Saber escutar o paciente: Um remédio a serviço da promoção da

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Saber escutar o paciente: Um remédio a serviço da promoção da
Saúde.
TORRES, Haroldo Silva. Graduando em fisioterapia na Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - BH
SANDOVAL, José Maximiliano Henriquez. Doutor e Pós -Doutor em Comunicação em
Saúde. Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BH
Resumo:
Saber escutar o paciente hospitalizado constitui-se em uma estratégia
comunicativa eficaz que pode potencializar a construção do vinculo comunicativo entre
os profissionais de saúde e o paciente, assim como, pode também auxiliar na melhoria
do estado emocional em que o paciente se encontra. Assim, o presente estudo teve como
objetivo fazer uma reflexão acerca da importância que tem a prática da escuta do
paciente hospitalizado e identificar quais os benefícios que, na opinião desses pacientes,
pode trazer tal prática. Para tal, a pesquisa foi realizada em um hospital geral de um
município baiano onde foram selecionados e entrevistados 15 pacientes. Dos principais
resultados destacamos que todos os informantes expressaram a importância de serem
ouvidos, visto que, com isso, sentem-se melhor, mais seguros, distraídos e lhes
possibilita tirar suas dúvidas; entretanto, apenas cinco informantes expressaram que se
lhes possibilita tal prática. Nota-se claramente o desafio que os profissionais de saúde
devem enfrentar no sentido de encontrar estratégias para atender a necessidade de escuta
do paciente hospitalizado e, conseqüentemente, contribuir na promoção do bem estar do
mesmo.
1.Algumas reflexões sobre a Promoção e a Comunicação em Saúde:
"A comunicação é a parte do tratamento do paciente e ficar conversando com
ele, muitas vezes é o próprio remédio". (REBECCA BEBB).
Nos últimos anos, houve uma verdadeira explosão das atividades de promoção
da saúde, e seu conceito evoluiu com a mudança da definição de saúde e a partir da
consciência de que o bem-estar existe em uma faixa que vai, desde a morte prematura,
em um extremo, até a saúde ideal do outro. A definição de saúde como a mera ausência
de doença ou como qualidade de funcionamento fisiológico de um indivíduo não é mais
aceita. Atualmente a saúde é encarada como uma composição de funcionamento físico,
psicológico, emocional, social e espiritual, que permite que a pessoa desempenhe suas
tarefas e responsabilidades e que se dirija para a realização em várias situações.
BRUNNER e SUDDARTH (1990), consideram a saúde como uma condição
dinâmica, sempre mutante, que é medida de acordo com a forma em que o indivíduo
utiliza suas vocações e habilidades para alcançar o melhor funcionamento possível em
qualquer tempo. E o estado de saúde ideal é aquele onde o indivíduo atinge seu
potencial pleno. Não importando o tipo de incapacidade que possa ter.
A promoção da saúde pode ser definida como atividades que, acentuando o
positivo, ajudam o indivíduo a desenvolver os recursos que irão manter ou melhorar seu
bem-estar, além de melhorar a qualidade de sua vida. Isto se refere às atividades que o
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indivíduo desempenha por si mesmo na ausência de sintomas, na tentativa de
permanecer saudável e não necessitar de cuidados.
O objetivo da promoção da saúde é enfocar o potencial de bem-estar do
indivíduo e incentivá-lo a modificar seus hábitos pessoais, estilo de vida e ambiente,
capacitando-o a melhorar sua vida e bem-estar.
A promoção da saúde como conceito e processo não esta limitada a um
determinado grupo etário. Pelo contrário, se estende ao longo da vida. Vários estudos
demonstraram que a saúde de uma criança pode ser afetada positiva ou negativamente
pelas práticas de saúde da mãe durante o período pré-natal. Assim, a promoção da saúde
se inicia antes do nascimento e, depois, se estende ao longo da infância, da vida adulta e
da velhice. Mesmo porque não se tem idade para adoecer.
