ANÁLISE CRÍTICA DAS GRAMÁTICAS PEDAGÓGICAS Patricia Victória de Carlo Smith (UNIFIEO) Profª Mestre Vanda Bartalini Baruffaldi RESUMO: O trabalho tem por finalidade mostrar a importância da gramática. Para tanto, parte de um quadro histórico que pretende abranger desde as primeiras preocupações com esse estudo até a atualidade. Nessa busca, descobriram-se muitos termos que já tinham sido discutidos pelos gregos e voltaram à tona na atualidade por Saussure, Chomsky e outros mais. Concluída a pesquisa sobre a história da gramática, foi realizado o estudo crítico e comparativo entre as gramáticas chamadas pedagógicas, de forte influência tradicional e a Gramática de Usos do Português da profª Maria Helena de Moura Neves, dando-se maior ênfase ao estudo da sintaxe, componente responsável pela estruturação da língua, além de investigar a razão pela qual os usuários da língua declaram sentir dificuldades no manuseio da gramática e saber por que os alunos consideram enfadonhas as aulas que tratam das questões gramaticais. Foi através do método indutivo que se privilegiou o estudo das diferentes gramáticas e, que se propôs a examinar o comportamento das unidades escolares diante do uso das gramáticas. Diante dos dados coletados, fica evidente a importância do ensino da gramática, no ensino fundamental, para que os alunos aprendam a estrutura da língua. Mas, ao se compararem as gramáticas convencionais com a Gramática de Usos do Português, da Profª Maria Helena M. Neves, sugeriu-se que no ensino médio os alunos passassem a usá-la, pois trata da forma como se devem usar as normas gramaticais sem desvalorizar as variações lingüísticas. Palavras chave: linguagem, gramática e ensino. CRITICAL ANALYSIS OF THE PEDAGOGICAL GRAMMARS ABSTRACT: The purpose of this work is to explain the importance of grammar. For this, begins with a historical picture that intends to show, since the first concerns with this study, until the present time. In this search, it was discovered many terms that had already had been discussed by the Greeks and had came back to be discussed in the present time by Saussure, Chomsky and other more. Concluded the research on grammar history, it was carried a critical and comparative study through the called pedagogical grammars, of strong traditional influence and the Gramática de Usos do Português of professor Maria Helena de Moura Neves, giving itself bigger emphasis on the study of syntax, component responsible for the structure of the language, besides to investigate the reason why the users of the language declare to feel difficulties in dealing with grammar and to know why the pupils consider the lessons boring as they deal with the grammatical questions. It was through the inductive method that it privileged the study of the different grammars and it was proposed to examine the behavior of the school units pertaining the use of the grammars. In face of the collected data, it is evident the importance of the education of the grammar, in basic education, so that the pupils learn the structure of the language. But, comparing the conventional grammars with the Gramática de Usos do Português of the professor Maria Helena M. Neves it was suggested that in high school the pupils started to use it, because it deals with the way you must use the grammatical norms, without devaluating the linguistic variations. Key – Words: language, grammar and teaching. INTRODUÇÃO: Este artigo pretende abordar, por intermédio da história da gramática, as várias etapas pelas quais a gramática passou, sendo transformada de acordo com a evolução natural das línguas a partir de aspectos culturais, sociais, político-econômico e situacionais. Contudo, o real objetivo foi o de desenvolver um estudo comparativo e crítico das gramáticas que circulam no mercado editorial brasileiro a fim de verificar sua adequação ao ensino fundamental. O estudo da história da Gramática tem como ponto de partida a Antiga Grécia que, por ser o berço da cultura ocidental, começasse a conhecer as primeiras concepções sobre o assunto e, que se inicia por