Educação e cuidado em saúde por meio do Arco de Maguerez na

Propaganda
>>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 Educação e cuidado em saúde por meio do Arco de Maguerez na pediatria clínica 1
1
1
1,
Sandra Monteiro , Manuela Melo , Valéria Batista da Silva , Acza Alcântara 1 Emanuelle Costa
1
Escola Superior de Ciências da Saúde -­‐ ESCS, Brasil. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; Resumo. Apresentamos a experiência exitosa de assistência à criança com doença celíaca para mostrar a relevância do trabalhar em pediatria utilizando a Metodologia da Problematização e o Processo de Enfermagem. Objetivou-­‐se mediar a assistência de enfermagem ao paciente celíaco pediátrico de maneira sistematizada durante o processo de ensino-­‐aprendizagem do interno do curso de Enfermagem. Criança de 19 meses em investigação diagnóstica para doença celíaca internada por complicações gastrointestinais e comportamento infantil desordenado. Seguiu-­‐se todas as etapas da metodologia da problematização com o Arco de Maguerez, – com importante construção de planos de cuidados intervencionistas que abarcaram principalmente educação em saúde e mudança de comportamento. Foi utilizado a taxonomia da NANDA-­‐
® NIC-­‐NOC que sustentou os cuidados-­‐intervenções-­‐resultados para melhoria clínica da díade mãe-­‐criança. Concluiu-­‐se que a utilização do método demonstrou-­‐se eficaz e efetivo na assistência à criança e pode sobremaneira contribuir com o desenvolvimento de uma assistência holística e qualificada aos pacientes celíacos. Palavras-­‐chave: Doença celíaca, Pediatria, Enfermagem, Ensino e aprendizagem, Metodologia da problematização. Education and care in health for Maguerez Arch in the middle of pediatrics clinic Abstract. Here is the successful experience of child care with celiac disease to show the importance of working in pediatrics using the Methods of Questioning and the Nursing Process. Aimed to mediate nursing patient care pediatric celiac in a systematic way during the teaching-­‐learning process of the internal nursing course. Child 19 months in diagnostic investigation for celiac disease hospitalized for gastrointestinal complications and disorderly childish behavior. Followed every step of the questioning methodology with the Arc of Maguerez -­‐ with important building interventional care plans that encompassed mainly health education and behavior change. the taxonomy of NANDA-­‐NIC-­‐NOC® that sustained them-­‐care interventions, outcomes for clinical improvement of the mother-­‐child dyad was used. It was concluded that the use of the method proved to be efficient and effective in childcare and can greatly contribute to the development of a holistic and quality care to celiac patients. Keywords: Celiac disease, Pediatrics, Nursing, Teaching and learning, Methodology of questioning. 1. Introdução De acordo com a literatura, a doença celíaca (DC) acomete de 0,3% a 1,0% da população em países desenvolvidos, é mais frequente em mulheres numa proporção 2:1, provocando muitas consequências para a saúde e, principalmente, modificações no estilo de vida. A DC caracteriza-­‐se como enteropatia medida por linfócitos T, induzida pelo glúten, acomete indivíduos geneticamente predispostos e apresenta as seguintes manifestações: má absorção intestinal, diarreia crônica, dor abdominal, distensão abdominal, perda de peso e flatulência. O tratamento da doença consiste na total e definitiva exclusão do glúten da dieta (Araújo, Araújo, Botelho, & Zandonadi, 2010). 49 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 Assim, para evitar as crises diarreicas, a distensão abdominal e o déficit de crescimento, é necessário que haja envolvimento dos profissionais de saúde e familiares, a fim de que as atividades de prevenção e educação em saúde possam ser eficientes para o sucesso do tratamento, recuperação e reabilitação da criança. Nesse sentido, o ponto essencial de intervenção para celíacos caracteriza-­‐se pelo ensino-­‐aprendizagem em saúde, o qual envolve adequação dos parâmetros nutricionais e mudanças no estilo de vida. O ensino-­‐aprendizagem deverá ser obrigatoriamente iniciado logo após a confirmação