EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

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EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS
Prática Docente e Cotidiano Escolar no Instituto Benjamin Constant
Luciana Maria Santos de Arruda28
MaristelaDalmolin29
Mônica Porciúncula Pernambuco30
Priscila Ferreira Bento Sousa31
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo tecer algumas análises acerca do cotidiano
escolar e da prática docente no Instituto Benjamin Constant. Para tanto, servirá como
ponto de partida o projeto transdisciplinar iniciado no ano letivo de 2011 que teve como
tema gerador o Meio Ambiente, contemplando as disciplinas de História, Geografia,
Ciências e Português. Este projeto foi motivado pela importância de se interligar os
conteúdos de cada disciplina aos conhecimentos e vivências dos alunos, sendo realizado
através de atividades que envolveram as turmas do sexto ao nono ano do ensino
fundamental.
Palavras Chave: Ensino, Prática e Cotidiano, Educação Especial.
INTRODUÇÃO
No cotidiano dos professores, percebemos a separação das disciplinas através da
abordagem de um mesmo assunto sem uma conexão entre elas. Isto pouco contribui
para que os alunos desenvolvam um raciocínio amplo capaz de romper barreiras
disciplinares.
Conceitos, conteúdos, práticas docentes, relação professor-aluno, são algumas
palavras-chave que, cotidianamente, são utilizadas por professores e por outros
indivíduos que convivem dentro do universo educacional. Ao mesmo tempo em que tais
palavras são proferidas, diversos problemas e questões no que diz respeito às estratégias
e meios para motivar os educandos a participarem mais efetivamente das aulas
fomentam debates entre os educadores. Principalmente, daqueles que se propõem a
28
Professora de Geografia do Instituto Benjamin Constant, mestranda no Instituto de
Geografia/UFU. E-mail: [email protected]
29
Professora de Língua Portuguesa do Instituto Benjamin Constant, mestranda da UNIRIO. Email: [email protected]
30
Professora de Ciências do Instituto Benjamin Constant. Email: [email protected]
31
Professora de História do Instituto Benjamin Constant. Email: [email protected]
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fazer da sala de aula um local propício à discussão, a inquietação e a prática de um saber
relacionado para além dos muros da escola.
Neste trabalho, apresentaremos dois desdobramentos do projeto introduzido nas
turmas de sexto ao nono ano do Instituto Benjamin Constant (IBC). O primeiro está
relacionado à saída de campo, e o segundo as oficinas desenvolvidas com os discentes
durante a semana do Meio Ambiente, realizada no período de seis a dez de junho de
2011.
OBJETIVOS
Estabelecer uma relação entre as disciplinas de Geografia, História, Ciências e
Português na construção do conhecimento do aluno no processo ensino-aprendizagem,
ou seja, pelas relações existentes na escola e o mundo em que ele vive. Em outras
palavras, propiciar ao aluno meios de alcançar um modo de pensar investigativo,
despertando assim a curiosidade e a vontade de aprender.
Incentivar e estimular desde cedo, esse aluno aos poucos começar a olhar para as
questões
por
ângulos
diferentes,
facilitando
assim
a
descoberta
de
seu
autoconhecimento possibilitando a busca por respostas e com isso o seu crescimento e
desenvolvimento mental.
Por fim, pretende-se aliar os resultados obtidos aos conceitos e debates sobre
inclusão e escola inclusiva, relação entre prática e conteúdos além de outros temas que
perpassam o fazer pedagógico.
O INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT (IBC) – breve contextualização sobre o
cotidiano escolar
O Instituto Benjamin Constant (IBC) foi criado pelo Imperador D. Pedro II
através do Decreto Imperial n.º 1.428, de 12 de setembro de 1854, tendo sido
inaugurado, solenemente, no dia 17 de setembro do mesmo ano, na presença do
Imperador, da Imperatriz e de todo o Ministério, com o nome de Imperial Instituto dos
Meninos Cegos. Este foi o primeiro passo concreto no Brasil para a divulgação do
ensino voltado para pessoas deficientes visuais.
