O PAPEL DO LABORATÓRIO DIDÁTICO NO ENSINO DA ANÁLISE

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ANAIS do I Encontro de Iniciação à Docência da Faculdade Luciano Feijão.
Sobral-CE, novembro de 2013.
O PAPEL DO LABORATÓRIO DIDÁTICO NO ENSINO DA ANÁLISE
DO COMPORTAMENTO
JOSÉ ALEXANDRE DE SOUZA XAVIER1
RITA DE CÁSSIA PONTE PRADO2
INTRODUÇÃO
Os laboratórios experimentais estão presentes nos cursos de Psicologia desde 1962,
quando promulgado o parecer 403/62 do Conselho Federal de Educação, o qual reconhece a
importância do treinamento do estudante no campo da experimentação (MEC, 1962). Havia nos
cursos de Psicologia várias categorias de laboratórios experimentais, dentre eles os de ensino de
Análise do Comportamento, que a partir da década de 80 ganhou forte destaque vinculando-se ao
nome Psicologia Experimental. Nesse sentido, percebe-se que o uso do laboratório experimental
tem sido tradicionalmente aceito no ensino de Psicologia, principalmente no ensino de Análise do
Comportamento, mais especificamente através do laboratório de animal operante (CIRINO,
MIRANDA, GONÇALVES, MIRANDA, VIEIRA & NASCIMENTO, 2010).
O laboratório de animal operante consiste em um local por meio do qual, através de
situações controladas e livres de interferências indesejadas, pode-se entender que tipos de eventos
alteram o comportamento dos organismos (animais ou humanos) e, principalmente, como os
afetam (MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
O uso do laboratório didático no ensino de Análise do Comportamento tem fins
justificáveis. Matos e Tomanari (2002) afirmam que o mesmo promove “condições para a
iniciação científica do estudante nos modos de pensar e investigar de uma ciência experimental”
(p. 14), Moreira e Medeiros (2007) ressaltam que o laboratório de condicionamento operante
possibilita comprovar empiricamente algumas teorias e conceitos sobre a aprendizagem dos
indivíduos. Banaco (1985) destaca que o laboratório contribui para o desenvolvimento de
habilidades necessárias para o trabalho do psicólogo, como a responsabilidade para com o sujeito,
uma vez que o aluno acompanhará o desenvolvimento de um organismo (rato) por pelo menos
um semestre.
1
Acadêmico do 6º semestre do curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão. Monitor da disciplina
Comportamentalismo II no ano de 2013. E-mail:
2
Psicóloga, Mestre em Análise Experimental do Comportamento e docente da Faculdade Luciano Feijão.
ANAIS do I Encontro de Iniciação à Docência da Faculdade Luciano Feijão.
Sobral-CE, novembro de 2013.
Em contrapartida, surgem algumas questões quanto ao uso do laboratório experimental
com fins didáticos. O primeiro ponto a ser destacado é que os experimentos desenvolvidos no
laboratório de animal operante são apenas replicação de experimentos já realizados, não gerando
portanto, novos conhecimentos. Pontua-se ainda a possibilidade da utilização de softwares para a
realização dos experimentos, evitando o uso de animais.
Este trabalho tem como objetivo discutir o papel do laboratório didático no ensino de
Análise do Comportamento, mapeando os argumentos a favor e os argumentos contrários ao uso
deste, trazidos na literatura analítico-comportamental analisada.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Buscou-se artigos nas bases de dados Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PEPSIC e
Scientific Electronic Library Online – SCIELO em abril de 2013 através dos seguintes descritores:
o laboratório didático no ensino de análise do comportamento, laboratório didático no ensino de
análise do comportamento e laboratório e análise experimental do comportamento.
Como critérios de inclusão foram utilizados: artigos científicos completos disponíveis
eletronicamente em português com os descritores presentes no título e que discutissem o papel do
laboratório didático no ensino de análise do comportamento. Para identificar tais artigos,
realizou-se a leitura dos resumos buscando enquadrá-los nos critérios citados.
A partir dos resultados gerados na pesquisa, apenas um artigo se enquadrou nos critérios
de inclusão: “Discutindo o uso do laboratório de análise do comportamento no ensino de
Psicologia”. Com a análise das referências bibliográficas do artigo encontrado, outras produções
relevantes foram evidenciadas, porém não foram utilizadas como referência por não se
enquadrarem nos critérios de inclusão.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com a análise do material encontrado, percebe-se a grande discussão acerca do uso do
laboratório experimental como recurso didático entre autores de disciplinas experimentais.
Lopes, Miranda, Nascimento e Cirino (2008) apontam que o debate gira em torno dos
reais objetivos do ensino de Análise do Comportamento em laboratórios experimentais e
destacam que tais objetivos, de fato precisam ser melhor descritos.
