ABNT - UNOPAR - Completo

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POS GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA
ELTON HIDEYOSHI KONISHI
Perfil do uso de antimicrobianos na área pediátrica
Londrina
2012
ELTON HIDEYOSHI KONISHI
Uso de antimicrobianos na área pediátrica
Monografia
apresentada
ao
curso
de
Especialização em Farmacologia do Centro
Universitário Filadélfia – UniFil.
Orientadora Profa. Dra.Lenita Brunetto Bruniera
Co-orientadora Profa. Esp. Fabiane Yuri
Yamacita
Londrina
2012
A Deus por sua infinita luz que em nenhum momento
me deixou esmorecer,
mesmo nas horas em que eu estive prestes a desanimar.
Aos meus pais Hideo Konishi e Neusa Yoshiko Konishi,
por terem sempre a preocupação em me
educar e apontar os caminhos corretos a
serem trilhados.
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora Profa. Dra.Lenita Brunetto Bruniera por ter
repartido seus conhecimentos.
A minha Co-orientadora Profa. Esp. Fabiane Yuri Yamacita pelos
apontamentos, atenção, zelo e paciência.
Aos colegas de turma pelo companheirismo e horas de convívio.
“Eu não me envergonho de corrigir e
mudar minhas opiniões, porque não me
envergonho de raciocinar e de aprender.”
Alexandre Herculano
KONISHI, Elton Hideyoshi. Uso de antimicrobianos na área pediátrica. 2012.
49 f. Monografia (Farmacologia) - Centro Universitário Filadélfia – UniFil, Londrina,
2012.
RESUMO
Nos pais, o índice maior de incidência de intoxicação medicamentosa está
diretamente ligado a automedicação e de acordo com a ANVISA um brasileiro a
cada 20 segundos é vitima de intoxicação devido ao uso irracional de
medicamentos. O uso de antimicrobianos tem se destacado nas políticas de
racionalização de medicamentos por serem um dos mais consumidos em nível de
atenção primaria. Sabe-se que os antimicrobianos são singulares por influenciarem
não apenas o individuo que o consome como também em todo o ecossistema em
que se encontra inserido. Há estudos que evidenciam que a inapropriação de
medicamentos antimicrobianos acarretam em seleção e disseminação de
microorganismos resistentes e, levam a necessidade de medicamentos mais novos
e com maior custo, sem falar no desenvolvimento de resistência microbiana e
conseqüentes problemas devido a este fato. Entre as causas encontram-se que o
difícil acesso ao atendimento médico seja decorrente de problema financeiro ou não
e da cultura familiar; outra problemática é a influência da mídia. O presente trabalho
realizou um levantamento bibliográfico sobre as pesquisas referentes ao uso de
medicamentos antimicrobianos em crianças dispostos na BIREME por meio das
palavras antimicrobianos e automedicação. Foi percebido que os antimicrobianos
mais utilizados é a penicilina, em muitas ocasiões sem qualquer cuidado em verificar
a real necessidade de uso do medicamento, o que é pior, muitas vezes a indicação
da terapia é realizada por profissionais da saúde. Um outro ponto a ser considerado
é a falta de publicação a respeito da automedicação antimicrobiana em crianças
dispostos na BIREME levando a inferência de que os trabalhos científicos que são
produzidos sobre o assunto não contemplam as exigências de conteúdo desse
bancos de dados ou, a produção de estudos com a temática ainda não vem
causando impacto suficiente para que os pesquisadores se voltem ao assunto.
Salienta-se que é o farmacêutico o profissional capacitado em avaliar prescrições
médicas, propor o uso racional de medicamentos, executar a pratica na atenção
farmacêutica, proporcionando assim informações sobre a utilização adequada tanto
de antibióticos quanto de outros medicamentos como forma de melhorar a
qualidade de vida desses pacientes
Palavras-chave: Automedicação. Antimicrobiano. Crianças.
KONISHI, Elton Hideyoshi. The use of antimicrobials in the Pediatric area. 2012.
48 p. Paper (Pharmacology) - Centro Universitário Filadélfia – UniFil, Londrina,
2012.
ABSTRACT
In the country, the highest indication of the incidence of drug intoxication is strictly
related to self-medication, and according to ANVISA, every 20 seconds one Brazilian
is the victim of intoxication due to the irrational use of medicines. The use of
antimicrobials has stood out in the actions of medicines’ rationalization since they are
among the most consumed in terms of primary attention. It is known that the
antimicrobials are singular for influencing not only the individual consuming it, but all
the ecosystem in which it is inserted. There are studies evidencing that the
inadequacy of antimicrobial’s medicines lead to the selection and dissemination of
resistant microorganisms, and lead to the need of newer and more expensive
medicines, not to mention the development of microbial resistance, and the
consequent problems originating from that. Among the causes are: the difficult
access to medical care either resulting from financial problems or from family culture;
another problematic is the media influence. The present study has carried out a
bibliographic research over the studies related to the use of antimicrobial medicines
in children available at BIREME through the use of the words antimicrobials and selfmedication. It could be noticed that the most used antimicrobials are those originating
from penicillin, many times without any concern to check the real need of using that
medicine, and, what is worse, the therapy indication is usually made by health
professionals. Another point to be considered is the lack of publications concerning
the antimicrobials’ self-medication in children at BIREME, leading to the inference
that the scientific studies produced over the subject do not consider the content
demand of such data bank, or the production of studies under that theme hasn’t yet
caused enough impact for researchers to turn onto that. It is stressed that the
pharmacist is the professional skilled to evaluate medical prescriptions, propose the
rational use of drugs, execute the practice in pharmaceutical attention, providing,
thus, information about the adequate use of either antibiotics or of any other
medicine as a means to improve the quality of life of those patients.
Key words: Self-medication. Antimicrobial. Children.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 10
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 11
4 REFERENCIAL TEORICO..................................................................................... 12
4.1 Automedicação .................................................................................................. 12
5 ANTIMICROBIANOS ............................................................................................. 17
5.1 Antimicrobianos Beta-Lactâmicos .................................................................. 21
5.1.1 Penicilina .......................................................................................................... 22
5.1.2 Cefalosporina .................................................................................................. 23
5.1.3 Carbapenens .................................................................................................... 24
5.1.4 Monobactans .................................................................................................... 25
5.2 Quinolonas......................................................................................................... 25
5.3 Glicopeptídeos .................................................................................................. 26
5.4 Oxazolidinonas .................................................................................................. 26
5.5 Aminoglicosideos ............................................................................................. 27
5.6 Macrolideos ....................................................................................................... 27
5.6.1 Lincosaminas ................................................................................................... 28
5.7 Papel do farmaceutico ...................................................................................... 28
6 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ENCONTRADOS .............................................. 31
7 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................... 34
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 40
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 42
8
1 INTRODUÇÃO
O uso de antimicrobianos tem se destacado nas políticas de
racionalização de medicamentos por serem um dos mais consumidos em nível de
atenção primaria por meio da prática médica. Em muitos casos, os antibióticos
usados para tratar infecções virais ou nos casos em que eles não são provavelmente
necessários (PICAZO; PÉREZ-CECILIA; HERRERAS, 2003).
Há estudos que evidenciam que a inapropriação de medicamentos
antimicrobianos acarretam em seleção e disseminação de microorganismos
resistentes e, levam a necessidade de medicamentos mais novos e com maior
custo, sem falar no desenvolvimento de resistência microbiana e conseqüentes
problemas devido a este fato (ABRANTES et al., 2008).
A título de informação, se estima que o Estados Unidos anualmente
tem um custo entre 4 a 5 bilhões de dólares apenas com tratamento da resistência
bacteriana (DEL FIOL et al., 2010).
Deste modo, a não compreensão da problemática na área de saúde,
maximiza e contribui para o aumento indiscriminado do uso de antimicrobianos.
De forma generalizada, os antibióticos são substâncias de origem
biológica semi-sintética ou sintética sendo usados para impedir o desenvolvimento
de microorganismos patogênicos vindo a atuar por meio de diversos mecanismos
farmacológicos a exemplo, penicilina e tetraciclina.
De acordo com Rodrigues e Bertoldi (2010), as doenças infecciosas
são combatidas por meio do uso dessas medicações e seu uso adequado é uma
das preocupações mundiais na atualidade.
Sabe-se que os antimicrobianos são singulares por influenciarem
não apenas o individuo que o consume como também em todo o ecossistema em
que se encontra inserido, assim, provocando repercussão como um todo
(MALDONADO; LLANOS-ZAVALAGA; MAYKA, 2002).