Pioneiro na América Latina em educação na área de deficiência visual é centro
de referência nacional. Tem por finalidade promover a inclusão do deficiente visual na
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sociedade através da realização de serviços no âmbito educacional, médico e de
disponibilização de material didático adaptado.
No campo pedagógico envolvem as mesmas disciplinas da grade curricular do
ensino não especializado no que tange à 2ª fase do ensino fundamental (6º a 9º ano, base
do nosso trabalho).
Todos os alunos do IBC desde o jardim de infância ao 9º ano são atendidos em
horário integral. A experiência acumulada ao longo de todos esses anos possibilitou que
essa instituição se tornasse referência nacional.
METODOLOGIA
O projeto foi aplicado nas turmas de 6º ao 9º ano (ensino comum e programa
educacional diferenciado). As atividades foram pensadas a partir de um tema gerador
comum às disciplinas – Meio Ambiente - e tiveram como atividade inicial uma visita
guiada para a Exposição Sensações do Passado Geológico da Terra (museu Casa da
Ciência UFRJ). Após essa saída, os docentes organizaram bimestralmente outras
atividades que envolviam temáticas correlatas aos conteúdos e propostas vinculadas ao
projeto.
Um mundo de sensações, apresentados em sete módulos (um planeta em ebulição,
o surgimento da vida, mega mundo, temperaturas extremas, infinitos desertos, aromas e
formas de vida, o tempo presente) onde os elementos da natureza são identificados
através de várias percepções sensoriais (multissensorialidade): tato, olfato, audição,
visão das eras geológicas da Terra e suas diferentes paisagens.
Nesse sentido, a concepção da exposição se encaixava perfeitamente bem para serem
trabalhadas, além disso, as formas espaciais (desertos, vulcões, flora gigante e etc.)
presentes na exposição, junto ao tato, é também relevante para a percepção do meio
ambiente.
Vale destacar a ideia de multissensorialidade apresentada por Ballestero-Alvarez (2002,
p.13) quando estuda sobre o ensino de desenho para alunos cegos:
Na ausência de um sentido, na maioria dos casos obtemos a
informação de elementos por meio de outros sentidos de percepção
sensorial, em separado ou em conjunto, naquilo que se denomina
multissensorial, são aquelas percepções elaboradas entre: ouvido e
tato, nariz e tato, boca e tato e etc.
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Este museu de ciência e tecnologia, por meio dessas atividades, proporciona
uma interação entre o que está exposto e o indivíduo, contribuindo para o
desenvolvimento de conceitos estudados. Vale aqui informar que o IBC mantém um
convênio com esse espaço há muitos anos, propiciando ao aluno da referida instituição a
oportunidade do conhecimento da ciência. Isto se aplica perfeitamente na afirmação de
Gaspar (1993, p.53):
(...) quando o ambiente de aprendizagem em ciências envolve muitas
habilidades motoras e sensoriais, apresenta instrumentos e objetos
reais e proporciona oportunidades de manipulação de conceitos
concretos e abstratos. Embora alguns pesquisadores questionem a
idéia de que as pessoas passem por estágios em idades prédeterminadas, eles ainda aceitam seu conceito de que o
desenvolvimento se processa sequencialmente (...)
As visitas guiadas foram realizadas nos dias: vinte e três de março de 2011, com
as turmas 601, 602 e 603; no dia trinta de maio as turmas do 7º, 8º e 9º anos, e no dia
dois de junho as turmas 604 e 605(Programa Diferenciado). Os alunos visitaram a
exposição na Casa da Ciência, sob orientação das Professoras: de Geografia, Luciana
Arruda, de Português, Maristela Dalmolin, de Ciências, Mônica Porciúncula, e de
História, Priscila Sousa.
É de suma importância ressaltar três pontos:
- primeiro, foi necessário que as professoras fizessem uma visita prévia à
exposição, observando a acessibilidade do museu (a possibilidade dos alunos tocarem
nos materiais, a existência da escrita em Braille e letra ampliada, o contraste das cores, o
tempo de duração da visita).
