Manejo e Prevenção da Ansiedade no gato - Eventos

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Auxiliar
Manejo e Prevenção da
Ansiedade no gato
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
4Introdução ………………………………………………………………
3
4Como o gato reage ao stress? ……………………………………………
4-5
4Quais são as causas da ansiedade no gato? ……………………………
6-7
4Porque a ansiedade é prejudicial para a saúde do gato? ………………
8-9
Royal Canin
4Que impacto tem o território no bem-estar do gato? ………………… 10-11
4Porque o stress perturba o comportamento de marcação? …………… 12-13
4Como reorganizar o espaço para promover a segurança do animal? … 14-15
4Porque o stress aumenta a agressividade do gato? …………………… 16-17
4Como criar um ambiente social relaxante para o animal? ……………… 18-19
4Como proceder para introduzir um novo gato em casa? ……………… 20-21
4Como ajudar os clientes a cuidar de um gato ansioso? ………………… 22-23
4Algumas medidas que ajudam a reduzir o stress dos felinos na clínica? 24-25
4Conclusão ………………………………………………………………
26
Cada vez se opta mais pelo gato como animal
de companhia para o meio urbano, porque se
parte do princípio que requer menos atenção do
que um cão (“não precisa ir à rua”, “pode ficar
sozinho durante mais tempo”…). Contudo, os
progressos da medicina veterinária comportamental
demonstraram elevada sensibilidade dos felinos a
diversos fatores de stress, aos quais se encontram
particularmente expostos devido ao atual modo de
vida urbano.
Se os proprietários desconhecerem as necessidades
de um gato que vive em ambientes fechados, podem
interpretar incorretamente as suas reações e reagir
de forma desajustada, correndo o risco de agravar
o seu nível de stress, com potenciais repercussões
na saúde do animal. Em virtude de trabalhar lado
a lado com o clínico, os auxiliares de veterinária
desempenham um papel muito importante de
apoio aos proprietários, veiculando informações que
os ajudem a evitar ou manejar o stress do animal.
A presente edição da Focus Auxiliar foi
elaborada com base em trabalhos de veterinários
comportamentalistas europeus, e constitui uma
síntese dos mais recentes conhecimentos sobre
a ação do stress no gato, assim como diversas
recomendações práticas para a sua prevenção.
Bruno Jahier
Médico Veterinário,
Serviços Técnico-Veterinários,
Royal Canin França
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 3
Como o gato reage ao stress ?
Um felino assustado, que antecipa e imagina uma situação de perigo iminente,
revela um medo injustificado. Como a ameaça não é real, o animal não consegue
resolver a situação e, por isso, desenvolve reações anômalas de ansiedade
para reduzir a tensão emocional.
Gato em posição defensiva
quência e engole a saliva;
por vezes ocorrem episódios
de diarréia ou vômitos.
- Sinais comportamentais:
•pode tornar-se irritável
ou agressivo
•adota frequentemente
uma postura agachada,
com a cauda baixa ou
recolhida sob o corpo
e as orelhas viradas para
trás
•parece estar sempre
alerta e reage ao menor
estímulo
•desloca-sedemodohesitante, com precaução e
paradas constantes
•foge ou procura escon-
4 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
M. Colin
M. Colin
Gato assustado (observa-se
midríase, ou aumento das
pupilas)
derijos
•mostra-se hiperativo em
casa
•segue o proprietário,
miando para chamar a
atenção
Gato assustado em posição de
ataque
Um estado de stress
contínuo afeta o
comportamento do gato
Se o gato antecipar constantemente ameaças, o
stress torna-se crônico e
evolui para ansiedade, com
as seguintes manifestações:
- Modificação do comportamento alimentar: o animal passa a comer menos ou
mostra-se menos sociável
ou tem acessos de agressividade inesperados.
- Modificação da atividade:
brinca menos, dorme durante mais tempo, diminui
os cuidados de higiene
- Comportamentos compulsivos: lambe-se constantemente; puxa, mastiga
ou arranca os pêlos; corre
em círculos, persegue a
própria cauda, mia de
modo intenso e repetitivo.
Royal Canin
C. Palestrini
As situações imprevistas
constituem uma fonte de
stress para o gato
O animal interpreta qualquer ocorrência fora do
comum (ex. a chegada de
um novo animal) como um
potencial perigo, manifestando o seu estado de stress
através de sintomas de ansiedade mais ou menos
acentuados:
- Sinais orgânicos: o gato
treme, respira de modo
ofegante, apresenta as pupilas dilatadas (midríase),
lambe os lábios com fre-
mais (bulimia), ou a ingerir
qualquer coisa, mesmo
substâncias não comestíveis
(fenômeno
denominado
“pica”).
- Aumento do comportamento de demarcação:
realiza suas necessidades
fisiológicas em locais não
habituais e arranha diversas
zonas da casa (por exemplo,
os móveis)
- Alteração do relacionamento social: escondese com maior frequência,
Postura característica
de um gato com medo
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Qual é a diferença entre medo e ansiedade no gato?
O medo é a reação fisiológica imediata a uma situação de stress. Mobiliza as reservas de
glicose (energia disponível), acelera o ritmo cardíaco e respiratório (oxigenação dos músculos).
Assim, o medo leva o animal fugir ou a lutar para eliminar a causa ansiogênica, o que constitui
um resultado positivo. Em contrapartida, se o perigo for imaginário, o animal não pode fugir
nem eliminar o problema: por isso os comportamentos ansiosos resultantes de um stress crônico
não têm qualquer efeito positivo para o gato.
Que manifestações permitem ao proprietário detectar o stress crônico do
gato?
Um gato estressado nunca exibe todos os sintomas de ansiedade simultaneamente, por isso é
importante observar:
- O modo como o animal se movimenta: quando se dirige ao proprietário, ao comedouro ou a
qualquer outro objeto – mostra-se menos confiante, hesita e sobressalta-se facilmente?
- A forma de repousar: um gato relaxado reclina-se sobre os flancos ou dorso, com as patas e
cauda alongadas, enquanto que um felino ansioso se deita sobre o ventre, agitando a ponta da
cauda, com os olhos abertos e as orelhas viradas para trás, músculos em tensão e as pupilas
mais ou menos dilatadas.
- Atividades rotineiras: alterações frequentes da ingestão alimentar, pelagem em mau estado,
com nós e pêlo eriçado, apesar do gato se lamber constantemente (indicando que não o faz
por cuidados de higiene).