Diante desta explosão das atividades de promoção da saúde é de fundamental
importância a descoberta de novos métodos curativos ou auxiliares a estes e também
profiláticos, que possam ser utilizados em beneficio da qualidade de vida do ser
humano. Sendo que é o processo de pesquisa que dispõe de métodos para que se possa
conhecer o desconhecido e, com isso, buscar evidências para constatar que existem
diversas formas de poder promover a saúde, a exemplo, a prática da escuta junto ao
paciente hospitalizado.
Escutar faz parte do processo de comunicação. Sendo, esta, uma prática social
produtora de sentidos e efeitos que repercutem na vida cotidiana das pessoas.
SANDOVAL (2001, p. 20).
Etimologicamente a palavra comunicação vem do latim comunicare e significa
“por em comum”. BORDENAVE (1995), citando FERREIRA, acrescenta que é a
capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, de conversar com vistas ao bom
relacionamento entre as pessoas.
A comunicação engloba aspectos intra e interpessoais que são utilizados quando
uma pessoa tem a intenção de comunicar-se com o outro, lançando mão, para tal, da
comunicação verbal e não verbal.
Dentro do paradigma dominante em comunicação, esta tem as funções de
informar, ensinar, discutir, mas um novo paradigma muito importante está surgindo e a
comunicação passa a ter a função de promover relacionamento entre as pessoas, uma
comunicação para a busca de soluções (CIAANCIARULLO, 2000), portanto para a
promoção da saúde. Até porque, como sugere BORDENAVE (1995), sem a
comunicação de fato o homem não pode existir como pessoa humana.
Desta forma acreditamos (como STEFANELLI apud VANOYE, 1996), que a
comunicação é um processo de compreender, compartilhar mensagens enviadas e
recebidas, sendo que as próprias mensagens e o modo como se realiza seu intercâmbio
exerce influência no comportamento das pessoas envolvidas nesse processo, a curto,
médio e longo prazo.
SANDOVAL E SOUZA (2001, p.152) apresenta uma reflexão feita por
OROZCO GÓMES (1997) para referir-se à comunicação que nos parece fundamental
para direcionar uma forma de pensar a mesma. Assim este autor diz:
A comunicação...é ao mesmo tempo paradigma, campo interdisciplinar,
fenômeno, prática ou conjunto de práticas, processo e resultado, parte essencial da
cultura e inovação cultural, suporte simbólico e material de intercâmbio social,
em seu conjunto, âmbito onde se gera, se ganha ou se perde o poder, união e
registro de agentes, agências e movimentos sociais, ferramenta de interlocução,
espaço de conflito, conjunto de imagens, sons e sentidos, linguagem e lógica de
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articulação de discursos, dispositivo da representação, ferramenta de controle a
serviço de poucos e de exclusão das maiorias aos benefícios do desenvolvimento,
âmbito diferenciador de práticas sociais. Tudo isso e mais é comunicação.
Compreendê-la em sua complexa dimensão é, um objetivo parcialmente acessível
e sempre por atingir.
Sabe-se, de um modo geral, que todo o mecanismo que remete a interação
humana é complexo e está constantemente ocorrendo entre as pessoas, seja sob a forma
de comportamentos, manifestos ou não-manifestos, verbais ou não-verbais,
pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais. Dessa forma, uma
manifestação como um sorriso, um gesto ou um olhar constitui, processos de interações
interpessoais não-verbais extremamente importantes nos momentos onde as pessoas
encontram-se em situações de vulnerabilidade ou, também, sentimentalmente
fragilizados (SANDOVAL e JESUS, 2002).
Assim sendo, coloca-se como desafio para a atuação do profissional na área de
saúde a integração dos aspectos anatômico-funcionias e os estados emotivos que estão
sendo vivenciados pelo cliente e que, sem dúvida alguma, tem relação direta com a sua
recuperação.
