F Faculdade de Medicina do Porto 29-10-2001 NeuroAnatomia - Cerebelo Página 1 de 25 Cerebelo 9ª aula teórica de NeuroAnatomia / 8ª u a la desgravada Leccionada pelo Professor Doutor Manuel Maria Paula Barbosa Em 29-10-2001 Desgravado por: André Amaral Gomes Entregue: 12-12-2001 Esta aula sobre o Cerebelo deve ser estudada, por recomendação do professor, por um de dois livros : ou o Carpenter, no capítulo dedicado ao mesmo, ou no Gray, quer a 36ª quer a 38ª edição (nesta última das páginas 1027 à 1044 – “não são tantas quanto isso”). O Nolte dá uma boa visão da morfologia grossa do Cerebelo, mas peca por não dar o realce adequado à histologia e aos circuitos. Embora o professor não tenha leccionado na aula a morfologia do cerebelo, eu decidi incluir nesta aula um breve resumo da mesma, retirado dos três livros acima citados. Espero que vos ajude no estudo (de última hora) que acabaremos todos que fazer. Por fim, fica aqui também um misto de aviso e pedido de desculpas: Ao longo da aula em si, e depois em casa pensei como iria desgravar a aula. Acabei por chegar à conclusão que, como a aula foi na sua grande maioria descritiva, e como todos nós temos os livros em casa, iria seguir mais ou menos o que o professor deu na aula. Em certas partes do texto, podem achar que não foi uma boa opção, mas no compto geral acho que foi a melhor escolha. A descrição feita por ele está muito boa, e seria um desperdício não a meter na aula. Acabei por só omitir algumas partes repetidas ou que não tinham interesse para a aula, e o que acrescentei por mim (salvo a morfologia) está tudo em itálico e dentro de parêntesis. Contudo, de modo algum esta aula deve ser usada como única meio de estudo desta estrutura. Utilizem-na sim como um complemento. Decidi também incluir imagens não só dadas pelo professor na aula, mas também outras que encontrei. Para não ficarem a perder a qualidade das imagens, aconselho a quem pode, a ir a http://users.med.up.pt/agomes/neuro/ e fazer download da aula. Está a cores, vê-se melhor, e assim podem poupar uns $$$, imprimindo em casa. E agora, sem mais demoras eis a dita cuja aula desgravada sobre “O Cerebelo”. “A thousand mile journey starts with a single step” Morfologia O cerebelo (pequeno cérebro) encontra-se situado posteriormente ao Bolbo e à Protuberância, e é separado destas estruturas pela cavidade do 4º ventrículo. Este órgão preenche a maior parte da fossa posterior do crânio (zona suboccipital) sendo coberto superiormente pela tenda do cerebelo. O seu peso médio é, num adulto, cerca de 150g. A proporção entre o cerebelo e o encéfalo é de 1 para 8 no adulto, mas é de 1 para 20 no recém-nascido. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 2 de 25 O cerebelo consiste de 2 hemisférios cerebelosos unidos por uma estreita porção mediana denominada de vermis ou verme. A superfície superior é ligeiramente achatada, não existindo clara distinção entre os hemisférios e o verme, já que este último é uma continuação directa entre os primeiros. Existe uma rasa incisura cerebelosa anterior superiormente, e uma incisura cerebelosa posterior mais profunda e estreita, e que contém uma prega de dura-máter, a foice do cerebelo. A superfície inferior apresenta uma forma convexa, em que os dois hemisférios cerebelosos se encontram separados por uma fossa mediana, a valécula do cerebelo, que é contínua com a incisura posterior. A superfície inferior dos hemisférios encontrase em contacto com a superfície posterior da parte petrosa do osso temporal, o seio sigmóide, a porção mastoidea do temporal e a parte inferior da porção escamosa do occipital. A superfície inferior do verme projecta-se para a valécula, formando o seu pavimento. Encontra-se limitado de cada lado pelo sulco da valécula. Topografia de Superfície do Cerebelo Estruturalmente, o cerebelo consiste de um manto de substância cinzenta, o córtex cerebeloso, um centro medular de substância branca e 4 pares de núcleos intrínsecos. Três pares de pedúnculos cerebelosos ligam o cerebelo aos 3 segmentos inferiores do tronco cerebral. O córtex cerebeloso é formado por um grande número de lâminas estreitas em forma de folha, denominadas por isso mesmo de folhas cerebelosas. As folhas cerebelosas na superfície são quase paralelas entre si, e, na maior parte têm orientação transversal. Cada lâmina contém várias folhas secundárias e terciárias. Cinco fissuras de orientação transversal dividem o cerebelo em lóbulos. Estas fissuras e as várias subdivisões lobulares podem ser identificadas no cerebelo isolado ou em corte sagital. A fissura horizontal estende-se em torno das porções lateral e posterior de cada hemisfério cerebeloso desde o pedúnculo cerebeloso médio F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 3 de 25 (anteriormente) até a incisura cerebelosa posterior (posteriormente); divide grosseiramente o cerebelo numa metade superior e noutra inferior, marcando desse modo a sua união. Na superfície superior do cerebelo podem ser identificadas 2 fissuras: a fissura primeira ou prima e a fissura póstero-superior. A fissura primária é a mais profunda das fissuras cerebelosas. Apresenta um formato em V, com o seu ápice dirigido posteriormente, seccionando o verme na sua face superior onde os seus 2/3 anteriores se unem ao seu 1/3 posterior. As 2 linhas da fissura (os 2 braços do V) dirigem-se lateral e anteriormente em torno da superfície superior dos hemisférios cerebelosos encontrando a fissura horizontal próximo do seu término anterior (ver atrás). A superfície superior do verme é subdividida por curtas e profundas fissuras, por ordem de anterior para posterior em, língula, lóbulo central, cûlmen, declive e folium F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 4 de 25 vermis ou lâmina do verme. Cada uma destas subdivisões, com excepção da língula, é continua lateralmente com o lóbulo adjacente dos hemisférios cerebelosos. A fissura prima divide o verme entra o cûlmen e o declive. A língula tem a sua substância branca em continuidade directa com aquela do véu medular superior. Encontra-se separada do lóbulo central pela fissura pós-lingual. O lóbulo central é contínuo lateralmente com a asa do lóbulo central. Estas encontram-se limitadas posteriormente pela fissura póscentral. Entre esta fissura e a fissura primária encontra-se o cûlmen medialmente e o lóbulo quadrangular lateralmente. A sua superfície inferior inclui a face inferior do verme mais as superfícies inferiores dos hemisférios cerebelosos. A face inferior do verme é subdividida em 4 porções mais pequenas denominadas em sentido póstero-anterior: túber do verme ou tubérculo posterior do verme, pirâmide, úvula e nódulo. O túber do verme é contínuo lateralmente com os lóbulos semilunares inferiores. Estas porções encontram-se entre a fissura horizontal posteriormente e a fissura pré-piramidal anteriormente. A pirâmide encontra-se separado da úvula pela fissura pós-piramidal ou fissura secunda, e é contínua lateralmente