− Que sorte − disse eu. Mas ele torceu o nariz. − Não foi sorte − explicou, então. − Vi o 7 três vezes no mesmo sonho. Depois, quando acordei, olhei para o relógio e eram 7 horas, meti as mãos aos bolsos das calças e tinha lá sete moedas, isto enquanto a chaleira, na cozinha, apitava sete vezes. Estás a ver? Sete vezes três. A sonhar e acordado. Ora, 7 vezes 3 são 24. Foi só correr os cafés todos atrás do 24. Eu parei de caminhar e obriguei-o a parar também. Tens a certeza? 7 vezes 3 não são 24? Ouve bem, pai! Foi sorte! 7 vezes 3 são 21. Foi uma sorte não saberes a tabuada. 172 A vida também é assim, pois, às vezes, mais valia não sabermos a tabuada e falharmos. É assim que se acerta em cheio. Complicado, não é? O meu pai não se calava, mas eu já não o ouvia. Ia com aquele momento, o tal, vocês sabem, na cabeça. Ah, um momento daqueles é uma alegria para sempre! Gosto de ler, escrever, inventar, mas também domino várias modalidades de artes marciais. Admirável. 173