Ramos colaterais do arco aórtico e suas principais ramificações em

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RPCV (2004) 99 (549) 53-58
REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Ramos colaterais do arco aórtico e suas principais ramificações
em chinchila (Chinchilla lanigera)
Collaterals branches of the aortic arch and its main rami in chinchila (Chinchilla lanigera)
Ana Cristina Pacheco de Araújo1*, João César Dias Oliveira1 e Rui Campos1,2
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias.
Av. Bento Gonçalves, 9090, Porto Alegre, RS, Brasil, CEP: 91540-000.
2
Departamento de Ciências Morfológicas, Instituto de Ciências Básicas da Saúde.
Resumo: Este trabalho objetivou sistematizar e descrever os
ramos colaterais do arco aórtico e suas subdivisões colaterais
principais na chinchila. Foram utilizados 30 animais, com o
sistema arterial preenchido com látex 603. Do arco aórtico
originaram-se em seqüência, em 93,3% das peças, o tronco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda, enquanto em 6,7%
das amostras o arco emitiu o tronco braquiocefálico, a artéria
carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. As
artérias carótidas comuns, direita e esquerda, dividiram-se em
seus ramos terminais as artérias carótidas externa e interna. A
artéria carótida interna terminou-se em 100% à direita e 93,3%
à esquerda, próximo ao forame lácero. A artéria subclávia, à
direita, geralmente emitiu como ramos colaterais seqüenciais
as artérias vertebral, escapular dorsal, tronco comum torácica
interna-vertebral torácica e tronco comum cervical superficialprofunda, enquanto, à esquerda, geralmente, o tronco comum
torácica interna-vertebral torácica foi o primeiro ramo colateral
da artéria subclávia.
Palavras-chave: artéria aorta, roedores, vascularização
Summary: This study aimed to systematize and describe the
collaterals branches of the aortic arch and its main branches in
chinchila. The arterial system of thirty animals was filled with
latex 603. In 93.3% of the samples, the aortic arch gave off the
bracheocephalic trunk and left subclavian artery. In 6.7% of the
cases, from the aortic arch were originated the bracheocephalic
trunk, left common carotid artery and left subclavian artery. The
right and left common carotids arteries bifurcated in its terminal
branches: the external and internal carotids arteries. The internal carotid artery was finished near the lacerum foramen, on the
right in 100% and on the left in 93.3% of the cases. The collateral branches of the right subclavian artery were, usually, the
vertebral artery, the dorsal scapular artery, the common trunk of
the internal thoracic and thoracic vertebral arteries and finally
the common trunk of the cervical superficial and cervical deep
arteries. However, on the left, the subclavian artery gave rise the
common trunk of the internal thoracic and thoracic vertebral
arteries as its first collateral branch.
Key words: aorta artery, rodents, vascularization
* Correspondente: e-mail [email protected]
Introdução
Nos últimos anos a chinchila vem tomando
importância como animal de laboratório, e como
poucos relatos foram encontrados na literatura,
tornou-se necessário melhor descrever a sua anatomia.
Existem alguns estudos sobre os ramos colaterais
do arco aórtico em espécies domésticas como no
gato e no cão, realizados por Filho e Borelli (1970),
Goshal (1981) e Evans (1993) e em coelho, por
Albuquerque et al. (1987). Sinzinger e Hohenecker
(1972) estudaram o arco aórtico em alguns roedores
de laboratório. Já espécies selvagens como o gambá,
foram estudados por Souza et al. (1982) e Reckziegel
et al. (2003); como o tatu, por Souza et al. (1996) e
como a paca, por Oliveira et al. (2001). Porém sobre
chinchila não foram encontrados registros.
A proposta desse trabalho foi descrever os ramos
colaterais do arco aórtico e seus principais ramos
colaterais na chinchila, estabelecendo um modelo
padrão e suas principais variações nessa espécie.
Material e métodos
Para a realização desse trabalho foram utilizados
30 espécimes de Chinchilla lanigera, provenientes de
criatórios dos municípios de Viamão e Santa Maria no
estado do Rio Grande do Sul, Brasil, sendo 19 fêmeas
e 11 machos adultos.
Foram administrados aos animais 5000 UI de
heparina (Heparin – Cristália Produtos Químicos
Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, BR) e transcorridos
30 minutos, foram eutanasiados com overdose de
tiopental sódico 2,5% (Thionembutal - Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, BR),
ambos pela via intraperitoneal.