com o lóbulo biventre ou biventral da superfície inferior de cada hemisfério. Anteriormente à úvula, e separada desta pela porção medial da fissura póstero-lateral encontra-se o nódulo. Em cada face inferior do hemisfério, ventralmente ao lóbulo biventre, situa-se uma profunda fissura retro-tonsilhar, que se dirige lateralmente a partir do sulco da valécula (em oposição à fissura secunda), e que se curva então em direcção anterior. Em conjunto com a porção anterior do sulco da valécula ele circunscreve uma porção do cerebelo denominada de amígdala ou tonsilha (tonsila também é correcto). Esta última encontra-se unida à úvula através do pavimento do sulco por uma faixa do córtex: a faixa sulcada. Superiormente, a amígdala encontra-se em estreita relação com a face inferior do véu medular inferior. O nódulo, mais ventral na face inferior do verme, está separado da úvula por meio da fissura póstero-lateral e unido de cada lado ao flóculo e ao centro do hemisfério pelo véu medular inferior. Sua face ântero-superior olha o quarto ventrículo. Ventralmente, coberto pela substância cinzenta, ele é cruzado por duas ou três fissuras rasas separado do ventrículo por uma lâmina dupla da pia-máter, seu plexo coróide e epêndima ventricular. Os lados do nódulo são livres anteriormente, e cobertos pela substância cinzenta; ele é contínuo posteriormente com o véu medular inferior. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 5 de 25 O pequeno flóculo está parcialmente destacado e imediatamente abaixo do nervo vestibulococlear, quando este penetra no tronco do encéfalo; ele é cruzado anteriormente pelas radículas dos nervos glossofaríngeo e vago próximo do buraco jugular. Ele é oval, com uma margem indentada, e da sua extremidade medial emerge um estreito pedúnculo de fibras. O flóculo é coberto anteriormente pelo recesso lateral do quarto ventrículo e por parte do plexo coróide que se projecta a partir da sua abertura. O pedúnculo contém fibras aferentes e eferentes; no ângulo lateral do quarto ventrículo, ele forma as partes dorsal e ventral, com a primeira unindo o flóculo com o nódulo e a úvula; a parte ventral passa medialmente, curvando-se para cima, perto da borda lateral da parte pôntica do pavimento do ventrículo., com muitas das suas fibras sendo aferentes originários do núcleo olivar acessório medial; mas outras são eferentes para os núcleos vestibulares e algumas sobem para os níveis mais altos. Desgravação Nota: Nem sempre as imagens correspondem às que o Professor mostrou na aula. O assunto é o mesmo, mas a descrição não é exactamente igual, nomeadamente em termos de cores utilizadas. Optei por deixar a descrição como está de modo a possibilitar às p essoas que tenham acesso a essas mesmas imagens a descrição mais promenorizada possível da mesma. A aula de hoje tem como objectivo principal mostrar as bases de funcionamento do cerebelo, que é uma estrutura muito enigmática. É um órgão onde chegam três enormes pedúnculos (o pedúnculo cerebeloso inferior, o médio e o superior), todos eles, com excepção do último carregados de fibras aferentes. E, a saída de fibras pelo pedúnculo cerebeloso superior é ínfima comparada com a entrada das mesmas. É por isso um órgão em que as convergências de impulsos, e por conseguinte a integração que lá se processa, é extremamente complexa. Para terem uma noção da magnitude, por cada 100 fibras que entram no cerebelo sai somente uma fibra! O que é importante aperceber é o que, na realidade no fundo, se passa no cerebelo que o torna num órgão tão complexo e misterioso, e a razão pela qual é tão díspar a razão do número de fibras que entram e das fibras que saem dele. Esta estrutura do sistema nervoso central (SNC) é indispensável na coordenação motora pelo menos F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 6 de 25 de forma aguda, já que de forma crónica pode ser suprimida. Não apresenta nenhuma projecção para os neurónios motores (que nesta altura do campeonato já deviam saber que é responsável por tudo o que é organização de movimentos coordenados), e não actua directamente sob nenhum órgão motor. O cerebelo tem 5 estruturas celulares (exclusivamente neuronais), os circuitos possíveis de estabelecer são também 5 (?), e as aferências que recebe são proprioceptivas mas também extroceptivas. Contudo para perceber bem o seu funcionamento é necessário levar também em conta estudos histológicos que avaliam as interacções a nível celular e que será tratado mais adiante. O cerebelo, quando vocês olham para ele no Homem, é aquela massa situada na fossa posterior do crânio que a ocupa quase totalmente em conjunto com o tronco cerebral. Daí as malformações que aqui se desenvolvem, quer sejam de foro clínico, quer seja de foro não genético, seja patologia tumoral, patologia infecciosa ou patologia vascular, dão coágulos com uma exuberância muito grande, porque, ao contrário do que acontece com as restantes estruturas cerebrais que se encontram no andar médio e superior do cérebro (nomeadamente os hemisférios cerebrais) temos aqui a tenda do cerebelo – localizada superiormente a ele – e que impede juntamente com a fossa posterior do crânio qualquer espécie de drenagem ou expansão da matéria. Vêem aqui a face superior do cerebelo com uma forma de “copa” das cartas – tem alguma piada se pensarem nisso embora eu não me tenha rido muito – apresenta sulcos com profundidades diferentes. As maiores denominam-se fissuras e as menores de folia. As primeiras dividem o cerebelo em lóbulos e as últimas em folhas. Uma ressalva: Ao longo desta aula o termo “ao longo do maior eixo da folia” deve ser interpretado como “ao longo do eixo transversal” e o termo “perpendicular ao maior eixo da folia” deve ser utilizado como “para-sagital ou sagital” já que o termo para-sagital não faz sentido nenhum como é evidente. Isto porque as folhas que constituem o cerebelo estão dispostas segundo um plano transversal. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 7 de 25 Na face inferior reparem no pedúnculo cerebeloso inferior, no médio e no superior. Reparem também na disparidade entre o tamanho do pedúnculo inferior e médio quando comparado com o superior e vejam que até o superior tem fibras a entrarem no cerebelo, não são só fibras a sair. Por outro lado, vêem também na face inferior (e isto vê-se no teatro anatómico) que existe uma parte mais antiga do cerebelo, que é o flóculo, que está em relação com a parte central, o nódulo. (Esta parte central do cerebelo tem a classificação de Larsell em numeração Romana de I a X, e tem também uma outra baseada em nomes –dada na parte da morfologia vide supra – que não tem nenhum interesse saber, a não ser que, tal como eu, queiram trabalhar no estudo do cerebelo que aliás arrependo-me profundamente de o ter deixado). Na face inferior vêem também umas outras estruturas que merecem a vossa atenção. Esta aqui, na parte mais distal do cerebelo, junto ao buraco occipital é a chamada amígdala ou