FACULDADE MARIA MILZA BACHARELADO EM FARMÁCIA BRUNO MACEDO CARDOSO LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NO BAIRRO CENTRO DA CIDADE DE GOVERNADOR MANGABEIRA-BA GOVERNADOR MANGABEIRA- BA 2016 BRUNO MACEDO CARDOSO LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NO BAIRRO CENTRO DA CIDADE DE GOVERNADOR MANGABEIRA-BA Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Farmácia da Faculdade Maria Milza, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Professora Drª Vânia Jesus Dos Santos de Oliveira Orientadora GOVERNADOR MANGABEIRA- BA 2016 Dados Internacionais de Catalogação Cardoso, Bruno Macedo C268l Levantamento etnobotânico no bairro Centro da cidade de Governador Mangabeira - Ba / Bruno Macedo Cardoso. – 2016. 69 f. Orientadora: Profª. Drª. Vânia Jesus Dos Santos de Oliveira Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) – Faculdade Maria Milza, 2016. 1. Planta medicinal - uso popular 2. Etnobotânica. I. Oliveira, Vânia Jesus Dos Santos de. II. Título. CDD 581.634 PRISCILA DOS SANTOS DIAS BRUNO MACEDO CARDOSO LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NO BAIRRO CENTRO DA CIDADE DE GOVERNADOR MANGABEIRA-BA Aprovado em: 20/06/2016 BANCA DE APRESENTAÇÃO ________________________________________ Prof. Drª Vânia Jesus dos Santos Oliveira Orientador/FAMAM _________________________________________ Prof. Drª Catiane Sacramento Souza Avaliador/UEFS _________________________________________ Prof. MSc Paulo Roberto Ribeiro De Mesquita Avaliador/FAMAM GOVERNADOR MANGABEIRA-BA 2016 AGRADECIMENTOS À DEUS pela direção e força concedida em cada momento, pela suprema orientação nesta jornada. Afinal, “o objetivo foi alcançado”. À Minha mãe Djanira, meu pai Ailton, minha avó Nair, meu avô Manoel (in memoriam), meu irmão Osmar, minha sogra Elizete, meu sobrinho Isaque, Rafael Farias, Marlu, meus tios, tias, primos, Padrinho e Madrinha, sem o incentivo de vocês não conseguiria. Obrigada! À minha esposa Amanda, cada dia vivido sempre é motivado pelo seu amor, cuidados e dedicação. Muito obrigado por tudo! Ao meu filho Mailon, você é minha grande benção. Papai te ama. À Professora Dra. Vânia Jesus, pelo profissionalismo nas orientações dos trabalhos desde a iniciação científica, pelo apoio, confiança e por todas as palavras de incentivo. Obrigada! A todos os professores e funcionários da FAMAM em especial, Endrigo Sampaio, Antonio Anderson, Paulo Mesquita, Noelma, Catiane e José Jeraldo, a colaboração de vocês foram fundamental. À UFRB e aos Professores Marcio Lacerda e Fábio Oliveira, muito obrigado! Aos amigos da Sociedade Filarmônica Amantes da Lyra também sou muito grato. A toda equipe da Natulab, muito obrigado pela oportunidade de ter feito parte dessa grande escola. Agradeço em especial às turmas do P&D Pharma e Food, a Dielli, Janai e Buzeu por viabilizarem o início de tudo. A todos os preceptores de estágios, em especial a Leonan, Roberto, Lara, Eldo e Beto. Obrigado pelo incentivo. Aos amigos da Agilent Technologies, Valter e Jonevaldo, obrigado pela confiança e oportunidade. Aos amigos Luis Lima (Lula), Wedson Carvalho, Hebert Correia, André Correia, Jó, Dyana Verena, Maiana Sarmento, Aloísio Oliveira, Samylla Barreto, Jai motorista e ao meu primo Diego, obrigado pelo incentivo e colaboração. A toda população e aos Agentes Comunitários de Saúde de G. Mangabeira-BA, obrigado pelo acolhimento. Ao Programa Universidade Para Todos, Governo Federal, Gestão da Presidente Dilma Rousseff, o qual viabilizou esta formação. RESUMO A etnobotânica consiste no estudo do conhecimento e das definições adquiridas por qualquer cultura vivente em relação aos seres vivos e fenômenos biológicos. O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento etnobotânico das plantas de uso terapêutico no bairro Centro do Município Governador Mangabeira-BA. A pesquisa foi realizada entre os meses de julho de 2015 a janeiro de 2016. As visitas aconteceram nos turnos matutino e vespertino e apenas participaram da pesquisa pessoas maiores de 18 anos de idade. Para a coleta dos dados foram utilizados 50 questionários semiestruturado. O processo de coleta e identificação das espécies foi realizado conforme Fidalgo e Bononi (1989), realizada no Herbário do Recôncavo-UFRB. Quanto aos resultados destacam-se que 88% dos entrevistados fazem uso de plantas medicinais para tratar doenças e apenas 12% disseram que não utilizam plantas com este intuito. A folha é parte da planta mais utilizada, sendo o chá a forma de preparo predominante. Além disso, foram citadas 55 diferentes espécies de plantas, as quais pertencem a 34 famílias. As espécies Lippia alba, Plecthantus barbatus, Pneumus boldus e Vernônia condensata foram as mais citadas no levantamento. O estudo demonstrou a existência de um amplo saber popular em relação à utilização empírica de plantas para tratar doenças. As quatro espécies que foram