1 USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA REALIZAÇÃO DO CURATIVO: RISCOS E DESAFIOS Ana Cláudia Guimarães1, Dianne Fabíola Rodrigues1, Klésia dos Santos Oliveira1, Liliane Oliveira Magalhães1, Pâmella Dhiênyfer Nogueira de Figueiredo1, Sirlane Viana da Mata1, Gleisy Kelly Neves Gonçalves2 1 Graduandas do Curso de Enfermagem, Centro de Educação Superior de Guanambi/Faculdade Guanambi (CESG/FG), Guanambi – BA. 2 Enfermeira / Mestre em Ciências Fisiológicas / Professora do Centro de Educação Superior de Guanambi/Faculdade Guanambi (CESG/FG), Guanambi – BA. RESUMO: A correta e frequente utilização de Equipamentos de Proteção Individual tem como intuito principal a minimização dos riscos aos quais os trabalhadores da saúde estão expostos. Neste sentido, este artigo tem o objetivo de identificar a ocorrência de riscos, os quais a equipe de enfermagem está exposta, bem como os desafios encontrados por esta na adesão da prática segura para a realização de curativos. A modalidade desta pesquisa foi do tipo exploratória e descritiva, de abordagem quantitativa, sendo a população constituída por vinte e cinco profissionais da enfermagem atuantes no serviço de atenção básica. Os dados foram coletados através de questionário semiestruturado. Os resultados revelaram que os profissionais de enfermagem têm consciência da importância do uso dos equipamentos de proteção, porém não os utilizavam da maneira correta e com a devida frequência na prática do curativo. Conforme evidenciado na amostra, o uso de equipamentos obrigatórios não foi identificado em todos os profissionais mesmo tendo disponibilidade suficiente no serviço. Isto indica uma possível ausência de estratégias de conscientização por estes, confirmado por dados que demonstraram que apenas 20% das instituições forneciam treinamento adequado para seu uso. Dados preocupantes foram coletados no que dizia respeito às ocorrências de agravos como contaminação, infecção cruzada e agravamento ou piora do processo de recuperação da lesão. Conclui-se com este trabalho, que há a necessidade de estabelecer estratégias que possibilitem aos profissionais adquirir um compromisso ético e com qualidade nos procedimentos, além de reconhecerem os riscos presentes no ambiente de trabalho buscando desenvolver competências para vencer os obstáculos à adesão das precauções padrão. 2 Palavras-chave: Curativos. Enfermagem. Equipamentos de proteção individual. Riscos ocupacionais. USE OF PERSONAL PROTECTIVE EQUIPMENT FOR NURSING PROFESSIONALS IN CURATIVES: RISKS AND CHALLENGES ABSTRACT: The correct and frequent use of Personal Protective Equipment has as main objective to minimize the risks which health workers are exposed. In this sense, the present study aimed to identify the occurrence of risks, which the nursing team is exposed, as well as the challenges faced by the accession of this safe practice for curatives. The modality of this research is both exploratory and descriptive with quantitative approach, the population is composed of twenty-five nursing professionals working in basic care service. Data were collected through semi-structured questionnaire. The results revealed that nurses are aware of the importance of the use of protective equipment, but did not use them the right way and with appropriate frequency in the practice of curatives. As evidenced in the sample using obrigatory equipment was not reported by all participants even professionals having sufficient materials on service. This data indicates a possible lack of awareness strategies, confirmed by data showing that only 20% of institutions provided adequate training for its use. Worrying data showed that concerned the occurrence of aggravating such contamination, cross infection and exacerbation or worsening of the injury recovery process. With this work we concluded that, there is a need to develop strategies that enable professionals to acquire an ethical commitment and quality procedures, and recognize the risks present in the workplace seeking to develop skills to overcome obstacles to adherence of standard precautions. Key words: Curatives. Nursing. Occupational risks. Personal protective equipment. 