A Concubina de Roma - Kate Quinn - LIVROS

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GRH
Romances Históricos
Kate Quinn
A Concubina de Roma
Trilogia Roma – Livro 1
Tradução/Pesquisa:GRH
Revisão Inicial: Ceila Sarita
Leitura Final e Formatação: Ana Paula G.
Comentário da Revisora Ceila Sarita
A concubina de Roma não é um romance comum, mas uma novela
completa, já neste primeiro livro da série. Mas é tão intrigante que a gente lê já
imaginando como serão os outros. A história se passa em Roma, na época do
imperador Domiciano, e a autora fez questão de se manter “quase” fiel aos
acontecimentos. Tanto os personagens principais como os secundários prendem
tanto nossa imaginação, que tem horas que não dá para distinguir quem roubou a
cena.
Fazia tempo que eu não via tanta maldade. (credo! e a gente ainda reclama
dos dias de hoje), 1900 e tantos anos depois ainda acontecem às mesmas barbáries,
mesmo que camufladas sob o verniz da modernidade.
Thea é uma escrava judia, mas letrada e cantava muito bem, que tem a
desgraça de cair nas mãos de um novo amo logo na adolescência. Lépida, a ama e
“piriguete, mocréia megera”, é a maldade em pessoa e faz da vida da escrava um
inferno ao descobrir que Thea consegue o que ela almejava, a atenção de Arius, o
Bárbaro.
Arius, também escravo, forjado pela vida dura nas minas de sal, viu sua vida
mudar radicalmente quando passou de prisioneiro a gladiador. Não tinha
sentimentos nem por ele mesmo, até encontrar a escrava judia que lhe trazia as
cartas mal escritas da ama e lia para ele. Ao se descobrir apaixonado prometeu a
Thea que a compraria e juntos viveriam livres e felizes para sempre, em sua terra
natal.
Mas a deusa do destino os trai quando a despeitada, a megera Lépida vende
a escrava ao descobrir os encontros amorosos, sem imaginar que Thea estava
grávida de Arius. (que raiva!!)
Quando sua amada não vem ao seu encontro e a mocréia de sua ama aparece
em seu lugar, ele fica louco e se transforma no Bárbaro, (ainda bem que ele deu
um corretivo na megera cortando suas amadas madeixas...rs), no gladiador que
mais matou por prazer, em muitos anos.
O novo amo de Thea era dono de um puteir... Ops! Era dono de um bordel
na margem do rio, bem distante de Roma, e a fazia enfrentar fileiras de homens
durante dias e noites, até ela ser descoberta e comprada novamente por Lárcio, um
pretor, que a tirou do bordel e investiu em sua voz e nos cuidados de seu filho...
Cantando para os patrícios romanos em seus faustos jantares, entre o prato
principal e a sobremesa, ela ficou conhecida e famosa, o que lhe rendeu parar nas
mãos do imperador Domiciano, pensando que sua vida iria mudar... Deus! Vocês
querem saber o que é sofrer nas mãos de um homem? Imaginem o que é BDSM
sem regras... (deuses!) O homem mandou matar seu amo Lárcio, confiscou os bens
dos mesmos, inclusive os outros escravos, entre eles o filho dela. Vestida da mais
pura seda e ornamentada com as mais caras joias ela sofreu horrores nas mãos de
um homem doentio, e o que a manteve inteira era saber que poderia ver o filho
(que o peste do imperador nem imaginava que ela tinha) pelo menos de duas a três
vezes ao ano.
E ela conseguiu se manter inteira até a chegada de... De quem? (não é do
Bárbaro não) Lépida!! A megera queria o imperador para ela... (aqui quase entrego
o livro de volta para a Ana, de tanta raiva que passei...rs) Se vocês acham que na
novela das oito (meu marido é noveleiro) tem megera? Vocês nunca viram uma
como a mocréia da Lépida Polio.