identificadas demonstram estudos farmacológicos que reafirmam a importância do saber popular sobre as propriedades farmacológicas. Palavras chave: Planta medicinal. Uso popular. Etnobotânica. ABSTRACT Ethnobotany is the study of knowledge and the settings acquired by any living culture in relation to living beings and biological phenomena. The aim of this study was to conduct an ethnobotanical survey of therapeutic use plants in the Central district of the City Governador Mangabeira-BA. The survey was conducted between the months of July 2015 to January 2016. The visits took place in the morning and afternoon shifts and only participated in the survey people over 18 years old. For data collection were used 50 semi-structured questionnaires. The process of collection and species identification was performed according Fidalgo and Bononi (1989), held at the Herbarium of the Reconcavo-UFRB. As for the results highlight that 88% of respondents make use of medicinal plants to treat do encase only 12% said they do not use plants for this purpose. The sheet is most used part of the plant, the tea being the predominant form of preparation. Moreover, they were cited 55 different plant species, which belong to 34 families. The species Lippia alba, Plecthantus barbatus, Pneumus boldus and Vernonia condensata were the most cited in the survey. The study demonstrated the existence of a broad popular knowledge in relation to the empirical use of plants to treat diseases. The four species were identified demonstrate pharmacological studies reaffirm the importance of popular knowledge about the pharmacological properties. Key words: Medicinal plant. Popular use. Ethnobotany. LISTA DE TABELAS Tabela 01. Alguns estudos etnobotânicos realizados recentemente no Brasil, com ênfase na Região Nordeste e estado da Bahia............................................................16 Tabela 02. Tamanho da população, margem de erro e quantidade de amostra suficiente para o estudo..............................................................................................29 Tabela 03. Representação das espécies citadas no estudo, com suas respectivas famílias e indicação terapêutica pela população...................................................................................................................34 LISTA DE FIGURAS Figura 01. Mapa referente à localização da área de estudo...................................... 28 Figura 02. Representação das espécies mais citadas no levantamento etnobotânico em Governador Mangabeira-BA.................................................................................. 37 Figura 03. Espécies que foram coletadas para serem identificadas no Herbário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).............................................. 38 Figura 04. Exsicatas das espécies que foram identificadas no Herbário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia............................................................39 Figura 05. Representação das famílias com número de citações ≥ 02, no levantamento............................................................................................................... 40 LISTA DE ABREVIATURAS SUS - Sistema Único de Saúde OMS - Organização Mundial de Saúde IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde ACS - Agentes Comunitários de Saúde UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia HURB - Herbário do Recôncavo da Bahia SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 15 2.1 ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS ........................................................................... 15 2.2 ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS NO BRASIL ...................................................... 16 2.2. APLICAÇÕES DAS PLANTAS MEDICINAIS ................................................... 19 2.2.1 Conhecimento Popular x Conhecimento Científico .......................................... 25 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 28 3.1 CARACTERIZAÇÕES DA ÁREA DE ESTUDO ................................................. 28 3.2 DETERMINAÇÃO ESTATÍSTICA DO TAMANHO DA AMOSTRA .................... 28 3.3 PESQUISAS DE CAMPO ................................................................................... 30 3.3.1 Coleta e identificação das espécies ................................................................. 31 3.3.2 Materiais utilizados na coleta e herborização do material botânico .................. 31 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 32 4.1 ETNOBOTÂNICA ............................................................................................... 32 4.2 ETNOFARMACOLOGIA ..................................................................................... 41 4.2.1 Propriedades farmacológicas ........................................................................... 