3 INTRODUÇÃO Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) são todos os dispositivos de uso individual, destinados a proteger a integridade física do trabalhador, incluindo luvas, protetores oculares ou faciais, protetores respiratório, aventais e proteção para os membros inferiores (MASTROENI, 2006). No Brasil, segundo recomendação do Ministério do Trabalho e Emprego, os empregadores são obrigados a fornecer os EPI adequados à minimização dos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos, bem como realizar periodicamente programas de treinamento dos profissionais quanto a correta utilização desses equipamentos (PIANUCCI, 2002). Os riscos biológicos são os principais geradores de periculosidade e insalubridade para os profissionais da saúde, pois eles têm contato direto com sangue e outros fluidos corpóreos (MASTROENI, 2006). Ainda assim, há em grande parte dos cenários de prestação de cuidados de enfermagem a negligência das normas de biossegurança (FONTANA & GALLAS, 2010). Considerando a realização do curativo uma prática privativa do profissional de enfermagem, é imprescindível o uso de EPI por parte destes profissionais para que se evitem possíveis acidentes de trabalho e/ou riscos para a sua saúde e a do cliente (POTTER & PERRY, 2005). Um dos fatores que preocupa e dificulta a aderência dos trabalhadores a utilizarem os EPI está relacionado com a sensação esteticamente desagradável que o uso destes equipamentos traz (MASTROENI, 2006). Um estudo que justifica a importância deste trabalho foi o realizado em uma universidade envolvendo alunos de graduação e pós-graduação mostrando que 50% dos alunos não faziam uso de EPI durante a técnica do curativo. Neste mesmo estudo, 44,4% dos entrevistados relataram ter sofrido acidente devido à sua própria imprudência, fato que intensifica ainda mais a necessidade de usar os EPI (PIANUCCI, 2002; MASTROENI, 2006). A necessidade de se investigar os riscos que a equipe de enfermagem está sujeita, quanto a não adequação às normas de biossegurança, bem como diagnosticar os fatores que a impede de aderir a essa prática na realização do curativo, justificaram a realização deste estudo. Os principais objetivos foram: identificar os principais tipos de curativos realizados nas USF; relacionar os equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados na prática do curativo; identificar o nível de conhecimento e adesão da equipe de enfermagem sobre a 4 normatização que regulamenta o uso de EPI e relacionar os entraves na adesão à proteção individual pela equipe de enfermagem no ambiente de trabalho. Espera-se que com os resultados deste estudo haja melhoria da qualidade da assistência da enfermagem no nível primário de atenção à saúde, pois, almeja estimular a elaboração de estratégias de conscientização e controle da utilização destes equipamentos. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo do tipo exploratório, descritivo, de abordagem quantitativa onde os dados foram sintetizados, tabulados e apresentados em forma de tabelas e figuras (LAKATOS & MARCONI, 2008). Considerando que, muitos profissionais ainda confundem a atenção primária a saúde como sendo de menor risco para acidentes de trabalho, escolheu-se para realização deste estudo, Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Guanambi no interior do estado da Bahia. O estudo foi previamente aprovado pelo representante da Secretaria Municipal de saúde, registrado no ofício sob o número 020-12. Dentre as USF, foi considerado campo de pesquisa somente as da sede do município. Definiu-se como critérios de inclusão na pesquisa ser trabalhador da equipe de enfermagem nas USF que serviram de campo de pesquisa e aceitar participar do estudo, respeitando-se a disponibilidade de tempo. Os participantes foram orientados quanto ao objetivo do trabalho e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respeitando-se os aspectos éticos e de confidencialidade preconizados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram obtidos por meio de questionário semiestruturado (LAKATOS & MARCONI, 2010) e incluiu questões com possibilidades de respostas limitadas e questões para livre resposta do participante. Apesar deste método de coleta de dados, a abordagem não se torna qualitativa, pois segundo Turato (2005), “[...] encaixar simples citações literais de falas de sujeitos, que responderam a questionários previamente padronizados, não configura legitimamente a existência de uma reivindicada simultaneidade com pesquisa qualitativa.” 5 Os participantes da pesquisa foram identificados quanto ao nível profissional em Enfermeiros (E) e Técnicos de Enfermagem (TE), seguido por algarismo referente a ordem da aplicação do questionário nas USF. Os questionários foram aplicados à população de estudo composta por: profissionais de enfermagem atuantes sendo 14 técnicos de enfermagem (56%) e 11 enfermeiros (44%), totalizando 25 profissionais. A população amostral correspondeu a 86,2% da população total de trabalhadores de enfermagem na atenção básica da sede municipal. A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre os dias 25 de setembro e 15 de outubro de 2012. Neste estudo, variáveis de interesse exploradas no instrumento de coleta foram: a faixa etária; gênero; tempo de