do diagnóstico. O ambiente hospitalar é caracterizado por rotinas de cuidados e por intervenções terapêuticas que podem ser dolorosas e restritivas, porém necessárias à melhora do estado clínico do paciente. A internação hospitalar é uma experiência normalmente angustiante e preocupante para qualquer indivíduo, porém os sentimentos podem estar potencializados quando se trata de uma criança. A criança, diferente dos adultos, sente, age e reage muito rapidamente, podendo ser expresso comportamento infantil desordenado, evidenciado por birras e raiva, que podem comprometer a boa evolução clínica quando não se adequam ao tratamento, a exemplo da transgressão alimentar. Para nortear este estudo, traçamos como objetivo mediar a assistência de enfermagem ao paciente celíaco pediátrico de maneira sistematizada durante o processo de ensino e aprendizagem do interno no curso de Enfermagem. 2. Metodologia Neste estudo apresentaremos uma exitosa experiência com a utilização do Arco de Maguerez, que possui embasamento teórico nos pressupostos da Metodologia Ativa -­‐ Metodologia da Problematização (Bodenave &Pereira, 1982), na assistência de enfermagem à criança com doença celíaca realizada no setor de internação pediátrica do hospital de referência do Distrito Federal, tomando como base a taxonomia NANDA-­‐NIC-­‐NOC® (Bulechek, Howard, Butcher, 2010, & NANDA, 2015 & Moorhead, Jonhson, Mass,& Swanson, 2010). 3. Resultados e Discussão 3.1 Etapa 1 -­‐ Observação da realidade Durante o internato na pediatria, atendemos uma criança, que nos chamou atenção pelo seu comportamento e pelo modo como sua mãe o tratava. Histórico: 07/05/2015 às 12h00. SMP, 19 meses, acompanhada da mãe. Lactente apresentou há 3 meses diarreia de coloração escura, odor fétido e com muco, febre e vômito. Procurou o hospital, onde foi internada no dia 05/05/15. Mãe relata que reside em casa alugada com saneamento. Não dispõe de filtro e que criança estava ingerindo água não filtrada. Mãe, 21 anos de idade, Pai, 31 anos e irmão, cinco anos, hígidos. Mãe nega doenças prevalentes na família ou outros quadros semelhantes, porém já houve internações anteriores com o quadro diarreico. Apresenta calendário vacinal em atraso, faltam as vacinas Hepatite A e Pneumocócica. Teve alimentação em amamentação materna exclusiva por apenas 10 dias de vida. Mãe relata ter descontinuado amamentação, devido a infeção do trato urinário (ITU) de repetição. Foi iniciada fórmula infantil de partida artificial, adotada até 6 meses, depois foi modificada para outra fórmula. Foi introduzido, aos 8 meses, leite de vaca com açúcar, e alimentação complementar aos 11 meses, com pão e macarrão. Histórico Ginecologia-­‐obstétrico: Mãe relatou que começou o pré-­‐natal com 3 meses, com 7 consultas, Gestação2; Parto Cesário 2; Aborto 0. 50 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 Nascido de parto cesáreo, Apgar de 9 e 10 em seu primeiro e quinto minuto de vida. Peso ao nascer P: 2.475 Kg. Exame físico: Bom estado geral, Peso 9.000Kg, emagrecido (Peso ideal: 11,5kg), ativo, hipocorado, choroso, não colaborativo, hidratado, afebril (36.1°C). Cabeça: couro cabeludo com pequenas lesões com crostas. Olhos: esclerótica branca, conjuntiva hipocorada (2+/4+). Orelhas: íntegras, simétricas. Nariz: mucosa normocorada, com descamações e presença de secreção hialina. Boca: mucosa e lábios normocorados e hidratados, com dentição de acordo com a idade. Pescoço: gânglios não palpáveis. Tórax: simétrico, ausculta pulmonar com presença de sibilos em ápice direito e roncos bilaterais em base, eupnéico (FR:35icm), BNF em 2T, sem sopro, normocárdico (115 bpm). Abdómen: globoso, flácido, RHA+ hiperativos, com dor à palpação em quadrante superior direito. Genitália: íntegra com fimose. Anda com dificuldade e não fala palavras completas, apenas balbucia. Considerando a contextualização do caso, percebemos várias necessidades relacionadas à díade. Para efeito neste estudo, iremos nos referir à díade para vinculação mãe-­‐criança. A birra intensa da criança e a falta de controle da mãe influenciavam diretamente no tratamento do filho, atrapalhando inclusive a equipe de saúde no desempenho dos procedimentos