Logo após, foi feita a abertura da caixa torácica,
com secção do ápice cardíaco e canulação da artéria
subclávia esquerda e tronco braquiocefálico, pela
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Araújo, A.C. et al.
artéria aorta, através do ventrículo esquerdo.
O sistema arterial foi lavado com solução salina a
0,9% resfriada, sendo realizado a seguir o preenchimento dos vasos com látex 603 (Cola 603 – Bertoncini Ltda, São Paulo, SP, BR), corado com pigmento
vermelho (Suvinil Corante – BASF S.A. São Bernardo
do Campo, SP, BR).
As peças permaneceram submersas em água corrente por 60 minutos para polimerização do látex,
sendo feita em seguida, a secção da coluna vertebral
na altura das primeiras vértebras lombares, rebatimento total da pele e a abertura de uma janela óssea
na abóbada craniana.
As preparações foram fixadas em formaldeído a
20% por, no mínimo, sete dias, com posterior dissecção e observação das artérias do espaço mediastínico
cranial e pescoço. O encéfalo foi retirado para observação dos vasos que promoviam a irrigação do cérebro. Desenhos esquemáticos, de todas as peças, foram
elaborados com auxílio de uma lupa, para confecção
dos resultados. Alguns exemplares foram fotografados
para documentação e os vasos nominados de acordo
com a Nomina Anatômica Veterinária (1994), sendo
que algumas denominações foram feitas pelos autores,
com base nos territórios de suprimento sanguíneo do
cão.
Resultados
O arco aórtico da chinchila apresentou-se com uma
curvatura à esquerda, em todas as peças, e emitiu
como seus ramos colaterais em seqüência, o tronco
braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda em
93,3% das peças (Figuras 1 e 3A). Em 6,7% das
amostras a seqüência dos ramos encontrados foi um
tronco braquiocefálico, a artéria carótida comum
esquerda e a artéria subclávia esquerda (Figuras 2 e
3B).
O tronco braquiocefálico emitiu em 93,3% das preparações uma artéria carótida comum esquerda, milí-
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metros depois, uma artéria carótida comum direita,
continuando-se para à direita como artéria subclávia
direita. Já em 6,7% dos casos o tronco braquiocefálico
emitiu, alguns milímetros depois de sua origem, a
artéria carótida comum direita, continuando-se como
artéria subclávia direita.
As artérias carótidas comuns direita e esquerda
ascenderam o pescoço, acompanhando a traquéia, lateralmente, alcançando a base do crânio dividindo-se, na
altura da alça do nervo hipoglosso, em artéria carótida
interna e artéria carótida externa. A última dirigiu-se
para a face distribuindo-se, enquanto a artéria carótida
interna emitiu a artéria occipital, contornando medialmente a grande bolha timpânica, terminando-se próximo à entrada do forame lácero, em 100% dos casos
à direita e 93,3% à esquerda. Em 6,7% dos achados à
esquerda, ela penetrou, caudalmente, no forame lácero
indo participar da irrigação encefálica. Nestes dois
casos a referida artéria não fez o percurso habitual
de uma artéria carótida interna, progredindo rostralmente até alcançar a hipófise, ramificando-se. Em
uma dessas peças a artéria carótida interna esquerda
formou a artéria basilar, rostralmente, com seus ramos
terminais e colaterais e lançou, caudalmente, a artéria
espinhal ventral que, nitidamente, diminuía de calibre
em direção a medula espinhal. Na outra preparação,
a artéria carótida interna esquerda atingiu a base da
medula oblonga, exatamente na mesma posição que
no caso anterior, a alguns milímetros caudal à ponte,
entretanto, ela se anastomosou à artéria basilar, que
era bem desenvolvida, no local de origem da artéria
cerebelar caudal esquerda, sendo essa última ramo da
própria artéria carótida interna.
A artéria subclávia emitiu como ramos colaterais
principais as artérias: vertebral, escapular dorsal,
tronco comum torácica interna-vertebral torácica e
tronco comum cervical superficial-profunda (Figura
3).
