Processos de Construção da categoria juventude rural como ator

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Processos de Construção da categoria juventude rural como ator político:
participação, organização e identidade social1
Elisa Guaraná de Castro – Prof. UFRuralRJ, Rio de Janeiro/Brasil
Dra. Antropologia social/ PPGAS/MN/UFRJ – [email protected]
Resumo
'Movimentos sociais rurais, que se de finem como agricultura familiar, como trabalhadores ou
como camponeses, estão hoje se organizando a partir da identidade juventude e se
apresentando como ator político. Juventude rural está sendo acionada, nos movimentos
sociais, no Brasil, para identificar formas organizativas que reivindicam questões gerais, mas,
também, questões específicas. Por um lado, ser jovem nos movimentos sociais também
carrega limitações quanto a espaço de participação, quanto a possibilidade de ser ouvido, a
dificuldade de poder se colocar em um espaço de decisão. Por outro lado, outras questões se
colocam para esse ator político. Essa identidade social surge no meio rural brasileiro de forma
mais visível, e de forma organizada, nos anos 2000. Ou seja, em um contexto histórico muito
específico. Para uma geração que viveu o Plano Nacional de Reforma Agrária (Incra), a
pergunta é: o que vai acontecer daqui a 20 anos? Essa é uma identidade que tem aglutinado
jovens que se apresentam como preocupados com a questão agrária. Ou seja, uma geração que
se percebe como tal e que enfrenta esse mundo rural em conflito, desigual, ainda tão distante
do acesso de bens e serviços e um mundo rural distante de uma reforma agrária. Esse trabalho
propõe analisar os processos organizativos que se apresentam em alguns movimentos sociais
rurais no Brasil hoje, à luz da concepção de geração e de processos de engajamento e
participação política como rituais de construção da ação política coletiva.
Palavras-chave: Juventude, engajamento político, identidade política.
Introdução : Os Jovens que não vão embora..
Os movimentos sociais no Brasil hoje são palco do surgimento de novas organizações
de juventude rural. Embora esse tipo de articulação não seja uma novidade – juventude rural
ao longo da história e em muitos países foi uma categoria ordenadora de organizações de
representação social – hoje estamos testemunhando uma reordenação desta categoria. Jovem
da roça, juventude rural, jovem rural, jovem agricultor, camponês são categorias
mobilizadoras de atuação política. Apesar dessa “movimentação” esse “novo ator” é pouco
conhecido. Em comum, uma “juventude rural” que ainda se confronta, como “classe object”
(Bourdieu, 1977), com preconceitos das imagens “urbanas” sobre o campo.
Um dos repertórios de ação dos movimentos sociais tem sido a mobilização, daqueles
identificados como juventude, em eventos nacionais e/ou regionais. Um formato recorrente é
o acampamento. No ano de 2006 diversos eventos assumiram essa denominação ou se
organizaram como acampamentos. No Brasil tivemos - II Acampamento da Juventude da
Agricultura Familiar; II Congresso Nacional da Pastoral da Juventude Rural, dentre outros.
Na Argentina ocorreu o VI Campamento Latino Americano de Jóvenes. Este artigo analisará o
processo de mobilização das organizações dos movimentos sociais rurais a partir da categoria
1
“Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de
junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil.” No GT10.
1
juventude. Em especial trabalharemos o evento acampamento como parte de um repertório de
ação política; como espaço onde se consolida a militância como identidade social; e como um
momento de visibilidade e construção da própria categoria juventude nos movimentos sociais
rurais.
Esse trabalho é uma primeira ordenação dos resultados do projeto de pesquisa
intitulado: “Os jovens estão indo embora?” – a construção da categoria juventude rural
em movimentos sociais no Brasil”, (DLCS/UFRRJ/FAPERJ). O objetivo do projeto é
analisar a construção e reordenação da categoria “juventude rural”, como representação
social, em diferentes movimentos sociais, e sua luta pela visibilidade e reconhecimento
político2. O ponto de partida foi a tese Entre Ficar e Sair: uma etnografia da construção
social da categoria jovem rural (Castro, 2005), aonde apontei que a juventude rural é
constantemente associada ao problema da “migração do campo para a cidade”. Contudo,
“ficar” ou “sair” do meio rural envolve múltiplas questões, onde a categoria jovem é
construída e seus significados disputados. A “saída” dos assentamentos rurais, do Plano
Nacional de Reforma Agrária3, por exemplo, é diferenciada e varia de acordo com processos
de socialização no meio rural, gerando os mais diversos arranjos dos filhos com o lote da
família (Castro, 2005), principalmente quando olhamos a questão a partir do corte de gênero.
