CEFAC CENTRO DE ESTUDO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES A importância do diagnóstico fonoaudiológico CAROLINA DA FONTE PORTO CARREIRO RECIFE 2001 _________________________________________________ Resumo As desordens temporomandibulares (DTMs) consistem em alterações nas articulações temporomandibulares (ATMs), nos músculos mastigatórios ou em ambos, capazes de desencadear uma série de sinais e/ou sintomas clínicos que provocam o desequilíbrio no sistema estomatognático. Objetivando o equilíbrio miofuncional do sistema, o trabalho fonoaudiológico tem representado um importante papel no tratamento das DTMs. Como o diagnóstico preciso representa o alicerce do plano de tratamento, este trabalho objetivou realizar um estudo sobre o diagnóstico fonoaudiológico nas DTMs, ressaltando a importância do diagnóstico correto. Para isto, foram estudados a anátomo-fisiologia da ATM, os fatores etiológicos, as características fisiopatológicas das DTMs, o diagnóstico diferencial, assim como a anamnese e a avaliação diagnóstico. fononoaudiológica, considerados pontos principais no À Deus, pela presença constante em minha vida, iluminando-me e guiando-me em todos os momentos. Aos meus queridos pais, Ruy e Elza – pessoas que tenho muito orgulho e admiração – por nunca medirem esforços para investir na minha educação. Muito obrigada por estarem sempre comigo, apoiando-me e incentivando-me em todos os passos de minha vida. Agradecimentos À Profa. de Escultura e Oclusão da UFPE, Dra. Renata Fernandes, que tanto me ajudou. Uma grande amiga com quem trilhei meus primeiros passos para a pesquisa. Foi sem dúvida uma pessoa muito importante para a conclusão deste trabalho. Muito obrigada! À Fábio Moura de Paula, meu namorado e amigo, por todo apoio e incentivo de sempre e pela compreensão nos momentos de estudo e ausência. Aos meus queridos irmãos, Adriana, Cristiana, Ruy e Romero, pelo amor e carinho constante. À minha irmã Adriana, pelo apoio e amizade de sempre, pelas leituras críticas deste trabalho, pelo incentivo à pesquisa, enfim, por tudo. À Profa. Dra. Cláudia Maria de Felício, o meu respeito, admiração e gratidão por toda a ajuda dispensada para a construção do meu conhecimento. Muito obrigada! À Profa. Esther Bianchini pelas aulas ministradas no CEFAC e pelo carinho e atenção de sempre. Aos meus tios Marilda e Gilberto Pacheco de Medeiros, por me receberem em São Paulo sempre com muito amor e carinho. Meu muito obrigada! Às minhas amigas fraternas, Liliane Correia e Rita de Cássia Rodrigues, pelas leituras críticas deste trabalho, pelo convívio agradável e amigo em Ribeirão Preto e pelo carinho e amizade que ficarão em mim para sempre. À minha amiga Piauiense, Onádia Barros, por transmitir paz e tranqüilidade nesta caminhada e pela amizade sincera que construímos em Ribeirão Preto. À Fga. Leila Guimarães, minha ex-supervisora e hoje grande amiga, através da qual ingressei na Fonoaudiologia. Pessoa que sempre transmitiu total satisfação à profissão, incentivando-me cada vez mais a mergulhar nessa ciência. Obrigada! Ao Fgo. Hilton Justino, meu ex-supervisor e amigo, quem me ensinou a refletir sobre a Motricidade Oral, por acreditar em mim e incentivar-me a buscar novos conhecimentos. Meu total reconhecimento! À Fga. Edna Pereira Gomes, pela leitura crítica deste trabalho e pelo carinho de sempre. Às primas Mirella e Myrna Porto Carreiro, por sempre valorizarem o meu trabalho e a minha profissão. À Irene Marchesan, pela seriedade e competência de seu trabalho e de todos que formam o CEFAC. À Ana Maria Prosine, Uilta e Polyana Rodrigues, pelas correções deste trabalho. À Marolli Barreto e Mércia Macêdo, por representarem tão bem o CEFACRecife. À Mirian Goldenberg, por ter despertado em mim o grande prazer em pesquisar. Às companheiras de turma do CEFAC-São Paulo e CEFAC-Recife, novas especialistas em Motricidade Oral, pela oportunidade de convivência e novas amizades. À Ana Paula Zanni e Ana Maria, pela ajuda recebida na transferência para São Paulo, tornando tudo mais fácil. À Dalva, pela paciência e ajuda nas idas à biblioteca do CEFAC - São Paulo. Sumário INTRODUÇÃO........................................................................................... 01 DISCUSSÃO TEÓRICA............................................................................. 05 Anátomo-fisiologia da articulação temporomandibular..................... 05 Desordens temporomandibulares.................................................... 24 Diagnóstico diferencial...................................................................... 45 Diagnóstico fonoaudiológico............................................................. 54 Equipe multidisciplinar....................................................................... 85 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 93 Introdução A Fonoaudiologia, ciência em constante avanço científico, vem definindo seu campo de atuação – voz, audiologia, motricidade oral e linguagem – exigindo do profissional fonoaudiólogo maior conhecimento em uma determinada área. A Motricidade Oral é uma área com que muitas outras especialidades se relacionam, principalmente a Odontologia e algumas áreas da Medicina (BIANCHINI, 2000a). Seu objetivo é prevenir, diagnosticar e tratar as alterações miofuncionais do sistema estomatognático. O sistema estomatognático – composto por diferentes estruturas, como ossos, articulações, dentes, vários músculos, espaços orgânicos, mucosa, glândulas, ligamentos, vasos e terminações nervosas – é responsável por funções essenciais à vida, como a sucção, a mastigação, a deglutição, a fala e a respiração, que se caracterizam pela íntima relação com os movimentos mandibulares (BIANCHINI, 2000a). A mandíbula é o único osso móvel do crânio, ligando-se à base craniana através de uma articulação dupla bilateral (articulação temporomandibular ATM), que se movimenta sinergicamente. Classifica-se como uma “diartrose sinovial bicondílea complexa”, tendo amplos movimentos, sincronizados entre as duas articulações (DOUGLAS, 1994). Essa articulação é uma das mais especializadas e diferenciadas do organismo porque é capaz de realizar movimentos complexos e está relacionada praticamente com todas as funções do aparelho estomatognático (MOLINA, 1995). Os movimentos mandibulares determinam as possibilidades e características das funções estomatognáticas, sendo fundamental a saúde e estabilidade dessas estruturas para que os movimentos se desenvolvam harmonicamente (MOLINA, 1995; BIACHINI, 2000a). As alterações nas ATMs, também chamadas desordens temporomandibulares (DTMs), abrangem uma série de problemas clínicos que envolvem os músculos mastigatórios, componentes articulares ou ambos (FELÍCIO & MAZZETTO, 1994). As DTMs caracterizam-se principalmente por dor nos músculos mastigatórios e na ATM; ruídos durante os movimentos mandibulares; limitação ou assimetrias nesses movimentos; alterações funcionais e alterações otológicas (GARCIA, MADEIRA, OLIVEIRA, 1994; FELÍCIO, 1999; BIANCHINI, 2000a). Dependendo da(s) estrutura(s) envolvida(s), alguns desses sinais e/ou sintomas podem estar presentes. A complexidade da ATM bem como a variedade etiológica e sintomatológica de suas alterações têm tornado tal estudo um desafio para muitos profissionais da área de saúde. Seu tratamento tem representado um novo campo de atuação, que requer a participação de uma equipe multidisciplinar (MOLINA, 1995; FELÍCIO, 1999; BIANCHINI, 2000a). A execução de um tratamento em equipe multidisciplinar, formada por cirurgiões dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, neurologistas, otorrinolaringologistas e outros contribui para um diagnóstico bem fundamentado e, conseqüentemente, um tratamento específico. Apesar de ainda recente, a intervenção fonoaudiológica tem assumido um importante papel na reabilitação de pacientes com DTM. Estabelecendo um equilíbrio miofuncional, o fonoaudiólogo auxilia no controle de sinais e sintomas provenientes dessa patologia, bem como na remissão de possíveis causas relacionadas aos músculos e funções do sistema estomatognático. Porém, a terapia fonoaudiológica isoladamente não é o suficiente para tratar das disfunções da ATM (BIANCHINI, 2000a), pois esse tratamento não elimina, por exemplo, os fatores oclusais desencadeantes (MOLINA, 1995), como também os fatores emocionais, sendo necessário o trabalho integrado com outros profissionais. Talvez, por ela ser uma nova área de atuação do fonoaudiólogo, muitos questionamentos têm surgido na Clínica Fonoaudiológica, tais como: o que pode causar a DTM? Quais seus principais sinais e sintomas? Como identificar as diferentes desordens que acometem as ATMs? Como tratar os pacientes que apresentam dores, ruídos nas articulações e/ou limitação nos movimentos mandibulares? Ao perceber a importância do trabalho fonoaudiológico no tratamento das DTMs e observar que poucos são os profissionais que dirigem seus estudos ao atendimento de pacientes com essa patologia, surgiu o interesse e a motivação em buscar conhecimento sobre o assunto. Por ser o diagnóstico o primeiro passo no tratamento e, talvez, o mais importante, o presente estudo será direcionado ao diagnóstico fonoaudiológico nas desordens temporomandibulares. O diagnóstico correto é a chave para o sucesso do tratamento; baseado nele, são traçadas as metas e condutas terapêuticas. O clínico deve ter em mente que para cada diagnóstico há um tratamento adequado. Nenhum “único tratamento” é indicado para todas as desordens temporomandibulares (OKESON, 1992). Muitos profissionais iniciam imediatamente um tratamento, sem reunir dados suficientes que confirmem ou neguem uma tentativa de diagnóstico (MOLINA, 1995). Esse fato pode justificar a ocorrência de inúmeros casos que obtiveram insucesso da terapêutica estabelecida ou desperdício de tempo, muitas vezes precioso, no tratamento da doença (BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). O objetivo do presente trabalho teórico é fornecer subsídios necessários para a elaboração do diagnóstico fonoaudiológico, em pacientes com DTM, com o intuito de aprimorar a qualidade do tratamento. Para tanto, será abordado o estudo de alguns conhecimentos básicos, considerados prérequisitos, como: anátomo-fisiologia da ATM; etiologia, classificação e características clínicas das DTMs, e diagnóstico diferencial. Será também realizado um estudo sobre o diagnóstico fonoaudiológico, onde serão explanados a anamnese, o exame clínico e a participação da equipe multidisciplinar, abordando seus integrantes e respectivas funções. Anátomo-fisiologia da articulação temporomandibular O estudo da anatomia e da fisiologia da articulação temporomandibular (ATM) é fundamental para a compreensão das diversas alterações que acometem essa articulação. Como saber identificar tais alterações e auxiliar no tratamento das desordens temporomandibulares (DTM) sem antes conhecer a normalidade de suas estruturas e seu funcionamento? A ATM é uma articulação sinovial e, portanto, permite amplos movimentos da mandíbula em torno de um osso fixo, que é o temporal. É uma articulação bilateral, interligada pela mandíbula e interdependente, com movimentos próprios para cada lado, porém simultâneos, podendo ser considerada uma única articulação (MADEIRA, 1995). A ATM está localizada anatomicamente entre a região distal superior terminal do osso mandibular e a região inferior e lateral do osso temporal. Posteriormente, está delimitada pela espinha pós-glenóide, região escamosa do osso temporal, conduto auditivo externo e região posterior da fossa glenóide; anteriormente, pelo tubérculo auricular; lateralmente, pela parede lateral externa da fossa glenóide e músculo masseter e, superiormente, pelo osso temporal e arco zigomático (MOLINA, 1995). (fig. 1) FIG.1 - Localização anatômica da ATM (PAIVA et al, 1999) Componentes anatômicos da ATM São os componentes anatômicos da articulação temporomandibular: superfícies articulares ósseas, disco articular, cápsula e ligamentos (fig. 2). Embora os músculos não façam parte dos componentes da ATM, estão intimamente relacionados com seus movimentos. Portanto, os músculos também serão abordados neste estudo. FIG.2 - Componentes anatômicos da ATM (NETTER & FRANK, 2000) - Superfícies articulares ósseas As partes ósseas da ATM correspondem à cabeça da mandíbula (côndilo mandibular), à eminência articular e à fossa mandibular do osso temporal. O côndilo mandibular articula-se com a fossa do osso temporal e, anteriormente a ela, encontra-se a eminência articular, uma proeminência óssea convexa. A ATM diferencia-se das outras articulações por não estar revestida por cartilagem hialina, mas por uma camada de tecido conjuntivo fibroso avascular. (CABEZAS, 1997). Esse tipo de tecido é mais resistente ao desgaste com o envelhecimento e possui maior capacidade de regeneração. Tais fatores são considerados por OKESON (1992) fatores significativos na função e na disfunção da ATM. Na vertente anterior da cabeça da mandíbula e na vertente posterior da eminência articular, as camadas de fibrocartilagem são mais espessas por serem os locais de impacto da articulação (MADEIRA, 1995). As partes ósseas da ATM podem ser facilmente visualizadas através das imagens radiográficas (radiografias panorâmicas e transcranianas), tomográficas e de ressonância nuclear magnética. É importante ressaltar que, em suas imagens, os tecidos mineralizados apresentam-se escuros (ou sem sinal), enquanto os tecidos desmineralizados (disco, músculos) aparecem como um sinal, cuja tonalidade depende da disposição e da quantidade de elétrons (DAVIDOWICZ, MORELLI, MOURA, 1997). - Disco articular O disco articular localiza-se entre o côndilo mandibular e a cavidade articular, dividindo a articulação em dois compartimentos distintos: superior e inferior. O compartimento superior é delimitado pela fossa mandibular e pela superfície superior do disco. Já o compartimento inferior, pelo côndilo mandibular e pela superfície inferior do disco (OKESON, 1992; STEENKS & WINJER, 1996). O disco é bicôncavo, regulariza a discrepância anatômica existente entre as superfícies articulares e sua função é separar, proteger e estabilizar o côndilo na fossa mandibular durante os movimentos funcionais da articulação. O disco articular apresenta flexibilidade adaptativa durante os movimentos mandibulares de modo a ocorrer mútua e perfeita adaptação da cabeça da mandíbula com a cavidade articular. Durante toda a fase dos movimentos, o disco mantém sempre sua morfologia, porém, quando ocorrem disfunções da ATM, pode mostrar-se comprometido. Se essas modificações forem profundas, podem ocorrer mudanças violentas que, se não forem tratadas por métodos convencionais da odontologia, da fonoaudiologia e da fisioterapia, é possível desenvolver patologia na região (WEIBERG & FRIEDMAN, 1981). Quanto à espessura, o disco pode ser dividido em três regiões: intermediária, anterior e posterior, sendo a posterior a mais espessa, seguida da anterior e da intermediária. Na articulação sadia, a superfície articular do côndilo está localizada na zona intermediária do disco, circundada pelas regiões anterior e posterior. De acordo com OKESON (1992), o disco articular consiste em uma placa de fibrocartilagem isenta de nervos e vasos sangüíneos, o que permite suportar forças pesadas sem causar danos ou induzir a estímulos dolorosos. Já MOLINA (1995) acredita que o disco não é inervado e vascularizado apenas em sua porção central, apresenta, portanto, pouca inervação e vascularização também na periferia. Na borda anterior do disco, onde se insere o ligamento capsular, encontra-se parte das fibras tendinosas do músculo pterigóideo lateral superior (25%) que , quando ativo, empurra-o ântero-medialmente. Nas bordas laterais, estão os ligamentos colaterais medial e lateral. Inserido posteriormente ao disco, está o tecido retrodiscal, formado de tecido conjuntivo frouxo, altamente vascularizado e invervado. - Cápsula articular A ATM é circundada por uma cápsula fibrosa (tecido conjuntivo denso) bastante frouxa que permite os amplos movimentos da articulação. Sua abundante inervação sensitiva, que inclui a proprioceptiva, relaciona-se com os nervos auriculotemporal, massetérico e temporal profundo posterior. Sua vascularização estende-se até a periferia do disco articular e a membrana sinovial (MADEIRA, 1995). Dentre os autores pesquisados, OKESON (1992) e DOUGLAS (1994) incluem a cápsula articular no estudo dos ligamentos da ATM, os demais (MADEIRA, 1995; MOLINA, 1995; STEENKS & WINJER, 1996; ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1995, entre outros) estudam-na como uma estrutura à parte O ligamento capsular age para resistir a qualquer força mediana, lateral ou inferior que tende a deslocar as superfícies articulares, e proporciona estímulos