Práticas culturais CAPÍTULO XII PRÁTICAS CULTURAIS Élio José Alves Manoel de Almeida Oliveira INTRODUÇÃO As práticas culturais que se executam em um cultivo de banana ou de “plátano” são dirigidas tanto para a planta quanto para o meio no qual ela se desenvolve, sendo as mais importantes: capina, controle cultural, desbaste, desfolha, escoramento, ensacamento do cacho e corte do pseudocaule após a colheita. Segundo Belalcázar Carvajal (1991), da ação direta ou indireta de uma combinação possível de seus efeitos dependerá, em essência, não somente a produção e a rentabilidade do cultivo, mas também a vida útil das plantações. Em outras palavras, o êxito da exploração agrícola depende fundamentalmente da tecnologia empregada na fase de seu estabelecimento e da eficiência e da época em que se realizam as práticas culturais. Contudo, observa-se uma freqüente negligência dos produtores quanto à realização adequada das práticas culturais, mesmo as mais simples, como capina, desbaste e desfolha. Vale ressaltar que, juntamente com as condições edafoclimáticas favoráveis, as práticas culturais constituem os fatores básicos para que uma cultivar manifeste o seu potencial de produtividade, resultando em maior produção e em produto de melhor qualidade. A cultura da banana 335 Práticas culturais CAPINA As plantas daninhas afetam direta e indiretamente o desenvolvimento das culturas pela competição por água, luz, espaço, nutrientes e pelos efeitos alelopáticos, devido à liberação de substâncias tóxicas que dificultam ou impedem o crescimento normal da cultura. A capina deve ser uma prática de rotina, já que as bananas e os “plátanos”, por possuírem um sistema radicular superficial e frágil, são severamente prejudicados pela concorrência das plantas daninhas em água e nutrientes. Portanto, estas plantas devem ser eliminadas por métodos apropriados, que não danifiquem as raízes do cultivo. Em cultivos tradicionais não mecanizáveis, os métodos mais utilizados são: a) eliminação das plantas daninhas com enxada; b) corte das mesmas com estrovenga ou roçadeira manual, nas ruas ou em toda a área. Estas práticas devem ser realizadas sistematicamente, até que a sombra do cultivo seja suficiente para retardar a germinação ou rebrota das plantas daninhas. Segundo ITAL (1990), o baixo rendimento operacional é a grande desvantagem da capina manual, já que são necessários 15-20 homens-dia para capinar um hectare do cultivo com densidade de 1.300 touceiras, ao passo que a roçada manual demanda praticamente metade desta mão-de-obra. Devido ao baixo rendimento e ao alto custo, a capina manual é impraticável em grandes cultivos de banana e “plátano”. Neste caso, o seu uso só é justificado para limpar áreas isoladas, onde acidentalmente o mato se desenvolveu (Moreira, 1987; ITAL, 1990). Sabe-se que durante os cinco primeiros meses de sua fase de instalação, o cultivo é bastante sensível à competição das plantas daninhas, requerendo cinco ou seis capinas, com a utilização de aproximadamente 15 homens por hectare. Se durante esta etapa inicial, as práticas de controle das plantas daninhas não forem adequadas, o crescimento da bananeira será afetado e a sua recuperação será demasiado lenta. Passada esta etapa, o cultivo cresce vigorosamente e é menos sensível à competição das plantas daninhas, já que a sombra que produz impede ou atrasa o desenvolvimento destas plantas (Belalcázar Carvajal, 1991). A necessidade de capinas freqüentes, nesta cultura, já foi evidenciada por Seeyave & Phillips (1970), citados por Durigan (1984), constatando-se que o tratamento com capinas mensais ao longo do ano proporcionou resultados de crescimento e desenvolvimento semelhantes aos da testemunha mantida sempre no limpo, mas com produção inferior (Tabela 1). Avaliando o efeito das plantas daninhas no peso do cacho da cultivar Prata, em áreas declivosas do Estado do Espírito Santo, Gomes (1983) observou, na planta-mãe, que o peso do cacho foi prejudicado quando não se capinou a intervalos de 30 dias, admitindo que a competição pelos nutrientes do solo tenha sido o principal responsável pela redução do peso do cacho. 