A comunicação em saúde pode ser vista, por um lado, como uma necessidade
humana básica e por outro como uma competência que o profissional da área deve
desenvolver em relação ao ser humano. Desse modo deve reconhecer que para
comunicar-se com os outros precisamos considerar seus valores morais, éticos,
religiosos e filosóficos, prezar a autonomia e o autoconceito, além de estabelecermos
um relacionamento empático. A construção dessa empatia dependerá da interação entre
o profissional e o paciente no encontro. E o grau de profundidade do encontro depende
da capacidade de empatia dos protagonistas. FINKLER (1996), diz que empatia é a
capacidade pessoal de colocar-se na pele do interlocutor para fazer a experiência de ver
como ele vê e de sentir como ele sente. É penetrar no ponto de vista do outro para
descobrir o porquê e o como desse ponto de vista. Duas pessoas vêem o mesmo objeto
ou acontecimento de maneira absolutamente idêntica e descobrem que em nível de
sentimento, reagem de maneira igual, realizam um encontro realmente muito profundo.
Como se percebe, o encontro implica esquecer-se de si mesmo, abandonar o
ponto de vista pessoal para entender objetivamente o ponto de vista do outro. A empatia
nasce da escuta, da atenção e da observação objetiva de tudo quanto procede do outro.
O encontro termina sempre na visão de uma realidade nova, diferente das realidades
individuais das pessoas em situação. O eu de cada um dos parceiros do encontro se
funde com o eu do outro, para produzir a nova realidade supra-individual, o nós.
Essa interação entre os parceiros do encontro, como profissional/paciente, leva a
construção de um relacionamento onde o paciente é acolhido em sua nova condição.
Sendo que, este pode se encontrar estressado, logo que, a doença o removeu de seu
convívio e o transplantou para um ambiente estranho, inteiramente desagradável e
desconhecido, onde ele se sente incompetente e só. Antes, um membro que contribuía
ativamente para a sociedade, agora deve aceitar uma posição de dependência. Esse
paciente necessita preservar sua auto-estima, necessita ser reconhecido como um
indivíduo, uma personalidade distinta. O profissional cuida para que esta necessidade
seja satisfeita; dedica tempo para ouvir o paciente; dialoga com ele à medida que ele
deseje e a oportunidade o permita; mostra interesse em todos os assuntos que parecem
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importantes para ele; sua atenção, consideração e delicadeza demonstram que ele é
estimado e que suas necessidades e problemas são reconhecidos.
Todos possuem as mesmas necessidades interpessoais básicas. Essas foram
categorizadas de forma variada como a necessidade de amor, confiança, autonomia,
identidade, autoestima, reconhecimento e segurança, e são resumidas por William
Schutz citado por LITTLEJOHN (1988, p. 214), como a necessidade interpessoal de
inclusão, controle e afeição. O não atendimento de uma necessidade leva a sentimentos
e comportamentos indesejados. Os sentimentos como ansiedade, raiva, solidão e dúvida
quanto a se mesmo estão elevados. Um doente, por exemplo, quer e necessita de sua
família ou amigos. Assim, quaisquer sinais de amizade são em geral apreciáveis. Diante
disto, o profissional deve está constantemente consciente desta necessidade e de sua
importância em relação ao moral do paciente.
É de fundamental importância a comunicação entre profissional e paciente para
se estabelecer um relacionamento afetivo e cativante entre ambos, onde este profissional
possa conhecer profundamente seus pacientes atingindo o âmago das suas angustias,
temores, e inquietações.
Nessa perspectiva, podemos deduzir que a qualidade da assistência que se presta
ao paciente pode ser diretamente influenciada pela habilidade de comunicarmos com
ele. E que o profissional deve dar atenção e afeto ao paciente, escutando suas histórias,
desejos, queixas, reclamações e interpretando seu comportamento, pois essa
interpretação capacitará o profissional a intervir de modo que melhore o sentimento de
aceitação e relacionamento do paciente.
Desse modo o saber escutar em saúde é humanizar o atendimento ao paciente,
para que este possa sentir-se seguro e em um local acolhedor, onde ele possa ser
cuidado não apenas como um doente, mas também como pessoa humana.