proprioceptivos sobre a posição e movimento da articulação. Uma função significativa desse ligamento é envolver a articulação, retendo o líquido sinovial (OKESON, 1992). A cápsula articular é revestida internamente pela membrana sinovial em seu compartimento supra e infradiscal, estendendo-se em cima e embaixo do coxim retrodiscal. Essa membrana não recobre o disco e a cartilagem articular (MADEIRA, 1995). A membrana elabora e secreta a sinóvia, líquido que possui em sua composição o ácido hialurônico. Esse líquido apresenta funções importantes para a articulação, tais como: nutrição, irrigação, lubrificação e remoção de resíduos metabólicos (OKESON, 1992; MOLINA, 1999; MADEIRA,1995). De acordo com OKESON (1992), o líquido sinovial lubrifica as superfícies articulares por meio de dois mecanismos: lubrificação delimitadora e, saturada. O primeiro mecanismo ocorre quando a articulação se move, e o líquido sinovial é forçado de uma área da cavidade para outra. O segundo refere-se à habilidade das superfícies articulares de absorverem uma pequena quantia de líquido sinovial, que é liberada quando as superfícies articulares são sujeitas a forças de compressão. Porém, se tais forças de compressão permanecerem por tempo prolongado, as superfícies articulares esgotarão a reserva de lubrificação, podendo provocar um “colamento” entre as superfícies, prejudicando seu funcionamento. Tal assunto será melhor estudado em desordens temporomandibulares. - Ligamentos Os ligamentos da ATM, constituídos de tecido conjuntivo colagenoso, possuem um papel importante na proteção das estruturas da ATM. Apesar de não participarem de forma ativa na função da articulação, os ligamentos agem indiretamente como agentes limitadores dos movimentos (OKESON, 1992), funcionando como estabilizadores para evitar a ultrapassagem de limites (BIANCHINI, 1998a). Os ligamentos possuem importantes receptores mecânicos e de dor, funcionando como estruturas proprioceptivas para monitorar os movimentos e posições dos componentes da articulação (BIANCHINI, 1998a). Funcionam como guias para restringirem certos movimentos (limiares) enquanto permitem outros (movimentos funcionais). Se os movimentos das articulações atuarem constantemente contra os ligamentos, seu comprimento pode ser alterado. Os ligamentos têm capacidade muito pequena de se distenderem, portanto, quando ocorre com freqüência, tornam-se permanentemente alongados. Esse alongamento provoca alteração na biomecânica da articulação, podendo levar a certas alterações clínicas (OKESON, 1998). Existem na literatura divergências no estudo dos ligamentos. Enquanto OKESON (1992) considera cinco ligamentos da ATM, sendo três ligamentos funcionais que a seguram: colaterais, capsular e temporomandibular, e mais dois ligamentos como acessórios: esfenomandibular e estilomandibular, MADEIRA (1995) e ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER (1998), acreditam que o único verdadeiro ligamento da ATM é o temporomandibular, sendo o esfenomandibular e o estilomandibular considerados também como acessórios. MOLINA (1995) concorda com os autores anteriormente citados e acrescenta o ligamento mandibular do martelo. De acordo com OKESON (1992), os ligamentos colaterais fazem o disco mover passivamente com o côndilo quando desliza anterior e posteriormente. O ligamento temporomandibular limita a extensão da abertura rotacional e o movimento posterior do côndilo e do disco. Ele protege os tecidos retrodiscais do trauma causado pelo deslocamento posterior do côndilo. O ligamento esfenomandibular não tem nenhum efeito limitador no movimento mandibular, já o estilomandibular limita os movimentos protrusivos da mandíbula. MADEIRA (1995) considera os últimos formações anatômicas que dão suporte ligamentoso à ATM, apesar de estarem distantes dela e não apresentarem influência em seus movimentos. O ligamento mandibular do martelo, estudado por Pinto (pesquisador brasileiro) pode explicar alguns dos sinais e sintomas relacionados ao ouvido médio em indivíduos portadores de distúrbios funcionais do aparelho mastigador (MOLINA, 1995). Além dos ligamentos citados, SCAPINO (1997) acrescenta o ligamento posterior, que se insere na banda posterior do disco articular. O autor considera “zona bilaminar” e tecido retrodiscal sinônimo desse ligamento. A organização do ligamento posterior é em função da posição condilar. Quando a mandíbula está fechada, apresenta-se como uma lâmina grossa atrás do côndilo e, quando vai abrindo, o ligamento acompanha o movimento. O ligamento posterior pode ser dividido em duas porções: inferior e superior. A porção inferior é composta por um sistema de fibras colágenas (finas), que se inicia na banda posterior do disco e dirige-se ao pescoço do côndilo. A porção superior, composta de grossas fibras elásticas, tem origem na banda posterior do disco e insere-se na porção posterior da cavidade articular (placa timpânica). As fibras elásticas representam a única estrutura capaz de retrair o disco posteriormente no côndilo quando ele se encontra estacionário. SCAPINO (1997) ressalta ainda que por essa região passam numerosos vasos (sangüíneos e linfáticos) e nervos. FIG. 3 – Ligamentos relacionados à ATM (NETTER & FRANK, 2000) Lig. Colateral Lig. Capsular Lig. Esfenom andibular Lig. Estilom andibular - Músculos A estabilidade posicional da articulação é determinada pelos músculos que cruzam a ATM, que impedem o deslocamento das superfícies articulares. As forças direcionais desses músculos determinam a posição ideal de funcionamento estável da articulação. Os principais músculos que estabilizam as ATMs são os elevadores da mandíbula (OKESON, 1992; OKESON, 1998). FIG. 4 -Músculos da mastigação (NETTER & FRANK, 2000) Masseter - Músculo retangular que se origina no arco zigomático e estende-se para baixo até o aspecto lateral da borda inferior do ramo da mandíbula. Sua inserção na mandíbula estende-se da região do segundo molar, na borda inferior, até o ângulo. O músculo é formado de duas porções: superficial (fibras que se dirigem para baixo e para trás) e interna (fibras que se dirigem verticalmente). Quando as fibras do masséter se contraem, a mandíbula eleva-se, e os dentes entram em contato. É um músculo forte que proporciona a força necessária para uma mastigação eficiente. Sua porção superficial também auxilia na protrusão da mandíbula. Quando esse osso se protrui, e a força da mastigação é aplicada, as fibras da porção interna estabilizam o côndilo contra a eminência articular. Temporal - É um músculo grande, em forma de leque, que se origina na fossa temporal e na superfície lateral do crânio. Suas fibras se juntam quando ele se estende para baixo, entre o arco zigomático e a superfície lateral do crânio, para formar um tendão que se insere no processo coronóide e na borda anterior do ramo ascendente. O temporal pode ser dividido em três porções, de acordo com o direcionamento de suas fibras: anterior (fibras que se direcionam quase verticalmente), média (fibras que correm obliquamente através do aspecto lateral do crânio), e posterior (fibras que se alinham quase horizontalmente). Quando todo o temporal se contrai, ele eleva a mandíbula e os dentes entram em contato. Se somente uma parte se contrai, a mandíbula movimenta-se de acordo com a direção das fibras que estão ativadas. Pterigóideo medial - Origina-se na fossa pterigóidea e insere-se na superfície interna do ângulo mandibular. Quando suas fibras se contraem, a mandíbula é elevada, e os dentes entram em contato. Esse músculo também auxilia na protrusão mandibular. Pterigóideo lateral - Divide-se em dois feixes: inferior e superior, que são considerados por OKESON (1992) dois músculos distintos. O músculo pterigóideo lateral inferior origina-se na superfície externa da placa lateral pterigóidea e se insere primariamente no pescoço do côndilo. Na contração simultânea dos dois pterigóideos laterais inferiores, ocorre a protrusão mandibular. Se apenas um lado contrair, ocorrerá um movimento lateral da mandíbula no lado oposto. A ação desse músculo com os depressores da mandíbula promove abertura bucal. O músculo pterigóideo lateral superior origina-se na superfície infratemporal da asa maior do esfenóide e insere-se na cápsula articular e no disco, e uma pequena parte, no pescoço do côndilo. Durante a mastigação (força de resistência) e quando os dentes são mantidos fechados, há atuação predominante desse músculo. Além desses, também são considerados músculos importantes no funcionamento mandibular os supra-hióideos (abaixam a mandíbula), os infrahióideos (estabilizam o osso hióide), os digástricos (abaixam a mandíbula e elevam o osso hióide), o esternocleidomastóideo e os músculos posteriores do pescoço (estabilizam o crânio e controlam os movimentos mandibulares), os músculos da língua, bucinador e musculatura da mímica facial. Conceitos de oclusão A articulação temporomandibular consiste em um órgão dinâmico, formado por um grande número de estruturas internas e externas, que não deve ser tratada isoladamente em relação à oclusão e ao resto do organismo (MOLINA,1995). CORREIA (1995) ressalta que, para haver um bom funcionamento dessa articulação, três fatores devem estar em harmonia: a articulação propriamente dita, o equilíbrio neuromuscular e a oclusão. Portanto, é importante o conhecimento do fonoaudiólogo, bem como de toda a equipe multidisciplinar, sobre alguns conceitos básicos de oclusão, tais como: relação cêntrica, oclusão cêntrica, oclusão ideal, dimensão vertical de oclusão, dimensão vertical de repouso e espaço funcional livre. Existem controvérsias na literatura quanto à posição ideal que o côndilo ocupa na fossa articular. Para OKESON (1992), o termo relação cêntrica (RC), apesar de apresentar uma variedade de definições, é geralmente considerado para designar a posição da mandíbula quando os côndilos estão na posição terminal da articulação. De acordo com MOLINA (1995), relação cêntrica é a posição mais retraída da mandíbula, a partir da qual os movimentos mandibulares de abertura e lateralidade podem ser realizados. Essa é uma posição bordejante, limite, funcional e reproduzível com ou sem a presença dos dentes, onde os ligamentos articulares estão em estado de tensão, para evitar qualquer deslocamento condilar posterior excessivo. A relação cêntrica consiste em posição de referência e de terapêutica para reabilitação. Para DAWSON (1993), RC é a relação da mandíbula com a maxila quando o conjunto côndilo-disco propriamente alinhado está na posição mais superior contra a eminência, independente da posição dos dentes ou da dimensão vertical. Segundo MOLINA (1995), oclusão cêntrica é a relação de contato dental não-forçada, voluntária ou não, com o maior número de contatos dentais, inclusive de dentes anteriores. Essa posição é determinada pelos músculos, proprioceptores e planos inclinados dos dentes. Conforme o autor, a oclusão ideal caracteriza-se pela presença de todas as guias oclusais normais, ausência de contatos prematuros e interferências oclusais, número suficiente de dentes, ausência de sinais e sintomas no aparelho mastigatório e nenhum sinal de adaptação nos cinco componentes do aparelho estomatognático. Para OKESON (1992), a condição ideal de oclusão durante o fechamento mandibular deveria ser fornecida pelo contato simultâneo e homogêneo de todos os dentes possíveis. Se um dente e seu antagonista se tocam antes que todos os outros, ou melhor, se há contato prematuro, é possível desencadear hiperatividade da musculatura elevadora da mandíbula na tentativa de proteger aquele dente e suas estruturas (FELÍCIO & SILVA, 1994). Interferências oclusais são padrões de contato entre os dentes que não permitem um movimento livre da mandíbula nos movimentos excursivos (MOLINA, 1995). Dimensão vertical de oclusão (DVO) corresponde à medida da face encontrada pela medição de dois pontos na linha média, um abaixo e outro acima da boca, quando os dentes estão em posição de máxima intercuspidação. A perda de suporte posterior e desgastes excessivos provocados por bruxismo podem acarretar diminuição da dimensão vertical. Quando a mandíbula se encontra em posição de repouso, onde os músculos estão em equilíbrio neuromuscular, e existe um espaço interoclusal, tem-se a dimensão vertical de repouso (DVR). Esse espaço interoclusal é também chamado espaço funcional livre (EFL) (FELÍCIO & SILVA, 1994). O espaço funcional livre é importante para manter os ciclos de contração-estiramento-relaxamento fundamentais para a atividade muscular fisiológica. Na literatura clássica, o EFL ou ELI (espaço livre interoclusal) tem sido obtido através da seguinte fórmula: ELI = DVR –DVO (MOLINA,1995). Proprioceptores da ATM Terminações de Rufini, corpúsculos de Vater-Paccine, órgãos tendinosos de Golgi e terminações nervosas livres correspondem aos proprioceptores da ATM. Suas principais funções, respectivamente, são: postura, movimentos da mandíbula, proteção dos ligamentos articulares e proteção (receptores da dor) (MOLINA, 1995). Vascularização e inervação da ATM De acordo com MOLINA (1995), a vascularização e inervação da ATM e suas respectivas áreas por elas beneficiadas estão descritas conforme o quadro abaixo. VASCULARIZAÇÃO Artéria carótida externa Artéria temporal profunda posterior Artéria masseterina Artéria timpânica anterior Artéria auricular profunda Artéria temporal superficial Artéria meníngea média (ramos) Artéria maxilar interna (ramos) Artéria facial transversa (ramos) REGIÃO VASCULARIZADA Tecido subsinovial Região anterior da ATM Região anterior da ATM Região posterior e média da ATM Região posterior da ATM Região posterior e lateral da ATM Região posterior da ATM Região anterior da ATM Região posterior e lateral da ATM INERVAÇÃO Ramos do nervo masseterino Ramos do nervo auriculotemporal Ramos do nervo maxilar interno ÁREA INERVADA Região anterior da ATM Região posterior da ATM Ramos articulares anteriores e posteriores Movimentos mandibularaes Os movimentos mandibulares apresentam atividades tridimensionais de rotação, translação e rotação-translação combinados, que são determinados pela ação simultânea de ambas as articulações temporomandibulares, onde o conjunto côndilo-disco deve trabalhar harmonicamente. Enquanto no movimento de rotação, o côndilo gira em torno de seu próprio eixo, no movimento de translação, o côndilo, juntamente com o disco articular, desloca-se ao longo da cavidade condilar, deslizando até a eminência articular do osso temporal. Esses correspondem aos movimentos básicos da ATM. FIG. 5 - Movimento de rotação e translação (NETTER & FRANK, 2000) Translação Relação Cêntrica Rotação A partir desses movimentos básicos, as ATMs realizam diversos movimentos funcionais, que serão descritos abaixo. Considera-se importante o estudo de todos esses movimentos por estarem estreitamente relacionados com as funções estomatognáticas. Com base em DOUGLAS (1994), serão descritos os movimentos mandibulares, associandoos aos seus correspondentes grupos musculares. - Abaixamento (abertura bucal) Esse movimento está dividido em dois tempos: o primeiro caracteriza-se por relaxamento dos elevadores, contração dos supra e infra-hióideos, resultando em pequena abertura bucal; no segundo tempo, também chamado de grande abertura, ocorre contração simultânea de ambos os músculos pterigóideos laterais. - Elevação (fechamento bucal) A elevação realiza-se também em dois tempos: no primeiro, entram em ação as articulações supradiscais, elas são arrastadas para trás pelas fibras horizontais e oblíquas do músculo temporal, fibras do masseter e do pterigóideo medial, até que o disco volte à sua posição no fundo da fossa articular; no segundo, o masseter, o pterigóideo medial e as fibras verticais do temporal fazem a cabeça da mandíbula girar sobre a face inferior do disco até chegar ao restabelecimento da oclusão cêntrica. - Propulsão Na propulsão, a mandíbula inicialmente realiza um abaixamento regulado pelo tônus dos elevadores, os quais impedem que a mandíbula desça, e, em seguida, desloca-se para frente. Participam os músculos abaixadores, especialmente os genio-hióideos, os pterigóideos laterais, que dirigem a mandíbula para baixo e para a frente (abaixamento propulsado), e os feixes posteriores de ambos os músculos temporais. - Retropulsão A retropulsão consiste no movimento de volta da mandíbula para trás e para cima. Participam as fibras horizontais (exclusivamente retrusoras) e oblíquas do temporal e os fascículos profundos dos masseteres. Os músculos elevadores provocam rotação do côndilo, direcionando-o à posição de relação cêntrica. - Lateralidade centrífuga A lateralidade centrífuga caracteriza-se, inicialmente, por um leve abaixamento mandibular para vencer o engrenamento dental. Um dos côndilos é tracionado pelo músculo pterigóideo lateral