Seu uso indiscriminado é prevalente, em especial, em países em
desenvolvimento. No Brasil, como meio de diminuir seu uso a partir de 28 de
novembro de 2010 por meio da Resolução da Diretoria Colegiada 20/2011 (ANVISA,
2011), no capítulo IV, artigo 9 foi preconizado que:
9
Art. 9º A dispensação em farmácias e drogarias públicas e privadas dar-seá mediante a retenção da 2ª (segunda) via da receita, devendo a 1ª
(primeira) via ser devolvida ao paciente.§ 1º O farmacêutico não poderá
aceitar receitas posteriores ao prazo de validade estabelecido nos termos
desta Resolução.§ 2º As receitas somente poderão ser dispensadas pelo
farmacêutico quando apresentadas de forma legível e sem rasuras.§ 3º No
ato da dispensação devem ser registrados nas duas vias da receita os
seguintes dados: I - a data da dispensação; II - a quantidade aviada do
antimicrobiano; III - o número do lote do medicamento dispensado; e IV - a
rubrica do farmacêutico, atestando o atendimento, no verso dareceita.
A automedicação é fato real constatado recentemente por Medeiros,
Pereira e Medeiros (2011) no estudo com crianças entre 2 anos e 11 meses e 4
anos e 4 meses, sendo apontado a prevalência de 55,8% de consumo de
medicamentos sem prescrição médica, por intermédio das mães. Entre as causas
encontram-se que o difícil acesso ao atendimento médico seja decorrente de
problema financeiro ou não e da cultura familiar; outra problemática é a influência da
mídia.
O estudo sobre eventos tóxicos com medicamentos em crianças
realizado por Matos et al. (2008), apontou que a principal classe terapêutica
apresentado nos eventos tóxicos, associa-se primeiramente ao sistema nervoso
central e, em segundo lugar os antimicrobianos em especial, os que atuam no
sistema respiratório. Nesse caso, a prevalência ocorreu com a amoxicilina, indicando
a necessidade da divulgação dos fatores de risco e a possível mudança de
comportamento pelos responsáveis por crianças de faixa etária de maior risco.
Damasceno et al. (2007) que afirma ser o farmacêutico um
profissional que possui conhecimento sobre os fármacos, modo de atuação e
administração sendo desta forma, primordial no tocante a orientação quanto ao uso
da medicação.
Tendo em vista a situação apresentada por meio dos autores
referidos e, percebendo que mesmo com os avanços na área de farmacologia
pediátrica ainda se faz necessário informar-se sobre aspectos relevantes quanto a
terapêutica, aliado a escassez em estudos em especial, com o perfil do uso de
antimicrobianos em crianças, pretende-se por meio de revisão bibliográfica contribuir
no tocante ao assunto.
10
2 OBJETIVOS
Este trabalho apresenta como objetivo geral realizar levantamento
bibliográfico sobre as pesquisas referentes ao uso de medicamentos antimicrobianos
em crianças e como objetivos específicos:
- Realizar levantamento sobre a quantidade de trabalhos que falam
sobre o uso de antimicrobianos e automedicação em crianças no Banco de dados
BIREME com o uso de antimicrobianos e automedicação como palavras-chave;
- informar os assuntos mais discutidos nos estudos encontrados.
- Apontar a maior prevalência do uso das classes de antimicrobianos
em crianças.
- Informar sobre o papel do farmacêutico em relação a problemática.
11
3 METODOLOGIA
Sabe-se não haver ciência sem o emprego de métodos científicos.
Desta forma o presente estudo tem como instrumento metodológico o uso de revisão
bibliográfica , nesse sentido, a metodologia tem a atribuição de descrever e explicar
os
procedimentos
que
serão
realizados
buscando
alcançar
os
objetivos
anteriormente planejados em um trabalho científico.
Para Lakatos e Marconi (2010) a pesquisa bibliográfica possibilita
fornecer bases ao pesquisador para que esteja em contato com a produção
científica de um determinado assunto.
12
4 REFERENCIAL TEORICO
4.1 Automedicação
A automedicação é comum no Brasil, sendo assunto polêmico, em
muitas ocasiões controverso e, de extrema importância. Define- se como um ato que
abrange diversas formas pelos quais o individuo ou cuidadores decidem, sem
critérios médicos as formas de utilizá-la para alivio sintomático e “cura”,
compartilhando remédios com outros membros familiares ou do circulo social,
usando sobras de prescrições ou, descumprindo a indicação profissional,
prolongando ou interrompendo precocemente a dosagem e o período de tempo
indicados na receita (OGAWA et al., 2008).
Assim classifica-se como o uso de medicação sem prescrição
médica a fim de tratar sintomas ou problemas de saúde (BECKHAUSER, 2010).
Entre suas práticas está a de usar receituário antigo, interromper ou prolongar a
dosagem e/ou tempo de tratamento e também dividir os medicamentos com os
demais membros da família e de acordo com Cella e Almeida (2012) tal prática pode
ter influência de vizinhos, amigos, familiares, atendentes de farmácia, entre outros.
Beckhauser et al. (2010, p. 263) informa que para a Organização
Mundial da Saúde (OMS) a automedicação “consiste na seleção e utilização de
medicamentos isentos de prescrição (sem tarja) para tratar doenças autolimitadas ou
seus sintomas, estando inclusa no processo de autocuidado”.
O hábito de utilizar medicação sem indicação médica preocupa as
autoridades de vários países, uma vez que o índice de internações devido aos
efeitos colaterais e reações adversas chega a ultrapassar a casa dos 10%, nesse
sentido o Brasil visa alertar a população para os riscos da automedicação e o
Ministério da Saúde por meio do Política de Medicamentos do Ministério da Saúde
procura conscientizar a nação da necessidade de usar os remédios com precaução
(BRASIL, 2012).
Entretanto Aquino (2007) é taxativo ao afirmar que o brasileiro se
automedica porque o estado não disponibiliza serviços de saúde de forma acessível,
obrigando o cidadão a enfrentar horas, dias e até meses para ser atendido por um
médico.
13
Confirmando a idéia, Pereira et al. (2007) consideram que o
consumo de medicamentos é um indicador indireto de qualidade dos serviços de
saúde sendo as crianças e adolescentes representados e predispostos de forma
explícita ao uso irracional de medicamentos com ou sem controle médico e para
Pereira et al. (2007, p. 455) “a prevalência da automedicação em crianças e
adolescentes
é
uma
prática
real
e
freqüente,
independente
do
nível
socioeconômico”.
O uso indiscriminado de fármacos pode contribuir na dificuldade de
detecção de enfermidades já que as complicações são verificadas em longo prazo,
fazendo com que não se perceba os efeitos indesejáveis, mascaramento de
doenças, interação medicamentosa e intoxicações (BERTOLDI et al., 2004). Desse
modo, “o uso abusivo, insuficiente ou inadequado de medicamentos lesa a
população e desperdiça os recursos públicos” (WANNMACHER, 2010, p. 1).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2004, p. 68) os
fatores que interferem no uso Racional dos Medicamentos são os seguintes:
a) Demografia
-
Populações em processo de envelhecimento
-
Populações pediátricas vulneráveis
-
Crescimento populacional
-
Mudanças nos padrões das doenças/epidemiologia
-
Distribuição geográfica das populações
b) Fatores econômicos
-
Aumentos nos custos de atenção à saúde
-
Economias nacional e global
-
Aumento no hiato entre ricos e pobres
c) Tecnologia
-
Desenvolvimento de novos medicamentos
-
Novas
técnicas
de
acesso
à
informação
informações sobre os medicamentos disponíveis
-
Medicamentos mais complexos e potentes
-
Biotecnologia
d) Fatores Sociológicos
e
novas
14
-
Expectativas e participação dos consumidores
-
Abuso e mau uso dos medicamentos
-
Uso de medicamentos tradicionais
e) Fatores Políticos
-
Prioridades no uso dos recursos nacionais (alocados para a
saúde)
-
Filosofia de mercado em mutação
-
Compreensão da farmácia por parte dos que elaboram as
políticas
f)
-
Regulamentação dos medicamentos
-
Políticas nacionais de medicamentos
-
Lista de Medicamentos Essenciais
Fatores Profissionais
-
Variações na formação/capacitação dos farmacêuticos
-
Distribuição dos recursos humanos farmacêuticos
-
Evolução da filosofia rumo à atenção do usuário na farmácia
-
Base de remuneração dos farmacêuticos
g) Fatores relativos á prestação de Serviços de Saúde
-
Acesso aos serviços de saúde
-
Tendência de tratamento de doenças graves fora dos
hospitais.