volta do séc. V aC.. No início, a preocupação com a linguagem tinha caráter filosófico. A influência de Platão, já que foi o primeiro a investigar a potencialidade da gramática, nos traz valiosas informações a respeito da linguagem e a respeito das relações entre as palavras e seus significados. Já nos séculos III e II aC., a Grécia está sob o domínio dos romanos e, estes influenciados pela cultura grega, formalizarão a descrição da gramática. A partir daí teremos as primeiras controvérsias que serão discutidas por muitos séculos. Ao entrarmos no período medieval, século XII, a Igreja Católica tem uma forte influência sobre as pessoas e o latim passa a ocupar um lugar importante no sistema educacional. Os séculos seguintes serão beneficiados pelo trabalho desenvolvido pelos gramáticos medievais, pois surge a gramática científica, ou especulativa, que resultaria em um importante desenvolvimento lingüístico que se daria graças ao trabalho de diferentes autores especulativos, ou modistae, que viveram durante o período de apogeu da filosofia escolástica. A caminhada pela História, sempre baseada na Antiguidade, continua seu processo evolutivo dos séculos XV ao XIX até o aparecimento de Saussure, o qual, através de um aprofundamento em vários aspectos ligados ao conceito da língua e fala, cria uma ciência específica chamada Lingüística, que provoca reflexões e transformações profundas nos aspectos da língua ligados à gramática. Concluído uma rápida passagem sobre a história da gramática, será realizado o estudo crítico e comparativo buscando-se a articulação que elas mantêm com as linhas de pensamento construídas em torno dos fenômenos da linguagem. As gramáticas serão agrupadas em dois blocos. De um deles, constarão as chamadas gramáticas pedagógicas, de forte influência tradicional (grupo A) e, de outro, a recém-lançada Gramática de Usos do Português da profª Maria Helena de Moura Neves (grupo B). Como o propósito último do trabalho é verificar a adequação das gramáticas convencionais ao ensino fundamental, a comparação permitirá detectar qual das duas orientações (a convencional ou e a empregada pela profª Maria Helena de M. Neves) é mais condizente com o nível básico de escolarização. 1. PERÍODO GREGO: Nenhum povo da Antigüidade influenciou de forma tão profunda a civilização ocidental como os gregos. Eles reúnem características que os distinguem dos demais povos cuja cultura se desenvolveu antes da era cristã. Diferente de outros povos, os gregos não estavam condicionados aos livros sagrados e, muito menos, às explicações fornecidas por sacerdotes. Dessa forma, podiam fazer uma seleção crítica dos elementos culturais que tomaram de seus vizinhos mais antigos e daqueles que invadiam seu território. Os gregos aprenderam muito com outras civilizações encontradas no extremo leste do Mediterrâneo e na Ásia Menor, berço do homem civilizado ocidental. Entretanto foi com eles que se desenvolveu pela primeira vez um desejo insaciável de indagação sobre a realidade e sobre os modos de ser do homem no universo. E foi através dessa curiosidade, desse interesse por coisas que os outros não conseguiram compreender ou, não tinham interesse, que os gregos se interessaram. Um destes interesses estava ligado ao campo lingüístico e que mereceram comentários por parte de outros lingüistas, como por exemplo, Bloomfield. Assim, por volta do século V a.C., os filósofos, ao examinarem os princípios da linguagem, criaram uma nomenclatura “gramatical”. Por ser uma disciplina independente formalizaram a oposição que existe entre forma e sentido, ou seja, percebem a distinção entre significante e significado. Começam as primeiras discussões entre analogistas e os anomalistas. A descrição gramatical tem como base, até hoje, a palavra e o paradigma. Muitos foram os filósofos que contribuíram para o desenvolvimento da descrição gramatical, mas Platão foi o primeiro a investigar as potencialidades da gramática e percebeu características fundamentais na frase, da qual fez a seguinte divisão: ónoma (nome) e rhema (predicado). 