Ao resgatar os processos de socialização que geraram os “laços com a terra”, observa-se que
essa saída, mais freqüente entre as “jovens”, pode ser lida como parte da reprodução social da
produção familiar e não como algo apartada dessa lógica. A experiência de assentamentos
rurais aponta para a tensão entre novas formas de se relacionar com a terra e a reprodução da
divisão sexual do trabalho amplamente analisada nos trabalhos sobre campesinato4. A própria
imagem de um jovem desinteressado pelo meio rural contribui para a invisibilidade da
categoria como formadora de identidades sociais e, portanto, de demandas sociais5. Podemos
afirmar que a construção de identidades e “laços com a terra” vem se dando, também, em
2
Fazem parte desse projeto : o sub-projeto “As Jovens Rurais e a Reprodução Social das Hierarquias:
Relações de Gênero na Construção da Categoria Juventude Rural em Movimentos Sociais no Brasil”
(DLCS/UFRRJ/CNPq). Estudo sobre o perfil e a composição da juventude junto aos movimentos sociais
rurais no Brasil DLCS/FAPUR/UFRRJ/NEAD/MDA - Participam desse projeto estudantes de graduação de
diversos cursos da UFRRJ, Prof.Alberto Di Sabatto – UFF; Prof. Salomé Lima Ferreira – UFRRJ.
3
A principal expressão dessa política de reforma agrária é o Plano Nacional de Reforma Agrária, centrada em
uma política de assentamentos rurais e regularização fundiária em áreas de conflitos. (ver site Ministério do
Desenvolvimento Agrário).
4
A “queixa” recorrente entre adultos quanto à saída dos jovens, se refere aos filhos homens solteiros. Somente
os “jovens” rapazes se “queixam” da saída das jovens e a dificuldade de namorar e casar com alguém do
assentamento. (Castro,2005)
5
Nilson Wiesheimer (2005) realizou um levantamento dos trabalhos publicados sobre “jovem no meio rural”
(entre 1990 a 2004). O autor identificou a pouca produção acadêmica sobre o tema e conclui que a “migração e a
invisibilidade” são as questões mais marcantes nos estudos.
2
outros espaços. Os movimentos sociais no Brasil são palco do surgimento de novas
organizações de “juventude rural” como ator político.
Um caminho analítico que se mostrou revelador foi olhar para os jovens que se
organizam nos movimentos sociais rurais hoje, no Brasil, tendo como bandeira de luta a
permanência no campo. A análise deve considerar juventude sobretudo a partir dos processos
de interação social e as configurações sociais em que está imersa. Neste sentido, “juventude”
é, além de uma categoria que representa identidades sociais, uma forma de classificação social
que pode ter múltiplos significados, mas que vem se desenhando em diferentes contextos
como uma categoria marcada por relações de hierarquia social. Antes de apresentar as
primeiras reflexões sobre esses espaços de mobilização é importante resgatar o debate das
relações de poder nos espaços de decisão em estruturas organizativas de comunidades rurais,
em especial em associações de pequenos produtores de assentamentos rurais e de
acampamentos.
Juventude e juventude rural : hierarquias, controle, e participação
“O jovem acampado pra pegar terra no nome dele, tem mais moral
de falar do que um jovem que é filho de assentado.”(Túlio,
acampado, solteiro, 23 anos)
Entrecruzadas pelo dilema “ficar e sair” do meio rural, mas principalmente pelo
“peso” da autoridade paterna, as percepções sobre o juventude/jovem que observamos em
diferentes áreas analisadas, em outro contexto etnográfico (Castro,2005) estão marcadas pela
construção de que esse jovem deve ser vigiado e controlado. O peso da autoridade paterna no
espaço doméstico é reproduzido nas relações de trabalho familiar e na organização do lote.
Essa autoridade cria mecanismos de vigilância e controle sobre os jovens através das relações
familiares e demais redes sociais, principalmente mulheres, que se estendem para os espaços
que freqüentam.
Mas essa relação de autoridade não se restringe ao âmbito doméstico, se estendendo
para contextos coletivos do assentamento. Uma fala recorrente dos entrevistados é a
afirmação de que são tratados com descaso por parte dos adultos em determinados espaços,
principalmente nos espaços de decisão política do assentamento, como assembléias e reuniões
de associação de produtores. Essa “queixa” não é localizada, pois a encontramos nos relatos
dos jovens do acampamento pesquisado, e mesmo em relatos em outros contextos, como em
eventos nacionais de juventude, e, ainda, na fala de lideranças reconhecidas de movimentos
sociais rurais.
A observação de espaços coletivos de organização de um assentamento rural e os
relatos nos demais espaços pesquisados fortaleceu a leitura de serem esses também, espaços
3
para onde se estendem as relações familiares, principalmente a autoridade paterna. Os relatos
dos jovens sobre suas participações em reuniões foram marcados pela desqualificação das
suas intervenções pelos adultos. São exemplos falas que expressam a falta de espaço para se
participar das decisões no âmbito familiar, como: “Ele [pai] não ouve ninguém.” Nessas falas
a figura que representa a autoridade é sempre a figura masculina, principalmente o pai, mas
podendo também ser representado pela figura do avô. Mas outras falas se referem aos espaços
de organização de assentamentos e acampamentos, como em “Ninguém ouve os jovens”.