e cuidados necessários. Foi verificada a postura prejudicial da mãe no decorrer de investigação clínica e tratamento da doença, pois ela ofertava à criança parte de seu próprio desjejum (leite com café), o que afetava diretamente a melhora clínica da criança. Diante desta problemática, escolhemos esse paciente para realizar o Arco de Maguerez, com foco de ensino-­‐aprendizagem em educação e saúde para celíacos, focado em atender as necessidades humanas básicas (NHB) afetadas e detectadas durante o período de observação. Com base no histórico de enfermagem, foram evidenciadas as seguintes NHB alteradas e Diagnósticos de Enfermagem (DE): Psicobiológica: Distensão e dor abdominal, diarreia. DE: Motilidade gastrintestinal disfuncional relacionada a intolerância alimentar; Psicobiológica: Expressão facial, comportamento expressivo, relato verbal de dor. DE: Dor aguda relacionada a agentes lesivos; Psicobiológica: Seguimento inadequado de instruções, comportamentos impróprios. DE: Conhecimento deficiente relacionado à falta de interesse em aprender e interpretação errônea de informações; Psicobiológica: Choro irritável, oscilação dos estados comportamentais, hiperextensão das extremidades. DE: Comportamento desorganizado do lactente relacionado à interpretação errônea dos sinais comportamentais expressos pelo bebê, dor e a intolerância alimentar. A partir desse quadro, elaboramos o Problema: Como a falta de postura da mãe diante do comportamento de birra do filho pode ser prejudicial ao tratamento de saúde do filho? 3.2 Etapa 2 – Pontos-­‐chave O problema levantado no caso de SMP foi evidenciado, aos poucos a convivência com essa família e os cuidados prestados no decorrer da internação facilitaram a visualização do contexto e assim fizemos um recorte do problema. Tomados por sensibilidade pelo caso apresentado, buscamos refletir acerca dos seguintes aspectos: Quais possíveis fatores estão associados à falta de postura da mãe com a criança? Quais os possíveis determinantes maiores para a falta de cuidado da mãe com a criança? Qual o papel do profissional de saúde no processo de educação em saúde aos pacientes hospitalizados e seus respectivos cuidadores? Esses questionamentos nos fizeram resgatar a importância da mãe no seio familiar, pois ela simboliza sensibilidade, sentimentos e docilidade que abrem o caminho para a confiança dos filhos e nos reportam a reflexões do problema. Nesse sentido, percebe-­‐se que são possíveis alguns fatores associados, tais como: a figura materna sofreu modificações no decorrer dos anos, pois teve de acumular funções de gestora e cuidadora da família. A sociedade moderna exige que ela realize e/ou 51 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 administre os afazeres domésticos, possa ser suficiente nas demandas dos filhos, realize atividade laboral para ajudar no sustento do lar e ainda seja aquela que cuida de si a toda hora. O alto nível de exigência traz frustrações quando esses requisitos não são satisfeitos, assim a forma como a mãe enfrenta as situações pode ser relevante para a criação dos filhos. Outra situação a ser mencionada é que o desconhecido frequentemente causa medo e insegurança. Quando um filho adoece, fragiliza-­‐se o núcleo familiar e a busca do defeito e do erro passa a ser uma constância, quando na verdade a busca deveria ser “como posso contribuir para resolver e/ou melhorar a situação da criança?”. A compreensão do que está acontecendo, do surgimento da doença, da hospitalização entre outros fatores colabora para adesão de pacientes e seus respectivos cuidadores ao tratamento. Considerando os fatores e a abrangência do problema elaborado, foi necessário buscar fontes que norteassem a análise e reflexão dos pontos-­‐chave. Sendo assim, foram utilizadas as fontes para a fundamentação teórica dos fatores psicossocial e psicobiológico (diarreia, fibrose cística, doença inflamatória intestinal, doença celíaca) e para a fundamentação do fator comportamental (birra), e para a sustentação dos cuidados-­‐intervenções-­‐resultados para melhoria clínica da díade mãe-­‐criança. Foi utilizada a taxonomia da Nursing Interventions Classification (NIC) e a de resultados de