41 4.2.1.1 Lippia alba (Mill) N. E. Brown. ....................................................................... 41 4.2.1.2 Plectranthus barbatus Andrews. .................................................................... 42 4.2.1.3 Pneumus boldus Molina ................................................................................ 43 4.2.1.4 Vernonia condensata Baker .......................................................................... 43 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 45 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46 Apêndice I – Questionário diagonístico ............................................................... 65 Anexo I - Parecer Comitê de Ética ......................................................................... 67 Apêndice II - TCLE ................................................................................................... 68 12 1. INTRODUÇÃO O conhecimento tradicional que foi herdado dos nossos ancestrais reconhecidos como especialistas nas práticas culturais da utilização de plantas medicinais como recurso terapêutico pode ser evidenciado em todo o mundo. E na contemporaneidade esse conhecimento, às vezes, pode ser visto com certa desconfiança por alguns segmentos da sociedade, entretanto, na maioria das vezes, esta tradição é legitimada socialmente, e mesmo que venha passado por modificações, se confirma e não é esquecida (SILVA, 2014). Importantes aspectos sobre os saberes das populações tradicionais vêm sendo estudados pela etnobiologia, a qual aborda estudos que visam perceber o papel da natureza sob os olhares das populações locais dentro de um sistema de crenças e adaptações do homem com o meio (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004). Entretanto, A etnobotânica objetiva entender a relação dos seres humanos com as plantas medicinais (COSTA; MAYWORM, 2011). A etnobotânica consiste no estudo do conhecimento e das definições adquiridas por qualquer cultura vivente em relação aos seres vivos e fenômenos biológicos. Ela estuda a relação que há entre os seres humanos e as plantas e como as populações utilizam os recursos vegetais (DE LUCENA et al., 2012). Além disso, informações importantes, muitas vezes de sua própria cultura são transmitidas entre grupos populacionais através do hábito de se utilizar plantas como recurso medicinal (FREITAS et al., 2012). Para De Freitas et al., (2013), o conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. Além disso, o uso de plantas no tratamento e na cura de enfermidades é tão antigo quanto à espécie humana. É considerada como planta medicinal aquela planta administrada sob qualquer forma e por alguma via ao homem, exercendo algum tipo de ação farmacológica. As plantas medicinais têm sido utilizadas tradicionalmente para o tratamento de várias enfermidades. Sua aplicação é vasta e abrange desde o combate ao câncer até os microrganismos patogênicos (SILVA; CARVALHO, 2004). O Brasil detém a maior diversidade biológica do mundo, contando com uma rica flora, despertando interesses de comunidades científicas internacionais para o estudo, conservação e utilização racional destes recursos, contando com mais de 55.000 espécies catalogadas (SOUZA; FELFILI, 2006). Segundo SAMPAIO et al. 13 (2006) são 341 espécies utilizadas como medicinais no nordeste. Em estudos realizados nas cidades circunvizinhas a Governador Mangabeira, no recôncavo da Bahia, foi evidenciado que em Muritiba, por Santos; Brito; Oliveira (2012), Cruz das Almas por Teixeira; Brito; Oliveira (2012) e por Menezes (2014), em Santo Amaro, que mais de 127 espécies de plantas são utilizadas como recursos terapêuticos para tratar vários tipos de doenças. De forma semelhante em todo o Brasil, cerca de 82% da população brasileira utiliza produtos a base de plantas medicinais nos seus cuidados com a saúde, seja pelo conhecimento popular na medicina tradicional indígena, quilombola, entre outros povos e comunidades tradicionais, seja pelo uso popular na medicina caseira, de transmissão oral entre gerações, ou nos sistemas oficiais de saúde, como prática de cunho científico, orientada pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) uma prática que incentiva o desenvolvimento comunitário, a solidariedade e a participação social (RODRIGUES; DE SIMONI, 2011). A OMS tem sido forte aliada no fortalecimento das práticas culturais e destacou no ano de 2008, na China, que o conhecimento da medicina tradicional, os tratamentos e práticas devem ser respeitados, preservados e amplamente divulgados e que cabe aos governos a responsabilidade pela saúde de sua população e formulação das políticas nacionais, regulamentos e normas dos sistemas de saúde que sejam abrangentes, e garantam a adequada, segura e efetiva utilização da medicina tradicional (BRASIL, 2012). Grande parte das plantas