24 Discurso do Deputado Juquinha (PL-GO) sobre o efeito dos juros no desempenho do setor produtivo, proferido na sessão de /06/2002. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que os juros reais cobrados pelo sistema financeiro têm um impacto devastador sobre a produção e o consumo no País. O estudo começa por comparar a rentabilidade do setor financeiro com a do setor produtivo, acentuando a grave e preocupante disparidade entre ambos. Enquanto os segmentos da indústria e do comércio apresentaram forte retração no ano passado, os grandes bancos apresentaram lucros extremamente elevados, com uma rentabilidade média superior a 18%. Se o sistema financeiro recebe juros elevadíssimos do setor produtivo e dos consumidores, é fácil entender a crescente e elevada lucratividade dos bancos contra a estagnação dos setores produtivos e a situação de arrocho em que vivem os consumidores. Para complicar a situação da indústria e do comércio, a pesquisa mostra, ainda, que os juros cobrados sobre o capital de giro das empresas encarecem os produtos em cerca de 10,3%, em média, tornando os produtos menos competitivos no mercado interno e no exterior. Com isso, os juros se tornam ainda mais onerosos para a economia e para a sociedade como um todo. Mesmo com uma taxa básica de juros (Selic) em torno de 18,5% ao ano, os juros cobradas pelos bancos nas operações de crédito chegam a 45% ao ano em média. Para as pessoas físicas, o custo se torna ainda maior, com as taxas variando de acordo com a operação. E sacrifício acaba sendo maior para as pequenas e médias empresas, já que as grandes empresas têm mais facilidade de acesso ao crédito externo, ao custo médio de 15% ao ano. Para se ter idéia desses custos para a economia, a pesquisa mostra que no caso de financiamento externo, o reflexo no preço final dos produtos é da ordem de 3,8%. Quando o empréstimo é tomado no mercado interno, o custo dos juros para as grandes empresas fica em torno de 30% ao ano e o impacto no preço final dos produtos sobe para 7,2%. O quadro se torna mais preocupante quando se soma aos juros o custo da carga tributária. O estudo revela que apenas as contribuições sociais – como Cofins, PIS/Pasep e a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) – tem um custo adicional para as empresas de 9,1%, em conseqüência do efeito cascata. Se somado esse custo ao dos juros bancários, o ônus sobre os produtos chega a 20%, o que limita a competitividade não apenas dos produtos mas das próprias empresas. Além de tornar nossos produtos mais caros no mercado interno e no exterior, esses custos acabam se refletindo também no nível de vida e de consumo dos brasileiros, que passam a não ter acesso a uma infinidade de produtos em decorrência dos preços elevados. Ao mesmo tempo em que inibem o consumo, as altas taxas de juros reduzem, também, o ritmo dos investimentos produtivos, já que muitos empresários evitam recorrer a empréstimos bancários temendo endividar-se. E por que esse temor? Exatamente pelo alto custo do dinheiro. Afinal, as taxas de juros praticadas no Brasil são dez vezes superiores a de países como a Coréia do Sul e a Austrália, dois fortes competidores do Brasil nos mercados externos. Isso explica, por certo, a baixa participação do crédito na formação do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Para ter idéia dessa limitação, enquanto no Chile a participação das operações de crédito corresponde a 68% do PIB, no Brasil esse percentual não passa de 28%. Ao analisarem a pesquisa, os dirigentes da Fiesp admitem que apenas os juros e os tributos em cascata representam mais de 60% do chamado custo Brasil. Por isso os empresários cobram maior ousadia do Banco Central no esforço para baixar a taxa de juros, pois entendem que só assim os custos e os preços tenderiam a cair e a economia voltaria a crescer. Os empresários e todos nós reconhecemos as dificuldades que o Governo enfrenta para reduzir os juros sem comprometer a política de ajuste fiscal, sem expor a economia a riscos e sem comprometer as metas acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, eles admitem que é possível buscar alternativas de redução do custo do crédito para o setor produtivo sem comprometes as metas fiscais. Entre essas alternativas estaria a adoção de medidas para ampliar a concorrência entre os bancos, algo que o Governo já buscou ao permitir a compra de bancos brasileiros por instituições estrangeiras, ou reduzir o spread nas operações de crédito de instituições oficiais como a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB), que são responsáveis por mais de 40% da oferta de crédito do País. Entendo que, independente das restrições impostas pela política monetária, alguma providência deve ser tomada pelo Governo para mudar esse quadro. Afinal, com juros extorsivos sufocando o setor produtivo e desestimulando os consumidores, fica difícil criar as condições para a economia voltar a crescer, gerando emprego e melhorando as condições de vida de todos os brasileiros. Muito obrigado.