987) As políticas e as principais decisões tomadas pela gerência que tem maior impacto no desempenho financeiro. Henderson (1984) Competição estratégica: capacidade de entender a interação competitiva como um sistema dinâmico. Hammermesh (1986) Planejamento do portfólio: técnicas analíticas que ajudam na classificação dos negócios de uma empresa, para a alocação de recursos e para a seleção da estratégia competitiva. Mintzberg et al (1988) É o padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as políticas principais e planos para a realização dessas metas. Digman (1990) Modos pré-selecionados que a organização possui para atingir suas metas e objetivos enquanto lida com as condições Dexternas atuais e futuras. Pearce e Robinson (1988) Planos de grande escala orientados para o futuro para interagir com o ambiente competitivo, visando otimizar o alcance dos objetivos da organização. Quadro1 – Resumo das Principais definições de estratégias e autores selecionados Fonte: Moore (1992) Entende-se que ao longo dos anos, muitos autores propunham arranjos afim de que as organizações consigam realizar o planejamento estratégico e de marketing. Para realizar tal feito, procurou-se analisar os modelos propostos indicados acima. Após a breve analise dos conceitos de estratégias apresentados, procura-se entender a formulação das estratégias empresariais as quais seguem por base os estudos de Michel Porter. Os principais focos que Porter (1980, 1996) analisa são produtos, competidores e consumidores, e as estratégias empresariais resultantes da caracterização de tendências e oportunidades, ou seja, é realizado uma abordagem que começa fora e vêm para dentro da empresa. 9 3.1 Estratégias competitivas genéricas Para Porter (1986) desenvolver uma estratégia competitiva, é conseguir assumir uma postura em determinado ambiente organizacional onde consiga estar protegido de forças competitivas e ao mesmo tempo obter certa vantagem aos competidores. O autor ainda refere que o fundamental para elaborar a estratégia competitiva está em associar uma companhia ao seu meio ambiente, o qual apresentará estruturas básicas que vão determinar os elementos compostos de atividades, as quais podem ser chamadas de forças competitivas. Herbert e Deresky (1987) compreendem que estratégia genérica, é definida por ser uma categorização ampla de escolhas estratégicas, que pode ser aplicada nos setores econômicos. Já Campos (2009), ao referir-se sobre a terminologia estratégia competitiva, entende que o termo está ligado a atitude da organização em competir no mercado em respostas as posições estratégicas adotadas pelos seus competidores com o intuito de obter está vantagem competitiva “sustentável”. Sertek et al (2011, p. 159) define estratégia competitiva como “a força pela qual a organização usa, com eficiência, os recursos que dispõe para se adaptar ou mudar aspectos do ambiente a fim de chegar a um alinhamento mais favorável”. Após feitas as observações a respeito da abordagem genérica, procura-se compreender a respeito do modelo que Porter (1986) propôs, cuja premissa básica é de que a concorrência determina-se por meio de forças competitivas. Afim de combater com as “cinco forças de Porter”, existe outras três estratégias genéricas, 1) liderança no custo total; 2) diferenciação; e 3) enfoque, que se aplicadas de forma correta, potencializam para vencer a concorrência de outras empresas, mas para isso requer comprometimento e disposição organizacional para ser misturado quando existir mais de um alvo, mais de um foco. As estratégias genéricas são o caminho para a superação dos concorrentes no mercado Porter (1947). A primeira estratégia é conhecida por liderança no custo total, que visa formar uma políticas funcionais com esse fim. Pois uma empresa utilizar a liderança no custo, é exigido que se construa de forma que ataque ou provoque a instalação de escalas eficientes, para a redução de custos na organização. Para que toda a estratégia empresarial, baseie-se na liderança de baixo custo, é necessários minimizar os custos em algumas áreas, como publicidade e propaganda, P & D, força de vendas, entre outras, mas não podendo ignorar a qualidade, assistência e outras áreas afins que tem significativa importância empresarial. 10 Sabe-se que a utilização de um posicionamento de baixo custo numa empresa, resulta em retornos acima da média, mesmo com a presença das forças competitivas. Uma posição de baixo custo defende a empresa contra compradores poderosos porque estes só podem exercer seu poder para baixar os preços ao nível do concorrente mais eficiente. Baixo custo proporciona uma defesa contra fornecedores poderosos trazendo maior flexibilidade para enfrentar os aumentos de custo dos insumos. (PORTER, 1947, p. 37) Esta estratégia genérica, pode ser considerada uma proteção contra as cinco forças competitivas, devido de que as negociações continuem até que os lucros do próximo concorrente tenha sido eliminado, fazendo com que os concorrentes menos eficientes vão sofrer com as pressões competitivas da empresa que utilizar tal estratégia, Porter (1947). A segunda estratégia genérica, é chamada de diferenciação, que visa oferecer ao consumidor um produto ou serviço que diferencie-se dos de mais no mercado, sendo este o único no âmbito industrial. Não existe uma única forma pela qual pode-se obter a diferenciação, os métodos podem ser os mais variados, como: projeto ou imagem da marca, tecnologia, peculiaridades, serviços sob encomendas, entre outros. Mesmo que uma organização opte por essa estratégia, ela não pode