336 A cultura da banana Práticas culturais Tabela 1. Comparação (%) dos efeitos de capinas efetuadas em diferentes épocas do ano no crescimento e na produção da bananeira. 10 meses após o plantio Tratamento Sempre no limpo1 Diâmetro do Altura da planta pseudocaule 18 meses após o plantio Produção 100,0 100,0 100,0 83,5 75,1 65,7 89,6 84,1 66,1 81,7 76,3 57,1 86,1 79,7 67,4 estação seca (dezembro a maio) 83,5 78,9 53,5 Capinas mensais ao longo do ano 93,9 98,6 74,0 Capina em julho (uma vez/ano) Capinas mensais durante a estação das chuvas (junho a dezembro) Capinas em junho, setembro, dezembro e março(quatro vezes/ano) Capina em dezembro (uma vez/ano) Capinas mensais durante a 1 Resultados máximos conseguidos. ` Fonte: Durigan (1984). Vale ressaltar que o controle das plantas daninhas por meio de enxada tem duração muito curta, pois estas se restabelecem rapidamente. Como vantagem sobre outros métodos de controle, deve-se considerar que é o único realmente seletivo, pois com ele se eliminam fisicamente as plantas indesejáveis e com o menor risco de prejudicar o cultivo. Nas áreas mecanizáveis, em plantios estabelecidos em baixas e médias densidades e com disposição em linhas paralelas, as ruas podem ser capinadas com grade até o segundo mês após o plantio, já que após este período as raízes do cultivo ocupam boa parte da área que lhe foi destinada, e são, então, danificadas pela grade. Outra alternativa tem sido a enxada rotativa acoplada a um microtrator, o que permite manter o cultivo no limpo durante a fase de formação, ou seja, até os cinco meses após o plantio. Sua regulagem permite variações na profundidade de corte e, por isso, os danos no sistema radicular ficam reduzidos ao mínimo (Moreira, 1987). Segundo o ITAL (1990), a capina com roçadeira mecanizada proporciona elevado rendimento e trabalho eficiente. A cultura da banana 337 Práticas culturais Outro método de controle de plantas daninhas baseia-se no uso de herbicidas seletivos, que eliminam, retardam o crescimento ou causam toxidez nas plantas daninhas e não num cultivo determinado. O controle químico pode superar com vantagens as capinas manuais e mecanizadas, desde que as condições na área de cultivo sejam apropriadas à sua aplicação e os herbicidas sejam adequadamente escolhidos de acordo com o tipo de planta daninha a ser controlada: de folha estreita, larga ou ambas. A seleção do herbicida ou a mistura de herbicidas a ser utilizada no cultivo depende do complexo de plantas daninhas presentes no campo, exigindo que se conheça não apenas se o herbicida é seletivo para o cultivo, mas também o tipo de planta daninha que controla (Belalcázar Carvajal, 1991). O controle químico das plantas daninhas consiste na aplicação de herbicidas antes da emergência (pré-emergência), pela ação de produtos com efeito residual, no solo, ou então por herbicidas que controlam as plantas daninhas já desenvolvidas (pós-emergência). Em alguns casos, existe a necessidade de misturar ambos os tipos de herbicida para conseguir bom controle das plantas daninhas e manter o solo por certo período sem a emergência de novas plantas. Os herbicidas residuais ou pré-emergentes são os mais importantes porque podem atuar antes que as plantas daninhas causem danos ao cultivo. A este grupo pertence o Karmex (diuron), de ação residual de três a seis meses, que também tem efeito de contato quando aplicado sobre a folhagem e adicionado do surfatante WK (ITAL, 1990). Segundo Moreira (1987), o Karmex apresentou excelentes resultados quando aplicado em pré-emergência na formação de bananais, na dosagem de 3 kg/ha em 400 litros de