uso de equipamentos de proteção individual pelos profissionais

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USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL PELOS PROFISSIONAIS
DE ENFERMAGEM NA REALIZAÇÃO DO CURATIVO: RISCOS E DESAFIOS
Ana Cláudia Guimarães1, Dianne Fabíola Rodrigues1, Klésia dos Santos Oliveira1,
Liliane Oliveira Magalhães1, Pâmella Dhiênyfer Nogueira de Figueiredo1,
Sirlane Viana da Mata1, Gleisy Kelly Neves Gonçalves2
1
Graduandas do Curso de Enfermagem, Centro de Educação Superior de Guanambi/Faculdade
Guanambi (CESG/FG), Guanambi – BA.
2
Enfermeira / Mestre em Ciências Fisiológicas / Professora do Centro de Educação Superior de
Guanambi/Faculdade Guanambi (CESG/FG), Guanambi – BA.
RESUMO: A correta e frequente utilização de Equipamentos de Proteção Individual tem
como intuito principal a minimização dos riscos aos quais os trabalhadores da saúde estão
expostos. Neste sentido, este artigo tem o objetivo de identificar a ocorrência de riscos, os
quais a equipe de enfermagem está exposta, bem como os desafios encontrados por esta
na adesão da prática segura para a realização de curativos. A modalidade desta pesquisa foi
do tipo exploratória e descritiva, de abordagem quantitativa, sendo a população constituída
por vinte e cinco profissionais da enfermagem atuantes no serviço de atenção básica. Os
dados foram coletados através de questionário semiestruturado. Os resultados revelaram
que os profissionais de enfermagem têm consciência da importância do uso dos
equipamentos de proteção, porém não os utilizavam da maneira correta e com a devida
frequência na prática do curativo. Conforme evidenciado na amostra, o uso de equipamentos
obrigatórios não foi identificado em todos os profissionais mesmo tendo disponibilidade
suficiente no serviço. Isto indica uma possível ausência de estratégias de conscientização
por estes, confirmado por dados que demonstraram que apenas 20% das instituições
forneciam treinamento adequado para seu uso. Dados preocupantes foram coletados no que
dizia respeito às ocorrências de agravos como contaminação, infecção cruzada e
agravamento ou piora do processo de recuperação da lesão. Conclui-se com este trabalho,
que há a necessidade de estabelecer estratégias que possibilitem aos profissionais adquirir
um compromisso ético e com qualidade nos procedimentos, além de reconhecerem os
riscos presentes no ambiente de trabalho buscando desenvolver competências para vencer
os obstáculos à adesão das precauções padrão.
2
Palavras-chave: Curativos. Enfermagem. Equipamentos de proteção individual. Riscos
ocupacionais.
USE OF PERSONAL PROTECTIVE EQUIPMENT FOR NURSING PROFESSIONALS IN
CURATIVES: RISKS AND CHALLENGES
ABSTRACT: The correct and frequent use of Personal Protective Equipment has as main
objective to minimize the risks which health workers are exposed. In this sense, the present
study aimed to identify the occurrence of risks, which the nursing team is exposed, as well as
the challenges faced by the accession of this safe practice for curatives. The modality of this
research is both exploratory and descriptive with quantitative approach, the population is
composed of twenty-five nursing professionals working in basic care service. Data were
collected through semi-structured questionnaire. The results revealed that nurses are aware
of the importance of the use of protective equipment, but did not use them the right way and
with appropriate frequency in the practice of curatives. As evidenced in the sample using
obrigatory equipment was not reported by all participants even professionals having sufficient
materials on service. This data indicates a possible lack of awareness strategies, confirmed
by data showing that only 20% of institutions provided adequate training for its use. Worrying
data showed that concerned the occurrence of aggravating such contamination, cross
infection and exacerbation or worsening of the injury recovery process. With this work we
concluded that, there is a need to develop strategies that enable professionals to acquire an
ethical commitment and quality procedures, and recognize the risks present in the workplace
seeking to develop skills to overcome obstacles to adherence of standard precautions.