serviço na enfermagem e na unidade; disponibilidade de EPI na unidade; tipos de EPI utilizados para cada tipo de curativo; justificativa para a não utilização dos EPI; EPI considerados importantes ou desnecessários pelos profissionais; supervisão a respeito da adesão a Norma Regulamentadora do uso dos EPI (NR-6) na USF; identificação dos riscos para o paciente e para a equipe de enfermagem quando o profissional não utiliza ou utiliza incorretamente o EPI; identificação dos desafios encontrados para a utilização dos EPI; fornecimento e treinamento adequado para o uso dos EPI e identificação do índice de acidente de trabalho relacionado a não utilização dos EPI. As informações obtidas foram analisadas e a construção das figuras feitas no programa Microsoft Office Excel 2007 sendo apresentadas sob forma de tabelas e figuras. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste trabalho, são apresentados dados descritivos da prática profissional de trabalhadores da enfermagem dando um enfoque também avaliativo dos dados referentes ao comportamento destes profissionais frente à realização de curativos. Os sujeitos do estudo foram predominantemente do sexo feminino (96%) e a faixa etária variou entre 24 e 53 anos de idade. Foi constatado que a maioria dos participantes tinha de um a cinco anos de atuação na área (Figura 1). Cabe destacar que 44% dos entrevistados tinham período de trabalho variando de um a cinco anos na profissão, que somado aos participantes com cinco a dez anos e ainda os com mais de dez anos totalizam 88% da população de 6 estudo. Isso indica que há uma tendência destes a passar muitos anos na profissão. Este fato contribui para a baixa adesão, pois, devido o cansaço físico, acomodação e autoconfiança, esses profissionais ignoram o uso de alguns EPI, o que leva a um aumento do índice de acidentes ocupacionais, falta de credibilidade e desvalorização do profissional. Isso se afirma também no trabalho de Barboza, Oliveira e Talhaferro (2008), em que trabalhadores com mais tempo de serviço e experiência se sentiam mais seguros e negligenciavam precauções por confiar demasiadamente em sua destreza. Figura 1. Tempo de serviço (em anos) dos participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 A disponibilidade de materiais de precaução padrão durante os procedimentos de curativos é fator imprescindível para a prática segura dessa atividade. Foi observado que 88% dos participantes relataram que os EPI são suficientes para as demandas de curativo e 12% relataram que os mesmos são insuficientes, o que levou esses profissionais a optar por não usar todos durante os procedimentos. Apesar de uma parcela percentualmente pequena ter relatado indisponibilidade dos materiais, se tratando de uma técnica onde o uso dos EPI são obrigatórios, torna-se um dado de valor importante, pois pode ter influência sobre a adesão dos trabalhadores aos EPI. É válido ressaltar que de acordo com a NR 32, os Equipamentos de Proteção Individual devem estar à disposição do trabalhador e em número suficiente nos postos de trabalho (BRASIL, 2005). Identificamos ainda neste trabalho, os principais tipos de curativos realizados nas USF, sendo bastante variados, são os que seguem: aberto, oclusivo, seco, 7 úmido, compressivo e com drenagem. Os dados da tabela 1 mostram os tipos de EPI utilizados para a técnica do curativo, onde 100% dos profissionais referiram usar luvas e jaleco na realização dos mesmos, seja ele simples ou com alto risco de contaminação. Em relação à máscara a maioria referiu usar em curativos com drenagem, abertos e oclusivos. O gorro e os óculos eram pouco utilizados em todos os tipos de curativos. Percebe-se com isso que há uma pequena adesão ao uso do gorro e óculos de proteção, onde a justificativa foi o desconforto causado pelo EPI. É imprescindível o uso da máscara e dos óculos para proteger as membranas mucosas dos olhos, nariz e boca durante os procedimentos, pois oferece proteção contra respingos, líquidos corporais e secreções (MAFRA et al., 2008). Sendo assim, são de uso obrigatório em todos os curativos, pois, os respingos e outros líquidos não são apenas referentes ao paciente, mas também aos gerados pelo profissional durante a técnica de curativo. Para que as normas de biossegurança sejam cumpridas na prática em saúde, é necessária a conscientização dos profissionais quanto ao uso dos EPI na realização de curativos. Adesão significa manter atitudes adequadas e conhecimento técnico, porém, a relação existente entre atitude, motivação e conhecimento pode ser baixa. Segundo Carvalho e Chaves (2010) a falta de hábito, a qualificação insuficiente dos profissionais, o desconforto, o comportamento inadequado dos membros mais experientes são