Mesmo jovens lideranças de movimentos sociais reconhecidos nacionalmente afirmaram
vivenciar essa relação de subordinação tanto no espaço doméstico, quanto nos espaços de
organização dos assentamentos e acampamentos. Em comum, relatos de episódios em que se
consideram desvalorizados, tratados com pilhéria. A falta de acesso daqueles que são
percebidos como jovens aos espaços de decisão é expressão dessas relações de subordinação.
Mas, também, da pouca confiança advinda da associação dos jovens rurais ao desinteresse
pelo meio rural e à atração pela cidade.
A observação em um acampamento organizado por um movimento social visando a
conquista da terra, e, ainda, em eventos de juventude rural foi central para a percepção dos
processos de hierarquia que marcam a construção da categoria jovem/juventude rural. E por
isso passo a relatar mais detalhadamente essa fase da etnografia. Entrevistas e conversas
informais, como a conversa com Waldemar6 (“adulto”, integrante da direção do
acampamento), reforçaram questões e aprofundaram percepções sobre as relações de
hierarquia. Na fala de Waldemar a categoria jovem aparece marcada pelo tensionamento
jovem em oposição a velho, como podemos observar na seguinte passagem,
“E – Uma liderança como o Vinícius [19 anos, participa da coordenação do
acampamento], o pessoal mais velho respeita?
Waldemar – Respeita, tem respeitado bastante. Embora ele está num processo de
formação e comete alguns erros ainda e os velhos não perdoam né. [...] o fulano é
uma liderança, enquanto está acertando eu estou com ele, ele errou já cai de pau
porque ele é jovem. [...] se eu erro e um outro erra, o idoso [...] tem sempre uma
saída. Mas se um jovem erra [...] cai em cima [...], só é disputa –“Eu tenho que
provar pra ele que ele tem que me respeitar. Ele é jovem então ele tem que me
respeitar. Mas enquanto ele está fazendo certo, eu não posso questionar porque ele
está fazendo certo. Na hora que ele erra é aí é que eu vou entrar pra mostrar pra ele
que ele tem que me respeitar.”
6
Os nomes dos informantes são fictícios.
4
Assim, a “disputa” envolve a legitimação da autoridade dos velhos reproduzindo a
estrutura hierárquica da família nos espaços de decisão do acampamento. A participação dos
jovens é tensa, como contou Túlio (23 anos)7,
“E – Você sente que nas instâncias do acampamento tem espaço pros jovens? Vocês
falam? São ouvidos?[...]
Túlio – Não. [...] Ele acaba sendo batido pelo mais velho. Quando ele dá uma idéia,
mesmo que a idéia dele seja certa, primeiro faz a errada do mais velho pra depois
fazer a certa dele. [...]”
Um elemento central é a diferença entre as percepções sobre os que são identificados
como jovens que estão na posição de filho ou agregado de um integrante do movimento de
ocupação, e de jovens que estão “por conta própria”. Ainda segundo Túlio, o fato de ser
responsável pelo futuro lote faz diferença. Nesse caso, geralmente são homens e solteiros.
Nessa posição a condição nos espaços de decisão parece mudar esse jovem é “ouvido”.
Assim, nesse contexto, pretender o lote, isto é, participar do movimento sem a presença de
uma autoridade paterna, diferencia o significado de ser jovem. A presença de pai e filho em
espaços de decisão revela a posição de subalternidade do segundo. Como na seguinte fala de
Túlio,
“Túlio – É, mas quando a gente, pelo menos aqui no acampamento, o jovem
acampado pra pegar terra no nome dele, ele tem mais uma moral de falar do que um
jovem que é filho de acampado.
E – Esse não tem espaço?[...]
Túlio – Ah ele fala, até fala, mas começa a cortar no meio do caminho ou quando
espera falar depois dá um esporro. Então o jovem acaba se escondendo. [...]
E – [...] Você acha que o filho de acampado ele deixa de falar porque ele é jovem e
aquele é um espaço de adulto ou porque os pais estão lá?
Túlio – Porque os pais estão lá, muitas vezes porque os pais estão lá. O Zeca... o pai
dele é coordenador do núcleo e trabalha fora, então ele fica indo pelo pai. Quando
tem uma reunião e o pai dele não está presente ele fala, pouca coisa ele fica meio
envergonhado, mas ele fala. Quando o pai está presente tá arriscado nem ver ele na
reunião, ele se afasta.”
A associação da categoria jovem ao desinteresse, preguiça, não querem trabalhar na
roça, apareceu na fala de Vinícius como um preconceito dos camponeses, no sentido dos que
têm origem rural e, ainda, associada ao estranhamento quanto à atuação política dos jovens.