água, após uma chuva que molhou bem o solo. Verificou que durante os seis meses seguintes não houve desenvolvimento de nenhuma planta daninha. De modo geral, quando as plantas daninhas são pequenas, uma aplicação do herbicida residual, com auxílio de espalhante adesivo, é suficiente. Porém, quando estão mais desenvolvidas (± 30-40cm de altura), já se faz necessária a mistura com herbicidas de pós-emergência e, finalmente, em estádios mais avançados (mais de 50 cm de altura), não se recomenda a presença do herbicida residual na mistura, já que a espessa massa vegetal prejudica o seu contato com o solo, tão necessário na atuação eficiente deste grupo de produtos (Durigan, 1984). Os herbicidas de contato são Gramoxone (paraquat) e Reglone (diquat). Para plantas daninhas menores de 10 cm, recomenda-se utilizar 3 litros do produto por hectare. É importante fazer uma aplicação antes que as plantas daninhas tenham sementeado. Pode-se misturar 1 litro de Gramoxone com 4-5 kg de Karmex (diuron), acrescido de 5 cm3 de surfatante por litro, em aplicações pós-emergentes, para obter rápido secamento das plantas daninhas (ITAL, 1990). Moreira (1987) relata que os herbicidas deste grupo devem ser aplicados usando-se, no mínimo, 400 a 500 litros de água por hectare. 338 A cultura da banana Práticas culturais Os herbicidas sistêmicos são aplicados geralmente no controle das gramíneas e, em especial, das ciperáceas. Para uma perfeita limpeza do terreno, em geral, é necessário fazer mais de uma aplicação. O resultado, só conclusivo após 20 a 30 dias, está intimamente ligado à altura da planta daninha. Se ela estiver com 15 a 20 cm de altura, quase sempre uma só aplicação é suficiente, porém, se mais desenvolvida, haverá necessidade de fazer uma nova aplicação (Moreira, 1987). Segundo o mesmo autor, o Dawpon S (dalapon) atua bem nas gramíneas e não afeta as bananeiras. Ele pode ser aplicado na dosagem de 10 kg/ha dissolvidos em 500 litros de água, acrescentando-se espalhante adesivo e detergente nas proporções e dosagens recomendadas. Um resumo dos principais herbicidas utilizados no controle de plantas daninhas em cultivos de banana e de “plátano” (Belalcázar Carvajal, 1991) é mostrado na Tabela 2. A integração de métodos de controle torna-se muitas vezes mais eficaz e econômica, principalmente na fase de formação do cultivo. No Brasil, os métodos mais utilizados ainda são os de capina e ceifa manuais, devido ao pequeno porte da maioria das áreas cultivadas com banana e “plátano” e ao baixo nível cultural dos produtores. CONTROLE CULTURAL O estabelecimento uniforme e o crescimento rápido do cultivo também podem ser assegurados manejando-se, eficientemente, determinadas práticas culturais, como por exemplo, aplicar fertilizantes de acordo com a análise de solo e proporcionar umidade adequada ao desenvolvimento do cultivo. Assim, põese o cultivo em condições iniciais de vantagem sobre as plantas daninhas. Referindo-se ao controle cultural, Belalcázar Carvajal (1991) salientou que as distâncias de plantio têm permitido reduzir a concorrência de plantas daninhas, já que a tendência de plantios mais densos faz com que a sombra produzida evite o crescimento de espécies muito agressivas e proliferem espécies de pouco crescimento e menores requerimentos. Segundo o mesmo autor, o uso de espécies de cobertura pode ser outra prática muito útil neste propósito, sempre e quando se tenha em conta as condições mínimas necessárias para que uma espécie possa ser considerada como benéfica em uma associação cultivo-cobertura. A alternativa de emprego da cobertura morta no controle das plantas daninhas, em cultivo de banana e “plátano”, apresenta certas particularidades em relação à nutrição mineral e à conservação da umidade do solo, que precisam ser consideradas. A aplicação de cobertura morta evita em bom grau os problemas de compactação e de