ANTIBIOTICOPROFILAXIA NOS DIFERENTES PROCEDIMENTOS E ESPECIALIDADES CIRÚRGICAS 1- Cirurgia de Cabeça e Pescoço: Quando não envolvem acesso por mucosa, não há benefício comprovado para a antibioticoprofilaxia (ex.: tireoidectomia) A profilaxia está recomendada nas cirurgias potencialmente contaminadas, geralmente de grande porte, realizadas em pacientes oncológicos. Antibiótico Doses adicionais durante a cirurgia Dose inicial indução anestésica Doses adicionais após a cirurgia Clindamicina IV +/- 600 a 900 mg Não é necessário 600 mg 6/6h por 24h Gentamicina IV 5 mg/kg Não é necessário Não é necessário ou Amoxicilina/Sulbac tam IV 1,5 g IV 1g cada 3 horas 1g 8/8h por 24 h 2- Cirurgia Cardíaca: A profilaxia antibiótica está indicada em todas as cirurgias cardíacas. Recomendamos profilaxia para implante de marcapasso em dose única. Antibiótico Cefazolina IV Dose inicial na indução anestésica 2g Dose ao entrar na CEC Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia 1g 1 g de 3/3 horas 1 g 8/8 h por 24 ou 48 h Observações: Está indicada dose adicional de antibiótico ao término da circulação extracorpórea, uma vez que este procedimento, por diluição, reduz os níveis séricos da dose pré-operatória de antibióticos de meia-vida inferior a 2 horas. 4- Cirurgia de Estômago e Duodeno: A profilaxia está indicada para os casos de doença maligna, hipo ou acloridria, sangramento recente ou estenose pilórica. Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas Não é necessário Observações: 1- Nos casos de gastrectomia com anastomose jejunal, há necessidade de cobertura para anaeróbios (acrescentar metronidazol). 2- Para cirurgias de curta duração (até 2 horas), como gastrostomia percutânea endoscópica, apenas uma dose de cefazolina durante a indução anestésica é suficiente. Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Clindamicina IV associada a 600 a 900 mg Não é necessário 5 mg/kg Não é necessário Gentamicina IV Não é necessário 5– Cirurgia Ginecológica: As histerectomias são cirurgias contaminadas com indicação para profilaxia segundo a maioria dos autores. As cirurgias perineais para correção de cistocele e retocele não têm indicação para profilaxia. Histerectomia Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas Não é necessário Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos e reoperações precoces Antibiótico Dose inicial na indução anestésica Vancomicina IV 1g (15 mg/kg) ou Teicoplanina IV Dose ao entrar na CEC Não é necessário Doses adicionais durante a cirurgia Não é necessário 400 mg Doses adicionais após a cirurgia 5 mg/kg Não é necessário Não é necessário Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia 200mg 12/12h por 24h Clindamicina IV 600 a 900 mg Não é necessário Não é necessário Não é necessário 3- Cirurgias de Esôfago: A profilaxia é recomendada para as cirurgias que atingem o plano da mucosa e a luz do órgão. Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Amoxicilina/Sulbac tam IV ou 1,5 g 1 g a cada 3 horas Clindamicina IV associada a 600-900 mg Gentamicina IV 5 mg/kg Antibiótico Não é necessário Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos 1g 12/12h por 24h associada a Gentamicina IV Doses adicionais após a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Observações: 1- Nas cirurgias extensas para ressecção de tumor (ex.: neoplasias de ovário) recomendamos profilaxia semelhante à cirurgia de cólon. 2- Para as cirurgias de mama recomendamos profilaxia com Cefazolina nas mastectomias radicais. Nos casos de biópsias, ressecção de nódulos ou cirurgias segmentares não há indicação de profilaxia. 6- Cirurgias de Jejuno, Íleo, Cólon e Reto: O antibiótico é indicado para todos os procedimentos, optando-se no HUCFF por seu uso parenteral. Antibiótico Não é necessário Não é necessário Observação: O segundo esquema (clindamicina + gentamicina) é o indicado para pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos, ou nos casos de cirurgia com interposição de cólon. Metronidazol IV ou Clindamicina IV associado a Gentamicina IV Dose inicial indução anestésica 1g 600 a 900 mg 5 mg/kg Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Não é necessário Não é necessário Não é necessário Não é necessário Observação: 1- A contaminação acidental da cavidade abdominal por conteúdo intestinal, não é indicação para prolongar o tempo de profilaxia (máximo de 24 horas). 