O sofrimento se intensifica sob as intrigas que Lépida faz, até que Domiciano
manda jogá-la fora, (jogar mesmo, viu?) e pega o filho de Thea (já um rapazinho
de doze anos) como seu escravo de divertimento e o joga abruptamente na arena
para que lute com os melhores gladiadores...
Arius, o Bárbaro? Já conto...
Que final feliz, sabiam? (não contei nem um décimo do que queria...rs).
Comentário de Leitura Final Ana Paula G.
Já quero avisar que este livro não é para todos os gostos. É bem realista, de
acordo com a época em que se passa a história.
Mas quem conseguir deixar de lado a visão ‘romanceada e irreal’ que a
maioria das autoras dá aos personagens, vai se emocionar, como eu me emocionei
com a história do Arius e da Thea, cheia de amor e desencontros!
Bom, a Ceila não deixou mais nada pra contar..huahahahah...Eu adorei,
gosto de ler livros que se passam nesta época histórica e são tão difíceis de
encontrar. Com certeza, já estou me coçando pelo segundo da série, mas o que eu
quero mesmo é ler o terceiro: o do Vix..huahhah
E a minha amiga Ceila eu tenho que dizer: EU AMO O ARIUS!!!!! Sorry,miga,
mas já coloquei ele na minha lista!!! hauahha
Resumo
No dia em que Domiciano é coroado como novo imperador, Roma
lhe rende as maiores honras com a celebração de jogos no Coliseu.
Um homem sentenciado a morrer dobra todos os guardas romanos.
É Arius, o Bárbaro. Um desconhecido. No espetáculo, ele não só
chama a atenção de Thea, uma bela escrava procedente da
Judéia, adquirida pelo organizador de jogos mais famoso de Roma,
como também de sua proprietária, Lépida Pollio, a caprichosa filha
deste.
Entretanto, o Bárbaro se apaixona por Thea e Lépida Pollio decide
humilhada, vendê-la. Ainda não sabe que o destino reservou a sua
escrava, o que ela sempre desejou.
“Aceito ser queimado pelo fogo,
preso a correntes, açoitado com varas e morto a
ferro.”
(Juramento do Gladiador)
Arius, o Bárbaro aceita o juramento dos gladiadores e se torna um
dos mais conhecidos da Roma de Domiciano, por sua imprudência
e brutalidade na arena.
Thea, a escrava educado da Judéia se apaixona por ele, quando
acompanha sua proprietária Lépida Pollio ao espectáculo cruel.
Enquanto Lépida pretende se tornar a mulher mais poderosa de
Roma ao cativar o coração do imperador Domiciano, este só tem
olhos para Thea, que poderia perder tudo.
PRÓLOGO
Thea
Abri meus pulsos com uma firme incisão da faca e observei enfeitiçada como o
sangue brotava de minhas veias. Tinha os mesmos cheios de cicatrizes, mas a visão de
meu próprio sangue ainda me fascinava. Sempre existia o fator de risco: depois de tantos
anos, conseguiria por fim perder o medo e me fazer um corte o bastante profundo? Teria
chegado o dia no qual minha jovem vida esvaziaria nessa vasilha azul decorada com
ninfas? Essa ideia animava minha existência, pelo resto carente de grandes emoções.
Mas esse momento tampouco chegaria nesta ocasião. O primeiro filete de sangue
foi se reduzindo até se tornar tênue. Apoiei as costas na coluna decorada com mosaicos
do átrio, com a vasilha em meu regaço. Uma aprazível neblina nublaria em seguida
minha visão e o mundo ao meu redor se converteria em sombras distantes. Necessitava,
pois nesse dia precisaria acompanhar minha nova proprietária ao Coliseu, para assistir
o espetáculo de gladiadores que acontecia, por causa da coroação do imperador. E
haviam me contado cada coisa sobre os combates...
— Thea! — Troou a voz de minha senhora.
