A experiência interdisciplinar no hospital Letícia Batista Silva Assistente Social HCII/INCA Rio de Janeiro, 9 de agosto de 2013. Conceito de Saúde definida pela VIII Conferência de Saúde (1986): resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida. Lei 8080/90: (...) As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), obedecendo ainda aos seguintes princípios:I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. Um convite a reflexão ... Diferentes níveis de interação entre as áreas do saber Multidisciplinaridade — está referido a um processo de trabalho que se dá de forma isolada, sem um compromisso maior com a troca de conhecimentos e a cooperação entre as diferentes áreas. A pluridisciplinaridade, por sua vez, está referida ao efetivo relacionamento entre as disciplinas, sob a coordenação da direção de uma instituição ou de uma das áreas. Fonte: FURTADO in BATISTA SILVA, L; MENDES, A. (2013) Diferentes níveis de interação entre as áreas do saber A transdisciplinaridade refere-se a um estágio mais profundo de interação entre as áreas do conhecimento, levando à constituição de um campo autônomo de saber e de intervenção, a partir das diferentes disciplinas que o compõem. Diferentemente da transdisciplinaridade, a interdisciplinaridade pressupõe que cada uma das áreas exerça seu potencial de contribuição preservando a integridade de seus métodos e conceitos, e, nesse sentido, requer o respeito à autonomia e à criatividade de cada uma das profissões envolvidas, cujo relacionamento deve tender à horizontalidade. Fonte: FURTADO in BATISTA SILVA, L; MENDES, A. (2013) A Interdiscipinaridade • Há a preservação da autonomia de cada uma das profissões, a interdisciplinaridade se constrói a partir de um nível avançado de trocas e de cooperação entre as áreas. A Interdiscipinaridade • Assim, possui como primeira condição a socialização do conhecimento, linguagens e conceitos de cada área envolvida, para, posteriormente, promover uma recombinação dos elementos internos que possam facilitar o processo de comunicação (ELY, 2003, p. 115). Elementos para a Reflexão A interdisciplinaridade é apontada como um dos caminhos para a desconstrução de uma política de saúde fragmentária e compartimentalizada, entretanto existem importantes desafios para a reflexão: • A interpretação da interdisciplinaridade como algo que vai muito além da inserção de profissionais das diversas áreas do conhecimento nas instituições de saúde; • A constatação de que a maioria dos profissionais de saúde não vêm recebendo uma formação voltada para a ação interdisciplinar; • No cotidiano das instituições as relações entre as diferentes profissões de saúde se assentam em relações de poder assimétricas, que muitas vezes tendem para a preservação do status quo. Fonte: BATISTA SILVA, L; MENDES, A. (2013) Pressupostos para pensar a interdisciplinaridade na atenção hospitalar? • As necessidades do Paciente/Usuário como fundamento da construção do plano de cuidado; • A interdisciplinaridade não está dada, na melhor das hipóteses encontramos uma equipe multiprofissional. É necessário o desejo de ações interdisciplinares; Pressupostos para pensar a interdisciplinaridade na atenção hospitalar? • O desejo pela atenção interdisciplinar precisa ser acompanhado de condições institucionais, da efetiva formação de equipes que sejam capazes de estabelecimentos de vínculos com: os pacientes/usuários as famílias entre as próprias equipe Uma aproximação ao exercício da interdisciplinaridade: Recepção Integrada no HCI/INCA Hospital do Câncer II Clínicas atendidas: ginecologia oncolágica e TOC Capacidade Instalada: 78 leitos de internação 03 salas de cirurgia 03 leitos de RPA 06 leitos de CTI Setor de imagem HCII em números, média anual • • • • • • • 1.120 cirurgias / ano 1.387 matriculas / ano 32.160 consultas médicas 14.767 consultas de equipe não médica 2.368 internações Taxa de ocupação 80% Média de permanência 07 dias Característica da Matrícula Média de matrícula mensal de 140 novas usuários/mês Desses 110 Ginecologia Oncológica e 30 TOC Destaque para as matrículas em ginecologia: 60% referemse ao diagnóstico de câncer do colo do útero e desses, 60% com perfil de doença avançada Perfil dessas Mulheres Processo de adoecimento X condições de vida Empobrecimento contínuo; Precarização das condições de trabalho; Dificuldades de acesso ao SUS; Limitada