Conjunto Moderno da Pampulha é Patrimônio Cultural da Humanidade O Conjunto Moderno da Pampulha, obra-prima que leva a assinatura de importantes nomes da arquitetura e das artes, como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Cândido Portinari, e principal cartão-postal da cidade de Belo Horizonte, se tornou, em julho de 2016, Patrimônio Cultural da Humanidade, título emitido pela Unesco. O Conjunto inclui os edifícios e jardins da Igreja de São Francisco de Assis (Igrejinha da Pampulha), o Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte) e o Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube), construídos quase simultaneamente entre 1942 e 1943, além do espelho d’água e a orla da Lagoa. O conjunto também contempla a Praça Dino Barbieri (em frente à Igreja São Francisco de Assis) e a Praça Alberto Dalva Simão (próxima à Casa do Baile), ambas projetadas por Burle Marx. As edificações têm grande significado para as gerações presentes e futuras da humanidade, pois é um marco vivo, íntegro e autêntico da história da arquitetura mundial, da história brasileira e das Américas. Proteção mundial O título de Patrimônio Cultural da Humanidade é concedido pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco) a monumentos, edifícios, trechos urbanos e ambientes naturais de importância paisagística que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. O objetivo da Unesco não é apenas catalogar esses bens culturais valiosos, mas ajudar na identificação, proteção e preservação. A inscrição na Lista do Patrimônio Mundial significa que o Conjunto Moderno da Pampulha passará a contar com o compromisso de proteção da Unesco e de todos os países signatários da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, o que hoje significa contar com o resguardo de 190 países. Além disso, o aporte de recursos e a valorização dos patrimônios culturais mundiais tendem a contribuir para fomentar o turismo na região, o que gera novos investimentos na economia local e empregos para a população. O título contribui de forma significativa para divulgar Belo Horizonte no mundo. Há também um aspecto bastante prático que é o aumento do turismo em nossa cidade. Idealizado por Niemeyer e Juscelino Kubistchek, é um lugar único no mundo. E o aumento do turismo significa mais emprego, mais renda, mais autoestima para os belohorizontinos e mais oportunidade de desenvolvimento para a cidade. Cassino – atual Museu de Arte da Pampulha O edifício do Cassino foi concebido como a âncora de todo o conjunto, por ser o responsável pela atração do maior número de visitantes nos anos seguintes à conclusão da obra, pelo prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek. Além de destaque propiciado por sua localização em terreno mais elevado, o Cassino é o edifício que apresenta a mais clara relação com os princípios da arquitetura moderna formulados pelo arquiteto Le Corbusier, com sua estrutura independente em concreto, planta e fachadas livres, moduladas pela estrutura, que surge como a própria expressão formal do edifício, também um importante atributo da arquitetura moderna. A estrutura em concreto e a escolha pelos planos envidraçados proporcionam plena integração visual entre interior e exterior, característica presente em todas as edificações do conjunto. O volume prismático regular, de rigorosa modulação estrutural – explorando a liberdade de ordenação dos espaços internos proporcionados pelos pilotis –, apresentase como uma caixa de vidro, com rampas ligando o térreo ao salão de jogos e à boate. As paredes revestidas de ônix, as colunas revestidas por aço inoxidável e os espelhos cenográficos de cristal belga foram uma inovação para a época. A esse volume associase o corpo curvilíneo e translúcido que abriga a pista de jogos e a boate, denominada grill-room. A solução invoca um efeito cênico comum à arquitetura barroca mineira. Casa do Baile Destacando-se pela graça e simplicidade, a Casa do Baile foi concebida para receber bailes e shows, e contava também com um restaurante, para acolher o público que frequentava a nova região de Belo Horizonte. A Casa do Baile foi edificada em uma ilha artificial ligada à Avenida Otacílio Negrão de Lima apenas por uma pequena ponte. Sua planta se desenvolve a partir de duas circunferências que se tangenciam internamente, das quais se desprende uma marquise sinuosa, bem ao gosto barroco, que provoca o olhar e sugere a comparação com as curvas das margens da represa. A marquise é suportada por colunas expressivas, que também contornam todo o volume circular, terminando em um pequeno volume de forma ameboide, revestido por azulejos decorados. À frente desse volume, há um pequeno palco circular, cercado por um espelho d’água também de forma ameboide. Uma calçada portuguesa foi instalada em toda a área externa, antes, ao longo de todo o terreno e depois da ponte, o que reforça o caráter público do espaço. Iate Golfe Clube – atual Iate Tênis Clube Projetado para ser um clube público de lazer e esportes, o projeto arquitetônico incluía piscinas, quadras esportivas e o acesso à lagoa para a prática de atividades náuticas, como o remo e a vela. O clube faz parte do plano geral da Pampulha. A edificação se harmoniza com o ambiente debruçando-se sobre a represa. Com suas linhas arquitetônicas modernas, o Iate, inaugurado em 1943, introduziu no Brasil o telhado com inclinação em “V”, popularmente chamado telhado “borboleta”. Tendo as águas do telhado invertidas, ao contrário do que mandava a tradição, dava a impressão de um barco atracado às margens da represa. Imprimindo ritmo às fachadas, a utilização dos brises metálicos tem o caráter funcional de proteção à incidência solar no interior do salão através das paredes envidraçadas. Em sua arquitetura destacam-se, além do telhado em forma de asa de borboleta, as obras de artes integradas de autoria de Cândido Portinari e Roberto Burle Marx, como os painéis pintados no interior do salão de festas e os azulejos que, também presentes nos outros edifícios, conferem identidade ao conjunto. Igreja São Francisco de Assis A Capela de São Francisco de Assis foi a primeira igreja em estilo moderno construída no Brasil. É a obra mais polêmica do Conjunto Arquitetônico da Pampulha e a que melhor representa o casamento entre arquitetura e estrutura. A Igrejinha da Pampulha, como é popularmente conhecida, é considerada por muitos a obra prima do conjunto. A igreja é composta por uma sequência de cinco “cascas” articuladas, com diferentes alturas. Na edificação, em que as curvas de Oscar Niemeyer são as mais evidentes, a entrada da luz destaca a pintura de Portinari, no altar mor, e a fachada voltada para a Praça Dino Barbieri, apresenta o belíssimo painel em azulejos também de Portinari. Muitos elementos existentes na composição arquitetônica da obra fazem alusão à tradição da arquitetura religiosa mineira e franciscana.