- Tipo de vocalizações: o miar constante pode significar dor, contrariedade ou depressão (gato
de idade avançada). Em geral, os miados de stress caracterizam-se por um timbre muito agudo.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 5
Quais são as causas da
ansiedade no gato?
Inúmeros fatores influenciam os níveis de stress experimentados pelo gato
desde o nascimento e ao longo da sua vida. Os felinos têm necessidade de
prever e controlar as situações, por isso um ambiente instável ou reações
desajustadas por parte do proprietário podem reforçar o stress do animal.
Fatores
genéticos
- espécie
- raça
- características
individuais
sobretudo se ela própria tiver
já vivido essas situações –
influencia consideravelmente
as reações do jovem. Um
ambiente pobre, que não
proporcione estímulos ao
animal durante este período
sensível, favorece a ocorrência
de estados de ansiedade na
idade adulta. Da mesma
forma, um stress intenso
experimentado quando filhote vai intensificar sua
reação quando adulto, frente
PASSADO
- experiências adversas
específicas
- adoção precoce/tardia - reforço involuntário
- ausência de estímulos
- castigos
específicos
Experiências
- experiências traumáticas
de aprendizagem
precoce
Experiências durante
o desenvolvimento
6 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
ao mesmo estímulo.
O stress felino está associado
a um ambiente inadaptado
Alguns fatores bem identificados contribuem para a
ansiedade do gato:
- Relacionamento aleatório
e pouco estruturado com o
proprietário: por exemplo,
não existência de uma rotina
de interação diária suficiente,
comandos inconsistentes e
contraditórios, uso de castigos.
- Rotina insuficiente ou
Falta de controle e de
previsibilidade
quanto seu
PRESENTE
- interações inconsistentes entre
ambiente físico
o proprietário e o animal
e social
- uso inconsistente dos comandos
- ausência de rotina
- alteração no número de moradores da casa
- alteração do horário de trabalho do proprietário
- mudança para uma nova residência
- obras de reparação/decoração
- introdução de novos animais no lar
- presença de outros animais no
exterior
As principais causas
de stress
- Espaço físico muito reduzido
ou mal organizado: a falta
de espaço impede o gato de
regular a sua reação frente ao
stress. Numa residência com
diversos felinos, a competição
pelo acesso aos alimentos ou
à caixa de areia representa um
fator agravante.
S. Vidal
As experiências vividas
pelo filhote condicionam
os níveis de stress do gato
adulto
Cada gato nasce com maior
ou menor predisposição
genética para o stress.
Seguidamente, durante as 2
e 7 semanas de vida (período
de socialização) aprende a
percepcionar como normais
situações e eventos com que
se vai deparando no dia a
dia. A presença da mãe –
perturbada: por exemplo,
inconstância de horários,
ausência do proprietário,
reforma
na
residência
ou mudança de casa, o
nascimento de um bebê ou
chegada de um novo animal,
conflitos entre membros da
família ou presença de outros
animais de companhia…
O período de socialização situa-se
entre 2 e 7 semanas de vida.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Que elementos permitem detectar que o gato está exposto a fatores de stress?
Através do diálogo com o proprietário, alguns fatores podem indicar o estado de stress do
animal:
- Genéticos: mãe/pai/irmãos com histórico de problemas associados à ansiedade
- Experiências anteriores: adoção precoce ou tardia, animal criado em ambiente com poucos
estímulos ou que tenha sofrido experiências traumáticas durante a fase de crescimento.
- Sociais: proprietário com um comportamento inconstante, que acaricia e castiga o seu gato
ansioso; que muda de casa ou viaja com muita frequência, ou que recebe muitas visitas.
- Ambientais: proprietário que aprecia alterar a decoração da casa, apartamento muito
pequeno/ pouco mobiliado, ou presença de vários animais (por adoções frequentes ou por
permitir que invadam o espaço do gato).
É normal que o gato se esconda sempre que aparece alguém?
Cada gato possui o seu próprio temperamento, associado a fatores hereditários e experiências
vividas desde muito jovem. Alguns felinos são “confiantes” ou “sociáveis” enquanto outros são
“medrosos” ou “tímidos”. A reação do animal diante de novas situações, como a chegada de
uma visita, constitui um bom indicador do seu temperamento: um gato confiante aproxima-se,
ao invés de um gato medroso que se esconde ou procura fugir. De modo geral, o segundo é
mais sensível ao stress e, consequentemente, requer um ambiente seguro.
Como favorecer o relacionamento social entre o gato e o homem?
O período determinante é a fase de socialização, quando o filhote tem cerca de 2 a 7
semanas de idade. Se no decurso desta etapa da sua vida o animal for manipulado pelo
menos durante 1 hora por dia, o relacionamento posterior com o ser humano será muito mais
fácil. Consequentemente, se for manuseado por diversas pessoas, o gato terá uma atitude
mais confiante e será menos sensível ao stress. Em contrapartida, um gatinho selvagem sem
qualquer contato com seres humanos antes das 7 semanas de vida dificilmente será abordado
ou manipulado quando adulto.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 7
Porque a ansiedade é prejudicial para a
saúde do gato ?
o proprietário se mostrar
condescendente com este
tipo de comportamento
estará apenas agravando o
stress do animal.
Várias doenças orgânicas crônicas, persistentes e recidivantes têm
origem psíquica. É por esse motivo que o manejo e prevenção do
stress têm um papel muito importante em medicina felina.
A ansiedade favorece a
obesidade e o diabetes
O gato aprecia contatos
curtos e frequentes com
os proprietários. Em obediência aos seus rituais,
aparece quando tem a
certeza de encontrar seus
proprietários, na maioria
dos casos, na cozinha à hora
das refeições. Por vezes, os
proprietários
interpretam
incorretamente as solicitações
do animal e respondem com
guloseimas ou pequenos
extras alimentares, situação
que pode dar origem
à superalimentação do
animal. Além disso, um gato
estressado que vive num
ambiente fechado recorre
frequentemente a atividades
de substituição, entre as
quais a ingestão alimentar
8 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
A ansiedade provoca
alopecia extensiva
Entre as atividades de
substituição
dos
gatos
ansiosos, é comum o ato
de lamber constantemente
uma zona específica da pele,
acompanhado pelo arrancar
de pêlos. Esta atividade
intensifica-se ao ponto de
se tornar estereotipada,
traduzindo-se em alguns
felinos por áreas muito
extensas de alopecia! É
importante salientar que se
P. Prélaud
Shelley Holden
A ansiedade pode ser responsável pela bulimia
constante (bulimia).
