Auxiliar Manejo e Prevenção da Ansiedade no gato SUMÁRIO INTRODUÇÃO 4Introdução ……………………………………………………………… 3 4Como o gato reage ao stress? …………………………………………… 4-5 4Quais são as causas da ansiedade no gato? …………………………… 6-7 4Porque a ansiedade é prejudicial para a saúde do gato? ……………… 8-9 Royal Canin 4Que impacto tem o território no bem-estar do gato? ………………… 10-11 4Porque o stress perturba o comportamento de marcação? …………… 12-13 4Como reorganizar o espaço para promover a segurança do animal? … 14-15 4Porque o stress aumenta a agressividade do gato? …………………… 16-17 4Como criar um ambiente social relaxante para o animal? ……………… 18-19 4Como proceder para introduzir um novo gato em casa? ……………… 20-21 4Como ajudar os clientes a cuidar de um gato ansioso? ………………… 22-23 4Algumas medidas que ajudam a reduzir o stress dos felinos na clínica? 24-25 4Conclusão ……………………………………………………………… 26 Cada vez se opta mais pelo gato como animal de companhia para o meio urbano, porque se parte do princípio que requer menos atenção do que um cão (“não precisa ir à rua”, “pode ficar sozinho durante mais tempo”…). Contudo, os progressos da medicina veterinária comportamental demonstraram elevada sensibilidade dos felinos a diversos fatores de stress, aos quais se encontram particularmente expostos devido ao atual modo de vida urbano. Se os proprietários desconhecerem as necessidades de um gato que vive em ambientes fechados, podem interpretar incorretamente as suas reações e reagir de forma desajustada, correndo o risco de agravar o seu nível de stress, com potenciais repercussões na saúde do animal. Em virtude de trabalhar lado a lado com o clínico, os auxiliares de veterinária desempenham um papel muito importante de apoio aos proprietários, veiculando informações que os ajudem a evitar ou manejar o stress do animal. A presente edição da Focus Auxiliar foi elaborada com base em trabalhos de veterinários comportamentalistas europeus, e constitui uma síntese dos mais recentes conhecimentos sobre a ação do stress no gato, assim como diversas recomendações práticas para a sua prevenção. Bruno Jahier Médico Veterinário, Serviços Técnico-Veterinários, Royal Canin França Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 3 Como o gato reage ao stress ? Um felino assustado, que antecipa e imagina uma situação de perigo iminente, revela um medo injustificado. Como a ameaça não é real, o animal não consegue resolver a situação e, por isso, desenvolve reações anômalas de ansiedade para reduzir a tensão emocional. Gato em posição defensiva quência e engole a saliva; por vezes ocorrem episódios de diarréia ou vômitos. - Sinais comportamentais: •pode tornar-se irritável ou agressivo •adota frequentemente uma postura agachada, com a cauda baixa ou recolhida sob o corpo e as orelhas viradas para trás •parece estar sempre alerta e reage ao menor estímulo •desloca-sedemodohesitante, com precaução e paradas constantes •foge ou procura escon- 4 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos M. Colin M. Colin Gato assustado (observa-se midríase, ou aumento das pupilas) derijos •mostra-se hiperativo em casa •segue o proprietário, miando para chamar a atenção Gato assustado em posição de ataque Um estado de stress contínuo afeta o comportamento do gato Se o gato antecipar constantemente ameaças, o stress torna-se crônico e evolui para ansiedade, com as seguintes manifestações: - Modificação do comportamento alimentar: o animal passa a comer menos ou mostra-se menos sociável ou tem acessos de agressividade inesperados. - Modificação da atividade: brinca menos, dorme durante mais tempo, diminui os cuidados de higiene - Comportamentos compulsivos: lambe-se constantemente; puxa, mastiga ou arranca os pêlos; corre em círculos, persegue a própria cauda, mia de modo intenso e repetitivo. Royal Canin C. Palestrini As situações imprevistas constituem uma fonte de stress para o gato O animal interpreta qualquer ocorrência fora do comum (ex. a chegada de um novo animal) como um potencial perigo, manifestando o seu estado de stress através de sintomas de ansiedade mais ou menos acentuados: - Sinais orgânicos: o gato treme, respira de modo ofegante, apresenta as pupilas dilatadas (midríase), lambe os lábios com fre- mais (bulimia), ou a ingerir qualquer coisa, mesmo substâncias não comestíveis (fenômeno denominado “pica”). - Aumento do comportamento de demarcação: realiza suas necessidades fisiológicas em locais não habituais e arranha diversas zonas da casa (por exemplo, os móveis) - Alteração do relacionamento social: escondese com maior frequência, Postura característica de um gato com medo PERGUNTAS E RESPOSTAS Qual é a diferença entre medo e ansiedade no gato? O medo é a reação fisiológica imediata a uma situação de stress. Mobiliza as reservas de glicose (energia disponível), acelera o ritmo cardíaco e respiratório (oxigenação dos músculos). Assim, o medo leva o animal fugir ou a lutar para eliminar a causa ansiogênica, o que constitui um resultado positivo. Em contrapartida, se o perigo for imaginário, o animal não pode fugir nem eliminar o problema: por isso os comportamentos ansiosos resultantes de um stress crônico não têm qualquer efeito positivo para o gato. Que manifestações permitem ao proprietário detectar o stress crônico do gato? Um gato estressado nunca exibe todos os sintomas de ansiedade simultaneamente, por isso é importante observar: - O modo como o animal se movimenta: quando se dirige ao proprietário, ao comedouro ou a qualquer outro objeto – mostra-se menos confiante, hesita e sobressalta-se facilmente? - A forma de repousar: um gato relaxado reclina-se sobre os flancos ou dorso, com as patas e cauda alongadas, enquanto que um felino ansioso se deita sobre o ventre, agitando a ponta da cauda, com os olhos abertos e as orelhas viradas para trás, músculos em tensão e as pupilas mais ou menos dilatadas. - Atividades rotineiras: alterações frequentes da ingestão alimentar, pelagem em mau estado, com nós e pêlo eriçado, apesar do gato se lamber constantemente (indicando que não o faz por cuidados de higiene). - Tipo de vocalizações: o miar constante pode significar dor, contrariedade ou depressão (gato de idade avançada). Em geral, os miados de stress caracterizam-se por um timbre muito agudo. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 5 Quais são as causas da ansiedade no gato? Inúmeros fatores influenciam os níveis de stress experimentados pelo gato desde o nascimento e ao longo da sua vida. Os felinos têm necessidade de prever e controlar as situações, por isso um ambiente instável ou reações desajustadas por parte do proprietário podem reforçar o stress do animal. Fatores genéticos - espécie - raça - características individuais sobretudo se ela própria tiver já vivido essas situações – influencia consideravelmente as reações do jovem. Um ambiente pobre, que não proporcione estímulos ao animal durante este período sensível, favorece a ocorrência de estados de ansiedade na idade adulta. Da mesma forma, um stress intenso experimentado quando filhote vai intensificar sua reação quando adulto, frente PASSADO - experiências adversas específicas - adoção precoce/tardia - reforço involuntário - ausência de estímulos - castigos específicos Experiências - experiências traumáticas de aprendizagem precoce Experiências durante o desenvolvimento 6 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos ao mesmo estímulo. O stress felino está associado a um ambiente inadaptado Alguns fatores bem identificados contribuem para a ansiedade do gato: - Relacionamento aleatório e pouco estruturado com o proprietário: por exemplo, não existência de uma rotina de interação diária suficiente, comandos inconsistentes e contraditórios, uso de castigos. - Rotina insuficiente ou Falta de controle e de previsibilidade quanto seu PRESENTE - interações inconsistentes entre ambiente físico o proprietário e o animal e social - uso inconsistente dos comandos - ausência de rotina - alteração no número de moradores da casa - alteração do horário de trabalho do proprietário - mudança para uma nova residência - obras de reparação/decoração - introdução de novos animais no lar - presença de outros animais no exterior As principais causas de stress - Espaço físico muito reduzido ou mal organizado: a falta de espaço impede o gato de regular a sua reação frente ao stress. Numa residência com diversos felinos, a competição pelo acesso aos alimentos ou à caixa de areia representa um fator agravante. S. Vidal As experiências vividas pelo filhote condicionam os níveis de stress do gato adulto Cada gato nasce com maior ou menor predisposição genética para o stress. Seguidamente, durante as 2 e 7 semanas de vida (período de socialização) aprende a percepcionar como normais situações e eventos com que se vai deparando no dia a dia. A presença da mãe – perturbada: por exemplo, inconstância de horários, ausência do proprietário, reforma na residência ou mudança de casa, o nascimento de um bebê ou chegada de um novo animal, conflitos entre membros da família ou presença de outros animais de companhia… O período de socialização situa-se entre 2 e 7 semanas de vida. PERGUNTAS E RESPOSTAS Que elementos permitem detectar que o gato está exposto a fatores de stress? Através do diálogo com o proprietário, alguns fatores podem indicar o estado de stress do animal: - Genéticos: mãe/pai/irmãos com histórico de problemas associados à ansiedade - Experiências anteriores: adoção precoce ou tardia, animal criado em ambiente com poucos estímulos ou que tenha sofrido experiências traumáticas durante a fase de crescimento. - Sociais: proprietário com um comportamento inconstante, que acaricia e castiga o seu gato ansioso; que muda de casa ou viaja com muita frequência, ou que recebe muitas visitas. - Ambientais: proprietário que aprecia alterar a decoração da casa, apartamento muito pequeno/ pouco mobiliado, ou presença de vários animais (por adoções frequentes ou por permitir que invadam o espaço do gato). É normal que o gato se esconda sempre que aparece alguém? Cada gato possui o seu próprio temperamento, associado a fatores hereditários e experiências vividas desde muito jovem. Alguns felinos são “confiantes” ou “sociáveis” enquanto outros são “medrosos” ou “tímidos”. A reação do animal diante de novas situações, como a chegada de uma visita, constitui um bom indicador do seu temperamento: um gato confiante aproxima-se, ao invés de um gato medroso que se esconde ou procura fugir. De modo geral, o segundo é mais sensível ao stress e, consequentemente, requer um ambiente seguro. Como favorecer o relacionamento social entre o gato e o homem? O período determinante é a fase de socialização, quando o filhote tem cerca de 2 a 7 semanas de idade. Se no decurso desta etapa da sua vida o animal for manipulado pelo menos durante 1 hora por dia, o relacionamento posterior com o ser humano será muito mais fácil. Consequentemente, se for manuseado por diversas pessoas, o gato terá uma atitude mais confiante e será menos sensível ao stress. Em contrapartida, um gatinho selvagem sem qualquer contato com seres humanos antes das 7 semanas de vida dificilmente será abordado ou manipulado quando adulto. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 7 Porque a ansiedade é prejudicial para a saúde do gato ? o proprietário se mostrar condescendente com este tipo de comportamento estará apenas agravando o stress do animal. Várias doenças orgânicas crônicas, persistentes e recidivantes têm origem psíquica. É por esse motivo que o manejo e prevenção do stress têm um papel muito importante em medicina felina. A ansiedade favorece a obesidade e o diabetes O gato aprecia contatos curtos e frequentes com os proprietários. Em obediência aos seus rituais, aparece quando tem a certeza de encontrar seus proprietários, na maioria dos casos, na cozinha à hora das refeições. Por vezes, os proprietários interpretam incorretamente as solicitações do animal e respondem com guloseimas ou pequenos extras alimentares, situação que pode dar origem à superalimentação do animal. Além disso, um gato estressado que vive num ambiente fechado recorre frequentemente a atividades de substituição, entre as quais a ingestão alimentar 8 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos A ansiedade provoca alopecia extensiva Entre as atividades de substituição dos gatos ansiosos, é comum o ato de lamber constantemente uma zona específica da pele, acompanhado pelo arrancar de pêlos. Esta atividade intensifica-se ao ponto de se tornar estereotipada, traduzindo-se em alguns felinos por áreas muito extensas de