endurecimento da camada superficial do solo, contribuindo, também, para o fornecimento de alguns nutrientes para a planta, principalmente de K (no caso de utilização dos restos da cultura). A cultura da banana 339 340 Fonte: Belalcázar Carvajal (1991). Tabela 2. Herbicidas recomendados no controle de plantas daninhas em cultivos de banana e “plátano.” Práticas culturais A cultura da banana Práticas culturais Contudo, a utilização de cobertura morta é uma prática de custo elevado, tanto para produzir como para transportar e distribuir o material, que, para surtir efeito positivo, deve ser incorporado em grandes volumes por hectare. Em cultivos de banana e “plátano” de pequena extensão, do tipo cultura familiar, esta técnica é recomendável, pois permite uma economia valiosa em água e adubos minerais (Champion, 1975; Alves et al., 1986; ITAL, 1990). Segundo trabalhos realizados pela Embrapa com a cultivar Terra (Cintra, 1988), em todas as variáveis avaliadas foi observada grande superioridade da cobertura morta (restos orgânicos da cultura), em relação aos tratamentos feijão-de-porco e capina manual (Tabela 3). Vale ressaltar que a quase totalidade dos cachos produzidos nestes dois tratamentos não tinha um bom valor comercial, ao passo que os cachos obtidos a partir do tratamento da cobertura morta apresentaram excelente qualidade. No Equador, alguns produtores de banana e “plátano” colocam, em faixas alternadas, os restos orgânicos provenientes da limpeza das folhas velhas, do desbaste e da poda do pseudocaule após a colheita. De acordo com um programa de aplicação do herbicida Gramoxone, fazem a pulverização nas faixas que não receberam os restos culturais (Chambers, 1970). Segundo Alcântara (1980), este sistema pode contribuir para uma prática efetiva e econômica de controle de plantas daninhas. DESBASTE O desbaste consiste na eliminação do excesso de rebentos, já que a bananeira tem a capacidade de produzir um número variável de filhos, cuja função é conservar a espécie. Quando submetida ao processo de exploração comercial, essa função consiste em gerar uma produção de forma seqüencial, cuja qualidade depende, dentre outros aspectos, do número de filhos que se desenvolve em cada touceira. Portanto, o desbaste desempenha papel de suma importância no que concerne à produção e a vida útil do bananal, estando condicionado, fundamentalmente, pela época de sua realização e pelo método utilizado na eliminação do excesso de filhos. A uma época apropriada deve corresponder um método apropriado (Belalcázar Carvajal, 1991). Em relação à época de desbaste, existe uma grande diversidade de critérios entre os diferentes autores, já que tal situação pode está fixada por condições climáticas, por condições de mercado ou por condições de oportunidade. Recentemente, a Standart Fruit Co. desenvolveu um sistema de desbaste periódico total que permite obter a colheita em determinado período do ano, de acordo com o melhor preço no mercado. A cultura da banana 341 342 A cultura da banana Fonte: Cintra (1988). Tabela 3. Variáveis avaliadas por ocasião da colheita de banana ‘Terra’ (média do primeiro e segundo ciclos) em Nazaré, BA, no período 1982/86. Práticas culturais Práticas culturais Este sistema é conhecido como “colheita programada”. O sistema seleciona filhos de idades similares e elimina plantas de diferentes idades, de maneira que a colheita seja obtida em um período máximo de 12 semanas após o florescimento. O método realiza-se a cada nove meses ou quando as condições de mercado o requerem. Alguns agricultores consideram conveniente, ao selecionar os filhos, não eliminar a planta-mãe e sim o seu cacho, com o propósito de manter as formas de nutrição e de dependência da touceira e, conseqüentemente, obter frutos de maior tamanho e melhor qualidade. Outros preferem eliminar todas as plantas que consideram desnecessárias e