No
Brasil,
o
índice
maior
de
incidência
de
intoxicação
medicamentosa está diretamente ligado a automedicação e de acordo com a
ANVISA um brasileiro a cada 20 segundos é vitima de intoxicação por uso irracional
de medicamentos (CELLA; ALMEIDA, 2012).
Por ser cuidada pela própria família, tal prática é potencializada na
população infantil, onde seus membros não levam em conta os riscos relacionados
aos medicamentos, a exemplo, “intoxicação, reações inesperadas, interações com
outros medicamentos e alimentos e as super dosagens que podem causar o óbito
(SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011, p. 1).
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox)
os medicamentos são os primeiros na lista de causadores de intoxicações e
somente no ano de 2002 provocaram 26,9% do total de intoxicações registradas no
15
país (BRASIL, 2012), destancando-se nesse sentido os benzodiazepínicos,
antidepressivos, antiinflamatórios e os para alívio sintomático da gripe como os que
mais causam intoxicação (BRITO; NASCIMENTO JR., 2012).
Para Oliveira et al. (2012, p. 342) :
[...] as diferenças no padrão de uso de medicamentos e na prevalência de
automedicação podem ser parcialmente atribuídas a especificidades das
populações, ao estado de saúde, à utilização de serviços e modelo de
atenção à saúde, bem como a características demográficas, sociais e
culturais ligadas ao consumo de medicamentos.
Braios et al. (2012) destacam que os antibióticos são responsáveis
por causar reações adversas como diarréia por tetraciclina, arritmia pelo uso de
fluoroquinolonas e macrolídeos e mielossupressão por trimetoprima.
Não se discorda que a automedicação é um hábito que coloca em
risco a saúde do indivíduo, todavia esse fato torna-se particularmente relevante
quando os sujeitos são crianças o que torna necessário políticas públicas
com
intervenções e estratégias de promoção da saúde, a fim de que a população se
previna dos males que podem ser potencializados com a automedicação, seguindo a
idéia da
Organização Mundial da Saúde que afirma que a melhor forma de
combater a automedicação em especial nos países em desenvolvimento é o
investimento tanto na educação e supervisão dos profissionais de saúde, quanto na
educação do consumidor , além disso, os governos devem garantir a população o
acesso a medicamentos apropriados (WANNMACHER, 2010).
Scarcela, Muniz e Cirqueira (2011) salientam que o antibiótico
Amoxicilina é um dos mais conhecidos, procurados e vendidos em grandes
quantidades pelas drogarias, com ou sem prescrição médica e seu uso
indiscriminado cria cepas microbianas resistentes e consequentemente dificulta os
tratamentos futuros onde realmente seja necessária o seu uso, exigindo assim
intervenções mais fortes. A problemática envolve os custos desses tratamentos,
pesquisa e fabricação de medicamentos que sejam mais potentes, vindo a refletir
nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil
(SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011).
Os autores reforçam que a automedicação envolve não somente
medicamentos industrializados, mas os remédios caseiros, ministrados às crianças
antes de encaminhá-las ao pediatra e em grande parte das vezes essa ação apenas
16
se realiza quando os sintomas da doença persistem ainda se tem o hábito de utilizar
receitas de consultas anteriores, informações de parentes ou vizinhos, além
indicação das propagandas comerciais (SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011).
Nesse sentido:
O objetivo da OMS na área de medicamentos é contribuir para salvar vidas
e promover a saúde, assegurando a qualidade, segurança e o uso racional
dos medicamentos, incluindo medicamentos tradicionais e promovendo o
acesso eqüitativo e sustentável a medicamentos essenciais, principalmente
àqueles para os pobres e necessitados (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2004, p. 4).
Oliveira et al. (2012) alertam que a automedicação também pode ser
induzida por meio de campanhas publicitárias que apresentam os medicamentos
como bem de consumo invés de insumo crucial para a promoção, prevenção e
recuperação da saúde , sem esclarecer a população dos riscos associados o uso
indevido, visando somente ao lucro dos fabricantes.
Tendo em vista que os canais de comunicação também colaboram
para a divulgação de novos medicamentos e alguns casos induz o uso desses
produtos, não há como contestar a importância quanto a monitoração e fiscalização
da propaganda de medicamentos que no Brasil fica por competência da ANVISA.
Nesse sentido, a Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008
(ANVISA, 2008) define como propaganda e/ou publicidade de medicamentos como
um conjunto de técnicas ˝ e atividades de informação e persuasão com o objetivo de
divulgar conhecimentos, tornar mais conhecido e/ou prestigiado determinado
produto ou marca, visando exercer influência sobre o público por meio de ações que
objetivem promover e/ou induzir à prescrição, dispensação, aquisição e utilização de
medicamento.
17
5 ANTIMICROBIANOS
Devido aos problemas causados pela automedicação a preocupação
com o uso inadequado de antimicrobianos vem tomando maior proporção. Um dos
maiores agravantes é o crescimento de microrganismos multi-resistentes que
causam limitações das possibilidades terapêuticas e por consequinte aumentam as
taxas de letalidade e custos de tratamento (SOUZA, 2008).
De acordo com Castro et al. (2003) os países em desenvolvimento
empregam mínimos recursos na monitorização de ações em relação ao uso racional
de antimicrobianos, todavia o consumo de antibióticos na Espanha em especial as
penicilinas de amplo espectro e macrolídeos, é alarmante (GRANIZO, 2001).
A nível mundial, os três grupos de medicamentos mais utilizados em
crianças são os antibióticos, seguidos de analgésicos e/ou antitérmicos. Essas
medicações são usadas incorretamente, destacando-se os problemas quanto ao uso
de antibióticos para tratar de doenças cuja etiologia é viral, fármacos cuja efetividade
ainda não o está comprovada, erros na dose, no intervalo de administração e no
tempo de uso, vindo a acarretar riscos a saúde da criança e, no caso dos antibióticos
à comunidade (SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a efetividade dos
antimicrobianos acabará em aproximadamente 20 anos (FANHANI; BELTÃO, 2011),
doravante a situação:
A emergência dos microrganismos resistentes preocupa pesquisadores e
profissionais responsáveis pelo controle de infecção relacionada ao cuidar
em saúde, sendo essa uma prioridade em todo o mundo. Para estabelecer
o controle desses patógenos, torna-se essencial conhecer os fatores de
risco para o desenvolvimento de infecções (OLIVEIRA et al., 2010, p. 9).
Em seu estudo Scarcela, Muniz e Cirqueira (2011) informam que no
Brasil anualmente os antibióticos correspondem a 12% do total das prescrições
ambulatoriais, economicamente o valor chega a 15 bilhões de dólares, sendo que
grande parte dessas medicações são indicadas de forma incorreta, dessa forma o
uso racional de medicamentos inclui entre outras coisas uma escolha terapêutica
correta, dose, administração e duração do tratamento adequado, dispensação
correta, incluindo informação apropriada sobre os medicamentos prescritos etc.
Os antimicrobianos pertencem a classe de fármacos que tem um
18
consumo frequente tanto em hospitais quanto na comunidade sendo o seu uso
racional para o século XXI, uma das metas dispostas pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) já que são eles os únicos agentes farmacológicos que não afetam
somente quem os utiliza mas também interferem significativamente na alteração da
ecologia microbiana, nesse sentido,
Os agentes antimicrobianos ß-lactâmicos compartilham o anel central de ßlactâmico que possui quatro elementos, sendo seu principal modo de ação a
inibição da síntese da parede celular. Estruturas anelares adicionais ou
grupos substituintes acrescentados ao anel ß-lactâmico determinam se o
agente
é
penicilina,cefem,
carbapenem,
ou
monobactam
PADRONIZAÇÃO...., 2003, p. 26)
Assim, os antibióticos beta lactâmicos possuem uma peculiaridade,
ou seja, a presença do anel beta-lactâmico é
conforme demonstra a figura 1 a seguir.
comum a todos deste
grupo,
19
Figura 1 - Estrutura química dos antibióticos beta-lactâmicos
Fonte: Ensina et al. (2009, p. 75)
De acordo com Rosário e Grumach (2006) a penicilina é uma
substância química de baixo peso molecular. Tal fato faz com que tenha
necessidade de se ligar covalentemente a macromoléculas tissulares para que seja
possível a produção de complexos hapteno-proteína e indução da resposta imune.