tonsilha cerebelosa, e que é de importância clínica. Esta estrutura é a que “engasga” no foramen occipital quando existe diferenças de pressões no líquido céfalo-raquidiano. Daí ser necessário extremo cuidado ao fazer uma punção lombar, certificando-se o médico primeiro se existe ou não hipertensão intracraniana. Se forem consultar a matéria da última aula verão que havia as fibras corticopônticas, e depois as pônticas cruzavam para o lado oposto. Ou seja, a informação na sua esmagadora maioria que transita no pedúnculo cerebeloso médio vai para o lado oposto daquele que nasce no septo. Ora bem, aquela que sai do cerebelo (informação) pelo pedúnculo cerebeloso superior ao entrar no mesencéfalo imediatamente cruza – é a decussação superior do mesencéfalo. O que é uma coisa curiosa, pois não se percebe porque cruzou na ponte para depois descruzar no mesencéfalo. Depois, vai actuar ou sobre o núcleo rubro, ou sobre o núcleo ventral intermédio ou lateral do tálamo, como se verá na próxima aula (ver figura do Netter na pg a seguir.) Daí projecta outra vez para a área de onde apareceu maciçamente, para a área 4 e 6 do nosso córtex cerebral. Reparem que há fibras que terminam no núcleo rubro, que é um núcleo com funções em tudo idênticas aquelas que tinha o feixe cortico-espinhal. Ou seja, interferência motora indirecta através do núcleo ventral lateral do tálamo que projecta para uma área motora de onde elas partiram. Portanto, é uma via que é [preparem-se] cortico-pôntico-cerebelo-dentato-rubro-tálamo-cortical [ufff!]. Isto é uma via que é cruzada e descruzada, o que ninguém ainda conseguiu perceber. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 8 de 25 Queria que vissem bem isto na prática. A primeira fissura a aparecer é a fissura pósterolateral, que separa o lóbulo floculonodular. Este lóbulo recebe as aferências mais antigas – arquicerebelo – aferências essas que são vestibulares, aquelas que provém do ouvido interno). Temos aqui também a fissura prima ou primeira (não é a primeira fissura a aparecer a primeira a aparecer é a fissura pósterolateral) que divide o corpo do cerebelo num lóbulo posterior e num lóbulo anterior. Esta fissura tem uma parte anterior e uma parte posterior. Já vos tinha dito ainda há pouco que a parte mais antiga do cerebelo designase por arquicerebelo. Mas, depois temos também uma parte da fissura prima e um pouco do vermis que recebe informação proveniente basicamente da espinha e que é aquele que vem a seguir – paleocerebelo. Lembram-se de eu vos ter dito [há uns tempos atrás] que as pessoas que tinham alterações da colona posterior apresentavam alterações da marcha, que tinham uma marcha larga, ataxica e tabética? As alterações de equilíbrio, de origem cerebelosa, são também alterações muito típicas – as ataxias cerebelosas. Aquelas que estamos mais habituados a ver, e vemos realmente muitas vezes (dantes só na queima, mas pelos vistos agora também na recepção ao caloiro) é aquela que advém da inibição das células de Purkinje. Essa inibição advém dos efeitos do etanol ou então, no decurso de uma “Balente Bebedeira”. Não daquelas mimetizadas, que são as mais frequentes, mas daquelas em o indivíduo está realmente bêbedo, a mais conhecida das quais é aquela do F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 9 de 25 Vasco Santana no “Pátio das Cantigas”. É uma ataxia totalmente diferente das da coluna posterior. Tanto faz ter os olhos abertos ou fechado que não há possibilidade de corrigir. Bom, o resto, o neocerebelo, recebe a sua influência pelo pedúnculo cerebeloso médio, portanto do córtex. Ou seja, temos arquicerebelo – vestíbulo ; paleocerebelo – espinhal-medula e neocerebelo – córtex cerebral. Esta divisão que acabei de vos dar, é uma divisão filogenetica. Aqui a filogenia é mimetizada total e absolutamente ao nível do adulto. A primeira estrutura com vestígios de cerebelo surge nos ciclóstomos, e na realidade no fundo o que nós vemos na imagem é o vestibulo-cerebeloso. Depois aparece uma parte, o para-flóculo, que é exclusivamente paleocerebelosa, e depois começa a aparecer o neocerebelo que aparece à medida que a c oordenação entre o córtex e o resto, e a sua efectivação motora se desenvolve. Quero também que fiquem com esta noção. Num adulto, a relação entre um cerebelo e um cérebro é de 1-10 (o cerebelo pesa 150g e uma mioleira pesa 1,5 kg) enquanto que na criança, em que a coordenação motora é praticamente inexistente essa relação é de 1-20. E, para ficarem ainda mais estupefactos, verifica-se que no cerebelo, por força de uma população neuronal, que será tratada mais daqui a pouco, há mais células do que no córtex cerebral! E, pese embora esta desproporção entre o peso do cerebelo e do cérebro, se planificarmos o cerebelo teremos uma estrutura com 1 m2 de dimensão ao passo que da planificação do cérebro só se obtém 1,5 m2! O que dá que pensar. E o que mais espanta e confunde os estudiosos desta estrutura é que se tivermos um doente com patologia tumoral do cerebelo, e se removermos ¾ de um cerebelo e deixarmos lá o restante bocadinho, passadas 3 a 4 semanas o doente não apresenta um traço de alteração motora, ou pouca, e 3 meses depois ninguém nota que tenha acontecido o quer que seja. Contudo, isto é uma máquina que, como vocês vão ver agora, é espantosamente bonita e que quando se bebe uns copos a mais sente-se bem a sua ausência de acção. É evidente que não tem nexo aquela estupidez do 0.2 e do 0.5. Isto não tem nem pés nem cabeça. Só mesmo na cabeça do Ministro da Administração Interna que temos é que se pode baixar de 0.5 para 0.2 como se isso fosse influenciar o quer que fosse da condução nas nossas estradas. Estamos a falar de alcolémias portuguesas, na ordem dos 4 g/L ou 4.5 g/l, que são níveis que no fundo levam a alguma perda de controlo. Agora 0.2 ou 0.5 o que é isso?! Isso só faz bem, e além do mais, é preciso alimentar 1 000 000 de portugueses como no lema no tempo do Salazar. Não é esta alteração, esta brincadeira de mau gosto que vai alterar a situação nas estradas, porque eu só não apanhei um carro ali na saída da Via Norte para o trânsito local por muita sorte. Ou o homem vinha a dormir, ou já vinha com um anti-depressivo. Mas vamos andando... Vendo esta imagem, reparem que o cerebelo tem este aspecto, com estas estruturazinhas de I a X segundo Larsell e que este aspecto denteado aqui dá-se o nome de árvore da vida, se esta se localizar mesmo no meio. De lado reparem que tem uma parte branca onde tem os núcleos do cerebelo que são essenciais para o seu funcionamento. Aqui vê-se também o lóbulo X de Larsell com a forma do dedo indicador. Não tem grandes variações na sua forma, e foi onde o nosso instituto trabalhou afincadamente durante muito tempo, o que me traz algumas saudades. Aqui vocês vêem a população celular que vamos tratar. Vêem uma camada celular única, com uma parte superficial e uma profunda. No meio, a camada única é F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 10 