Resmunguei uma maldição em uma mistura de grego, hebreu e latim das ruas,
três idiomas que minha proprietária desconhecia.
Na vasilha azul mal havia uma taça de meu sangue. Enfaixei-me com uma
bandagem de linho, ajudando a fechar o nó com os dentes e esvaziei a vasilha na fonte
do átrio, com cuidado em não manchar minha túnica de lã marrom. Com sua visão de
lince, minha senhora demoraria meio segundo em descobrir qualquer gota de sangue, e
eu não queria explicar que tinha o costume de um par de vezes ao mês encher uma
vasilha azul com uma preciosa sianinha de ninfas, com meu sangue. Na realidade, para
ser sincera, não contava muitas coisas a minha proprietária. Fazia pouco que havia me
comprado, mas eu já sabia que não convinha confiar nela.
— Thea!
Levantei muito rápido e tive que me apoiar nas colunas do átrio. Talvez houvesse
exagerado. Tinha tirado muito sangue e a náusea me tomou. Esse enjoo não me seria
bom, no dia que ia contemplar milhares de animais e pessoas sangrando.
— Thea! Deixe de perder tempo! — Urgiu minha senhora mostrando a bela
cabeça pela porta do dormitório. Não pude distinguir bem seu rosto zangado. — Meu
pai está esperando. Você deve me vestir.
Com passo inseguro aproximei-me, obediente. Sentia que meus pés flutuavam a
alguns palmos daquele horrível piso onde um mosaico representava um combate de
gladiadores com seus tridentes e grande profusão de sangue em forma de manchas
vermelhas. Um motivo de mau gosto, mas de acordo com o dono da casa. O pai de
minha senhora, Quinto Pollio, era um dos encarregados de organizar os jogos imperiais.
— Quero a roupa azul, Thea. A de pérolas nos ombros.
— Sim, minha senhora.
Assim era minha ama, Lépida Pollio. Fazia alguns meses que havia sido dada a
ela de presente, em seus quatorze anos; e uma faxineira de sua mesma idade para penteála e abaná-la agora que já quase era uma mulher. Como presente, eu não estava à altura
do colar de pérolas, dos braceletes de prata ou da meia dúzia de stolaes de seda que
recebeu de seu adorado pai, mas à moça era de bom tom ter sua própria escrava.
— Voltou a se cortar no jantar, Thea? — Ela me perguntou ao notar a bandagem
de meu pulso. — Que descuidada você é! Cuidado, não vá derrubar meu porta-joias ou
me zangarei. Quero as faixas douradas no cabelo, ao estilo grego. Hoje serei grega...
Como você.
Minha proprietária sabia perfeitamente que eu não era grega, apesar do nome que
me pôs o primeiro comerciante ateniense que me comprou.
— Sim, minha senhora. — Resmunguei em um grego excelente.
Ela torceu o rosto franzindo as delicadas sobrancelhas negras. O fato de que eu
fosse mais culta a incomodava, sobremaneira. Eu procurava evidenciar isso a ela, pelo
menos uma vez por semana.
— Não seja presunçosa, Thea. Você não é mais que uma escrava judia, não se
esqueça.
— Sim, minha senhora.
Submissa, recolhi seus cabelos enquanto ela conversava: — Meu pai diz que
Belerofonte combaterá esta tarde. É nosso melhor gladiador, mas quão feio é! Por mais
bem que se vista bem, nem todo o perfume do mundo faria dele um Apolo. É obvio, ele
é muito elegante, inclusive quando está abrindo gargantas... Ai! Você me espetou.
— Sinto muito, minha senhora.
— Está de mau humor. Não tem que ficar assim por causa dos jogos. Já sabe que
os gladiadores, os escravos e os prisioneiros irão morrer de qualquer forma... Assim,
pelo menos nos divertimos um pouco.
— Igual é meu sangue de judia. — Sugeri. — A morte nunca nos foi divertida.