2- Nas perfurações intestinais por trauma, o antibiótico é mantido por período curto (3 a 5 dias), pois neste caso a contaminação da cavidade abdominal ocorre sem nível tecidual de antibiótico. 3- Nos pacientes com apendicite, o esquema antibiótico é semelhante, iniciado antes da cirurgia, no momento do diagnóstico. O tempo recomendado de tratamento é variável de acordo com os achados cirúrgicos: apenas hiperemia - 24 horas; infecção localizada - 3 a 5 dias; peritonite difusa - 7 dias. 7- Cirurgia Oftalmológica*: Não há recomendação para medicação sistêmica. A profilaxia é realizada com antiséptico (PVP-I - aquoso). 8- Cirurgia Ortopédica*: A profilaxia está indicada na colocação de próteses articulares e osteossínteses. Nas cirurgias que envolvem apenas partes moles, tecidos musculares e tendões, não recomendamos profilaxia. Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas 1 g 8/8 h por 24 h Observações: 1.- Para os pacientes alérgicos e nas reoperações precoces recomendamos esquema semelhante à cirurgia cardíaca (vancomicina + gentamicina). 2.- Nas fraturas abertas os pacientes devem receber cefazolina ou amoxicilina/sulbactam por 5 a 7 dias, de acordo com a gravidade do trauma e a evolução do paciente. 9 -Cirurgia Otorrinolaringológica*: A maioria das publicações encontradas na literatura não segue metodologia científica apropriada. De forma geral não recomendamos profilaxia nas amidalectomias e septoplastias. Orientamos profilaxia para as cirurgias de ouvido, com implante de prótese ou nos pacientes com problemas anatômicos e infecções repetidas Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas Não é necessário Observação: 1Nos pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos, recomendamos clindamicina. 2- Nos portadores de processo infeccioso crônico de ouvido médio optamos pela prescrição de amoxicilina/sulbactam. 10. Cirurgia Plástica*: Na literatura, os estudos são poucos e apresentam metodologia duvidosa. Considerando as conseqüências desastrosas que podem advir da infecção, em geral, a profilaxia com cefazolina (2g) é realizada em todos os procedimentos, devendo ficar restrita ao tempo de cirurgia. * Não prescrever antibióticos pós alta! 11- Cirurgia Torácica: A profilaxia está indicada para a maioria das cirurgias torácicas, com exceção dos pequenos procedimentos, como drenagem torácica e biópsia pleuro-pulmonar. Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina 2g 1 g a cada 3 horas 1g 8/8 h por 24 h Observação: Nos pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos, recomendamos clindamicina. 12– Cirurgia Urológica*: As cirurgias de próstata e vias urinárias são potencialmente contaminadas (paciente com urina estéril) ou contaminadas (presença de infecção urinária ou manipulação de cólon). A profilaxia está indicada nas cirurgias contaminadas, sendo sua eficácia questionável nos demais casos. Próstata e vias urinárias com urinocultura pré-operatória negativa Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Gentamicina IV 5,1 mg/kg Não é necessário Não é necessário 15- Herniorrafia: São cirurgias limpas, com risco reduzido de infecção, geralmente por S. aureus. Alguns autores recomendam profilaxia para todos os procedimentos; outros apenas para as hérnias incisionais ou com uso de tela. Orientamos, que optando por fazer antibiótico, o paciente deve receber dose única de cefazolina na indução anestésica. 16– Neurocirurgia: O antibiótico é recomendado em todas as neurocirurgias encefálicas, independente da colocação de prótese; não há benefício comprovado nas cirurgias de hérnia de disco ou de nervos periféricos. Limpas com ou sem prótese Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas Não é necessário Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas Não é necessário Observações: 1- Orientamos coletar urinocultura o mais próximo possível da cirurgia. 2- Para pacientes alérgicos a β-lactâmicos recomendamos profilaxia com aminoglicosídeos (amicacina ou gentamicina). 3- Os pacientes com urinocultura positiva devem receber preferencialmente tratamento pré-operatório. Não sendo possível aguardar, iniciar antibiótico de acordo com antibiograma, proceder a cirurgia e completar tratamento após procedimento. 4- Nas cirurgias com manipulação de cólon recomendamos profilaxia com metronidazol e gentamicina. Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos Antibiótico Vancomicina IV ou Teicoplanina IV Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia 1 g ou 15 mg/Kg Não é necessário 400 mg Não é necessário Doses adicionais após a cirurgia Não é necessário Neurocirurgias com acesso por mucosas 13- Cirurgia Vascular*: Recomendamos profilaxia para todas as cirurgias vasculares, excetuando-se as arteriais de membro superior e carótida, sem prótese ou enxerto. Todas as cirurgias de amputação têm indicação de profilaxia. Para o tratamento cirúrgico de varizes de membros inferiores, não há necessidade de antibiótico. Enxertos, shunts, amputação e reconstrução de vasos Antibiótico Dose inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia Cefazolina IV 2g 1 g a cada 3 horas 1 g 8/8 h por 24 horas Pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos e reoperações precoces seguir recomendação para Cirurgia Cardíaca. 14- Cirurgia de Vias Biliares: A profilaxia é recomendada para os pacientes idosos, com icterícia obstrutiva, cálculo biliar em colédoco, história recente de colecistite aguda (até 30 dias) ou cirurgia anterior do trato biliar. As recomendações são semelhantes nas cirurgias laparoscópicas. Antibiótico Dose inicial indução anestésica Cefazolina 2g Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia 1 g cada 3 horas Não é necessário Antibiótico Amoxicilina/ sulbactam IV Dose Inicial indução anestésica Doses adicionais durante a cirurgia Doses adicionais após a cirurgia 1,5 g 1 g cada 3 horas 1 g 8/8 h por 24 h Observação: Nos pacientes alérgicos aos beta-lactâmicos utilizar preferencialmente clindamicina (600 a 900 mg na indução anestésica, não há necessidade de dose adicional durante a cirurgia e 600 mg 6/6h por 24 horas). Atualizado em 2011/2012 CCIH Responde E-mail: [email protected] RECOMENDAÇÕES PARA O USO DE ANTIBIÓTICO PROFILÁTICO EM CIRURGIA CCIH - HUCFF - UFRJ INTRODUÇÃO: A infecção do sítio cirúrgico representa a principal causa de morbidade e letalidade no pós-operatório. Em várias situações, o uso profilático dos antibióticos associado a medidas gerais de prevenção de infecção cirúrgica, tem se mostrado eficaz, quando realizado de forma racional. RECOMENDAÇÕES GERAIS 1- Indicação - A antibioticoprofilaxia está indicada nas cirurgias onde a ocorrência de complicações é elevada ou grave, e a literatura demonstra a eficácia do uso. 2- Início do antibiótico - É fundamental garantir nível sérico adequado do antibiótico no momento da agressão tissular, seguindo um importante princípio de prevenção da infecção cirúrgica que é a aplicação do antibiótico cerca de 60-30 minutos antes do início da cirurgia, geralmente coincidindo com o momento da indução anestésica. 3- Posologia do antibiótico durante cirurgia - Os níveis plasmáticos protetores devem ser mantidos durante toda a cirurgia, fato freqüentemente esquecido nas intervenções de longa duração. Recomendamos que as doses sejam repetidas no decorrer do ato operatório, respeitando a meia-vida do fármaco e considerando o aumento das perdas sangüíneas inerentes ao procedimento. 4- Duração da profilaxia - Para a maioria dos pacientes não há vantagens em prolongar a profilaxia além do tempo cirúrgico. Grande parte dos procedimentos com duração inferior a 3 horas necessita de uma única dose de antibiótico na indução anestésica; outros mais demorados podem receber 2 a 3 doses adicionais. Em poucos pacientes recomendamos manter a profilaxia por 24 horas e excepcionalmente por 48 horas. A conduta de manter a antibioticoprofilaxia até a retirada dos drenos e cateteres é incorreta, pois além de não reduzir o percentual de infecção, aumenta a possibilidade de colonização por microrganismos resistentes aos fármacos utilizados. 5- Pacientes portadores de MRSA – Aqueles que necessitam submeter-se a tratamento cirúrgico, recomendamos a descolonização tópica prévia do MRSA. Se a descolonização prévia não for possível, e quando a profilaxia está indicada, o esquema deverá incluir o uso de glicopeptídeo. 6- Pacientes em uso de antibiótico - Quando o paciente apresenta uma patologia infecciosa que requeira tratamento antibiótico e necessite de intervenção cirúrgica, recomendamos ajustar a dose, garantindo a administração em horário próximo à cirurgia e nível tecidual durante todo o procedimento. De acordo com cada caso, o antibiótico terapêutico será mantido posteriormente, por período variável.