ignorar os custos, mesmo que eles não sejam os alvos estratégicos. Ao procurar proporcionar o separar-se dos rivais que competem no mesmo segmento, a diferenciação, trabalha com os elementos de lealdade dos consumidores em relação a marca, como também não existe mais tanta sensabilidade com o preço do produto ou serviço. A diferenciação produz margens mais altas com as quais é possível lidar com o poder dos fornecedores e claramente ameniza o poder dos compradores, dado que lhes faltam alternativas comparáveis, sendo assim menos sensíveis ao preço. (PORTER, 1947, p. 39) Sendo assim a empresa que busca utilizar essa estratégia para adquirir a lealdade do consumidor, precisa estar bem posicionada em relação ao trabalho que aos produtos ou serviços substitutos que a concorrência vem realizando. Para que a empresa continue com essa lealdade do cliente ela precisa trabalhar em seu estado emocional, no qual ele o cliente tenha Pois o cliente deste tipo de produto ou serviço, com sentimento de exclusividade, que é incompatível com a alta parcela do mercado, Porter (1947). A terceira estratégia genérica diferencia-se das demais pois, visa enfocar um determinado grupo alvo de possíveis compradores, enquanto que as demais visam um grande grupo. Pode também ser utilizada para competir onde os concorrentes tem o posicionamento mais fracos, ou para selecionar metas menos vulneráveis. A estratégia repousa na premissa de que a empresa é capaz de atender seu alvo estratégico estreito mais efetiva ou eficiente do que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla. (PORTER, 1947, p. 40) 11 Ao utilizar a estratégia de enfoque, automaticamente, torna-se necessário incluir um trade-off, entre a rentabilidade e o volume de vendas. Abaixo o quadro e, explicando quais são os recursos e habilidades em geral requeridos e requisitos organizacionais comuns, para cada estratégia genérica. Estratégia Genérica Liderança no custo total Diferenciação Enfoque Recursos e Habilidades em Geral Requeridos Investimento de capital sustentado e acesso ao capital. Boa capacidade de engenharia de processo. Supervisão intensa da mão-de-obra. Produtos projetados para facilitar a fabricação. Sistema de distribuição com baixo custo. Grande habilidade em marketing. Engenharia do produto. Tino criativo. Grande capacidade em pesquisa básica. Reputação da empresa como líder em qualidade ou tecnologia. Longa tradição na indústria ou combinação ímpar de habilidades trazidas de outros negócios. Forte cooperação. Combinação das políticasar acima dirigidas para a meta estratégica em particu Requisitos Organizacionais Comuns Controle de custo rígido. Relatórios de controle frequentes e detalhados. Organização e responsabilidades estruturadas. Incentivos baseados em metas estritamente quantitativas. Forte coordenação entre funções em P&D, desenvolvimento do produto e marketing. Avaliações e incentivos subjetivos em vez de medidas quantitativas. Ambiente ameno para atrair mão-deobra altamente qualificada, cientista ou pessoas criativas. Combinação das políticas acima dirigidas para a meta estratégica em particular. Quadro2 – Recursos, habilidades e requisitos organizacionais requeridos por cada estratégia genérica. Fonte: Porter (1947) Entende-se que cada estratégia genérica, tem os recursos e habilidades em geral específicos, assim como também os requisitos organizacionais comuns. No quadro não consta mas também é preciso que ao utilizar uma destas estratégias, a empresa tenha a liderança compatível com a técnica adotada. 3.2 As cinco forças de Porter As empresas e indústrias, independente do ramo de atuação, necessitam ser competitivas para permanecer vivas no mercado. A falar sobre a competição entre empresas e indústrias Michel Porter (1989) infere que esta se dá por intermédio de cinco forças que se dividem em: (1) a ameaça de novas empresas; (2) a ameaça de novos produtos ou serviços; (3) o poder de barganha dos fornecedores; (4) o poder de barganha dos compradores; (5) a rivalidade entre competidores existentes. 12 Neste viés, cabe fazer referência à cada uma das cinco forças classificadas por Porter (1989) as quais influenciam na competição/concorrência entre empresas e indústrias, em específico: 1. Ameaças de novas empresas, Porter (2004) este tipo de ameaça surge pelas barreiras existentes de empresas novas no mercado em conjunto com a reação que o novo concorrente pode esperar da parte dos concorrentes já existentes. Ele ainda continua dizendo que o recémchegado pode esperar retaliação acirrada dos concorrentes que se forem muito defensivos, poderão sofrer muito mais prejuízos do entrante. 2. Ameaça de novos produtos ou serviços, consiste no dever de as empresas conferirem maior atenção não só para os produtos que representam concorrência direta, mas também para os produtos substitutos, que são aqueles que desempenham a mesma função dos produtos ou serviços oferecidos. 3. O poder de barganha dos fornecedores refere-se à situação em que grupo de fornecedores tornasse detentor de determinadas companhias sem que haja outra no mercado para competir de igual par igual. 4. O poder de barganha dos compradores diz com o jogo de forças gerado pelos compradores em relação aos fornecedores. Ao incitarem os fornecedores a competir entre si os consumidores garantem a redução de preços e a garantia de melhor qualidade. 