nativas brasileiras ainda não tem estudos para permitir a elaboração de monografias completas e modernas. Muitas espécies são usadas empiricamente, sem respaldo cientifico quanto à eficácia e segurança, o que demonstra que em um país como o Brasil, com enorme biodiversidade, existe uma grande lacuna entre a oferta de plantas e as poucas pesquisas (FOGLIO et al., 2007). As principais justificativas para elaboração deste estudo estão pautadas primariamente no encurtamento da distância entre os saberes populares e científicos, seguido pela produção científica do estudante de Farmácia no campo da etnobotânica e no fortalecimento das práticas acadêmicas representadas pelos projetos executados em comunidades. Desenvolver este trabalho como de conclusão do curso de Bacharelado em farmácia me instigou devido às inúmeras práticas medicamentosas envolvendo a utilização de plantas para curar doenças que já foram desenvolvidas em outras partes do mundo, as quais incitaram profissionais farmacêuticos a 14 aprofundarem nos estudos envolvendo plantas medicinais. Além disso, estudos como este traz a tona o conhecimento repassado de geração a geração nas comunidades, deixando em evidência a importância dos recursos terapêuticos das plantas encontradas em seu ambiente natural e que tal sabedoria popular pode ser um instrumento importante, como por exemplo, para indústria farmacêutica na elaboração de novos medicamentos, no qual farmacêuticos e estudantes de farmácia estão inseridos. Assim, os objetivos deste estudo foram realizar um levantamento etnobotânico das plantas de uso terapêutico no bairro Central do Município Governador Mangabeira-BA, identificar as espécies mais citadas no levantamento e buscar informações sobre as aplicações farmacológicas das espécies mais citadas em literaturas especializadas. 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS A história da etnobotânica se inicia com os trabalhos do renomado botânico Carl Linnaeus, no século XVIII, porque seus diários de viagens continham dados referentes às culturas visitadas, os costumes de seus habitantes e o modo de utilização das plantas (PRANCE, 1991). Entretanto, a íntima relação entre a humanidade com o cultivo de plantas existe desde as suas primeiras organizações sociais, quando os quintais passaram a ser uma estratégia de cultivo do seu próprio alimento e remédios (FRANCO; FERREIRA, FERREIRA, 2011). Conceitualmente o termo “etnobotânica” foi empregado pela primeira vez em 1895, por Harshberger, botânico norte americano, para descrever o estudo de “plantas usadas pelos povos aborígenes”, contribuindo na elucidação da posição cultural das tribos indígenas (ALBUQUERQUE, 1997). Um dos pioneiros nos estudos etnobotânico no Brasil foi Richard Evans Schultes, botânico sistemata, que trabalhando com índios do noroeste da Amazônia descreveu o preparo e a utilização de inúmeras plantas empregadas como medicamentos, alucinógenos, anticoncepcionais (AMOROZO, 1996). O uso popular de plantas é uma arte muito antiga fundamentada no acúmulo de informações repassadas oralmente através de sucessivas gerações (NASCIMENTO, 2008). Para Davis, (1995), outros exploradores, missionários, naturalistas e botânicos, ao estudarem o uso de plantas por comunidades de todo o mundo também contribuíram para a sistematização da etnobotânica ao longo do tempo. A etnobotânica representa a área da pesquisa destinada à investigação das relações entre povos e plantas, destacando-se, dentre essas relações, o estudo das práticas medicinais, envolvendo vegetais utilizados na medicina popular, sendo estudos envolvendo comunidades. (LIMA et al., 2007, NETO, 2014). Estudar e analisar as informações populares que o homem tem sobre o uso das plantas constitui um dos principais objetivos da etnobotânica. Ao entender o perfil de uma comunidade e seus usos em relação às plantas, estudos etnobotânico, visam extrair informações que possam ser benéficas sobre usos medicinais de plantas, 16 preservando os costumes e particularidades de cada comunidade (RICARDO, 2010). De acordo com Cardoso e Silva (2012), a etnobotânica preserva os conhecimentos populares sobre o uso de plantas medicinais de uma região, por uma comunidade, tornando assim um ato antropológico, que mostra o quanto o homem é capaz de interagir e adapta-se ao meio ambiente, construindo e preservando sua cultura. Muitas comunidades tradicionais possuem um vasto conhecimento relacionado ao uso dos recursos vegetais encontrados nos ambientes onde as mesmas estão inseridas, sendo que esse conhecimento é adquirido empiricamente e transmitido de geração em geração (OLIVEIRA, 2015). Atrelado a etnobotânica, fatores culturais são fortemente evidenciados no que diz respeito à relação homem natureza. O Pluriculturalismo é fortemente evidenciado entre as comunidades brasileiras e acaba tendo seu papel bastante relevante na disseminação do conhecimento popular sobre as plantas medicinais (NETO, 2014). Logo, hábitos cotidianos de determinadas comunidades estão diretamente submetidos aos ciclos naturais e a forma como apreendem a realidade e a natureza é baseada não só em experiência e racionalidade, mas em valores, símbolos, crenças e mitos (MONTELES; PINHEIRO, 2007). 