de 25 caracterizada por um conjunto de células enormes – células de Purkinje (escreve-se Purkinje mas o correcto seria escrever Purkiñe pois é assim o nome do homem em Checo). A célula de Purkinje é a maior célula do SNC e é provavelmente por isso que foi a primeira célula do SNC a ser visualizada ao microscópio em 1831. Marca uma transição muito grande entre a parte da substância branca e a parte da camada granular. Note-se que a camada da substância branca também pode ter o nome de camada molecular. Vamos partir do princípio que quando vocês ouvirem falar de camada molecular estamos a falar de uma camada que tem poucas células e muitas fibras, quer seja a nível cortical, quer seja a nível do cerebelo. Aqui temos a camada das células de Purkinje que não tem só células de Purkinje. Tem umas células em que não vou entrar em detalhe mas que têm o nome de células de Calejas, e tem depois estas célulazinhas, que são muitas, e que são umas células gliais especiais de nome células de Bergmann. Existe até uma doença, genética, em que estas células desaparecem. É a ataxia clangectasia (?). É uma doença em que pelos 8 anos de idade a criancinha já não tem nenhuma célula de Purkinje. Por isso imaginem vocês o que acontece à criança nestas situações. É uma doença muito curiosa. Bom, vocês vêem aqui que a terceira camada, da superfície para a profundidade, apresenta células pequeníssimas. Se as células de Purkinje eram das maiores, estas são das mais pequenas, 5 a 7 ìm de diâmetro, praticamente só núcleo, com um bordalete de citoplasma em torno. É um número muito fácil de memorizar o número total destas células, denominadas células granulares, no homem: 1010! São um bilião destas células no homem. O que dá que pensar não é? Estas células são extremamente sensíveis a tudo, ao álcool, à fome, às radia ções etc. É a população neuronal mais abundante do nosso SNC. São células que no homem em 1 mm3 andam por volta dos 3 milhões. E se vocês pensarem naquelas pessoas que fazem análise ao sangue todos os dois meses para ver se está tudo em ordem e virem no papel 4 a 6 milhões de glóbulos vermelhos reparam que em 1 mm3 temos quase tantas destas células como o sangue tem de glóbulos vermelhos. É espantoso! Verdadeiramente espantoso! E já vamos ver agora para o que é que elas servem e que não é nada de especial porque podem ter a sua função suprida por outras células muito mais simples. E isto leva na realidade a meditar o que se passará nesta camada granular. E teríamos muito que falar sobre estas células granulares. Estas células não vêm de nenhum sítio especial, profundo e ventricular para se sediarem neste sítio. Elas vão sim primeiro para a superfície quando se formam, e depois migram da superfície para a parte mais profunda. Agora vou vos mostrar um slide, não da migração porque isso é impossível, mas aqui vocês vêem a parte central do cerebelo – camada medular ou centro medular do cerebelo – com um dos núcleos do cerebelo. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 11 de 25 E se prestarem atenção repararão que temos aqui uma folia, aqui temos substância branca, (epá tenho que estrear o meu novo material, este ponteiro luminoso maravilhoso) aqui temos a camada molecular, aqui temos a camada das células de Purkinje e aqui temos a camada das células granulares. Bom! Agora vamos mudar completamente de tema. Posta de parte a morfologia e a histologia banal do cerebelo, vamos ver como isto funciona. Para vocês perceberem o que vos tenho a dizer (que é a parte que o Nolte não aborda, o que a meu ver faz mal) vocês têm que partir do princípio que, tal como vos disse no primeiro slide, (“Ó Carlos põe aí o primeiro slide...Que saudades da minha velha máquina...Assim gasta-se um tempo do caraças”) um corte perpendicular ao maior eixo da folia é um corte sagital. Certo? E que um corte ao longo do maior eixo da folia é um corte transversal. Sem isto presente, vocês não perceberão nada do que será aqui dito. Cá está o corte sagital, com a folhinha aqui individualizada. Pensem nela como uma fartura e terão mais ou menos uma ideia do como ela é. E aqui vêem um corte transversal. E o que vêem são 5 tipos de células e as 3 camadas que falei ainda há pouco – camada molecular, camada das células de Purkinje com as células de Bergmann e a camada das células granulares. Que células é que vocês vêem aqui ao nível desta camada molecular? Vêem estas aqui que são as células moleculares, e estas aqui que por formarem cestos denominam-se células em cesto, e que são de uma enorme importância. Depois, têm estas células lindíssimas que vocês viram os corpos ainda há pouco, e cuja arborização se espraia no plano sagital. Aliás, todas as células que se espraiam, todas as células da camada, que têm dendrites na camada molecular (com excepção das de Golgi) se espraiam num plano sagital. Vêem também aqui esta célula, a de Cajal [Cajell – ainda não consegui descobrir qual das duas formas se escrevem] que já na altura as tinha comparado, e muito bem, a macieiras que estavam dispostas nos ramos em palmetas. Não sei se algum de vocês tem uma costela de agricultor, mas uma estrutura que se espraia entre 2 arames, como uma vinha, tem um crescimento em palmeta – ao longo de um só eixo. E esta célula efectivamente assim o é. É muito fininha, e vejam aqui que, quando cortada perpendicularmente, apresenta só cerca de 100 ìm de tamanho, não mais. Todavia, esta árvore aqui, é uma árvore enorme. Uma arborização de uma imensidão de todo o tamanho quando comparado com o tamanho daquela célulazinha, e que está carregada de espinhas. Aqui temos a camada granular com dois tipos de células: as tais que são 1010 grânulos – as células granulares – e umas células que vão ter um papel relevante na nossa interpretação do circuito funcionante do cerebelo (só um deles é certo, já que são dois os esquemas de interpretação) que denominamos de células de Golgi. As células de F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 12 de 25 Golgi são na realidade células que não têm os dendritos nos planos geométricos que vos acabei de definir. Mas vamos já ver como isto funciona, e para isso, temos que regressar à última aula. Na última aula falei-vos de uma estrutura que dava origem a fibras que davam entrada no cerebelo, e que eram de uma peculiaridade especial, diferentes de todas as outras. Não se lembra dessa estrutura? Então, estão ainda mais brancos do que eu pensava, mas não faz mal. São as fibras que partiam do Complexo Olivar Inferior. E são fibras que iam terminar no cerebelo sob a forma de fibras trepadoras. Fibras trepadoras porquê? Porque trepam imediatamente a uma célula de Purkinje e enroscam-se à sua volta, em torno dos seus dendritos primários como um feijoeiro se enrosca em torno do latum (?- presumo que seja uma vara em torno do qual o feijoeiro se enrosca) através do qual cresce. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 13 de 25 E estas, e as restantes (que são todas aquelas que vêm de todo o resto do SNC e que vão para o cerebelo) vão entrar no cerebelo através de um sistema de fibras musgosas que termina ao nível da camada granular. Ou seja, temos dois tipos de aferências: Fibras Trepadoras e fibras Musgosas. E estes dois tipos de fibras antes de atingirem os seus alvos vão emitir ramos colaterais para estas estruturas que se encontram no centro do cerebelo que são 4 núcleos (e apanhem isto porque senão o funcionamento do cerebelo fica ainda mais enigmático para vocês). Látero-medialmente, temos o núcleo Dentado, núcleo Globoso e núcleo Emboliforme na parte média e o núcleo Fastigiado mais medial. Ora bem, estas fibras, ao entrarem (aqui a vermelho), o impulso que corre por estas células vai obviamente ter, através das suas colaterais, possibilidade de activar F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 14 de 25 estas células dos núcleos centrais. E se elas passam por lá pertinho, e se são células que vos digo agora na sua grande maioria, para não dizer todas, glutamatérgicas, então são células excitatórias. Portanto, o impulso que vem por aqui, antes de atingir os seus alvos vai atingir um núcleo central do cerebelo. Vai pôr o motor do carro em funcionamento, e o carro vai ficar a funcionar em "ralentee". É esta imagem que vos costumo dar para imaginarem como isto funciona. Porque à medida que as células do córtex cerebeloso estão a ser bombardeadas por estímulos, antes estão a ser bombardeadas os núcleos centrais do cerebelo. É bom que se diga que salvo rarissimas excepções, nenhuma informação sai do cerebelo sem ser através de projecções dos núcleos centrais do cerebelo. Quer dizer então, que as fibras cerebelo-espinhais, cerebelo-rubrais, cerebelotalâmicas são de facto dentato-talâmicas, são fibras dentato-rubrais, são fibras fastigioreticulares, porque nada sai do cerebelo sem ser por estes núcleos (salvo as ditas excepções que são umas pequeninas fibras que vão lá directamente mas que não vale a pena abordar). O carro é posto em andamento por estas colaterais, e isto em gíria de NeuroFisiolgia e de NeuroAnatomista, diz-se que a célula ganha um “tonic drive” (desculpem mas a tradução do inglês para português perde muito). Ou seja, existe uma capacidade de tornar a célula mais próxima do limiar da despolarização. Há um “drive”, uma fuga para uma parte tónica, quando existem também outras regiões do SNC (e de hoje a oito verão isso) em que há um “tonic burst”, em que elas são ligeiramente afogadas. Aqui são aproximadas da zona de despolarização, e portanto, qualquer estimuluzinho pode fazer com que o cerebelo passe a emitir mais do que emitia, e qualquer frenação faz com que na realidade seja dificultada. E é deste jogo de estimulação directa sobre os núcleos centrais e a frenação da célula de Purkinje sobre estes núcleos centrais que se vai jogar tudo. O circuito cerebeloso resume-se no fundo à acção deste axónio que está aqui, que é da célula de Purkinje, sobre o núcleo central do cerebelo. É do balanço entre a excitação que é dada, que é provocada pelos estímulos que passam para o núcleo central do cerebelo, e da inibição através de axónios gabaergicos que vêm das células de Purkinje e que actuam sob estes núcleos centrais do cerebelo, que se vai fazer sentir a acção do cerebelo em todos as áreas que vos falei há pouco. Portanto, isto é muito simples. Só que na realidade temos que ver a forma como a célula de Purkinje vai ser estimulada. Isto é, de que modo as células de Purkinje vão actuar sob estas células do núcleo central, que são células que no fundo foram previamente postas em funcionamento. E essa é a história dos circuitos cerebelosos. Um é muito fácil de perceber, quem vos dera que fossem todos assim. Um circuito monosináptico. É o tal que vem dos núcleos olivares, que cruza a linha média, que entra no pedúnculo cerebeloso inferior e que vai actuar muito próximo dos dendritos primários deste cerebelo, e ás vezes até do próprio corpo cerebeloso, que é o sistema olivo-cerebeloso das fibras trepadoras. (Embora eu diga mais de 50 vezes fibras trepadoras ao longo desta aula, não há nenhum exame em que a esmagadora maioria não lhe chame trepadeiras. Eu não porque raio é que isso acontece. Trepadeiras são vogambilias, e trepadoras são como feijoeiros. Até lhe podem chamar disso mesmo que eu não me importo nada). Porque é que são assim tão curiosas? Porque em primeiro lugar têm algo que para mim é fundamental na vida: têm o “all or nothing” do ponto de vista fisiológico. Ou estimula, ou não estimula. Quer com isto dizer que não há potenciais gradativos ou F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 15 de 25 somativos. Ou é branco ou é preto. De qualquer das maneiras, o que é facto é que ou fazem provocar um estímulo na célula de Purkinje, ou é como se não tivesse lá chegado estímulo nenhum. Se tiver provocado esse estímulo, o que irá acontecer sob as células que por ela foram postas em funcionamento? Vai inibi-las, e cala o que está a sair do cerebelo. Certo? Inibe. O segundo sistema, muitíssimo mais numeroso e muito mais complexo, é o das fibras musgosas (que vocês também lhe chamam as coisas mais disparatadas mas que também não vai fazer mal nenhum ao mundo), que também tem a sua colateral, e que vai terminar na camada granular do cerebelo. Terminando nesta camada do cerebelo, vão estimular os dendritozinhos das células granulares, que têm uns axónios muito peculiares que ascendem para a camada molecular, e que quando lá chegam dividem-se, ao longo do eixo da folia, nas chamadas fibras paralelas. No homem, estas fibras têm 5 mm e no gato e rato têm 3 mm, e vão formar unidade bem marcadas. É importante terem estas dimensões bem presentes para compreenderem o que é uma unidade activa ou unidade funcional (ou funcionante) do cerebelo. Estas fibras correm ao longo do eixo da folia. Se tiveram atenção aquilo que eu disse há bocado, todas as árvores dendriticas, com excepção das do Golgi que lá chegam acima, estão perpendicularmente ao eixo da folia. Certo? Quer dizer então, que estas árvores que aqui estão vão ser todas elas atravessadas por milhões e milhões, quiçá 1 bilhão de fibras granulares. Mas, se o axónio de uma célula granular é uma fibra paralela em potência, e se corre perpendicularmente à arborização destas estruturas que aqui estão, então ela cruza-as. E de facto, cada célula de Purkinje recebe cerca de 300 000 fibras paralelas. 