alopecia! É importante salientar que se P. Prélaud Shelley Holden A ansiedade pode ser responsável pela bulimia constante (bulimia). Se o gato for alimentado com uma dieta muito apetitosa e/ou excessivamente energética em relação às suas necessidades (p.ex. um gato esterilizado) o excesso de alimentos associado à falta de exercício rapidamente conduz à obesidade e à instalação do diabetes. Exemplo de um gato ansioso que lambe excessivamente o abdome O stress crônico está na origem da cistite idiopática A cistite idiopática felina é uma afecção crônica recorrente da bexiga, onde não há a presença de agentes infecciosos ou cristais identificáveis. A sua origem é provavelmente psicológica, uma vez que regride muitas vezes graças ao tratamento para a ansiedade. PERGUNTAS E RESPOSTAS O stress tem influência na saúde do filhote? Sim, o stress materno pode afetar o desenvolvimento e a vitalidade do filhote desde o nascimento. Seguidamente, por ocasião da adoção, o stress associado à separação da mãe e irmãos, assim como a súbita mudança de ambiente podem alterar a competência imunológica e favorecer o aparecimento de doenças infecciosas mesmo em ambientes pouco contaminados. O stress pode provocar problemas digestivos? Sim, o aumento da motilidade digestiva no decurso de um exame clínico é uma situação bem conhecida dos médicos veterinários! No gato, vômitos e diarréias constituem também manifestações frequentes de resposta ao stress, por exemplo, durante viagens de carro, assim como a presença de um cão/gato desconhecido ou ameaçador. Que conselhos devem ser dados aos proprietários de gatos com manifestações comportamentais associadas ao stress? Diante de um fator de stress identificado (p.ex. mudança de casa, chegada de um novo animal de companhia…) auxiliares veterinários podem ser tentados a dar diversos conselhos práticos para reduzir a ansiedade do animal. No entanto, é importante não esquecer que algumas doenças orgânicas possuem uma sintomatologia similar às perturbações ansiogênicas. O hipertiroidismo é responsável por irritabilidade e bulimia; um tumor cerebral pode dar origem a comportamentos anômalos ou a distúrbios do sono; a urolitíase pode manifestar-se através de micções inadequadas em várias zonas da casa. Qualquer alteração do comportamento do gato deve ser examinada clinicamente antes de introduzir modificações no ambiente do animal. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 9 Que impacto tem o território no bemestar do gato? Os gatos são caçadores solitários. Ao contrário dos cães, os gatos não recorrem à hierarquia da matilha para reduzir o risco de conflitos entre si, mas sim de um sistema territorial que preserva a distância entre indivíduos isolados ou grupos de felinos. O gato que vive em ambientes fechados tem que se adaptar a um espaço reduzido No caso do gato de interior, a casa representa o território principal. Esta redução do espaço afeta cada indivíduo de modo distinto, consoante as respectivas necessidades de distância e isolamento. O comportamento normal inclui: - Marcação do território, roçando a face e flancos pelas divisões, móveis e objetos existentes no espaço habitacional. - Demarcação com jatos de urina e com as garras para delimitar a periferia territorial (jardim) caso tenha acesso ao exterior - Definição das áreas de repouso e de excreção urinária e fecal - Estabelecimento da distância necessária subindo em móveis e prateleiras Contudo, este equilíbrio pode ser perturbado por uma má distribuição das zonas e recursos (alimento, água, caixa de areia). PERGUNTAS E RESPOSTAS Disposição típica dos recursos no território do gato doméstico Organização do território dos gatos O território dos gatos está estruturado em zonas distintas O território do gato está organizado de modo a permitir que o animal possa caçar, alimentar-se, repousar e realizar as suas necessidades fisiológicas distanciado-se de outros gatos. Seu território está rodeado por marcações urinárias e olfativas para afastar contatos de gatos estranhos com o ocupante do território e inclui as seguintes áreas: - Uma zona principal, onde o animal despende 80% do tempo, que pode eventualmente dividir com outros gatos familiares, que exalam o mesmo odor uma vez que se roçam e se lambem entre si; em princípio 10 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos esta zona não comporta marcações urinárias. - Uma zona periférica, com áreas suplementares destinadas à caça e à excreção urinária e fecal. Os territórios estão ligados por corredores comuns utilizados por diversos felinos, delimitados por marcações com jatos de urina e marcação das garras Como é que o gato marca o seu território? O gato sinaliza o seu território através de um conjunto de marcações: visuais (arranhaduras, jatos de urina) e olfativas (ferormônios urinários e corporais), aplicando 3 comportamentos distintos: - Marcação urinária da zona limítrofe do seu território e das diferentes zonas de atividade. - Marcação com as garras em pontos bem visíveis, próximo das áreas de repouso As marcas com jatos de urina e garras assinalam a presença e identidade do gato, para afastar potenciais intrusos. - Roçar a cabeça e flancos pelos objetos, pessoas ou outros gatos conhecidos no seu território, transmitem ao animal uma sensação de segurança devido aos odores familiares liberados. Que fatores podem perturbar a organização territorial do gato? Frequentemente, o meio circundante do gato é inadaptado, por exemplo: - Espaço muito reduzido ou inacessível que impeça o animal de efetuar as suas atividades. - Coabitação com gatos com temperamentos distintos num espaço que não lhes permita isolarse ou fugir, ou que os obrigue a partilhar a mesma caixa de areia ou zona de alimentação. - Excessiva proximidade entre as diferentes áreas (p.ex. a caixa de areia colocada perto da tigela dos alimentos) - Área de repouso ou caixa de areia situadas num local de passagem - Território principal visível ou cruzado por gatos desconhecidos Para solucionar os problemas territoriais basta permitir o acesso do gato ao exterior? Não, porque a simples presença de outros gatos no jardim ou próximo da casa pode impedilo de aproveitar devidamente os recursos do exterior. Ou seja, na prática é exatamente o mesmo que se estivesse confinado ao interior! Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 11 Porque o stress pert urba o comportamento de marcação ? Os jatos de urina e marcas de garras no interior da casa são os problemas mais comuns. No entanto, é importante diferenciar micções inoportunas das marcações urinárias, sendo essa última situação associada à necessidade de proteção do território. o gato deixa de ter a certeza de conseguir suprir as suas necessidades e reage através do aumento das marcações (urinárias, marcas de garras). caso de: - Competição entre diversos gatos pela mesma caixa de areia - Posicionamento incorreto da caixa de areia (inacessível ou num local de passagem…) - Caixa de areia suja, muito pequena ou de má qualidade. - Confinamento: (gato de interior, doente ou com medo de sair de casa) Frequentemente, a micção em locais impróprios está relacionada com a caixa de areia Ao contrário dos cães, os gatos não partilham as zonas de eliminação. Consequentemente, constitui uma fonte de grande perturbação para o gato o fato de não saber se pode ter acesso fácil à sua própria caixa de areia. Assim, o animal por vezes urina em outros pontos da casa, em URINÁRIA A marcação do interior da casa é uma manifestação de stress De modo geral, o gato só urina em jatos na periferia FACIAL do seu território, isto é, no exterior da casa. A marcação do interior indica que o animal tem necessidade de protegê-lo melhor e envolve três fatores de stress: - Território insuficiente, ou acesso reduzido: devido à presença de outros animais (competição, medo) ou se não conseguir controlar devidamente o seu próprio espaço (por doença ou acesso intermitente a casa), COM AS GARRAS impede o animal de marcar as zonas limítrofes do seu território. Se este observar ou farejar o odor de outros gatos no exterior, poderá reagir assumindo posturas agressivas próximo dos acessos (portas e janelas) ou efetuando marcações urinárias. - Invasão de um gato desconhecido: pode desencadear um comportamento de marcação urinária junto ao ponto de acesso e zonas exploradas pelo intruso. PERGUNTAS E RESPOSTAS Qual é a diferença entre micção em locais inapropriados e marcação urinária? - A marcação urinária caracteriza-se por um volume de urina reduzido, com odor intenso e aspecto oleoso, depositada através de jatos horizontais de urina. O gato encontra-se de pé, agitando a cauda ereta, e por vezes escava o solo com as patas. - A micção inoportuna consiste na liberação de um volume considerável de urina, com um odor forte e aspecto límpido, depositado num local muito visível através de um jato urinário dirigido para baixo. O gato encontra-se agachado ou de pé, mas com as patas e cauda imóveis Deve proceder-se à remoção e limpeza das marcas urinárias depositadas no interior da casa? Sim, as áreas marcadas com jatos de urina ou micções inoportunas devem ser sistematicamente limpas, porque em caso contrário, o gato continuará a regressar a esse local para marcá-lo de novo. Também é importante higienizar as zonas em volta dos acessos ao exterior para eliminar o odor de outros gatos. Porque o gato marca a roupa ou as malas? A roupa, sapatos e malas dos proprietários ou de visitas transportam odores do exterior, por isso, o gato tem tendência a depositar neles seus ferormônios faciais familiares ou, se ficar estressado pelo odor de um gato estranho, ele irá marcar essas peças com jatos de urina! Os três métodos de marcação ativa utilizados pelo gato; urinária, facial e com as garras. 12 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos Porque a falta de higiene de um gato com acesso ao exterior se agrava no inverno? Os gatos com acesso ao exterior também possuem zonas de excreção fecal e urinária fora de casa. Quando o solo gela e endurece, as áreas de eliminação diminuem. Por isso, os gatos podem ser forçados a competir pelo acesso à caixa de areia e, por isso, urinarem em diversos pontos da casa. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 13 Como reorganizar o espaço para promover a segurança do animal? A organização territorial do gato deve conferir segurança ao animal quanto à possibilidade de realizar as suas atividades básicas. Assim, deverá prever esconderijos e recursos (alimentos, água, caixa de areia…) em número suficiente, bem como diversos estímulos a brincadeiras. O stress diminui se os recursos forem adequados - Área de alimentação que assegure o suprimento alimentar diário a todos os gatos existentes na residência, com comedouro e bebedouro individual. - Áreas de repouso que permitam ao animal descansar em diferentes alturas: isto é, árvores para gatos, beirais de janelas, prateleiras, topos de armários, de camas ou sofás, podendo também ser instaladas passarelas de acesso. Os cestos, tecidos ou mantas são muito apreciados pelos felinos, bastando depois criar uma área individual para cada animal. É importante não esquecer os esconderijos: debaixo dos móveis, gavetas, estantes, etc. - As caixas de areia devem ser tão grandes quanto possível. É aconselhável instalar, no mínimo, uma caixa de areia no território de cada gato e outra suplementar. Este utensílio deverá ser colocado num local calmo, e se possível com dois acessos para evitar que o animal se sinta encurralado. Um ambiente enriquecido estimula as atividades do gato - Os arranhadores permitem ao gato satisfazer a sua necessidade natural de utilizar as garras, não só para exteriorização e manutenção destas, mas também como forma de marcar o território. Alimentação Exploração Dormir 2% 40% 14 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos Restante 20% erva-de-gato junto aos arranhadores pode ajudar a atrair o gato. - Brinquedos os melhores são aqueles que estimulem o instinto de caça, com movimentos rápidos e imprevisíveis: varas de pesca, ratos de brinquedo, bolas de papel de alumínio, bolas ... PERGUNTAS E RESPOSTAS O ambiente do gato deve ser enriquecido, principalmente na dimensão vertical. Como tornar a caixa de areia mais atrativa? As dimensões da caixa devem apresentar 1,5 vezes o tamanho do animal, com uma profundidade que permita um volume mínimo de 25 mm de areia higiênica (não utilizar serragem nem areia perfumada). Colocar a caixa de areia longe de zonas ruidosas, agitadas ou de passagem. Remover as fezes e urina duas vezes por dia. Lavar a caixa de areia semanalmente com água e sabão, sem utilizar produtos químicos e enxaguar cuidadosamente. Porque devem ser distribuídos os alimentos por diversos pontos da casa? Numa residência com diversos gatos que não compartilhem todas as áreas do território, a presença de vários comedouros garante o acesso de cada animal aos alimentos. Além disso, o fracionamento da dose diária de alimento e sua colocação em diversos pontos da casa estimula a mobilidade do animal e cria um ambiente mais complexo. Os brinquedos dispersores de alimentos também favorecem a prática de exercício. 