Se o gato for alimentado com
uma dieta muito apetitosa
e/ou excessivamente energética em relação às suas
necessidades (p.ex. um gato
esterilizado) o excesso de
alimentos associado à falta
de exercício rapidamente
conduz à obesidade e à
instalação do diabetes.
Exemplo de um gato ansioso
que lambe excessivamente o
abdome
O stress crônico está na
origem da cistite idiopática
A cistite idiopática felina
é uma afecção crônica
recorrente da bexiga, onde
não há a presença de agentes
infecciosos
ou
cristais
identificáveis. A sua origem
é provavelmente psicológica,
uma vez que regride muitas
vezes graças ao tratamento
para a ansiedade.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O stress tem influência na saúde do filhote?
Sim, o stress materno pode afetar o desenvolvimento e a vitalidade do filhote desde o
nascimento. Seguidamente, por ocasião da adoção, o stress associado à separação da
mãe e irmãos, assim como a súbita mudança de ambiente podem alterar a competência
imunológica e favorecer o aparecimento de doenças infecciosas mesmo em ambientes
pouco contaminados.
O stress pode provocar problemas digestivos?
Sim, o aumento da motilidade digestiva no decurso de um exame clínico é uma situação
bem conhecida dos médicos veterinários! No gato, vômitos e diarréias constituem
também manifestações frequentes de resposta ao stress, por exemplo, durante viagens
de carro, assim como a presença de um cão/gato desconhecido ou ameaçador.
Que conselhos devem ser dados aos proprietários de gatos com
manifestações comportamentais associadas ao stress?
Diante de um fator de stress identificado (p.ex. mudança de casa, chegada de um
novo animal de companhia…) auxiliares veterinários podem ser tentados a dar diversos
conselhos práticos para reduzir a ansiedade do animal. No entanto, é importante
não esquecer que algumas doenças orgânicas possuem uma sintomatologia similar
às perturbações ansiogênicas. O hipertiroidismo é responsável por irritabilidade e
bulimia; um tumor cerebral pode dar origem a comportamentos anômalos ou a distúrbios
do sono; a urolitíase pode manifestar-se através de micções inadequadas em várias
zonas da casa. Qualquer alteração do comportamento do gato deve ser examinada
clinicamente antes de introduzir modificações no ambiente do animal.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 9
Que impacto tem o território no bemestar do gato?
Os gatos são caçadores solitários. Ao contrário dos cães, os gatos não
recorrem à hierarquia da matilha para reduzir o risco de conflitos entre si, mas
sim de um sistema territorial que preserva a distância entre indivíduos isolados
ou grupos de felinos.
O gato que vive em
ambientes fechados tem
que se adaptar a um
espaço reduzido
No caso do gato de interior,
a casa representa o território
principal. Esta redução do
espaço afeta cada indivíduo
de modo distinto, consoante
as respectivas necessidades
de distância e isolamento.
O comportamento normal
inclui:
- Marcação do território,
roçando a face e flancos
pelas divisões, móveis e
objetos existentes no espaço
habitacional.
- Demarcação com jatos
de urina e com as garras
para delimitar a periferia
territorial (jardim) caso
tenha acesso ao exterior
- Definição das áreas de
repouso e de excreção
urinária e fecal
- Estabelecimento da distância necessária subindo
em móveis e prateleiras
Contudo, este equilíbrio
pode ser perturbado por
uma má distribuição das
zonas e recursos (alimento,
água, caixa de areia).
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Disposição típica dos recursos no
território do gato doméstico
Organização do território dos gatos
O território dos gatos
está estruturado em zonas
distintas
O território do gato está
organizado de modo a
permitir que o animal possa
caçar, alimentar-se, repousar
e realizar as suas necessidades
fisiológicas distanciado-se de
outros gatos. Seu território
está rodeado por marcações
urinárias e olfativas para
afastar contatos de gatos
estranhos com o ocupante
do território e inclui as
seguintes áreas:
- Uma zona principal,
onde o animal despende
80% do tempo, que pode
eventualmente dividir com
outros gatos familiares, que
exalam o mesmo odor uma
vez que se roçam e se lambem
entre si; em princípio
10 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
esta zona não comporta
marcações urinárias.
- Uma zona periférica,
com áreas suplementares
destinadas à caça e à excreção
urinária e fecal. Os territórios
estão ligados por corredores
comuns utilizados por
diversos felinos, delimitados
por marcações com jatos de
urina e marcação das garras
Como é que o gato marca o seu território?
O gato sinaliza o seu território através de um conjunto de marcações: visuais (arranhaduras,
jatos de urina) e olfativas (ferormônios urinários e corporais), aplicando 3 comportamentos
distintos:
- Marcação urinária da zona limítrofe do seu território e das diferentes zonas de atividade.
- Marcação com as garras em pontos bem visíveis, próximo das áreas de repouso
As marcas com jatos de urina e garras assinalam a presença e identidade do gato, para
afastar potenciais intrusos.
- Roçar a cabeça e flancos pelos objetos, pessoas ou outros gatos conhecidos no seu território,
transmitem ao animal uma sensação de segurança devido aos odores familiares liberados.
Que fatores podem perturbar a organização territorial do gato?
Frequentemente, o meio circundante do gato é inadaptado, por exemplo:
- Espaço muito reduzido ou inacessível que impeça o animal de efetuar as suas atividades.
- Coabitação com gatos com temperamentos distintos num espaço que não lhes permita isolarse ou fugir, ou que os obrigue a partilhar a mesma caixa de areia ou zona de alimentação.
- Excessiva proximidade entre as diferentes áreas (p.ex. a caixa de areia colocada perto da
tigela dos alimentos)
- Área de repouso ou caixa de areia situadas num local de passagem
- Território principal visível ou cruzado por gatos desconhecidos
Para solucionar os problemas territoriais basta permitir o acesso do gato ao
exterior?
Não, porque a simples presença de outros gatos no jardim ou próximo da casa pode impedilo de aproveitar devidamente os recursos do exterior. Ou seja, na prática é exatamente o
mesmo que se estivesse confinado ao interior!
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 11
Porque o stress pert urba o
comportamento de marcação ?