- segundo, a disponibilidade de monitores no atendimento dos alunos já que
estaríamos levando um grupo composto por turmas do 6º ao 9º ano, e informado o
público que eles atenderiam nesta visita.
- terceiro, que essa exposição passou a ser o norte do trabalho da semana do
meio ambiente do ano de 2011.
Os alunos foram divididos em duplas por sugestão da professora Mônica, da
seguinte maneira: um aluno cego com um aluno de baixa visão e de turmas diferentes.
Vale ressaltar o grande benefício dessa divisão, pois os alunos interagiram de uma
forma muito positiva, um ajudando o outro (o aluno de baixa visão auxiliando o aluno
cego) nas dúvidas que viessem a surgir e orientando no percurso da exposição; essas
duplas foram reunidas em grupos e cada grupo recebia suporte de uma professora e a
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orientação de um monitor. A tentativa de se fazer uma relação entre a teoria e o real faz
com que as saídas de campo sejam uma ótima oportunidade dos alunos questionarem a
realidade.
Imagem I – O Lixo no Mundo
Fonte: Casa da Ciência/UFRJ, 2011.
Após essa saída de campo, cada disciplina procurou trabalhar seus conteúdos
correlatos à exposição. Por exemplo, em Português foi trabalhada a construção de textos
e as informações coletadas na exposição; em Ciências, a origem tanto do planeta Terra
quanto dos demais planetas foi um tema recorrente, assim como a degradação, a atual
situação do meio ambiente e o lixo foram questões recorrentes32; em Geografia, com a
intenção de possibilitar o entendimento da realidade que nos cerca pois ela insere o
educando no espaço em que vive, provocando a interação com o meio a partir do
momento em que se aprende a ler as paisagens para conhecer a realidade física, social,
econômica e humana de um local.
32
Seria muito importante registrar um trabalho proposto nas aulas de Ciência e Português,
amplamente divulgado e aderido pelos alunos. A ideia central girava em torno do lixo produzido no
Instituto, sobretudo a grande utilização de copos descartáveis. A conscientização e mudanças de hábitos
foi e está gradativamente sendo inserida no cotidiano.
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Imagem II – Alunos sendo guiados pela “Era do Gelo”
Fonte: Casa da Ciência/UFRJ, 2011.
Procurou-se estudar tanto o espaço quanto a construção de uma ciência do
homem e as relações de sua interdependência com o ambiente possibilitando aos alunos
a compreensão de sua posição no conjunto das relações da sociedade com a natureza,
como e porque de suas ações individuais ou coletivas, a consequência que os valores
humanos e a natureza têm tanto para si como para a sociedade.
Nesse sentido,
- preparar os alunos para uma visão mais crítica das questões socioambientais o
que envolve, segundo Carvalho (1999) “conhecimentos, a construção de valores e a
dimensão da participação política”;
- despertar no aluno a consciência de que ele interage com o meio ambiente, e
dele precisa para sobreviver sendo, portanto, responsável pelo espaço social em que
vive.
- o homem enquanto agente modificador do espaço geográfico.
Em História, buscou-se interligar as interpretações e possibilidades de análise
do homem como um ser ativo e modificador da realidade em que vivencia, como
também as diversas produções de um discurso político e legitimador das possíveis
desigualdades em que no correr dos séculos se observa. Discutindo as relações a partir
de fontes primárias e vestígios deixados pelas diversas sociedades estudadas ao longo
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dos conteúdos programáticos objetivou-se, sobretudo, introduzir uma análise crítica e
focada nas trocas de experiências entre o conhecimento formal e informal.
Dando continuidade ao desenvolvimento do projeto, as oficinas durante a
semana do meio ambiente foram uma importante forma de observar – por parte dos
professores - na prática, a absorção dos conteúdos propostos por cada disciplina a partir
do mesmo tema gerador.
Nesta perspectiva, a semana da Ciência (meio ambiente) que ocorreu entre os
dias seis de junho a dez de junho 2011 deu continuidade às discussões iniciadas após a
saída de campo. No dia seis de junho (2ª feira), no horário da tarde, houve a exibição do
vídeo A história das coisas, seguida de um debate. As oficinas ocorreram no dia sete de
junho (3ª feira) no horário de aula, que é de 7:50 às 12:20 horas.