3% Brincar/caçar Este objeto deverá ser colocado num local bem visível, próximo da área onde o animal passe a maior parte do tempo. Em geral, os suportes preferidos são materiais que se retalham e rasgam facilmente: sisal, tapetes, troncos de árvores, papelão. A colocação de 20% Cuidados de Higiene 15% Etograma do gato de exterior Como evitar o stress provocado por uma mudança de casa? No dia da mudança, o gato deverá ser colocado num local confinado, dotado de recipientes com alimentos, água e uma caixa de areia. Uma vez esvaziada a casa, transporta-se o animal para a nova morada, colocando-o novamente durante 1 a 3 dias numa divisão fechada com os recursos indispensáveis (recipientes para alimentos e água, caixa de areia). Seguidamente, pode se permitir o início da exploração do gato pelo novo ambiente por etapas, reservando espaço para suas refeições e repouso. Os difusores de ferormônios também facilitam a transição. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 15 Porque o stress aumenta a agressividade do gato? A agressividade do gato é provocada pelo medo ou pela necessidade de dividir os recursos e/ou o território. Para evitar potenciais acidentes e reduzir os fatores de stress, é importante que os proprietários saibam como detectar os sinais de medo e agressão no seu animal. O comportamento agressivo do gato é frequentemente subestimado De modo geral, o gato procura evitar conflitos mantendo-se à distância. Apenas se mostra agressivo com outros gatos em caso de competição ou medo, utilizando, sobretudo, ameaças ligeiras: olhar fixo, miar, cuspir, silvar ou roncar. Quando assume um comportamento ameaçador, o gato desloca-se lentamente para evitar perseguições ou confrontos diretos, situações pouco frequentes. É por esse motivo que os proprietários subestimam muitas vezes a tensão existente entre os seus gatos, acreditando que estes se entendem bem porque dividem o mesmo comedouro ou dormem juntos. É conveniente sensibilizar os proprietários para a necessidade de uma observação mais atenta das interações entre os animais. O comportamento agressivo em relação a seres humanos é sempre provocado por stress A princípio um gato nunca ataca um ser humano, optando antes por fugir. Consequentemente, a agressão está invariavelmente associada ao medo, por exemplo: - Um gato ameaçado por outro felino pode atacar o proprietário caso este o segure para acalmá-lo. Além do risco de provocar lesões físicas graves o animal também poderá repetir esse comportamento no futuro. Assim, é aconselhável explicar aos proprietários que devem evitar tocar no gato se este estiver assustado ou nervoso; 16 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos - Quando se imobiliza um gato assustado, o animal não pode fugir, tendo que se defender. Após várias tentativas, aprende a reagir por meio de ameaças e agressões ao invés da fuga. Consequentemente, é essencial que no seu ambiente tenha espaço suficiente para permitir que o gato se esconda ou fuja. 2 1 Grupo A 3 Grupo B 5 4 Interação de agressão Os animais se roçam entre si Esquema que ajuda a compreender a organização social dos felinos Área onde o Grupo A despende a maior parte do tempo Área onde o Grupo B despende a maior parte do tempo Área de repouso Caixas de areia/Área de excreção de urina e fezes Área de alimentação A organização do espaço ajuda a reduzir as tensões entre os grupos sociais PERGUNTAS E RESPOSTAS Quais são os sinais indicativos de medo ou agressão no gato? Um gato em postura agressiva apresenta a cabeça baixa, as orelhas planas ou viradas para trás, pupilas dilatadas, agita a cauda, ombros e membros em tensão. Além disso, emite silvos e cospe. Um gato assustado assume uma posição agachada, com as orelhas aplanadas contra a cabeça e cospe; se estiver extremamente receoso arqueia o dorso, apresenta o pelo eriçado, a cauda erguida. Caso se sinta encurralado e sem hipótese de fuga poderá atacar. Como se identificam os gatos pertencentes a um grupo social harmonioso? Os gatos do mesmo grupo social evidenciam sinais de afeto: roçam-se e lambem-se uns aos outros com regularidade, quando se cruzam erguem a cauda e as orelhas como saudação (ver pag. 3) e ronronam quando se reencontram após um período de separação. Em contrapartida, os gatos sem afinidade social fitam-se de modo ameaçador, e quando se cruzam cospem, emitem silvos, agitam a cauda ou perseguem-se entre si. Porque é importante o proprietário observar este tipo de interações? A principal vantagem consiste em evitar qualquer intervenção num gato estressado por uma ameaça, além de ajudar a identificar os diferentes grupos sociais. Por exemplo, um grupo de 5 gatos pode ser constituído por dois pares e um felino solitário, que se evitam ou se ameaçam se estiverem muito próximos uns dos outros. Neste caso, é importante colocar recursos suficientes (alimentos, caixas de areia, áreas de repouso) no território de cada um dos grupos. Também é útil criar esconderijos onde os animais possam se isolar. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 17 Como criar um ambiente social relaxante para o animal? Todos os felinos preferem interações regulares e uma determinada rotina que lhes confira a sensação de controle e minimize a sua ansiedade. Por isso, é importante satisfazer as suas necessidades sociais e promover a harmonia entre os diferentes animais da residência. múltiplas e de curta duração para despertar o interesse do animal. Evitar o uso de castigos (gritos, castigos físicos, isolamento) porque prejudicam o relacionamento entre o animal e o proprietário. Se o gato evidenciar comportamento indesejável (marcação, micção, miados) é preferível identificar e corrigir a causa do problema. Desenvolver contatos regulares com o gato Os gatos precisam e desejam estar com o proprietário: - Em contatos curtos e frequentes: por exemplo, algumas carícias breves enquanto o proprietário “conversa” com ele - Em brincadeiras: o proprietário deve realizar brincadeiras com o gato, utilizando brinquedos atrativos e variados. Estas sessões de brincadeiras devem ser 18 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos acionada por uma coleira eletrônica, para evitar perseguições no interior da casa) ou colocando uma coleira com sino no agressor, de forma a anunciar sua presença e permitir a fuga da vítima; - Se também existir um cão na residência, é necessário impedir o acesso deste às caixas de areias e colocar os comedouros dos gatos em locais mais altos. PERGUNTAS E RESPOSTAS O que se deve fazer se o gato tiver medo dos felinos existentes no exterior? Por vezes, um gato de interior – sem qualquer acesso ao exterior – mostra-se muito estressado pela presença de outros animais que observa através dos vidros da janela. Pode recorrer a posturas agressivas ou a marcação urinária no interior da residência junto a esse local. Em situações deste tipo, o veterinário poderá sugerir a opacificação de uma parte da janela (através da aplicação de uma tela opaca ou cortinas) para aumentar a segurança do animal e eliminar o comportamento indesejável. Por vezes, retirar a tampa na caixa de areia evita o desconforto do gato. J.Bowen J.Bowen Criar uma zona fosca na janela para evitar que o gato de interior se sinta ameaçado animais através de portas, portões ou portinholas para gatos. - Proteger o gato vítima de agressões frequentes: através de escapatórias específicas (como uma portinhola Promover a boa coabitação dos animais Se os gatos não se derem bem entre si, o proprietário poderá valer-se de algumas estratégias: - Aumentar os recursos, criando diversas zonas equipadas com alimentos, água, caixas de areia, árvores para gatos e áreas de repouso; - Se necessário, estabelecer zonas separadas para os Qual atitude se deve adotar se o gato evidenciar um comportamento de stress? Diante de um gato agressivo, ou que realize marcações urinárias ou micções inadequadas devido à ansiedade: - Não tentar acalmar o animal, porque além do risco de ser mordido/arranhado, essa atitude pode reforçar a resposta do animal ao fator de stress, incitando-o a reproduzir o comportamento; é preferível uma carícia no momento oportuno, isto é, quando o gato solicitar nitidamente a atenção do proprietário. - Não castigar o gato, uma vez que essa nova fonte de stress comporta o risco de agravar ainda mais o comportamento indesejável. Que conselhos podem ser dados a um proprietário cujo gato manifeste comportamentos de stress? A multiplicidade de fatores e variabilidade das reações dos próprios felinos aumenta a complexidade deste problema. A melhor solução consiste em agendar uma consulta veterinária, aconselhando o cliente a trazer a planta da casa, além de observar atentamente o comportamento do(s) seu(s) gato(s). Entretanto, poderá se revelar útil adotar algumas medidas de ordem geral: - Se o animal se mantiver confinado a uma zona específica do território, não o forçar a abandonar o local. Pelo contrário, coloque nesse ponto da casa os recursos indispensáveis (água, alimentos e a caixa de areia a uma distância suficiente) - Verificar se todos os gatos têm acesso aos recursos necessários, principalmente à caixa de areia. Retirar a tampa da caixa de areia (caso a utiliza) uma vez que pode constituir um fator de stress para alguns felinos. - Separar temporariamente os gatos em conflito, criando territórios individuais para cada felino. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 19 Como proceder para introduzir um novo gato em casa? Em 50% dos casos, a chegada de um novo gato desencadeia reações de medo ou hostilidade nos felinos residentes. É importante sensibilizar o proprietário quanto à escolha do novo animal, sugerindo algumas medidas que favoreçam a sua aceitação. Considerar o temperamento dos gatos residentes Os gatos estabelecem ligações individuais: confraternizam-se com outros gatos que apreciam e evitam os outros. Um gato com um temperamento ansioso, com tendência a fugir e a esconder-se, corre maior risco de sofrer de stress devido à chegada de um felino audaz, preferindo a companhia de um animal mais calmo. Um gato de idade avançada dificilmente tolerará a presença de um filhote impetuoso e turbulento. Enquanto que um gato que sempre tenha vivido sozinho poderá não reagir muito bem à coabitação com um outro animal, sobretudo num apartamento de pequenas dimensões. Frequentemente, a melhor opção consiste em adotar duas fêmeas da mesma família para criar um ambiente mais harmonioso. pontos da casa. - Esfregar em primeiro lugar o corpo e a face do(s) gatos(s) residente(s) e depois do novo elemento com uma toalha ou pano, para favorecer a transferência de odores. Seguidamente, colocar estes tecidos impregnados em ambas as áreas da casa 20 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos se não se verificarem manifestações de agressividade de ambos os lados da porta de acesso à zona de transição, iniciar o contato visual 2 a 3 vezes por dia, sem permitir ainda o contato físico (animais separados por um vidro ou portão) associando a experiência a um estímulo agradável como o alimento preferido ou uma brincadeira. - Se não ocorrerem reações hostis, permitir pequenos períodos de contato supervisionado, até completar a fase de apresentação. PERGUNTAS E RESPOSTAS Para um gato é importante não estar só? Não, ao contrário da espécie humana e canina, os felinos não têm uma necessidade imperiosa de companhia. Conseguem estabelecer ligações fortes com outros gatos ou pessoas, mas vivem perfeitamente a sós desde que sejam supridas as suas necessidades de espaço e atividade. Se um gato solitário parecer feliz, não precisa da companhia de outro gato. Que conselhos pode-se dar a um proprietário que definitivamente pretenda ter diversos gatos? Quando se fala em gatos que vivem soltos, sobretudo são as fêmeas que estabelecem os elos sociais com a respectiva descendência ou com outras gatas da mesma família (mãe, irmã, tia). Em termos comportamentais é preferível recomendar a adoção de fêmeas da mesma família ou duas gatinhas da mesma ninhada. Esta opção reduz o risco de