percorrendo, juntamente com o disco, o plano da “trajetória condílica”, dirigindo-se para baixo, para a frente e para medial. O côndilo do lado oposto apresenta um percurso bem menor, sendo tracionado pelas fibras horizontais do temporal. Atuam também os masseteres e os pterigóideos mediais para manter o contato entre os dentes. - Lateralidade centrípeta A lateralidade centrípeta corresponde ao retorno do movimento anterior. A mandíbula propulsada retorna à posição primitiva pela contração do temporal do mesmo lado, principalmente das fibras horizontais, e do milo-hióideo do lado oposto. Participam também os músculos elevadores que, durante todo o movimento, mantiveram o contato dental, restabelecem a oclusão cêntrica. - Retrusão Na retrusão, os côndilos se dirigem para trás até exercerem compressão sobre os tecidos retrodiscais. A amplitude desse movimento é muito pequena devido à parede anterior do meato acústico externo. Atuam os músculos elevadores e fibras horizontais do temporal. - Protrusão Na protrusão, há uma paralização das forças que provocam a retrusão e uma resistência dos tecidos retroarticulares. Para que o contato dental se mantenha, é necessária a contração dos músculos elevadores. - Intrusão A intrusão caracteriza-se pelo aumento do tônus dos músculos elevadores, bem diferente da situação em que eles se encontram na posição de relação cêntrica, em que estão numa leve contração muscular. Durante o movimento, há uma modificação do tamanho e da forma do ligamento periodontal e projeção dental. O constante movimento de intrusão pode levar à disfunção dos músculos mastigatórios, comprometendo o funcionamento mandibular. Esse assunto será abordado no estudo das desordens temporomandibulares. - Extrusão A extrusão consiste em um leve abaixamento mandibular sem, portanto, interromper o contanto dental. Há recuperação da forma e do tamanho do ligamento periodontal e retorno do dente à posição inicial devido à descompressão do disco articular. Fica evidenciada a necessidade dos conhecimentos anatômicos e funcionais da articulação temporomandibular para melhor entendimento de seus padrões de normalidade bem como de suas alterações, contribuindo para o estabelecimento do diagnóstico e melhor proposta terapêutica. Desordens temporomandibulares Terminologia O termo utilizado para designar os distúrbios funcionais do sistema mastigatório vem apresentando grandes mudanças ao longo do tempo. Em 1934, COSTEN foi quem primeiro associou dor de ouvido a distúrbios funcionais do sistema mastigatório. A partir desse fato, desenvolveu-se o termo “Síndrome de Costen”. Com o passar dos anos, muitas teorias surgiram e, com isso, novos termos apareceram. Em 1959, SHORE, citado por OKESON (1992), introduziu o termo síndrome da disfunção da ATM. Em seguida, surgiram alguns termos decorrentes do principal sintoma (dor), como: síndrome da disfunção com dor, síndrome da dor-disfunção miofacial e síndrome da dor disfunção temporomandibular. Outros termos foram decorrentes dos fatores etiológicos prováveis: distúrbio ocluso mandibular e mioartropatia da ATM. Alguns autores consideram que esses termos são limitados e sugerem um termo mais amplo tal como desordens craniomandibulares. No entanto, o termo sugerido por Bell, desordens temporomandibulares, tornou-se popular e foi adotado pela American Dental Association (ADA). Ele não engloba apenas problemas restritos às articulações, mas inclui todos os distúrbios associados com a função do sistema mastigatório (OKESON, 1992). Conceito As desordens temporomandibulares (DTMs) são caracterizadas como doenças que envolvem vários problemas clínicos, comprometendo os músculos da mastigação; a ATM e estruturas orofaciais associadas são as principais causas de dor de origem não-dental na região orofacial (ANELLI, 1997). Os sinais e sintomas mais freqüentes apresentados pelos pacientes com DTM são as dores nos músculos mastigatórios e nas ATMs, dores cervicais, ruídos durante os movimentos mandibulares, limitações ou assimetrias nesses movimentos, alterações funcionais, sintomas otológicos (FELÍCIO & MAZZETTO, 1994; GARCIA, MADEIRA, OLIVEIRA, 1995; RODRIGUES, 2000; BIANCHINI, 2000a), fratura de restaurações, briquismo, dor na mandíbula e sensibilidade dental (RODRIGUES, 2000). Os distúrbios temoromandibulares representam, coletivamente, distúrbios mandibulares músculo esqueletais que podem fazer parte de um sistema mais amplo e complexo do comportamento (ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1998). Epidemiologia Em estudos realizados por ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER (1998), os sinais e sintomas são encontrados em todos os grupos etários, sendo mais freqüente em indivíduos entre 20 e 40 anos de idade do sexo feminino, na proporção de 5:1. Os autores afirmam que os estudos populacionais indicam que cerca de 70% da população possuem um ou mais sinais de distúrbios temporomandibulares e musculares, sendo que um terço daqueles com sinais de DTM têm um ou mais sintomas. Acredita-se que sinais e sintomas temporomandibulares estão presentes em grande porcentagem na população dos países examinados. Entretanto, há discrepância significativa entre os indivíduos com sintoma e os que buscam tratamento. Em geral, os indivíduos não buscam tratamento para condições a que não estão acostumados ou não consideram como sendo importantes, a menos que a dor esteja envolvida (ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1998). Fatores etiológicos Conhecer os fatores etiológicos constitui um dos passos mais importantes no diagnóstico e tratamento das DTMs. Considera-se importante não só eliminar os sinais e sintomas, mas também o que causou o problema. A presença da causa pode funcionar como um fator agravante ou perpetuante do problema, por isso a necessidade de investigá-la e eliminá-la. O fator etiológico das DTMs encontra-se na literatura de forma bastante diversificada. De acordo com BIANCHINI (2000a), atualmente não existe uma etiologia única, sendo a disfunção um problema de etiologia multifatorial. Várias causas são capazes de reduzir a capacidade adaptativa do sistema e levar à disfunção, tais como: fatores traumáticos, problemas degenerativos, fatores oclusais, alterações esqueléticas, alterações parafuncionais, estresse e problemas emocionais. musculares, hábitos Baseado na literatura, MOLINA (1995) constata que as forças neuromusculares excessivas, o desequilíbrio oclusal e as alterações psicológicas, associadas ou não, são considerados fatores causadores de problemas na ATM. Esses três fatores também foram as principais causas apontadas por FELÍCIO (1994) e STEENKS & WIJER (1996). O fator causal mais importante das DTMs é o aumento do tônus muscular, associado ao bruxismo, devido às diversas combinações de tensão psíquica e interferências oclusais (GARCIA, MADEIRA, OLIVEIRA, 1994; MIRANDA, SCHWARTZ, CHAYER, citado por FELÍCIO, 1994; ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1998). A hiperatividade muscular, ressaltada como causa das DTMs, pode estar relacionada à má oclusão, ao estresse emocional, à tolerância fisiológica do paciente e à tolerância estrutural. Porém, essa não corresponde à única causa, as alterações estruturais nas articulações e nos músculos, criadas por trauma, a inflamação e as infecções podem também levar às desordens (OKESON, 1992). A higidez e a eficiência de todo o aparelho mastigatório do homem primitivo eram preservadas pelo simples fato de que o mesmo era utilizado em toda a sua plenitude funcional. Atualmente, os alimentos são selecionados, muitas vezes pela maior facilidade de serem mastigados ou, o que é pior, por dispensarem totalmente a mastigação. Esses fatores estão inteiramente relacionados à degeneração anátomo-funcional do aparelho mastigatório. Qualquer quebra na harmonia da oclusão dentária poderá provocar disfunção na ATM (SÁ LIMA, 1986/1987). PRENTISS (1918) acredita que a perda da dimensão vertical constitui a causa principal das desordens temporomandibulares. GREENE (1979) constata que qualquer alteração nos padrões de deglutição, respiração e postura de repouso das estruturas orofaciais modifica o equilíbrio das forças musculares e conseqüentemente o da ATM. Segundo CABEZAS (1997), as etiologias mais comuns das disfunções temporomandibulares correspondem ao trauma, hábitos parafuncionais, artrite reumatóide e hiperatividade muscular generalizada. Mudanças patológicas, como estrutural e lesões teciduais na ATM e no músculo, assim como hipertensão no sistema mastigatório e em outros músculos, podem ser considerados fatores primários no desenvolvimento de alterações da ATM. Tais fatores podem ser os causadores diretos dos sinais e sintomas da DTM, enquanto os fatores secundários são aqueles que produzem os primários, sendo classificados em local, psicológico e físico (AI, 1995). Classificação das temporomandibulares desordens Como não há uma terapêutica única para todas as desordens temporomandibulares, é importante o conhecimento aprofundado do clínico, envolvido no tratamento de pacientes com DTMs, sobre a fisiologia nos diversos problemas que acometem essa articulação. Muitas vezes, o tratamento indicado para uma patologia pode ser prejudicial para outra, sendo necessário identificar e conhecer cada tipo de alteração que modifica o funcionamento harmônico das ATMs. Segundo BIANCHINI (2000b), o diagnóstico é que irá guiar a necessidade, a hierarquia e a possibilidade dos trabalhos. É importante ressaltar que a escolha dos exercícios inadequados provocam prejuízos ao paciente. Portanto, é fundamental respeitar critérios rígidos e cuidados em sua escolha, sempre com base no diagnóstico, na interpretação do problema e na discussão do caso com o cirurgião dentista responsável pelo caso. É crucial o conhecimento da fisiologia dos exercícios e de sua aplicabilidade, pois existem casos de disfunção da ATM em que os exercícios são contra-indicados. OKESON (1992) considera a classificação das desordens proposta por Welden Bell, adotada pela Associação Dentária Americana (ADA), um auxílio importante para os clínicos na definição do diagnóstico. Será demonstrada a classificação das desordens temporomandibulares desenvolvida por Bell e modificada por OKESON (1992). Nessa classificação, todas as desordens estão separadas em cinco grandes categorias que possuem características clínicas similares, e cada uma delas é subdividida de acordo com as diferenças clínicas encontradas entre elas. É fundamental saber identificar e definir claramente cada subcategoria para que o tratamento seja, então, indicado. As falhas no tratamento são comumente atribuídas à utilização de uma técnica única para todos os pacientes de uma categoria. Referindo-se à localização da desordem, pode-se classificar essas cinco grandes categorias, descritas por OKESON (1992), em dois grandes grupos: extra-articular (fora da cápsula articular), composto pela desordem dos músculos mastigatórios, e intra-articular (dentro da cápsula articular), composto pelas desordens de interferência no disco, desordens inflamatórias, desordens de crescimento e hipomobilidade mandibular crônica. a) Desordens extra-articulares 1 – Desordens dos músculos mastigatórios Nas desordens musculares, os sintomas mais freqüentes são dores nos músculos mastigatórios e em outras estruturas do sistema estomatognático, dores pré-auriculares e sensação de plenitude auricular, limitação dos movimentos mandibulares, não havendo, porém, alteração do complexo côndilo-disco (FELÍCIO, 1999). De acordo com OKESON (1992), dor e disfunção são os dois grandes sintomas das desordens musculares. A dor corresponde à queixa mais comum e, quando ela se origina nos tecidos musculares, é chamada de mialgia, que está diretamente relacionada à função muscular. O outro sintoma, a disfunção, caracteriza-se pela diminuição no grau de movimento mandibular. O autor descreve quatro diferentes tipos de desordens musculares: contratura muscular, mio-espasmo, miosites e dor miofacial de pontos álgicos. 1. Contratura muscular Para OKESON (1992), a contratura muscular refere-se a uma condição hipertônica involuntária, induzida pelo Sistema Nervoso Central (SNC), causada por qualquer alteração nos impulsos sensoriais ou proprioceptivo. O SNC recruta mais unidades motoras para participar das contrações e relaxamentos, resultando em estado exagerado de tônus muscular (OKESON, 1992). A contratura dos músculos mastigatórios consiste em uma reação normal a qualquer mudança no sistema mastigatório que pode ser percebida como uma ameaça à sua integridade. Seu principal sintoma é a mialgia, que se manifesta apenas quando o músculo envolvido é usado. Não há comprometimento nos movimentos mandibulares, uma vez que não há evidência de disfunção estrutural desses músculos (OKESON, 1992). 2. Mio-espasmos Os mio-espasmos são contrações musculares, involuntárias induzidas pelo SNC, causadas pela contratura muscular, pelo aumento do estresse emocional e pela dor profunda constante. O SNC recruta unidades motoras para contrações contínuas, sendo esse um tipo de desordem bem diferente da contratura muscular. Havendo contração contínua dos músculos, sem ocorrer relaxamentos, haverá encurtamento clínico do comprimento muscular, caracterizando uma disfunção estrutural do músculo, desencadeando o principal sintoma clínico dessa desordem – limitação na abertura mandibular (OKESON, 1992). 3. Miosite Conforme OKESON (1992), a miosite consiste em uma inflamação dentro do tecido muscular, causada por mio-espasmos prolongados. A infecção generalizada de estruturas vizinhas também corresponde a uma das causas da miosite, sendo essa menos comum. A mialgia é constante, mesmo quando os músculos estão em repouso. O autor acrescenta que esse tipo de desordem é diferente dos anteriores, contratura e mio-espasmo, uma vez que o problema envolve mudanças no tecido muscular e não no SNC. Sendo necessário, nesse caso, o tratamento local. 4. Dor miofacial de pontos álgicos Diferente das desordens anteriormente citadas, a dor miofacial de pontos álgicos não faz parte da série de desordens musculares progressivas, apresentando-se clinicamente distinta das demais. Essa subcategoria consiste em um tipo de desordem que exige maiores estudos por ainda não ser completamente entendida. A dor miofacial é uma desordem dolorosa em uma determinada região do músculo, caracterizada por sensibilidade e dor muscular localizada, sendo também uma das causas mais comuns de dor persistente na região orofacial (FRICTON, 1991). As áreas hipersensíveis dos músculos, chamadas áreas gatilho, pontos álgicos ou “trigger points”, referem-se aos locais de origem da dor miofacial. Essas áreas são freqüentemente sentidas como regiões rígidas que, quando palpadas, desencadeiam a dor. A natureza do ponto álgico ainda é desconhecida. Porém, segundo OKESON (1992), autores sugerem que certas terminações nervosas nos tecidos musculares podem tornar-se sensibilizadas por substâncias algógenas, que criam uma zona delimitadas de hipersensibilidade. A presença de uma fonte de dor profunda, o estresse ou sobrecarga muscular, podem promover o desenvolvimento dos pontos álgicos. Os pontos álgicos são fonte de constante dor profunda e, com isso, podem produzir efeitos excitatórios centrais, manifestando-se como dor reflexa. Essa corresponde à sua principal característica (OKESON, 1992). Os pontos álgicos são ativados especialmente por sobrecarga, fadiga, trauma, resfriamento, moléstia visual, artrite e angústia emocional. Os pontos de desencadeamento secundários podem se desenvolver em músculos sinérgicos, enquanto pontos de desencadeamento satélites podem acontecer dentro da zona de referência da dor (TRAVELL & SIMONS, 1993). Considera-se importante uma atenção especial do clínico quanto às queixas referidas pelo paciente, pois ele tende a dirigir a atenção para o lado da dor e não para a fonte da dor, locais em que muitas vezes não são coincidentes. Para haver eficácia do tratamento, é necessário buscar a verdadeira origem da dor. B) Desordens intra-articulares Com base em Okeson (1992), as desordens intra-articulares e as desordens das estruturas associadas podem ser classificadas como: desordens de interferência no disco, desordens inflamatórias, desordens de crescimento e hipomobilidade mandibular crônica. 11 – Desordens de interferência no disco As desordens de interferência no disco correspondem às alterações no funcionamento do complexo côndilo-disco. OKESON (1992) classifica essa desordem em quatro categorias: incoordenação do complexo côndilo-disco, incompatibilidade estrutural das superfícies articulares, subluxação e deslocamento espontâneo. 