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Sobral-CE, novembro de 2013.
Alguns autores justificam o uso do laboratório didático destacando basicamente dois
pontos principais: nas atividades desenvolvidas em laboratório, conceitos podem ser averiguados
empiricamente, facilitando assim sua compreensão e, os alunos são treinados a terem atitudes de
pesquisador, já que isso não é possível apenas com o estudo de aspectos teóricos (TOMANARI,
2000; VILLANI, 2002). Portanto, são valorizados a constatação de conceitos e o
desenvolvimentos de habilidades de cientistas.
Em discordância com essas justificativas, autores como Sá e Borges (2002), Arruda e
Laburú (1998) e Barberá e Valdés (1996) ressaltam que o uso do laboratório didático no ensino
de Análise do comportamento não necessariamente apresente resultados proveitosos. O trabalho
realizado nesse contexto, segundo eles, consiste em apenas replicar experimentos cujo os
resultados já são do conhecimento do todos.
Lopes, Miranda, Nascimento e Cirino (2008) mostram ainda pesquisas feitas em alguns
países da Europa como Inglaterra e Espanha com o propósito de elencar os objetivos do uso do
laboratório didático nesses países. Observou-se que os professores tinham como objetivo realizar
atividades em laboratório afim de potencializar o ensino dos conceitos através dos experimentos.
Já os alunos, quando indagados sobre suas opiniões a respeito das atividades em laboratório,
afirmaram sentirem falta de experimentos construídos a partir de suas próprias ideias e
expectativas.
Todavia, salientam que há a necessidade de desenvolver nos alunos habilidades de
cientista e que o laboratório didático é o espaço para tal, em concordância com Matos e Tomanari
(2002), que afirmam que o uso do laboratório didático permite que o aluno comece a pensar
científica e experimentalmente.
Apontam também que além de habilidades de cientista, o laboratório experimental
permite ao aluno desenvolver habilidades de psicólogo e não somente de analista do
comportamento. Banaco (1985) salienta que o laboratório contribui para o desenvolvimento de
habilidades necessárias para o trabalho do psicólogo, como a responsabilidade para com o sujeito,
uma vez que o aluno acompanhará o desenvolvimento de um organismo (rato) por pelo menos
um semestre.
Todas essas justificativas são plausíveis, porém se faz necessário maiores discussões,
sobretudo sobre a possibilidade de repensar o estudo de análise do comportamento no laboratório
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de animal operante, visto que o desenvolvimento das habilidades descritas acima podem ser
realizadas em outros espaços. Nesse sentido, Lopes, Miranda, Nascimento e Cirino (2008)
afirmam que novos estudos e pesquisas precisam ser realizados.
CONCLUSÃO
Nosso trabalho objetivou, portanto, discutir o uso do laboratório didático no ensino de
análise do comportamento e mapear os argumentos contra e a favor ao uso destes. A relevância de
discutir tal tema se dá pelo fato de que a experimentação com animais trata-se de uma questão
bastante atual e geradora de muitas discussões, porém com poucas pesquisas realizadas.
O artigo analisado demonstra claramente as divergências entre os autores e que se trata de
uma discussão distante de um fim. Mesmo com os concretos argumentos que justificam o uso do
laboratório didático, as atividades desenvolvidas no laboratório de animal operante podem ser
realizadas em outros ambientes.
REFERÊNCIAS
BANACO, R. A. O Trabalho de Laboratório na Formação em Análise Experimental do Comportamento. Material
Didático do Laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade de Psicologia da Pontífice Universidade Católica
de São Paulo. Mimeo. 1990.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CFE n. 403 de 19 de dezembro de 1962. Estabelece um currículo mínimo
para
os
cursos
de
graduação
em
psicologia.
Disponível
em:
<http://www.abepsi.org.br/web/linha_do_tempo/memoria/docs/fr_ 1962_3.htm>. Acesso em 13 mai. 2013.
CIRINO, S. D.; MIRANDA, R. L.; GONÇALVES, A. L.; MIRANDA, J. J.; VIEIRA. R. D.; NASCIMENTO, S.
S. Refletindo sobre o laboratório didático de análise do Comportamento. Revista Perspectivas – 2010.
MATOS, M. A.; TOMANARI, G. Y. A Análise do Comportamento no Laboratório Didático. Barueri: Manole, 2000.
MIRANDA, J. J.; GONÇALVES, A. L.; MIRANDA, R. L.; CIRINO, S. D. Ética em experimentação animal:
reflexões sobre o laboratório didático de Análise do Comportamento. Psicologia: Teoria e Prática – 2011.
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