deixam apenas os filhos selecionados (Alves, 1982; Soto Ballestero, 1992). Conduz-se o bananal, em cada ciclo, deixando-se apenas a “mãe”, um “filho” e um “neto” ou a “mãe” e um ou dois seguidores (“filhos”), eliminando-se os demais. Esta eliminação deve ser feita quando os rebentos atingem 20 a 30 cm de altura, aproximadamente, tomando-se o cuidado para que a gema apical de crescimento seja totalmente eliminada e não haja possibilidade de rebrotação (Moreira, 1987). Diversas alternativas de condução de um bananal com a realização de desbaste são mostradas na Figura 1 (United Brands Company, 1979). Efetua-se o desbaste cortando-se a parte aérea do filho rente ao solo, com penado ou facão. Em seguida, extrai-se a gema apical com o aparelho “lurdinha” (Figuras 2 e 3), que proporciona 100% de eficiência e rendimento de serviço 75% superior ao dos métodos tradicionais (Alves & Macedo, 1986; Moreira, 1987). O desbaste será precoce ou tardio, segundo o tipo de muda, a cultivar e o sistema de cultivo utilizados. A altitude e a época de plantio também exercem influência. Nas cultivares de banana e “plátano” que apresentam uma boa perfilhação (Nanica, Nanicão, Prata, Maçã), as brotações laterais (“filhos”) começam a surgir aos 30 a 45 dias após o plantio. Em cultivares do subgrupo Plantain (Terra, Terrinha), as brotações ocorrem, geralmente, na época de emissão do cacho (Alves, 1987). De modo geral, os desbastes são realizados aos quatro, seis e dez meses do plantio, na fase de formação do cultivo. Em cultivos adultos seguirão o programa de eliminação de folhas secas. O esquema de desbaste depende, sobretudo, de fatores econômicos, ou seja, da importância relativa que se deve conceder ao rendimento e à variação estacional dos preços (Moreira, 1987). O deslocamento da época de colheita é, provavelmente, a alternativa tecnológica mais viável no sentido do escalonamento da produção. Pode consistir no desbaste de “filhos” ou da touceira, quando se objetiva que a produção de novos “filhos” seja deslocada para a época de melhor cotação do produto no mercado ou de melhores condições para o seu desenvolvimento e maturação (Alves, 1987). A cultura da banana 343 Figura 1. Unidades de produção em um bananal comercial. Fonte: United Brands Company (1979). Práticas culturais 344 A cultura da banana Práticas culturais Figura 2. Introdução da “lurdinha” no filho cortado. Figura 3. Saque da gema apical com a “lurdinha”. DESFOLHA A eliminação de folhas secas, mortas, ou aquelas que mesmo ainda verdes, ou parcialmente verdes, estejam com o pecíolo quebrado, deve ser regularmente realizada, a fim de: 1) liberar a planta daquelas folhas cuja atividade fotossintética não corresponda aos seus requerimentos fisiológicos; 2) permitir melhor arejamento e luminosidade; 3) acelerar o desenvolvimento dos filhos; 4) controlar certas pragas e doenças que utilizam ou requerem as folhas como refúgio ou fontes potenciais de inóculo; e 5) acelerar o processo de melhoramento das propriedades físicas e químicas do solo, mediante a incorporação de maior quantidade de matéria orgânica (Stover & Simmonds, 1987; Moreira, 1987; Belalcázar Carvajal, 1991). Em cultivos para exportação, elimina-se, inclusive, até a folha totalmente verde que esteja sobre o cacho provocando alguma injúria nos frutos. As folhas são eliminadas com cortes nos pecíolos, de baixo para cima, bem rente ao pseudocaule, tomando-se o cuidado de não romper as bainhas que ainda estejam a ele aderidas. Em cultivares de porte baixo, pode ser feita com faca ou facão, e nas cultivares de porte médio a alto, com penado ou foice bifurcada, acoplado a uma haste. A cultura da banana 345 Práticas culturais Segundo Moreira (1987), a eliminação de folhas aos quatro, seis e dez meses é suficiente para cobrir o período do plantio à colheita. Nos cultivos já formados, a desfolha deve ser feita