A artéria vertebral, a partir de sua origem, projetouse dorsocranialmente incorporando-se ao canal transFigura 1 – Vista ventral do tórax e pescoço
abertos, retirados esôfago e traquéia, para
ressaltar o modelo padrão do arco aórtico
da chinchila: a - coração; b - arco aórtico; c
- tronco braquiocefálico; d - artéria carótida
comum esquerda; e - artéria carótida comum
direita; f - artéria subclávia direita; g - artéria
subclávia esquerda; h - artéria axilar direita; i
- artéria axilar esquerda; j - tronco comum torácica interna vertebral torácica direita; k - artéria
torácica interna direita; l - artéria vertebral torácica direita; m - artéria escapular dorsal direita;
n - tronco comum torácica interna vertebral
torácica esquerda; o - artéria torácica interna
esquerda; p - artéria vertebral torácica esquerda;
q - tronco comum cervical superficial-profunda
direita; r - artéria cervical profunda direita; s
- artéria cervical superficial direita; t - tronco
comum cervical superficial-profunda esquerda;
u - artéria cervical profunda esquerda; v - artéria cervical superficial esquerda; x - artéria
vertebral esquerda. Barra = 5 mm.
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Figura 2 – Vista ventral do espaço mediastínico cranial aberto, retirados esôfago e
traquéia para salientar a variação da origem
dos ramos do arco aórtico da chinchila: a
- arco aórtico; b - tronco braquiocefálico; c artéria carótida comum esquerda; d - artéria
carótida comum direita; e - artéria subclávia
direita; f - artéria subclávia esquerda; g
- artéria axilar direita; h - artéria axilar
esquerda. Barra = 2,5 mm.
versal a partir do forame transverso da sexta vértebra
cervical. Após ultrapassar o forame transverso do atlas
atingiu a fossa atlantal penetrando rostralmente no
forame alar e vertebral lateral para o interior do canal
vertebral, indo anastomosar-se com sua homóloga
contralateral, na face ventral da medula oblonga, formando a artéria basilar que foi responsável pela irrigação encefálica em 96,7% dos casos. Já em 3,3% das
peças, a artéria vertebral de ambos os antímeros era
um fino ramículo que se uniu à artéria espinhal ventral
formada a partir de uma única artéria carótida interna
esquerda desenvolvida, não cooperando na irrigação
encefálica.
A artéria escapular dorsal (Figuras 1 e 3) projetouse dorsalmente, indo irrigar a musculatura profunda
da goteira vertebral na região escapular dorsal.
O tronco comum torácica interna-vertebral torácica
originou como ramo colateral, de menor calibre, a
artéria vertebral torácica, que se lançou caudodorsalmente, emitindo as artérias intercostais dorsais da
primeira à sexta. Em sua continuação, o ramo mais
calibroso, a artéria torácica interna, projetou-se ventrocaudalmente alcançando o músculo transverso torácico emitindo todas as artérias intercostais ventrais,
continuando-se para a parede abdominal como artéria
epigástrica cranial.
O tronco comum cervical superficial-profunda
(Figuras 1 e 3) lançou-se cranialmente sendo seu
ramo mais calibroso a artéria cervical superficial que
percorreu na face lateral superficial do pescoço, irrigando a musculatura extrínseca do membro torácico
na região. Seu ramo colateral, de menor calibre, a
artéria cervical profunda ramificou-se um pouco mais
profundamente no pescoço irrigando também a musculatura dorsal do tórax.
A artéria subclávia direita emitiu em seqüência, de
medial para lateral, como ramos colaterais principais,
as artérias: vertebral, escapular dorsal, tronco comum
torácica interna-vertebral torácica e tronco comum
cervical superficial-profunda (Figura 3).
A artéria vertebral direita apresentou-se como o primeiro ramo em 90% das peças, como segundo ramo
em 6,7% e como terceiro ramo em 3,3% das preparações.
A artéria escapular dorsal apresentou-se como
segundo ramo colateral da artéria subclávia direita
em 50% das peças. Em 23,3% das preparações ela foi
emitida como terceiro ramo, em 23,3% dos casos ela
era ramo colateral da artéria vertebral e em 3,3% foi
ramo colateral da artéria torácica interna juntamente
com a artéria vertebral torácica.
O tronco comum torácica interna-vertebral torácica
apresentou-se como terceiro ramo colateral da artéria
subclávia direita em 46,7% das preparações. Já em
36,7% mostrou-se como segundo ramo, enquanto
que em 10% das peças foi o primeiro ramo. Em 6,6%
dos casos, onde não ocorreu a formação de um tronco
comum, a artéria torácica interna foi o quarto ramo e a
artéria vertebral torácica foi o segundo ramo.