Desta forma, o anel ß- lactâmico de forma espontânea se abre por
meio de condições fisiológicas, vindo a formar uma ligação amido com grupos
epsilonamino de proteínas adjacentes (ROSARIO; GRUMACH, 2006).
Albelo e Tallet (2009) consideram que o conhecimento dos princípios
gerais que norteiam o uso de antimicrobianos de suas propriedades e características
básicas são essenciais para uma escolha terapêutica adequada, uma vez que, tanto
a taxa quanto a absorção do fármaco dependem de suas propriedades físicoquímicas e do ambiente no local da administração (NODA ALBELLO; VIDAL
TALLET, 2009).
Já Amato Neto, Nicodemo e Lopes (2007) abordam os problemas
relacionados à qualidade do uso clínico dos antimicrobianos, entre eles é o fato de
20
que quase a metade das prescrições médicas destes medicamentos são realizadas
inadequadamente e seu uso excessivo associa-se tanto a emergência, quanto a
seleção de cepas de bactérias mais resistentes, efeitos adversos, elevação de
morbi-mortalidade, de custos, entre outros.
Ou seja, os antimicrobianos:
constituem a mais receitada das classes de medicamentos. Eles são
empregados com diversas finalidades nas infecções e profilaxia de
infecções. Devido ao emprego indiscriminado dos antibióticos, surgiram
cepas resistentes de diversos microrganismos patogênicos. Antibióticos de
amplo espectro podem provocar o fenômeno da superinfecção
(HARAMAGUCHI, 2000, p. 7).
A eficácia do antimicrobiano depende de vários fatores, a exemplo:
concentração ideal no local da infecção, capacidade em atravessar a parede celular,
afinidade pelo sítio de ligação no interior da bactéria, permanência suficiente de
modo a exercer seu efeito inibitório, etc (HARAMAGUCHI, 2000).
Quando administrados na pele os antimicrobianos primeiramente
atingem o órgão-alvo, em concentrações decrescentes da superfície para o
subcutâneo, depois se distribui pelo organismo em quantidades variáveis e, por fim,
são eliminados (WANNMACHER, 2006).
Para melhor compreensão tem-se a figura 2 abaixo:
Figura 2- Fatores relacionados a ação dos antimicrobianos
Fonte: ANVISA (2012)
21
5.1 Antimicrobianos Beta-Lactâmicos
Devido a sua eficácia e segurança os antimicrobianos do grupo dos
beta-lactâmicos são os principais antibióticos prescritos, todavia apresentam alta
incidência de reações alérgicas com variáveis manifestações entre elas urticária,
anafilaxia, citopenias, vasculites e exantemas (ENSINA et al., 2009).
Deste modo que:
Reações de hipersensibilidade podem ocorrer com qualquer tipo de droga,
fazendo com que as atenções e os cuidados requeridos para as penicilinas
sejam os mesmos dedicados aos demais medicamentos (ROSÁRIO;
GRUMACH; 2006, p. 185).
Desse modo, a reação alérgica a penicilina tem a chance de ocorrer
em aproximadamente 2% por tratamento, sendo raríssimas as ocorrências
anafiláticas (ROSÁRIO; GRUMACH, 2006). Assim,
Alergia é a hipersensibilidade provocada por mecanismo imunológico,
podendo ser mediada por anticorpos (humoral) ou por células (celular).
Reações a drogas que surgem em conseqüência de reação imunológica
são chamadas de alergia a drogas, acrescentando-se o tipo de mecanismo
da reação, por exemplo, alergia a droga mediada por IgE.
Pinto (2002) afirma que as reações alérgicas em crianças devido a
fármacos na grande maioria provem dos antibióticos beta-lactâmicos e sulfonamidas
Para Rosário e Grumach (2006) a hipersensibilidade a esses
medicamentos podem ser avaliada por meio de testes cutâneos realizados com os
determinantes maior e menores, como meio de evitar o choque anafilático em
indivíduos alérgicos.
Todavia, Geller et al. (2005) apontam que o diagnóstico de alergia à
penicilina em muitas ocasiões é realizado de forma inapropriada e sem adequada
documentação imunológica, fazendo com que muitas pessoas sejam
alérgicas, passando a evitar permanentemente
o uso de
rotuladas de
antibióticos beta-
lactâmicos. Nesse sentido, é essencial que se faça uma correlação entre a história
clínica apresentada e a investigação alergoimunológica.
Nos testes cutâneos a alergia a penicilina pode ser avaliada por
meio de moléculas determinantes maiores (benzilpeniciloil) e determinantes menores
(penicilina G ou mistura de determinantes menores), assim, os testes cutâneos com
22
determinantes utilizam o grupo benzilpenicilil unido agregado a uma cadeia
polipeptídica (peniciloil-polilisina, PPL maiores) como reagente.
Tal teste permite a prevenção de reações urticarianas e aceleradas
e se positivo demostra que o individuo apresenta anticorpos IgE para a penicilina
tendo potencialidade de apresentar reação alérgica imediata se entrar em contato
com a droga (BERND, 2005). Já o resultado do teste cutâneo quando negativo,
demonstra ausência de sensibilização mediada por IgE (BERND, 2005).
Rosário e Grumach (2006) alertam que os testes devem ser
realizados com os preparados adequados, e em nenhuma hipótese deve ser
aplicada a própria penicilina por via intradérmica ou outra via sob o risco de ocorrer
uma reação anafilática imediata.
Tem-se na figura 3 o roteiro prático para o diagnóstico de alergia a
penicilina.
Figura 3 - Roteiro para o diagnostico de alergia a penicilina.
Fonte: Rosário NA & Grumach (2006, p.185)
5.1.1 Penicilina
Tal medicamento foi descoberto em 1928 pelo estudioso Fleming
sendo muito utilizada até hoje. Divide-se em penicilinas naturais ou benzilpenicilinas;
aminopenicilinas; penicilinas resistentes às penicilinases e penicilinas de amplo
espectro sendo estas desenvolvidas de modo a evitar resistência bacteriana. Tem
finalidade profilática ou de combater pneumonias, otites, sinusites, faringites,
epiglotites, infecções cutâneas, e do aparelho reprodutor, meningites e endocardites
23
bacterianas, entre outras (GRUMACH; FERRARONI, 2006).
Para Grumach et al. (2007) os casos de hipersensibilidade ao uso da
penicilina divide-se em:
a)
Reações imediatas: podem ocorrer até 20 minutos após a
administração parenteral do medicamento, ou, ate 60 minutos
quando por via oral. Dentre as características destaca-se rubor
cutâneo, prurido e urticária, entretanto em casos mais graves
podem ocorrer edema laríngeo, arritmia cardíaca e choque
prurido. Ressalta-se que a erupção cutânea é a principal
sintomatologia da alergia, entretanto em muitas ocasiões pode
estar associada a manifestações da doença a ser tratada e
também
efeito
direto
do
uso
concomitante
de
outro
medicamento;
b)
Reações aceleradas: ocorre no período de uma a 72 horas após
o uso de penicilina, podendo provocar angioedema, edema
laríngeo e até mesmo hipotensão e morte, embora esses dois
últimos ocorram em raras excessoes;
c)
Reações tardias: o processo fisiopatológico desse mecanismo é
motivo de estudos por não ser totalmente conhecido e os
sintomas aparecem após 72 atraves de erupções cutâneas
benignas,
morbiliformes.
Há
casos
em
que
ocorrem
hipertermia, doença do soro-símile, trombocitopenia, nefrite
intersticial, anemia hemolítica imune, infiltrado pulmonar com
eosinofilia e ate mesmo e vasculite de hipersensibilidade.
Ressalta-se que os testes cutâneos de hipersensibilidade imediata
são métodos eficazes e adequados para avaliar quanto a alergia à penicilina
(GRUMACH et al.,2007).
5.1.2 Cefalosporina
Os de primeira geração podem ser usados durante a gestação,
combatem os cocos gram-positivos, tendo atividade moderada contra E. coli,
24
Proteus mirabilis e K. pneumoniae adquiridos na comunidade, sendo também ativo
contra H. influenzae e, porem não possuem efeito contra estafilococos resistentes à
oxacilina, pneumococos resistentes à penicilina, Enterococcus spp. e anaeróbios
(BELTRÃO; FANHANI, 2011).