sistematicamente, precedendo o desbaste, e após as adubações. Quando não há controle de sigatoka e a cultivar é suscetível ou pouco tolerante ao seu ataque, a desfolha necessariamente tem de ser realizada com mais freqüência. Às vezes, faz-se necessária a realização de desfolha devido à ocorrência de algum fenômeno que tenha provocado quebra de pecíolos, estragos severos no limbo ou morte prematura de folhas. A deficiência de alguns elementos essenciais geralmente provoca lesões nas folhas, reduzindo bastante a sua capacidade fotossintética, sendo às vezes recomendado eliminá-las antes que sequem e morram. ESCORAMENTO O escoramento consiste fundamentalmente em evitar a perda de cachos por quebra ou tombamento da planta, devido à ocorrência de ventos fortes, ao peso do cacho, à altura da planta ou à má sustentação da mesma, causada pelo ataque de nematóides ou broca-do-rizoma, e à aplicação de práticas inapropriadas de manejo, como arranquio desordenado de mudas. Segundo Belalcázar Carvajal (1991), é uma prática que objetiva minimizar as perdas mediante o emprego de um sistema de escoramento oportuno, eficaz e permanente. O escoramento pode ser feito com uma vara de bambu, que se prende ao pseudocaule, próximo à roseta foliar (Figura 4). Outra forma de escoramento consiste no uso de fios de polipropileno (Figura 5). O “amarrio” é feito na parte superior da planta, na base dos pecíolos, entre a terceira e a quarta folhas, sendo os extremos livres amarrados em outras plantas, que por seu ângulo e sua localização constituam os pontos de suporte mais convenientes. Pode-se usar, também, “troncos” de plantas recém-colhidas (Soto Ballestero, 1992). O escoramento deve ser feito de forma preventiva, ou seja, quando a inflorescência torna-se pêndula (Champion, 1975; Alves, 1982; Belalcázar Carvajal, 1991). Segundo Soto Ballestero (1992), o polipropileno, com uma resistência à tensão de 9,14 a 11,25 kg/cm2, é, sem dúvida, o material mais recomendável até o momento, não só por sua durabilidade, mas também pelo custo e fácil manejo. ENSACAMENTO DO CACHO O ensacamento do cacho é utilizado apenas nos cultivos para exportação e apresenta como vantagens: 1) aumentar a velocidade de crescimento dos frutos, 346 A cultura da banana Práticas culturais ao manter ao seu redor uma temperatura mais alta e com certo grau de constância; 2) evitar o ataque de pragas como abelha-arapuã, tripes; e 3) melhorar substancialmente a qualidade geral da fruta, ao reduzir os danos relacionados com raspões, queimaduras no pericarpo, pela fricção de folhas dobradas e de escoras e pelo processo de corte do cacho e seu manuseio (Belalcázar Carvajal, 1991). Os sacos utilizados são de três tipos: a) transparentes, comuns, de coloração gelo, para zonas produtoras onde não há ataque severo de pragas; b) transparentes, tratados com produtos químicos, de coloração azul-celeste, para zonas onde ocorre o ataque severo de pragas; e c) leitosos, que dão maior proteção ao cacho contra as intempéries (poeira, insolação intensa). Os três tipos de saco apresentam pequenas perfurações que permitem as trocas gasosas do cacho com o meio exterior (Alves, 1982). O saco tradicional apresenta uma espessura de 0,08 milímetros, com furos de 12,7 milímetros de diâmetro distribuídos em quadrado a cada 76 milímetros. Tem a forma de um cilindro de 81 cm de diâmetro por 155 a 160 cm de comprimento (Soto Ballestero, 1992) Figura 4. Escoramento com vara de bambu. Figura 5. Escoramento com fio de polipropileno. A cultura da banana 347 Práticas culturais Segundo este mesmo autor, o ensacamento do cacho como operação agrícola de proteção da fruta contra baixas temperaturas e pragas e contra o efeito abrasivo de folhas e produtos químicos, proporcionou resultados muito satisfatórios. Contudo, foram os resultados secundários os que causaram maior impacto e fizeram com que esta prática se