1. Incoordenação do complexo côndilo-disco De acordo com OKESON (1992), esse tipo de desordem pode aparecer após um colapso da função de rotação normal do disco no côndilo, provocado por alongamento dos ligamentos colaterais do disco e da lâmina retrodiscal inferior, assim como por afinamento da borda posterior do disco. Considera-se o trauma o fator etiológico mais comum da alteração funcional do complexo côndilo-disco. O macrotrauma, como uma pancada na mandíbula e o microtrauma, como uma hiperatividade muscular crônica, são considerados as principais causas dessa alteração. O autor classifica a incoordenação do complexo côndilo-disco em três diferentes tipos: desalojamento do disco, deslocamento do disco com redução, e deslocamento do disco sem redução. 1.1 Desalojamento do disco O disco mantém sua posição no côndilo devido à sua morfologia e aos seus ligamentos. Se a morfologia está alterada e o ligamento colateral e a lâmina retrodiscal inferior, alongados, possibilitam que haja o deslizamento do disco sob a superfície articular do côndilo. A hiperatividade muscular faz com que o músculo pterigóideo lateral superior puxe o disco, posicionando-o anteriormente. Caso essa posição do disco permaneça por muito tempo, poderá provocar um estreitamento da borda posterior do disco, deslocando-o numa posição mais anterior (OKESON, 1992). É provável ocorrer um desvio translatório anormal do côndilo sobre o disco durante a abertura bucal decorrente da localização mais posterior de descanso do côndilo sobre o disco. O estalido é um sinal que pode também estar associado ao desalojamento do disco, podendo ser único, somente durante a abertura, ou recíproco, estalido na abertura e no fechamento bucal (OKESON, 1992). 1.2 Deslocamento do disco com redução Caso a lâmina retrodiscal inferior e os ligamentos colaterais do disco se tornem mais alongados e a borda posterior do disco, mais fina, o disco pode ser puxado completamente, localizando-se ântero-mesialmente em relação ao côndilo (OKESON, 1992). No deslocamento do disco com redução, a relação côndilo-disco fina alterada com a boca fechada, mas torna-se normal quando a boca está completamente aberta. Durante a abertura bucal, a translação do côndilo para a frente impacta contra a parte posterior do disco e o traciona, produzindo um estalo. Durante o fechamento, o disco desloca-se para a frente do côndilo, ocasionando outro estalo. A abertura bucal é normal devido à recapturação do disco, no entanto desvio no movimento de abertura e fechamento bucal podem ser observados (FELÍCIO, 1999). Anatomicamente, o clique (estalo) na abertura corresponde à redução do disco para uma posição mais normal. O clique de fechamento (clique recíproco) corresponde à falha do disco em se manter na posição normal entre a cabeça do côndilo e a eminência articular, e o deslizamento para a frente para uma posição deslocada anteriorizada. A crepitação pode estar presente e geralmente resulta da movimentação articular através das superfícies articulares (TUCKER & DOLWICK, 2000). 1.3 Deslocamento do disco sem redução Nesse caso, a recaptura do disco não é mais possível. A elasticidade da lâmina retrodiscal superior encontra-se danificada, dificultando o retorno do disco à posição normal durante a abertura. Como não há mais redução do disco articular durante o movimento, não há ruído articular. No entanto, há limite na função mandibular, pois a posição do disco não permite a translação completa do côndilo (OKESON, 1992). A abertura mandibular apresenta-se reduzida, em torno de 25-30 mm, o que corresponde à rotação máxima da articulação. Na lateralidade, o movimento está normal para o lado comprometido, porém limitado para o lado contra-lateral, uma vez que o movimento para esse lado exige translação do côndilo do lado afetado. A dor é comumente associada ao deslocamento sem redução devido à compressão do côndilo nos tecidos retrodiscais, área bastante invervada e vascularizada. Outro sinal observado em pacientes com essa desordem é o desvio mandibular, durante o movimento de abaixamento, para o lado da ATM afetada (OKESON, 1992). 2. Incompatibilidade Estrutural das Superfícies Articulares Aderência e alteração na forma correspondem aos dois tipos de incompatibilidade estrutural das superfícies articulares. Nesses casos, as superfícies de trajeto estão alterados a ponto de inibir a função articular. 2.1 Aderência De acordo com OKESON (1992), a presença de uma contínua carga estática na articulação (bruxismo ou apertamento noturno, por exemplo) pode provocar uma deficiência na lubrificação da ATM. Havendo pouca ou nenhuma quantidade de líquido sinovial nas superfícies articulares, é possível ocorrer um “colamento” entre essas superfícies, o que se chama de aderência. Esse “colamento” entre as superfícies pode ser temporário ou permanente. No primeiro caso, após um período de sobrecarga, um estalido único pode ocorrer no momento da abertura bucal, fazendo voltar a amplitude normal do movimento. A aderência é desobstruída pela lubrificação do líquido sinovial da periferia. Já no segundo caso, o movimento mandibular não retorna mais ao normal, a aderência fixa as superfícies articulares reduzindo a função mandibular. A dor pode estar presente pela tentativa de aumentar a abertura, alongando os ligamentos. OKESON (1992) escreve que a aderência pode ocorrer entre o disco e o côndilo (compartimento inferior) ou entre o disco e a fossa (compartimento superior). Quando a aderência é no compartimento superior, a translação do complexo côndilo-disco fica impedida, limitando-se ao movimento de rotação. Dessa forma, a abertura mandibular corresponde a 25-30 mm, assemelhandose ao deslocamento do disco sem redução, porém, diferencia-se dele por não apresentar dor intra-articular. Quando a aderência é no compartimento inferior, não há movimento de rotação, porém permanece normal o movimento de translação. O paciente é capaz de abrir a boca numa distância interincisal normal, mas sente travamento no trajeto de abertura máxima O autor ressalta que a aderência por tempo prolongado no compartimento superior pode provocar um deslocamento posterior do disco por um alongamento do ligamento lateral e capsular anterior. Estando o disco deslocado, o movimento de abertura apresenta pouca ou nenhuma restrição. No entanto, durante o fechamento, o paciente refere dificuldade em colocar os dentes de volta em oclusão, realizando desvios mandibulares que representam o movimento do côndilo sobre a borda anterior do disco e o retorno à zona intermediária. 2.2 Alteração da forma Mudanças morfológicas nas superfícies articulares (côndilo, disco e fossa) podem provocar uma incompatibilidade estrutural da ATM, acarretando disfunções na trajetória do movimento. A maioria das alterações na forma causam disfunção em um determinado ponto da abertura e fechamento que correspondem ao local da incompatibilidade estrutural da articulação. Passando esse ponto, o trajeto assume um relacionamento da linha média mais normal. O local do desvio não é modificado quando alterada a forma, a velocidade e a força na abertura. Diferente no deslocamento anterior do disco, onde a mudança da velocidade e a força de abertura podem alterar a distância interincisal do estalido (OKESON, 1992). Protuberância óssea no côndilo e achatamento no côndilo ou na fossa correspondem às alterações na forma das superfícies ósseas. No disco, a alteração inclui o afinamento das bordas e perfurações (OKESON, 1992). 3. Subluxação Para OKESON (1992), essa desordem é um fenômeno clínico repetitivo que não sofre modificações com alterações na velocidade ou força de abertura. Consiste em um movimento normal da articulação na presença de certas características anatômicas, sem qualquer relação com condições patológicas da ATM. Corresponde a um movimento anterior repentino do côndilo-disco durante o último estágio da abertura bucal. Quando o côndilo-disco se move além da crista da eminência, ele pula para a frente para a posição de abertura maior, posição máxima de translado. O autor relata que a dor geralmente não está presente, porém ela pode estar quando esse movimento é freqüente. O trajeto da linha média na abertura mandibular desvia próximo à posição de abertura máxima e retorna à medida que o côndilo se move sobre a eminência articular. Quanto ao ruído articular, alguns pacientes revelam apresentar estalido, sendo diferente do estalido provocado no deslocamento do disco com redução. O ruído articular na subluxação caracteriza-se por um ruído surdo, baque surdo. 4. Deslocamento espontâneo Deslocamento espontâneo, também denominado luxação, ocorre quando, na abertura máxima, o côndilo passa da eminência articular e não retorna, ocorrendo um travamento no final desse movimento, sem possibilidade de fechamento bucal. FELÍCIO (1999) explica que a luxação ocorre quando o movimento de translação é amplo, levando o côndilo além da eminência articular, ou também pela variação anatômica na forma da fossa articular do osso temporal e da parede anterior da eminência articular. TUCKER & DOLWICK (2000) explicam que o deslocamento do côndilo pode ser uni ou bilateral e pode ocorrer espontaneamente após ampla abertura da boca, como acontece durante o bocejo, ao comer, ou em uma intervenção odontológica. De acordo com OKESON (1992), pacientes que apresentam subluxação têm predisposição a apresentar luxação. A dor é um sintoma sempre presente em decorrência do alongamento do músculo temporal anterior, dos ligamentos e da contração do músculo pterigóideo lateral, necessitando de intervenção imediata (OKESON, 1992). Após a manipulação de reposicionamento mandibular, a sintomatologia reduz significativamente. 111. Desordens inflamatórias Conforme OKESON (1992), as desordens inflamatórias são classificadas de acordo com as estruturas envolvidas: sinovites ou capsulites, retrodiscites, doença articular degenerativa e artrite inflamatória. A dor contínua e profunda constitui característica importante dessas desordens, podendo produzir um efeito excitatório central secundário. Sinovite ou capsulite consistem, respectivamente, na inflamação dos tecidos sinoviais e do ligamento capsular. São processos inflamatórios secundários a traumas, micro ou macrotrauma, ou a inflamação de estruturas adjacentes. A dor na área articular está presente, acarretando mio-espasmo e, conseqüentemente, limite na abertura mandibular. Retrodiscite é a inflamação dos tecidos retrodiscais. As fases progressivas do deslocamento do disco podem danificar os tecidos retrodiscais (microtrauma), como também uma pancada no queixo (macrotrauma). A dor é constante, origina-se na área articular e aumenta com o movimento mandibular, acarretando limite no movimento mandibular. Apesar de a doença articular degenerativa estar enquadrada na classificação das desordens inflamatórias, ela não corresponde a um processo inflamatório, mas a uma deterioração das superfícies articulares e suas estruturas ósseas subjacentes. A doença articular degenerativa consiste no aumento das forças aplicadas às superfícies articulares, excedendo a capacidade de remodelação condilar. A dor é freqüente, sendo agravada com o movimento mandibular, ocasionando limite na abertura bucal. O ruído articular, tipo crepitação, pode ser um sinal observado pelo terapeuta. A artrite inflamatória corresponde à inflamação das superfícies articulares, que pode ser traumática, infecciosa e reumatóide. Nos dois primeiros tipos, as queixas relatadas pelos pacientes são artralgias constantes, acentuando-se com o movimento e limite da abertura bucal, o qual é secundário à dor. A artrite reumatóide consiste na inflamação das membranas sinoviais de todas as articulação do corpo, inclusive da ATM, que se tornam espessas e doloridas. Caracteriza-se por perda de suporte posterior e ma oclusão repentina. IV. Desordens de crescimento Hipoplasia, hiperplasia e neoplasia estão incluídas na variedade de etiologias das desordens temporomandibulares resultantes de distúrbios de crescimento. Outro fator etiológico consiste no trauma, que pode acarretar em grandes más oclusões. Podem estar presentes as alterações funcionais, a dor e a assimetria facial. V. Hipomobilidade mandibular crônica A hipobilidade mandibular crônica consiste em uma restrição indolor de longa duração. De acordo com a etiologia, pode ser classificada em contratura muscular, fibrose capsular, impedimento pelo processo coronóide e anquilose. De acordo com OKESON (1992), a contratura muscular pode ser miostática, resultado de um alongamento muscular por um período prolongado, ou miofibrótica, resultado de uma excessiva aderência tecidual dentro do músculo ou do revestimento. A Segunda normalmente precede uma miosite ou trauma do músculo. O autor explica que a fibrose capsular, como o nome explica, consiste na fibrose do ligamento capsular. A inflamação e o trauma correspondem aos principais fatores etiológicos. Caracteriza-se por restrição em todos os movimentos mandibulares e desvio da trajetória da linha média, durante a abertura, para o lado comprometido, quando a fibrose é unilateral. O impedimento pelo processo coronóide consiste em uma alteração anatômica, processo longo ou fibrose na área, que inibe o movimento mandibular. Trauma, processo infeccioso e intervenção cirúrgica podem causar impedimento coronóide. Todas essas condições podem estar relacionadas com um deslocamento crônico do disco. Há limitação em todos os movimentos mandibulares, especialmente na protrusão. Se o problema é unilateral, o desvio da linha média durante a abertura para esse lado estará presente (OKESON, 1992). Quanto à anquilose, TUCKER & DOLWICK (2000) classificam-na em anquilose intracapsular e extracapsular. A primeira consiste na fusão do côndilo, disco e fossa, resultando na formação de um tecido fibroso, ósseo ou uma combinação de ambos. As causas principais são os macrotraumas, infecções e intervenção cirúrgica. Já no segundo tipo, há envolvimento do processo coronóide e do músculo temporal. A hiperplasia do processo coronóide, o traumatismo na região zigomática e infecções em torno do músculo temporal correspondem às principais causas dessa alteração. De acordo com TUCKER & DOLWICK (2000), as características clínicas da anquilose são: restrição da abertura máxima, desvio mandibular para o lado afetado e diminuição da excussão lateral para o lado contralateral. Os autores ressaltam que no caso de anquilose extracapsular há limitação de abertura, sendo extremamente rara a restrição completa da abertura bucal na intracapsular. Estudar a fisiopatologia das diversas desordens que acometem as ATMs corresponde a um passo de grande importância para o diagnóstico preciso. O conhecimento dos fatores etiológicos, dos sinais e sintomas clínicos e das estruturas comprometidas em cada uma dessas alterações auxilia a compreensão dos dados obtidos na realização da anamnese e avaliação clínica, que são muito importantes para a elaboração do diagnóstico. Diagnóstico diferencial Vários sinais e sintomas podem ser observados em pacientes com desordem temporomandibular (DTM), porém, em sua grande maioria, estão presentes dor na cabeça e no pescoço, movimentos mandibulares limitados e/ou sons na ATM. Além desses, podem-se também encontrar sintomas na cavidade oral, no ouvido ou no nariz, ou mesmo sintomas psicológicos ou mais extensivamente físicos (AI, 1995). Apesar de se apresentarem bem definidos, alguns desses sinais e sintomas, especialmente a dor e os sintomas otológicos, também se manifestam em outras patologias que acometem o organismo, dificultando a elaboração do diagnóstico. Diante desse fato, torna-se necessário, além de um histórico e um exame clínico detalhado, a realização de um diagnóstico diferencial com o intuito de identificar os pacientes que realmente apresentam DTM dentre os que não apresentam, mas possuem outra patologia e precisam de tratamento específico, portanto devem ser encaminhados para um especialista da área. Diagnóstico diferencial é a possibilidade que o profissional da área de saúde tem, baseado em exames de diferentes tipos, de interpretá-los e determinar qual entre duas ou mais condições diferentes, com sintomas semelhantes, é a que afeta o paciente. O processo de diagnóstico é uma habilidade, na qual a arte e a ciência estão unidas (BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). Por existir uma estreita relação dos sinais e sintomas das DTMs com outras estruturas do corpo, o diagnóstico diferencial ultrapassa os limites de várias especialidades, sendo necessário o trabalho em conjunto de todos os profissionais integrantes da equipe multidisciplinar. Essa seria a melhor condição para ampararmos pacientes portadores de enfermidade tão complexa. Por ser a dor e as alterações otológicas os sinais e sintomas que mais causam dúvidas no diagnóstico diferencial, é importante realizar um breve estudo sobre dor-DTM e alterações otológicas-DTM, ressaltando algumas diferenças de como esses sinais e sintomas apresentam-se quando decorrentes de problemas nas ATMs e de outras estruturas do corpo humano. Alterações otológicas COSTEN (1934) foi o primeiro a associar queixas otológicas à má oclusão. O autor ressalta que a perda de suporte dental posterior pode provocar compressão da tuba auditiva, pressão no nervo corda do tímpano e/ou pressão no nervo auriculotempororal. ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER (1998) associam os sintomas auditivos subjetivos à íntima relação anatômica e ontogenética entre o ouvido médio e estruturas mastigatórias. Tanto ARLEN como MYRHAUGH, citados por FELÍCIO et al. (1996), concordam e explicam que os espasmos dos músculos mastigatórios podem dissipar para o músculo tensor do véu palatino, prejudicando sua atuação na abertura da tuba auditiva e, com isso, provocar pressão nos ouvidos, desequilíbrio e perda auditiva. ANGELI, FERREIRA- JERONYMO, FELÍCIO (1999) acrescentam que esses sintomas, somados à otalgia, ao zumbido e à vertigem, fazem parte da variedade de sintomas que têm exigido dos especialistas empenho e conhecimento, no sentido de realizarem o diagnóstico diferencial e o tratamento adequado. FELÍCIO et al. (1999a) estudaram a relação dos sintomas auditivos com as DTMs, e compararam tais sintomas antes e após o tratamento oclusal. A partir de tal estudo, os autores verificaram mudanças positivas desses sintomas com o uso da placa oclusal. Observaram alívio e remissão deles, inclusive em pacientes que possuíam perdas auditivas. A otalgia foi o sintoma que apresentou melhor resultado, seguido de tontura, zumbido e plenitude auricular. A partir de estudos realizados por FELÍCIO et al. (1999b), foi possível observar diferenças significantes entre os pacientes com DTM e os pacientes com alterações otológicas, quanto aos seguintes aspectos: sexo, faixa etária, queixas relatadas pelos pacientes, resultados da avaliação otorrinolaringológicas e características do zumbido, fornecendo importantes subsídios para o diagnóstico diferencial. ASPECTOS OBSERVADOS DTM ALTERAÇÕES OTOLÓGICAS Sexo Feminino Não houve predomínio quanto ao sexo Faixa etária Maior número de pacientes adultos jovens Menor número de pacientes adultos jovens Queixas Avaliação ORL Dor na região da mandíbula, ATM, otalgia, plenitude auricular e zumbido Zumbido, sensação de diminuição auditiva e discriminação auditiva Avaliação ORL normal ou pequenas alterações Alterações otológicas com exames indicativos de perdas neurossensoriais de grau leve a moderado Não é queixa principal; Queixa principal; interfere nas não interfere nas atividades da vida diária; Características do zumbido atividades da vida diária; freqüência predominante zumbido de alta aguda, porém também foram freqüência; contínuo; relatados sons graves; esporádico; curta duração; zumbido interrupto; intensidade moderada. intenso/muito intenso; contínuo ou pulsátil. Pode-se observar que, apesar de apresentar, tanto nas DTMs como nas patologias próprias do ouvido, manifestações clínicas auditivas, os sinais e sintomas possuem características diferentes, o que facilita ao clínico identificar tais grupos de pacientes. Os autores constataram que, embora de modo leve e não-significativo, a DTM afeta os limiares tonais aéreos e o reconhecimento de fala, o que condiz com as queixas, como dificuldade para ouvir e sensação de ouvido tampado, levantadas pelos pacientes. De acordo com ANGELI, FERREIRA-JERONYMO, FELÍCIO (1999), otalgia, plenitude auricular e diminuição auditiva correspondem a sintomas que estão, muitas vezes, presentes nas DTMs, mas que também caracterizam algumas patologias do ouvido, como: otite, tumor de orelha média e disfunção tubária. Da mesma forma, zumbido, diminuição da audição, tontura e vertigem, podem se manifestar tanto em alterações na ATM como no próprio ouvido relacionados a problemas centrais ou labirínticos (doença de Menière), neurinoma do acústico, otosclerose, presbiacusia, trauma acústico e perda auditiva induzida por ruído – PAIR. Somente com o diagnóstico diferencial entre os dados oclusais, avaliação otorrinolaringológica, juntamente com a audiológica realizada pelo fonoaudiólogo, é que patologias auditivas podem ser descartadas (FELÍCIO et al, 1996). Essas diferenças nos fornecem subsídios importantes para identificar e caracterizar cada grupo de pacientes com e sem problemas nas articulações. No entanto, acredita-se que esses não devem ser os únicos parâmetros relevantes no diagnóstico diferencial, pois existem patologias auditivas coexistindo com a DTM, sem relação de causa e efeito (FELÍCIO et al, 1999b). Dor Diversos trabalhos têm demonstrado que um dos principais sintomas das DTMs são as dores na região das ATMs, e as dores de cabeça, que normalmente correspondem ao motivo pelo qual o paciente procura o tratamento. A complexidade do esqueleto craniofacial é tanta que inúmeras causas (neurológicas, endocrinológicas, vasculares, glandulares, neoplásicas, entre outras) podem provocar sintomatologia dolorosa semelhante às DTMs. Diante desse fato, o diagnóstico requer a participação de uma equipe multidisciplinar. A dor não é apenas um sintoma físico, independente, dentro da complexidade do ser humano, e assim tem origens e reflete, qualquer que seja a causa, na maneira como a pessoa percebe a si própria, ao mundo que a rodeia e como reage frente às situações da vida (FELÍCIO & MAZZETTO, 1994). A dor física expressa – do mesmo modo que o grito impõe a dor da alma – uma advertência do organismo para que atitudes possam ser imediatamente tomadas, e dessa forma parece evidente a finalidade da dor, uma vez que seu interlocutor possa, em benefício próprio, tornar-se, quando bem dirigido, um cuidadoso intérprete do próprio sofrimento (RODRIGUES, 2000). Por ser a dor um sintoma altamente subjetivo e, dessa forma, de difícil avaliação, é necessário um estudo detalhado sobre o assunto. O conhecimento das características da dor, decorrente da disfunção temporomandibular, bem como de outras patologias, auxilia na identificação da origem da dor. Assim, é importante uma abordagem detalhada desse sintoma durante a anamnese e exame clínico. DAMANTE (1990a) descreve quatro principais questionamentos que devem ser feitos ao paciente para conhecer as características da dor. Onde dói? Quando dói? Como dói? Há quanto tempo dói? Quando o local da dor é indicado pelo paciente por um dedo, pensa-se numa dor localizada, mas quando toda a mão é usada, pode indicar dor irradiada. Dores com locais bem definidos podem sugerir processo agudo, e as dores que afetam toda uma área ou possuem características radiantes são em geral de origem muscular. O profissional deve pesquisar se a dor é unilateral, bilateral, localizada ou difusa, ou ainda se o local é ou não a fonte da dor. Dores viscerais são mais profundas e difusas, enquanto dores esqueléticas são mais superficiais e localizadas (BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). O tipo de dor relatada é de grande auxílio para o diagnóstico e permite determinar sua origem. A partir dessa característica é, quase sempre, possível identificar se a dor é somática, visceral ou neurogênica, se é decorrente de processos inflamatórios, infecciosos ou traumáticos; e se ocorre espontaneamente ou precisa ser estimulada. As dores descritas como punhalada, facada, fisgada são ditas “terebrantes” e exprimem a sensação de perfuração que, juntamente com a dor tipo choque elétrico, fazem pensar em nevralgias. As dores latejantes ou pulsáteis lembram dor vascular e podem sugerir processo inflamatório agudo ou enxaquecas. As dores descritas como maçantes, persistentes, aborrecidas, surdas, opacas ou cansadas, em geral, não são dores fortes demais, nem agudas, incomodam mas não impedem a atividade do paciente, lembram dores musculares. As dores com sensação de dormência podem estar associadas ao crescimento de processos tumorais, que comprimem filetes nervosos (DAMANTE, 1990a; BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). De acordo com DAMANTE (1990a), um paciente com hábitos paranormais de apertamento noturno ou bruxismo tem dor matinal, enquanto o portador de síndrome da dor e disfunção da ATM, provocada por contatos deflectivos e desvios mandibulares, pode ter dores vespertinas. Na nevralgia do trigêmio, a dor não tem hora. O estudo da evolução da dor traz aspectos interessantes ao diagnóstico e mesmo ao prognóstico dos processos patológicos. Pacientes crônicos são aqueles que apresentam sintomas por um período maior que três a seis meses. Para esses casos, deve-se perguntar como os sintomas têm evoluído nos últimos meses. A dor aguda é um importante sinal de perigo, portanto útil ao paciente. É, em geral, de duração breve e bem definida, enquanto a dor orofacial crônica é freqüentemente de natureza obscura e difícil de ser descrita (BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). DAMANTE (1990a) constata a variedade de início e evolução da dor e exemplifica a dor súbita gerada por um aneurisma cerebral, a dor inicialmente lenta que vai aumentando em intensidade nas enxaquecas e a dor espontânea na pulpite. A intensidade da dor pode também variar em gradação, sendo suportável em dores musculares e insuportável nas nevralgias. Com base na literatura, serão descritas algumas características da dor nas disfunções temporomandibulares. A dor da DTM é freqüentemente bilateral, porém é sempre mais intensa de um lado que do outro. Não apresenta zonas desencadeantes, está relacionada à função e não apresenta sensação de parestesia. É crônica e tem início vago. Não é do tipo queimação, é de intensidade variável e pode estar relacionada a trismo e luxação (MOLINA, 1995). A dor pode aumentar em duração e intensidade durante a mastigação de alimentos duros, durante a função prolongada, como mastigação, fonação e deglutição, e durante a manipulação mandibular (MOLINA, 1995; AI, 1995; BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). Segundo AI (1995) e GUIMARÃES (2000), a dor é usualmente localizada em áreas relacionadas com ATM e músculos mastigatórios. Para GREENE et al., citado por DAMANTE (1990c), ela varia da porção posterior da cabeça e do pescoço até a região temporal superiormente e ângulo da mandíbula inferiormente, sendo a região pré-auricular a área algógena mais citada. As dores de cabeça provocadas por disfunções intra-articulares são descritas pelo paciente como severas, unilaterais, constantes, de ocorrência diária sobre a região da ATM e podem irradiar-se para as têmporas, abaixo e atrás do olho, ao redor do ouvido e áreas occipitais e cervicais. Já as dores de disfunções musculares são descritas como surdas, constantes, não-pulsáteis, irradiadas, que podem tornar-se agudas durante os movimentos mandibulares. Podem durar horas e são aliviadas com o uso de analgésicos, relaxantes musculares e repouso (BRUNETTI & OLIVEIRA, 1995). Diagnóstico fonoaudiológico É importante ressaltar que o diagnóstico fonoaudiológico das desordens temporomandibulares não está restrito a um simples preenchimento de questionário referente à anamnese e avaliação. O diagnóstico é muito mais amplo e complexo, e sua elaboração requer o conhecimento do assunto. O conhecimento prévio da anátomo-fisiologia da ATM e dos processos fisiopatológicos das DTMs permite ao fonoaudiólogo identificar e compreender os sinais e sintomas dessa patologia, bem como relacioná-los aos possíveis fatores etiológicos. Além desses importantes conhecimentos, é fundamental que o fonoaudiólogo saiba conduzir uma boa anamnese e uma boa avaliação e realize um trabalho em conjunto com uma equipe multidisciplinar. Estas consistem nas fases mais difíceis, porém mais importantes para elaboração de um diagnóstico preciso e, conseqüentemente, um tratamento específico. Acredita-se que apenas através do diagnóstico apropriado um tratamento pode ser selecionado e instituído. MOLINA (1995) ressalta que muitos clínicos classificam um paciente “portador da síndrome da ATM” por apresentar apenas dor de cabeça, sem realizar um exame detalhado das outras estruturas envolvidas; ATM, pescoço e região superior da coluna vertebral. Iniciar um plano de tratamento imediatamente é, no mínimo, uma falta de responsabilidade e um convite ao fracasso. Didaticamente, o caminho para o diagnóstico fonoaudiológico divide-se em quatro passos principais. O primeiro passo é escutar a queixa principal e a história completa da evolução do problema relatada pelo paciente. O segundo corresponde à avaliação das estruturas e funções do sistema estomatognático. O terceiro refere-se ao estudo das informações anteriormente adquiridas, com o objetivo de analisar a relação de causa e efeito. Vale ressaltar que examinar não é apenas procurar possíveis alterações miofuncionais, mas compreender seu porquê. O quarto e último passo consiste na coleta e discussão dos dados obtidos a partir da relação com profissionais de outras modalidades para melhor entendimento do caso. Em cada um desses passos, o profissional une “peças” necessárias para a construção do diagnóstico final, assemelhando-se a um “quebra-cabeça”, onde uma informação isolada não tem significado algum. Esse é um trabalho difícil, que exige conhecimento e experiência clínica para associar as informações adquiridas e levantar hipóteses sobre as possíveis causas dos sinais e sintomas encontrados. É importante ressaltar que o diagnóstico requer certo tempo, várias sessões são necessárias para se obter a confirmação das hipóteses diagnósticas levantadas desde o primeiro encontro. Por ser a desordem temporomandibular um estudo ainda recente, muitas vezes a confirmação do diagnóstico é difícil, sendo necessário um tempo prolongado até que se analisem as respostas dadas pelo paciente a partir da(s) terapêutica(s) utilizada(s). Anamnese A anamnese compreende o conjunto de informações pertinentes à queixa principal e aos acontecimentos anteriores. Seu objetivo é documentar as informações necessárias e suficientes para o estabelecimento de uma correlação entre a história e a queixa principal do paciente, a fim de se determinar um diagnóstico (RODRIGUES, 2000). Anamnese é um momento valioso, pois é através dele que se obtém informações globais do paciente, sobre o que ele sente e como surgiu e evoluiu o seu problema. Por isso, é importante deixar que ele se sinta à vontade para que relate livremente o motivo pelo qual procurou o tratamento. Nesse momento, é fundamental ouvir o paciente, sua necessidade de falar, esclarecer e questionar e, assim, visualizá-lo em sua totalidade (ANELLI, 1997). Durante a anmenese fonoaudiológica, de acordo com a literatura, são abordados os seguintes aspectos: I – Identificação Data Nome Idade Profissão Encaminhado por II – Queixa e evolução do problema Nesse momento, é importante haver uma boa interação terapeutapaciente. O fonoaudiólogo deve proporcionar um ambiente favorável para que o paciente relate o principal motivo da consulta e como surgiu e desenvolveuse seu problema. Conhecer a história do paciente é compreender melhor seu problema. RODRIGUES (2000) acredita que, quando não se observa a história, pode-se fazer uma avaliação incompleta, um diagnóstico incorreto e uma terapia ineficaz. III – História e antecedentes É importante conhecer o estado de saúde geral do paciente e antecedentes médicos e odontológicos, tais como: traumas, infecções no ouvido, cirurgias faciais ou odontológicas, doenças reumáticas, sinusopatias, tumores, displasias, úlcera (Bianchini, 2000a; Rodrigues, 2000), diabetes, hipertensão e dores na coluna cervical (RODRIGUES, 2000). Julga-se necessário questionar a utilização de medicamentos, pois o paciente pode não referir dores constantes por estar freqüentemente medicado com analgésicos (BIANCHINI, 2000a). Esses dados auxiliam na elaboração de hipóteses diagnósticas sobre as possíveis causas e evolução do problema. IV –Descrição dos sintomas Esse é um momento importante, em que as características dos principais sinais e sintomas serão desvendadas. Perguntase ao paciente o que o incomoda, dirigindolhe questionamentos específicos sobre dor, ruído articular, sintomas auditivos e limitação dos movimentos mandibulares. É importante lembrar que, em muitos casos, apesar de o paciente não relatá-las, alguns desses sinais e/ou sintomas podem estar presentes, porém o mesmo não sente incômodo ou, talvez, já aprendeu a conviver com essas alterações. É necessário identificar e caracterizar os sinais e/ou sintomas relatados pelo paciente e observados pelo terapeuta com o intuito de descartar ou confirmar hipóteses diagnósticas. A presença dos sinais e sintomas e suas características auxiliam o profissional na compreensão do problema, considerado muito importante para o tratamento. RODRIGUES (2000) ressalta que a duração dos sintomas é o tempo de evolução da queixa principal, que pode variar de meses a