As cefalosporinas de primeira geração são apropriadas no
tratamento de infecções causadas por S. aureus sensíveis à oxacilina e
estreptococos, infecções de pele, partes moles, faringite estreptocócica, do trato
urinário não complicadas, principalmente durante a gravidez. Por sua baixa
toxicidade, espectro de ação, custo e meia vida prolongada é recomendado como
profilaxia de várias cirurgias (BELTRÃO; FANHANI, 2011).
Possui ação limitada contra bacilos gram-negativos, além disso, não
são adequados em infecções causadas por Haemophilus influenzae ou Moraxella
catarrhalis nos quais encaixan-se as seguintes enfermidades: sinusite, otite média e
algumas infecções do trato respiratório baixo (BELTRÃO; FANHANI, 2011).
Uma vez que não atravessam a barreira hematoencefálica, são
contra-indicadas em infecções do sistema nervoso central (BELTRÃO; FANHANI,
2011).
As reações de hipersensibilidade às cefalosporinas são imediatas e
de acordo com Amato Neto, Nicodemo e Lopes (2007) manifestações como
anafilaxia, broncoespasmo e urticária ocorrem com menor freqüência, os exantemas
maculopapulares após diversos dias de terapia acompanhado ou não de febre e
eosinofilia concomitantes.
5.1.3 Carbapenens
Possuem amplo espectro de ação quanto ao uso em infecções
sistêmicas sendo estáveis à maioria das beta–lactamases. Em relação a sua
atividade antimicrobiana, o meropenem é mais ativo em bactérias gram-negativas, e
o imipenem contra gram-positivos, em contrapartida, o ertapenem não tem atividade
contra P. aeruginosa e A.baumannii (SCHAECHTER et al., 2009).
Para Schaechter et al. (2009) quanto ao mecanismo de resistência
em algumas ocasiões são encontrados amostras sensíveis a um carbapenem,
porém resistentes ao outro estando esse fato relacionado a mecanismo de
resistência
envolvendo
as
porinas,
porém,
principalmente
em
cepas
de
25
Pseudomonas aeruginosa.
Dentre as reações causadas pela hipersensibilidade ao uso do
medicamento estão vômitos, diarréias, erupções cutâneas, urticária, cefaléias,
sonolência, entre outras. Já em casos mais graves convulsões e confusão mental
(AMATO NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
5.1.4 Monobactans
Tem como característica principal um anel monocíclico em sua
estrutura. De ação bactericida, atuam como as penicilinas e cefalosporinas e
interferem com a síntese da parede bacteriana (SCHAECHTER et al., 2009).
Sua absorção não ocorre via oral e sua administração deve ser
pelas via intramuscular ou endovenosa, tendo ligação protéica de 50 a 60%
(SCHAECHTER et al., 2009).
Possui boa distribuição tecidual e consegue penetrar na maioria dos
tecidos e líquidos orgânicos incluindo ossos, próstata, pulmão, secreção traqueal,
sistema nervoso central e trato gastrintestinal (SCHAECHTER et al., 2009).
De acordo com Rosário e Grumach (2006) o grupo que compõem os
monobactans possuem pouca imunogenicidade e baixa reatividade cruzada, deste
modo são
bem tolerados por pacientes
alérgicos a outros antibióticos beta-
lactâmicos.
5.2 Quinolonas
Seu uso deu-se no início dos anos 60 através do acido nalidíxico na
prática clínica e através do acréscimo de um átomo de flúor na posição 6 do anel
quinolônico, surgiram as fluorquinolonas nos anos 80, sendo seu principal
representante: a ciprofloxacina. Possui eficácia para os bacilos gram-negativos e
alguns cocos gram-positivos, mas é ineficaz contra o Streptococcus spp.,
Enterococus spp. e anaeróbio, sendo esse um dos motivos pelos quais foram
desenvolvidos novas quinolonas: levofloxacina, gatifloxacina, moxifloxacina e
gemifloxacina (AMATO NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
Indicado nos tratos genito-urinário, gastrintestinal e respiratório,
osteomielites, partes moles, além de ação contra micobactérias, entretanto, estudos
26
descreveram alterações nos níveis de glicemia devido ao uso das quinolonas
associadas com a gatifloxacina, em idosos e diabéticos, motivando a retirada da
quinolona no mercado (SCHAECHTER et al., 2009).
Quanto a hipersensibilidade o individuo pode apresentar, rash
cutâneo, fototoxicidade quando exposto a luz ultravioleta, urticária e angioedema.
Já reações anafiláticas e vasculite, assim como nefrite intersticial raramente ocorrem
(AMATO NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
5.3 Glicopeptídeos
Diversos glicopeptídeos encontram-se em fase de pesquisa clínica
sendo a vancomicina, teicoplanina e ramoplanina os principais representantes desse
grupo. estão em fase de pesquisa clínica. Por isso não se encontram dispostos ao
uso no mercado nacional (AMATO NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
Tem a ação de inibir a síntese do peptideoglicano, alterar a
permeabilidade da membrana citoplasmática e interfere na síntese de RNA
citoplasmático coibindo assim a síntese da parede celular bacteriana (ANVISA,
2012).
Dentre as reações alérgicas ao uso de glicopertideos destacam-se
as anafilactóides dentre elas a hipotensão, urticaria sibilos, dispnéia, prurido, dor e
espasmo muscular no tórax e costas, náuseas, vômitos diarreia, entre outras.
(MARINHO, 2005).
5.4 Oxazolidinonas
Este grupo tem a linezolida como seu representante comercial
embora atue em uma ampla variedade de patógeno sua atividade é bacteriostática,
devendo ser utilizada em infecções graves por patógenos gram-positivos
multirresistentes (ANVISA, 2012).
São poucos os que apresentam reações alérgicas a esse
medicamento e dentre os sintomas zumbidos, ou colite pseudomembranosa
(ANVISA, 2012).
27
5.5 Aminoglicosideos
O primeiro aminoglicosídeo foi obtido a partir do fungo Streptomyces
griséus e levou o nome de estreptomicina. Atualmente este grupo compõe-se de
gentamicina, tobramicina, amicacina, netilmicina, paramomicina e espectinomicina.
Encontram-se ligados a fração 30S dos ribossomos por isso, inibem a síntese
protéica então produzem proteínas defeituosas (AMATO NETO; NICODEMO;
LOPES, 2007).
Quanto o modo de atuação o aminoglicosídeo primeiramente liga-se
a superfície da célula bacteriana e depois é transportado por meio da através da
parede por um processo dependente de energia oxidativa (AMATO NETO;
NICODEMO; LOPES, 2007).
Eficazes
no
tratamento
contra
bactérias
gram-positivas
e
micobactérias. São utilizados para combater septicemias, meningites em recémnascidos, infecções do trato urinário, respiratórias, oculares, intra-abdominais,
endocardites, osteomielites e infecções de articulações (BURTON; ENGELKIRK,
2005).
De acordo com Minelli, Nonino e Neme (2000) a hipersensiblidade
por essa medicação é diagnosticada por meio de exantemas, urticária, prurido e
pênfigo induzido por droga, em algumas ocasiões também podem aparecer
trombocitopenia, proteinúria de cadeias leves, diminuição da função hepática e da
resposta imune.
5.6 Macrolideos
Antimicrobianos onde a forma química constitui-se por um anel
macrocíclico de lactona tornando possível a ligação aos açúcares. Como exemplo
tem-se a claritromicina, azitromicina, eritromicina, espiramicina, miocamicina,
roxitromicina entre outros (AMATO NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
Tal grupo é uma alternativa terapêutica aos alérgicos à penicilina
nos casos de infecções superficiais de pele provocadas por Streptococcus
pyogenes, pneumonia por S. Pneumoniae, infecções por estreptococos do grupo A
no trato respiratório, prevenção de endocardite após procedimento odontológico, etc.
Quanto a hipersensibilidade os macrolídeos segundo Ensina et al.
28
(2009) possuem fraco perfil imunogênico colaborando para a existência de
descrições esporádicas de exantema, eosinofilia e síndrome de Stevens Johnson ou
seja um processo eruptivo bolhoso agudo que por decorrência da ruptura da bolhas
formam pseudomembrana nos lábios edemaciados além de incrustações e fissuras
sangrantes (FALCÃO et al., 2008).