“O camponês, aquele que foi criado na roça, [...] ele acha que o jovem de hoje é, sei
lá, mais preguiçosos. Então o próprio pai, o próprio acampado acaba discriminando
o jovem porque acha que ele não é capaz de viver do campo, não é capaz de
trabalhar. Então acaba criando até um certo preconceito também com os jovens. [...]
Essa coisa com o pai é muito forte e podemos entender também que não é uma coisa
7
Aos 16 anos Túlio, que morava em um assentamento rural, entrou o Movimento Social, participou de um
acampamento, de um Curso de Formação do movimento e integrou a sua direção regional. Ao entrar neste
acampamento, aos 21 anos, logo ingressou em sua coordenação.
5
comum as pessoas falarem, o jovem falar o que pensa, se preocupar com a questão da
política, se preocupar com as mudanças. [...] nós fomos feitos pra não pensar, não
falar, apenas aceitar o que já veio aí é por isso que dá uma dificuldade das pessoas
falarem o que pensam, questionarem, darem propostas.”
A observação nesse acampamento e as falas lá recolhidas apresentaram uma complexa
construção da categoria jovem. Mesmo quando o jovem ocupa um lugar de direção, a
hierarquia e sua posição de subalternidade em relação aos adultos/pai continuam a ser
reproduzidas. As “queixas” reforçaram a difícil participação em espaços de decisão e o acesso
ainda mais limitado da participação das mulheres identificadas como jovens. A difícil
participação das mulheres no acampamento foi outra questão ressaltada pelos entrevistados,
como Yolanda, acampada (25 anos) e por Vinícius (da coordenação do acampamento, 23
anos),
“Vinícius – Mulheres tem menos aqui, se tiver é menos de dez. [...]
E – E participam?
Yolanda – [...] As novas não, mas as mais velhas participam sim. [...]
Vinícius – [...] Na coordenação do acampamento nós só somos homens. [...] Tinha
uma mulher, não tem mais. [...] o homem acaba se enciumando, imagina a mulher na
coordenação e ela tomando a decisão no acampamento, ajudando nas discussões e
ele em casa, então ele não aceita isso. [...]”
As diferentes inserções da pesquisadora contribuíram para a percepção do forte
tensionamento da autoridade paterna nos assentamentos e acampamentos rurais, onde os que
são identificados como jovens carregam uma imagem marcada pelo descompromisso e
desinteresse, associada à falta de legitimação como produtor rural. Assim, recai sobre eles
uma construção ainda mais complexa de “classe object”, isso é, das percepções dominantes
sobre “ser rural” em um mundo urbano. Ou seja, são estigmatizados em espaços urbanos
através de identificações como a de roceiro, e em casa são tratados como “muito urbanos”
para terem interesse pela terra. Esse fator reforça a deslegitimação social da atuação dos que
são identificados como jovem em espaços de representação e organização nos assentamentos e
acampamentos. As jovens sofrem ainda mais com a forte presença da autoridade paterna, e se
a atuação dos jovens em espaços de direção e/ou decisão é conflituosa para os homens, para as
jovens é quase inexistente.
Podemos afirmar que “não ouvir os jovens” em espaços de decisão nos assentamentos
e acampamentos estaria calcado na percepção de pouca seriedade e deslegitimação dos filhos
por serem jovens, expressa em falas dos adultos como eles não querem nada, e na prática de
não considerarem a opinião dos que são identificados como jovens nos momentos decisão seja
na família, seja nos espaços coletivos de organização.
6
Juventude/jovem tem representado, neste cenário atual, acima de tudo, relações de
hierarquia social. Juventude definida, seja como “revolucionária/transformadora”, seja como
“problema”, é, muitas vezes, tratada a partir de um olhar que define hierarquicamente o papel
social de determinados indivíduos e mesmo organizações coletivas. Juventude/jovem
associado à transitoriedade do ciclo-de-vida ou mesmo biológico, transfere para aqueles que
assim são identificados, a imagem de pessoas em formação, incompletos, sem vivência, sem
experiência, indivíduos, ou grupo de indivíduos que precisam ser regulados, encaminhados.
Juventude rural é uma categoria particularmente reveladora dessa construção de relações de
hierarquia. A análise dessa categoria permite percebermos como os processos de construção
de categorias sociais configuram e reforçam relações de hierarquia social. Um espaço que
vem reordenando e gerando novos processos de legitimação como ator político para aqueles
que são identificados como jovens são as organizações de juventude, como veremos a seguir.