universalizasse no mundo bananeiro. A redução do intervalo florescimento–colheita, o aumento do tamanho e do diâmetro dos dedos e do peso do cacho foram fatores determinantes sobre o futuro da produção bananeira. O ensacamento consiste em colocar o saco de polietileno no cacho, tão cedo quanto possível, a fim de contar com os benefícios da prática por mais tempo. A operação mais generalizada consiste em ensacar o cacho quando este já emitiu a última bráctea feminina, ou seja, quando a última mão verdadeira apresenta os dedos voltados para cima. Neste momento, o cacho tem duas semanas ou 14 dias desde a sua emissão. Para que não sofra rasgaduras, o saco é enrolado em pequenas dobras (ambos os lados, simultaneamente) e colocado no cacho. Em seguida, é baixado com cuidado. Finalmente, é amarrado ao engaço na parte imediatamente superior da primeira cicatriz bracteal (Figuras 6 e 7), juntamente com uma fita de plástico de determinada coloração que caracterize a idade de corte do cacho (Soto Ballestero, 1992). CORTE DO PSEUDOCAULE APÓS A COLHEITA O corte do pseudocaule após a colheita é uma prática que varia de região para região. Há produtores que não cortam as folhas da bananeira colhida; outros cortam as folhas e parte ou todo o pseudocaule. Por isso, esta prática tem sustentado grandes controvérsias sobre seu efeito e a época mais apropriada para sua execução. Segundo Belalcázar Carvajal (1991), uma das razões para que esta prática se realize de forma gradual é a de que os troncos de pseudocaule que ficam após a colheita do cacho podem servir como reservas ou fontes de água e minerais para os filhos em processo de desenvolvimento. Contudo, apesar de existirem evidências da translocação de água e minerais desses pseudocaules até os filhos, os resultados de pesquisas têm mostrado que a eliminação gradual do pseudocaule, ou imediatamente após a colheita, não exerce influência significativa nas variáveis de crescimento e de rendimento do ciclo seguinte. Portanto, a época e a forma para a execução dessa prática seriam indiferentes, já que não têm nenhum efeito no incremento da produtividade. Do ponto de vista prático e econômico, o mais aconselhável seria o corte do pseudocaule próximo ao solo, imediatamente após a colheita do cacho. Além de evitar que o pseudocaule sirva como fonte ou reservatório de inóculo de problemas fitossanitários prejudiciais, a sua eliminação total está relacionada com a aceleração do melhoramento das propriedades físicas e químicas do solo, mediante rápida incorporação e melhor distribuição dos resíduos da colheita. 348 A cultura da banana Práticas culturais Figura 6. Ensacamento do cacho. Fonte: Soto Ballestero (1992). A cultura da banana 349 Práticas culturais O aspecto econômico está relacionado com os grandes custos que são demandados pelo corte gradual. Em ambos os casos, devem-se usar ferramentas desinfectadas e, em seguida, fracionar o pseudocaule para proporcionar seu rápido secamento, decomposição e incorporação de matéria orgânica. Em trabalhos de Manica & Gomes (1984), os resultados não mostraram nenhuma influência da altura de corte do pseudocaule da planta-mãe na produção da planta-filha (segundo ciclo). Em Pariquera-Açu, São Paulo, ao estudar o corte do pseudocaule na sua base, na metade, conservando-o totalmente e deixando a bananeira com todas as suas folhas, o melhor resultado quanto a peso do cacho e desenvolvimento e produção da planta-filha (primeiro rebento) foi o corte do pseudocaule na roseta foliar e o pior foi quando se manteve a planta-mãe com todas as folhas após a colheita do cacho (Moreira, 1987). Figura 7. Cacho ensacado e com fita de plástico que determina, pela sua coloração, a época da colheita. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, E.N. O controle das plantas daninhas na cultura da bananeira. 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