5.6.1 Lincosaminas
Inibem a síntese protéica nos ribossomos, ligando-se a subunidade
50S o que as tornam bacteriostáticas. Assim, alteram a superfície bacteriana e por
conseqüência facilitam a opsonização, a fagocitose e destruição intracelular dos
microrganismos (ANVISA, 2012).
São indicados no tratamento de infecções intra-abdominais,
pélvicas, pulmonares, odontogênicas,otite crônica, sinusites ,osteomielites infecções
de pele causados por estreptococos ou estafilococos, erisipela e infecções de partes
moles em alérgicos a penicilina, etc. Podem ser consideradas como alternativas para
pacientes alérgicos a penicilinas por serem de pouca imunogenicidade (AMATO
NETO; NICODEMO; LOPES, 2007).
5.7 Papel do farmaceutico
A automedicação é um sério entrave na saúde pública, nesse
sentido, necessita da efetivação maciça dos profissionais da aérea da saúde no
sentido de mobilização da sociedade em relação aos seus efeitos.
De acordo com Miguel et al. (2002) o uso indiscriminado dos
antibióticos potentes é um grande vilão na luta contra a resistência de bactérias
contribuindo pela perda gradativa da eficiência terapêutica, assim, Oliveira et al.
(2012) consideram que os profissionais como médicos, farmacêuticos e enfermeiros,
em muitas ocasiões desconhecem os danos causados pelo uso indiscriminado de
medicamentos.
Vitor et al. (2009) afirmam que em países desenvolvidos devido o
controle rígido estabelecidos pelas agências reguladoras e o envolvimento dos
farmacêuticos no uso racional dos medicamentos está gradativamente aumentando
e o hábito da automedicação diminuindo.
29
O paciente necessita ser alertado sobre o risco da potencialização
de efeitos colaterais com o uso de medicamentos em consonância com ingestão de
alimentos, bebidas e/ou outros fármacos e sua interferência na biodisponibilidade do
medicamento de modo a comprometer a eficiência terapêutica (TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008).
Sendo assim:
o farmacêutico é um profissional que tem curso superior, com prática
permeada pela ética e é essencial para a sociedade, pois é a sua garantia
de receber toda orientação necessária para um resultado eficaz de
tratamento, além do acompanhamento terapêutico. E ainda tem
responsabilidade em prestar atenção e assistência farmacêutica
(SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011, p. 20).
Seu papel é orientar o paciente de modo a utilizar de forma correta o
medicamento a fim de que a terapêutica usada tenha resultados positivos (MIGUEL;
MIGUEL, 2000).
Ou seja:
o propósito do farmacêutico é garantir a otimização da terapia
medicamentosa, tanto contribuindo para a fabricação, abastecimento e
controle de medicamentos e produtos para a saúde quanto provendo
informações e aconselhando aqueles que prescrevem ou usam produtos
farmacêuticos ... esclarece dúvidas do paciente quanto à posologia
pretendida e método de administração e aconselha o paciente sobre as
precauções que deve tomar com os medicamentos (OMS, 2004, p. 22-24).
Vieira e Perassolo (2011) apontam que muitos cuidadores de
crianças não possuem informações sobre o uso adequado de medicamentos, modo
de administração e tão pouco quem os possa orientar de forma eficaz, tornando um
problema que reflete no cumprimento do tratamento medicamentoso.
Para Gomes (2007) a motivação a adesão da farmacoterapia deve
ser também um fator de preocupação do farmacêutico. Na opinião de Scarcela,
Muniz e Cirqueira, (2011) os antibióticos ainda são dispensados livremente nas
drogarias, sem apresentação da prescrição e os balconistas, por receberem de
forma comissional sobre as vendas acabam induzindo o uso indiscriminado de
medicamentos, a famosa “empurroterapia” (uma antítese do uso racional de
medicamentos) favorece o aumento da resistência bacteriana e ineficácia
terapêutica, cabendo dessa forma orientação e acompanhamento farmacêutico a fim
de alcançar a eficiência esperada (SCARCELA; MUNIZ; CIRQUEIRA, 2011).
30
A atuação do farmacêutico está sendo pouco efetiva, segundo Vieira
e Perassolo (2011) e na opinião de Santos (2009) cabe ao profissional a
preocupação de evitar a “empurroterapia” e promover a orientação vez que:
o diagnóstico que definirá o tratamento é exclusivo do médico. Portanto,
“empurrar” ao paciente um medicamento sem o diagnóstico da doença é
uma imperícia. Para ser mais preciso e justo, é uma irresponsabilidade do
tamanho da fome de comissão sobre as vendas de quem perpetra esse ato
execrável (SANTOS, 2009, p. 4).
Nos chama a atenção a preocupação de Santos (2009) quanto ao
lucro aético, provindo da “empurroteria” que pode gerar problemas de saúde, vindo a
opor quanto a ética do profissional farmacêutico. O autor explica que “tudo o que o
farmacêutico defende é que os medicamentos sejam usados com racionalidade,
ainda que ele receba pressões em sentido contrário de proprietários leigos (não
farmacêuticos) de farmácias” (SANTOS, 2009).
Salienta-se que é o farmacêutico o profissional capacitado em
avaliar prescrições médicas, propor o uso racional de medicamentos, executar a
prática na atenção farmacêutica, proporcionando assim informações sobre a
utilização adequada tanto de antibióticos quanto de outros medicamentos como
forma de melhorar a qualidade de vida desses pacientes (SCARCELA; MUNIZ;
CIRQUEIRA, 2011).
31
6 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ENCONTRADOS
A análise dos dados foi realizada apenas em documentos dispostos
na BIREME em busca bibliográfica realizada no dia 14 de junho do corrente ano, e a
título de informação viu-se a necessidade de citar que tal banco de dados utilizado
tem suas informações atualizadas constantemente.
Desta forma ao utilizar as palavras antimicrobianos e automedicação
na caixa de pesquisa foi retornado o total de 16 documentos sendo 15 artigos
(93,75%) e uma tese (6,25%).
Respondendo a um dos objetivos específicos que foi o de identificar
os assuntos abordados nos documentos dispostos na BIREME elaborou-se um
quadro 1 demonstrativo para melhor visualização.
Quadro 1 – Descritores disponíveis na BIREME
Assunto
Automedicação
Antibacterianos
Uso de Medicamentos
Prescrições de Medicamentos
Atenção Primária à Saúde
Espanha
Farmacoepidemiologia
Revisão de Uso de Medicamentos
Pomadas
Assistência Farmacêutica
Infecções Respiratórias
Soluções
Tabaco
Tobramicina
Administração Cutânea
Consumo de Bebidas Alcóolicas
Candidíase Vulvovaginal
Resistência a Medicamentos
Trabalho de Parto
Gravidez
Qtde
10
08
07
04
03
03
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
Assunto
Dexametadona
Faringite
Tonsilite
Características da Família
Saúde da Família
Prevalência
Estudos Transversais
Administração Tópica
Grupos Diagnósticos Relacionados
Infecções Comunitárias Adquiridas
Resfriado Comum
Medicamentos Essenciais
Farmacorresistência Bacteriana
Serviços de Saúde Bucal
Período Pós-Parto
Dermatomicoses
Avaliação de Medicamentos
Medicamentos sem Prescrição
Serviço Hospitalar de Emergência
Géis
Qtde
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
Fonte: do autor
Quanto a língua, dos 16 documentos encontrados 11 ou seja,
68,75% estão em espanhol, quatro (25%) em português e um (6,25%) em inglês.
32
Abaixo tem-se o gráfico 1 dos documentos para melhor visualização.
Gráfico 1 – Documentos quanto a língua
Fonte: do autor
Quanto ao ano de publicação foi percebido a prevalência dos anos
de 1999 e 2001, ambos com duas publicações. Nesse sentido, a porcentagem e
quantidade de documentos estão distribuídos conforme quadro 2 abaixo:
Quadro 2 – Ano de publicação
Ano
2011
2010
2008
2005
2003
2002
2001
1999
1996
1993
1992
1991
1987
Quantidade Porcentagem
1
6,25%
1
6,25%
1
6,25%
1
6,25%
2
12,50%
1
6,25%
2
12,50%
2
12,50%
1
6,25%
1
6,25%
1
6,25%
1
6,25%
1
6,25%
Fonte: do autor
Torna-se importante informar que a BIREME dispõe de clusters ou
33
seja, conjunto de dados em subgrupos que, podem ser montados em função de
suas características. Entretanto, o cluster limite para o resultado do termo criança
foram de quatro documentos.