— Pode ser. — Comentou Lépida enquanto examinava suas unhas pintadas. —
Pelo menos hoje os jogos prometem ser interessantes. Por culpa da convalescença e
morte do imperador em meio à temporada faz meses que não temos um bom espetáculo.
— Que homem mais desconsiderado! — Comentei com ironia.
— O novo imperador parece que gosta dos jogos. Domiciano, Tito Flavio
Domiciano... Que aspecto terá? Meu pai o viu e deseja organizar os melhores combates
em sua honra. Traga os brincos de pérolas, Thea.
— Sim, minha senhora.
— E o perfume de almíscar, que está aí.
Lépida se observou no espelho de aço polido. Era muito jovem, quatorze anos,
como eu. Muito jovem para o elegante vestido de seda, as pérolas e o ruge. Mas era órfã
de mãe e Quinto Pollio, tão desenvolto para lidar com comerciantes de escravos, mas
se convertia em um boneco de pano nas mãos de sua única filha. Além disso, tinha que
reconhecer que ela era bastante bonita. Sua formosura não residia somente em seus
olhos, de um azul escuro, nem no farto cabelo escuro e sedoso do qual ela era tão
orgulhosa, mas em sua elegância olímpica. Contando com ela, Lépida Pollio aspirava a
caçar um distinto marido, um patrício que elevasse à família Pollio aos mais altos
escalões da sociedade romana.
Ela pediu-me que se aproximasse enquanto o leque de plumas de pavão agitava
com frouxidão seus cachos esculpidos. Atrás dela, no espelho, vi-me como uma sombra
marrom escuro: gorda, perto de seu corpo escultural, morena demais em frente à
brancura de sua pele, árida, frente ao seu frescor. A verdade é que Lépida era muito
favorecida, em comparação a mim.
— Fiquei muito bem. — Ela declarou, refletindo meus pensamentos. — Thea,
você necessita de roupa nova. Parece uma árvore murcha. Vamos, meu pai está
esperando.
Em efeito, o dono da casa estava esperando, mas sua impaciência se acalmou
assim que Lépida sorriu e deu uma volta sobre si mesma, com um gesto muito feminino.
— Nossa! Você está belíssima. Não se esqueça de sorrir para Emilio Graco. Ele
pertence a uma família muito importante e tem um fraco pelas jovens belas.
Poderia ter informado que a debilidade de Emilio Graco não era precisamente as
mulheres, mas ninguém me perguntou. Bem feito, pois nós os escravos sabíamos de
tudo.
A maioria dos romanos se levantava de madrugada para conseguir um bom lugar
no Coliseu, mas os Pollio tinham assentos reservados. Por isso saímos para chegar com
o tempo justo de saudar as grandes famílias. Lépida sorriu para Emilio Graco, para a
um grupo de oficiais patrícios que conversavam em uma esquina e a qualquer um que
usasse uma toga de franjas púrpuras e tivesse um sobrenome de linhagem. Seu pai,
adotando uma pose importante, trocava comentários com qualquer patrício que sorrisse:
— Ouvi dizer que o imperador Domiciano planeja uma campanha na Germânia,
para a próxima estação! Quer retomar o trabalho de seu irmão, não? Tito colocou esses
bárbaros em seu lugar. Já veremos se Domiciano vai fazer o mesmo.
— Ai, Quinto Pollio! — Ouvi uma voz com sotaque patrício. — Afaste de mim
este cheiro!
— Pois fez muito bem seu trabalho. Que vale um sorriso de vez em quando, se
continua dando bons resultados? — Repreendeu seu interlocutor.
Quinto Pollio continuou sorrindo e fazendo reverências. Daria trinta anos de sua
vida em troca da honra de usar o sobrenome dos Julius, dos Graco ou dos Sulpícios. E
por certo, minha senhora também.