O tronco comum cervical superficial-profunda
apresentou-se como quarto ramo colateral da artéria
subclávia direita em 50% dos achados, sendo o terceiro ramo em 26,7% e como quinto ramo em 3,3%
das peças. Nos restantes 20% das observações onde
não houve formação de tronco, em 6,7% das amostras a artéria cervical superficial apresentou-se como
o quarto ramo, enquanto em 13,3% ela apresentou-se
como quinto ramo. Já a artéria cervical profunda foi
ramo colateral da artéria escapular dorsal em 6,7%
dos casos e mostrou-se como quarto ramo em 13,3%
das amostras.
A artéria subclávia esquerda foi originada do arco
aórtico a poucos milímetros do tronco braquicefálico,
projetando-se lateralmente à esquerda até ultrapassar
cranialmente a primeira costela (Figuras 1 e 3). Emitiu
em seqüência de medial para lateral, normalmente, as
artérias: tronco comum torácica interna-vertebral
torácica, vertebral, escapular dorsal e o tronco comum
cervical superficial-profunda (Figura 3).
O tronco comum torácica interna-vertebral torácica
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Araújo, A.C. et al.
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Figura 3 – Desenho esquemático em vista
ventral do coração e arco aórtico da chinchila,
evidenciando (A) o modelo padrão e (B) a
variação dos ramos do arco aórtico: a - arco
aórtico; b - tronco braquiocefálico; c - artéria
carótida comum esquerda; d - artéria carótida
comum direita; e - artéria subclávia direita; f
- artéria subclávia esquerda; g - artéria axilar
direita; h - artéria axilar esquerda; i - artéria
vertebral; j - artéria escapular dorsal; k - tronco
comum torácica interna-vertebral torácica; l
- artéria torácica interna; m - artéria vertebral
torácica; n - tronco comum cervical superficial-profunda; o - artéria cervical profunda; p
- artéria cervical superficial; VD - ventrículo
direito; VE - ventrículo esquerdo.
apresentou-se como primeiro ramo colateral da artéria
subclávia esquerda em 76,7% das peças. Já em 23,3%
não houve a formação de tronco comum, sendo que
em todos esses achados o primeiro ramo foi a artéria
vertebral torácica e o segundo ramo a artéria torácica
interna.
A artéria vertebral esquerda apresentou-se como
segundo ramo colateral da artéria subclávia em 63,3%
dos achados, já em 30% ela foi o terceiro ramo,
enquanto em 6,7% ela foi o quarto ramo colateral.
A artéria escapular dorsal esquerda foi emitida, em
46,7% das peças, como terceiro ramo colateral da
artéria subclávia esquerda, já em 13,3% apresentou-se
como segundo ramo, e em outros 13,3% foi o quarto
ramo colateral. Entretanto em 26,7% das amostras
a artéria escapular dorsal não era ramo colateral da
artéria subclávia esquerda e sim da artéria vertebral
esquerda.
O tronco comum cervical superficial-profunda originou-se como o quarto ramo colateral da artéria subclávia esquerda em 50% das peças, já em 23,3% foi
o terceiro ramo, enquanto em 10% foi o quinto ramo
colateral. Entretanto em 16,7% das amostras não ocorreu a formação de tronco comum das artérias cervical
superficial-profunda, sendo que dentre essas peças
a artéria cervical superficial foi o quinto ramo colateral em 10%, quarto ramo em 3,3% e o sexto ramo
colateral em 3,3%. Nestes mesmos achados a artéria
cervical profunda mostrou-se isolada, não sendo ramo
colateral da artéria subclávia esquerda e sim da artéria
escapular dorsal em 10% dos espécimes, enquanto que
em 6,7% ela foi ramo colateral da artéria subclávia
esquerda, sendo em uma peça o quarto ramo, e noutra
o quinto ramo colateral.
Discussão
Como não foram encontradas citações sobre o arco
aórtico e seus ramos colaterais na chinchila, utilizou56
se como referência para discussão trabalhos de alguns
autores que o estudaram em outras espécies animais.
Segundo Filho e Borelli (1970), estudando 240
gatos (Felis catus domestica) do arco aórtico emergiu,
em 165 animais, a partir da artéria braquiocefálica,
a artéria carótida comum esquerda e em seguida um
tronco comum das artérias carótida comum direita
e subclávia direita. Já da crossa da aorta emergiu a
artéria subclávia esquerda, sendo que este padrão foi
coincidente com o encontrado na maioria dos casos
em chinchila. Essa disposição apareceu como uma
variação no gambá (Didelphis aurita) em apenas um
espécime, segundo Souza et al. (1982) utilizando 26
animais. Já Albuquerque et al. (1987), utilizando 40
coelhos (Oryctolagus cuniculus), encontraram essa
disposição em 35 animais, e o restante de seus exemplares tiveram a formação de um tronco bicarotídeo.