Por ser inviável discutir os dados com esse resultado optou-se em
estudar os 16 documentos a fim de conhecer em quais deles houve a preocupação
de pontuar a automedicação em crianças.
34
7 ANÁLISE DOS DADOS
A população brasileira tem incutida a cultura da pílula (LIMA;
NUNES; BARROS, 2007) e juntamente com as falhas no seguimento da terapia
farmacológica tornam-se os principais fatores que acabam comprometendo a saúde
da população, onerando gastos ao poder público e aumentando o processo de
resistência antimicrobiana ( MENEZES; DOMINGUES; BAISCH, 2009).
De acordo com Castro et al. (2002) uma das maiores preocupaçöes
mundiais quanto ao uso de medicamentos é a utilizaçäo de antimicrobianos como
meio de evitar a resistência microbiana, todavia os países em desenvolvimento,
empregam poucos recursos na monitorizaçäo do uso racional de medicamentos.
O estudo quantitativo publicado por Mori Vara et al.(2011), realizado
sistemicamente e de forma contínua entre dezembro de 2005 a novembro de 2007,
cujo objetivo foi de conhecer o uso e consumo de antimicrobianos na Espanha,
revelou que o consumo nacional de medicamentos foi de 1.221 milhões, sendo que
41.755.951 equivalente a 3,42%, foram de antimicrobianos, havendo um aumento
de 2,36% entre os anos de 2006 a 2007.
Por saber que a resistência bacteriana é um problema complexo
causado por uma combinação de fatores que enfatizam o uso de antimicrobianos o
estudo de Espino Hernández e Abín Vázquez (2008)
objetivou
descrever a
freqüência de uso de antimicrobianos por meio da automedicação, na cidade de
Havana em Cuba durante os meses de janeiro a junho de 2007.
Assim participaram 857 sendo explorado o uso de antimicrobianos
nos últimos seis meses e hábito de automedicação. Os dados apontaram que no
periodo do estudo 68% dos entrevistados consumiram antimicrobianos e 20,5% se
automedicaram, sendo prevalentes os seguintes farmacos: cloridrato de tetraciclina
(32,5%), penicilina G (29,8%) e ciprofloxacina (24,5%).
Diante do resultado, Espino Hernández e Abín Vázquez (2008)
consideraram a necessidade de ampliação das campanhas de informação e
implementação de programas educacionais direcionadas de modo a interver no
hábito da automedicação da população estudada.
Entre os anos de 200 a 2005 Agudelo et al. (2009) analisaram na
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Paraguai, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela
crianças de 0 a 06 anos com diagnóstico de infecções
35
proveniente de S. pneumonia resistentes tendo sido observado o
aumento da
freqüência de resistência a antibióticos na maioria dos países estudados,
demonstrando então a necessidade de implantação de políticas no controle do uso
indiscriminado de antibióticos
nesses países, e assim, Nascimento-Carvalho e
Souza-Marques (2004) atentam sobre o crescimento a nível mundial do número de
casos de pneumococos não suscetíveis a penicilina.
Naves e Silver (2005) na busca de avaliar os aspectos da
assistência farmacêutica na atenção primária, em centros de saúde no ano de 2001
através de estudo transversal utilizando indicadores da assistência farmacêutica
propostos pela OMS, em amostra aleatória em 15 das 62 UBSs do Distrito Federal,
através de entrevista com 450 indivíduos, sendo 30 de cada unidade de saúde
informou que o índice de prescição de amoxilina em crianças entre 1 e 5 anos,foi de
38,8% por cento.
Os pesquisadores observaram que os grupos farmacológicos mais
prescritos foram: cardiovasculares (26,8%), antimicrobianos (13,1%), analgésicos
(8,9%),
antiasmáticos
(5,8%),
antidiabéticos
(5,3%),
psicoativos
(3,7%)
e
associações (2,7%) e que a eficiência das ações de assistência farmacêutica é
comprometida devido aos baixos níveis de compreensão dos pacientes e pela
dificuldade de acesso a compra da medicação necessária da população estudada.
Em muitas ocasiões, os antibióticos são receitados antes de realizar
um estudo para encontrar a etiologia microbiológica da doença ou, são usados por
meio de automedicação para tratar de infecções que não carecem desse tipo de
fármaco, como no caso das infecções
virais (PICAZO; PÉREZ-CECILIA;
HERRERAS, 2003).
O estudo de Veras et al. (2010) apontaram que dos 93 pacientes
entre 0 a 6 anos hospitalizados por pneumonia, o uso de pneumonia como a
primeira escolha foi de aproximandamente 2/3 e o mais agravante é que na maioria
dos casos a terapia foi decidida a partir da experiência do pediatra, sem qualquer
utilização de critérios laboratoriais.
Nesse sentido o uso do prognóstico é uma técnica recomendada,
devendo ser levada em conta de que a resistência antimicrobiana é um fenômeno
que vem preocupando a área de saúde e também médicos e autoridades públicas a
nível mundial, cabendo ao médico considerar tanto o quadro clínico, os possíveis
patógenos e sua resistência aos antimicrobianos, as interações medicamentosas e
36
custo-benefício desses fármacos (PICAZO; PÉREZ-CECILIA; HERRERAS, 2003).
No estudo prospectivo realizado na Espanha por Picazo, PérezCecilia e Herreras (2003) envolvendo centros de cuidados primários de todo País
onde participaram 720 médicos foi percebido uma alta frequência de prescrição de
antibióticos para o tratamento de processos virais.
Para
os autores é necessario
que
se
realize
campanhas
incentivando a educação de saúde tanto à população quanto à classe médica a
respeito do uso de antibióticos sem necessidade, os riscos que podem ocasionar a
saúde do indivíduo e, à saude pública.
Lara Bastanzuri, Cires Pujol e García Miliam (2003) em estudo
realizado em Cuba consideraram que as penicilinas, aminoglicosídeos e tetraciclina
são os mais propensos ao aumento de consumo. Os autores perceberam em seu
estudo o uso indiscriminado dessas medicações e, revelaram preocupação sobre os
efeitos adversos aos usuários, a potencialização do aumento de custo aos cofres
públicos e a resistência bacteriana.
Em um dos poucos trabalhos encontrados através do uso das
palavras-chave automedicação e antimicrobianos no banco de dados BIREME,
realizados no Brasil cuja finalidade era a de determinar os padrões de uso de
antimicrobianos em hospital no período de 1990 a 1996, em um hospital
universitário, com 690 leitos, localizado na cidade de Porto Alegre no estado do Rio
Grande do Sul, nesse período Castro et al. (2003) revisaram os registros
hospitalares a fim de
identificar o consumo de antimicrobianos por pacientes
internados.
Os resultados encontrados foram expressos em dose diária definida
(DDD) por 100 leitos-dia, além disso foi realizado a análise de conglomerados de
modo a determinar as tendências de consumo dos agentes individuais (CASTRO et
al., 2003).
O resultado vem de encontro aos obtidos por Lara Bastanzuri, Cires
Pujol e García Miliam (2003) em Cuba uma vez que o estudo de Castro et al. (2003)
mostraram um aumento no consumo de antimicrobianos passando de 83,8 DDD por
100 leitos-dia, em 1990, a 124,58 DDD por 100 leitos-dia em 1996, sendo a
penicilinas o fármaco mais utilizado com 39,6%, na sequencia as cefalosporinas com
15,0%, seguido dos aminoglicosídeos com 14,4%, sulfonamidas com 12,8%,
glicopeptídeos com 3,6% e lincosaminas com 3,1%.
37
A Espanha possui uma grande prevalência de organismos
resistentes a vários antibióticos comumente utilizados, ocupando na União Européia
o ranking do país de maior consumo de antibiótico, estando a França em segundo
lugar (GRANIZO, 2001).
De acordo com Granizo (2001) a amoxicilina é utilizada nas crianças
espanholas em larga escala e mais de 50% das que fizeram parte de seu estudo
foram medicadas por seus pais sem prescrição médica.
Um outro agravante da automedicação na Espanha é revelado no
estudo de Alou Cervera, Maestre Vera e Moreno Úbeda (2001) que considera a alta
do uso de antifúngico decorrente ao uso indiscriminado de antimicrobianos.
Bavestrello Fernández e Cabello (1999) realizaram no Chile um
estudo visando determinar o consumo de antimicrobianos na população. Tal
pesquisa fez parte de um projeto do Ministério da Saúde do país a fim de criar uma
proposta de uso racional desses fármacos.