Escutar é dar atenção ao paciente acompanhando-o em sua estrutura atual e
ajudá-lo a substituí-la por outra mais saudável; é conhecer o paciente como um todo,
sendo que esse conhecimento pleno do paciente é que proporciona o profissional a agir
terapeuticamente. Esse pensamento é reforçado por Rodrigues (1993) citado por
PESSINI (2000), que diz:
Saber ouvir o que o paciente tem a dizer é o primeiro passo para ajudar a pessoa
que sofre, e ouvindo atentamente a comunicação dessa pessoa o profissional pode
realmente perceber o que a perturba e conhecer as soluções que ela tem em
relação a si própria e, assim, agir terapeuticamente.
Nesse sentido concordamos com COSTA (2003), quando comenta que, ao falar
de si, o ser humano, pode reconhecer-se como ser falante, pensante, produtor de seu
próprio destino, redator de sua própria história e fiel a seu próprio desejo; calar é uma
forma cruel de abandono.
A prática da escuta é tão enriquecedora que não beneficia apenas o paciente, mas
também aqueles que estão escutando-o. Assim sendo, o profissional vive em cada
paciente uma experiência nova e, segundo REMEN (1993), “A habilidade de aprender
algo valioso através da experiência parece ser uma capacidade humana natural e inata”.
Com isso percebe-se a importância da escuta no ambiente hospitalar, logo que
esta prática acaba beneficiando, não apenas os pacientes, mas também todos aqueles que
participam do processo comunicativo.
A partir das considerações feitas até aqui, enfatizamos a importância desse
estudo no sentido de que poderá auxiliar aos profissionais envolvidos no cuidado a
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saúde a iniciar um processo reflexivo e mais cuidadoso sobre a prática da escuta do
paciente.
Nesse contexto surge a necessidade de buscar estratégias não medicamentosas
que possam contribuir para a recuperação do paciente. Deste modo é que surge o saber
escutar como um auxílio no tratamento de pacientes hospitalizados.
Assim sendo é que definimos como objetivo principal desta pesquisa, fazer uma
reflexão acerca da importância que tem a prática da escuta do paciente hospitalizado e,
identificar quais os benefícios que, na opinião desses pacientes, pode trazer tal prática.
2. Nos trilhos da Observação Empírica:
2.1 Campo do Estudo:
Com base em MINAYO (1993, p.105), "entendemos por campo, na pesquisa
qualitativa o recorte espacial que corresponde à abrangência, em termos empíricos, do
recorte teórico correspondente ao objeto da investigação”. Desse modo, a presente
pesquisa foi realizada em um Hospital Geral no interior do Estado da Bahia.
Dos diversos setores do referido hospital, os mais visitados durante a
realização desta pesquisa foram as clinicas médica (masculina e feminina) e cirúrgica
(feminina). Esta instituição, mesmo com suas dificuldades, por ser um
estabelecimento público, foi o ambiente ideal para a operacionalização da pesquisa
devido à vasta demanda de pacientes hospitalizados, que foram os informantes do
estudo.
2.2 Informantes do Estudo:
Os informantes de uma investigação segundo CRUZ NETO (1994, p.54) “são
sujeitos de uma determinada história a ser investigada”. Assim sendo, nesta pesquisa,
foram entrevistados quinze pacientes, selecionados de forma aleatória e que se
encontravam hospitalizados no Hospital referido anteriormente. As características
principais destes informantes são:
Sexo: 9 do sexo feminino e 6 do sexo masculino;
Faixa etária: 3 estão numa faixa etária entre 24 e 40 anos, 7 entre 41 e 60 e 5
entre 61 e 83;
Estado Civil: 2 são solteiros, 10 casados, 2 viúvos e 1 divorciado;
Grau de escolaridade: 8 analfabetos (sendo importante salientar que a maioria
deles sabe assinar o nome); 5 com nível primário e 2 com o ensino fundamental;
As atividades ocupacionais foram as mais variadas possíveis tais como:
doméstica, eletricista, trabalhador rural, professora, aposentado, entre outras. Os
informantes possuem, ainda, diferentes condições sócio-econômicas e de residência
localizadas em diversos bairros da cidade.
