Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 TOXICIDADE DE EXTRATOS ORGÂNICOS DE FOLHAS DE ANDIRA PANICULATA PARA OPERÁRIAS DE ATTA SEXDENS RUBROPILOSA FOREL (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) 1 2 3 Ana Paula Nunes Pereira , Leonardo Capelleti da Silva , Odair Bueno , Antônio 4 Carlos Severo Menzes 1 Bolsista CAPES; e-mail: [email protected] 2 Colaborador: aluno iniciação científica-UEG 3 Professor convidado do Centro de Estudos Sociais da Universidade Estadual Paulista-UNESP 4 Orientador – Curso de Química – Unidade Universitária de CiênciaExatas e Tecnológicas – UEG e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Andira paniculata Benth, toxicidade, Atta sexdens rubropilosa, atividade inseticida. 1- INTRODUÇÃO O Brasil é um país onde existem muitas peculiaridades e pluralidades climáticas e geográficas, abriga uma diversidade enorme de insetos e plantas. Além das espécies nativas e cultivadas para fins comerciais, tanto para consumo interno como para exportação, historicamente muitas espécies vegetais foram introduzidas por colonizadores e imigrantes, sendo responsáveis pela introdução de espécies exóticas de predadores fitófagos. Durante muitas décadas o Brasil teve sua economia baseada no setor primário de produção e, ainda hoje, ocupa uma posição de destaque no abastecimento mundial de cereais, frutas e outros produtos de origem vegetal sendo, portanto, o controle de pragas nativas ou exóticas um desafio que persiste e tem se agravado ano após ano (VIEGAS-JÚNIOR, 2003). A relação entre insetos e plantas é vital para a manutenção da Terra. Os insetos beneficiam as plantas através da polinização e muitos vivem em associação mútua, como as formigas que vivem em plantas de acácias, defendendo-as contra herbívoros (insetos e vertebrados) e em troca recebendo abrigo e alimento 1 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 (JANZEN,1966). Outros benefícios atribuídos as formigas que vivem em mirmecófitas é que algumas espécies podem trazer nutrientes que são absorvidos pela planta hospedeira (IZZO,2007). As interações entre herbívoros e plantas representam uma grande proporção das relações ecológicas entre espécies. A herbivoria reduz significamente o crescimento e a reprodução das plantas, influenciando a competição e composição da comunidade (COLEY, 1988). No entanto, algumas plantas desenvolveram uma série de mecanismos defensivos contra os herbívoros, incluindo defesas físicas (tricomas e espinhos) e químicas (compostos secundários tóxicos e redutores da digestibilidade) (CASTANHO, 2004). O controle de pragas tem sido realizado normalmente com o uso de produtos químicos, que além de agressivos ao ambiente, nem sempre são eficientes. Na busca de alternativas ao uso desses produtos, têm sido estudadas outras técnicas como a utilização de inseticidas botânicos (ROEL, VENDRAMIM, 1999). As formigas cortadeiras constituem um sério problema para agricultura brasileira está sendo um dos principais insetos pragas, os quais têm sido controlados, principalmente, utilizando-se inseticidas de origem sintética, sendo que não apresentam nenhum nível de especificidade, o que acaba por causar desequilíbrio biológico, já que eliminam todos os insetos inclusive os benéficos (FERNANDES et al, 2002). O genêro Atta destaca-se dos demais, é um dos mais nocivos a um enorme número de culturas agrícolas e florestais no território brasileiro, dos insetos desfloradores, é considerado o grupo mais importante, por causa dos grandes danos gerados e a quantidade de recurso aplicado em seu controle (PERES-FILHO et al, 2002). O objetivo do presente trabalho foi verificar a toxicidade “in vitro” dos extratos orgânicos de folhas de Andira paniculata Benth (Leguminosae: Papilonoideae), sobre operárias de Atta sexdens rubropilosa Forel. A planta Andira paniculata pertence à família Leguminosae é a terceira maior dentre as angiospermas, sendo representada por três subfamílias (Mimosoideae, Caesalpinioideae e Faboideae ou Papilionoideae); essa família 2 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 possui 727 gêneros e 19.325 espécies, com distribuição cosmopolita (LEWIS et al 2005). O potencial econômico da família Leguminosae como um todo é muito bem conhecido, são produtoras de óleos e resinas, utilizados na preparação de perfumes, tinturas, medicamentos e inseticidas. Os frutos e sementes são utilizados como alimento e, as madeiras, estão entre as mais valiosas do mundo. Considerando seu potencial de se associar á bactérias fixadoras de nitrogênio em suas raízes, vem sendo uma das alternativas para reduzir custos na agricultura (LIMA et al , 1994). O gênero Andira é o grupo de plantas que são conhecidos popularmente por angelins, representado por mais de 30 espécies distribuídas na América Tropical, com uma espécie na África (PENNIGTON, LIMA, 1995), sendo a grande maioria originária do Brasil (SILVA, 2003). No Brasil, foram catalogadas 27 espécies e 7 variedades, sendo que o maior número de espécies se encontra na Amazônia (SILVA, 2003). Devido às propriedades vermífugas, esse gênero foi utilizado na Europa desde 1755, por médicos e farmacêuticos de diversos países que preconizavam a industrialização das cascas, transformando-as em pó, com o qual procuravam obter uma droga de aplicação anti-helmíntica (SILVA, 2003). Algumas espécies que pertencem ao gênero Andira ainda são utilizadas popularmente como anti-helmínticas, apesar de seus efeitos tóxicos (CORRÊA, 1984; SILVA et al, 2003). Em trabalho anterior divulgou-se a avaliação da ação anti-helmíntica dos extratos brutos de A. anthelmia e A. fraxinifolia, sugerindo o extrato bruto da espécie A. anthelmia como um potente anti-helmíntico (SILVA et al, 2003). A planta escolhida para o estudo da toxicidade e atividade inseticida foi a Andira paniculata Benth, que está descrita popularmente como inseticida natural, não encontrando relato de que parte da planta é utilizada para que este intuito seja alcançado. A Andira paniculata é conhecida pelos nomes populares angelim docê e mata-barata, na revisão bibliográfica realizada só foram encontrados trabalhos de taxonomia (Flora Brasiliensis a obra, 2009) e levantamento da quantidade de indivíduos de espécies em determinadas regiões. 