Key words: Curatives. Nursing. Occupational risks. Personal protective equipment.
3
INTRODUÇÃO
Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) são todos os dispositivos de
uso individual, destinados a proteger a integridade física do trabalhador, incluindo
luvas, protetores oculares ou faciais, protetores respiratório, aventais e proteção
para os membros inferiores (MASTROENI, 2006). No Brasil, segundo recomendação
do Ministério do Trabalho e Emprego, os empregadores são obrigados a fornecer os
EPI adequados à minimização dos riscos aos quais os trabalhadores estão
expostos, bem como realizar periodicamente programas de treinamento dos
profissionais quanto a correta utilização desses equipamentos (PIANUCCI, 2002).
Os riscos biológicos são os principais geradores de periculosidade e
insalubridade para os profissionais da saúde, pois eles têm contato direto com
sangue e outros fluidos corpóreos (MASTROENI, 2006). Ainda assim, há em grande
parte dos cenários de prestação de cuidados de enfermagem a negligência das
normas de biossegurança (FONTANA & GALLAS, 2010).
Considerando a realização do curativo uma prática privativa do profissional de
enfermagem, é imprescindível o uso de EPI por parte destes profissionais para que
se evitem possíveis acidentes de trabalho e/ou riscos para a sua saúde e a do
cliente (POTTER & PERRY, 2005). Um dos fatores que preocupa e dificulta a
aderência dos trabalhadores a utilizarem os EPI está relacionado com a sensação
esteticamente desagradável que o uso destes equipamentos traz (MASTROENI,
2006). Um estudo que justifica a importância deste trabalho foi o realizado em uma
universidade envolvendo alunos de graduação e pós-graduação mostrando que 50%
dos alunos não faziam uso de EPI durante a técnica do curativo. Neste mesmo
estudo, 44,4% dos entrevistados relataram ter sofrido acidente devido à sua própria
imprudência, fato que intensifica ainda mais a necessidade de usar os EPI
(PIANUCCI, 2002; MASTROENI, 2006).
A necessidade de se investigar os riscos que a equipe de enfermagem está
sujeita, quanto a não adequação às normas de biossegurança, bem como
diagnosticar os fatores que a impede de aderir a essa prática na realização do
curativo, justificaram a realização deste estudo. Os principais objetivos foram:
identificar os principais tipos de curativos realizados nas USF; relacionar os
equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados na prática do curativo;
identificar o nível de conhecimento e adesão da equipe de enfermagem sobre a
4
normatização que regulamenta o uso de EPI e relacionar os entraves na adesão à
proteção individual pela equipe de enfermagem no ambiente de trabalho.
Espera-se que com os resultados deste estudo haja melhoria da qualidade da
assistência da enfermagem no nível primário de atenção à saúde, pois, almeja
estimular a elaboração de estratégias de conscientização e controle da utilização
destes equipamentos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo do tipo exploratório, descritivo, de abordagem
quantitativa onde os dados foram sintetizados, tabulados e apresentados em
forma de tabelas e figuras (LAKATOS & MARCONI, 2008). Considerando que,
muitos profissionais ainda confundem a atenção primária a saúde como sendo de
menor risco para acidentes de trabalho, escolheu-se para realização deste estudo,
Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Guanambi no interior do
estado da Bahia. O estudo foi previamente aprovado pelo representante da
Secretaria Municipal de saúde, registrado no ofício sob o número 020-12. Dentre as
USF, foi considerado campo de pesquisa somente as da sede do município.