Os Movimentos Rurais e a Juventude como organização e ator político
Juventude rural é hoje uma categoria acionada para organizar aqueles que assim se
identificam nos movimentos sociais no campo. A partir do ano 2000 observa-se uma
movimentação que aciona a categoria juventude, como pode ser observado abaixo:
Tabela 1 – Eventos organizados por Movimentos Sociais Rurais
Data
2000
2002
2006
2003
2006
2006
2006
2006
2006
Movimento
PJR,MST
MST
Evento
I Congresso Nacional da Juventude Rural
I Encontro da Juventude do Campo e da Cidade (em
diferentes estados)
FETRAF-Sul
I Acampamento da Juventude da Agricultura Familiar
FETRAF-Sul
II Acampamento da Juventude da Agricultura Familiar
CONTAG
Seminário Jovem Saber – realizado durante o Grito da
Terra Brasil
PJR
II Congresso Nacional da Pastoral da Juventude Rural
Via Campesina/ VI Campamento Latino Americano de Jóvenes
Frente Popular
Dario Santillán
(FPDS) e outros
movimentos
sociais urbanos
Via Campesina I Seminário da Juventude da Via Campesina
Em alguns casos essa organização como setor interno a movimentos sociais rurais
ainda está em discussão, em outros já está formalizado. Nos principais movimentos sociais
rurais brasileiros observamos processos organizativos, como na Federação dos Trabalhadores
na Agricultura Familiar (FETRAF); na Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG), no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e na Via
7
Campesina Brasil. Essas organizações são fruto de mobilizações e espaços específicos de
discussão que vêm ocorrendo nos últimos anos. Os resultados revelaram um cenário
complexo de construções identitárias. Observamos a associação formal bastante expressiva de
jovens ao movimento sindical, e a outros movimentos sociais, inclusive em instâncias de
direção. Uma percepção importante é a intensa participação de jovens mulheres em cargos de
direção e de coordenação das organizações nacionais de juventude.
Uma das expressões desse processo organizativo é organização de espaços regionais e
nacionais articulados a partir da identidade juventude. Esses espaços variam em tamanho e
estrutura, mas como veremos mantém como elemento comum o fato de serem espaços com
forte construção simbólica, de formação e articulação política. No caso dos eventos de maior
porte também representam espaços de construção de visibilidade “interna” e “externa”. Neste
sentido, os espaços de mobilizações podem ser percebidos como eventos, no sentido atribuído
por Gluckman (1987), para além de acontecimentos singulares, que articula uma complexa
rede de relações. Como evento ritual, esses espaços se apresentam como espaços privilegiados
de construção de identidades sociais e ressignificação do quotidiano do chamado “mundo
rural”. Recuperando DaMatta (1990) esses espaços são momentos singulares,
“O momento extraordinário que permite [...] por em foco um aspecto da realidade e,
por meio disso, mudar seu significado quotidiano ou mesmo dar-lhe um novo
significado.” (p.31)
A riqueza para uma análise etnográfica está em acompanhar o processo de construção,
desenrolar e o “após evento”, aonde é possível observar o processo de construção simbólica
da categoria juventude como um ator que deve intervir na sociedade. Ou seja, a identificação
como jovem camponês, jovem agricultor familiar, jovem assentado desvela um processo
identitário que ressignifica o campo a partir de perspectivas e percepções que disputam as
próprias categorias juventude e ser do campo.
O evento
A dinâmica dos eventos organizados a partir da categoria juventude variaram em
tamanho e dinâmica de estrutura8. Trata-se de um espaço performance, no sentido da
8
Em 2007 acompanhamos até o momento o V Congresso do MST com 17.000 participantes, aonde aplicamos
450 questionários e realizamos uma contagem de população por idade e sexo. Para acesso aos dados resumidos
do perfil “Perfis dos jovens participantes de eventos dos movimentos sociais rurais: construções de um ator
político” (Castro, Elisa et alli, 2007). A pesquisa acompanhou os eventos com uma perspectiva etnográfica
8
ritualização da política, construindo e reordenando identidades sociais. O evento gera um
duplo movimento é um espaço de aproximação e consolidação individual de trajetórias de
militância, e, de construção/consolidação da juventude como ator político. Esse é um espaço
de legitimação e “demonstração de força política” tanto no campo dos próprios movimentos
sociais, quanto para os atores das esferas com os quais pretendem negociar e reivindicar suas
demandas.
Como estrutura a organização varia, mas alguns elementos são recorrentes, como a
alternância de momentos de atividades consideradas culturais (música, dança, teatro, exibição
de filmes, etc.) com momentos percebidos como de formação e/ou articulação política no
sentido de análises sobre a realidade, definição de demandas, propostas e ações políticas.
Esses espaços podem ser “para dentro” no sentido de voltados exclusivamente para os
participantes, ou “para fora”, como a mobilização de rua que permite a visibilidade do evento.
Neste sentido, também se pode falar em uma ação “para dentro” dos movimentos, no sentido
de dar visibilidade a própria categoria juventude n os movimentos sociais rurais, e “para fora”
se fazendo visível para a sociedade através da presença física nas ruas e legitimando ações de
negociação, demanda e pressão junto ao poder público.