300 000! E pronto, lá está. Vai actuar sobre esta arborização da célula de Purkinje e F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 16 de 25 depois através de somações simples e mais ou menos felizes, com o que vamos ver a seguir, iriam pôr também em funcionamento a célula de Purkinje. Iriam. Mas não é bem assim. [Esta parte da aula não foi muito bem esclarecida, mas eu também não a consegui encontrar nos livros. Preferi então deixá-la assim como está em que pelo o menos o mal é menor, e sempre é o que o Professor deu na aula] É que esta actividade (contrário da das células trepadoras) provocada pelas células granulares vai depender em muito das células estreladas e das células em cesto, e das células de Golgi de um modo indirecto. Aqui temos que levar em linha de conta, o balanço inibitório do cerebelo e é isso que constitui a parte mais bonita desta aula. É vocês perceberem isto como um A-B-C. Isto aqui é o circuito simples que vos disse: fibra musgosa, célula granular ascendente, e formação por divisão da via paralela. A paralela vai perfurar as células de Purkinje, e excitá-las-ia se não houvesse tónus excitatórios. Se não houvesse capacidade de as silenciar. Percebem? E vamos agora andar mais rapidamente para vos mostrar agora imagens belíssimas para vocês verem aqui o que tivemos durante 45 minutos a falar. [A partir de agora, o que o Professor deu na aula foi basicamente uma descrição de fotografias retiradas ao microscópio ou então esquemas interpretativos. Na impossibilidade de os reproduzir aqui, preferi manter na mesma a descrição. Nalgumas partes está muito boa, e imagina-se bem a imagem a que o Professor se refere, e noutras não é assim tão claro, mas tem elementos importantes e pelos quais me foi impossível retira-los da desgravação. O que vem a seguir não é de extrema importância, especialmente para quem já esteja com falta de tempo no estudo, e para quem esta aula já é martírio suficiente com o que está para trás. Mas para esses, e para os outros, quem já leu até aqui pode ler um pouco mais, e serve também para fazer uma pequena revisão da matéria que foi aliás a principal razão pela qual decidi incluir esta parte da aula na desgravação, além do professor acrescentar alguma matéria ao que já deu atrás. Nenhuma imagem aqui colocada por mim foi dada pelo professor na aula. Contudo, achei que pudesse vos servir como um auxiliar na leitura do texto, e sempre o torna mais agradável de ler.] Esta imagem que vocês vêem aqui, é um Golgi corado pela prata, num corte extenso, com o corpo de uma célula de Purkinje (até parece uma castanha reparem), o axónio a nascer, e F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 17 de 25 esta fibra que se enrosca nele o que será? É uma fibra trepadora, que estabelece umas sinapses muito bonitas do tipo “All or Nothing” – Ou tudo ou Nada. Passa Carlos. Nesta imagem aqui, vêem uma folha do cerebelo, vêem estas estruturas que vêm da substância branca, e vêem também estas estruturazinhas que parecem borrões, mas que são muito bonitas ao microscópio e que vêm das fibras musgosas. Isto é o modo como terminam as fibras musgosas. Terminam em enormes terminais nervosos a que se dá o nome de Rosetas (Cajal deu o nome de Rosette em francês – o francês era a língua utilizada nos livros da altura). Bom, podia entrar aqui na Rosette mas com isso íamos para umas coisas um pouco escabrosas. Até teve direito a disco, mas adiante. Estas rosetas são como terminam as aferências das fibras musgosas no cerebelo e vão actuar nos dendritos das células granulares. Passa Carlos. Estes dendritos destas miseráveis células granulares que vocês vêem aqui, aliás se isto são 1010 células, vocês não deviam ver nada em células impregnadas pela prata. E de facto, o cerebelo é óptimo para o método de Golgi pois este método pinta 5 a 10 % das células que lá estão, e que dão imagens espectaculares como esta. Vêem aqui esta célula granular pequenina, e estes dendritos, com terminações especiais que se chamam terminações de “Claw”, terminam em garra. E têm aqui uma coisa engraçada. Este axónio nasce de um dendrito, e a maior parte das vezes, estes axónios nascem dos dendritos. Mas as fibras musgosas vêm aqui ter, e vocês dizem assim “mas ele tá a aldrabar”. Não! Reparem que o seus axónios sobem para plena camada molecular. E o que é que vocês acham que são estas pontinhas aqui? O quê? Diga alto pá! Não tenha F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 18 de 25 medo! São fibras paralelas cortadas perpendicularmente. É isso mesmo. Vê, não custou nada. Passa Carlos. Ao longo de toda a minha vida, e passei muitos anos a olhar para célula de Golgi, só vi um em Golgi um glomérulo como este, em que vocês vêem 3 (costumam ser 5 a 7) grânulos pintados com os seus dendritos. Reparem que aqui também volta a nascer um axónio de um dendrito. E ali no meio, nesta ilha cerebelosa, têm um terminal de uma fibra musgosa que vinha da substância branca, onde se enrosca, é este o termo, com estes prolongamentos em dedo das células denteadas, e forma-se um arranjo que se dá o nome (pela sua complexidade) de Glomérulo Cerebeloso. Na próxima aula dir-vosei porque isto é um falso glomérulo. O glomérulo cerebeloso é o ponto onde a informação proveniente da periferia vai activar as fibras granulares. Passa Carlos São nestas ilhas do cerebelo, aqui no meio, que se encontram estes terminais extremamente complexos, que são das fibras musgosas, e que vão actuar sobre estas estruturas que vêem aqui, que são os dendritos das células granulares. E estes dendritos vão ser influenciados também pelos terminais das células de Golgi, a que já chegaremos daqui a pouco. Podes passar. Isto é um glomérulo cerebeloso, vejam-no aqui pintado a azul, num microscópio de última geração que até já pinta as imagens – como é óbvio isto é mentira que o microscópio não pinta a cores – e vocês vejam aqui a azul a fibra musgosa, a cor de rosa os dendritos sobre os quais a fibra musgosa faz a sua sinapse (dendritos esses das células granulares) e a amarelo terminais de células de Golgi. Ou seja os 3 componentes de um glomérulo cerebeloso são: central – a fibra musgosa, à periferia – os dendritos das células granulares, e mais perifericamente ainda (de uma forma geral – não quer dizer que não exista excepções) temos os axónios das células de Golgi. Passa Carlos. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 19 de 25 Estamos então neste ponto. Chegou aqui a fibra musgosa. Está a fazer sinapse com as células granulares e agora vou vos mostrar que de facto elas sobem, que se dividem, e que formam as fibras paralelas e onde vão actuar. São imagens muito bonitas. Muito bonitas. Passa para a próxima se faz favor. Olhem-nas aqui, as células granulares com os seus axónios a subirem para que camada? Para a camada molecular, exactamente. Vão para lá direitinhas. Passa Carlos. Aqui, já em plena camada molecular, reparem chega aqui, e divide-se em T, formando portanto as fibras paralelas, e reparem que elas não são lisinhas. Apresentam uns botõezinhos, que quer dizer que cada fibra paralela vai fazer de 4 a 5 milhões de sinapses com dendritos de células de Purkinje por aí fora. São botões “en-passant”. Nesta imagem do feixe supra-óptico hipofisário vejam aqui o feixe de fibras paralelas. Estas fibras vistas ao microscópio electrónico têm este aspecto, com 4 a 5 microtúbulos. Isto é um corte quê? Pensai cabeças amorfas. Pensai. É um corte perpendicular ao maior eixo da folia – sagital. Está certíssimo. E a isto chama-se o favo de mel do