5. A rivalidade entre competidores deve-se ao fato de que os produtos ou serviços fornecidos pelas organizações são muito semelhantes, o que acarreta a eminencia de uma possível troca de preferência na compra. Diante da análise dos apontamentos acima elencados é possível depreender que as cinco forças de Porter (2004) referem-se especificamente a “concorrentes”, e tem como sujeitos principais os clientes, fornecedores e substitutos. Com base em tais diretrizes, diante do estudo objeto do presente trabalho, qual seja, o fornecimento de leite pelo produtor rural e a captação e comercialização pelas indústrias, é possível concluir que a indústria fornecedora do produto deve usar estratégias de relacionamento com o produtor rural a fim de o fidelizar e, desta forma, otimizar a sua produção através do incentivo ao produtor rural para que aumente a produção de leite e zele pela qualidade. Assim, a indústria estará garantindo tanto a escala de produção quanto o fornecimento de um produto diferenciado, com maior qualidade, o que à fará despontar diante das demais indústrias concorrentes. 13 4. CONCEITOS DE MARKETING E MARKETING DE RELACIONAMENTO O conceito de marketing vem evoluindo e agregando conteúdo com o passar dos anos. A fim de melhor elucidar tal evolução citar-se-ão alguns conceitos exarados por importantes doutrinadores no decorrer dos últimos anos. Segundo Cobra (1988), palavra marketing é uma expressão anglo-saxônica derivada da palavra mercari, do latim, que significa comércio ou ato de mercar, comercializar ou transacionar. De outra banda, Limeira (2005) prega que a origem da palavra marketing seria inglesa, derivada de Market, que traduzindo para o português significa mercado. Prefacialmente cita-se o conceito pregado por Kotler (1984), que ainda na década de 80 definiu o marketing como uma atividade humana, dirigida a satisfazer necessidades e desejos através do processo de trocas. Já naquela época Kotler (1984) destacava que as organizações precisam estar atentas para todas as formas de comunicação e atendimento que elas possuem com o cliente, destacando como sendo a arma mais valiosa da atividade de marketing, os relacionamentos. Por oportuno, cabe suscitar que Kotler (2003) refere-se ao capital de relacionamento como sendo a soma do conhecimento, experiência e confiança de que a empresa desfruta perante os clientes, empregados, fornecedores e parceiros de distribuição. O autor refere-se ao capital de relacionamento como sendo de maior relevância que os ativos físicos. Para Sallby (1997) o conceito de marketing está ligado à ideia de que irão prosperar, no novo ambiente empresarial, somente as empresas que tiverem a capacidade de satisfazer os seus clientes e conquistar a fidelidade destes. Churchill (2005) definiu o marketing como sendo o processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de ideias, produtos e serviços a fim de fomentar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais. Posteriormente Kotler e Keller (2006), destacaram que o marketing envolve a identificação e satisfação das necessidades humanas e sociais, ou seja, ele supre as necessidades lucrativamente. Conforme inferem Kotler e Keller (2006), a Associação Americana de Marketing define o conceito de marketing como sendo ‘uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu publico interessado’. (Kotler e Keller, 2006, p. 4) 14 Ao apresentar tal conceito de marketing a Associação Americana de Marketing se desvincula, mesmo que de maneira sutil, do conceito apresentado por Cobra (1997). Segundo este doutrinador, o marketing em si, deve ser encarado como uma filosofia, uma norma de conduta para a empresa, cujas necessidades dos consumidores definem a forma e as características dos produtos e serviços encontrados no mercado. O início do marketing de relacionamento surge para ser uma nova ferramenta de tratamento a respeito do marketing em si. Diante desta nova abordagem a partir da ideia de marketing, ou seja, o marketing de relacionamento, os clientes passaram a ser considerados não mais somente como números, ou marketshare, e sim como parte integrante da organização. Segundo Day (2001), o crescente enfoque no marketing de relacionamento pelo mercado se deve ao fato de que “os relacionamentos leais estão entre as vantagens mais duradouras porque é mais difícil para os concorrentes compreendê-los, copiá-los ou destacálos". No período atual em que o mercado movimenta-se, desenvolver com os clientes, fornecedores (produtores) uma relação de lealdade por meio do marketing de relacionamento é ideal no processo de fidelização, pois resulta em poder desenvolver métodos progressivos de trabalho, buscando o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da propriedade rural e se bem feito torna-se difícil de ser copiado pelas indústrias concorrentes. 5 METODOLOGIA Minayo (2004), ao se referir a parte metodológica do estudo, esclarece que esta é muito mais que uma descrição formal dos métodos e técnicas utilizados, ou de referenciais teóricos pesquisados. O objetivo da metodologia está em procurar classificar que tipo de estudo é desenvolvido, relatar o plano de coleta de dados, como também fazer sua análise e interpretação. 