tensão, mas não garante a ausência de conflitos, situação mais comum em grupos com 2 ou 3 gatos. Mesclar os odores dos gatos esfregando-os com a mesma toalha que em seguida se coloca na área de cada um deles Introduzir progressivamente o recém-chegado - Criar uma zona de transição temporária, reservada para o novo gato (ao abrigo de contatos visuais com os outros residentes) adequadamente equipada com alimentos, água e caixa de areia; - Colocar difusores de ferormônios tanto nessa área específica como em outros (zona de transição e restante espaço) - Logo que o recém-chegado se mostre familiarizado com o novo espaço deverá lhe ser permitido explorar as outras divisões da casa, confinando para tal o(s) gatos(s) residente(s). - Ao final de uma semana, Associar a introdução visual do recém-chegado a uma experiência agradável para o gato residente. Se um gato morrer, é aconselhável substituí-lo por outro? Os gatos estabelecem frequentemente uma relação privilegiada entre eles. Assim como no caso das amizades humanas, trata-se de um relacionamento especial não substituível pela chegada de um novo felino. Aliás, é provável que a ligação com o recém-chegado nunca chegue a ser tão forte como a que o animal tinha com o anterior companheiro. Além disso, a presença de outro gato pode constituir uma nova fonte de stress para o animal residente que procura reajustar a sua vida em função da ausência do amigo. Se o gato parecer equilibrado, é preferível não introduzir substitutos. Se ainda assim o proprietário decidir adotar um gatinho, deverá escolher dois jovens, de modo a que possam brincar um com o outro sem perturbar constantemente o gato adulto. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 21 Como ajudar os clientes a cuidar de um gato ansioso? abordagem e manipulação do gato. Além do manejo do ambiente do gato, o médico veterinário pode recorrer a diversas abordagens terapêuticas para tratar a ansiedade felina. Os fármacos psicoativos, as ferormônios e diversos suplementos proporcionam perspectivas interessantes. Os medicamentos psicoativos são prescritos pelo clínico Os fármacos psicoativos bloqueiam os neurotransmissores envolvidos no processo ansiogênico, com uma ação ansiolítica e antidepressiva. Combinam produtos de medicina humana e veterinária (p.ex. Clomicalm®, Selgian®) e só podem ser adquiridos mediante prescrição médica. As ferormônios diminuem os níveis de ansiedade felina Os ferormônios são substâncias químicas voláteis liberadas por diferentes zonas do corpo. A fração F3 do ferormônio facial felino, que o gato deposita quando roça a cabeça em objetos e espaços, permitem-lhe estabelecer a distinção entre os que lhe são familiares e os desconhecidos. Um análogo sintético da F3 (Feliway®) é comercializado em duas apresentações: um pulverizador (para zonas de marcação e objetos) e um difusor (para tratamento do meio ambiente). Foram demonstrados os efeitos deste produto em termos de estabilização emocional com redução da marcação urinária, cistite idiopática, O reflexo de Flehmen é um movimento facial que permite a captação dos odores através do órgão vomeronasal 22 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos stress de transporte e de hospitalização. A fração F4 ajuda o gato a identificar os indivíduos amigos. Recomenda-se a pulverização com um análogo sintético da F4 (Felifriend®) em caso de chegada de novos membros ao agregado (gato, cão, bebê…). Aplicado nas mãos e vestuário facilita a Localização do órgão vomeronasal do gato O Lactium® é um suplemento alimentar com propriedades ansiolíticas O Lactium® é um derivado da caseína com propriedades demonstradas quanto à redução dos sinais de ansiedade. Possui uma ação e eficácia bastante similar ao Valium®, sem ocorrência de efeitos secundários. É utilizado sob a forma de suplemento alimentar (Zylkene®) ou de um alimento dietético especialmente formulado para gatos com predisposição para estados de stress (Calm S/O, Royal Canin®). PERGUNTAS E RESPOSTAS Como o gato capta as ferormônios? O gato capta os ferormônios através da mucosa olfativa, sobretudo por via do órgão vomeronasal, recorrendo a uma posição característica, denominada “Reflexo de Flehmen”: o animal respira com a boca aberta realizando pequenos movimentos com a língua e o lábio superior revirado para cima para fechar as narinas. O tratamento da ansiedade comporta o risco de “drogar” os animais? Não, porque a ação dos fármacos incide apenas sobre os distúrbios comportamentais sem perturbar as funções orgânicas comuns. Em geral, são muito bem tolerados. Que recomendações devem ser feitas aos proprietários para favorecer a observação do tratamento? - Habituar um gatinho com 7 a 13 semanas de idade à administração oral de um placebo (p.ex. um alimento apetitoso) - Simular o tratamento durante 1 semana antes de incorporar o medicamento; caso contrário será impossível realizar o tratamento por via oral - Recomendar expressamente ao cliente que não tente agarrar o gato enquanto se alimenta ou realiza as suas necessidades fisiológicas, para lhe administrar o comprimido. Como consequência, o animal poderá recusar os alimentos ou a caixa de areia! - Se o médico veterinário prescrever um medicamento de uso humano, é importante prevenir o cliente que não deve considerar como referência os dados constantes na bula (contra-indicações, posologia) Com efeito, uma apresentação não adaptada a gatos (comprimidos não fracionáveis, paladar desagradável) frequentemente tem de ser reformulada (cápsula) - Alertar para a duração do tratamento (no mínimo 2 meses após o desaparecimento dos sinais clínicos) e que este deverá terminar por meio de reduções progressivas da dosagem. - Respeitar as consultas regulares de acompanhamento (com uma periodicidade de 1 a 2 meses) para avaliar a eficácia e a tolerância do tratamento. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 23 Algumas medidas que ajudam a reduzir o stress dos felinos na clínica As consultas na clínica veterinária e a hospitalização são experiências traumatizantes para o gato, incluindo o retorno ao domicílio, que também pode ser problemático caso existam outros felinos na residência. Contudo, algumas medidas de ordem prática ajudam a limitar o stress e as agressões. caixa de transporte. Uma boa medida consiste em vaporizar a caixa com ferormônios (Feliway®) antes de introduzir o gato. M. Colin Para evitar a retirada do gato da caixa de transporte, é preferível optar por um modelo com tampa removível Habituar o gatinho a viajar É importante habituar o gatinho desde muito cedo à caixa de transporte, com recurso a brincadeiras ou guloseimas, de modo a que o animal a associe a sensações positivas. No dia da consulta, para evitar o stress da perseguição/captura, o animal deverá ser atraído para uma pequena divisão da casa antes do proprietário ir buscar a Diminuir o stress do gato na consulta - Se o gato não sair espontaneamente, não agite a caixa nem procure retirá-lo à força. Pelo contrário, se for possível remova o topo da caixa. Após alguns segundos de aclimatação à luminosidade da sala, retire o animal com suavidade. - Depois de colocar o animal sobre um tapete antiderrapante, manipule o animal com movimentos lentos e aplicando uma contenção muito ligeira. Para imobilizar o gato, evite levantá-lo através da pele do pescoço optando antes por enrolá-lo com cuidado numa toalha que cubra os olhos e as orelhas. Preparar 24 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos armários. - Utilizar um difusor de ferormônios (Feliway®) no consultório, tendo o cuidado de aspergir também as mãos e o avental (Felifriend®). Facilitar o retorno para casa de um gato hospitalizado Os outros felinos que habitam a residência podem manifestar agressividade em relação a um gato que tenha ficado internado num hospital e que exale odores estranhos (de outros animais, do veterinário e auxiliares, de medicamentos ou desinfetantes). Quanto retorna para a casa é aconselhável isolar o gato e efetuar uma reintrodução progressiva, utilizando o procedimento preconizado para um gato desconhecido. PERGUNTAS-RESPOSTAS Como se pode reduzir o stress dos pacientes na sala de espera? O gato pode observar e farejar a presença de outros animais mesmo dentro da caixa de transporte. Consequentemente, na medida do possível tentar criar salas de espera distintas para cães e gatos, por exemplo, as isolando fisicamente por uma separação. INCORRETO CORRETO antecipadamente todo o material necessário, para evitar o ruído de abertura/ fechamento de gavetas e Que precauções devem ser tomadas relativas à hospitalização do gato? As baias de hospitalização estão adaptadas às dimensões do gato… mas não às suas necessidades territoriais! Portanto, o fato de estar confinado a uma gaiola representa uma fonte de stress para o animal, que deixa de poder organizar as suas áreas essenciais de alimentação, de eliminação e repouso (de modo geral, no interior da baia, o comedouro encontra-se próximo da caixa de areia). Como consequência, um gato doente ou recentemente operado pode deixar de comer, situação prejudicial para a sua recuperação. Idealmente, as baias deveriam ser equipadas com uma prateleira para, no mínimo, disponibilizar uma área de alimentação/repouso separada da caixa de areia Porque os gatos podem não se reconhecer depois de uma separação? Esta situação pode ocorrer mesmo tratando-se de uma separação por um curto período de tempo, bastando que o gato retorne para a casa transportando odores desconhecidos que mascarem o seu odor familiar e representem uma fonte de stress para os outros gatos. A solução consiste em misturar os odores trocando as mantas existentes nos cestos de repouso ou esfregando um pano pelos vários gatos, vaporizado também com ferormônios calmantes. Os contatos entre os felinos deverão ser restabelecidos modo progressivo, mantendo de início o recém-chegado na caixa de transporte. Cada encontro bem sucedido e calmo, poderá ser recompensado com brincadeiras, carícias ou guloseimas, até o retorno da normalidade, que em alguns casos pode ser muito rápido e, em outros, demorar várias semanas. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 25 AUTORA CONCLUSÃO J-M. Labat O impacto do stress na espécie felina continua a ser subestimado como motivo de consulta. Contudo, um estudo demonstrou que 54% dos proprietários de gatos que viviam em ambientes fechados se queixavam do comportamento dos animais, 16,7% dos quais evidenciavam sinais de ansiedade. Devido ao seu contato privilegiado com os clientes, atendentes e auxiliares veterinários podem detectar e encaminhar para a consulta veterinária os casos de stress, recorrendo a um questionário especificamente direcionado que contemple as características ambientais do indivíduo. Os conselhos práticos da (o) auxiliar de veterinária também são muito úteis, assim como o suporte de produtos que promovam o bem-estar, os ferormônios e complementos nutricionais, em caso de situações estressantes, como a chegada de um novo filhote, a introdução de um novo animal de companhia ou uma consulta na clínica. No campo do comportamento felino – ao contrário da espécie canina – o medico veterinário e sua equipe são um dos únicos pontos de apoio dos proprietários. Por isso, é legítimo acreditar que no futuro os auxiliares veterinários desempenharão um papel de apoio educacional tanto para os proprietários quanto para os gatos, assim como podem ser em relação à educação de filhotes de cães. A presente edição da Focus Auxiliar é uma tradução da Focus Nurse “Managing and preventing anxiety in the cat”, a qual foi elaborada com base na publicação Focus Edição Especial “Detecção e Manejo da Ansiedade no Gato” dos seguintes autores: Dr. Claude Béata, Dr. Jon Bowen, Dr. Jaume Fatjo, Dra. Debra Horwitz e Dra Clara Palestrini. 26 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos Michèle COLIN, DVM Diplomada pela Escola Nacional de Medicina Veterinária de Alford em 1982, exerceu clínica canina até 1992. Participou na criação e desenvolvimento do CNFA (Centro Nacional de Formação de Auxiliares de Veterinária do Ministério da Agricultura) e do GIPSA (Grupo de Interesse Público na Formação em Saúde animal). Especializada na concepção e desenvolvimento de técnicas de formação profissional, está particularmente ligada à criação de módulos de formação contínua propostos há diversos anos aos auxiliares de veterinária em funções, assim como à redação de artigos e publicações destinadas à classe. Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 27 © ROYAL CANIN - Fevereiro 2010 - Illustrações : M. Pothier - Realização :