Eu me entretive observando os postos dos vendedores que abarrotavam as ruas:
lembro-me de gladiadores mortos, o sangue de qual lutador se conservava na arena,
pequenos medalhões de madeira com o rosto esculpido do famoso Belerofonte. Estes
últimos não eram vendidos muito bem, porque nem os artistas conseguiam fazer com
que o conhecido gladiador se mostrasse belo. As efígies de Traciano, o famoso guerreiro
do tridente, vendiam bem melhor.
— Que bonito! — Pela extremidade do olho notei várias jovenzinhas que
suspiravam em torno de um medalhão. — Todas as noites eu durmo com sua imagem
sob o travesseiro.
Sorri. Nós, judias, também gostamos que nossos homens sejam valentes
guerreiros, mas os preferimos em carne e osso, e vivos. Homens que de dia arrancam
cabeças de legionários e a noite voltam para casa, para presidir a mesa do sabbath.
Somente as romanas babavam diante de tosca e provinciana efígie de homens aos quais
nunca tinham conhecido e que provavelmente estariam mortos antes que acabasse o
ano. Embora, bem pensado, talvez fosse melhor sonhar com um homem de vida curta,
pois nunca envelheceria e nem perderia a formosura, e se cansasse dele, não demoraria
a morrer.
A multidão crescia ao redor do Coliseu. Havia passado muitas vezes sob a
imponente sombra do edifício quando tinha que levar algum recado de minha senhora,
mas aquela era a primeira vez que entrava. Custava-me não abrir a boca, admirada
diante de tanta suntuosidade, tantos arcos de mármore e tantas estátuas de olhar
arrogante que me fitava de seus pedestais, tantos assentos... Cinquenta mil espectadores
entusiastas cabiam em seu interior. Era o que se dizia. Um anfiteatro feito para os
deuses, iniciado pelo falecido imperador Vespasiano e terminado por seu filho, o
imperador Tito. Hoje abria suas portas em honra do irmão caçula de Tito, que estreava
a toga púrpura que o coroava como imperador Domiciano.
Muito mármore para o templo da morte. Preferiria um teatro, um lugar no qual
ouvir música em vez de ver morrer as pessoas. Imaginei-me cantando para uma
multidão como aquela, uma enorme audiência, em vez cantar para as rãs da horta
enquanto esfregava os mosaicos.
— Continue me abanando, Thea.
Lépida havia se instalado em suas almofadas de veludo, como uma imperatriz
saudando as pessoas que aclamavam seu pai. Pelas normas gerais, homens e mulheres
se sentavam separados nos jogos, mas Quinto Pollio, em sua condição de organizador
podia sentar junto à filha se quisesse.
— Mais forte Thea! Está um calor horrível. Por que não refresca logo? Estamos
no outono!
Obediente, agitei o leque de um lado a outro. Os jogos durariam todo o dia, o que
significava que tinha por diante seis longas horas de abanação. Aff! Acabaria com os
braços destroçados.
Ressoou um estrondo de trombetas. Por um instante meu coração encolheu diante
daquela fanfarra ensurdecedora. O novo imperador apareceu no camarote imperial
saudando em alto à multidão, com o braço. Ergui-me nas pontas dos pés para ver melhor
Domiciano, o terceiro imperador da dinastia Flávia: alto e de bochechas rosadas, ele
estava deslumbrante com sua capa púrpura e a coroa de ouro.
— Pai, — Lépida perguntou puxando a manga da túnica de Quinto Pollio, — é
verdade que o imperador tem vícios secretos? Ontem, nos banheiros públicos ouvi
comentar que...
Poderia ter contado a ela os rumores sobre os vícios ocultos de todos os
imperadores: a paixão de Tibério pelos escravos bem jovens, as relações incestuosas de
Calígula com suas irmãs, as amantes de Tito... Do que servia ter um imperador se não
pudesse contar os suculentos rumores sobre ele?