anos. Quanto menor o tempo de evolução, melhor será o prognóstico, pois sintomas que persistem há mais de seis meses levam o caso a ser classificado como crônico e, portanto, o prognóstico será reservado. a) Dor A dor pode estar relacionada a algum processo inflamatório, de origem muscular ou articular, levando à redução ou à modificação dos movimentos (BIANCHINI, 1998a). É necessário investigar o início, a localização, a duração, a qualidade e a intensidade, os fatores desencadeantes e os de alívio da dor. Para conhecer melhor as características desse sintoma, existem quatro principais questionamentos que podem ser feitos ao paciente: onde dói? como dói? quando dói? há quanto tempo dói? (DAMANTE, 1990a). FELÍCIO (1999) ressalta que a maneira como cada um define sua dor pode variar, contudo essa definição é uma pista importante, inclusive para o diagnóstico diferencial de outras patologias, dentre elas a neuralgia do trigêmio e o neuroma do acústico. As características da dor de origem disfuncional da ATM e dos músculos associados, bem como as principais patologias que podem ser confundidas com a DTM foram abordadas em diagnóstico diferencial. b) Ruído articular Observar se há estalo ou crepitação e onde estão localizados (ATM direita/esquerda ou ambas) define, muitas vezes, o tipo de desordem apresentada. Quando o ruído articular está presente, é importante questionar e verificar sua intensidade, duração e freqüência. Muitos sons articulares podem ser facilmente audíveis sem o uso de instrumentos especiais e, portanto, sentidos durante a palpação da articulação (TUCKER & DOLWICK, 2000). Porém, os ruídos podem ser melhor interpretados com auxílio de um estetoscópio (DAMANTE, 1990c; TUCKER & DOLWICK, 2000) ou através da eletrovibratografia (MAZZETTO, 1998). DAMANTE (1990c) refere que a existência de qualquer ruído é suficiente para saber que está quebrada a relação de harmonia entre o músculo pterigóideo lateral, o menisco e o côndilo, indicando uma alteração intraarticular. No entanto, o mesmo autor afirma que a capacidade de adaptação individual é grande, razão pela qual o clique isolado de outros sintomas não tem valor, tal é a freqüência com que ocorre na população. O clique só tem significado quando acompanhado da dor, da limitação de movimento mandibular ou de ambos. WIDMALM, WILLIANS, YANG (1999) afirmam que o tipo e a localização do som articular constituem dados importantes no diagnóstico da DTM. O clique e a crepitação correspondem a dois tipos de ruído de diferentes processos fisiopatológicos da ATM. Quanto à localização, deve-se saber que o ruído no início do movimento tem significado diferente do ruído em seu final, sendo necessária uma atenção especial para tais características clínicas. c) Sintomas auditivos Os sintomas auditivos subjetivos estão associados à íntima relação anatômica e ontogenética entre o ouvido e as estruturas mastigatórias (ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1998). Portanto, alterações no sistema mastigatório podem desenvolver sintomas clínicos referentes ao ouvido. Como foi mostrado, em diagnóstico diferencial, a importância de conhecer as diferentes características clínicas referentes ao ouvido em pacientes com DTM, é necessário questionar a presença de problemas otológicos, como zumbido, plenitude auricular, vertigens, otalgia e acuidade auditiva, conhecendo a intensidade, duração e freqüência desses sintomas. Deve-se investigar e realizar um cuidadoso diagnóstico diferencial, com a participação de uma equipe multidisciplinar. d) Limitação dos movimentos mandibulares É importante perguntar ao paciente se apresenta dificuldade movimentos em mandibulares e realizar se há episódios de travamento ou luxação. Limite nos movimentos mandibulares pode indicar alteração muscular e/ou articular, podendo ou não estar associada à dor. V – Hábitos parafuncionais É importante questionar se o paciente apresenta algum tipo de hábito parafuncional - onicofagia; bruxismo ou apertamento dental; sucção de língua, bochechas, digital ou de objetos; hábito de morder lápis, lábios ou bochechas e posição inadequada de dormir e trabalhar – com o intuito de levantar hipóteses diagnósticas referentes à etiologia e aos fatores agravantes do problema. Os hábitos parafuncionais relacionados aos músculos da mastigação resultam em solicitação anormal desses que, estando em hiperfunção, podem apresentar sintomatologia dolorosa e diminuição da coordenação (BIANCHINI, 1998a). De acordo com MOLINA (1995), mastigação de objetos, roer e morder unhas, bruxismo diurno e noturno e sexo oral são os hábitos orais mais freqüentes relacionados aos fatores etiológicos da disfunção temporomandibular. BIANCHINI (2000a) refere ser comum a presença de ao menos um hábito deletério em praticamente todos os pacientes analisados. Alguns referem obter sensação de conforto ao apertar os dentes e o fazem repetidas vezes com esse intuito. Nessa situação, a autora julga ser fundamental uma explicação detalhada dos problemas envolvidos. VI – Tratamentos anteriores Muitos pacientes com DTM chegam à clínica fonoaudiológica sem esperança, pois já passaram por diversos especialistas e se submeteram a vários tratamentos com resultados ineficientes. É importante questionar o tipo de tratamento realizado e a resposta obtida. Dependendo do tipo e do grau de disfunção, muitas vezes, para se obter um resultado satisfatório, pode-se lançar mão de algumas das terapêuticas utilizadas, associando-a(s) a outra(s) modalidade(s) de tratamento. VII – Descrição da alimentação É importante questionar a que tipo (consistência) de alimento o paciente tem preferência e se possui dificuldades ao mastigar e deglutir. Muitos pacientes modificam a dieta alimentar para uma alimentação mais pastosa com o intuito de minimizar o desconforto. Segundo TUCKER & DOLWICK (2000), os pacientes que sentem dor ou disfunção temporomandibular constatam freqüentemente que há intensificação da dor quando mastigam alimentos duros. O profissional deve estar atento pois a dificuldade na realização dessas funções pode estar intimamente relacionada à dor e às alterações anátomofuncionais do sistema estomatognático. VIII – Aspectos emocionais Muitos pacientes com distúrbios funcionais do aparelho mastigador apresentam intensos problemas emocionais (MOLINA, 1995). Esse fato mostra a importância de o fonoaudiólogo estar preparado para detectar problemas emocionais subjacentes e de difícil diagnóstico e solução e, assim, encaminhar o paciente a um profissional competente. Nos casos de problemas emocionais mais simples, o profissional deve estar apto a conscientizar o paciente sobre seu problema e explicar-lhe o quanto o sistema emocional alterado e capaz de comprometer o funcionamento do sistema estomatognático. É importante conhecer o paciente, sua história de vida, trabalho, família, no passado e no presente, para identificar vivência de situações estressantes por que o paciente está passando ou por que tenha passado em algum momento de sua vida. Em muitos casos, ele não faz relação de nenhum fato que pode ter causado o desequilíbrio emocional, sendo necessário, a partir da história, que o profissional faça associações para encontrar explicação para seu estado emocional. Os hábitos parafuncionais que são, quase sempre, de origem emocional, são considerados por vários autores (FELÍCIO, 1994; MOLINA, 1995; STEENKS & WINJER, 1996; BIANCHINI, 2000a) fatores causadores ou mantenedores das desordens da ATM. MOHLER & TARRANTE (1991), baseados na literatura, referem que fatores psicológicos podem ser causas ou conseqüências das DTMs, levando ao ciclo dor-estresse-dor. A associação de fatores emocionais e oclusais é indicada como a principal causa da DTM, porém, seu enfrentamento, na maioria das vezes, é feito como se fossem dois problemas distintos, o da mente e o do físico, em vez de o enfrentarem com o de uma pessoa que com o corpo e a mente indissociáveis apresenta um conjunto de sinais e sintomas caracterizados, no caso, como desordem temporomandibular (FELÍCIO, 1999). Avaliação fonoaudiológica A avaliação fonoaudiológica inicia-se desde o momento da entrevista, quando o paciente, sem se sentir avaliado, permite que o fonoaudiólogo observe a postura de repouso dos órgãos fonoarticulatórios, postura corporal, fala, voz, respiração, deglutição, fatores emocionais e presença de hábitos parafuncionais. Nesse momento, observa-se também a tonicidade muscular geral do corpo, atendo-se à região cervical e ao pescoço, bem como à simetria e à tipologia facial. De acordo com BIANCHINI (2000b), o principal objetivo da avaliação fonoaudiológica em pacientes com DTM é verificar a existência de desequilíbrios musculares e funcionais que possam interferir de maneira negativa no processo de tratamento odontológico a ser realizado, ou que já esteja em andamento. Avaliar exige conhecimento do assunto para saber identificar e compreender as normalidades, alterações e adaptações na morfologia, tonicidade e mobilidade das estruturas e funções estomatognáticas, bem como do complexo dento-facial. Ao examinar uma pessoa, devemos considerá-la como um todo, avaliar suas alterações emocionais e miofuncionais. É importante que o profissional não reduza o doente a um sintoma, mas consiga focalizar sua atenção na pessoa que fala sobre o que está sentindo, levando em consideração a expressividade do sintoma, como também compreendê-la enquanto pessoa que está vivendo um momento especial (RODRIGUES, 2000). De acordo com a literatura consultada, a avaliação fonoaudiológica segue o seguinte roteiro. I – Descrição da situação dentária e da oclusão Apesar de essa avaliação fazer parte do exame clínico odontológico, é importante que o fonoaudiólogo saiba identificar as características dentárias e oclusais do paciente para compreender as possíveis alterações miofuncionais nele apresentadas. O conhecimento da situação dentária e oclusal é importante para a elaboração do diagnóstico fonoaudiológico e conseqüentemente para o tratamento. De acordo com ODA, ARNAEZ, ANELLI (1999/2000), os dentes possuem anatomia preestabelecida, geneticamente formada, e irão influenciar na forma da ATM para poder atender à função necessária. Esse conhecimento é importante, pois, se houver falhas dentárias, a ATM pode e deve servir de parâmetro para a reabilitação oral. O desenvolvimento e a forma da ATM estão diretamente relacionados ao aparecimento de dentes na cavidade oral, seu alinhamento, seu posicionamento e sua estabilidade. O fonoaudiólogo deve respeitar as possibilidades e os limites de seu tratamento quando estiver diante de problemas dentários e/ou oclusais. BIANCHINI (2000a) ressalta que a necessidade e a evolução do tratamento fonoaudiológico dependem das possibilidades do paciente e da etapa do tratamento odontológico em que ele se encontra. Alguns conhecimentos básicos sobre oclusão, estudados anteriormente, são necessários para avaliar os seguintes aspectos. Elementos dentários Linha média Contato prematuro Interferências oclusais Todos esses aspectos precisam ser avaliados, pois são, muitas vezes, grandes contribuintes para o desequilíbrio anátomofuncional do sistema estomatognático. A falta de um elemento dentário, um dente mal posicionado ou uma próteses mal adaptada podem provocar alterações na musculatura mastigatória e, conseqüentemente, problemas nas ATMs. Os dentes também devem ser examinados com relação às facetas desgastadas, que podem ser evidências de bruxismo. Com os dentes em oclusão, deve-se avaliar a linha média, os desvios ou as coincidências. Estando desviada, mede-se a distância horizontal entre as linhas médias superior e inferior, registrando a quantidade de desvio. É importante lembrar que o lado desviado refere-se à mandíbula, pois o arco superior é fixo. De acordo com FELÍCIO (1999), o desvio de linha média pode ser conseqüência de contatos prematuros, mordida cruzada dental, assimetria de crescimento ósseo, ou mesmo, um desalinhamento dos dentes. Como foi estudado em anátomo-fisiologia da ATM, o contato prematuro impede o contato simultâneo de todos os dentes com seu antagonista no fechamento mandibular, provocando desequilíbrio oclusal e muscular. De acordo com MOLINA (1995), a atividade muscular forçada sobre os contatos prematuros nos movimentos de abertura, fechamento, lateralidade e protrusão aumenta a função e o gasto de energia da musculatura e permite um aumento gradual de “irritantes metabólicos”. O autor ressalta que os períodos de repouso da musculatura são drasticamente reduzidos, resultando em espasmo e disfunção. O contato prematuro em RC aumenta temporariamente a dimensão vertical nessa posição, e induz a estiramento e tensão na musculatura vertical (masseter e temporal). Os indivíduos com deslizamento em RC podem também provocar disfunção na cadeia muscular formada pelos músculos pterigóideo lateral, ventre posterior do digástrico, esternocleidomastóideo e trapézio, gerando sintomas na região da ATM, do pescoço e da região cervical. Ao solicitar ao paciente que, partindo de MIH (máxima intercuspidação habitual), deslize a mandíbula, promovendo contato entre caninos (superior e inferior), observar se há interferência oclusal no lado de trabalho e balanceio ou, ainda, deslizando a mandíbula anteriormente, chegando a topo a topo com incisivos, observar se há interferência oclusal posterior. Nos três casos, as interferências oclusais prejudicam ou até impedem o livre movimento mandibular, podendo provocar uma série de sinais e sintomas nas ATMs e músculos associados. A presença de interferências oclusais explica, muitas vezes, a preferência do lado de mastigação. Portanto, muito cuidado deve se ter quando se pede ao paciente mastigação bilateral alternada. As interferências no lado de balanceio são importantes porque não só eliminam os contatos funcionais no lado de trabalho e diminuem a eficiência mastigatória, como também são fatores de distúrbios na ATM que podem influir na adaptação para um padrão mastigatório fora do normal. A falta da guia lateral, devido aos contatos prematuros e interferências nos molares e pré-molares do lado de trabalho, pode restringir o número de contatos mastigatórios, alterar o padrão mastigatório, diminuir o tempo e induzir à disfunção muscular (MOLINA, 1995). II – Características craniofaciais Face curta, média ou longa Relação das bases ósseas Perfil reto, côncavo, convexo Apesar de esse item também fazer parte da avaliação odontológica, o fonoaudiólogo deve saber identificar e compreender o significado das alterações no crescimento craniofacial, uma vez que há estreita relação das características ósseas da face com os músculos e funções do sistema estomatognático. Durante toda a fase de crescimento e desenvolvimento, todos os músculos devem mudar constantemente de área para se adaptarem à nova posição de qualquer osso do músculos complexo se craniofacial. desinserem, mudam Os de posição e aumentam sua massa muscular, adaptando-se a uma série de funções do complexo dentes-articulação para funcionar em harmonia com os movimentos mandibulares (MOLINA, 1995). desse conclui-se que, fato, modificações no Diante havendo crescimento e no desenvolvimento craniofacial, é possível apresentar adaptações miofuncionais que, por sua vez, são capazes de comprometer o equilíbrio funcional das ATMs. Por outro lado, a teoria de Moss, estudada por MOLINA (1995), explica a influência das matrizes funcionais (tecidos moles) com o crescimento do complexo craniofacial. A teoria explica que os ossos crescem como uma reposta às relações de função e expansão dos tecidos moles. Isso significa que o crescimento ósseo depende dos tecidos moles adjacentes. Como muitos músculos do complexo craniofacial estão inseridos em locais de crescimento, qualquer modificação pode ser suficiente para modificar a direção do crescimento e do desenvolvimento ósseo. No caso da ATM, por exemplo, especificamente do osso mandibular, o crescimento condilar é influenciado lateral. pelo Então, músculo uma pterigóideo alteração no funcionamento de tal músculo pode determinar comprometimentos nas ATMs. De acordo com MOYERS & CARLSON (1998), a má oclusão grave é freqüentemente associada a alterações patológicas nas ATMs que, por sua vez, deterioram os receptores sensoriais no interior das articulações, fazendo com que os pacientes tenham capacidade menos precisa para determinar a posição mandibular do que as pessoas que têm oclusão normal. Pacientes com Classe II esquelética, perfil convexo, disfunção de costumam ATM, relacionada ao mandibular anterior apresentar provavelmente freqüente em função deslize para aumentar o espaço intra-oral (BIANCHINI, 2000a). MOLINA (1995) acredita que a maioria dos distúrbios da ATM tem sido atribuída com maior freqüência ao overbite e não ao overjet. O autor explica que a presença de overbite