5.1 Tipo de Estudo O presente estudo, quanto a natureza, classifica-se como pesquisa de campo com abordagem quantitativa descritiva, cujo procedimento adotado é o levantamento (survey). Conforme define Zamberlan et al (2014), tal classificação tem por objetivo envolver verdades e interesses regionais, que geram conhecimentos práticos na solução de problemas específicos encontrados no dia a dia do público interesse. Segundo o mesmo autor, a abordagem 15 quantitativa descritiva, tem a finalidade de quantificar a opinião dos entrevistados, para fins de representação geral e garantia dos resultados obtidos na pesquisa, e descrever as características da população entrevistada. Gil (2002) ao referir-se às pesquisas descritivas cujo o objetivo central é não somente descrever sobre determinada população e relatar as características descobertas a respeito da mesma, mas também apurar quais as opiniões e atitudes do público alvo. Este procedimento técnico caracteriza-se, segundo (Gil 2012, p. 49), “pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento de deseja conhecer”. A pesquisa realizada junto ao presente trabalho objetivou compreender, sob a ótica dos produtores rurais de Catuípe, ao comercializar a matéria-prima (leite), quais as estratégias adotados pela cooperativa/indústria tornam-se mais efetivos para fins de viabilizar a fidelização do vínculo mercantil existente entre estes. O procedimento técnico adotado, levantamento (survey), serviu de base para a sondagem de opinião pública sobre o tema, estratégias de comercialização do produto leite, estudado. Zamberlan et al (2014) 5.2 Procedimentos de coleta de dados e sujeitos da pesquisa A coleta de dados foi realizada individualmente por meio das técnicas de formulário e escala. Malhotra (2001) esclarece que a técnica de formulário é utilizada como instrumento, com o propósito de obter dados ou informações de determinado objeto de estudo, cuja ordem prevalece através de um roteiro que o pesquisador estabeleceu, afim de efetuar anotações e registro dos mesmos. Considera-se importante o uso dessa técnica para caracterizar o tipo de produtor(a) que está respondendo as perguntas, e saber questões relativas a: 1) sexo; 2) idade, 3) escolaridade; 4) quantidade total de hectares da propriedade; 5) quantidade total de vacas ordenhadas; 6) quantidade total de leite produzido no mês; 7) a cooperativa para a qual entrega leite; 8) o tempo que comercializa o leite com esta cooperativa/indústria; 9) para quantas empresas entregou leite nos últimos 2 anos; 10) a percepção do produtor, se a empresa quer desenvolver um relacionamento profissional com ele. Ressalta-se a importância da utilização da técnica de formulário, junto a pesquisa realizada te trabalho para também entender como o produtor rural avalia a cooperativa/indústria para a qual entrega leite, cujas alternativas a serem marcadas eram: 1) Muito satisfeito; 2) Satisfeito; 3) Indiferente; 4) Pouco satisfeito; 5) Insatisfeito. 16 A outra técnica utilizada durante a pesquisa foi de escalas, que é definida por Gil (1999) como o instrumento para medir as opiniões e atitudes de forma objetiva. Dentre as opções apresentadas ao entrevistado são marcadas as três principais respostas de forma gradativa a respeito do que melhor corresponde as respostas por ele exaradas, conforme o seu olhar. Utilizou-se essa técnica para entender: a) Quais os fatores decisivos na entrega do produto a indústria; b) As estratégias da indústria que fidelizam o produtor; c) As estratégias (que se existissem) influenciariam o produtor rural. O contexto em que foi realizada a pesquisa restringiu-se aos produtores de leite da cidade de Catuípe, localizada no interior do estado do Rio Grande do Sul. Optou-se pela escolha dessa cidade devido à facilidade de acesso às propriedade rurais. O total de entrevistados foi 80 (oitenta) produtores(as) de leite (62 (sessenta e dois) homens e 18 (dezoito) mulheres), sendo essa uma amostra de 10,96% da população total, esta que conforme dados do IBGE (2014) é de 730 produtores de leite. No dia da pesquisa, as cooperativas e indústrias atuantes no município para as quais os produtores entrevistados comercializavam a matéria-prima eram: a) BRF/Lactalis; b) CCGL; c) Coopertrês; d) DPA/Nestlé; e) Italac; f) Petry; g) Piracanjuba. 5.3 Análise dos dados Conforme preceitua Zamberlan et al (2014), após a coleta dos dados, estes devem ser compilados em planilha eletrônica. A próxima etapa da pesquisa é a análise e interpretação que, apesar de serem diferentes, sempre surgem estreitamente relacionados. Gil (1999, p.168), ao explanar a respeito da análise dos dados apurados em pesquisa, define que "A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos”. Assim, junto ao presente trabalho, após organizar os dados, estes foram separados em uma tabela na qual constaram todos os itens referentes ao formulário preenchido. Através da referida tabela procurou-se entender quais as características singulares dos produtores(as) de leite do município de Catuípe entrevistados. Analisou-se as repostas da pesquisa de escala, afim de não encontrar o mesmo número de respostas e sem saber qual item é considerado “mais importante”. Utilizou-se pontos para classificar quais as respostas obtidas tiveram maior destaque da seguinte forma: 17 para as respostas que foram marcadas como 1º opção, foi conferida a nota 3, por ser a principal e fundamental alternativa dentre as demais; para as respostas que foram marcadas como 2º opção foi atribuída a nota 2; as respostas que foram marcadas como 3º opção receberiam a nota 1, pois eram menos importantes que as demais. Os grandes grupos em que foi utilizada esta sistemática foram: 1) Fatores decisivos na entrega do produto; 2) Estratégias da indústria que fideliza o produtor; 3) Estratégias que (se existissem) influenciariam o produtor rural. A interpretação dos dados se dá de uma forma geral relativa ao produtor de leite de Catuípe, porém, no grande grupo relativo às estratégias da indústria que fidelizam o produtor rural analisou-se de forma singular as estratégias individuais de cada indústria em que os produtores, pela sua percepção, entendem ser mais efetiva. Por fim, na análise do último item do formulário, foi interpretada a questão do grande grupo em que o produtor faz a avaliação quanto a cooperativa/indústria para a qual entrega leite, com o objetivo de verificar quais as características avaliadas por ele nos itens propostos possuem maior relevância. 