Definiu-se como critérios de inclusão na pesquisa ser trabalhador da equipe
de enfermagem nas USF que serviram de campo de pesquisa e aceitar participar do
estudo, respeitando-se a disponibilidade de tempo. Os participantes foram
orientados quanto ao objetivo do trabalho e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, respeitando-se os aspectos éticos e de confidencialidade
preconizados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados
foram obtidos por meio de questionário semiestruturado (LAKATOS & MARCONI,
2010) e incluiu questões com possibilidades de respostas limitadas e questões para
livre resposta do participante. Apesar deste método de coleta de dados, a
abordagem não se torna qualitativa, pois segundo Turato (2005),
“[...] encaixar simples citações literais de falas de sujeitos, que
responderam a questionários previamente padronizados, não
configura legitimamente a existência de uma reivindicada
simultaneidade com pesquisa qualitativa.”
5
Os participantes da pesquisa foram identificados quanto ao nível profissional
em Enfermeiros (E) e Técnicos de Enfermagem (TE), seguido por algarismo
referente a ordem da aplicação do questionário nas USF. Os questionários foram
aplicados à população de estudo composta por: profissionais de enfermagem
atuantes sendo 14 técnicos de enfermagem (56%) e 11 enfermeiros (44%),
totalizando 25 profissionais. A população amostral correspondeu a 86,2% da
população total de trabalhadores de enfermagem na atenção básica da sede
municipal. A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre os dias 25 de
setembro e 15 de outubro de 2012.
Neste estudo, variáveis de interesse exploradas no instrumento de coleta
foram: a faixa etária; gênero; tempo de serviço na enfermagem e na unidade;
disponibilidade de EPI na unidade; tipos de EPI utilizados para cada tipo de curativo;
justificativa para a não utilização dos EPI; EPI considerados importantes ou
desnecessários pelos profissionais; supervisão a respeito da adesão a Norma
Regulamentadora do uso dos EPI (NR-6) na USF; identificação dos riscos para o
paciente e para a equipe de enfermagem quando o profissional não utiliza ou utiliza
incorretamente o EPI; identificação dos desafios encontrados para a utilização dos
EPI; fornecimento e treinamento adequado para o uso dos EPI e identificação do
índice de acidente de trabalho relacionado a não utilização dos EPI.
As informações obtidas foram analisadas e a construção das figuras feitas no
programa Microsoft Office Excel 2007 sendo apresentadas sob forma de tabelas e
figuras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste trabalho, são apresentados dados descritivos da prática profissional de
trabalhadores da enfermagem dando um enfoque também avaliativo dos dados
referentes ao comportamento destes profissionais frente à realização de curativos.
Os sujeitos do estudo foram predominantemente do sexo feminino (96%) e a
faixa etária variou entre 24 e 53 anos de idade. Foi constatado que a maioria dos
participantes tinha de um a cinco anos de atuação na área (Figura 1).
Cabe destacar que 44% dos entrevistados tinham período de trabalho
variando de um a cinco anos na profissão, que somado aos participantes com cinco
a dez anos e ainda os com mais de dez anos totalizam 88% da população de
6
estudo. Isso indica que há uma tendência destes a passar muitos anos na profissão.
Este fato contribui para a baixa adesão, pois, devido o cansaço físico, acomodação
e autoconfiança, esses profissionais ignoram o uso de alguns EPI, o que leva a um
aumento
do
índice
de
acidentes
ocupacionais,
falta
de
credibilidade
e
desvalorização do profissional. Isso se afirma também no trabalho de Barboza,
Oliveira e Talhaferro (2008), em que trabalhadores com mais tempo de serviço e
experiência se sentiam mais seguros e negligenciavam precauções por confiar
demasiadamente em sua destreza.
Figura 1. Tempo de serviço (em anos) dos participantes profissionais de
enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
A
disponibilidade
de
materiais
de
precaução
padrão
durante
os
procedimentos de curativos é fator imprescindível para a prática segura dessa
atividade. Foi observado que 88% dos participantes relataram que os EPI são
suficientes para as demandas de curativo e 12% relataram que os mesmos são
insuficientes, o que levou esses profissionais a optar por não usar todos durante os
procedimentos.