fatores explicativos para a baixa utilização de EPI. Tabela 1. Tipos de EPI utilizados para cada tipo de curativo segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 Tipos de curativo Equipamentos de proteção individual utilizados Luvas Máscara Jaleco Gorro Óculos N. % N. % N. % N. % N. % Aberto 25 100 12 80 25 100 05 20 02 08 Oclusivo 25 100 18 72 25 100 04 16 02 08 Seco 25 100 12 48 25 100 02 08 02 08 Húmido 25 100 16 64 25 100 04 16 02 08 Compressivo 25 100 17 68 25 100 04 16 03 12 Com drenagem 25 100 23 92 25 100 10 40 03 12 8 A principal justificativa identificada para a não adesão dos EPI pelos profissionais era para se evitar gastos na unidade e os que escolhiam a opção “outros” justificaram que tais equipamentos não são disponíveis em grande quantidade ou não é fornecida e até mesmo pela falta de hábito ao uso, optavam por não utilizar. Constatou-se ainda que muitos profissionais consideram que o seu uso causa desconforto, além de ser desnecessários para realizar os procedimentos, conforme análise das justificativas apresentadas. Estas informações são apresentadas na Figura 2. Este tipo de achado já foi reportado em trabalhos anteriores como o de Carvalho & Chaves (2010) em que observou-se que muitos profissionais consideram que o seu uso correto prejudica o desenvolvimento dos procedimentos em seus pacientes. Neste, ainda se afirma que a falta de hábito, a diminuição da habilidade para realizar os curativos, o desconforto, a contensão de gastos e a inconveniência são razões para não aderir ao uso. Portanto, é importante que a equipe de enfermagem conheça os protocolos relacionados ao tratamento de feridas e a utilização correta dos equipamentos de proteção individual (OLIVEIRA, 2005). Figura 2. Justificativas para a não utilização dos EPI segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 Quanto aos EPI considerados importantes pelos profissionais, 100% consideraram a luva mais importante, 88% o jaleco e 52% consideraram a máscara 9 como sendo um EPI importante na técnica do curativo. Aspecto importante foi que uma minoria considerara o gorro e os óculos relevantes (Tabela 2). Tabela 2. EPI considerados importantes para a realização do curativo pelos participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 Equipamentos de proteção individual Nº % Luvas 25 100 Jaleco 22 88 Máscara 13 52 Gorro 07 28 Óculos 08 32 O uso de EPI e a adoção das Precauções Padrão representam importantes medidas de proteção ao trabalhador. As falas a seguir explicam os motivos pelos quais os entrevistados consideraram esses EPI destacados acima importantes para realizar os procedimentos: “Diminuem o risco de contaminação direta e aumenta a proteção quanto ao risco de infecção ou agravamento da ferida” (E4). “Todos são equipamentos fundamentais para evitar contaminação no curativo e para proteção individual, além de desempenhar um trabalho com eficiência e responsabilidade” (TE2). “As luvas evita o contato direto com a ferida e protege contra microrganismos” (E8). “Através dos EPIs podemos evitar contrair várias doenças” (TE6). Apesar de terem considerado importante os EPI, observou-se nos dados anteriores que os profissionais não fazem o uso frequente dos mesmos, isso comprova um ato de imprudência, pois estão cientes da sua vulnerabilidade aos riscos ocupacionais, mas optam pelo conforto e estética. Em relação aos EPI considerados desnecessários pelos profissionais, apresentados na Tabela 3, evidencia-se que a minoria dos entrevistados considera o gorro e óculos desnecessários e 60% não julgaram nenhum dos EPI citados. 10 Tabela 3. EPI considerado desnecessários para a realização do curativo segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 Equipamentos de proteção individual Nº % Luvas ___ ___ Jaleco ___ ___ Máscara ___ ___ Gorro 04 16 Óculos 06 24 Nenhum 15 60 As falas a seguir demonstram alguns motivos pelos quais os participantes consideravam ser dispensáveis os EPI destacados acima: “O gorro é desnecessário, pois não transmite muitas infecções” (TE2). “O gorro é desnecessário devido ao baixo risco de contaminação, por isso é dispensável em algumas situações” (E7). “O óculos é desnecessário porque não traz riscos e se a pessoa usa óculos de grau, dificulta mais ainda o procedimento” (TE12). De acordo com os dados obtidos, corroborando com Neves et al., (2009), a adesão aos EPI é uma importante medida de proteção aos profissionais de saúde, embora a não obediência a certos critérios, tais como uso adequado e frequência de troca, possam expor os profissionais a acidentes e contaminações. Observa-se com estes dados, uma dificuldade por parte dos profissionais em relacionar a importância dos EPI com o uso destes durante os procedimentos de