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2.3 Técnica e procedimento de coleta de informações:
Segundo LOPES (1990, p.126) “as técnicas de pesquisa são instrumentos
através dos quais são obtidas ou coletadas as informações ou dados brutos da
pesquisa”. Assim sendo, conforme as características do campo de estudo e dos
informantes, essa pesquisa se deu mediante perguntas elaboradas em um questionário
onde os informantes relatavam os seus posicionamentos perante as questões
formuladas.
Cada entrevista durava em média vinte minutos e era realizada no quarto onde
os pacientes se encontravam hospitalizados, sendo que foram utilizadas perguntas
norteadoras para iniciar a conversa, tais como:
Você gosta de conversar?
Você acha que a conversa pode influenciar no seu tratamento, porque?
Como você se sente ao ter alguém lhe escutando?
Os profissionais daqui lhe dão atenção e vem aqui lhe escutar, você acha isso
importante?
2.4 Análise dos Resultados:
Concluída a coleta de informações iniciamos o processo de análise das mesmas,
onde buscamos apreender os significados, em forma de categorias, do discurso
explicitado pelos informantes.
3. Apresentando os resultados:
3.1 O gosto pela conversa e sua influência no tratamento.
Todos os informantes disseram que gostam de conversar e que a mesma
influencia de forma benéfica no tratamento. Vejam-se a seguir alguns depoimentos:
Gosto, e acho que influencia no tratamento, logo que, me sinto melhor, e ter
alguém para conversar me exclui do solitarismo hospitalar.
Gosto, e acho que influencia no tratamento pois fico mais alegre e satisfeito
quando encontro alguém para conversar. Quando chega alguém é uma benção
divina.
Gosto, e acho que influencia no tratamento melhorando-o, pois, sinto-me
aliviado, o que me oferece maior bem-estar e acho que a recuperação se torna
mais rápida.
Com esses relatos percebe-se a importância da comunicação no ambiente
hospitalar. E com isso, saber escutar o paciente é uma forma de recepcioná-lo em sua
nova “casa”, e fazer desse lugar um ambiente mais familiar. KAWAMOTO e FORTES
(1997), reforçam tal argumentação quando comentam que
a interação
profissional/paciente depende basicamente da comunicação. Nesse sentido, para que a
comunicação seja concretizada de forma eficiente, os autores comentam que é
necessário um bom relacionamento, pensamento objetivo, linguagem adequada, escolha
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do momento apropriado, demonstração de interesse, atenção ao escutar o paciente e
honestidade na entrevista.
A comunicação se realiza através de um relacionamento interpessoal, e segundo
PESSINI (2000), a assistência prestada por meio desse relacionamento, caracteriza-se
por atitudes de ouvir o paciente, compreendê-lo, tocá-lo, esclarecê-lo, orientá-lo ou
apenas permanecer ao seu lado e fala a favor de um importante espaço profissional.
Durante a entrevista quase todos os pacientes disseram, “A conversa influencia
no tratamento, melhorando-o”, provavelmente eles não sabem como se processa essa
melhora, mas para eles isso não importa, o que realmente importa é que eles se
beneficiam com isso. E o que é saúde se não tornar melhor a vida de seus clientes?
REMEN (1993, p.46) citando WILLIAMS diz que:
É importante pensar na saúde como a condição do indivíduo que torna possível
uma vida mais prazerosa, um trabalho mais construtivo, e que se manifesta num
serviço melhor para o mundo. A saúde como isenção de doença é um padrão de
mediocridade. A saúde como qualidade de vida é um modelo de inspiração e
realização crescentes.
O mesmo autor diz ainda que toda concepção de saúde humana baseia-se,
consciente ou inconscientemente, numa concepção do ser humano.