Apesar
de
uma
parcela
percentualmente
pequena
ter
relatado
indisponibilidade dos materiais, se tratando de uma técnica onde o uso dos EPI são
obrigatórios, torna-se um dado de valor importante, pois pode ter influência sobre a
adesão dos trabalhadores aos EPI. É válido ressaltar que de acordo com a NR 32,
os Equipamentos de Proteção Individual devem estar à disposição do trabalhador e
em número suficiente nos postos de trabalho (BRASIL, 2005).
Identificamos ainda neste trabalho, os principais tipos de curativos realizados
nas USF, sendo bastante variados, são os que seguem: aberto, oclusivo, seco,
7
úmido, compressivo e com drenagem. Os dados da tabela 1 mostram os tipos de
EPI utilizados para a técnica do curativo, onde 100% dos profissionais referiram usar
luvas e jaleco na realização dos mesmos, seja ele simples ou com alto risco de
contaminação. Em relação à máscara a maioria referiu usar em curativos com
drenagem, abertos e oclusivos. O gorro e os óculos eram pouco utilizados em todos
os tipos de curativos.
Percebe-se com isso que há uma pequena adesão ao uso do gorro e óculos
de proteção, onde a justificativa foi o desconforto causado pelo EPI. É imprescindível
o uso da máscara e dos óculos para proteger as membranas mucosas dos olhos,
nariz e boca durante os procedimentos, pois oferece proteção contra respingos,
líquidos corporais e secreções (MAFRA et al., 2008). Sendo assim, são de uso
obrigatório em todos os curativos, pois, os respingos e outros líquidos não são
apenas referentes ao paciente, mas também aos gerados pelo profissional durante a
técnica de curativo.
Para que as normas de biossegurança sejam cumpridas na prática em saúde,
é necessária a conscientização dos profissionais quanto ao uso dos EPI na
realização
de
curativos.
Adesão
significa
manter
atitudes
adequadas
e
conhecimento técnico, porém, a relação existente entre atitude, motivação e
conhecimento pode ser baixa. Segundo Carvalho e Chaves (2010) a falta de hábito,
a qualificação insuficiente dos profissionais, o desconforto, o comportamento
inadequado dos membros mais experientes são fatores explicativos para a baixa
utilização de EPI.
Tabela 1. Tipos de EPI utilizados para cada tipo de curativo segundo participantes
profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
Tipos de
curativo
Equipamentos de proteção individual utilizados
Luvas
Máscara
Jaleco
Gorro
Óculos
N.
%
N.
%
N.
%
N.
%
N.
%
Aberto
25
100
12
80
25
100
05
20
02
08
Oclusivo
25
100
18
72
25
100
04
16
02
08
Seco
25
100
12
48
25
100
02
08
02
08
Húmido
25
100
16
64
25
100
04
16
02
08
Compressivo
25
100
17
68
25
100
04
16
03
12
Com drenagem
25
100
23
92
25
100
10
40
03
12
8
A principal justificativa identificada para a não adesão dos EPI pelos
profissionais era para se evitar gastos na unidade e os que escolhiam a opção
“outros” justificaram que tais equipamentos não são disponíveis em grande
quantidade ou não é fornecida e até mesmo pela falta de hábito ao uso, optavam por
não utilizar. Constatou-se ainda que muitos profissionais consideram que o seu uso
causa desconforto, além de ser desnecessários para realizar os procedimentos,
conforme
análise
das
justificativas
apresentadas.
Estas
informações
são
apresentadas na Figura 2. Este tipo de achado já foi reportado em trabalhos
anteriores como o de Carvalho & Chaves (2010) em que observou-se que muitos
profissionais consideram que o seu uso correto prejudica o desenvolvimento dos
procedimentos em seus pacientes. Neste, ainda se afirma que a falta de hábito, a
diminuição da habilidade para realizar os curativos, o desconforto, a contensão de
gastos e a inconveniência são razões para não aderir ao uso.
Portanto, é importante que a equipe de enfermagem conheça os protocolos
relacionados ao tratamento de feridas e a utilização correta dos equipamentos de
proteção individual (OLIVEIRA, 2005).