Os documentos formais produzidos nesses espaços são um bom exemplo. Reforçam
questões consideradas específicas, como acesso à educação e à terra. Constroem essas
demandas no contexto de transformação social da própria realidade do campo e o fazem tendo
um interlocutor claro, em muitos casos a Presidência da República. Os documentos também
expressam processos de construção de identidade social e representações simbólicas que são
marcantes nesses eventos.
Isto pode ser observado no documento “Carta da Juventude Camponesa”, entregue ao
Presidente Luis Inácio Lula da Silva ao término do II Congresso da Pastoral da Juventude
Rural, realizado em Brasília em julho de 2006, com a presença de mais de 1000 jovens. Neste
documento as demandas tratam de questões específicas como, “3. b. ampliar os investimentos
associando instrumentos de observação a métodos quantitativos. Como parte do processo de pesquisa realizou
um perfil dos participantes nos seguintes eventos:
Tabela 2 – Número de Inscritos nos eventos/responderam ao questionário
Evento
Total de
Total de Jovens
%
% Delegações
Inscritos
Entrevistados
Entrevistadas
II Acampamento da Juventude
700
454
55
52
FETRAF-SUL
O Encontro Nacional do
467
406
87
83
Programa Jovem Saber –
CONTAG
II Congresso da Pastoral da
900
717
80
94
Juventude Rural – PJR
TOTAL
Fonte: Castro, E. et alli, 2007
2067
1577
76,2
9
nas Escolas Agrotécnicas Federais e nas Universidades Rurais, bem como garantir acesso à
juventude rural.”; e “4 – Crédito rural: Criar uma linha de crédito especial para a juventude no
campo, em moldes diferentes do Pronaf Jovem, que ofereça condições de acesso à juventude.”
Mas, também reivindicam questões mais amplas no que concerne à política de reforma
agrária, como no trecho, “O modelo agropecuário centrado no agronegócio tem penalizado a
população rural, especialmente a juventude. [...] Sem reforma agrária e sem uma política
agrícola centrada na agricultura camponesa, será impossível manter a juventude no campo.” E
questões que dizem respeito à esfera macro econômica, tais como “é necessário mudar a
política econômica, alterando o modelo agropecuário, eliminando o superávit primário e
adotando como prioridade investimentos na geração de emprego, distribuição de renda e
fortalecimento do mercado interno.”
A análise desses espaços permitiu alargar a reflexão sobre juventude como uma
categoria disputada socialmente e que revela relações de hierarquia social.
Os processos organizativos da juventude nos movimentos sociais rurais e questões
geracionais
O debate sobre juventude muitas vezes foi tratado a partir do corte geracioanl
(Foracchi,1972 Bourdieu, 1983; Champange, 1979). Duas percepções aparecem nesse campo
de análise. A primeira é a abordada por Bourdieu (1983) e Champange (1979) e que trata
geração a partir de uma perspectiva relacional, em que “jovem” está em oposição à “adulto”
ou “velho” devido à disputas por bens materiais e simbólicos. Bourdieu (1983) argumenta
que a vivência geracional é construída a partir de,
“Aspirações sucessivas de pais e filhos, constituídas em relação a estados diferentes
da estrutura da distribuição de bens.” (p.118)
No mesmo sentido, estaria associada a diferenças do acesso à formação. Ou seja, as
relações geracionais sofreriam influência das mudanças no sistema de ensino que ampliaram o
acesso à formação, ao mesmo tempo em que desvalorizaram os títulos que representam cada
ciclo de formação9. Assim, a noção de geração seria construída relacionamente, por oposição,
mais que por aproximação. Bourdieu questiona os usos de termos como “jovem”, “juventude”
e “velho” como dados a priori, a identificação ou auto-identificação é relacional, “somos
sempre o jovem ou o velho de alguém.” (op.cit.:113).
9
Bourdieu utiliza como exemplo o ensino secundário na França, que passou a ser acessível para filhos de todas
as classes, ao mesmo tempo que passou a ser menos valorizado no mercado de trabalho. (1983:120)
10
Outra perspectiva de análise recupera Mannheim (Foracchi,1972 ) definindo geração a
partir da convivência em dado contexto histórico de populações que constituem gerações
distintas. Para Foracchi (1972) esta abordagem contribui para se problematizar a definição
físico/biológica na medida em que,
“[...] não sendo passível de delimitação etária, a juventude representa, histórica e
socialmente, uma categoria social gerada pelas tensões inerentes à crise do sistema.
Sociologicamente ela representa um modo de realização da pessoa, um projeto de
criação institucional, uma alternativa nova da existência social.” (op.cit.:160).