2. PERÍODO ROMANO: Nos séculos III e II Ac., a Grécia está sob o domínio dos romanos. Ocorre a formalização descritiva da gramática. Reconhecimento da interjeição como classe independente. Sob a influência dos filósofos gregos, surgem os primeiros trabalhos dos gramáticos latinos. Um desses trabalhos é o de Varrão (116-27 Ac.) que foi o primeiro gramático e escreveu a obra De Língua Latina, em que deu mais atenção à morfologia. Relacionou as variações flexionais e derivacionais das palavras com a mesma raiz e, reconheceu as possibilidades dos desvios individuais (anomalias) em relação ao uso consagrado pela comunidade lingüística. Quanto às categorias dos verbos, distingui as referências temporais e as aspectuais. A seguir, temos Prisciano (500 Ac.) que foi o primeiro a dar uma definição de sintaxe, isto é, a nos mostrar que o que vai determinar se uma oração é perfeita ou imperfeita é a transitividade ou não- transitividade do verbo. 3. PERÍODO MEDIEVAL: Estamos no fim do século II d.C. o Império Romano Ocidental não suporta as pressões das freqüentes invasões dos bárbaros, tendo seu território retalhado e dominado por várias tribos. Como a Igreja tem poder e passa a valorizar o latim pode-se dar continuidade aos trabalhos lingüísticos. Ocorre uma teorização sobre a língua, tomando forma o que hoje chamamos de gramática tradicional. A gramática de Prisciano exerce uma grande influência que mais tarde será a base da Gramática de Port Royal. No século XII, surge a filosofia dos escolásticos. Esses filósofos escreveram inúmeras obras e foram chamados de modistas, isto é, entendem a língua como expressão dos modos. Também nesse período um grande desenvolvimento lingüístico é conseguido através das gramáticas científicas, ou especulativas. Os maiores representantes dessa época são: Alexandre Villedieu e Tomás de Erfurt. 4. RENASCIMENTO E TEMPOS MODERNOS: Dos meados do século XV até fins do século XVIII encontra-se o marco inicial de uma nova era. O Renascimento é marcado pelo fato de a língua começar a ser trabalhada de modo generalizado como objeto de ensino. A necessidade de clareza, sistematização e eficácia ficam evidentes nas aplicações pedagógicas, reprimindo as especulações lingüísticas medievais. A língua dos escolásticos passou a ser ridicularizada. Surge o interesse por outras línguas e, dessa forma, são escritas as primeiras gramáticas das línguas européias e os primeiros dicionários. Com a ascensão da burguesia, há um estimulo para o estudo de línguas estrangeiras. A literatura se sobrepõe à lógica, passando a ter prioridade em matéria de regras e correção gramatical. Com o avanço nos estudos lingüísticos, intensificam-se as trocas de conhecimentos e as discussões. A partir daí, as gramáticas do grego e do latim assumem a forma por que hoje são conhecidas nos livros escolares. Começa o movimento entre racionalistas e empiristas, incentivando a produção de gramáticas filosóficas, especialmente as que estão vinculadas às escolas francesas de Port Royal. Com a continuidade dessas gramáticas, surge a gramática geral. Os gramáticos de Por Royal partem do princípio de que a linguagem é regida por regras racionais; os falantes têm por obrigação, ao usar a linguagem, ter clareza e domínio destas regras. O objetivo é o de criar uma língua ideal, uma língua sem ambigüidades. Por isso, elaboram a gramática geral e racional. O marco inicial da ciência lingüística contemporânea é o ano de 1786, quando ocorrem algumas mudanças significativas para o desenvolvimento da ciência que se refletem até hoje. A divisão adotada pela lingüística descritiva – semântica, gramática, fonética e fonologia – foi proveniente da tradição hindu. Os hindus defendem a idéia de que o significado da frase é a soma dos significados das palavras que a constituem. O lingüista alemão Franz Bopp, que ao pôr em confronto o sânscrito, o grego, o latim, o persa e o germânico instituiu um novo método no estudo da linguagem, que fez surgir a Gramática Comparada das línguas indo-germânicas, trabalho esse que se iniciou em 1833 e terminou em 1852. 