Figura 2. Justificativas para a não utilização dos EPI segundo participantes
profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
Quanto aos EPI considerados importantes pelos profissionais, 100%
consideraram a luva mais importante, 88% o jaleco e 52% consideraram a máscara
9
como sendo um EPI importante na técnica do curativo. Aspecto importante foi que
uma minoria considerara o gorro e os óculos relevantes (Tabela 2).
Tabela 2. EPI considerados importantes para a realização do curativo pelos
participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
Equipamentos de proteção individual
Nº
%
Luvas
25
100
Jaleco
22
88
Máscara
13
52
Gorro
07
28
Óculos
08
32
O uso de EPI e a adoção das Precauções Padrão representam importantes
medidas de proteção ao trabalhador. As falas a seguir explicam os motivos pelos
quais os entrevistados consideraram esses EPI destacados acima importantes para
realizar os procedimentos:
“Diminuem o risco de contaminação direta e aumenta a proteção quanto ao risco de
infecção ou agravamento da ferida” (E4).
“Todos são equipamentos fundamentais para evitar contaminação no curativo e para
proteção individual, além de desempenhar um trabalho com eficiência e
responsabilidade” (TE2).
“As luvas evita o contato direto com a ferida e protege contra microrganismos” (E8).
“Através dos EPIs podemos evitar contrair várias doenças” (TE6).
Apesar de terem considerado importante os EPI, observou-se nos dados
anteriores que os profissionais não fazem o uso frequente dos mesmos, isso
comprova um ato de imprudência, pois estão cientes da sua vulnerabilidade aos
riscos ocupacionais, mas optam pelo conforto e estética.
Em relação aos EPI considerados desnecessários pelos profissionais,
apresentados na Tabela 3, evidencia-se que a minoria dos entrevistados considera o
gorro e óculos desnecessários e 60% não julgaram nenhum dos EPI citados.
10
Tabela 3. EPI considerado desnecessários para a realização do curativo segundo
participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
Equipamentos de proteção individual
Nº
%
Luvas
___
___
Jaleco
___
___
Máscara
___
___
Gorro
04
16
Óculos
06
24
Nenhum
15
60
As falas a seguir demonstram alguns motivos pelos quais os participantes
consideravam ser dispensáveis os EPI destacados acima:
“O gorro é desnecessário, pois não transmite muitas infecções” (TE2).
“O gorro é desnecessário devido ao baixo risco de contaminação, por isso é
dispensável em algumas situações” (E7).
“O óculos é desnecessário porque não traz riscos e se a pessoa usa óculos de grau,
dificulta mais ainda o procedimento” (TE12).
De acordo com os dados obtidos, corroborando com Neves et al., (2009), a
adesão aos EPI é uma importante medida de proteção aos profissionais de saúde,
embora a não obediência a certos critérios, tais como uso adequado e frequência de
troca, possam expor os profissionais a acidentes e contaminações.
Observa-se com estes dados, uma dificuldade por parte dos profissionais em
relacionar a importância dos EPI com o uso destes durante os procedimentos de
curativo. Pois, apesar de poucos terem citado o gorro e óculos como importantes,
uma pequena parcela considerava desnecessário (Tabela 3).
A NR-6 é a norma que regulamenta o uso dos EPI pelos trabalhadores de
forma a promover a segurança destes. Sob essa ótica, 60% dos participantes
relataram que existe na instituição pesquisada algum tipo de trabalho de supervisão
a respeito da adesão a essa norma, em contrapartida, 32% relataram que não há
nenhum tipo de supervisão e o restante (8%) relatou não saber a respeito (Figura 3).