O padrão de ramificação encontrada na chinchila
também foi evidenciado nos oito exemplares de paca
(Agouti paca) estudados por Oliveira et al. (2001) e
em cinco de 28 gambás (Didelphis albiventris) pesquisados por Reckziegel et al. (2003).
A presença de tronco bicarotídeo também foi
relatada por Filho e Borelli (1970) em 75 de 240
gatos, por Souza et al. (1982) em 25 de 26 gambás
(Didelphis aurita) e por Albuquerque et al. (1987)
em cinco de 40 coelhos estudados, bem como por
Reckziegel et al. (2003) em 15 gambás (Didelphis
albiventris) de 28 animais, sendo 11 a partir do
tronco braquiocefálico e quatro diretamente do arco
aórtico. A formação de um tronco bicarotídeo não foi
encontrada em nenhuma de nossas preparações.
Para Goshal (1981), em cães, do arco aórtico surge
um tronco braquiocefálico, que na maioria das vezes,
emite uma artéria carótida comum esquerda, uma
artéria carótida comum direita e a artéria subclávia
direita, e como segundo ramo a artéria subclávia
esquerda. Essa ramificação do tronco braquiocefálico
foi coincidente com a encontrada na maioria de nossos
Araújo, A.C. et al.
casos. Esse autor cita ainda que poderiam ocorrer,
como variações, a formação de uma trifurcação do
tronco ou a formação de um tronco bicarotídeo.
Nenhuma dessas formações foi observada nas
chinchilas estudadas.
De acordo com Evans (1993), o suprimento
sangüíneo para a cabeça, pescoço e membros
torácicos origina-se da artéria aorta através de dois
grandes vasos emitidos pelo arco aórtico, o tronco
braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda. O
tronco braquiocefálico é a primeira grande artéria do
arco aórtico, sendo a artéria carótida comum esquerda
seu primeiro ramo colateral. O tronco termina-se
nas artérias carótida comum direita e subclávia
direita. Apenas em quatro espécimes de 123 cães
examinados, as artérias carótidas comum direita e
esquerda originaram-se por um tronco comum. A
artéria subclávia esquerda originou-se do arco aórtico
como segundo ramo colateral, a qual se continuou no
bordo cranial da primeira costela como artéria axilar.
Segundo Souza et al. (1982), em gambá (Didelphis
aurita), Albuquerque et al. (1987), em coelho e
Oliveira et al. (2001), em paca, a artéria subclávia
esquerda era o primeiro ramo do arco aórtico. Esta
citação contradiz todos os livros clássicos de anatomia
onde o primeiro ramo é o tronco braquiocefálico.
Nossos resultados concordam com Reckziegel et al.
(2003) em relação à seqüência dos ramos do arco
aórtico, ou seja, a artéria subclávia esquerda foi o
segundo ou terceiro ramo originado deste.
Do arco aórtico, em 20 espécimes de rato, segundo
Sinzinger e Hohenecker (1971), surge como primeiro
ramo a artéria anônima (tronco braquiocefálico), que
se divide em artéria subclávia direita e artéria carótida
comum direita. O arco também emitiu, em seqüência,
separadamente, as artérias carótida comum esquerda e
subclávia esquerda. Estes resultados são coincidentes
com as variações encontradas na chinchila. Esta
mesma disposição foi encontrada no tatu peba
(Euphractus sexcinctus) nos sete espécimes utilizados
por Souza et al. (1996), assim como em apenas um
caso dentre 28 gambás (Didelphis albiventris) por
Reckziegel et al. (2003).
Como a revisão bibliográfica não aportou
referências relativas aos ramos terminais das artérias
carótidas comuns e dos ramos colaterais das artérias
subclávias, utilizou-se a literatura clássica em especial
os relatos de Goshal (1981) e Evans (1993) que
descreveram as ramificações das artérias subclávias no
cão, espécie cujo arco aórtico emite ramos colaterais
semelhantes à chinchila.
No cão, para Goshal (1981) e Evans (1993), a
artéria carótida comum ascende o pescoço dividindose em artérias carótidas interna e externa próximo à
base do crânio. A artéria carótida externa ramifica e
distribui-se na face, como na chinchila, enquanto a
artéria carótida interna penetra no crânio cooperando
na irrigação encefálica. Na chinchila em apenas dois
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casos, à esquerda, a artéria carótida interna chegou a
participar da irrigação encefálica.