Os jatos de urina e marcas de garras no interior da casa são os problemas mais
comuns. No entanto, é importante diferenciar micções inoportunas das marcações
urinárias, sendo essa última situação associada à necessidade de proteção do
território.
o gato deixa de ter a certeza
de conseguir suprir as suas
necessidades e reage através
do aumento das marcações
(urinárias, marcas de garras).
caso de:
- Competição entre diversos
gatos pela mesma caixa de
areia
- Posicionamento incorreto
da caixa de areia (inacessível
ou num local de passagem…)
- Caixa de areia suja, muito
pequena ou de má qualidade.
- Confinamento:
(gato
de interior, doente ou
com medo de sair de casa)
Frequentemente, a micção
em locais impróprios está
relacionada com a caixa de
areia
Ao contrário dos cães,
os gatos não partilham
as zonas de eliminação.
Consequentemente, constitui uma fonte de grande
perturbação para o gato o
fato de não saber se pode
ter acesso fácil à sua própria
caixa de areia. Assim, o
animal por vezes urina em
outros pontos da casa, em
URINÁRIA
A marcação do interior da
casa é uma manifestação
de stress
De modo geral, o gato só
urina em jatos na periferia
FACIAL
do seu território, isto é, no
exterior da casa. A marcação
do interior indica que o
animal tem necessidade de
protegê-lo melhor e envolve
três fatores de stress:
- Território insuficiente,
ou acesso reduzido: devido
à presença de outros animais
(competição, medo) ou se
não conseguir controlar
devidamente o seu próprio
espaço (por doença ou
acesso intermitente a casa),
COM AS GARRAS
impede o animal de marcar
as zonas limítrofes do seu
território. Se este observar
ou farejar o odor de outros
gatos no exterior, poderá
reagir assumindo posturas
agressivas próximo dos
acessos (portas e janelas)
ou efetuando marcações
urinárias.
- Invasão de um gato
desconhecido:
pode
desencadear
um
comportamento de marcação urinária junto ao
ponto de acesso e zonas
exploradas pelo intruso.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Qual é a diferença entre micção em locais inapropriados e marcação urinária?
- A marcação urinária caracteriza-se por um volume de urina reduzido, com odor intenso e
aspecto oleoso, depositada através de jatos horizontais de urina. O gato encontra-se de pé,
agitando a cauda ereta, e por vezes escava o solo com as patas.
- A micção inoportuna consiste na liberação de um volume considerável de urina, com um
odor forte e aspecto límpido, depositado num local muito visível através de um jato urinário
dirigido para baixo. O gato encontra-se agachado ou de pé, mas com as patas e cauda
imóveis
Deve proceder-se à remoção e limpeza das marcas urinárias depositadas no
interior da casa?
Sim, as áreas marcadas com jatos de urina ou micções inoportunas devem ser sistematicamente
limpas, porque em caso contrário, o gato continuará a regressar a esse local para marcá-lo
de novo. Também é importante higienizar as zonas em volta dos acessos ao exterior para
eliminar o odor de outros gatos.
Porque o gato marca a roupa ou as malas?
A roupa, sapatos e malas dos proprietários ou de visitas transportam odores do exterior, por
isso, o gato tem tendência a depositar neles seus ferormônios faciais familiares ou, se ficar
estressado pelo odor de um gato estranho, ele irá marcar essas peças com jatos de urina!
Os três métodos de marcação ativa utilizados
pelo gato; urinária, facial e com as garras.
12 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
Porque a falta de higiene de um gato com acesso ao exterior se agrava no
inverno?
Os gatos com acesso ao exterior também possuem zonas de excreção fecal e urinária fora
de casa. Quando o solo gela e endurece, as áreas de eliminação diminuem. Por isso, os
gatos podem ser forçados a competir pelo acesso à caixa de areia e, por isso, urinarem em
diversos pontos da casa.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 13
Como reorganizar o espaço para
promover a segurança do animal?
A organização territorial do gato deve conferir segurança ao animal quanto
à possibilidade de realizar as suas atividades básicas. Assim, deverá prever
esconderijos e recursos (alimentos, água, caixa de areia…) em número
suficiente, bem como diversos estímulos a brincadeiras.
O stress diminui se
os recursos forem
adequados
- Área de alimentação
que assegure o suprimento
alimentar diário a todos
os gatos existentes na
residência, com comedouro
e bebedouro individual.
- Áreas de repouso que
permitam
ao
animal
descansar em diferentes
alturas: isto é, árvores
para gatos, beirais de
janelas, prateleiras, topos
de armários, de camas ou
sofás, podendo também
ser instaladas passarelas de
acesso. Os cestos, tecidos ou
mantas são muito apreciados
pelos felinos, bastando
depois criar uma área
individual para cada animal.
É importante não esquecer
os esconderijos: debaixo dos
móveis, gavetas, estantes,
etc.
- As caixas de areia devem
ser tão grandes quanto
possível. É aconselhável
instalar, no mínimo, uma
caixa de areia no território
de cada gato e outra
suplementar. Este utensílio
deverá ser colocado num
local calmo, e se possível com
dois acessos para evitar que o
animal se sinta encurralado.
Um ambiente enriquecido
estimula as atividades do
gato
- Os arranhadores permitem ao gato satisfazer a
sua necessidade natural de
utilizar as garras, não só para
exteriorização e manutenção
destas, mas também como
forma de marcar o território.
Alimentação
Exploração
Dormir
2%
40%
14 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
Restante
20%
erva-de-gato junto aos
arranhadores pode ajudar a
atrair o gato.
- Brinquedos os melhores
são aqueles que estimulem
o instinto de caça, com
movimentos rápidos e
imprevisíveis: varas de pesca,
ratos de brinquedo, bolas de
papel de alumínio, bolas ...
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O ambiente do gato deve ser
enriquecido, principalmente na
dimensão vertical.
Como tornar a caixa de areia mais atrativa?
As dimensões da caixa devem apresentar 1,5 vezes o tamanho do animal, com uma
profundidade que permita um volume mínimo de 25 mm de areia higiênica (não utilizar
serragem nem areia perfumada). Colocar a caixa de areia longe de zonas ruidosas,
agitadas ou de passagem.
Remover as fezes e urina duas vezes por dia. Lavar a caixa de areia semanalmente com
água e sabão, sem utilizar produtos químicos e enxaguar cuidadosamente.
Porque devem ser distribuídos os alimentos por diversos pontos da casa?
