XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. ANÁLISE COMPARATIVA DE HEMOGRAMAS DE RATAS SUBMETIDOS AOS ANTICOAGULANTES EDTA (ÁCIDO ETILENODIAMINO TETRA-ACÉTICO) E HEPARINA Solange Bezerra da Silva1, Clovis José Cavalcanti Lapa Neto2, Ismaela Maria Ferreira de Melo3, Welma Emídio da Silva4, Hilda Michelly Paiva dos Santos 5, Mariana Bruno Carvalho Cavalcanti6, Fernanda Angelo das Chagas Mendes Tenório7. Introdução O hemograma é uma forma prática, fácil e econômica de se obter informações sobre a saúde do paciente, direcionando a realização de exames mais específicos e facilitando o diagnóstico (Garcia-Navarro, 2005). Ele torna possível a descoberta de doenças hematológicas e sistêmicas, tanto em humanos como em animais. É indicado para avaliação de anemias e sua classificação, para avaliação de reações infecciosas, inflamatórias e distúrbios plaquetários. Também orienta na diferenciação entre infecções viróticas, bacterianas, parasitárias, bem como intoxicações e neoplasias (Pardini, 2005). Segundo Gonzales & Silva (2003) conservantes físicos ou químicos devem ser utilizados com cautela, pois o uso inadequado pode fazer com que a amostra seja inviabilizada. A Heparina possui ação antitrombínica, impedindo a coagulação, enquanto o ácido etileno-diamino-tetracético (EDTA) é um composto orgânico que age formando complexos muito estáveis com diversos íons metálicos. Em razão dessa propriedade, o sal EDTA é usado como anticoagulante do sangue, pois quela os íons de cálcio, que promovem a coagulação sanguínea. De acordo com Sink e Feldman (2006) o EDTA é o anticoagulante de escolha para a realização do hemograma nas espécies domésticas, pois a heparina não é capaz de impedir a agregação plaquetária e causa alterações morfológicas nos leucócitos em espécies veterinárias. É o anticoagulante mais indicado para contagens de células sanguíneas em mamíferos, porque induz anticoagulação completa e preserva o detalhe celular (Harvey, 2001). Segundo Gonzáles e Silva (2003) as hemácias apresentam aumento da suscetibilidade à lise após 24 horas em contato com EDTA. Sabino, Trevelin e Ciarlini (2010) realizando estudos em aves, afirmam que para análises quantitativa e morfométrica dos parâmetros eritrocitários de avestruzes, a Heparina sódica (10 U/mL sangue) demonstrou ser um anticoagulante mais adequado do que o EDTA sódico (2 mg/mL sangue). Porém, existe controvérsia em relação ao uso de heparina para se coletar pequenas quantidades de sangue, principalmente no caso de gatos (BABO, 1998). Pinteric et al. (1975), relata que o EDTA promove alterações na membrana dos eritrócitos de humanos, modificando sua morfologia e desencadeando o processo de hemólise osmótica. Vários autores relataram agregação de eritrócitos, plaquetas e, principalmente, leucócitos, associada à presença de EDTA. A escolha do anticoagulante adequado é fundamental não somente para os exames hematológicos, mas alguns parâmetros imunológicos também sofrem interferência por estes fármacos (Walencik e Witeska, 2007). A literatura em relação ao uso destes ainda é muito controversa, sendo necessários outros estudos para observação de parâmetros hematológicos relacionados ao uso de anticoagulantes. Dessa forma, a pesquisa teve como objetivo avaliar os efeitos do uso do EDTA e heparina como anticoagulantes no hemograma de ratas fêmeas jovens. Material e métodos Foram utilizadas três ratas com 90 dias de vida, da espécie (Rattus norvegicus albinus), procedentes do Biotério da Universidade federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No momento da coleta sanguínea, as ratas foram aprisionadas em uma caixa de madeira e em seguida foi feita a limpeza da cauda. O sangue foi coletado da veia lateral caudal com o auxílio de um cateter (24G). De cada rata foram coletados 2 mL de sangue, onde 1 mL foi acondicionado em tubo 1 Primeira Autora é Doutoranda do programa de pós - graduação em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail:[email protected] 2 Segunda Autora é aluno do curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900 3 Terceira Autora é Doutoranda do programa de pós - graduação em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 4 Quarta Autora é Doutoranda do programa de pós - graduação em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900 5 Quinta Autora é Mestre em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 6 Sexto Autor é aluna do curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 7 Sétima Autora é Professora Assistente. Universidade Federal de Campina Grande. Rua Aprígio Veloso, 882, Bairro Universitário, Campina Grande, Paraíba, CEP. 58429-900. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. eppendorf contendo 15 microlitrosde EDTA (2.mg/mL de sangue) e 1 mL acondicionado em tubo eppendorf contendo 15 microlitros de heparina sódica (150UI/ mL de sangue). As amostras foram colocadas e geladeira e analisadas 12 horas após a coleta. O hemograma foi realizado no Hospital Veterinário da UFRPE. As amostras foram subetidas ao teste de Tukey com 95% de significância. Resultados e Discussão Com a análise da tabela 1 pode-se observar uma maior porcentagem no volume do hematócrito quando foi utilziado o EDTA como antigoagulante em comparação quando usado heparina como anticoagulante. Os valores de hematócrito relacionam-se a capacidade de transporte de oxigênio, a viscosidade do sangue e a eficiência de fluxo micro circulatório nos tecidos (ISBISTER, 1997). Esse aumento sugerir uma disfunção renal (desequilíbrio de sódio, potássio, cloro e outros eletrólitos) levando a um quadro de desidratação que é a causa mais comum de aumento do hematócrito (Tab 1). Já para contagem total de hemácias a heparina mostrou um maior valor que o EDTA. A produção de hemácias depende essencialmente da produção de eritropoetina principalmente nos rins. Um quadro de anemia pode ser causado pela falta de fatores estimulantes da eritropoese (eritropoetina) como ocorre na insuficiência renal (Gualandro, 2000), entre outros fatores. Com relação a contagem total de leucócitos, ambos os anticoagulantes se demonstraram sem diferenças estatísticas (Tab. 1) Os valores totais de hemoglobina se mostram elevados quando utilizado a heparina como anticoagulante em comparação com o EDTA. O volume corpuscular médio (VCM), que mede o volume da hemácia mostrou aumento significativo quando utilizado o EDTA, sabe-se que este anticoagulante promove a quelação dos íons Ca2+ que determina distúrbios na permeabilidade e estabilidade da membrana dos eritrócitos (Walencik & Witeska 2007). Dessa forma, os eritrócitos tornam-se sensíveis a variações em seu volume, o que pode ser causado por falhas nas trocas iônicas realizadas em sua membrana, o que justifica o aumento do VCM. Já para os valores da hemoglobina corpuscular média (mede o peso da hemoglobina dentro da hemácia), a heparina obteve as maiores médias. As demais análises não demonstraram diferenças significativas (Tab. 1) O conjunto dos resultados obtidos indica que, para a adequada interpretação do hemograma, deve ser considerado o tipo de anticoagulante utilizado na coleta da amostra. Amostras colhidas com EDTA podem mascarar o diagnóstico de processos anêmicos, quando considerado o valor de referência de VG obtido com sangue heparinizado. Por outro lado, quando considerada a contagem eritrocitária, a amostra colhida com EDTA pode induzir a um falso diagnóstico de anemia, por causa do efeito hemolítico desse sal. Agradecimentos Ao Hospital Veterinário da UFRPE. Referências Garcia- Navarro, C. E. K. Hemograma. In: Manual de Hematologia Veterinária. 2 ed. São Paulo: Varela, 2005, Cap. 5, p. 79-100. Gonzales, F. D.; Silva, S. C. Introdução à Bioquímica Clínica Veterinária. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Harvey, J. W. Atlas of Veterinary Hematology Blood and Bone Marrow of Domestic Animals. Florida: Saunders, 2001. Pardini, H. Manual de exames. Belo Horizonte, 2005, p.124-125. Disponível em: http://www.hermespardini.com.br/pardini/imagens/2002.pdf Pinteric, L.; Manery, J.F.; Chaudry, I.H.; Madalpallimattam , G. The effect of EDTA, cations, and various buffers on the morphology of erythrocyte membranes: an electronmicroscopic study. Blood, 45:709–724. 1975. Sink, C. A.; Feldman, B. F. Urinálise e Hematologia Veterinária. São Paulo: Roca, 2006. Walencik, J.; Witeska, M. The effects of anticoagulants on hematological indices and blood cell morphology of common carp (Cyprinus carpio L.). Comparative Biochemistry and Physiology: Part C: toxicology and pharmacology. 146(3): 331 - 335. 2007. Gualandro, S. F. M. Diagnóstico diferencial das anemias. J. Bras. Nefrol., v.22, p.7-10, 2000. Isbister, J. P. Physiology and pathophysiology of blood volume regulation. Transfus. Sci. v.18, n.3, p. 409-423, 1997. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Tabela 1: Hemograma dos animais experimentais submetidos ao EDTA e Heparina. HT (%) CTH (106/µL) CTL (103/µL) HEMOGLOBINA VCM HCM PLAQUETAS (103/µL) PROTEÍNAS TOTAIS EDTA 53,00 ± 1,0 a 9,22 ± 0,7 b 12,00 ± 2,5 a 19,73 ± 1,6 b 57,70 ± 3,7 a 37,21 ± 2,6 b 823,67 ± 386,6 a 6,87 ± 0,2 a Heparina 45,67 ± 2,0 b 11,51 ± 0,2 a 11,80 ± 1,7 a 24,50 ± 0,8 a 39,66 ± 1,5 b 53,76 ± 3,9 a 805,67 ± 80,8 a 6,40 ± 0,2 a NEUTRÓFILOS (%) 30,67 ± 9,3 a 35,00 ± 3,6 a LINFÓCITOS (%) 68,33 ± 9,3 a 62,67 ± 4,0 a EOSINÓFILOS (%) 0,00 ± 0,0 a 0,00 ± 0,0 a MONÓCITOS (%) 1,00 ± 0,0 a 1,33 ± 0,5 a BASÓFILOS (%) 0,00 ± 0,0 a 0,00 ± 0,0 a Letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey (P<0,05).