Apesar de uma significativa porcentagem referir haver supervisão quanto a
adesão a NR-6, observa-se ainda uma carência a esse respeito, sendo assim, é
11
imprescindível que haja essa supervisão em todas as unidades de saúde com o
objetivo de estimular a adesão às medidas preventivas e de forma a consolidar
também o conhecimento adquirido durante a formação técnica. Isso faz com que o
profissional seja corresponsável por manter sua própria integridade física. Partindo
dessa premissa, Almeida et al., (2009) sugerem ainda que, não basta somente
viabilizar as atividades de educação nos serviços de saúde, mas também fazer com
que esses conhecimentos alterem a prática diária desses profissionais.
Figura 3. Instituições com supervisão para o cumprimento da NR-6 segundo
participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
No que se refere à identificação dos riscos para o paciente e para a equipe de
enfermagem quando o profissional não utiliza ou utiliza incorretamente o EPI,
descrevemos a seguir algumas falas dos entrevistados que mostram os principais
riscos pelos quais a equipe e o paciente estão expostos:
“Infecção cruzada, agravamento ou piora do processo de recuperação da lesão,
infecções graves e até risco de morte” (E1).
“Além do risco de contaminação, reflete sobre a equipe uma falta de
responsabilidade e má impressão quanto aos serviços prestados” (E03).
“Para o paciente a contaminação, para a equipe o risco de contrair doenças” (E09).
De acordo com Mafra et al., (2008), os profissionais da saúde estão
vulneráveis à exposição aos agentes microbiológicos devido ao contato direto e
constante com o paciente. Verificamos através das falas que muitos têm consciência
12
dos riscos a que estão expostos e do prejuízo que uma negligência em relação a
não adequação às normas de biossegurança pode causar ao paciente portador de
ferida no que tange ao processo cicatricial e de recuperação do mesmo.
No entanto, cabe destacar que a efetiva adesão ao uso das precauções
padrão está intimamente relacionada à percepção que os profissionais têm acerca
dos riscos a que estão expostos e da susceptibilidade a esses riscos (NEVES et al.,
2011). Apesar disso, estudos comprovam que o fato de os profissionais terem
conhecimento sobre os riscos, no ambiente de trabalho, nem sempre garante a
adesão ao uso de medidas protetoras (SOUZA & FREITAS, 2010), sinalizando a
necessidade de ações mais efetivas para mudar essa realidade.
Quando questionados sobre os desafios encontrados para a utilização dos
EPI, ou seja, quando um ou mais membros da equipe não utilizam o EPI ou os
utilizam de forma incorreta, encontraram-se vários motivos para justificar essa
resistência por parte da equipe de enfermagem. Os entrevistados descreveram os
entraves encontrados a essa adesão da seguinte forma:
“A falta de costume e a disponibilidade dos EPIs na unidade faz com que deixamos
de utilizar ou utilizamos da maneira incorreta” (E2).
“Pelo desconforto ao uso e a indisponibilidade de alguns EPIs na unidade” (E3).
“Para agilizar os procedimentos e por ser mensal a reposição de materiais, às vezes
falta na USF” (TE4).
“Falta de conscientização, negligência, falta de cuidado com o usuário” (E5).
“Alguns diminuem a habilidade para realizar os procedimentos, e outros faltam na
unidade” (TE14).
“Pelo desconforto e falta de cobrança” (E9).
Como evidenciado através dos relatos e já encontrado em outros trabalhos
(ENNES, 2002), os fatores que interferem na adesão aos EPI pela equipe de
enfermagem foram: subestimação ao risco ocupacional, desconforto ao utilizá-los,
desconhecimento sobre seu uso correto de acordo com o tipo de curativo, qualidade
dos equipamentos, estímulo para utilizá-los, disponibilidade na Unidade, e aliados a
esses fatores está a falta de supervisão quanto ao uso e utilização correta.