enfermagem descrita pela Nursing Outcomes Classification(NOC)®. Com isso, elegemos os pontos-­‐chave que deverão ser desenvolvidos para uma maior compreensão e obtenção de solução: Falta de postura da mãe e dos profissionais perante as crises de birra da criança. Ainda partindo da observação, percebemos que, não só pelo fato de SMP ser uma criança e apresentar temperamento forte, a mãe evitava realizar os cuidados básicos como: banho, limpeza das narinas, higiene corporal, entre outros. Pensando nisso chegamos à compreensão de que havia conhecimento deficiente da mãe e falta de postura diante da realização de tarefas básicas para o cuidado da criança, além da falta de empoderamento, o que contribuía com uma postura prejudicial para ambos. Isso resultou no segundo ponto-­‐chave: Conhecimento deficiente da mãe para as tarefas básicas do cuidado e empoderamento. O ponto observado que nos chamou atenção foi o desconhecimento da mãe acerca dos prováveis diagnósticos médicos em investigação, as consequências para o desenvolvimento da criança e as necessidades de mudanças quanto ao estilo de vida da criança. 3.3 Etapa 3 -­‐ Teorização Baseados nos pontos-­‐chave, consideramos os aspectos que afetavam SMP e necessitavam de um Plano de Cuidados de Enfermagem (PCE). Nesta etapa, buscamos na literatura disponível subsídios para a discussão dos pontos-­‐chave presentes no recorte da realidade e para a fundamentação da construção de hipóteses de solução para o problema, contribuindo, assim, para esclarecer o que estava ocorrendo com a criança. Falta de postura da mãe e dos profissionais perante as crises de birra da criança. A Birra pode ser definida como respostas emocionais desproporcionais à situação e que são universais ao desenvolvimento infantil, representam crises emocionais temporárias em crianças pequenas. A raiva geralmente acompanha a birra e compreende quatro componentes que refletem o nível de sua intensidade como: gritar, pontapear, bater e adotar uma postura rígida. Na maioria dos casos, é normal, contudo é necessário atenção quando se torna incontrolável, a agressividade é extrema e existe uma grande agitação motora e psicológica, o que causa uma grande disrupção na dinâmica familiar e pode levar à violência por parte dos pais (Silva, 2013 & Urra, 2009). Considerando essas definições e o contexto em que encontramos SMP e sua mãe, inferimos que o paciente se 52 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 encontrava no nível de intensidade mais elevado, pois identificamos todas as características descritas. Percebemos a alteração no quadro psicológico da mãe em decorrência da atitude da criança, no qual a mãe rememora o fato ocorrido durante a internação e o relaciona com o mal-­‐estar que sentiu. Nesse sentido, há necessidade de referências que vislumbrem possíveis métodos de enfrentamento. Os pais, em face da birra, têm de responder com calma, mas com determinação. Falar firme com a criança e explicar as razões pelas quais não lhe satisfazem o desejo. Por nenhuma razão, pode-­‐se permitir que a criança consiga aquilo a que se propõe depois de uma birra, uma vez que, desde muito pequena, a criança deve interiorizar que as birras não conduzem a nada. Ocasionalmente ignorá-­‐las pode ser eficaz a longo prazo (Fonseca & Calegari, 2013). Existem duas categorias de práticas ou estratégias educativas: as indutivas e as coercivas. Entre as indutivas, incluem-­‐se aquelas que indicam à criança as intenções dos pais acerca da mudança do comportamento em questão, induzindo-­‐a a obedecer-­‐lhes. Já as práticas educativas coercivas envolvem técnicas disciplinares que fazem uso da força e poder dos progenitores, incluindo punições físicas, ameaças, privação de privilégios e afetos (Bem, 2006 & Breitenstein, 2009; Oliveira & Caldana, 2009). Considerando esses fatores, segue o próximo ponto-­‐chave. Conhecimento deficiente da mãe para as tarefas básicas do cuidado e empoderamento. Nossa reflexão nos encaminhou a considerar as melhores formas de trabalhar a educação em saúde e a importância de a mãe realizar os cuidados básicos e essenciais com a criança durante a hospitalização. As bases da assistência à criança hospitalizada