5. A GRAMÁTICA EM PORTUGAL: Foi em 197 a.C. que ocorreu a anexação como província da Península e Portugal estaria na faixa ocidental da Europa. O latim já alterado sofre novas transformações e, a partir de 1143, começa a vigorar a nacionalidade portuguesa. Por causa da independência de Portugal, houve a necessidade de se fazer uma diferenciação entre o português e o galego. O século XVI é o período áureo da literatura portuguesa. Surge a gramática para disciplinar a língua. Ocorre uma divisão na Língua Portuguesa, em duas fases: a arcaica, que vai até Camões, e a moderna, que começa com ele. As diferenças entre o português arcaico e o moderno podem ser notadas no vocabulário, na fonética, na morfologia e na sintaxe. Em 1536, surge a primeira gramática de Fernão Oliveira e com ela a transição do português clássico para o moderno. 6. A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS NO SÉCULO XIX: Nos séculos XIX e XX, surgem novas linhas de estudo a partir dos neogramáticos europeus que com suas obras querem mostrar a evolução da língua. Foi através da gramática comparada que se evidenciou que as mudanças de uma língua são regulares e tem direção. Graças a Saussure, com o desenvolvimento da lingüística descritiva, temos um objeto de estudo: a langue. Surge a gramática estrutural. A lingüística se torna uma ciência. Dentro da gramática estrutural, temos o funcionalismo, que é uma das concepções existentes no interior da lingüística. Usando como base os princípios saussurianos, outros lingüistas enveredam por outros caminhos, surgindo assim várias controvérsias. A lingüística passa a ser aceita pelos americanos. Além de outros estudiosos, o mais importante é Bloomfield. Surge a gramática estratificacional que vai se opor à teoria de Bloomfield. A lingüística toma novos rumos com Noam Chomsky, em 1957, com a gramática gerativa-transformacional. A lingüística não pára de evoluir com novas teorias, entre elas a pragmática e a sociolingüística. Percebe-se uma semelhança entre a gramática transformacional e a gramática racionalista de Port Royal. 7. A GRAMÁTICA NO BRASIL: Muitas gramáticas passam a ter um plano científico, pois procuram explicar a organização e o funcionamento das formas lingüísticas. Foi o que aconteceu com a gramática filosófica de Jerônimo S. Barbosa. Os estudiosos ligados a Bloomfield elaboraram técnicas descritivas cada vez mais objetivas e rigorosas já que era grande o receio de que, através do estudo das significações, acabassem por enveredar pelo caminho da lógica ou da psicologia. No Brasil, quem aplicou esse princípio foi Joaquim Mattoso C. Júnior. Segundo o profº Celso Cunha, que segue a mesma linha de pensamento de Jespersen, todo o nosso comportamento social está regulado por normas a que devemos obedecer, se quisermos ser corretos. Entende-se por lingüisticamente correto aquilo que é exigido pela comunidade lingüística a que se pertence. Isto é, falar correto significa o falar que a comunidade espera, o erro em linguagem equivale a desvios desta norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras (2001, p. 6). Segundo o profº Perini, talvez a solução esteja nos textos com uma linguagem técnica e jornalística encontrada nas revistas, livros didáticos etc., porque existe uma uniformidade gramatical. Apesar de as formas e construções serem as mesmas, não se tem as variações regionais. Por exemplo: um jornal do Recife vai usar o mesmo português padrão do jornal de Curitiba. Ao oferecerem uma uniformidade de estrutura, estes textos nos permitem elaborar a descrição com maior coerência. 