13
Em relação ao fornecimento de treinamento adequado para o uso dos EPI,
observou-se que a maioria das USF oferece treinamento esporadicamente,
correspondente a uma porcentagem de 36%; a frequência de atualização
recomendada nas USF é trimestralmente, e apenas 12% das unidades oferecem
treinamento de três em três meses aos seus funcionários e 16% das unidades não
oferecem o treinamento (Figura 4). Segundo a Lei nº 6.514, de 22/12/1997, seção
IV, art. 166,
[...] É de responsabilidade da empresa realizar periodicamente
programas de treinamento para correta utilização de EPIs. A
adequação desses EPIs deve levar em consideração não
somente a eficiência necessária para o controle do risco da
exposição, mas também o conforto oferecido ao profissional.
Se há desconforto no uso do equipamento, existe maior
possibilidade de o profissional deixar de incorporá-lo no uso
rotineiro [...].
O objetivo principal deste treinamento é conscientizar o funcionário do uso
correto e conservação dos EPI para a finalidade que se destina. Portanto, esse, sem
dúvida é um fator crítico nas USF pesquisadas e o qual influenciou nos resultados
encontrados.
Figura 4. Treinamento para uso dos EPI segundo participantes profissionais de
enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
14
Quando questionados a respeito da ocorrência de acidente de trabalho, a
maioria (92%) referiu nunca ter sofrido acidente envolvendo material biológico,
quando não utilizavam os equipamentos de proteção individual (Figura 5).
Evidências científicas demonstram que o risco para acidentes com material
biológico é uma realidade na maioria dos estabelecimentos de saúde (FONTANA &
GALLAS, 2010). Sob essa ótica, cabe salientar que os trabalhadores da área da
saúde encontram-se em permanente contato com agentes biológicos (bactérias,
vírus, parasitas), sendo de fundamental importância a observância dos princípios de
biossegurança na assistência aos pacientes e no tratamento de seus fluidos, bem
como no manuseio de materiais e objetos contaminados em todas as situações de
cuidado e não apenas quando o paciente atendido é sabidamente portador de
alguma doença transmissível.
Figura 5. Índice de acidente de trabalho relacionado a não utilização dos EPI
segundo participantes profissionais de enfermagem da USF, Guanambi – BA, 2012
Partindo-se da premissa de que o processo de trabalho na enfermagem
abrange o cuidar, administrar, supervisionar, educar, orientar, para que a assistência
prestada ao cliente se desenvolva de maneira segura (CARVALHO & CHAVES,
2010), é necessária a conscientização da equipe prestadora de serviço quanto à
correta utilização dos EPI na técnica dos curativos, como também a supervisão e
incentivo ao uso levando em consideração o grau de contaminação e fase cicatricial
da ferida de forma a oferecer conforto e melhora no quadro clínico de seus
pacientes.
15
CONCLUSÕES
Ao analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de enfermagem
para a adesão dos EPI, constata-se que o grupo amostral estudado conhecia os
riscos a que estavam expostos no ambiente laboral, tanto para si quanto para o
paciente, mas nem sempre esse conhecimento era suficiente para evitar a
exposição. É válido salientar ainda que a percepção da susceptibilidade e da
severidade aos riscos de exposição da equipe, somada à percepção do benefício
dos EPI, constitui em um ponto positivo que contribui para o aumento da adesão ao
uso.
As barreiras apontadas pela amostra para a baixa adesão ao uso dos EPI
estavam associadas aos aspectos organizacionais e gerenciais. Somado a isso
existe uma deficiência em relação ao conhecimento sobre o tipo de EPI que deve
ser usado em determinados curativos, indicando a necessidade de atualizações e
capacitações com esses profissionais.
Em vista desses resultados é imprescindível a prática da supervisão de
enfermagem, no qual o supervisor assuma o papel de orientador e facilitador no
ambiente de trabalho, para que assim as necessidades sejam atendidas, a fim de
promover a orientação e motivação da equipe.
É de extrema importância que,
considerando a realidade de cada serviço, os profissionais recebam treinamentos
específicos para o uso dos EPI. Uma possibilidade viável é a educação permanente,
com participação ativa de toda a equipe de enfermagem e que ocorram com
períodos pré-estabelecidos, fazendo parte da rotina do serviço, não sendo, portanto,
um evento esporádico.
16
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