partem de diferentes perspectivas na visão dos profissionais sobre o ser criança, o papel da família e da comunidade. Assim a instituição hospitalar deve ser estruturada considerando o atendimento de qualidade que garanta a segurança do paciente, o processo de humanização e os aspectos éticos e legais (Fonseca & Calegari, 2013). No cotidiano hospitalar, a mãe é quem, na maioria das vezes, permanece acompanhando seu filho durante a hospitalização. Quando a equipe consegue estreitar os laços com as mães, elas manifestam intenso desejo de cuidar do filho durante o processo de internação, como uma forma de demonstrar seu amor e minimizar o sentimento de culpa, muitas vezes presente em face do adoecimento da criança. Com isso, a mãe, como principal cuidadora durante todo o processo de adoecimento, internamento e cura, precisa estabelecer novas práticas de cuidado, adaptadas à situação/necessidade atual. Como percebido, a birra do paciente era com a mãe, com profissionais e com qualquer pessoa que tentasse aproximação. Daí a necessidade de teorizar acerca de técnicas para controle da birra para os profissionais da pediatria, díade e internos de enfermagem. A utilização do Arco de Maguerez nos sinalizou que deveriam ocorrer transformações no comportamento profissional, pois precisávamos aprender a lidar com inúmeras situações e, assim, buscar métodos e/ou estratégias de gerenciamento da comunicação e do controle da birra (Silva, 2013; Urra, 2009; Molina & Marcon, 2009). Gerenciamento da comunicação -­‐ Controle pela voz: As afirmações positivas aumentam as oportunidades de êxito no tratamento, e a mensagem tem de ser entendida da mesma maneira por quem envia e por quem recebe. Mão sobre a boca: É utilizada como último recurso e em criança altamente antagonista, pois não busca assustar a criança, mas sim obter a sua atenção e silêncio para que possa escutar o profissional. Falar-­‐mostrar-­‐fazer: Antes de começar qualquer manobra, deve-­‐se explicar à criança o que será feito e mostrar, por meio de algum tipo de simulação, o que vai ocorrer, portanto a escolha das palavras é importante na técnica do “dizer, mostrar e fazer. 53 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 3. 4 Etapa 4 -­‐ Hipótese de solução Chegamos ao momento de propor hipóteses de soluções ao problema encontrado, para tanto resolvemos abordar os aspectos psicobiológicos da díade. O PE é uma ferramenta fundamental, estruturado em referenciais teóricos, que define e estabelece diretrizes para que o Enfermeiro implemente uma assistência. Sua aplicação irá orientar a implementação do Plano de Cuidados de Enfermagem -­‐ PCE, na tomada de decisões da prática clínica. Para abordar os aspectos psicobiológicos da díade, utilizamos a classificação de diagnósticos descrita pela North American Nursing Diagnosis Association International (NANDA), a de intervenções de Enfermagem descrita pela Nursing Interventions Classification (NIC) e a de resultados de enfermagem descrita pela Nursing Outcomes Classification (NOC) por possibilitar ao Enfermeiro diagnosticar, intervir e avaliar sinais/sintomas, fatores de risco, fatores relacionados à saúde dos indivíduos utilizando uma linguagem padronizada. Propomos a utilização de um PCE baseado na taxonomia NANDA-­‐NIC-­‐NOC®, e procuramos atender as NHB afetadas e que precisavam prioritariamente ser resolvidas, tais como: eliminação, conforto, percepção/cognição, papéis e relacionamento, enfrentamento/tolerância ao estresse, que durante o processo de acompanhamento foram assim classificadas. Tabela 1: Quadro mostra o PCE-­‐ plano de cuidados de enfermagem com diagnósticos e intervenções de enfermagem Motilidade gastrointestinal disfuncional -­‐ Avaliar o atual nível de conhecimento do paciente/família sobre a dieta prescrita. -­‐ Explicar o propósito da dieta. -­‐ Orientar a mãe/familiares sobre os alimentos proibidos e os permitidos. -­‐ Orientar a mãe/familiares quanto a forma de ler os rótulos e selecionar os alimentos adequados. -­‐ Reforçar as informações oferecidas por outros membros da equipe de saúde, quando apropriado. -­‐ Incluir a família/pessoas significativas nesse processo, quando adequado. -­‐ Documentar