curativo. Pois, apesar de poucos terem citado o gorro e óculos como importantes, uma pequena parcela considerava desnecessário (Tabela 3). A NR-6 é a norma que regulamenta o uso dos EPI pelos trabalhadores de forma a promover a segurança destes. Sob essa ótica, 60% dos participantes relataram que existe na instituição pesquisada algum tipo de trabalho de supervisão a respeito da adesão a essa norma, em contrapartida, 32% relataram que não há nenhum tipo de supervisão e o restante (8%) relatou não saber a respeito (Figura 3). Apesar de uma significativa porcentagem referir haver supervisão quanto a adesão a NR-6, observa-se ainda uma carência a esse respeito, sendo assim, é 11 imprescindível que haja essa supervisão em todas as unidades de saúde com o objetivo de estimular a adesão às medidas preventivas e de forma a consolidar também o conhecimento adquirido durante a formação técnica. Isso faz com que o profissional seja corresponsável por manter sua própria integridade física. Partindo dessa premissa, Almeida et al., (2009) sugerem ainda que, não basta somente viabilizar as atividades de educação nos serviços de saúde, mas também fazer com que esses conhecimentos alterem a prática diária desses profissionais. Figura 3. Instituições com supervisão para o cumprimento da NR-6 segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 No que se refere à identificação dos riscos para o paciente e para a equipe de enfermagem quando o profissional não utiliza ou utiliza incorretamente o EPI, descrevemos a seguir algumas falas dos entrevistados que mostram os principais riscos pelos quais a equipe e o paciente estão expostos: “Infecção cruzada, agravamento ou piora do processo de recuperação da lesão, infecções graves e até risco de morte” (E1). “Além do risco de contaminação, reflete sobre a equipe uma falta de responsabilidade e má impressão quanto aos serviços prestados” (E03). “Para o paciente a contaminação, para a equipe o risco de contrair doenças” (E09). De acordo com Mafra et al., (2008), os profissionais da saúde estão vulneráveis à exposição aos agentes microbiológicos devido ao contato direto e constante com o paciente. Verificamos através das falas que muitos têm consciência 12 dos riscos a que estão expostos e do prejuízo que uma negligência em relação a não adequação às normas de biossegurança pode causar ao paciente portador de ferida no que tange ao processo cicatricial e de recuperação do mesmo. No entanto, cabe destacar que a efetiva adesão ao uso das precauções padrão está intimamente relacionada à percepção que os profissionais têm acerca dos riscos a que estão expostos e da susceptibilidade a esses riscos (NEVES et al., 2011). Apesar disso, estudos comprovam que o fato de os profissionais terem conhecimento sobre os riscos, no ambiente de trabalho, nem sempre garante a adesão ao uso de medidas protetoras (SOUZA & FREITAS, 2010), sinalizando a necessidade de ações mais efetivas para mudar essa realidade. Quando questionados sobre os desafios encontrados para a utilização dos EPI, ou seja, quando um ou mais membros da equipe não utilizam o EPI ou os utilizam de forma incorreta, encontraram-se vários motivos para justificar essa resistência por parte da equipe de enfermagem. Os entrevistados descreveram os entraves encontrados a essa adesão da seguinte forma: “A falta de costume e a disponibilidade dos EPIs na unidade faz com que deixamos de utilizar ou utilizamos da maneira incorreta” (E2). “Pelo desconforto ao uso e a indisponibilidade de alguns EPIs na unidade” (E3). “Para agilizar os procedimentos e por ser mensal a reposição de materiais, às vezes falta na USF” (TE4). “Falta de conscientização, negligência, falta de cuidado com o usuário” (E5). “Alguns diminuem a habilidade para realizar os procedimentos, e outros faltam na unidade” (TE14). “Pelo desconforto e falta de cobrança” (E9). Como evidenciado através dos relatos e já encontrado em outros trabalhos (ENNES, 2002), os fatores que interferem na adesão aos EPI pela equipe de enfermagem foram: subestimação ao risco ocupacional, desconforto ao utilizá-los, desconhecimento sobre seu uso correto de acordo com o tipo de curativo, qualidade dos equipamentos, estímulo para utilizá-los, disponibilidade na Unidade, e aliados a esses fatores está a falta de supervisão quanto ao uso e utilização correta. 