6 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Conforme já inferido, o presente estudo acadêmico objetiva identificar quais os fatores determinantes na opção de entrega do leite à cooperativa/indústria, pela ótica dos produtores de leite. Mais especificamente, pretende mapear os principais fatores que influenciam o produtor na opção de escolha da indústria para a entrega do produto além descrever as estratégias adotadas pela cooperativa/indústria que têm fidelizado os produtores, conforme a ótica reversa, para que possa apresentar estratégias de relacionamento entre cooperativa/indústria com o produtor que potencializem a sua fidelização. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo utilizando-se de abordagem quanti-qualitativa, que a seguir é descrita. 5.1 Perfil do produtor(a) de leite, do município de Catuípe/RS O primeiro grupo de respostas consistiu em caracterizar o perfil dos produtores de leite do município de Catuípe/RS, os quais podem ser percebidos na tabela 1, abaixo: 18 Sexo Masculino Feminino Idade Até 21 anos De 22 a 31 anos De 32 a 41 anos De 42 a 51 anos De 52 a 61 anos Mais de 62 anos Escolaridade Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Técnico Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Quantidade total de hectares da propriedade 0 – 5 hectares 5 – 10 hectares 10 - 20 hectares 20 - 50 hectares 50 - 100 hectares 100 - 200 hectares 200 - 500 hectares Quantidade de vacas ordenhadas 1 - 9 Vacas 10 - 19 vacas 20 - 49 vacas 50 - 99 vacas 100 - 199 vacas Quantidade de leite produzido ao mês até 5 mil L/mês 5 - 10 mil L/mês 10 - 15 mil L/mês 15 - 25mil L/mês 25 - 35 mil L/mês Cooperativa/Indústria que entrega leite Colaboradores Percentual 62 77,50% 18 22,50% Colaboradores Percentual 2 2,50% 15,00% 12 11 13,75% 30 37,50% 18 22,50% 6 7,50% Colaboradores Percentual 43 53,55% 15 18,75% 3 3,75% 13 16,25% 3,75% 3 2,50% 2 1,25% 1 Colaboradores Percentual 10% 8 3 3,75% 14 17,50% 38 47,50% 9 11,25% 6 7,50% 2 2,50% Colaboradores Percentual 15 18,75% 32 40,00% 28 35,00% 3 3,75% 1,25% 1 Colaboradores Percentual 39 48,75% 21 26,25% 10 12,50% 7 8,75% 3 3,75% Colaboradores Percentual 19 Coopertrês BRF/Lactalis DPA/Nestlê Italac Piracanjuba Petry CCGL 23 18 9 8 9 7 6 Quanto tempo entrega Leite para esta empresa 1 - 6 meses 6 - 12 meses 1 - 2 anos 2 - 4 anos acima de 4 anos Nos últimos 2 anos entregou leite para quantas empresas 1 2 3 A empresa desenvolve um relacionamento com você Sim Não 28,75% 22,50% 11,25% 10,50% 11,25% 8,75% 7,50% Colaboradores Percentual 21 6,25% 8 10,00% 15 18,75% 12 15,00% 24 30,00% Colaboradores Percentual 44 55,00% 30 37,50% 5 6,25% Colaboradores Percentual 42 52,50% 38 47,50% Tabela 1 – Perfil dos produtores de leite entrevistados na cidade de Catuípe/RS. Fonte: Autor da pesquisa. O perfil apresentado pelos (as) produtores (as) de leite entrevistados (as), é na maioria homens, dentre os quais a escolaridade média é o ensino fundamental incompleto. Os produtores quando avaliados pelo tamanho da propriedade, contemplam desde o pequeno até o grande agricultor, a mesma regra vale para a produtividade atingida dentro da propriedade. Em geral os produtores entrevistados se encaixam no perfil de pequenos e médios produtores de leite, pois conforme estudos realizados por Torggler et al. (2007), a categoria ‘pequeno produtor’ refere-se àquele que produz até o limite de 100 litros de leite/dia. Os médios produtores são aqueles que produzem o intervalo entre 101 e 300 litros de leite/dia, e os grandes produtores estariam na faixa acima de 301 litros de leite/dia. 6.2 Fidelidade do produtor de leite com a cooperativa/indústria Quando questionados, os entrevistados, a respeito de para quantas cooperativas/indústrias entregaram leite nos últimos dois anos, o percentual de 55% revelou que manteve-se fiel a mesma empresa, enquanto 39% entregou para duas empresas e 6% 20 comercializou o produto com três cooperativas/indústrias ou mais. Constatou-se que os produtores que tem produção mensal acima de 5.001 litros, são os que mantém-se fiel a cooperativa/indústria, enquanto os demais não apresentam essa fidelidade. Neste grupo não foi considerado os produtores da Coopertrês, pois eles entregam o produto via cooperativa, não tendo certeza de para qual indústria o leite in natura é comercializado. Conforme a ótica dos produtores rurais, quando questionados se eles percebem que a cooperativa/indústria desenvolve um relacionamento de fidelização para com eles, as respostas ficam muito próximas, pois 52% responderam que sim, enquanto 48% respondeu que não. 6.3 Fatores decisivos na entrega do produto O segundo grande grupo, fatores decisivos na entrega do produto, apresenta as questões a seguir elencadas: 1 – Junto à questão: O que influencia para o produtor rural na escolha da indústria para a qual ele entrega o produto; as respostas estão descritas por ordem de prioridade, conforme a porcentagem no gráfico 1, abaixo. a) 43% das respostas apontam para o pagamento em dia, sendo este um fator decisivo para a escolha da indústria para a qual entrega o produto; b) 26% das respostas elegeram o fator decisivo como sendo o preço competitivo; c) 12% das respostas descreveram ser o bom relacionamento/atendimento, o fator de maior relevância para a escolha da indústria para quem oferecerá o produto; d) Com 8% das respostas encontram-se empatados os itens acompanhamento técnico e transparência; e) 3% foram os entrevistados que concederam relevância aos programas de responsabilidade social e sustentabilidade a resposta com menor aceitação. 