XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. AVALIAÇÃO TERAPÊUTICA DA OTITE EXTERNA EM CÃES ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO Camila Célli Espirito Santo Camilo1, Vitor Miranda Travassos2, Evilda Rodrigues de Lima3 Introdução A otite é a inflamação dos condutos auditivos, podendo ser classificada, conforme sua localização, em externa, média e interna (Ettinger & Feldman, 1997). A otite externa resulta de qualquer inflamação do conduto auditivo externo, com numerosos agentes etiológicos envolvidos e fatores predisponentes que se relacionam com a infecção em cães (Greene, 1993). Os diversos fatores envolvidos no desenvolvimento da otite externa podem ser melhores descritos como primários, predisponentes e perpetuantes (August, 1988). Estima-se que a otite externa afeta cerca de 5 a 20% da população canina e 2 a 6% da população felina (Macy, 1998). A lavagem otológica é indicada na higienização do pavilhão auricular e do conduto auditivo externo, facilitando a remoção do excesso de cerúmen e possibilitando uma maior eficácia nos tratamentos tópicos das afecções do conduto auditivo (Fagra, 2006). A obtenção do ouvido limpo e seco é extremamente importante no tratamento da otite externa. Secreções otológicas (óleos e ceras) e restos teciduais acumulados irritam diretamente o conduto auditivo, além de poder conter agentes microscópicos patológicos. Esses fatores são irritantes e produzem microambientes que propiciam a proliferação de bactérias e fungos, impedem que o medicamento entre em contato com o revestimento do ouvido, inativa o efeito do agente terapêutico e, por consequência, prejudicam diretamente o tratamento correto da otite (Ettinger & Feldman, 1997). A resposta ao tratamento pode ser complicada devido a etiologias multifatoriais que concorrem para o estabelecimento dessa enfermidade (Nascente et al., 2006). Nos casos de otite externa é necessário uma avaliação sistêmica do paciente através da história clínica, anamnese, exame clínico geral, otoscopia, citologia, cultura e antibiograma (Jacobson, 2002). Não são todos os cães com otite que necessitam de lavagem otológica ampla, antes ou durante o tratamento. Em muitos casos, o tratamento domiciliar é suficiente para resolver os problemas efetivamente, desde que a causa primária seja esclarecida. No entanto, em pacientes com infecções especialmente graves ou crônicas, o tratamento tópico administrado pelos tutores no domicílio pode não ser suficiente, pois o canal auditivo externo requer uma limpeza cuidadosa e ampla antes da administração do medicamento tópico (Ford & Mazzaferro, 2007). Este trabalho teve como por objetivo realizar a lavagem otológica e orientar os tutores dos fatores causadores de otite em cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco, visando reduzir a inflamação e possibilitando, assim, uma maior eficácia dos fármacos. Material e métodos Foram atendidos no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no período de Janeiro a Dezembro de 2013, 30 cães, sendo 17 machos e 13 fêmeas, de raça pastor alemão, poodle, cocker, labrador e sem raça definida (SRD), com idades variando entre um e 14 anos e 1 gato, macho, de raça siamês e 15 anos de idade. Todos os pacientes foram consultados por um médico veterinário do HV da UFRPE e passaram por uma anamnese minuciosa, onde foi descrito, pelo tutor, toda a história clínica do animal além de sinais como prurido, eritema, presença de secreção com coloração escura e odor fétido, hiperalgia e agitação da cabeça. Após observar o estado clínico de cada paciente, o veterinário examinou cada ouvido individualmente, com o auxílio do otoscópio, e os encaminhou para a realização da lavagem otológica como parte do tratamento. As lavagens foram realizadas durante três dias da semana, no turno da tarde e duravam em torno de 30 a 40 minutos, dependendo do estado geral dos ouvidos do animal. A solução utilizada na lavagem otológica continha 15 ml de soro fisiológico, 10 ml de clorexidine a 2% e 5 ml de água oxigenada, lembrando que estas dosagens não são uma regra podendo ser modificadas de acordo com o grau da otite e o porte do animal. Em nenhum caso foi necessário sedação. Os animais foram encaminhados para a enfermaria e colocados em cima da mesa de procedimentos, em decúbito lateral e, em alguns deles, foi necessário utilização de focinheira, visando proteção e segurança para a realização do 1. Estudante de Graduação em Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n. CEP: 52171-900. Recife-PE. E-mail: [email protected]. 2. Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Práticas Hospitalares e Laboratoriais em Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n. CEP: 52171-900. Recife-PE. 3. Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n. CEP: 52171-900. Recife-PE. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. procedimento. A solução foi introduzida, com ajuda de uma seringa de 20 ml acoplada a uma pequena mangueira, até que o canal auditivo estivesse completamente coberto, massageando vigorosamente, através do movimento abre e fecha com a mão na cartilagem timpânica. Em seguida, retirou-se o conteúdo do canal auditivo com ajuda do aparelho sugador e após, secou-se o conduto auditivo com o auxílio de algodão até onde o dedo alcançava, evitando assim, lesionar o ouvido. Esse procedimento foi repetido para melhor limpeza do conduto auditivo. Ao final da lavagem, foi explicado ao tutor como deveria ser aplicado o medicamento tópico, receitado pelo médico veterinário, no interior do canal auditivo. Os animais foram liberados e foi pedido que após uma semana retornassem para reavaliação e, caso necessário, fazer uma nova lavagem. Após o procedimento, os animais apresentavam uma melhora significativa com diminuição do excesso de cerúmen, do aparente desconforto e da dor. Resultados e Discussão Os animais atendidos por médicos veterinários, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, passaram por uma anamnese, onde os tutores descreveram a história clínica do paciente, além de sinais como, prurido, odor, hiperalgia, secreções e agitação da cabeça. Observado o estado do paciente, o veterinário examinou cada ouvido individualmente, com o auxílio do otoscópio, diagnosticando a otite. Todos os animais foram encaminhados para lavagem otológica antes de começar o tratamento com o medicamento tópico. A solução utilizada era constituída por soro fisiológico, clorexidine a 2% e água oxigenada, sendo estes dois últimos antissépticos, com ação bacteriostática, que inibem a proliferação bacteriana. A lavagem otológica é indicada na higienização do pavilhão auricular e do conduto auditivo externo, facilitando a remoção do excesso de cerúmen e possibilitando uma maior eficácia nos tratamentos tópicos das afecções do conduto auditivo (Fagra, 2006). Concordando com Fagra, 2006, após o procedimento da lavagem, todos os pacientes apresentaram a diminuição do excesso de cerúmen o que facilitou o uso tópico dos fármacos. Observou-se, também, a melhora clínica do paciente, que já se apresentava com menos sinais de desconforto e dor no local logo após a realização da lavagem otológica. Na volta do paciente, foi relatado pelo tutor que após a lavagem, o animal mostrou-se menos agitado durante a limpeza domiciliar, facilitando, assim, a aplicação do medicamento tópico recomendado pelo médico veterinário. Com base nos resultados obtidos, pôde-se concluir que o uso da lavagem otológica auxiliou e reduziu o tempo tratamento das otites externas caninas. Agradecimentos À Pró-Reitoria de Extensão da UFRPE, fonte financiadora do trabalho, ao Departamento de Medicina Veterinária, à orientadora Prof. Evilda Rodrigues de Lima, aos médicos e pacientes do hospital veterinário, que estiveram presentes e contribuíram de alguma forma, para a realização deste trabalho. Referências AUGUST Jr: Otitis externa, a disease of multifactorial etiology. Vet Clin North Am Small Anim Pract 18:31. 1988. ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3ªed., 1997. v.1. FAGRA. Higienização do pavilhão auricular. http://www.fagra.com.br/index.php. 2006 FORD, R.B.; MAZZAFERRO, E.M. Lavagem Otológica: Canal Auditivo Externo. Manual de Procedimentos Veterinários & Tratamento Emergencial, 2007. p.472. GREENE, C. E. Enfermidades infecciosas: perros y gatos. Edição original: Interamericana. 1993. JACOBSON, L. S. Diagnosis and medical treatment of otitis externa in the dog and cat. Journal of the South African Veterinary Association. v.73, n4, 2002, p.162-170. MACY DW: Diseases of the ear. ETTINGER S. J. (ed) Tratado de Medicina Interna Veterinária. Philadelfia, WB Saunders, 1998,p.246-262. NASCENTE, P.da S.; CLEFF, M.B.; ROSA, C.S.da; SANTOS, D.V.dos; MEIRELES, M.C.A.; MELLO, J.R.B. Otite Externa em Pequenos Animais: Uma Revisão. MedVep, v.4, n.11, 2006, p. 52-59.