Numa residência com diversos gatos que não compartilhem todas as áreas do território,
a presença de vários comedouros garante o acesso de cada animal aos alimentos.
Além disso, o fracionamento da dose diária de alimento e sua colocação em diversos
pontos da casa estimula a mobilidade do animal e cria um ambiente mais complexo. Os
brinquedos dispersores de alimentos também favorecem a prática de exercício.
3%
Brincar/caçar
Este objeto deverá ser
colocado num local bem
visível, próximo da área
onde o animal passe a maior
parte do tempo. Em geral,
os suportes preferidos são
materiais que se retalham
e rasgam facilmente: sisal,
tapetes, troncos de árvores,
papelão. A colocação de
20%
Cuidados de Higiene
15%
Etograma do gato de exterior
Como evitar o stress provocado por uma mudança de casa?
No dia da mudança, o gato deverá ser colocado num local confinado, dotado de
recipientes com alimentos, água e uma caixa de areia. Uma vez esvaziada a casa,
transporta-se o animal para a nova morada, colocando-o novamente durante 1 a 3 dias
numa divisão fechada com os recursos indispensáveis (recipientes para alimentos e
água, caixa de areia). Seguidamente, pode se permitir o início da exploração do gato
pelo novo ambiente por etapas, reservando espaço para suas refeições e repouso. Os
difusores de ferormônios também facilitam a transição.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 15
Porque o stress aumenta a
agressividade do gato?
A agressividade do gato é provocada pelo medo ou pela necessidade
de dividir os recursos e/ou o território. Para evitar potenciais acidentes e
reduzir os fatores de stress, é importante que os proprietários saibam como
detectar os sinais de medo e agressão no seu animal.
O comportamento
agressivo do gato
é frequentemente
subestimado
De modo geral, o gato
procura evitar conflitos
mantendo-se à distância.
Apenas se mostra agressivo
com outros gatos em caso
de competição ou medo,
utilizando,
sobretudo,
ameaças ligeiras: olhar
fixo, miar, cuspir, silvar ou
roncar.
Quando
assume
um
comportamento ameaçador,
o gato desloca-se lentamente
para evitar perseguições ou
confrontos diretos, situações
pouco frequentes. É por esse
motivo que os proprietários
subestimam muitas vezes
a tensão existente entre
os seus gatos, acreditando
que estes se entendem bem
porque dividem o mesmo
comedouro ou dormem
juntos.
É conveniente sensibilizar
os
proprietários
para
a necessidade de uma
observação mais atenta das
interações entre os animais.
O comportamento
agressivo em relação a
seres humanos é sempre
provocado por stress
A princípio um gato nunca
ataca um ser humano,
optando antes por fugir.
Consequentemente,
a
agressão está invariavelmente
associada ao medo, por
exemplo:
- Um gato ameaçado por
outro felino pode atacar
o proprietário caso este
o segure para acalmá-lo.
Além do risco de provocar
lesões físicas graves o animal
também poderá repetir esse
comportamento no futuro.
Assim,
é
aconselhável
explicar aos proprietários
que devem evitar tocar no
gato se este estiver assustado
ou nervoso;
16 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
- Quando se imobiliza um
gato assustado, o animal
não pode fugir, tendo que
se defender. Após várias
tentativas, aprende a reagir
por meio de ameaças
e agressões ao invés da
fuga. Consequentemente,
é essencial que no seu
ambiente tenha espaço
suficiente para permitir que
o gato se esconda ou fuja.
2
1
Grupo A
3
Grupo B
5
4
Interação de agressão
Os animais se roçam entre si
Esquema que ajuda a
compreender a organização
social dos felinos
Área onde o Grupo A despende a maior parte do tempo
Área onde o Grupo B despende a maior parte do tempo
Área de repouso
Caixas de areia/Área de excreção de urina e fezes
Área de alimentação
A organização do espaço ajuda
a reduzir as tensões entre os
grupos sociais
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Quais são os sinais indicativos de medo ou agressão no gato?
Um gato em postura agressiva apresenta a cabeça baixa, as orelhas planas ou viradas para
trás, pupilas dilatadas, agita a cauda, ombros e membros em tensão. Além disso, emite silvos
e cospe.
Um gato assustado assume uma posição agachada, com as orelhas aplanadas contra a
cabeça e cospe; se estiver extremamente receoso arqueia o dorso, apresenta o pelo eriçado,
a cauda erguida. Caso se sinta encurralado e sem hipótese de fuga poderá atacar.
Como se identificam os gatos pertencentes a um grupo social harmonioso?
Os gatos do mesmo grupo social evidenciam sinais de afeto: roçam-se e lambem-se uns aos
outros com regularidade, quando se cruzam erguem a cauda e as orelhas como saudação
(ver pag. 3) e ronronam quando se reencontram após um período de separação. Em
contrapartida, os gatos sem afinidade social fitam-se de modo ameaçador, e quando se
cruzam cospem, emitem silvos, agitam a cauda ou perseguem-se entre si.
Porque é importante o proprietário observar este tipo de interações?
A principal vantagem consiste em evitar qualquer intervenção num gato estressado por uma
ameaça, além de ajudar a identificar os diferentes grupos sociais. Por exemplo, um grupo
de 5 gatos pode ser constituído por dois pares e um felino solitário, que se evitam ou se
ameaçam se estiverem muito próximos uns dos outros. Neste caso, é importante colocar
recursos suficientes (alimentos, caixas de areia, áreas de repouso) no território de cada um
dos grupos. Também é útil criar esconderijos onde os animais possam se isolar.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 17
Como criar um ambiente social
relaxante para o animal?
Todos os felinos preferem interações regulares e uma determinada rotina que
lhes confira a sensação de controle e minimize a sua ansiedade. Por isso, é
importante satisfazer as suas necessidades sociais e promover a harmonia entre
os diferentes animais da residência.
múltiplas e de curta duração
para despertar o interesse do
animal.
Evitar o uso de castigos (gritos,
castigos físicos, isolamento)
porque
prejudicam
o
relacionamento entre o
animal e o proprietário.
Se o gato evidenciar comportamento
indesejável
(marcação, micção, miados) é
preferível identificar e corrigir
a causa do problema.