8. O ENSINO DA GRAMÁTICA NAS ESCOLAS: Mas, afinal, qual seria o papel fundamental da escola diante do ensino da língua portuguesa, ou seja, da língua materna? A língua oral é aprendida de forma espontânea, natural e compulsória, entretanto, o mesmo não ocorre com a língua escrita, que precisa ser aprendida de forma sistemática. Além de alfabetizar uma criança, é preciso ensinar-lhe o reconhecimento das partes do discurso, o que será feito através do ensino gradativo da gramática. É necessário que nós, como professores de língua portuguesa, e talvez até os estudantes, tenhamos em mente e reconheçamos que a língua portuguesa apresenta uma diversidade dentro de uma mesma língua. Para se produzir um bom texto, é preciso valer-se da gramática, que vai além de sua estrutura gramatical até a produção lingüística do falante. Mas esse aprendizado só irá ocorrer se a escola expuser a criança aos diferentes registros que ocorrem em uma mesma língua. A maioria dos professores, hoje, concluem que essa gramática não está servindo para nada. Entretanto, é preciso ponderar sobre esta afirmação, pois se verificou que os professores têm a gramática como uma atividade de exercitação da metalinguagem, consideram que ela é uma disciplina normativa, desprezando quase que totalmente a atividade de reflexão e operação sobre a linguagem. Com isso, ocorre que a organização dos trabalhos é feita separadamente, em blocos: de um lado, redação e leitura, com interpretação; do outro, a gramática com algum conhecimento do que se considera bom uso da língua. Visto desta forma, o ensino da gramática nada mais é do que uma simples transmissão de conteúdos expostos nos livros didáticos. Não podemos achar que a língua está em crise, porque ela é um organismo vivo. A crise está na cultura dos falantes, que desconhecem as variantes da língua e optam por uma só possibilidade. Em se tratando dos textos na literatura e na imprensa, temos grandes escritores que atuam num registro de primeira ordem, porém infelizmente a crônica é dominante no Brasil. Isso faz com que o escritor use um estilo com menor exigência. Não podemos esquecer que a poesia vive uma fase de renovação, mas raramente entra na sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao discorrer sobre a história da gramática, a intenção foi a de mostrar como ela surgiu e observar a sua evolução. Sem esse retorno ao passado, seria impossível desenvolver um trabalho consistente já que foi na Antiga Grécia que começaram a surgir as primeiras concepções sobre o assunto. Após esse estudo histórico, a pesquisa passou a analisar os trabalhos de profissionais renomados, com uma bagagem muito grande, como os: profs Carlos Emílio Faraco e Francisco Marto de Moura; profs Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante; prof Francisco Platão Savioli e a principal inspiradora da pesquisa, a profª Maria Helena M. Neves. Além do contexto histórico, o artigo contém dados de uma pesquisa de campo, realizada por meio de questionário aplicado em professores e alunos do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino e da rede particular e, tendo-se chegado a resultados interessantes apesar de o universo trabalhado ser pequeno. Problemas existem, contudo dentro da nossa realidade sócio, econômica e cultural os professores estão tentando reverter está situação. Foi detectado que, para a maioria dos professores, é importante ensinar gramática para uma melhor compreensão do que se lê e somente alguns estão preocupados em ensinar a gramática para que o aluno tenha a aquisição da estrutura da língua. Dentre as gramáticas consideradas mais importantes, ficou definido para uma parte dos professores ligados à rede pública que é a normativa e os professores da rede particular estipularam que a gramática reflexiva é a ideal. Ainda, segundo dados da pesquisa, os professores das escolas públicas ainda acham que a gramática normativa é a mais importante; por isso é a mais usada. Como principal propósito de aprender gramática, a maioria dos alunos, tanto da rede pública como da particular, disseram ser para uma melhor expressão quando se escreve ou fala; apenas um pequeno grupo de alunos da rede particular afirmou que o principal propósito, ao aprender gramática, é o de ter aquisição da estrutura da língua. Outro problema encontrado é o preconceito lingüístico que foi alimentado pelo preconceito social que agrava ainda mais o ensino da Língua Portuguesa. Assim as variações lingüísticas de menor prestígio foram rebaixadas à categoria de errado. Por outro lado, não podemos desfazer da gramática normativa, uma vez que é através