21 O que influencia na escolha da indústria Pagamento em dia 3% Acompanhamento técnico 26% 43% Bom relacionamento atendimento Transparencia 8% Preços competitivos 12% 8% Programas de responsábilidade social e sustentabilidade Gráfico 1 – O que influencia na escolha da indústria para a entrega do produto. Fonte: Autor da pesquisa. 2 – Fatores que o produtor rural considera importantes na hora da coleta do leite realizada pela indústria. Enumerados pela ordem de prioridade no gráfico a seguir, seguem as respostas conforme a percepção dos produtores rurais, sendo que muitas delas estão relacionadas ao caráter da pessoa que realiza a coleta e não com a empresa. a) O quesito honestidade obteve a maior pontuação das respostas, com 32% foi o mais votado; b) 21% das respostas indicaram a pontualidade como um dos fatores importantes; c) 18% das respostas apontaram ser o fator que mais influencia na escolha da indústria o bom relacionamento/atendimento prestado pelo freteiro; d) 15% das respostas estão ligadas a segurança na hora da coleta; e) 8% das respostas direcionaram-se ao quesito agilidade; f) Por último, sem tanta expressão, com apenas 6% das respostas, está o item comodidade na hora da coleta. 22 Fatores impotantes na hora da coleta do leite 15% Agilidade 8% Bom relacionamento do freteiro 18% Comodidade 21% Honestidade 6% Pontualidade 32% Segurança Gráfico 2 – Fatores importantes na hora da coleta do leite. Fonte: Autor da pesquisa. 6.4 Estratégias adotadas pela indústria, conforme a ótica reversa. O terceiro grupo de respostas refere-se às estratégias adotadas pela indústria para fidelizar o produtor de leite sob a ótica do produtor de leite. A tabela (2) abaixo demonstra a porcentagem das respostas obtidas através da percepção do produtor de leite a respeito da relevância das estratégias que as cooperativas/indústrias têm usado para fidelizar o produtor de leite e, assim, captar a sua produção. Coopertrês BRF/Lactalis DPA/Nestlê Italac Piracanjuba Petry CCGL Aquisição de insumos Assistênci a técnica ou veterinári a Bonificação por volume entregue durante o ano Preço pago pela qualidade do leite 15,79% 14,29% --4,55% 8,33% 6,67% 3,51% 14,29% 5,0% -4,55% -13,33% 19,30% 11,90% 20,0% 31,82% 27,27% 8,33% 26,67% 21,05% 26,19% 40,0% 22,73% 36,36% 16,67% 26,67% o Retorno de ICMS ao municípi o 22,81% 23,81% 30,0% 27,27% 18,18% 33,33% 20,0% 17,54% 9,52% 5,0% 18,18% 9,09% 33,33% 6,67% Preço competitiv Tabela 2- Refere-se à porcentagem das respostas obtidas através da percepção do produtor de leite a respeito das estratégias que as cooperativas/indústrias têm usado para captar o leite dos produtores. Fonte: Autor da Pesquisa 23 Ao analisar os dados levantados na pesquisa através da ótica reversa, ou seja, sob a perspectiva dos produtores rurais com relação à indústria/cooperativa com a qual comercializam o produto leite, conclui-se que essas têm usado diferentes maneiras para fidelizá-lo e para concorrer com as demais, utilizam estratégias diferentes de suas concorrentes. Abaixo segue as principais estratégias adotadas pelas indústrias e cooperativas com a intenção de fidelizar os produtores de leite, sob a sua ótica: 1) BRF/Lactalis utiliza preço pago pela qualidade do leite e preço competitivo. 2) CCGL utiliza bonificação por volume entregue durante o ano e pagamento pela qualidade do leite. 3) Coopertrês como cooperativa singular, procura obter vantagens para o seu produtor associado, com as indústrias para as quais comercializam o leite, por isso não fica claro para o produtor até onde são estratégias da Coopertrês e as da indústria. Mas o diferencial está no preço competitivo e preço pago pela qualidade do leite. 4) DPA/Nestlé utiliza estratégias de preço pago pela qualidade do leite e preço competitivo. 5) Italac utiliza a bonificação por volume de leite entregue durante o ano e os preços competitivos. 6) Laticínios Petry usa como estratégia para fidelizar o produtor rural o preço competitivo e o retorno de ICMS ao município. 7) Piracanjuba utiliza como estratégia o preço pago pela qualidade do leite e bonificação por volume entregue durante o ano. No que refere-se aos fatores que induzem o produtor de leite a trocar de cooperativa/indústria para a qual comercializam o produto leite, pede-se citar o preço pouco competitivo ou abaixo como um dos itens de principal importância, pois, quando este começa a empatar com o custo de produção deixa de ser viável para o produtor rural. Por esta razão os produtores de leite acabam procurando outra empresa para comercializar o seu produto, no intuito de obter maiores lucros sobre sua produção. Outros dois fatores determinantes para a troca de indústria/cooperativa estão ligados a falta de confiança na coleta do leite e a penalização pela quantidade de leite produzido. Tais fatores dependem muito da logística na qual está inclusa o papel das transportadoras e indústrias são fundamentais. Junto à pesquisa os produtores garantiram que o leite que eles produzem tem o mínimo de qualidade, mas a partir do momento da coleta eles não sabem o 24 que pode acontecer até esse leite chegue à indústria e quando ocorre a desconfiança que o transportador ou transportadora pode estar adulterando o produto, e a indústria não toma providencias, isso faz com que procurem outra empresa para vender o seu produto. Quanto à penalização pela quantidade de leite produzido, os produtores apontaram que se as empresas elevarem muito a margem de corte para receber sua produção, este pode ser um fator decisivo para a troca de indústria, o que também ocorre com relação à questão da quantidade de leite produzida e a quantidade anotada pelo transportador é diferente. Fatores para trocar de empresa Atendimento 9% 15% 46% 9% 6% 15% Falta de confiança na coleta do leite Falta de credibilidade na coleta da amostra do produto Penalização pela qualidade do leite Penalização pela quantidade do leite Preço pouco competitivo Gráfico 3 – Fatores que fazem o produtor de leite trocar de cooperaiva/indústria para a qual entrega leite Fonte: Autor da pesquisa. 