As oficinas foram realizadas em três etapas comuns a todas as turmas e com
duração de 1h e 20min cada uma.
- 1ª oficina: a pintura da casa ideal, (construída no software - Monet) para a
construção do condomínio ecologicamente correto.
- 2ª oficina: construção de objetos utilizando materiais recicláveis. Cada ano
produziu o seguinte material:
•
6º ano: 601- porta lápis confeccionado com jornal e o rolo interno do papel
higiênico. 602- caixa de presente feita de caixa de leite embalada com jornal
picado. 603- cortina feita com caixa de leite. 604/605- papel reciclado.
•
7º ano: pufe de garrafa pet.
•
8º ano: confecção de caixas de presente a partir de caixas de suco.
•
9º ano: peso de porta feito com garrafa pet e areia.
- 3ª oficina: A montagem de fósseis de argila com diferentes materiais.
Exemplos: moedas, folhagens, sementes, vestígios do homem (como as mãos).
Nos dias oito e nove de junho (4ª e 5ª feira) a divulgação para as turmas sobre a
pesquisa escrita para a construção do condomínio sustentável, utilizando as casas
pintadas. E também o período de secagem dos materiais das oficinas. Informações para
as turmas sobre a construção do condomínio com a entrega para o mês de agosto. No
dia dez de junho (6ª feira) exibição do filme Ilha das flores seguida de debate, a
montagem da casa ideal e o término das oficinas.
A sequência de atividades por bimestre:
1º Bimestre: ida à Casa da Ciência. Relatório sobre a ida à Casa da Ciência.
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2º Bimestre: filme – história das coisas / oficinas.
3º Bimestre: Construção do condomínio sustentável.
4º Bimestre: Exposição dos materiais e do condomínio ecologicamente correto.
Neste artigo temos o interesse de mostrar de que forma tais disciplinas se interrelacionam diante de um tema transversal como o meio ambiente trazendo para os
alunos a importância da sua preservação e da sustentabilidade.
Dessa forma o meio ambiente (educação ambiental) deve ser entendido não
somente como um ato político, mas como um processo pedagógico participativo que
envolva todos os elementos socioambientais.
Imagem III - Oficinas
Fonte: Acervo Pessoal
Imagem IV - Oficinas
Fonte: Acervo Pessoal
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RESULTADOS PRELIMINARES
De forma sucinta, esse trabalho propiciou aos alunos cegos e de baixa visão do
Instituto Benjamin Constant (IBC) trabalhar as disciplinas de Ciências, História,
Geografia e Português de uma forma diferente da qual eles estão acostumados levandoos a construir suas próprias opiniões sobre o tema proposto, que foi o meio ambiente.
Ele ultrapassa a perspectiva da Educação Inclusiva a partir do momento em que pode
ser aplicado em qualquer instituição de ensino. A nós educadores, demonstrou como é
possível articular os conteúdos, as propostas impressas nos PCN’s (visto que entre as
áreas e temas geradores se encontra o Meio Ambiente) a uma práxis pedagógica
diferenciada e voltada para a diversas questões cotidianas do corpo discente.
ABSTRACT
The present work aims to make some analysis about the daily school and teaching
practice in Benjamin Constant Institute. Therefore, it will serve as a starting point the
transdisciplinary project started in the academic year 2011 whose theme generator
Environment, covering the disciplines of history, geography, science and Portuguese.
This project was motivated by the importance of linking the contents of each discipline
to the knowledge and experiences of students, being carried out through activities
involving classes from sixth to ninth grade level.
Keywords: Education, Practice and Everyday Life, Special Education.
BIBLIOGRAFIA:
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trabalho de campo como uma linguagem no ensino da Geografia, 2005. 161f.
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teórico. 1993. Tese (Doutorado em Didática), Universidade de São Paulo, São Paulo,
1993. p 53
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT. Instituto Benjamin Constant. Disponível
em:HTTP://www.ibc.gov.br/Nucleus/index.php. Acesso em: 24 de maio 2012.
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