Perante os diversos relatos um dos pacientes ainda colocou que: “De tanto ser
internado e conversar, principalmente sobre meu problema, eu vivo aprendendo com a
doença”.
Diante disto, a doença, que parece ser algo que só traz lamentações e tristezas,
na verdade não o é, já que, nesse estado de aparente “incapacidade”, existe também um
potencial enriquecedor. Segundo REMEN (1993), os períodos de crise como os da
doença, parecem particularmente ricos nesse potencial, e o ganho subjetivo de
compreensão, sabedoria e compaixão, que talvez resultem dessa experiência, podem
finalmente se integrar em nossa vida diária e nos enriquecer. Uma vida saudável parece
incluir a capacidade de enfrentar os problemas de maneira a se aprender algo valioso.
A experiência comum é a de que a doença, especialmente as doenças graves,
geralmente se caracterizam pelo medo, ansiedade e pela perda. Porem, esse não é o
único resultado possível. Se aceitarmos a capacidade natural das pessoas para aprender
e evoluir, então os grandes inimigos do homem - a dor e a doença - adquirem o
potencial de ampliar essa capacidade, transformando-se numa oportunidade e não
somente numa infelicidade.
Muitas vezes, não temos consciência do significado e do efeito que a experiência
de estar doente tem sobre as pessoas. Talvez, porque tendemos a nos concentrar na
doença física e em sua solução e não no seu significado. A doença, como todas as outras
experiências humanas, faz parte de um processo continuo de aprendizado e crescimento.
A partir dos relatos aqui representados e a experiência cotidiana podemos
constatar que a conversa pode ser um instrumento que deve ser utilizado como auxílio
terapêutico, a serviço da promoção da saúde de pacientes hospitalizados.
3.2 Importância de ter alguém para a escuta.
Todos os informantes, pois, consideram importante que se lhe seja possibilitada
a prática da escuta. Lembrando que, para se realizar uma conversa é necessário que duas
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pessoas se coloquem em situação de encontro (mesmo que esta situação de encontro
seja com um ente espiritual). Os depoimentos a seguir expressam tal comentário:
(...) nunca fico sem ter alguém para me escutar, quando isso acontece falo com
Deus para enviar alguém. Porque quando estou sozinho sinto-me solitário e triste,
sendo que com alguém ao meu lado isso não acontece.
(...) distrai, me sinto melhor e mais seguro, mas sinto falta da atenção de
profissionais que possam tirar minhas dúvidas em relação ao problema que
possuo.
(...) cabeça vazia é oficina do diabo, quando a pessoa está sozinha fica pensando
besteira e com alguém lhe escutando isso não acontece.
(...) com alguém me escutando sinto-me melhor e mais seguro.
Um dos informantes, ainda, colocou que: “Escutar é ter a atenção de alguém e é
sempre bom ter a atenção de alguém, pois me sinto melhor e mais seguro, e
necessitando de ajuda já existe alguém do meu lado para fazê-lo”.
Segundo REMEN (1993), é preciso ajudar o paciente, não somente em sua
doença física, mas também, a conhecer suas forças e recursos pessoais, e a assumir a
responsabilidade, permitir-lhe conhecer também outra coisa: a percepção de sua própria
capacidade para moldar a qualidade e a riqueza de sua vida através de suas escolhas.
Com isso, é necessário escutar o paciente de forma mais atenciosa. Os
profissionais da saúde precisam dar mais atenção ao paciente para que possam conhecer
não só a doença, como também aquele que a possui. OSLER, citado por REMEN (1993:
p.19) diz que “é tão importante conhecer a pessoa que tem a doença quanto conhecer a
doença que a pessoa tem”.
Diante disto, para se fazer uma avaliação precisa e eficaz, é necessário escutar o
paciente para que, assim, o profissional possa não só diagnosticar a doença, mas
também compreender a pessoa humana.