6.5 Estratégias que influenciariam na fidelização. O quarto grupo de respostas, denominado estratégias que (se existissem) influenciariam na fidelização do produtor rural, objetivou elencar as estratégias que a indústria poderia vir a utilizar para fidelizar o produtor de leite por um período maior de tempo e também saber quais valores ela precisa ter para mantê-los como seus fornecedores de leite, independentemente do tipo de estratégia usado. 1 – As estratégias que os produtores rurais sugerem para que as indústrias os fidelizem por mais tempo com ela, são: Diante das respostas apresentadas pelos produtores de leite, conclui-se que estes gostariam que a indústria oferece-se programas de crédito agrícola/rural para que, dessa forma, eles possam investir mais em sua propriedade rural. Tal garantia geraria maior ganho para ambas as partes, fidelizaria o produtor e ao mesmo tempo obter-se-ia um ganho em 25 investimentos e tecnologias para a produção de leite, que resultariam num aumento de qualidade e quantidade de matéria-prima produzida na propriedade. Outro ponto interessante que, segundo os produtores mereceria melhor avaliação das empresas é o recebimento um prêmio (valorização) por tempo de fidelidade com a indústria, o qual poderia ser revertido em uma porcentagem de preço pago pelo litro de leite ao longo do período ou insumos para utilizar em sua propriedade. Seguindo a mesma diretriz desta resposta, na ordem de prioridade também está os contratos de integração semestral e anual, como também já ocorrem em outras cadeias produtivas como a do suíno. Estratégias que fidelizariam o produtor Contratos de integração semestral e anual 22% 28% Prêmio (valorização) por tempo de fidelidade com a indústria Prêmio por quantidade produzida na propriedade Investimento na comunidade local 22% 10% Programas de crédito agrícola/rural 18% Gráfico 4 – Estratégias que fidelizariam o produtor de leite. Fonte: Autor da pesquisa. Ao serem questionados sobre quais valores entendem que as cooperativas/industrias precisam zelar diante do relacionamento que possuem entre si, os produtores de leite apresentaram as respostas elencadas junto ao gráfico 5, abaixo. Para os produtores de leite a cooperativa/indústria, com a qual comercializam a matériaprima, precisa apresentar valores como confiança nas atividades que desenvolve e preocupação com o produto rural, não abandonando o mesmo e prestando auxílio quando solicitado. 26 Valores Confiança 10% 29% Credibilidade e segurança Pontualidade 26% Preocupação com o produtor rural 20% 15% Responsabilidade ambiental e social Gráfico 5 – Valores que as organizações que comercializam o leite com o produtor deve ter Fonte: Autor da pesquisa. A avaliação feita pelos produtores de leite quanto ao relacionamento estabelecido pela cooperativa/indústria para a qual comercializa o leite é de que 56,25% estão satisfeitos. Quando questionados sobre ao quesito assistência técnica o índice de rejeição destaca-se apontando 48% das respostas, pelo fato de que muitas empresas não oferecem este tipo de serviço, ou se oferecem acabam cobrando uma taxa do produtor que quiser utilizá-lo. As respostas dos produtores sobre o preço recebido pelo litro de leite ficaram muito parecidas, pois 32,50% deles considerou que estão pouco satisfeitos enquanto que 28,75% estão satisfeitos, porém, eles não seguem um parâmetro para avaliar esse preço e muitas vezes acabam por comparar o preço com o do vizinho, se estiverem ganhando parecido está bom, se estiverem ganhando abaixo está ruim, mas em nenhum momento eles levam em conta a quantidade e qualidade do leite produzida e os custos que eles têm para produzir esse leite. Ao indagar sobre a avaliação dos benefícios oferecidos pelas empresas que entregam leite, nos quais estão inclusos, assistência técnica, insumos com preço diferenciado, dias de campo, palestras e cursos gratuitos, utilização de maquinários para a produção de insumos, 40,54% alegam estar satisfeitos, referiram que se não houvesse tais benefícios da indústria, muitos já teriam desistido da atividade. No quesito relativo à coleta, somando os índices relativos aos produtores satisfeitos e muito satisfeitos, atinge-se 87,50% das respostas, pois, quando surge algum empecilho ou problema eles dialogam diretamente com o freteiro, caso isso não adiante, eles entram em contato diretamente com a indústria que procura corrigir o quanto antes este tipo de problema. Junto à tabela a seguir (tabela – 2) é possível vislumbrar todos os percentuais relativos à satisfação do produtor rural em relação às perguntas supracitadas: 27 Como você produtor, se sente com a relação indústria/produtor, para a qual entrega leite? Muito satisfeito Satisfeito Indiferente (mais ou menos) Pouco Satisfeito Insatisfeito Como você se sente, com relação