O resultado apontou alto aumento entre os anos de 1996 a 1997 do
uso de penicilinas, cefalosporinas, fluoroquinolonas e macrolídeos, onde mais uma
vez foi comprovado os dados dos estudos de Lara Bastanzuri, Cires Pujol e García
Miliam (2003) em Cuba e de Castro et al. (2003) no Brasil.
Na Colombia, Baena Restrepo et al. (1996) constataram uma alta
taxa de automedicação em pacientes atendidos em duas clínicas públicas de
emergência odontológica entre julho a dezembro de 1995 e fevereiro a março de
1996 onde os fármacos mais usados foram anti-inflamatórios, analgésicos nãoopióides e beta-lactâmicos antimicrobianos.
Em um estudo epidemiológico com 586 grávidas na cidade de Porto
Alegre, Martins-Costa et al. (1993) buscaram conhecer sobre o uso de
medicamentos na gravidez e apontou um índice de automedicaçåo de 18% .
Mestanza e Pamo (1992) apotaram que os estudos realizados no
Peru sobre automedicação em muitas ocasiões informam os procedimentos
utilizados para obter os dados. Os autores lamentam o fato e informam que a falta
dessas informações acabam impossibilitando a continuidade de estudos tendo como
base os resultados anteriores.
Ainda no Peru, Mestanza Malaspina (1991) informou que os médicos
peruanos em muitas ocasiões não são claros o suficiente para que seus pacientes
utilzem de foram correta as medicações prescritas.
38
Em Cubatão, cidade localizada no estado de São Paulo, Lucia et al.
(1987) observaram que os medicamentos mais utilizados por operários com a prática
de
automedicação
eram
os
analgésicos-antiinflamatórios,
antimicrobianos,
antiácidos e bloqueadores H2, ansiolíticos e anti-hipertensivos.
Fegadolli et al. (1999) a fim de caracterizar a antibioticoterapia em
crianças atendidas em UBS, estudaram 3.111 prescrições entre janeiro a junho de
1997, utilizando as seguintes variáveis: idade, sexo, e morbidade para as quais
foram indicadas as prescrições. Nesse sentido observaram que 29,5% das
prescrições de antibióticos eram para crianças
entre 1 e 5 anos, sendo
a
amoxicilina (38,8%) o mais prescrito e a via oral a de maior indicação com 61%,
seguida da cutânea com 13,5%. Dentre as morbidades prescritas para o uso de
antibióticos, 38,3% foram para as doenças respiratórias sendo que em 67,3% eram
infecções respiratórias agudas.
Estudando o perfil da utilização de antimicrobianos em um hospital
privado de na cidade de Santa Maria localizada no estado do Rio Grande do Sul
Rodrigues e Bertoldi (2008) perceberam que o uso das penicilinas em crianças e
adolescentes que representaram 1/3 de todos os antimicrobianos.
Fegadolli et al. (1999) concluíram que a prescrição dos antibióticos
deve ser melhor avaliada, pois 19,5 % foram prescritos para sinais, sintomas e
afecções mal definidas.
Embora necessários, estudos sobre a prevalência do consumo de
medicamentos em crianças ainda são escassos e,
Considerando os problemas relacionados com a aplicação direta dos
ensaios clínicos na população pediátrica, os estudos de utilização de
medicamentos devem ser, tanto em países industrializados quanto em
países em desenvolvimento, um instrumento prático voltado para a
promoção do uso adequado dos medicamentos. Todavia, para que se
possa obter resultados que permitam estabelecer perfis comparáveis e
avaliar os determinantes do uso de medicamentos, é necessário que tais
investigações sejam desenhadas de maneira adequada, com explicitação
das definições adotadas, critérios de inclusão e exclusão de pacientes e
análise detalhada das variáveis em estudo considerando os problemas
relacionados (SANTOS et al., 2011, p.28-29)
No que se refere ao uso pediátrico de medicamentos, Menezes,
Domingues e Baisch (2009) salientam que a comunicação entre pais e prescritores é
fator determinante para a adesão ao tratamento. Os autores avaliaram a
compreensão da prescrição de antimicrobianos por acompanhantes de crianças em
39
uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Bagé/RS e observaram que
41% dos entrevistados não compreenderam adequadamente as informações
relacionadas ao uso dos antimicrobianos prescritos. O estudo identificou a ausência
de informações relacionadas aos medicamentos nas prescrições e durante a
dispensação, entre outros aspectos, como responsáveis por essa falha.
Furini et al. (2009) destacam que o uso de antibióticos em pediatria
deve ser bem avaliado e justificado devido à resistência desenvolvida pelo uso
inadequado decorrente da escolha incorreta, não realização de antibiograma para
confirmação de sensibilidade pelo micro-organismo e tratamento de doenças de
etiologia viral e fúngica (OLIVEIRA; DESTEFANI, 2011).
Os analgésicos/antitérmicos sem prescrição são freqüentemente
utilizados em crianças, provavelmente devido ao fato da febre ser uma manifestação
comum em crianças, sendo comum o uso de antibióticos sistêmicos nos quadros de
tosse, gripe/resfriado (SANTOS; BARRETO; COLELHO, 2009).
Esse procedimento é desaconselhável pois expõe as crianças a
riscos sem lhes trazer benefício compatível (SANTOS; BARRETO; COLELHO,
2009).
40
8 CONCLUSÃO
Sabe-se que toda e qualquer medicação possui efeitos colaterais e
contraindicações, a exemplo os antigripais para pessoas com insuficiência
coronariana, medicamentos para hipertensão para asmáticos, desta forma, a
prescrição médica é individualizada para as características de cada paciente .
A automedicação também pode ser induzida através de campanhas
publicitárias que visando o lucro não tomam o cuidado em esclarecer a população
dos riscos associados o uso indevido, visando somente o lucro dos fabricantes.
Um outro ponto que favorece a prática é a falta de uma assistência
médica eficaz e gratuita a população, não sendo raros os casos divulgados pelos
canais de comunicação de filas e dias de espera para atendimento em muitas
regiões do País.
Entretanto, ao realizar a automedicação o indivíduo põe em risco
não somente a integridade de sua saúde, como também a da comunidade no qual
faz parte. No que se refere a automedicação em crianças a situação torna-se ainda
mais preocupante não sendo raros os casos de intoxicação medicamentosa provindo
desse hábito.
Estudos apontam que muitos responsáveis por crianças não
possuem informações sobre o uso adequado de medicamentos e de sua forma de
administração, além do mais, não sabem a quem recorrer sobre as dúvidas
referentes ao tratamento medicamentoso.
Salienta-se que é o farmacêutico o profissional capacitado em
avaliar prescrições médicas, propor o uso racional de medicamentos, executar a
prática na atenção farmacêutica, proporcionando assim informações sobre a
utilização adequada tanto de antibióticos quanto de outros medicamentos como
forma de melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Em relação aos antimicrobianos, a automedicação vem sendo
discutida e causando preocupações a nível mundial uma vez que tem se percebido
um aumento significativo da resistência bacteriana. Por saberem que a resistência
bacteriana é um problema complexo causado por uma combinação de fatores.
No presente estudo, foi percebido que os antimicrobianos mais
utilizados é a penicilina, em muitas ocasiões sem qualquer cuidado em verificar a
real necessidade de uso do medicamento, o que é pior, muitas vezes a indicação da
41
terapia é realizada por profissionais da saúde.
Sabe-se que a eficácia do antimicrobiano depende de fatores, como
concentração ideal no local da infecção, capacidade em atravessar a parede celular,
afinidade pelo sítio de ligação no interior da bactéria, permanência suficiente de
modo a exercer seu efeito inibitório, entre outras.
Sendo assim vê-se a necessidade de conscientizar a população
sobre os riscos da automedicação, melhoria nas políticas públicas em relação ao
atendimento da população, cumprimento das legislações vigentes e também uma
atenção farmacêutica envolvendo macrocomponentes como atenção à saúde,
orientação, atendimento e seguimento farmacoterapêutico.
Um outro ponto a ser considerado é a falta de publicação a respeito
da automedicação antimicrobiana em crianças dispostos no banco de dados
BIREME, o qual realiza um trabalho de excelência e credibilidade, o que nos leva a
inferência de que os trabalhos científicos que são produzidos sobre o assunto não
contemplam as exigências de conteúdo de bancos de dados ou a produção de
estudos com a temática ainda não vem causando impacto suficiente para que os
pesquisadores se voltem ao assunto.
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