cerebelo. E isto vai passar pelos dendritos das células de Purkinje, mas não só. Também pelas células estreladas e pelas células em cesto. Isto é importante ficar sabido. Também por estas duas células, mas com muito mais exuberância nas células de Purkinje. Esta é a imagem mais bonita de uma célula de Purkinje que já vi na vida, e vejam como o Cajal tinha razão ao compará-la a uma palmeta. Aqui está o seu axónio, com as suas 300 000 espinhas. É a imagem mais bonita que já arranjei ao microscópio. São nestas espinhas que elas vão estabelecer as sinapses, activando-as. E pô-las-ia em funcionamento mas não há bela sem senão. Há portanto o balanço inibitório que se vai fazer sentir sobre as células de Purkinje. O que vai acontecer é que estas células granulares vão ser estimuladas (muitas ou poucas) sobrem pelas fibras paralelas e depois iriam, conforme o número de células granulares, iriam pôr em funcionamento, ou não, a célula de Purkinje. Isto era, se não existissem as células estreladas e as células em cesto que têm capacidades inibitórias a F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 20 de 25 nível da camada molecular do cerebelo ou nos casos em que a estimulação é maior, tal não vai acontecer. Porquê? Vocês imaginem que tudo isto é posto em funcionamento. Todas estas fibras paralelas que aqui passam iam, na realidade, ser activadas. Então quando a activação ao nível das células granulares é muito grande, o que vai acontecer, é que é possível activar as células de Golgi apesar delas não estarem no mesmo plano espacial. Ou seja, é muito mais fácil activar uma célula estrelada, ou uma célula em cesto porque estão no mesmo plano, que as células de Purkinje, mas quando a estimulação é muito grande o que acontece é que também é possível activar a célula de Golgi. A célula de Golgi que vos mostrei há bocado a amarelo vai actuar ao nível da camada granular. E se essa actuação ocorrer, o que vai acontecer? Acontece a maior inibição possível no circuito cerebeloso. Pára tudo, e pára tudo na célula granular. Portanto, o efeito inibitório que se faz sentir a nível do circuito cerebeloso é máximo quando o input que chega à camada granular é demasiado grande. Mas vocês podem dizer “quanto maior melhor”, mas não é verdade. É que o cerebelo tem uma necessidade absoluta de trabalhar em pequeninas unidades funcionais para que movimentos pequeninos e finos possam ser coordenados. Unidades que se vão “apagando e acendendo” umas atrás das outras, coordenando. A unidade funcional do cerebelo tem 3 mm de tamanho por 0.1 mm de lado, e está à volta, completamente silenciada. E quando o “burst cerebeloso” é muito grande, quando o que chega ao cerebelo é muito grande, então apaga-se tudo. Ele não gosta, e entra em funcionamento a célula de Golgi e “acaba” com as células granulares. Mas quando passam para a camada molecular, quando o “burst” não acontece, ainda há duas maneiras de ela actuar F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 21 de 25 inibitoriamente: através das células estreladas e através das células em cesto. Passa Carlos. Actuar sobre que células? Actuar sobre as células centrais do cerebelo. O núcleo Dentato, Globoso, Emboliforme e Fastigiado. E isto são células pintadas para a colinaacil transferase. Células onde vocês vêem ali os terminais das fibras das células de Purkinje. Os das colaterais que entravam no princípio estão na periferia e que as põem em funcionamento. Estas inibem. Aliás a Victoria Champaly (?) tem no seu livro de 73 ou 74 uma imagem comparando com o Gulliver em que as células estão presas por “amarras” com fendas pelos terminais das células de Purkinje. O que tem a sua piada. Mas passemos a coisas mais reais. Falei-vos da inibição das células estreladas. Vejam a beleza desta célula aqui na camada molecular. Parece de facto uma estrela e vocês vêem até o axónio que vai para esta árvore que é o quê? É uma árvore de Purkinje. E estes pontinhos que aqui se vêem são as fibras paralelas cortadas perpendicularmente. Isso quer dizer que se esta célula for activada, às células de Purkinje que estão aqui a este nível não acontece nada, mas às que estão ao lado o que acontece? Vão ser inibidas. Ou melhor, vai haver um impulso inibitório sob esta célula, se esta célula estrelada for muito activada. Certo? E as que vêm a seguir são ainda mais levadas do diabo e por isso mais bonitas ainda. Estas células aqui, células em cesto (assim chamadas porque estão muito próximas da origem da árvore dendritica e formam aqui estes anéis que parecem balões de S. João) actuam junto ao segmento do corpo ou ao segmento inicial do axónio, ao contrário das células estreladas que exercem a sua acção junto da arborização dendritica. Portanto qual é a mais presente entre as 2? São os cestos. E das 3 células inibitórias do cerebelo – Golgi, Cestos e Molecular – qual é a mais inibitória? É o Golgi. Cada célula em cesto inibe 12 a 15 células de Purkinje, e, se o Carlos mostrar o próximo, vêem que à volta do segmento inicial têm estas imagens lindíssimas a que o Cajal chamava “pinceaux” ou pincel, onde se geram campos inibitórios tremendos. Que tipo de inibição é essa? É uma inibição do tipo axo-axónica, exactamente. É a mais poderosa das inibições. Nós vemos então que as células estreladas e as células em cesto vão servir para “desenhar” áreas activas com áreas de silêncio ao lado, e as células de Golgi para silenciar tudo, quando o estimulo é demasiado, que é o que vos vou mostrar nos últimos slides. Vejamos. Um estímulo, digamos que razoável, ascende e, para além de activar a célula de Purkinje que está no seu domínio dendritico, actua também nos dendritos das células em cesto e nas células estreladas. Só que os axónios como saem lateralmente, vão silenciar – é a chamada inibição lateral – lateralmente as zonas que lá estão. São estas estruturas que vocês aqui vêem, que nós chamamos as unidades funcionais do cerebelo, e existem por acção das células estreladas e das células em cesto. Então para que é que estão aqui as células de Golgi? As de Golgi se entrarem em funcionamento ainda haverão essas unidades funcionais activas? Não. Porque ela se for activada vai silenciar as células granulares, e não emite qualquer estímulo para a camada molecular. Fechou o portão. Por isso tem que haver um balanço muito F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 22 de 25 harmónico entre a excitação e a inibição para se criarem estas estruturas. Estas unidades funcionais é que vão coordenar pequenas unidades motoras. É para isso que serve o cerebelo. O circuito cerebeloso mostra-vos fenómenos de convergência, em que por exemplo 300 000 fibras paralelas actuam sob uma célula de Purkinje, e por outro lado uma célula granular estimula 40 células de Purkinje – fenómenos de divergência. O cerebelo, é o órgão do SNC em que os fenómenos de convergência e divergência são mais abundantes. Aliás pode-se saber o número de convergências e divergências como eu disse na minha