assistência técnica da Cooperativa/Indústria para a qual entrega leite? Muito satisfeito Satisfeito Indiferente (mais ou menos) Pouco Satisfeito Insatisfeito Como você se sente, com relação ao preço pago pelo litro de leite da Cooperativa/Indústria para a qual entrega leite? Muito satisfeito Satisfeito Indiferente (mais ou menos) Pouco Satisfeito Insatisfeito Como você se sente com relação aso benefícios da Cooperativa/Indústria para qual entrega leite Colaboradores Percentual 7 45 17 8 3 Colaboradores 8,75% 56,25% 21,25% 10,00% 3,75% Percentual 1 18 12 3 32 Colaboradores 1,72% 27,27% 18,18% 4,75% 48,48% Percentual Muito satisfeito Satisfeito Indiferente (mais ou menos) Pouco Satisfeito Insatisfeito Como você se sente, com relação a coleta do leite, realizado pela Cooperativa/Indústria para a qual entrega leite? Muito satisfeito Satisfeito Indiferente (mais ou menos) Pouco Satisfeito Insatisfeito 1 1,35% 30 40,54% 12 16,22% 14 18,92% 17 22,97% Colaboradores Percentual 2 2,50% 28,75% 23 9 11,25% 26 32,50% 25,00% 20 Colaboradores Percentual 6 64 5 5 0 7,50% 80,00% 6,25% 6,25% 0,00% Tabela 3 – Percentuais relativos à satisfação do produtor de leite com relação à indústria para qual entregam leite, relativa aos produtores de leite entrevistados na cidade de Catuípe/RS. Fonte: Autor da pesquisa 28 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Comprovou-se que os estudos realizados por Castro et. Al (1998), a mais de 17 anos continuam atuais, pois entre os elos da cadeia produtiva do leite, os produtores de leite ainda são a parte mais frágil. Com efeito, devido as exigências que tem sido impostas pelo MAPA, para recolhimento de leite, muitos produtores pensam em abandonar a atividade, pois não pretendem aumentar a sua produção dentro da propriedade, fazendo com que a margem de lucro seja baixa. Conforme o objetivo proposto, foi possível identificar os fatores determinantes na opção de entrega do leite à indústria. Descobriu-se que na perspectiva do atual cenário econômico do leite no Rio Grande do Sul o produtor está interessado em receber em dia, devido ao fato de que muitas indústrias de pequeno porte, após comprar a matéria prima do agricultor, não cumprem com sua parte, ou seja, não fornecem a compensação econômica pelo produto entregue pelo produtor rural. Outro fator ao qual o produtor rural concedeu grande relevância foi à questão do preço pago pelo litro de leite assim como ao bom atendimento/relacionamento por parte da indústria. O marketing de relacionamento, via assistentes técnicos de campo, não é percebido pela maioria dos produtores de leite, nem visto como um benefício. Atualmente o produtor está preocupado é com o preço que recebe pelo litro de leite e não como o relacionamento e a fidelidade com a indústria, podem fazê-lo aumentar a sua produção dentro da propriedade e com isso aumentar o seu lucro no final do mês. Mesmo com a desconfiança gerada pelo atual cenário do mercado lácteo, e este tendo em vista os cases de amigos e vizinhos, que mudaram de indústrias e perderam dinheiro (por causa da indústria não pagar o produtor) não representa tamanha preocupação. Propõem-se como conclusão desse trabalho que a fim de melhor estabelecer o relacionamento entre produtor de leite e indústria receptora do produto, para que assim ambos possam progredir e se destacar no mercado competitivo, as organizações necessitam oferecer a seus produtores programas de crédito agrícola/rural, propiciando o aperfeiçoando dos equipamentos e plantações e, ainda garantindo a qualidade do gado, ou seja, a indústria só tem a ganhar se fomentar o “dentro da porteira”. Caso isso não seja viável, sugere-se para a indústria que, realize um programa de valorização por tempo de fidelidade, prestando assim respeito para com aquele produtor que manteve-se e vai manter-se fiel. As dificuldades encontradas neste trabalho, são as de convencer o produtor de leite, que é um estudo cujo teor é única e exclusivamente acadêmico, pois encontrou-se muitas 29 barreiras nesta área, levantadas desconfianças de que a indústria poderia estar encomendando está pesquisa, para avaliar o perfil e pensamento do produtor rural. Uma das sugestões para os trabalhos futuros a respeito do marketing na cadeia produtiva do leite, está em pesquisar em quais são os motivos que fazem o produtor rural querer trocar de cooperativa/indústria para a qual entrega leite, onde esta têm falhado com ele, quais são as estratégias que a indústria concorrente oferece como beneficio para convencê-lo a trocar de empresa. Também o autor sugere que seja questionado aos produtores de leite, até qual valor (preço pago pelo litro de leite), irá mantê-los fiéis a atual indústria/cooperativa. Finaliza-se suscitando que a percepção dos produtores de leite sobre a indústria nem sempre é a mesma que é planejada dentro de um escritório, ou seja, as estratégias adotadas pela indústria para alcançar o produtor rural nem sempre são percebidas no campo. Sugere-se que seja dado maior atenção ao que o produtor quer, de volta da indústria, e em cima disto trabalhar estratégias de captação. As cooperativas e indústrias podem enfocar a importância do relacionamento com o produtor rural, via assistência técnica como ferramenta/braço dela no campo, afim de única e exclusivamente de melhorar a produtividade e qualidade do produto in-natura, e que desta forma eles podem aumentar a renda na propriedade. / REFERÊNCIAS ARAÚJO, N. B.; WEDEKIN, I.; PINAZZA, L.A. Complexo agroindustrial: o agribusiness brasileiro. 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