a resposta ao analgésico e todos os efeitos colaterais. Dor Aguda Conhecimento Deficiente -­‐ Realizar uma avaliação completa da dor, incluindo local, características, início/duração, frequência, qualidade, intensidade e gravidade, além de fatores precipitadores. -­‐ Ensinar a mãe e a família a monitorar a intensidade, a qualidade e a duração da dor. -­‐ Ensinar a mãe e a família a ação e os efeitos secundários dos agentes de alívio da dor. -­‐ Determinar o local, as características, a qualidade e a intensidade da dor antes de medicar o paciente. -­‐ Verificar a prescrição médica para a droga, a dose e a frequência de administração do analgésico prescrito. -­‐ Satisfazer às necessidades de conforto e proporcionar outras atividades que auxiliem no relaxamento, a fim de facilitar a resposta à analgesia. 54 -­‐ Oferecer informações adequadas ao nível de desenvolvimento do paciente. -­‐ Organizar as informações em uma sequência lógica e um ambiente favorável à aprendizagem. -­‐ Relacionar as informações a desejos/necessidades pessoais do paciente. -­‐ Oferecer materiais educativos para ilustrar informações importantes e/ou complexas. -­‐ Usar linguagem familiar. -­‐Apresentar as informações de forma estimulante. -­‐ Encorajar a participação ativa do paciente. Comportamento desorganizado do lactente -­‐ Segurar ao colo e confortar o bebê ou a criança. -­‐ Manter contato visual com o paciente. -­‐ Manter atitudes calmas e firmes. -­‐ Reduzir ou eliminar estímulos geradores de medo ou ansiedade. -­‐ Identificar pessoas significativas cuja presença pode ajudar o paciente. -­‐ Usar atividades lúdicas, conforme apropriado. -­‐ Orientar os pais sobre as técnicas a serem usadas para acalmar o bebê. -­‐ Manter sessões curtas de ensino, quando adequado. -­‐ Repetir as informações importantes. -­‐ Oferecer feedback frequente sobre o progresso da aprendizagem. >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 3.5 Etapa 5 -­‐ Aplicação à realidade A implementação do PCE ocorreu num período de três semanas, sendo que as intervenções de enfermagem foram pautadas em ações educativas e atividades assistenciais, com objetivo na educação em saúde. Avaliando a condição de saúde da criança a partir dos resultados encontrados quanto a tolerância à alimentação e consistência melhorada das fezes, podemos dizer que as orientações fornecidas sobre a dieta, alimentos permitidos e apropriados, a familiares conscientes e partícipes do processo foram bem aceitas e satisfatórias, visto que houve melhora do funcionamento gastrointestinal de SMP com consequente alívio e/ou inexistência da dor abdominal e do quadro diarreico. Em observância ao alívio da dor, constatou-­‐se que o reconhecimento de medidas que aliviavam ou precipitavam a ocorrência de dor, posições de conforto, efeito de medicamentos, e demais informações empoderaram a mãe e/ou familiares sobre a melhor forma de agir diante da situação. Ressaltamos ainda que o conhecimento dos fatores determinantes (comportamento e alimentação) à saúde da criança pela mãe e/ou familiares, associados à dieta adequada também, trouxe benefício para a melhora da dor. Em relação aos comportamentos que promovam saúde (cuidador), dieta prescrita, práticas nutricionais saudáveis e benefícios do controle da doença e ao conhecimento do processo da doença e regime terapêutico, adesão ao tratamento, percebemos que, com o passar dos dias. O conhecimento deficiente da mãe foi deixando de ser um problema e, em função disso, a transgressão alimentar que tanto prejudicou a criança deixou de existir. No momento das atividades educativas, buscava-­‐se um ambiente favorável, tranquilo e uma linguagem acessível ao grau de instrução da mãe. As orientações acerca da alimentação adequada foram trabalhadas para alcançar o padrão de normalidade para a criança, por isso a educação em saúde foi incessantemente realizada com a mãe, que compreendeu os benefícios do controle da doença, das práticas nutricionais saudáveis e dos efeitos do tratamento. Houve melhora da consistência das fezes, passando de estado líquido ao pastoso e sólido. Por fim, avalia-­‐se o comportamento melhorado do lactente, necessidades nutricionais e estratégias