Desenvolver contatos
regulares com o gato
Os gatos precisam e desejam
estar com o proprietário:
- Em contatos curtos e
frequentes: por exemplo,
algumas carícias breves
enquanto o proprietário
“conversa” com ele
- Em
brincadeiras:
o
proprietário deve realizar
brincadeiras com o gato,
utilizando brinquedos atrativos e variados. Estas sessões
de brincadeiras devem ser
18 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
acionada por uma coleira
eletrônica,
para
evitar
perseguições no interior da
casa) ou colocando uma
coleira com sino no agressor,
de forma a anunciar sua
presença e permitir a fuga da
vítima;
- Se também existir um cão
na residência, é necessário
impedir o acesso deste às
caixas de areias e colocar os
comedouros dos gatos em
locais mais altos.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O que se deve fazer se o gato tiver medo dos felinos existentes no exterior?
Por vezes, um gato de interior – sem qualquer acesso ao exterior – mostra-se muito estressado pela
presença de outros animais que observa através dos vidros da janela. Pode recorrer a posturas
agressivas ou a marcação urinária no interior da residência junto a esse local. Em situações deste
tipo, o veterinário poderá sugerir a opacificação de uma parte da janela (através da aplicação de
uma tela opaca ou cortinas) para aumentar a segurança do animal e eliminar o comportamento
indesejável.
Por vezes, retirar a tampa
na caixa de areia evita o
desconforto do gato.
J.Bowen
J.Bowen
Criar uma zona fosca na janela para evitar que
o gato de interior se sinta ameaçado
animais através de portas,
portões ou portinholas para
gatos.
- Proteger o gato vítima de
agressões frequentes: através
de escapatórias específicas
(como uma portinhola
Promover a boa coabitação
dos animais
Se os gatos não se derem
bem entre si, o proprietário
poderá valer-se de algumas
estratégias:
- Aumentar os recursos,
criando
diversas
zonas
equipadas com alimentos,
água, caixas de areia, árvores
para gatos e áreas de repouso;
- Se necessário, estabelecer
zonas separadas para os
Qual atitude se deve adotar se o gato evidenciar um comportamento de stress?
Diante de um gato agressivo, ou que realize marcações urinárias ou micções inadequadas devido
à ansiedade:
- Não tentar acalmar o animal, porque além do risco de ser mordido/arranhado, essa atitude
pode reforçar a resposta do animal ao fator de stress, incitando-o a reproduzir o comportamento;
é preferível uma carícia no momento oportuno, isto é, quando o gato solicitar nitidamente a
atenção do proprietário.
- Não castigar o gato, uma vez que essa nova fonte de stress comporta o risco de agravar ainda
mais o comportamento indesejável.
Que conselhos podem ser dados a um proprietário cujo gato manifeste
comportamentos de stress?
A multiplicidade de fatores e variabilidade das reações dos próprios felinos aumenta a
complexidade deste problema. A melhor solução consiste em agendar uma consulta veterinária,
aconselhando o cliente a trazer a planta da casa, além de observar atentamente o comportamento
do(s) seu(s) gato(s). Entretanto, poderá se revelar útil adotar algumas medidas de ordem geral:
- Se o animal se mantiver confinado a uma zona específica do território, não o forçar a abandonar
o local. Pelo contrário, coloque nesse ponto da casa os recursos indispensáveis (água, alimentos e
a caixa de areia a uma distância suficiente)
- Verificar se todos os gatos têm acesso aos recursos necessários, principalmente à caixa de areia.
Retirar a tampa da caixa de areia (caso a utiliza) uma vez que pode constituir um fator de stress
para alguns felinos.
- Separar temporariamente os gatos em conflito, criando territórios individuais para cada felino.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 19
Como proceder para introduzir
um novo gato em casa?
Em 50% dos casos, a chegada de um novo gato desencadeia reações de
medo ou hostilidade nos felinos residentes. É importante sensibilizar o
proprietário quanto à escolha do novo animal, sugerindo algumas medidas
que favoreçam a sua aceitação.
Considerar o temperamento dos gatos residentes
Os
gatos
estabelecem
ligações
individuais:
confraternizam-se
com
outros gatos que apreciam e
evitam os outros. Um gato
com um temperamento
ansioso, com tendência a
fugir e a esconder-se, corre
maior risco de sofrer de
stress devido à chegada de
um felino audaz, preferindo
a companhia de um animal
mais calmo. Um gato de
idade avançada dificilmente
tolerará a presença de
um filhote impetuoso e
turbulento. Enquanto que
um gato que sempre tenha
vivido
sozinho
poderá
não reagir muito bem à
coabitação com um outro
animal, sobretudo num
apartamento de pequenas
dimensões. Frequentemente,
a melhor opção consiste
em adotar duas fêmeas da
mesma família para criar um
ambiente mais harmonioso.
pontos da casa.
- Esfregar em primeiro lugar
o corpo e a face do(s) gatos(s)
residente(s) e depois do novo
elemento com uma toalha
ou pano, para favorecer a
transferência de odores.
Seguidamente, colocar estes tecidos impregnados
em ambas as áreas da casa
20 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
se não se verificarem
manifestações
de
agressividade de ambos os
lados da porta de acesso à
zona de transição, iniciar o
contato visual 2 a 3 vezes
por dia, sem permitir ainda
o contato físico (animais
separados por um vidro
ou
portão)
associando
a
experiência
a
um
estímulo agradável como o
alimento preferido ou uma
brincadeira.
- Se não ocorrerem reações
hostis,
permitir
pequenos
períodos
de
contato
supervisionado,
até completar a fase de
apresentação.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Para um gato é importante não estar só?
Não, ao contrário da espécie humana e canina, os felinos não têm uma necessidade
imperiosa de companhia. Conseguem estabelecer ligações fortes com outros gatos ou
pessoas, mas vivem perfeitamente a sós desde que sejam supridas as suas necessidades
de espaço e atividade. Se um gato solitário parecer feliz, não precisa da companhia
de outro gato.
Que conselhos pode-se dar a um proprietário que definitivamente
pretenda ter diversos gatos?
Quando se fala em gatos que vivem soltos, sobretudo são as fêmeas que estabelecem
os elos sociais com a respectiva descendência ou com outras gatas da mesma família
(mãe, irmã, tia). Em termos comportamentais é preferível recomendar a adoção de
fêmeas da mesma família ou duas gatinhas da mesma ninhada. Esta opção reduz o
risco de tensão, mas não garante a ausência de conflitos, situação mais comum em
grupos com 2 ou 3 gatos.