Contudo, podemos retomar Mannheim (1982) a partir de três construções conceituais
de geração utilizadas pelo autor: 1) o corte biológico, 2) a construção identitária, 3) e o grupo
geracional. Mannheim define geração em primeiro lugar como uma construção da
modernidade e de sua definição de linearidade histórica. Isto é, a idéia de que a história é um
sucedâneo de fatos em uma linha de tempo e nesse sentido, de que os homens se sucedem em
gerações. Assim, para Mannheim geração é uma idéia eminentemente moderna e da qual os
indivíduos fazem parte quer se identifiquem com essa perspectiva ou não. O que define um
corte geracional é o nascimento. Ou seja,, populações convivem estando em momentos
distintos do ciclo de suas vidas e compartilham e disputam a compreensão de um dado
momento histórico. Mas essa é uma das definições utilizadas por Mannheim, e a mais
divulgada nos estudos sobre juventude, o autor trabalha outras duas dimensões. Uma segunda
definição pode ser classificada como identitária seria a percepção de uma dada população de
que fazem parte de uma categoria social que se opõe a outra por uma identidade geracional, é
o caso da categoria juventude. Ou seja, é o reconhecimento de indivíduos e/ou grupos de
indivíduos de que configuram dada categoria identitária, ainda que suas percepções sobre essa
categoria divirjam. O autor exemplifica com a juventude do partido comunista alemão e a
juventude nazista. Embora as concepções de sociedade, as leituras históricas sobre aquele
momento vivido pela Alemanha e a própria forma de se perceberem como jovens possam ser
distintos, se identificam como parte de uma juventude.
A terceira definição de Mannheim é a de grupo social geracional, que significa a
identificação cotidiana e nativa de geração em um mesmo contexto local. Isso pode ser
observado no cotidiano da família quando se auto-definem a partir de cortes
geracionais.Resgatar essas outras duas percepções de Mannheim sobre geração é central para
a análise de juventude como uma categoria identitária marcada por percepções e ordenações
geracionais. Assim, não se trata de um corte etário a priori, e, sim observarmos de que forma
geração contribui para entendermos a construção da identidade juventude nos movimentos
11
sociais rurais, e os seus processos de ordenação e engajamento político a partir da identidade
política juventude.
Uma primeira análise dos processos organizativos de juventude dos movimentos
sociais rurais pode-se observar a apropriação do tema geração. Uma das primeiras formas de
uso é associada à temática “renovação” e é recorrente em todos os movimentos estudados. No
caso do movimento sindical contagiano esse tema é ainda mais presente, e não é apresentado
como uma preocupação nova. A ocupação dos cargos de diretoria dos sindicatos e federações
por sindicalistas, em sua maioria homens, e de uma geração mais antiga do movimento
sindical tem preocupado a algum tempo a direção da CONTAG, como apareceu na entrevista
com o atual diretor da Contag. Mas a temática também é apropriada na discussão dos próprios
jovens sobre as dificuldades de ocupar espaços de poder e decisão no movimento sindical,
especialmente nos sindicatos e federações. Essas duas questões, a preocupação da renovação
dos quadros de direção dos sindicatos e federações de trabalhadores rurais, e, a disputa pela
ampliação do acesso a espaços de decisão por parte dos identificados como jovens podem
explicar a política de cota para a juventude10.
No MST essa questão tem se apresentado de outra forma. Geração aparece no discurso
dos próprios dirigentes na perspectiva que podemos analisar a partir de grupo social, em
Mannheim. Para os dirigentes nacionais entrevistados pela pesquisa, MST é composto de três
gerações de militantes: a geração fundadora, a geração que se forma a partir da constituição
dos primeiro assentamentos e uma geração mais nova que surge mais recentemente e que é
composta por filhos de militantes e/ou assentados, e jovens oriundos do meio urbano. O
marco definidor, nesse caso, geracional não é a idade, mas, sim a entrada no movimento
social. As primeiras duas gerações, em termos de faixa etária são equivalentes. Nas palavras
de um dos dirigentes nacionais, o “MST foi formado por jovens”, se referindo ao fato de que
tanto os denominados fundadores11, quanto os que começaram a militar a partir da
experiência dos acampamentos e assentamentos do final da década de 1980 e início de 1990,
pertenciam a uma mesma geração biológica, todos na faixa etária de 20 a 30 anos. No entanto,
a categoria juventude não era acionada como classificação identitária nem pelos que hoje
afirmam que eram jovens à época e nem pelos “adultos”, nas palavras do mesmo dirigente,
10
No 9º Congresso da CONTAG foi definida uma política de cota que obriga a garantia de participação de no
mínimo 20% de jovens em delegações e diretorias sindicais.