eficazes de comunicação. Esse é um ponto crítico do estudo, pois a birra foi fator dificultador do cuidado. Nesse sentido, a mãe e/ou familiares foram orientados a segurar a criança no colo e oferecer-­‐lhe conforto, enquanto mantinham a calma e a tranquilidade. Ao chamar atenção da criança, foram orientados a manter o contato visual e evitar estímulos geradores de medo e ansiedade. Buscou-­‐se desenvolver com a criança atividades lúdicas e agradáveis, além de identificar entre os familiares pessoas significativas que poderiam contribuir no cuidado com a criança. O paciente recebeu alta médica com importante melhora clínica e a alta da enfermagem concentrou-­‐
se na alimentação em domicílio, atenção ao resultado do diagnóstico definitivo e acompanhamento no hospital de referência, pois o plano de alta foi construído durante o período da internação, por meio da abordagem dos cuidadores e avaliações contínuas da díade à beira leito. O PCE norteou as orientações de enfermagem que foram realizadas in loco, acompanhadas de demonstração e feedback do que foi aprendido. A educação em saúde foi primordial para a melhora em vários aspectos do quadro de saúde de SMP, pois a criança passou a alimentar-­‐se conforme o padrão adequado para seu estado de saúde e, assim, sua nutrição apresentou-­‐se equilibrada. Isso mostrou que a modificação em um ponto frágil na saúde apresentou repercussões positivas em vários aspectos do quadro clínico da criança. 55 >>Atas CIAIQ2016 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 2 4. Conclusão Desenvolver o Arco de Maguerez voltado para a Assistência de Enfermagem no internato da pediatria foi uma experiência ímpar, pois realizar intervenções assistenciais e educativas ao paciente celíaco baseado na taxonomia NANDA-­‐NIC-­‐NOC® foi, sem dúvida, uma excelente estratégia, uma vez que proporcionou espaço de vivência da realidade e construção de uma formação integral, crítica reflexiva e técnico-­‐científica. A partir das atividades desenvolvidas, percebemos que a estratégia de educação em saúde, quando realizada de forma clara e compreensiva, propicia o desenvolvimento da autonomia no cuidado e na promoção da saúde. Esta consiste em um importante instrumento de trabalho, pois permite identificar problemas e buscar soluções, de forma simples e dinâmica. Referências Araújo, H.M.C., Araújo, W.M.C., Botelho. R.B., & Zandonadi, R.P. (2010). Doença celíaca, hábitos e práticas alimentares e qualidade de vida. Rev. Nutr., 23(3), 467-­‐474. Bem, L.W.A. (2006). Reflexões sobre a construção da parentalidade e o uso de estratégias educativas em famílias de baixo nível socioeconômico. Psicologia em Estudo, 11(1), 63-­‐71. Bordenave, J.D., Pereira, A.M. (1982). Estratégias de ensino-­‐aprendizagem. Petrópolis: Vozes. Breitenstein, S.H.C., Gross, D. (2009) Understanding disruptive behavior problems in preschool children. Journal of Pediatric Nursing, 24(1), 3-­‐12. Bulechek, G.M., Howard, K., Butcher, J.M.D.(2010). Classificação das intervenções de enfermagem (NIC) (5a ed).Rio de Janeiro: Elsevier. NANDA Diagnósticos de enfermagem da NANDA (2015): definições e classificação 2015-­‐2017 [NANDA Internacional]; Porto Alegre: Artmed. Fonseca, A.S., Calegari, R.C. (2013). Assistência humanizada na unidade de pediatria. In: Fonseca, A.S. (Org). Enfermagem pediátrica. São Paulo: Martinari,131-­‐147. Molina, R.C.M., Marcon, S.S. (2009). Benefícios da permanência de participação da mãe no cuidado ao filho hospitalizado. Rev Esc Enferm USP,43(4), 856-­‐864. Oliveira, T., Caldana, R. (2009). Educar é punir? Concepções e práticas educativas de pais agressores. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, 9(3), 679-­‐694 Silva, A.R.P.G. (2013) Birras infantis, estilos educativos parentais e comportamentos de punição. Dissertação de Mestrado em Psicologia da Educação. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Coimbra, Portugal. Moorhead, S., Jonhson, M., Mass, M.L., & Swanson, E. (2010). Classificação dos resultados de enfermagem (NOC) (4a ed). Rio de Janeiro: Elsevier. Urra, J. (2009). O pequeno ditador: da criança mimada ao adolescente agressivo. 14a ed. Lisboa. A Esfera dos Livros. 56 
Download