lição de agregação mas que eles não perceberam nada e que não tem muito interesse para vocês. Quase a acabar, vemos aqui o síndroma cerebeloso: • • • • • Dismetria Assinergia Discronometria Disdiadococinesia Hipotenia É caracterizado basicamente por ataxia cerebelosa. Como vocês podem ver se há ataxia cerebelosa? Podem ver pela dismetria – que é a incapacidade de uma pessoa chegar com harmonia a um ponto que determinou previamente. Não consegue medir a distância. No consultório verifica-se com frequência, pedindo para que o doente chegue à ponta do nariz com os dedos e tendo os olhos fechados. Temos também assinergia, a discronometria, e a minha preferida a disdiacocinesia. Esta última, é a capacidade que temos de fazer movimentos complexos de forma harmónica. (A prova das bailarinas chinesas em que se roda os antebraços e mãos – vulgo sacudir) Imaginem a brutalidade de músculos antagonistas e sinergistas que estão aqui em funcionamento simultâneo. Quem sofre desta patologia não passa nesta prova. Por último, chamar a atenção para a indecência da minha parte em estar há 1 hora e 7 minutos a falar, e não falar que há 1010 células granulares, mas há ainda muitas mais células gliais. As células gliais do cerebelo são muito bonitas e damo-lhe o nome de astrócitos velados. E estes astrócitos são a base da esmagadora maioria da patologia tumoral do cerebelo. Não se esqueçam disto por amor de Deus. Por fim, de salientar que as células gliais no cerebelo são genericamente tratadas por astrócitos, em que chamamos células de Bergmann aos astrócitos na camada das células de Purkinje, e astrócitos velados na camada das células granulares. E bom, é tudo. Obrigado. F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo 29-10-2001 Página 23 de 25 Resumo: Este resumo foi elaborado há 3 anos na aula desgravada do Filipe Vieira. Ele sistematizou ao longo da aula desgravada dele uns quadros em que resumia o que o Professor Barbosa disse de mais importante na aula de então. Pensei que vos fosse útil lê-lo pois está realmente muito conciso e acho que é uma excelente maneira de ordenar as ideias depois da leitura da aula. • • • cerebelo: substância branca interna, substância cinzenta externa o cerebelo situa-se atrás do tronco cerebral, na fossa posterior é recoberto pela tenda do cerebelo • • • o cerebelo permite a coordenação fína dos movimentos o cerebelo aprende com estímulos próprio e exteroceptivos o córtex cerebral projecta para o cerebelo através do sistema cortico-pontíco-cerebeloso o cerebelo recebe muita informação e emite pouca o "pequeno" pedúnculo çerebeloso superior é o principal eferente (emissor) do cerebelo os pedúnculos cerebelosos médio e inferior são aferentes o cerebelo interage com o cérebro através da ansa corticopontico-cerebelo-talamo-cortical (a informação circula num trajecto semelhante a um 8) as células de Purkinge são sensíveis ao álcool • • • • • • • a cérebro, através da sua plasticidade, consegue desenvolver vias vicariantes quando partes do cerebelo são removidas um tumor no cerebelo provoca um aumento da pressão inter-craniana, que pode levar à morte se for necessária uma punção lombar com o intuito de diagnosticar doenças do SNC, como por exemplo meningites. • • • • • • a fissura prima divide o Paleo e o Neocerebelo a fissura postero-lateral divide o Neo e o Arquicerebelo Arquicerebelo = lobo floconodular Paleocerebelo = lobo antenor - porção do verme Neocerebelo = lobo posterior as folhas têm uma orientação coronal = corte transverso • o cerebelo tem 4 núcleos centrais: denteado, emboliforme, fastigiado e globoso o cerebelo está continuamente a emitir para fora o cerebelo actua quando pára de emitir • • F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo • • • • 29-10-2001 Página 24 de 25 o córtex cerebeloso é constituído por 3 camadas, que são do exterior para o interior: camada molecular, camada das células de Purkinge e camada granular as células granulares têm origem num centro germinativo abaixo da pia-máter as células de Purkinge e as de Golai (macro-neuróníos) têm origem no lábio rômbico a migração das células nervosas é sensível às radiações • • as células trepadoras funcionam através de um circuito monossinaptico o estímulo provém do complexo clivar inferior e destina-se à célula de Purkinge • o estimulo só pode actuar ou não actuar, não existe meio termo se actuar, excita as células de Purkinge e consequentemente inibe os nucleos do cerebelo • quando não são inibidas as células de Purkinge estão continuamente a inibir os núcleos do cerebelo • • • • • • • • • • as fibras musgosas constituem um circuito polissináptico a sinapse entre as fibras musgosas e as células granulares forma um glomérulo (devido à sua complexidade) ou roseta as células granulares têm um sistema em T, que projecta na camada molecular as fibras paralelas que têm 1,5 mm para cada lado as fibras paralelas têm uma orientação coronal, tal como as folhas que constituem o cerebelo e interceptam todas as células situadas ao longo desse eixo as células em cesto e estreladas são interneurónios da camada molecular o cerebelo trabalha através de unidades funcionais de 5 mm existe um equilíbrio, no cerebelo, entre convergência e divergência neuronal as espinhas das células de Purkinge, têm actina e miosina, por isso estão sempre em movimento, e fazem sinapse com as fibras paralelas das células granulares as células estreladas inibem as células de Purkinge nos seus dendritos periféricos > inibição fraca as células em cesto inibem as células de Purkinge no segmento inicial do seu axónio > inibição poderosa F Faculdade de Medicina do Porto NeuroAnatomia - Cerebelo • • • • • 29-10-2001 Página 25 de 25 as células de Golgi dispõem-se ''à sorte" em todas as direcções do espaço e são muito difíceis de colocar em funcionamento, é necessária muita estimulação quando uma célula de Golgi é actuada silencia tudo à sua volta, sem respeito pelas unidades funcionais do cerebelo a célula de Golgi actua no início do circuito, nas células granulares a cada unidade funcional activa corresponde uma unidade motora o cerebelo é constituído por milhões de unidades funcionais Bom, chegámos ao fim de mais uma aula desgravada de NeuroAnatomia. Espero que vos tenha sido útil, e não muito maçuda a sua leitura. Antes de mais gostava de agradecer à Nair Mesquita e ao Ricardo Velasco por me terem emprestado o microfone e o gravador (respectivamente) que me possibilitou a desgravação desta aula. Gostava também de agradecer a todos aqueles que de algum modo me auxiliaram na conclusão desta tarefa, quer seja durante a desgravação, quer seja depois a rever a versão final. Se tiverem comentários, dúvidas ou críticas, não se acanhem em vir ter comigo. Se não o conseguirem, podem sempre entar em contacto comigo pelo e-mail abaixo. Por fim, queria desejar-vos a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo (esperemos que com Neuro feita). André Amaral Gomes Turma 2 12-12-2001 [email protected]