profundo, com pouco ou nenhum overjet, mostra que os incisivos superiores funcionam como uma “trava mecânica” que impede os movimentos mandibulares livres e induz a um forte estímulo nos proprioceptores localizados no periodonto e na articulação, que pode resultar em retrusão e travamento cruzada esquelética mandibular. Na mordida unilateral, observa-se respiração bucal, freqüentemente cabeça anterior e lateralmente posicionada, assimetria facial, com maior contração da musculatura do lado cruzado, mastigação unilateral, desvio mandibular na fala, estalos e/ou dor na ATM, podendo apresentar hiperexcursão de côndilo do lado não-cruzado (BIANCHINI, 1995b). O problema de oclusão dentária, as alterações esqueléticas tanto no sentido vertical como no horizontal, as modificações e os problemas respiratórios constituem reais dificuldades em relação ao trabalho fonoaudiológico, uma vez que as alterações da forma levarão a mecanismos funcionais adaptativos (BIANCHINI, 1995a), que poderão comprometer o funcionamento normal das ATMs. III – Verificação das estruturas e musculatura A ATM não deve ser observada apenas do ponto de vista odontológico, mas também como vinculada a todo sistema estomatognático, influenciando e sendo influenciada por todos os órgãos que a compõem. A língua, os lábios e as bochechas são estruturas adjacentes que efetuam e ajudam a efetuar os movimentos mandibulares (WETZLER, 1979). Dessa forma, o desequilíbrio no funcionamento dessas estruturas é capaz de alterar a função mandibular. Lábios: função, tremor, interposição Língua: função, volume, freio, postura, tremor, marcas Bochechas: função, tônus, comprimidas, retraídas, deprimidas, marcadas Mento mole: tônus Palato duro: atresia, ogiva profunda Palato mole: tônus e mobilidade Músculos – verificar o tônus através da contração dos seguintes músculos: temporal, masseter, bucinador, orbicular dos lábios, mentoniano, depressores de lábio e elevadores de lábio, supra e infra-hióideos, cervicais, esternocleidomastóideo. Várias alterações dos órgãos fonoarticulatórios podem estar presentes em pacientes com DTM. De acordo com BIANCHINI (2000b), a tensão facial tem sido constatada com grande freqüência. Tensão em região frontal, bucinadores e orbicular dos lábios são características dos pacientes com DTM, que podem estar também relacionadas a hábitos de pressionamento da região peribucal, associadas ou não ao hábito de apertamento dental. Lábios inferior e superior finos, estirados e ocluídos com tensão, com linhas faciais acentuadas e contração do músculo mentalis são comuns em pessoas com apertamento de dentes e/ou dimensão vertical insuficiente (FELÍCIO, 1994). Os lábios podem apresentar-se interpostos entre as arcadas dentárias, postura que promove a desoclusão dos dentes posteriores, aliviando a hiperatividade e a dor nos músculos elevadores, bem como a compressão das ATMs. Quando os lábios estão entreabertos, é possível apresentar vedamento labial com contração excessiva da musculatura peri-oral e aumento da atividade muscular na oclusão dentária. O contato forçado dos dentes aumenta a atividade dos músculos elevadores, o que pode levar à dor e à DTM (FELÍCIO, 1999). Em relação às bochechas, é freqüente ocorrer marcas na mucosa, devido à pressão dos dentes, inferiores e superiores, em conseqüência da hipotonia de sua musculatura e/ou sucção das bochechas durante o apertamento dental (FELÍCIO, 1994). As deprimidas dimensão bochechas ou podem arqueadas vertical de estar quando oclusão a estiver diminuída, como também comprimidas. Devido à dor nas ATMs, elas podem ser sugadas em direção às faces oclusais, acompanhadas por leve protrusão dos lábios, a fim de manter a mandíbula levemente abaixada (FELÍCIO, 1999). A língua também pode atuar como placa oclusal, inserida entre as arcadas dentárias, tanto para aumentar a dimensão vertical como para desocluir os dentes (FELÍCIO, 1999; BIANCHINI, 2000b). A língua, estando comprimida, pode significar falta do espaço funcional livre, invadido pelo 1999). apertamento dentário (FELÍCIO, O crescimento maxilar decorrente, por exemplo, respiração bucal, dificulta alterado de o uma correto posicionamento da língua, fazendo com que ela se posicione no soalho bucal. A alteração neuromuscular da língua é capaz de provocar mudanças no funcionamento mandibular e, assim, acarretar disfunção muscular e/ou articular. IV – Palpação muscular e articular Para avaliar a condição dos músculos e articulações através da palpação, é necessário o conhecimento da localização das estruturas ósseas da ATM e dos músculos associados, como também de sua espessura e de seu tamanho. Os músculos devem ser palpados para se verificar a presença de sensibilidade, fasciculações, espasmo ou pontos desencadeadores de dor (TUCKER & DOLWICK, 2000). Durante a palpação, o fonoaudiólogo deve solicitar ao paciente que indique o local da dor sentida e graduá-la em uma escala de zero (ausência de dor) a três (dor insuportável). É necessário ficar atento, pois o local da dor referida nem sempre corresponde à origem da dor. Esse é um dado importante diferencial para o diagnóstico das desordens temporomandibulares. A palpação indica como a musculatura está reagindo ao desequilíbrio oclusal e/ou funcional e, ainda, emocional (FELÍCIO, 1999). Sempre que houver dor ou desconforto na palpação, significa que existe um comprometimento muscular, geralmente por trauma, inflamação e/ou acúmulo de resíduos (BIANCHINI, 2000a). Músculo temporal Músculo masseter Músculo pterigóideo lateral Músculo pterigóideo medial Músculos supra e infra-hióideos Músculo esternocleidomastóideo Músculo trapézio Músculo peitoral Região occipital Região cervical ATM metabólicos A palpação é um método clínico eficiente, através do qual podemos obter informações imediatas sobre o estado de saúde dos tecidos musculares e articulares. Quando indica dor, é sinal que algo no corpo não vai bem, sendo necessário investigar as características dessa dor. Segundo DAMANTE (1990c), a palpação da ATM pode ser realizada de duas maneiras: a extra-auricular, na região pré-tragus, com pressão dos dois indicadores ou a intra-auricular, com os dedos mínimos no meato acústico externo, exercendo pressão anterior. A palpação muscular pode ser feita no local dos músculos mastigatórios (masseter, temporal, pterigóideo lateral, pterigóideo medial), músculos da nuca e esternocleidomastóideo. A palpação dos demais músculos, citados anteriormente, também pode ser feita em suas correspondentes localizações. V – Movimentos mandibulares Abertura e fechamento Abertura máxima Lateralidade direita/esquerda Protrusão Além das assimetrias ósseas e tipo de crescimento avaliar mandibular, seus movimentos é importante funcionais - medidas, desvios, dor e ruídos – e dar significado para cada sinal e/ou sintoma encontrado. De acordo com FELÍCIO (1994) e RODRIGUES (2000), a abertura bucal normal varia de 40 a 45mm, correspondendo à medida da distância interincisal somada à medida do trespasse vertical. Para TUCKER & DOLWICK (2000), a amplitude normal do movimento mandibular em um adulto é cerca de 50mm interincisalmente. MOLINA (1995) considera que a medida ideal está em torno de 55mm, com uma variação de 40 a 70mm. Para FELÍCIO (1994), se o resultado for inferior a 30 mm, suspeita-se de desordem muscular e/ou intra-articular, por exemplo, contratura muscular e deslocamento anterior do disco articular sem redução, respectivamente. TUCKER & DOLWICK (2000) referem que existem pacientes que apresentam obstrução mecânica na articulação, causando limitação na abertura, mas com uma pressão digital suave pode ser alcançada uma abertura próxima do normal, o que pode sugerir um problema muscular e não intracapsular. Em relação à lateralidade, para FELÍCIO (1994), a medida normal varia entre 10 e 12 mm e para RODRIGUES (2000), 7mm. Pede-se ao paciente que leve os dentes anteriores a uma posição topo a topo e deslize para um dos lados, mede-se a distância horizontal entre a linha mediana inferior e a superior. O movimento pode estar reduzido interferências na presença de no de oclusais lado balanceio, prejudicando a mastigação, a deglutição e a postura de repouso (FELÍCIO, 1994). A medida de protrusão mandibular corresponde ao somatório do trespasse horizontal (overjet) com a distância da face vestibular dos incisivos centrais superiores à face incisal dos centrais inferiores (FELÍCIO, 1994), aproximadamente que deve 10mm, medir segundo TUCKER & DOLWICK (2000), e 7mm, segundo RODRIGUES (2000). Esse movimento também pode ser limitado na presença de interferências posteriores (FELÍCIO, 1994). oclusais O movimento mandibular normal deve ser retilíneo e simétrico (TUCKER & DOLWICK, 2000), porém durante o movimento de abertura e fechamento é possível verificar desvio mandibular para o lado hipertrofiado e/ou da ATM afetada, que pode ser decorrente de alterações musculares e/ou intra-articulares. De acordo com BIANCHNI (2000b), a limitação na abertura mandibular e/ou a presença de desvios no movimento podem estar relacionadas com uma disfunção de interferência de disco articular. Nesses casos, a dor e o próprio disco podem ocasionar hipomobilidade muscular e até causar atrofia progressiva. A dor presente no sistema mastigatório limita o alcance funcional dos movimentos dolorosos, desde que eles sejam associados ao dano adicional para as estruturas. Esses movimentos também são evitados porque aumentar os geralmente sintomas da podem desordem através de efeitos estimulantes centrais e dor muscular cíclica (OKESON, 1992). BIANCHINI (2000b) refere que na presença da dor o próprio paciente reduz a atividade podendo dos músculos ocasionar envolvidos, modificações nos mesmos, como também atrofia por desuso, levando à redução de força, restrição dos movimentos de abertura, e aos desvios. Quanto aos DOLWICK ruídos, (2000) anatomicamente TUCKER explicam o clique de & que abertura corresponde à redução do disco para uma posição mais normal. O clique de fechamento (clique recíproco) corresponde à falha do disco em se manter em sua posição normal entre a cabeça do côndilo e a eminência articular, deslizando para a frente em uma posição deslocada anteriormente. A crepitação pode estar presente e movimentação geralmente articular superfícies articulares VI – Funções estomatognáticas Mastigação Respiração Deglutição Fonação Postura resulta da através de É importante que o fonoaudiólogo avalie e identifique as características funcionais do sistema estomatognático e compreenda as possíveis alterações. FELÍCIO (1994) explica que problemas, como deglutição atípica, mastigação unilateral, alterações fonoarticulatórias e de postura das estruturas, podem ser fatores etiológicos, perpetuantes ou mesmo conseqüência de má oclusões. Várias modificações funcionais podem estar presentes em pacientes com DTM. BIANCHINI (2000a) refere que as modificações funcionais são respostas adaptativas automáticas e efetivadas graças à plasticidade neural do sistema estomatognático, no sentido de viabilizar a função, preservando a estrutura. Essas adaptações dão-se na tentativa de evitar o desconforto ou minimizar a dor. Porém, algumas adaptações funcionais são enganosas, propiciam sensação agradável temporariamente, mas agravam os sintomas a longo prazo. A modificação postural da cabeça e pescoço, a tensão facial e o hábito parafuncional de apertar os dentes são exemplos de respostas adaptativas. FELÍCIO, SILVA, NUNES (1991) afirmam ser freqüente o desequilíbrio muscular em pacientes com DTM, que não é apenas decorrente do estresse emocional. Acontecem problemas de sensibilidade, tonicidade, postura e mobilidade de músculos orofaciais, associados a distúrbios de deglutição, mastigação, fala e respiração, que podem provocar alterações na dentição e nas forças que atuam sobre a ATM. Sendo, dessa forma, necessário um trabalho, entre outros, de reeducação da musculatura oral e de suas funções para equilibrar o sistema craniomaxilofacial. Quanto à mastigação, em 1998, BIANCHINI constata que há um predomínio de padrão mastigatório unilateral. Em 2000a, a autora observa que muitos pacientes com DTM apresentam dificuldade em morder o alimento anteriormente, têm ritmo mastigatório lento, os movimentos mandibulares são predominantemente verticais e apresentam, muitas vezes, dor ou ruído articular. MOLINA (1995) acredita que a mastigação unilateral é um mecanismo de adaptação para assegurar o mínimo de trauma para o periodonto, dentes e articulações. É bastante freqüente em indivíduos com distúrbios funcionais da ATM e com interferências oclusais no lado de balanceio. FELÍCIO (1999) refere que a mastigação que se perpetua de um único lado, seja por cáries, perdas dentárias e interferências oclusais, pode gerar dores e disfunção da ATM pela hiperatividade muscular e compressão excessiva do disco do lado de trabalho; ou a disfunção pode ser do lado de balanceio em decorrência da repetição constante de movimentos de translação do côndilo. O tipo de má oclusão presente contribui para a perpetuação da mastigação viciosa e a instalação da desordem muscular e/ou articular de um lado ou outro, ou ainda de ambos. Se esse tipo de mastigação apresentar-se na infância e não for corrigida, poderá provocar modificação na direção do crescimento ósseo. A mandíbula crescerá mais do lado de balanceio, onde há constantes movimentos de translação, acarretando desvio da linha média para o lado de trabalho (FELÍCIO, 1994; BIANCHINI, 1995a). Pacientes com o hábito da respiração bucal mantém a boca constantemente aberta, evitando que a língua pressione o palato. Com isso, há uma compressão externa da maxila pelo desenvolvimento dos sistemas ósseo e muscular da face. O palato duro tende a subir (formando o palato ogival) e a arcada dentária superior tende a se deslocar para a frente e para dentro, provocando distoclusão e mordidas cruzadas (MOCELLIN, 1997). Além da má oclusão, estando a mandíbula abaixada, esse hábito provoca hipotonia dos músculos elevadores da mandíbula e má postura lingual e labial (FELÍCIO, 1994), comprometendo o equilíbrio do sistema estomatognático e, conseqüentemente, das ATMs. Ainda sobre respiração, FELÍCIO (1994) e RODRIGUES et al (1999) ressaltam que a respiração clavicular é bastante encontrada em pacientes com DTM. BIANCHINI (2000a) afirma que os pacientes com DTM apresentam várias adaptações na deglutição, provavelmente devido ao prejuízo da mastigação. Segundo a autora, é comum a presença de movimentos bruscos de elevação da laringe, acompanhados por contração dos músculos peri-orais e compensação póstero-anterior de cabeça. FELÍCIO (1999) constata que a deglutição com protrusão mandibular pode provocar estiramento da lâmina retrodiscal e atividade sustentada do músculo pterigóideo lateral, desencadeando estalos nas ATMs. RODRIGUES et al (1999) observam freqüentemente em pacientes com DTM a função de deglutição caracterizada por participação da musculatura perioral e pressionamento atípico de língua. De acordo com FELÍCIO (1994), as pressões atípicas de língua podem determinar as má oclusões, principalmente se ocorrerem também na condição postural. A interposição bilateral da língua pode impedir a erupção dos molares permanentes, resultando em não-desenvolvimento da adequada dimensão vertical e/ou mordida aberta posterior. A interposição lingual anterior pode ser o fator causador da mordida aberta anterior. O desequilíbrio oclusal, provocado pela alteração neuromuscular da língua, é capaz de quebrar a harmonia funcional das ATMs. Em relação à fonação, vários autores descrevem alterações, tanto na articulação da fala como na produção vocal, em pacientes com DTM. FELÍCIO, SILVA, NUNES (1991) relatam que a fonação pode estar prejudicada pela perda transitória da audição, subjetiva ou real, atribuída a transtornos mandibulares. Os autores acrescentam que, no sigmatismo frontal ou lateral, as pressões inadequadas da língua durante a fala podem ser prejudiciais à oclusão e ao equilíbrio da própria ATM. Bernard, citado por FELÍCIO (1994), refere que a articulação da fala pode estar comprometida devido aos movimentos mandibulares limitados, tornandoa ininteligível, e a voz hipernazalizada. BIANCHINI (2000a) observa significativa redução da amplitude articular acompanhada por movimentos mandibulares compensatórios, como protrusivo ou em lateralidade. FELÍCIO (1994) considera o desvio mandibular na produção do fonema /s/ um sinal comum em pacientes com DTM. A autora explica que o lado do desvio corresponde, quase sempre, ao lado da mastigação e/ou da dor, que está relacionado ao lado de maior atividade e encurtamento muscular. BIANCHINI (2000b) acredita que a redução da amplitude e a conseqüente articulação da fala mais travada modificam as caixas de ressonância, podendo comprometer a produção da voz. Várias modificações na