Os modelos hegemônicos de assistência à saúde tenderam a separar a doença de
sua “carcaça” e considerou-a isoladamente, sem levar em conta a pessoa que sofre com
ela ou o ambiente que, em parte, a encorajou ou provocou. Basicamente, deve-se
alcançar um equilíbrio entre as duas necessidades cientificas: a necessidade de analisar e
classificar o processo da doença e a necessidade de conhecer e compreender a situação
especifica e a pessoa especifica como elas realmente são.
Em uma avaliação simples pode-se definir a doença, mas o paciente geralmente
é definido por aquilo que ele acredita a seu respeito, pelo que acredita ser possível. Com
isso, para se fazer uma definição do paciente como ser humano é preciso escutá-lo.,
visto que com isso estaremos contribuindo para que, entre outros aspectos, possa se
desenvolver sentimento de segurança e assim encontrar forças para enfrentar, mais
positivamente o cotidiano da hospitalização.
Quando estamos doentes, não parecemos nem nos sentimos fortes. Entretanto,
podem existir partes numa pessoa doente que continuam maleáveis e cheias de recursos,
partes que podem mesmo ter crescido e se desenvolvido numa reação à crise. Quando
está presente e é reconhecida, a força dessas partes de cada pessoa pode ser despertada
para lidar com o problema e colaborar no restabelecimento do bem-estar.
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Assim, a conversa com o paciente, entre outros métodos, constitui enorme
auxílio para as pessoas doentes reconhecerem suas forças, recursos e qualidades
individuais dos quais não tinham consciência e perceber a habilidade para torná-los
mais presentes na vida cotidiana. Através dessas e de outras formas, ajudamos os
pacientes a abandonar falsas convicções com relações a recursos pessoais.
A conversa pode proporcionar uma auto-reflexão no paciente e com isso, o
reconhecimento da existência de necessidades intangíveis não satisfeitas que
representam uma preocupação geral em nossa sociedade. As pessoas começam a
perceber que determinadas qualidades vitais estão ausentes de sua vida, e
relacionamentos. Como a ausência de calor, entusiasmo, compreensão, humor,
esperança, aspiração. Essa percepção pode fazer com que essas pessoas busquem tais
qualidades e, com isso, torna-se mais fácil uma relação entre o paciente e aqueles que
estejam dispostos a escutá-los e lhe proporcionar uma melhoria em sua qualidade de
vida.
3.3 Percepção da atenção oferecida pelos profissionais.
Foi percebido que todos os informantes consideram importante serem escutados,
mas dizem que tem a atenção dos profissionais da instituição somente quando estes vão
avaliá-lo. Grande parte (10) colocou que sente falta de conversar com um profissional
que explique a situação em que ele se encontra. Como expressam os seguintes
depoimentos: “...para que os profissionais possam esclarecer minhas dúvidas; Os
profissionais não dão atenção, porque não dispõem de tempo para isso. Acho importante
a atenção dos profissionais para conversar e com isso tornar o ambiente mais familiar”.
Diante das respostas, percebeu-se que, por vezes, o paciente se vê perante
preocupações e curiosidades que geralmente não são sanadas pela equipe profissional.
O paciente com suas preocupações e dúvidas pode entrar em estado de estresse e
medo e com isso diminuir as defesas do seu organismo, proporcionando uma regressão
em seu estado de saúde. REMEN (1993) diz que:
Para o paciente, a doença sempre é uma experiência misteriosa. Esses temores e
preocupações às vezes não são expressos, e as pessoas acham bem-vinda a
oportunidade de discuti-los com a equipe profissional, a família e os amigos. De
vez em quando, aqueles que se encontram próximos ao paciente talvez não
tenham consciência dessas dúvidas e temores não expressos e recebem com
prazer à oportunidade de discutir abertamente essas questões com alguém que se
dispunha a conversar.
Diante disto percebe-se que grande parte dos clientes procuram conversar com
alguém que conheça seu estado, como os profissionais da área, logo que estes são os
mais capacitados para sanar esses questionamentos e com isso satisfazer o cotidiano da
clientela.