Os autores que pesquisaram os ramos colaterais do
arco aórtico em várias espécies animais, não aprofundaram seus estudos com relação à ramificação das
artérias subclávias. Sinzinger e Hohenecker (1971)
estudando em 20 espécimes de ratinhos albinos citam
como ramos seqüenciais da artéria subclávia as artérias: torácica interna, intercostal suprema, cervical
profunda e vertebral, sem especificar a percentagem
de ocorrência. Já Oliveira et al. (2001) em paca,
relataram como ramos das artérias subclávias em seu
trajeto intratorácico, de cranial para lateral, as artérias:
vertebral, tronco costocervical, cervical superficial,
axilar e torácica interna. A ramificação por nós encontrada foi mais ampla, com a formação de troncos
comuns e seqüência de emissão diferentes entre as
artérias subclávias. Ressalte-se que na literatura clássica como em nossos resultados a artéria axilar é a
continuação extratorácica da artéria subclávia.
Mesmo no cão a seqüência de origem da ramificação colateral das artérias subclávias, citado por
Goshal (1981) e Evans (1993) é diferente da encontrada na espécie por nós estudada. Para esses autores,
as artérias subclávias emitem em seqüência: a artéria
vertebral; tronco costocervical, sendo que desse originam-se as artérias: escapular dorsal, cervical profunda
e vertebral torácica; a artéria torácica interna e a artéria cervical superficial; continuando-se como artéria
axilar.
Observando-se, na chinchila, os territórios de suprimento dos ramos colaterais das artérias subclávias,
buscou-se estabelecer uma correspondência entre
estes e os territórios de suprimento descritos no cão,
por Goshal (1981) e Evans (1993), para a denominação destes vasos. Entretanto esses ramos colaterais
surgiram com algumas diferenças no local de origem,
com formação de troncos ou como ramificação de um
ramo colateral.
Para Goshal (1981) e Evans (1993) a artéria vertebral é o primeiro ramo da artéria subclávia que
ascende o pescoço pelo canal transverso, emitindo
três ramos: um para a musculatura dorsal da goteira,
outro que, juntamente com sua homóloga contralateral, forma a artéria espinhal ventral e, um terceiro que
penetra no atlas, unindo-se com a do lado oposto formando a artéria basilar. Em nossos resultados a artéria
vertebral foi o primeiro ramo da artéria subclávia
direita e o segundo da esquerda. Entretanto, a artéria
vertebral da chinchila formou a artéria basilar que foi
a responsável por toda a irrigação encefálica na maioria dos achados.
Segundo Goshal (1981) e Evans (1993) a artéria
escapular dorsal é um ramo colateral do tronco costocervical e distribuiu-se no músculo serrátil ventral,
já na chinchila apresentou a mesma área territorial,
porém foi o segundo ramo colateral da artéria subclávia direita e o terceiro da subclávia esquerda.
57
Araújo, A.C. et al.
Na chinchila as artérias torácica interna e vertebral
torácica formaram um tronco, enquanto que no cão,
para Goshal (1981) e Evans (1993), a primeira é ramo
direto da artéria subclávia e divide-se nas artérias
musculofrênica e epigástrica cranial e, a segunda é
ramo do tronco costocervical, estendendo-se até o terceiro ou quarto espaço intercostal dorsalmente; sendo
que na chinchila essa artéria estende-se até o sexto
espaço intercostal dorsal.
No cão para Goshal (1981) e Evans (1993), a artéria cervical superficial é um ramo colateral da artéria
subclávia e a artéria cervical profunda origina-se
do tronco costocervical. Para esses autores, no cão,
a artéria cervical superficial ramifica-se e irriga a
musculatura superficial do pescoço e extrínseca do
membro torácico, e a artéria cervical profunda dirigese para a musculatura profunda do pescoço e dorsal
do tórax. Na chinchila os territórios são coincidentes,
porém normalmente formavam um tronco comum cervical superficial-profunda.
Com base nos resultados obtidos podemos concluir
que o padrão de ramos colaterais do arco aórtico na
chinchila é, em seqüência, o tronco braquiocefálico e
a artéria subclávia esquerda, enquanto que a variação
encontrada é o tronco braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. E
que os ramos colaterais das artérias subclávias supriram territórios semelhantes ao do cão, entretanto em
alguns casos constituíram troncos comuns diversos. A
artéria carótida interna normalmente não coopera na
irrigação encefálica, enquanto que as artérias vertebrais quase sempre suprem todo o encéfalo.
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Bibliografia
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