2.2 ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS NO BRASIL A maior biodiversidade do planeta certamente é encontrada em território brasileiro. Isso inclui as plantas medicinais que são insumos para a fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos (MACEDO, 2009). O uso das espécies vegetais com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas se perpetuaram na história da civilização humana e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial como eficaz fonte terapêutica (MADALENO, 2011). No Brasil, o uso de plantas medicinais está muito ligado à cultura indígena, mas a influência europeia é inegável, visto a grande quantidade de plantas introduzidas em nossas hortas são largamente utilizadas não somente como medicamento, mas também como ervas aromática (GRANDI, 1989). 17 A herança cultural africana na medicina popular do Brasil e que os quilombolas carregam consigo e ainda praticam os costumes de seus antepassados dessem ser levado em consideração, pois, visam promover o resgate do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais em comunidades afrodescentes, e apresenta-se como uma ferramenta para a promoção da valorização do saber tradicional que estas comunidades carregam. Além disso, fornece importantes informações que poderão contribuir no processo de desenvolvimento de programas e projetos de pesquisa de plantas medicinais (OLIVEIRA, 2015). No Nordeste do Brasil, apesar da grande influência dos meios de comunicação e do número crescente de farmácias na região, estudos etnobotânico têm demonstrado que o uso de plantas medicinais ainda é frequente, tanto no meio rural quanto urbano, sendo comum principalmente neste último, a presença de raizeiros em pontos estratégicos de algumas cidades (MOSCA; LOIOLA, 2009). Muitos estudos foram e ainda estão sendo desenvolvidos no Brasil inteiro, a exemplo disso, na tabela 01, encontram-se alguns desses trabalhos. Araújo e Lemos, (2015), destaca estudos com plantas medicinais e seus usos em estados da região Nordeste. Tabela 01. Alguns estudos etnobotânicos realizados recentemente no Brasil, com ênfase na Região Nordeste e estado da Bahia. Cidade do estudoEstado São Paulo-SP Madureira-RJ Ouro Preto-MG Goiânia-GO Santa Catarina-SC Manacapuru-AM Cuiabá-MT Ponta Grossa-PR Moreilândia-PE Recife-PE Nova Olinda-PB Pombal-PB Autores DE QUEIROZ; DO NASCIMENTO. BOCHNER et al., MESSIAS et al., DOS SANTOS; FARIA VILHALVA., DE LUCA et al., VÁSQUEZ; MENDONÇA; NODA. GONÇALVEZ; PASA. STANISKI; RACHULSKI. REGIÃO NORDESTE MACÊDO et al., GOMES SILVA BANDEIRA et al., Ano da Publicação 2014 2012 2015 2015 2014 2014 2015 2014 2015 2015 2014 2014 Continua... 18 ...Continuação Itaporanga d’Ajuda-SE Milagres-CE Quixerê-CE São Luiz-MA São Luiz-MA Apodi-RN Luís Correia-PI Serra do Passa Tempo-PI Arapiraca-Al Tanhaçu-BA Vitória da Conquista-BA Teofilândia-BA Juazeiro-BA Lapão-BA Cruz das Almas-BA Mutuipe-BA Santo Amaro-BA Muritiba-BA Cruz das Almas e Muritiba Conceição do Almeida, Feira de Santana, Santo Amaro e Itaberaba-BA SANTOS SILVA et al., FREITAS SOUZA; DA SILVA. FIRMO; GOMES; VILANOVA. LINHARES et al., PAULINO et al., LEMOS; ARAUJO DE ALMEIDA NETO; DE BARROS; SILVA., DA SILVA LOS; DE BARROS; DAS NEVES. BAHIA CUNHA, et al., OLIVEIRA OLIVEIRA SILVA MELO-BATISTA RODRIGUES; GUEDES SILVA, et al., MENEZES SANTOS; BRITO; OLIVEIRA. TEIXEIRA; BRITO; OLIVEIRA. 2013 2015 2015 2014 2014 2012 2015 2015 REBOUÇAS, et al., 2015 2012 2012 2015 2012 2014 2014 2006 2008 2013 2012 2012 As cidades de Cruz das Almas, Santa Amaro e Conceição do Almeida Também fazem parte do recôncavo da Bahia. Entretanto, o estudo supracitado desenvolvido na cidade de Cruz das Almas, apesar de não ter sido publicado tão recentemente quanto à maioria dos listados na Tabela 01, é de grade relevância comparativa, pois foi desenvolvido a menos de 15 Km de distância da cidade de Governador Mangabeira. Segundo Rebouças et al., (2015), o saber popular no uso de plantas medicinais sempre foi bastante disseminado e tem se tornado cada vez mais comum. Entretanto, a maioria dos usuários não possui informações suficientes acerca da nomenclatura, usos e aplicações das espécies, podendo acarretar riscos à saúde da população. No que diz respeito às características em comum diagnosticadas nos estudos etnobotânicos, Silva, 2014, p. 89 afirma que: “Os estudos vêm revelando características do conhecimento tradicional, atribuídas às potencialidades das plantas medicinais indicadas, são aquelas relacionadas às facilidades de acesso como a primeira escolha de tratamento