qualidade vocal podem ser encontradas, tais como: monotonia, padrão vocal hipernasal, voz rouca, áspera, soprosa ou comprimida. De acordo com FELÍCIO (1994) e RODRIGUES et al (1999), a respiração clavicular, característica do paciente com DTM, pode provocar alteração na qualidade vocal. FELÍCIO; SILVA; NUNES (1991) concordam e explicam essa relação. A respiração superior e/ou a capacidade respiratória pequena podem apresentar tensões na região do colo e pescoço, causando as disfonias. Essas tensões irradiam para a face devido às várias tomadas de ar e uso de ar de reserva ao falar, provocando, segundo FELÍCIO (1994), hipertonia dos músculos mastigatórios, mialgia e alterações nas funções das ATMs. FREIRE et al (1998) referem que a hiperfunção da musculatura mastigatória provoca desvios importantes dessa função, podendo levar a implicações articulatórias e sobrecarga da musculatura laríngea no momento da fonação. A hiperfunção da musculatura cervical também pode exercer sobrecarga na atividade laríngea, especialmente pela compressão de musculatura extrínseca. Além disso, os autores acrescentam que os distúrbios na ATM podem se associar àqueles da esfera auditiva e vestibular, novamente apresentando implicações em termos vocais. As disfunções da ATM algumas vezes acarretam prejuízo na inteligibilidade de fala, principalmente em razão da redução da amplitude do movimento mandibular e da alteração da qualidade vocal, ocasionando pouca clareza à articulação dos sons da fala (BIANCHINI, 2000b). Além das funções já citadas, considera-se importante a avaliação da postura corporal, pois a mesma pode estar intimamente relacionada aos problemas oclusais, neuromusculares e articulares. GOMES (1999) afirma existir estreita relação entre a postura corporal e o sistema estomatognático. A posição fisiológica da mandíbula em repouso depende da cabeça, assim como mudanças na posição da cabeça produzem alterações na posição da língua na cavidade oral (CAMPIOTTO, 1998). Isso pode explicar as alterações posturais, atuando como causas e/ou conseqüências, em pacientes com DTM. O sistema nervoso dos seres humanos desenvolve mecanismos importantes para a manutenção do equilíbrio estático e dinâmico do corpo. Segundo GOMES (1999), é de consenso na literatura o conceito de que o mecanismo postural que atua na cabeça é também parcialmente responsável pela postura mandibular. OKESON (1992) acrescenta explicando que uma contração discriminatória dos vários músculos da cabeça e do pescoço é necessária para mover a mandíbula precisamente e permitir funcionamento efetivo. ROCABADO, juntamente com SOBYA, citados por GOMES (1999), perceberam que quando a cabeça está inclinada para a frente e para baixo, os contatos oclusais estão anteriorizados e, quando a cabeça está estendida, inclinada para trás, os contatos oclusais estão posteriorizados, o que comprova a relação postura corporal e oclusão. Diante desses estudos, conclui-se que a alteração na postura da cabeça poderá provocar alteração na postura mandibular, comprometendo o funcionamento das ATMs. Por outro lado, a postura mandibular alterada é capaz de causar alterações na postura da cabeça. Alteração postural da cabeça é facilmente observada em pacientes respiradores bucais, em que ela se projeta para a frente, saindo de seu relacionamento harmônico correto com a coluna vertebral. Na presença de uma parafunção em um dos lados das arcadas dentárias, há aumento do recrutamento dos músculos estomatognáticos daquele lado, que tensiona a musculatura da hemiface e da hemi-região cervical, mobilizando, por sua vez, mais as articulações do lado mais solicitado. Esses músculos estão vinculados aos movimentos de mandíbula, língua, expressão da mímica, osso hióide e região cervical, o que explica a inclinação da cabeça para o lado em questão. ROCABADO, citado por GOMES (1999), refere que a oclusão é mais forte para o lado em que a cabeça está inclinada. O crânio e a mandíbula possuem conexões nervosas e musculares com a região cervical. Assim, não é difícil compreender que uma dor originalmente cervical possa ser referida para a face ou, ao contrário, uma disfunção temporomandibular possa acarretar secundariamente distúrbios cervicais (GOMES, 1999). BIANCHINI (2000b) refere observar alterações posturais em pacientes com DTM, como inclinação lateral da cabeça, assimetria em repouso de ombros, modificação do eixo corporal e freqüente tensão em região cervical e músculo trapézio, acompanhadas de anteriorização de cabeça e elevação na posição dos ombros em repouso. Além dessas alterações, também foram observadas modificações da posição mandibular, caracterizadas por lateralização ou protrusão em repouso, acompanhadas por apoio simétrico da língua. VII – Exames complementares realizados Embora o fonoaudiólogo não esteja legalmente habilitado para solicitar exames complementares, muitas vezes torna-se necessário seu auxílio para melhor compreensão do caso e, consequentemente, realização de um diagnóstico específico, daí a importância de conhecer as estruturas anatômicas e de reconhecê-las também nos exames por imagem. Na presença de uma situação de incerteza diagnóstica, o clínico pode se sentir obrigado a utilizar imagens da ATM quando os achados podem alterar o diagnóstico, o prognóstico e as recomendações de tratamento (ASH, RAMFJORD, SCHMIDSEDER, 1998). VIII – Conclusão e conduta A partir da avaliação fonoaudiológica descrita, obtém-se informações importantes que são analisadas e estudadas pelo fonoaudiólogo para a conclusão do diagnóstico e estabelecimento das metas e condutas terapêuticas. O diagnóstico só deve ser concluído após a discussão com a equipe multidisciplinar, quando se encontram explicações para as alterações miofuncionais apresentadas. Equipe multidisciplinar Apesar de o tratamento das desordens temporomandibulares apresentar um enfoque predominantemente odontológico, existem outras modalidades de tratamento que o auxiliam. Em muitos casos, é importante a participação de uma equipe multidisciplinar para avaliar e atuar diretamente na etiologia do problema e nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. MASCARENHAS (1996) ressalta que a multiplicidade de fatores responsáveis pelas DTMs exige uma abordagem terapêutica multiprofissional. Segundo MOLINA (1995), observações clínicas mostram que raramente apenas uma modalidade de tratamento é utilizada na eliminação dos sinais e sintomas principais e secundários. Hoje, temos uma recente integração das diversas áreas da saúde, com o intuito de proporcionar ao paciente a cura efetiva, já que o ser humano é um “todo” em funcionamento e não partes isoladas em ação (RODE & LOPES, 1995). A equipe multidisciplinar envolve, além dos cirurgiões dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, otorrinolaringologistas, neurologistas e outros, sendo que a terapêutica empregada depende das necessidades de cada paciente. Na verdade, quem define a área de competência das desordens temporomandibulares é a fonte responsável pela disfunção, evidentemente, se for odontológica, será da alçada do cirurgião dentista, se for otológica, do otorrinolaringologista, se for neurológica, do neurologista e assim sucessivamente. Dessa forma, havendo alterações funcionais, cabe ao fonoaudiólogo restabelecer as funções. A execução de um trabalho em conjunto contribui para um diagnóstico bem fundamentado e, conseqüentemente, um tratamento específico. Cada um desses profissionais apresenta seu objeto de trabalho, porém todos possuem o mesmo objetivo nesse tratamento: eliminar ou aliviar a dor, melhorar a função e diminuir o nível de tensão sobre os músculos e articulações. Para melhor compreensão da participação desses profissionais no diagnóstico e tratamento das DTMs, será descrito o objeto de avaliação de cada um deles, subtendendo-se que o tratamento se baseará na(s) estrutura(s) avaliada(s). - Cirurgião dentista Faz parte do exame odontológico a avaliação da simetria facial, que pode estar relacionada à hierplasia do côndilo, à anquilosa da ATM e ao edema pré-auricular; à musculatura facial; aos ruídos articulares – estalo/crepitação; às facetas de desgaste; à amplitude dos movimentos mandibulares; à oclusão classificação de Angle, aos contados prematuros, às interferências oclusais, às guias de desoclusão, às curvas de compensação, às ausências dentárias e presença de próteses; à condição dentária geral (RODRIGUES, 2000). - Fonoaudiólogo A terapia miofuncional da face é uma especialidade da fonoaudiologia que diagnostica e trata as desordens neuromusculares da face com a finalidade de proporcionar condições ótimas para o crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial (BAPTISTA, 1996). Cabe ao fonoaudiólogo avaliar a postura, a tonicidade, a mobilidade e a motricidade da musculatura orofacial bem como as funções estomatognáticas. Também estão incluídos no exame fonoaudiológico a avaliação da qualidade vocal e dos possíveis problemas auditivos, que muitas vezes estão associados à DTM. Com o objetivo de ativar a circulação sangüínea, aumentando a oxigenação e liberando os resíduos metabólicos, e estabelecer o equilíbrio miofuncional, o fonoaudiólogo utiliza condutas terapêuticas como termoterapia, massagens, mioterapia e terapia miofuncional. A conduta selecionada depende das necessidades do paciente e da etapa do tratamento odontológico em que se encontra (BIANCHINI, 2000) FELÍCIO (1998) ressalta que, em muitos casos, a meta na terapia fonoaudiológica corresponde ao equilíbrio muscular compatível com a condição oclusal, o que nem sempre é a normalidade. - Fisioterapeuta Tem o objetivo de examinar as possíveis alterações posturais e sintomatologias que acarretam distúrbios de tônus muscular e motricidade das regiões cervical e facial, como também atralgias, mialgias e edemas dessas áreas (FELÍCIO, 1994). Cabe ao fisioterapeuta o emprego de agentes e métodos físicos, como exercícios fisioterápicos, tens, ultrassom, laser terapêutico, iontoforese e calor. - Psicólogo A avaliação psicológica objetiva identificar a presença de fatores psíquicos na etiologia e na evolução do problema, auxiliando na compreensão dos aspectos emocionais envolvidos. - Otorrinolaringologista Tem o objetivo de identificar as possíveis alterações rinolaríngeas assim como otológicas. A avaliação otorrinolaringológica é de extrema importância na realização do diagnóstico diferencial, uma vez que existem semelhanças em algumas características clínicas da DTM referentes ao ouvido, que podem ser confundidas com problemas otológicos. - Neurologista Objetiva avaliar as dores de cabeça, sintoma importante na DTM, descartando ou identificando possíveis alterações orgânicas. O exame neurológico, conforme KREISBERG (1986), está indicado sempre que a queixa de dor de cabeça predominar, e quando a evolução for recente. O diagnóstico fonoaudiológico requer informações importantes fornecidas por outros profissionais. Portanto, julga-se necessária a integração de toda a equipe multidisciplinar. Tanto o diagnóstico como o tratamento evoluem com mais eficiência quando todos os profissionais envolvidos no caso trabalham em conjunto, visando ao mesmo objetivo. Formas variadas de tratamento são indispensáveis para eliminar ou melhorar o enorme speectrum da função mandibular anormal, da dor muscular, articular e vascular, dos ruídos articulares, da tensão, da fadiga, da imobilização muscular protetiva e contratura (MOLINA, 1995). Após obter as informações adquiridas por meio de todas essas etapas, anamnese, avaliação e interação multidisciplinar, é fundamental que o fonoaudiólogo analise e compreenda tais informações com intuito de estabelecer o diagnóstico, o prognóstico e as consecutivas metas terapêuticas. Acredita-se que só assim estaremos exercendo um trabalho consciente, fazendo da Fonaudiologia uma verdadeira ciência. Finais Considerações As desordens temporomandibulares (DTMs) consistem em alterações anatômicas e/ou funcionais das articulações tempormandibulares (ATMs). A sua variedade etiológica e sintomatológica requer a participação de uma equipe multidisciplinar, atuando em conjunto na elaboração do diagnóstico e na seleção da terapêutica a ser empregada. Embora ainda recente, a intervenção fonoaudiológica tem representado um importante coadjuvante na reabilitação dos pacientes. Porém, inúmeras dúvidas têm surgido na Clínica Fonoaudiológica, exigindo do profissional estudos aprofundados sobre o tema. Por ser o diagnóstico uma importante etapa do tratamento, este trabalho teve o objetivo de realizar um estudo sobre o diagnóstico fonoaudiológico nas DTMs, Ao estudar cada etapa do diagnóstico fonoaudiológico foi percebido uma gama de conhecimentos que o profissional deve apresentar. Apesar de alguns deles fazerem parte do trabalho de outras especialidades, é importante que o fonoaudiólogo compreenda o significado alterações referentes à oclusão, cefaléia e ouvido, por exemplo. Conhecimentos básicos como anátomo-fisiologia da ATM, bem como fatores etiológicos e fisiopatológicos dos diferentes tipos de DTMs foram abordados por serem considerados essenciais na compreensão do problema apresentado pelo paciente. Sem esses conhecimentos não é possível realizar um bom diagnóstico e consequentemente uma terapêutica adequada. Os autores consultados mostram a complexidade anátomo-fisiológica da ATM, ressaltando que sua integridade consiste um dos pré-requisitos para o equilíbrio de todo o sistema estomatognático. A literatura descreve a importância do diagnóstico diferencial uma vez que as características clínicas das DTMs podem ser facilmente confundidas com outras patologias. Dessa forma, percebe-se a necessidade de conhecer as principais patologias que se assemelham com as DTMs, assim como de realizar um trabalho em equipe, onde vários profissionais da área de saúde devem participar juntos, visando um único objetivo. A anamnese e avaliação fonoaudiológica, consideradas fases essenciais para o diagnóstico, pois é a partir da fala do paciente e das características clínicas de seu problema que o profissional direciona sua atuação, foram descritas e explicadas cada passo a ser seguido. Conhecer a história do paciente, alimentação, hábitos, aspectos emocionais, atividades da vida diária, fatores que aumentam e diminuem os sintomas é de suma relevância para a compreensão do problema. Observa-se na literatura uma variedade de características miofuncionais nos pacientes com DTMs que precisam ser identificadas e compreendidas pelo fonoaudiólogo por representarem fatores etiológicos, perpetuantes e conseqüências destas desordens. Além destas características, é importante avaliar as estruturas duras da face. Ao avaliar a oclusão e a tipologia facial destes pacientes muitas vezes encontramos justificativas para o padrão miofuncional observado, afinal tanto dentes e ossos como músculos fazem parte do mesmo sistema. Este estudo pode contribuir na atuação do fonoaudiólogo que atende pacientes com DTM, esclarecendo a importância do diagnóstico bem elaborado para uma melhor qualidade no tratamento. Conhecendo melhor o problema, suas causas e características, o profissional é capaz de estabelecer as metas terapêuticas coerentes com a alteração apresentada. Acredita-se que a terapêutica só deve ser selecionada apenas quando o problema for identificado e compreendido pelo profissional. Uma conduta mal empregada é capaz de comprometer ainda mais o problema. É importante ressaltar que não há um único tratamento para todas as alterações, portanto, para cada alteração há um tratamento específico. Assim, um diagnóstico impreciso compromete o eficiência do tratamento. A complexidade da ATM e a recente intervenção direcionada às suas alterações têm tornado tal estudo um desafio para muitos profissionais da área de saúde. Sendo assim, após estudar o diagnóstico sugere-se um estudo sobre a intervenção fonoaudiológica propriamente dita com o intuito de analisar as condutas terapêuticas e de participar de forma consciente na reabilitação desses pacientes que nos procuram em busca de solução para o seu problema. O diagnóstico é a chave para o sucesso do tratamento. Se todos os profissionais se dedicassem mais ao estabelecimento de um diagnóstico correto, poder-se-ia atuar de forma mais consciente. Referências Bibliográficas AI, M. – Disfunção Temporomandibular – ATM – Diagnóstico e Tratamento. São Paulo, Santos, 1995. 46p. ANELLI, W. – Atuação fonoaudiológica na desordem temporomandibular. In: LOPES FILHO, O.C. – Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo, Roca, 1997. p. 821-8. ANGELI, J.B.; FERREIRA-JERONYMO, R.R.; FELÍCIO, C.M. – Desordens Temporomandibulares: sinais e sintomas auditivos. In: FELÍCIO, C.M. – Fonoaudiologia aplicada a casos odontológicos. Motricidade oral e Audiologia. 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