Na luta pela garantia dos direitos dos pacientes, o Fórum de Patologias do
Estado de São Paulo, representando diversas associações de defesa aos pacientes,
juntamente com a secretaria de Estado da saúde/SP., com base em códigos de Ética e
Saúde, Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU – 1948) e Constituição da
República Federativa do Brasil (5/10/88) citadas por KAWAMOTO e FORTES (1997),
elaboraram e publicaram a cartilha sobre Direitos do Paciente (1996). Que diz em
alguns de seus vários parágrafos:
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O paciente tem direito a atendimento humano, atencioso e respeitoso, por parte de
todos os profissionais de saúde.
O paciente tem direito a receber explicações claras, simples e compreensivas,
adaptadas a sua condição cultural, sobre as ações diagnosticas e terapêuticas, e o
que pode decorrer delas.
Nessa perspectiva fica explícito que a diminuição e ou eliminação das dúvidas
imposta pelos pacientes é um direito que estes possuem, e que normalmente não
conhecem. Para eles isso deve se realizar de maneira harmoniosa, no processo
comunicativo entre os profissionais da saúde.
Estes profissionais, talvez pela agitação da enfermaria, não dispõem de tempo,
segundo os entrevistados, para proporcionar uma conversa mais profunda e um
atendimento mais humanizado para a clientela.
Na realidade qualquer pequeno intervalo de tempo em que o profissional e o
paciente se encontram, geralmente tem relevância e significado.
Nesse sentido, percebe-se a necessidade dos profissionais utilizarem seu tempo,
(não talvez em uma perspectiva quantitativa, mas sim em uma perspectiva qualitativa)
para que possam dispor, mesmo se for por poucos minutos, de tempo para escutar os
pacientes.
4. Considerações Finais:
Os profissionais lidam mais com pessoas e menos com pacientes... mais com
condições humanas e menos com patologias fixas... mais com riscos sócioculturais do que biológicos... mais com um contínuo de atendimento e menos com
episódios de doença. BENSON (in BELAND).
Os resultados obtidos demonstraram a importância de uma assistência que
acople os benefícios do saber escutar o paciente.
A pesquisa em pauta almeja levar a todos aqueles que se interessem pelo tema,
os resultados encontrados, para que possam ser utilizados no intuito de estabelecer um
período de certa forma prazerosa e também mais curto entre a hospitalização e a
reintegração do paciente na sociedade.
No período de hospitalização ficou explícita a necessidade que o paciente tem de
ser ouvido. Diante disto a realização deste estudo proporciona a descoberta de recursos
auxiliares a serviço da promoção da saúde de pacientes hospitalizados, bem como uma
visão mais ampla sobre a dinâmica presente no processo da hospitalização.
Nessa ótica, os profissionais da saúde precisam enxergar além dos meios
tradicionais de assistência ao cliente, buscando uma forma mais acolhedora de
atendimento; atrelar aos métodos curativos o calor humano, afeto, gentileza, humor,
atenção, solidariedade e amor. Enfim, é preciso escutar o paciente tal como um músico
que afina seu ouvido a partir de um perfeito conhecimento do solfejo, pois como diz
SALOMÉ (2000), a necessidade vital de um doente é de ser ouvido, de ligar-se ao
sentido da sua doença, de descobrir os seus próprios recursos para enfrentar o
sofrimento e a dependência física.
Nessa perspectiva, juntamente com a competência técnica dos profissionais,
deve estar a competência interpessoal dos mesmos, logo que, os doentes precisam não
só da habilidade dos outros, mas também de sua humanidade. A saúde humana parece
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exigir algo mais, para as quais a vida possui calor, amizade, significado, propósito,
esperança e direção, bem como duração. Com isso, os profissionais da saúde precisam
buscar estratégias para humanizar seus atendimentos, devem portar-se, além de seu
conhecimento técnico, como um conselheiro, ouvinte, amigo e acima de tudo, ser
humano.
Referências Bibliográficas
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