de muitas pessoas, antes de procurar a Unidade Básica de Saúde. Acrescidas ao entendimento do baixo custo e do baixo risco, por ser produto natural. Assim, estas práticas 19 terapêuticas possibilitam não só a intervenção no processo saúde/doença, mas também, a constituição das identidades territoriais e o estabelecimento das relações de sociabilidades que sinalizam a necessidade permanente do diálogo popular e científico a respeito dos usos seguros para as pessoas e da conservação para os recursos ambientais”. Aspectos éticos devem ser considerados, envolvendo questões como a necessidade de proteção dos conhecimentos e tradições das comunidades locais e povos indígenas, e o retorno para a comunidade das pesquisas feitas, incluindo o que existe na literatura sobre as plantas utilizadas por eles (VENDRUSCOLO, 2004). Os instrumentos legais relacionados com as plantas medicinais se encontram incluídos em legislações gerais e não permitem um controle adequado para as atividades de extração, uso e comércio das mesmas. Isto se deve, em parte, à falta de maior claridade e especificidade em determinados instrumentos legais, nos sistemas de registro, seja de atividades relacionadas ou de categorias para os recursos utilizados e, principalmente, à falta de difusão e conhecimento sobre as normas existentes e de monitoria e fiscalização sobre sua aplicação. As causas destes problemas também obedecem a outros fatores como a carência de pessoal especializado e de infraestrutura, assim como a falta de coordenação entre os diversos órgãos de controle (SILVA; AGUIAR; MEDEIROS, 2001). As pesquisas envolvendo plantas medicinais devem receber apoio total do poder público, pois, além do fator econômico, tem que se destacar a atenção para a segurança nacional e preservação dos ecossistemas onde existam tais espécies (ALBUQUERQUE, 1989). 2.2. APLICAÇÕES DAS PLANTAS MEDICINAIS A população mundial, mantém em voga a prática do consumo de plantas medicinais, tornando válidas informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos (COSTA; SILVA, 2014). Planta medicinal pode ser definida como todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semisintéticos (VEIGA JUNIOR et al., 2005). 20 O uso das plantas medicinais e de seus subprodutos iniciou-se há milhares de anos por populações de vários países com o intuito de tratar diversas enfermidades. Eram utilizados pela população como forma alternativa ou complementar aos medicamentos sintéticos, assim como, para diversos usos. (SOUZA et al, 2008). No Brasil, o uso das plantas medicinais é fruto de várias tradições diferentes, proveniente do acúmulo de conhecimentos disseminados por várias culturas, como: africana, indígena, europeia, oriental, amazônica, nordestina dentre outras (NUNES; DANTAS, 2007), principalmente como uma rica fonte de produtos terapêuticos e de grande potencial para a descoberta de plantas como fonte de novas drogas e de fácil uso pela população em geral (SOUZA et al., 2008). Sabe-se que a medicina através dos tempos, sempre lançou mão das plantas medicinais como recurso natural. As práticas indígenas brasileiras, aliadas aos conhecimentos orientais, são responsáveis, hoje, pela forte medicina popular brasileira. Muito inspirada nos rituais sobrenaturais, esta medicina é, com certeza, a alternativa de muitos brasileiros, principalmente, em regiões com infra-estrutura deficitária. Segundo a OMS, 80% da população mundial fazem uso das plantas medicinais (NUNES; DANTAS, 2007). O uso popular das plantas medicinais comprova que há uma gama quase imensurável de aplicações curativas e preventivas e que o conhecimento popular e científico é imprescindível para se obtenha os resultados desejados (DE LUCA et al., 2014). Segundo Veiga Junior; Pinto (2005), autores de vários trabalhos na área da etnobotânica: “Ao longo do tempo têm sido registrados variados procedimentos clínicos tradicionais utilizando plantas medicinais. Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir da segunda metade do século XX, existem obstáculos básicos na sua utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos. Estes motivos, associados com a fácil obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais, contribuem para sua utilização pelas populações dos países em desenvolvimento”. “Atualmente, grande parte da comercialização de plantas medicinais é feita em farmácias e lojas de produtos naturais, onde preparações vegetais são comercializadas com rotulação industrializada. Em geral, essas preparações não possuem certificado de qualidade e é produzidas a partir de plantas cultivadas, o que descaracteriza a medicina tradicional que utiliza, quase sempre, plantas da flora nativa” [...]