11
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST, é fundado em janeiro de 1984, no seu primeiro encontro
onde se reafirmou a necessidade da ocupação de terra como uma ferramenta legítima das trabalhadoras e
trabalhadores rurais. Hoje, completando 24 anos de existência, o MST está organizado em todos os estados do
Brasil na luta não só pela Reforma Agrária, mas pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na
justiça social e na dignidade humana. Ver http://www.mst.org.br
12
“Veja no campo embora eu era muito jovem havia uma responsabilidade muito grande
desde o grupo jovem. Então, era uma coisa que acho que a gente envelhecia mais
rápido. Eu não tinha uma juventude assim, ah, um monte de festas, faz o que quer e
etc. A gente tinha que trabalhar. Então tinha uma responsabilidade, uma confiança, as
pessoas me tratavam como adulto.”
A idéia de juventude é associada por esse dirigente a um estilo de vida, freqüentar
festas, fazer o que quer. Bem diferente da percepção utilizada nas falas e documentos das
lideranças que hoje se identificam como jovens. Como vimos no documento da Pastoral da
Juventude Rural (anexo 1), e na própria organização daqueles identificados como juventude
no MST através do Coletivo Nacional de Juventude criado em 200612.
Apesar dos processos distintos de organização da juventude nos movimentos
analisados pode-se afirmar que temos dois eixos centrais: 1) juventude como uma identidade
política que aglutina em torno de demandas sociais específicas e estruturais visando mudanças
na realidade do campo brasileiro; 2) e juventude como identidade que é acionada
relacionalmente, em oposição à “velhos” e “adultos”, nos processos de disputa pelos espaços
de decisão nas organizações sociais. Nesse sentido, o enfoque geracional proposto por
Mannheim contribui para a análise a partir da idéia de identificação e auto-identificaçào de
grupos geracionais, bem como da identificação de determinada população que se percebe
como compartilhando realidades similares num dado contexto histórico. Como proposto por
Bourdieu, podemos observar processos de disputa por bens simbólicos, nesse caso,
legitimidade política.
Considerações finais
'Movimentos sociais rurais, que se de finem como agricultura familiar, como
trabalhadores ou como camponeses, estão hoje se organizando a partir da identidade
juventude e se apresentando como ator político. Juventude rural está sendo acionada, nos
movimentos sociais, no Brasil, para identificar formas organizativas que reivindicam questões
gerais, mas, também, questões específicas. Por um lado, ser jovem nos movimentos sociais
também carrega limitações quanto a espaço de participação, quanto a possibilidade de ser
ouvido, a dificuldade de poder se colocar em um espaço de decisão. Por outro lado, outras
questões se colocam para esse ator político. Essa identidade social surge no meio rural
brasileiro de forma mais visível, e de forma organizada, nos anos 2000. Ou seja, em um
contexto histórico muito específico. Para uma geração que viveu o Plano Nacional de
Reforma Agrária (Incra), a pergunta é: o que vai acontecer daqui a 20 anos? Essa é uma
12
Não será possível aprofundar a análise a partir da questão geracional, nos marcos desse trabalho.
13
identidade que tem aglutinado jovens que se apresentam como preocupados com a questão
agrária. Ou seja, uma geração que se percebe como tal e que enfrenta esse mundo rural em
conflito, desigual, ainda tão distante do acesso de bens e serviços, e de uma reforma agrária.
A participação desses jovens em movimentos sociais e principalmente em
organizações de juventude aponta para um processo de consolidação de um ator político: a
juventude. O que, também, explica o número expressivo de eventos massivos, realizados por
essas organizações, nos últimos anos e os espaços de negociação que este ator político vem
conquistando, seja junto a gestores de políticas públicas, seja no âmbito dos próprios
movimentos sociais. Assim, jovem da roça, juventude rural, jovem rural são categorias
aglutinadoras de atuação política. Essa reordenação da categoria vai de encontro à imagem de
desinteresse dos “jovens” pelo meio rural. Juventude rural também não se apresenta como
foco prioritário para as políticas públicas de juventude. Pode-se afirmar que uma leitura
possível para essa invisibilidade é o fato de ser percebida como “população minoritária”, mas,
é possível afirmar que esse processo é parte da reprodução da hierarquia campo/cidade, que
gera representações sociais sobre o campo e que fazem parte dos processos de reprodução das
desigualdades sociais no campo.
A consolidação desse ator político implica ressignificações do campo e da cidade e de
identidades sociais como campesinato, em uma disputa por classificações, mas, também, pelo
aumento do campo de probabilidades (Bourdieu, 1982) para o jovem que quer ficar no
campo. Assim, como pelo espaço de ação dentro dos movimentos sociais. Um ator político
que vive um processo de construção de identidades, mas que expressa angústias e demandas
de uma massa de jovens que hoje, assim se percebem e são percebidos, e que experimentam,
cotidianamente, a desigualdade do campo brasileiro, como resposta, se posicionam contrários
ao “esvaziamento do campo”, se organizam na luta por mudanças sociais e na busca de novas
utopias.
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