13 Em relação ao fornecimento de treinamento adequado para o uso dos EPI, observou-se que a maioria das USF oferece treinamento esporadicamente, correspondente a uma porcentagem de 36%; a frequência de atualização recomendada nas USF é trimestralmente, e apenas 12% das unidades oferecem treinamento de três em três meses aos seus funcionários e 16% das unidades não oferecem o treinamento (Figura 4). Segundo a Lei nº 6.514, de 22/12/1997, seção IV, art. 166, [...] É de responsabilidade da empresa realizar periodicamente programas de treinamento para correta utilização de EPIs. A adequação desses EPIs deve levar em consideração não somente a eficiência necessária para o controle do risco da exposição, mas também o conforto oferecido ao profissional. Se há desconforto no uso do equipamento, existe maior possibilidade de o profissional deixar de incorporá-lo no uso rotineiro [...]. O objetivo principal deste treinamento é conscientizar o funcionário do uso correto e conservação dos EPI para a finalidade que se destina. Portanto, esse, sem dúvida é um fator crítico nas USF pesquisadas e o qual influenciou nos resultados encontrados. Figura 4. Treinamento para uso dos EPI segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 14 Quando questionados a respeito da ocorrência de acidente de trabalho, a maioria (92%) referiu nunca ter sofrido acidente envolvendo material biológico, quando não utilizavam os equipamentos de proteção individual (Figura 5). Evidências científicas demonstram que o risco para acidentes com material biológico é uma realidade na maioria dos estabelecimentos de saúde (FONTANA & GALLAS, 2010). Sob essa ótica, cabe salientar que os trabalhadores da área da saúde encontram-se em permanente contato com agentes biológicos (bactérias, vírus, parasitas), sendo de fundamental importância a observância dos princípios de biossegurança na assistência aos pacientes e no tratamento de seus fluidos, bem como no manuseio de materiais e objetos contaminados em todas as situações de cuidado e não apenas quando o paciente atendido é sabidamente portador de alguma doença transmissível. Figura 5. Índice de acidente de trabalho relacionado a não utilização dos EPI segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012 Partindo-se da premissa de que o processo de trabalho na enfermagem abrange o cuidar, administrar, supervisionar, educar, orientar, para que a assistência prestada ao cliente se desenvolva de maneira segura (CARVALHO & CHAVES, 2010), é necessária a conscientização da equipe prestadora de serviço quanto à correta utilização dos EPI na técnica dos curativos, como também a supervisão e incentivo ao uso levando em consideração o grau de contaminação e fase cicatricial da ferida de forma a oferecer conforto e melhora no quadro clínico de seus pacientes. 15 CONCLUSÕES Ao analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de enfermagem para a adesão dos EPI, constata-se que o grupo amostral estudado conhecia os riscos a que estavam expostos no ambiente laboral, tanto para si quanto para o paciente, mas nem sempre esse conhecimento era suficiente para evitar a exposição. É válido salientar ainda que a percepção da susceptibilidade e da severidade aos riscos de exposição da equipe, somada à percepção do benefício dos EPI, constitui em um ponto positivo que contribui para o aumento da adesão ao uso. As barreiras apontadas pela amostra para a baixa adesão ao uso dos EPI estavam associadas aos aspectos organizacionais e gerenciais. Somado a isso existe uma deficiência em relação ao conhecimento sobre o tipo de EPI que deve ser usado em determinados curativos, indicando a necessidade de atualizações e capacitações com esses profissionais. Em vista desses resultados é imprescindível a prática da supervisão de enfermagem, no qual o supervisor assuma o papel de orientador e facilitador no ambiente de trabalho, para que assim as necessidades sejam atendidas, a fim de promover a orientação e motivação da equipe. É de extrema importância que, considerando a realidade de cada serviço, os profissionais recebam treinamentos específicos para o uso dos EPI. Uma possibilidade viável é a educação permanente, com participação ativa de toda a equipe de enfermagem e que ocorram com períodos pré-estabelecidos, fazendo parte da rotina do serviço, não sendo, portanto, um evento esporádico. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A.N.G., et al. Risco Biológico entre os Trabalhadores de Enfermagem. Revista de Enfermagem, Goiás, v. 17, n. 4, p. 595-600, 2009. BARBOZA, D.B.; OLIVEIRA, A.R.; TALHAFERRO, B. Adesão ao uso dos equipamentos de proteção individual pela enfermagem. Revista Ciências Médicas, São Paulo, v. 17, n. 3, p. 157-166, 2008. BRASIL. Lei Federal nº 6.514, de 22 de dezembro de 1997. Infrações e Sanções Administrativas ao Meio Ambiente. Diário Oficial da União. Brasília, DF. BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora nº 32. Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde. Brasília, 2005. BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora nº 06. 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