. As plantas medicinais têm sido uma rica fonte para obtenção de moléculas para serem exploradas terapeuticamente. Muitas substâncias isoladas de plantas 21 continuam sendo fontes de medicamentos como, por exemplo, os glicosídeos cardiotônicos obtidos da Digitalis, usados para insuficiência cardíaca. Países como China e Índia têm encontrado meios de legalizar e reconhecer o uso tradicional das plantas. A cultura chinesa utiliza o conhecimento popular das ervas há cinco séculos, com mais de cinco mil espécies utilizadas (FOGLIO et al., 2007). Diversos estudos apontam que entre as espécies brasileiras mais valiosas para fins medicinais podem ser citados o Curare indígena ou Dedaleira (Digitalis purpurea), utilizada na preparação do chá contra a hidropisia provocada pela insuficiência cardíaca. Antes de ser descoberta a ação da Digitalina sobre o músculo cardíaco, a Casca d’anta (Drimys brasiliensis) com propriedades estomáquicas, a Quina (Cinchona calisaya) utilizada na cura da malária, a Ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) utilizada para tratar diarréias, disenteria amebiana, catarros crônicos, hemorragias e asmas, e a Sapucainha (Carpotroche brasiliensis) com efeitos antiinflamatórios comprovados cientificamente e cujo óleo extraído da semente é empregado no tratamento da lepra, já tinham suas propriedades medicinais exploradas (CARRARA, 1995). A busca da população por plantas medicinais e por produtos ecologicamente corretos incentivou os pesquisadores e a indústria farmacêutica a investirem mais nas pesquisas de novos fármacos. A utilização de plantas medicinais nos programas de prevenção e tratamentos de pequenas enfermidades de saúde pode se constituir numa alternativa terapêutica muito útil devido a sua eficácia aliada a um baixo custo operacional, a relativa facilidade para aquisição das plantas e a compatibilidade cultural do programa com a população atendida (TORRES ET al., 2005). Ainda para o autor esta situação estimulou o estudo das propriedades medicinais de vegetais com potencial fitoterapêutico no Brasil e mundo. Dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), revelaram que as plantas medicinais, as preparações fitofarmacêuticas e os produtos naturais isolados representam um mercado que movimenta bilhões de dólares, tanto em países industrializados como em desenvolvimento. O uso de fitoterápicos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou com fins de diagnóstico passou a ser oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1978, quando foi recomendada a difusão mundial dos conhecimentos necessários para o seu uso. Por conta disso, as plantas medicinais foram consideradas importantes instrumentos da Assistência Farmacêutica, e vários comunicados e resoluções da OMS expressam a posição do organismo a respeito da 22 necessidade de valorizar o uso desses medicamentos no âmbito sanitário. A OMS, afirma que as práticas da medicina tradicional expandiram-se globalmente e ganharam popularidade. Essas práticas são incentivadas tanto por profissionais que atuam na rede básica de saúde dos países em desenvolvimento, como por aqueles que trabalham onde a medicina convencional é predominante no sistema de saúde local. Com o compromisso de estimular o desenvolvimento de políticas públicas a fim de inseri-las no sistema oficial de saúde de seus Estados-membros (BRASIL, 2006). Nesse sentido, foi estabelecido no Brasil, pelo decreto Federal nº 5.813 de 22 de junho de 2006 a Politica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Dentre os objetivos dessa política constam o incentivo a estudos e pesquisas a respeito das plantas medicinais e seu uso na fitoterapia, tentando melhorar o acesso da população as plantas medicinais de forma adequada, visando garantir a população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinal e fitoterápico, de forma sustentável, que não comprometa o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional (BRASIL, 2006). Assim como as demais políticas públicas, esta orientam decisões de caráter geral que apontam rumos e linhas estratégicas de atuação governamental, reduzindo os efeitos da descontinuidade administrativa e potencializando os recursos disponíveis ao tornarem públicas, expressas e acessíveis à população e aos formadores de opinião, as intenções do Governo no planejamento de programas, projetos e atividades (BRASIL, 2009). A fitoterapia, como é chamada o emprego das plantas na cura das doenças, é uma prática milenar, fato conhecido pelo estudo das tradições populares e investigado pela etnobotânica. Esses conhecimentos têm sido transmitidos de geração a geração (LEITE; EMERY, 2013). E contribuído, não só para a fabricação de medicamentos, como também para o conhecimento das práticas empregadas por diferentes comunidades e que vem sendo transmitidas para as gerações subsequentes. Isto vem contribuindo para a expansão do uso destas plantas ao longo da construção da história das comunidades que fazem uso destas ervas, para amenizar seus males e até mesmo para garantir a sua sobrevivência. As plantas podem ser classificadas de acordo com sua ordem de importância, iniciando-se pelas plantas empregadas diretamente na terapêutica, seguidas daquelas que constituem matéria-prima para manipulação e, por último, as empregadas na indústria para obtenção de princípios ativos ou como precursores em semi-sínteses (SILVA; CARVALHO, 2004). 