Entretanto, a mulher de Domiciano não se prestava tanto às fofocas. Alta,
escultural e encantadora, ela avançou um passo para saudar a ruidosa massa junto ao
seu marido. Para a desgraça dos amantes das fofocas, tudo apontava que a imperatriz
era uma esposa irrepreensível. Sua stolae de seda verde e suas esmeraldas despertaram
um murmúrio de admiração entre as mulheres. O verde se converteria, sem dúvida, na
cor da temporada.
— Pai, — Lépida, puxou novamente a manga da túnica do pai, — sabe que o
verde me fica muito bem. Um colar de esmeraldas como o da imperatriz...
Atrás do imperador havia vários membros de sua família. Entre eles se
encontrava sua sobrinha Julia, a filha mais nova do imperador Tito. Diziam que ela
tinha pedido permissão para formar parte das sacerdotisas, mas tinham rechaçado. Além
disso, a família imperial constituía um conjunto bastante insípido. Senti-me
decepcionada. A primeira impressão que tive foi que pareciam idênticos a qualquer
outro grupo de lânguidos patrícios.
O imperador deu um passo adiante, e elevando o braço pronunciou o ritual que
iniciava a abertura dos jogos. Com vícios secretos ou não, ele tinha uma voz clara e
potente.
Os outros escravos haviam me explicado muitas vezes como eram os jogos,
surpresos diante de minha ignorância. Os duelos de feras selvagens sempre abriam as
festividades matutinas. Hoje, em primeiro lugar haveria um combate entre um elefante
e um rinoceronte. Este último terminou tirando um olho de seu rival com o chifre.
Pensei que poderia ter vivido muito feliz sem a necessidade de saber como soava o grito
de um elefante.
— Fabuloso! — Exclamou Pollio e arrojou algumas moedas à arena.
Lépida picava um prato de tâmaras com mel enquanto eu seguia concentrada no
leque. Para adiante, para trás; adiante, atrás.
A seguir lutaram um touro e um urso e depois um leão com um leopardo. Não
eram mais que guloseimas para abrir o apetite do público. O urso era muito folgazão e
teimoso, por isso, para que atacasse o touro foi necessário que três adestradores o
cravassem os flancos com afiadas lanças até fazê-lo sangrar. O leão e o leopardo, pelo
contrário, rugiram e saltaram um sobre o outro assim que os soltaram de suas correntes.
A multidão animava, se levantando e gritando e depois voltavam a sentar. O seguinte
espetáculo foi um pomposo desfile que despertou a admiração do público: guepardos
amestrados presos com correntes de prata percorreram a arena, acompanhados de touros
brancos com meninos loiros saltando sobre seu lombo e elefantes com joias e borlas
que avançavam com passo majestoso, seguindo o ritmo de um grupo de flautistas
núbios.
— Posso ter um escravo núbio, pai? — Perguntou Lépida puxando pela terceira
vez a manga da toga de seu pai. — Ou melhor, dois. Um casal de portadores para levar
minhas coisas quando saio às compras.
A seguir houve pequenos números cômicos: soltaram na arena uma dúzia de
lebres e um tigre amestrado que saiu atrás delas como um raio e foi pegando uma a uma
e as devolvendo intactas ao domador. Pareceu-me um espetáculo bastante bom, mas
nos arquibancadas soaram várias vaias. As pessoas não vinham ao Coliseu para ver
jogos com animais, mas ver sangue.
— O imperador, — comentou Quinto Pollio, — é um devoto da deusa Minerva.
Dedicou a ela uma nova capela em seu palácio. Talvez devêssemos fazer mais oferendas
públicas.
O tigre amestrado e seu domador saíram dando passo a cem gazelas brancas e
outras cem avestruzes de longos pescoços que começaram a correr na arena enquanto,
do alto, arqueiros foram derrubando uma a uma. Em meio a tão sanguento massacre,
Lépida viu um conhecido em um camarote próximo e o saudou.
Seguiram mais combates de animais: lançadores contra leões, búfalos e touros.
Os búfal...
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