3 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 FIGURA 1- Foto de Andira paniculata Benth coletada na área de preservação do cerrado situada na Base Área de Anápolis. Fonte: Produção da própria autora. 2- MATERIAIS E METÓDOS 2.1. Coleta do Material vegetal As folhas de Andira paniculata Benth foram coletadas no mês de setembro de 2008, na área de preservação do cerrado, situado na base área de Anápolis, Goiás, a a Brasil e identificadas pela Prof Dr Mirley Luciene dos Santos. 2.2. Obtenção das frações Após a coleta, o material vegetal foi seco em estufa com circulação de ar a temperatura de 50°C durante 5 dias, em seguida, foram moídas a fino grão e submetido ao processo de extração exaustiva com etanol. O filtrado desta extração foi recolhido e o solvente orgânico evaporado sob vácuo numa temperatura de aproximadamente 400C fornecendo o extrato bruto etanólico. O extrato bruto etanólico das folhas foi fracionado por extração líquido-líquido, foi ressuspendido em uma solução etanol-água 3:1, em ordem crescente de polaridade: hexano, diclorometano, acetato de etila, obtendo-se desta forma as frações: hexânica (APFE-H), diclorometânica (APFE-D), em acetato de etila (APFEA) e hidroálcoolica (APFE-W), conforme a Figura : 4 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Figura 2.Obtenção das frações a partir das folhas de Andira paniculta Benth. Fonte: Produção da própria autora. 2.3. Teste in vitro para toxicidade para operárias de Atta sexdens rubropilosa. Os testes foram realizados no laboratório de insetos sociais-praga na UNESP, Rio Claro, São Paulo. As frações orgânicas: hexânica, diclometânica e acetato de etila do extrato da planta Andira paniculata foram incorporadas em dieta artificial para ingestão das formigas. Figura 3: Laboratório de análise de mortalidade das formigas cortadeiras. Fonte: http://www.fca.unesp.br/lisp/estrutura.htm 5 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 O método de incorporação foi o “dry mix”, onde o extrato é inicialmente macerado junto com glicose e depois adicionado os demais componentes: peptona, levedura, ágar e água. Posteriormente, a dieta foi autoclavada a 1 atm e a 110°C, vertida em placas de Petri e conservada em geladeira. Para cada tratamento e grupo controle foram utilizadas 50 operárias médias, originárias de sauveiros artificiais existentes no Centro de Estudos de Insetos Sociais e distribuídas aleatoriamente em 5 placas de Petri e mantidas durante 25 dias em estufas para B.O.D. à 25ºC e umidade relativa acima de 70%. Diariamente, a dieta era renovada e anotado o número de formigas mortas. Os dados obtidos por placa foram acumulados por tratamento, determinada a porcentagem de mortalidade e submetidos a análise gráfica através das curvas de sobrevivência e posteriormente comparadas pelo teste não paramétrico “log rank” (Prisma 3.0) através de comparações das curvas de sobrevivência.As concentrações usadas das frações do extrato bruto de A. paniculata foram: fração hexânica 2,5%, fração diclorometânica 5,10% e fração em acetato de etila 1,80%. 3- RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Toxicidade de Andira paniculata para operárias de Atta sexdens rubropilosa (Hymenoptera: Formicidae) Os resultados obtidos revelam que todos os tratamentos apresentaram diferenças significativas em relação ao tratamento com dieta pura (controle). Apresentaram 50% de mortalidade nos 2º, 3º e 5º dias, respectivamente, enquanto que no controle esse valor foi atingido no 18º dia. O gráfico e a tabela a seguir, ilustram essas informações: 6 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 FIGURA 4. Curvas de sobrevivência de operárias de Atta sexdens rubropilosa submetidas ao bioensaio de incorporação em dieta artificial com A. paniculata . Fonte: Produzido pelo software log rank (Prisma 3.0) TABELA 1. Mortalidade acumulada e sobrevivência mediana (Md) de operárias de Atta sexdens rubropilosa submetidas ao bioensaio de incorporação em dieta artificial com A. paniculata. * Letras distintas em relação ao controle indicam diferença significativa de acordo com o teste “log rank” (p< 0,05). Fonte: Produzido pelo software log rank (Prisma 3.0). 4 CONCLUSÕES • Diante do descrito, admite-se que os extratos das folhas de A. paniculata apresentam toxicidade às operárias de Atta sexdens rubropilosa . • A continuidade do trabalho envolve o fracionamento dos extratos semi fracionados. • A realização de novos bioensaios até a identificação dos compostos com atividade biológica. • Este trabalho é um estudo preliminar que pode ser aprofundado, para que se conheçam as pontecialidades desta planta, com o objetivo de se conhecer às características químicas dessa espécie, bem como esclarecer quais as 7 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 classes de constituintes químicos responsáveis pela toxicidade apresentada pela planta. REFERÊNCIAS CASTANHO, C de T. Herbivoria em um gradiente de ambientes em floresta de terra firme da Amazônia Central, 2004. COLEY, P. 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