Mesclar os odores dos gatos
esfregando-os com a mesma
toalha que em seguida se coloca
na área de cada um deles
Introduzir
progressivamente o recém-chegado
- Criar uma zona de
transição temporária, reservada para o novo gato (ao
abrigo de contatos visuais
com os outros residentes)
adequadamente equipada
com alimentos, água e caixa
de areia;
- Colocar difusores de
ferormônios tanto nessa área
específica como em outros
(zona de transição e restante
espaço)
- Logo que o recém-chegado
se mostre familiarizado com
o novo espaço deverá lhe ser
permitido explorar as outras
divisões da casa, confinando
para tal o(s) gatos(s)
residente(s).
- Ao final de uma semana,
Associar a introdução visual do
recém-chegado a uma experiência
agradável para o gato residente.
Se um gato morrer, é aconselhável substituí-lo por outro?
Os gatos estabelecem frequentemente uma relação privilegiada entre eles. Assim como
no caso das amizades humanas, trata-se de um relacionamento especial não substituível
pela chegada de um novo felino. Aliás, é provável que a ligação com o recém-chegado
nunca chegue a ser tão forte como a que o animal tinha com o anterior companheiro.
Além disso, a presença de outro gato pode constituir uma nova fonte de stress para o
animal residente que procura reajustar a sua vida em função da ausência do amigo.
Se o gato parecer equilibrado, é preferível não introduzir substitutos. Se ainda assim
o proprietário decidir adotar um gatinho, deverá escolher dois jovens, de modo a que
possam brincar um com o outro sem perturbar constantemente o gato adulto.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 21
Como ajudar os clientes a
cuidar de um gato ansioso?
abordagem e manipulação
do gato.
Além do manejo do ambiente do gato, o médico veterinário pode recorrer
a diversas abordagens terapêuticas para tratar a ansiedade felina. Os
fármacos psicoativos, as ferormônios e diversos suplementos proporcionam
perspectivas interessantes.
Os medicamentos
psicoativos são prescritos
pelo clínico
Os fármacos psicoativos
bloqueiam os neurotransmissores envolvidos no processo ansiogênico, com uma
ação ansiolítica e antidepressiva. Combinam produtos de medicina humana
e veterinária (p.ex. Clomicalm®, Selgian®) e só podem
ser adquiridos mediante
prescrição médica.
As ferormônios diminuem
os níveis de ansiedade
felina
Os
ferormônios
são
substâncias químicas voláteis liberadas por diferentes
zonas do corpo. A fração F3
do ferormônio facial felino,
que o gato deposita quando
roça a cabeça em objetos
e espaços, permitem-lhe
estabelecer a distinção entre
os que lhe são familiares
e os desconhecidos. Um
análogo sintético da F3
(Feliway®) é comercializado
em duas apresentações: um
pulverizador (para zonas de
marcação e objetos) e um
difusor (para tratamento
do meio ambiente). Foram
demonstrados os efeitos
deste produto em termos
de estabilização emocional
com redução da marcação
urinária, cistite idiopática,
O reflexo de Flehmen é um
movimento facial que permite a
captação dos odores através do
órgão vomeronasal
22 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
stress de transporte e de
hospitalização. A fração F4 ajuda o gato a
identificar os indivíduos
amigos.
Recomenda-se
a pulverização com um
análogo sintético da F4
(Felifriend®) em caso de
chegada de novos membros
ao agregado (gato, cão,
bebê…). Aplicado nas
mãos e vestuário facilita a
Localização do órgão
vomeronasal do gato
O Lactium® é um
suplemento alimentar com
propriedades ansiolíticas
O Lactium® é um derivado
da caseína com propriedades
demonstradas
quanto
à redução dos sinais de
ansiedade. Possui uma ação
e eficácia bastante similar
ao Valium®, sem ocorrência
de
efeitos
secundários.
É utilizado sob a forma
de suplemento alimentar
(Zylkene®) ou de um alimento
dietético
especialmente
formulado para gatos com
predisposição para estados
de stress (Calm S/O, Royal
Canin®).
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Como o gato capta as ferormônios?
O gato capta os ferormônios através da mucosa olfativa, sobretudo por via do órgão vomeronasal,
recorrendo a uma posição característica, denominada “Reflexo de Flehmen”: o animal respira com
a boca aberta realizando pequenos movimentos com a língua e o lábio superior revirado para
cima para fechar as narinas.
O tratamento da ansiedade comporta o risco de “drogar” os animais?
Não, porque a ação dos fármacos incide apenas sobre os distúrbios comportamentais sem
perturbar as funções orgânicas comuns. Em geral, são muito bem tolerados.
Que recomendações devem ser feitas aos proprietários para favorecer a
observação do tratamento?
- Habituar um gatinho com 7 a 13 semanas de idade à administração oral de um placebo (p.ex.
um alimento apetitoso)
- Simular o tratamento durante 1 semana antes de incorporar o medicamento; caso contrário será
impossível realizar o tratamento por via oral
- Recomendar expressamente ao cliente que não tente agarrar o gato enquanto se alimenta ou
realiza as suas necessidades fisiológicas, para lhe administrar o comprimido. Como consequência,
o animal poderá recusar os alimentos ou a caixa de areia!
- Se o médico veterinário prescrever um medicamento de uso humano, é importante prevenir o
cliente que não deve considerar como referência os dados constantes na bula (contra-indicações,
posologia) Com efeito, uma apresentação não adaptada a gatos (comprimidos não fracionáveis,
paladar desagradável) frequentemente tem de ser reformulada (cápsula)
- Alertar para a duração do tratamento (no mínimo 2 meses após o desaparecimento dos sinais
clínicos) e que este deverá terminar por meio de reduções progressivas da dosagem.
- Respeitar as consultas regulares de acompanhamento (com uma periodicidade de 1 a 2 meses)
para avaliar a eficácia e a tolerância do tratamento.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 23
Algumas medidas que ajudam a
reduzir o stress dos felinos na clínica
As consultas na clínica veterinária e a hospitalização são experiências
traumatizantes para o gato, incluindo o retorno ao domicílio, que também
pode ser problemático caso existam outros felinos na residência. Contudo,
algumas medidas de ordem prática ajudam a limitar o stress e as agressões.
caixa de transporte. Uma boa
medida consiste em vaporizar
a caixa com ferormônios
(Feliway®) antes de introduzir
o gato.