dela que se pressupõe que o aluno vá adquirir conhecimentos a respeito da língua e normas para aprender a usá-la. Após a análise e comparação das gramáticas que estão circulando no mercado, pode-se dizer que aquelas tidas como gramáticas pedagógicas são, vias de regra, as mais utilizadas nas escolas, principalmente na rede pública. Entretanto, muitas destas gramáticas usam, muitas vezes, excessos de artifícios, como: fotos, fonte grande e muitas cores e podem acabar dispersando a atenção do usuário como, por exemplo, a Gramática da Língua Portuguesa, dos profs Pasquale e Ulisses Infante. Quanto A Gramática, dos profs Faraco e Moura, após ser reformulada, admite a importância da lingüística na vida do estudante uma vez que usam de textos jornalísticos e técnicos para mostrarem a realidade do dia-a-dia no Brasil. Já a Gramática de Usos do Português, da profª Maria Helena M. Neves, parte dos usos realmente ocorrentes no Brasil para, refletindo sobre eles, oferecer uma organização que sistematize esses usos. Embora uma gramática de usos não seja, em princípio, normativa, as normas de usos são invocadas com a finalidade de confrontar, para informar sobre restrições que tradicionalmente se fazem a determinados usos. Segundo a profª Maria Helena, a escola foi escolhida como a guardiã da norma regrada e valorizada, daquele lingüisticamente correto que tem o poder de qualificar o usuário. Ainda, de acordo com a professora não admitir que a língua falada tenha normas, isto é, uma gramática própria, acabou por criar um abismo entre a fala e a escrita. Para essa concepção, a fala que o aluno traz para a escola é imperfeita e, a escrita, do professor, é o objetivo a ser alcançado. A proposta da Gramática de Usos do Português, a Profª Maria Helena é o de diminuir este abismo entre a fala e a escrita e entre o estudante e a gramática. Lingüista renomada como é, a professora nos mostra que as variações lingüísticas e as mudanças fazem parte da linguagem e que, dependendo do tempo e da situação, existem diferentes modos para se usar a língua. Além disso, de acordo com a funcionalidade desses usos, é necessária a existência de normas. De fato, a Gramática de Usos do Português atinge os seus objetivos ao esclarecer e tirar as dúvidas dos estudantes e seus usuários, entretanto, ela vai além do seu papel de gramática, pois é um trabalho sério que vem para nos provar que lingüística e gramática podem e devem caminhar juntas. Muitos estudiosos da área e gramáticos renomados já entenderam que é necessária uma nova postura, por parte dos profissionais, para o ensino da gramática. Assim, para que haja aprimoramento no ensino desse tipo de conteúdo, a minha sugestão seria o uso da gramática reflexiva associada a uma gramática pedagógica, por exemplo, a Gramática, dos profs Faraco e Moura, para os alunos do ensino fundamental e, para os alunos do ensino médio, indicaria a Gramática de Usos do Português, da profª Maria Helena uma vez que está gramática irá mostrar como e quando se aplicar uma regra. O ensino da língua portuguesa deve buscar desenvolver no aluno, além da habilidade de compreensão e reflexão de discursos, o interesse de produzir e difundir idéias, isto é, o aluno deve estar preparado para enfrentar as situações a que estará exposto em sua vida cotidiana. Por isso, é fundamental a abordagem, em sala de aula, dos diferentes tipos de gêneros discursivos existentes na sociedade para que, através destes textos, o aluno tenha o domínio da língua e, com acesso à informação possa defender seus pontos de vista, cumprindo assim o papel proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs. Com as mudanças que estão ocorrendo no mundo e com a democratização social, é importante que a criança e / ou o jovem tenham acesso fácil às escolas e, com ele, o direito aos saberes lingüísticos necessários para a cidadania. O reconhecimento do aluno como cidadão e, portanto, a valorização de seus conhecimentos prévios (cultura, linguagem, experiências diversas) é fator fundamental para o pleno desenvolvimento do ensino da língua portuguesa.