ou ausente de proteção social; Limites na compreensão do processo de adoecimento; Doença avançada, mulheres cada vez mais jovens. Recepção Integrada no HCII (2004) • Atendimento de 2ª a 5ª; 10 atendimentos + todos os encaminhamentos para CAF (a partir de agosto SISREG); • 2 Ginecologistas + Enfermeiro + Assistente Social (Recepção Integrada, atendimento de 1ª vez) • Sextas-feiras – mesa redonda para discussão dos casos para internação (mapa) com a presença dos pacientes Recepção Integrada RI substitui a Antiga Triagem na Ginecologia Propõe o conceito de acolhimento como atitude de participação coletiva; mudança na cultura no atendimento. CONSTRUÇÃO DA INTEGRALIDADE Correlação direta com os conceitos de Equipe Multiprofissional e as Ações Interdisciplinares. Ações Interdisciplinares em Saúde preveem a participação do usuário e família na discussão acerca do processo de tratamento. Desafios da Equipe e do Paciente (usuário) no 1º atendimento • Diagnóstico (representação social do adoecimento por câncer + experiência individual); • Doença avançada (debilidade física); • Ausência-dificuldade com documentação pessoal; • Vulnerabilidade social. Processos de atendimento Fluxo Radioterapia (+ QT) Médico G + Enfermagem + Nutrição + SSocial + Psicologia Fluxo Cirúrgico Médico G + Enfermagem + Clínico + Anestesista + SSocial + Psicologia • • Atendimento por parecer/encaminhamento: psiquiatria e fisioterapia. Os fluxos desenvolvem-se como “processos de atendimento”, individuais e coletivos. Avaliação do Processo Ganhos: Diminuição do tempo para início e continuidade do tratamento (fundamental em oncologia, principalmente em doença avançada); Implementação de ações interdisciplinares; Menor possibilidade de que o paciente “se perca”; O processo garante avaliação constante identificação de erro e possibilidade de melhorias. Avaliação do Processo Desafios: Reuniões de equipe que incluam o profissional médico; Trabalho em equipe multiprofissional adequando horários de atendimento (ex: regramento ambulatorial) tendo a necessidade do pacienta/usuário em foco; Integração dos serviços de laboratório e imagem no processo de atendimento no prazo e forma adequados ao paciente/usuário; Necessidade de avaliação constante e flexibilidade para mudança. Interdisciplinaridade: paciente e família como unidade de cuidado O paciente e família - partes centrais da equipe: • informações sobre experiência de vida e resposta à doença; • participação do plano de cuidado, na tomada de decisões; • entende-se que o paciente e sua família é que têm condições de dizer quais as regras com as quais eles podem lidar durante o processo de atenção. Oxford Textbook of Palliative Medicine, 1998 Equipe Interdisciplinar na atenção hospitalar? a identidade da equipe extrapola as identidades individuais de seus intergrantes; membros dividem informações e trabalham independentemente e em conjunto visando desenvolver adequadamente seus objetivos; a liderança é compartilhada entre os participantes, de acordo com a tarefa a ser desempenhada; a equipe é o veículo de ação e interação é vital. Desafios da Interdisciplinaridade • Superação da pseudo impressão de que o “paciente” pode ser “dividido” em diferentes necessidades e que essas necessidades não se comunicam; • Integração efetiva ( das suas necessidades) do paciente e família ao processo de tratamento. Ex: organização de agenda de atendimento, acompanhantes, espaços coletivos de discussão etc); • Discussão e construção de consenso sobre metodologias de atuação; • Disposição para “ouvir” os profissionais de outras categorias e entender “seus olhares”; • Realização de pesquisas em parceria; • Desenvolver em conjunto de métodos de avaliação da prática profissional. • . Desafios da Interdisciplinaridade A busca por metodologias de atendimento interdisciplinar adequadas às necessidades dos pacientes e familiares não elimina as contradições e dificuldades presentes no processo! Importante ressaltar que o trabalho em equipe interdisciplinar não elimina as diferenças e/ou especificidades das disciplinas, mas busca uma complementaridade dialética em torno das necessidades do paciente (usuário). Assim, a interdisciplinaridade é uma ferramenta fundamental para a materialização da integralidade da assistência prestada em oncologia. Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça. Cora Coralina Obrigada!