M. Colin
Para evitar a retirada do gato da
caixa de transporte, é preferível
optar por um modelo com
tampa removível
Habituar o gatinho a viajar
É importante habituar o
gatinho desde muito cedo
à caixa de transporte, com
recurso a brincadeiras ou
guloseimas, de modo a que o
animal a associe a sensações
positivas. No dia da consulta,
para evitar o stress da
perseguição/captura, o animal
deverá ser atraído para uma
pequena divisão da casa antes
do proprietário ir buscar a
Diminuir o stress do gato
na consulta
- Se o gato não sair
espontaneamente, não agite
a caixa nem procure retirá-lo
à força. Pelo contrário, se for
possível remova o topo da
caixa. Após alguns segundos
de aclimatação à luminosidade
da sala, retire o animal com
suavidade.
- Depois de colocar o
animal sobre um tapete
antiderrapante,
manipule
o animal com movimentos
lentos e aplicando uma
contenção muito ligeira.
Para imobilizar o gato, evite
levantá-lo através da pele
do pescoço optando antes
por enrolá-lo com cuidado
numa toalha que cubra os
olhos e as orelhas. Preparar
24 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
armários.
- Utilizar um difusor de
ferormônios (Feliway®) no
consultório, tendo o cuidado
de aspergir também as mãos e
o avental (Felifriend®).
Facilitar o retorno para casa
de um gato hospitalizado
Os outros felinos que habitam
a residência podem manifestar
agressividade em relação a
um gato que tenha ficado
internado num hospital e que
exale odores estranhos (de
outros animais, do veterinário
e auxiliares, de medicamentos
ou desinfetantes). Quanto
retorna para a casa é
aconselhável isolar o gato e
efetuar uma reintrodução
progressiva, utilizando o
procedimento preconizado
para um gato desconhecido.
PERGUNTAS-RESPOSTAS
Como se pode reduzir o stress dos pacientes na sala de espera?
O gato pode observar e farejar a presença de outros animais mesmo dentro da caixa de
transporte. Consequentemente, na medida do possível tentar criar salas de espera distintas
para cães e gatos, por exemplo, as isolando fisicamente por uma separação.
INCORRETO
CORRETO
antecipadamente todo o
material necessário, para
evitar o ruído de abertura/
fechamento de gavetas e
Que precauções devem ser tomadas relativas à hospitalização do gato?
As baias de hospitalização estão adaptadas às dimensões do gato… mas não às suas
necessidades territoriais! Portanto, o fato de estar confinado a uma gaiola representa uma
fonte de stress para o animal, que deixa de poder organizar as suas áreas essenciais de
alimentação, de eliminação e repouso (de modo geral, no interior da baia, o comedouro
encontra-se próximo da caixa de areia). Como consequência, um gato doente ou recentemente
operado pode deixar de comer, situação prejudicial para a sua recuperação. Idealmente, as
baias deveriam ser equipadas com uma prateleira para, no mínimo, disponibilizar uma área
de alimentação/repouso separada da caixa de areia
Porque os gatos podem não se reconhecer depois de uma separação?
Esta situação pode ocorrer mesmo tratando-se de uma separação por um curto período de
tempo, bastando que o gato retorne para a casa transportando odores desconhecidos que
mascarem o seu odor familiar e representem uma fonte de stress para os outros gatos. A
solução consiste em misturar os odores trocando as mantas existentes nos cestos de repouso
ou esfregando um pano pelos vários gatos, vaporizado também com ferormônios calmantes.
Os contatos entre os felinos deverão ser restabelecidos modo progressivo, mantendo de início
o recém-chegado na caixa de transporte. Cada encontro bem sucedido e calmo, poderá ser
recompensado com brincadeiras, carícias ou guloseimas, até o retorno da normalidade, que
em alguns casos pode ser muito rápido e, em outros, demorar várias semanas.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 25
AUTORA
CONCLUSÃO
J-M. Labat
O impacto do stress na espécie felina
continua a ser subestimado como motivo de
consulta. Contudo, um estudo demonstrou
que 54% dos proprietários de gatos que
viviam em ambientes fechados se queixavam
do comportamento dos animais, 16,7% dos
quais evidenciavam sinais de ansiedade.
Devido ao seu contato privilegiado com os
clientes, atendentes e auxiliares veterinários
podem detectar e encaminhar para a consulta
veterinária os casos de stress, recorrendo a um
questionário especificamente direcionado
que contemple as características ambientais
do indivíduo.
Os conselhos práticos da (o) auxiliar de
veterinária também são muito úteis, assim
como o suporte de produtos que promovam
o bem-estar, os ferormônios e complementos
nutricionais, em caso de situações
estressantes, como a chegada de um novo
filhote, a introdução de um novo animal de
companhia ou uma consulta na clínica.
No campo do comportamento felino – ao
contrário da espécie canina – o medico
veterinário e sua equipe são um dos únicos
pontos de apoio dos proprietários. Por isso, é
legítimo acreditar que no futuro os auxiliares
veterinários desempenharão um papel de
apoio educacional tanto para os proprietários
quanto para os gatos, assim como podem ser
em relação à educação de filhotes de cães.
A presente edição da Focus Auxiliar é uma tradução da Focus Nurse “Managing and preventing
anxiety in the cat”, a qual foi elaborada com base na publicação Focus Edição Especial “Detecção
e Manejo da Ansiedade no Gato” dos seguintes autores: Dr. Claude Béata, Dr. Jon Bowen, Dr.
Jaume Fatjo, Dra. Debra Horwitz e Dra Clara Palestrini.
26 l FOCUS AUXILIAR - Ansiedade em gatos
Michèle COLIN, DVM
Diplomada pela Escola Nacional de
Medicina Veterinária de Alford em
1982, exerceu clínica canina até 1992.
Participou na criação e desenvolvimento
do CNFA (Centro Nacional de Formação
de Auxiliares de Veterinária do Ministério
da Agricultura) e do GIPSA (Grupo de
Interesse Público na Formação em Saúde
animal). Especializada na concepção e
desenvolvimento de técnicas de formação
profissional, está particularmente ligada à
criação de módulos de formação contínua
propostos há diversos anos aos auxiliares
de veterinária em funções, assim como à
redação de artigos e publicações destinadas
à classe.
Ansiedade em gatos - FOCUS AUXILIAR l 27
© ROYAL CANIN - Fevereiro 2010 - Illustrações : M. Pothier - Realização :
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