23 Os benefícios demonstrados por inúmeras espécies de plantas foram adquiridos, provavelmente na experimentação empírica baseadas na tentativa de erros e acertos, e tem sido transmitido de geração em geração. A construção do conhecimento relacionado às plantas medicinais pelas famílias é predominantemente oral, realizada através do convívio diário entre seus membros e compartilhada com os demais membros da comunidade na qual estão inseridos. Outra maneira de utilização das plantas medicinais são os alimentos funcionais, com o consumo de vegetais ricos em ferro, em casos de anemia, ou alimentos ricos em vitamina C, quando há uma necessidade de fortalecimento do sistema imunológico (VEIGA-JUNIOR, 2005). Por conta do uso das plantas medicinais desde o início dos tempos, muitas pesquisas científicas já comprovaram as propriedades medicinais de várias plantas, indicando (ou não) o uso popular destas plantas. É importante ressaltar que, ao contrário do que muitos imaginam, algumas plantas fazem mal à saúde e por isso não se deve fazer uso indiscriminado desta terapia. Sempre que possível, procurar orientação de profissionais da área e não tomar qualquer tipo de chá encontrado no campo, pois algumas espécies são muito parecidas quanto ao aspecto botânico, assim como o nome comum, podendo tratar-se de uma espécie perigosa e acabar consumindo-a por engano (VEIGA-JÚNIOR, 2005). Até então, sabe-se que, das 250 mil espécies da flora mundial, 75 mil são terapêuticas, cujas propriedades químicas são desconhecidas na grande maioria (IBAMA, 2006 apud DE SOUZA, 2007 p.12), o que também sugere o fortalecimento das pesquisas nessa área. O interesse da pesquisa nesta área tem aumentado nos últimos anos onde estão sendo instituídos projetos financiados por órgãos públicos e privados. Nos anos 70 do século passado, nenhuma das grandes companhias farmacêuticas mundiais mantinha programas nesta linha e atualmente isto tem sido prioridade na maioria delas. Dentre os fatores que têm contribuído para um aumento nas pesquisas está à comprovada eficácia de substâncias originadas de espécies vegetais como os alcalóides da vinca, com atividade antileucêmica, ou do jaborandi, com atividade antiglaucoma, ambos ainda considerados indispensáveis para o tratamento e por muitas plantas serem matéria-prima para a síntese de fármacos (FOGLIO et al., 2007). Sendo fontes potenciais de compostos terapêuticos, as plantas medicinais necessitam de mais estudos aprofundados já que, somente 10% de toda espécie 24 vegetal do planeta tenham sido estudadas do seu ponto de vista farmacológico (MASSAROTO, 2009). Apesar dos poucos estudos farmacológicos o que mais se observa é o interesse da população pelas plantas medicinais, por seu baixo custo, e pela facilidade de cultivo (FLORENTINO; ARAUJO; ALBUQUERQUE, 2007). A utilização de plantas medicinais como alternativa terapêutica vem atingindo um público cada vez maior, influenciando a comunidade acadêmica a discutir sobre o tema sobre o uso de plantas em hortas, fichários, herbários, dentre outras propostas na comunidade em geral (CAVAGLIER, 2011). A necessidade exige e a ciência busca nos dias atuais, pesquisas com as plantas medicinais, os seus usos, princípios ativos, comercialização que confirma cientificamente os conhecimentos populares sobre estas plantas (LORENZI; MATOS, 2008). Na cidade de Muritiba na Bahia, Santos; Brito; Oliveira, (2012), realizaram um levantamento etnobotânico das espécies de plantas medicinais de uso popular que são comercializadas em farmácias, supermercados, casas de produtos naturais, registrando 60 espécies, distribuídas em 27 famílias. Os dados obtidos neste trabalho evidenciam um considerável número de espécies vegetais utilizadas na cura de afecções, principalmente das vias respiratórias, circulatórias e digestivas, e com ação expectorante, analgésica, depurativa, antisséptica, calmante, emagrecedor e diurético. Os autores concluíram que a população muritibana, faz uso de uma grande variedade de espécies de plantas medicinais como paliativo ou cura para os males que lhes acometem e enfatizando a necessidade de pesquisas para preservação das espécies vegetais e a sua importância na melhoria da qualidade de vida das pessoas, assim como, na manutenção do consumo dessas drogas pela população. Nesse sentido, Teixeira; Brito; Oliveira, (2012), ao realizar um levantamento das plantas medicinais comercializadas em feiras livres dos municípios de Cruz das Almas e Muritiba, registrou, em Muritiba, as seguintes espécies: alecrim (Rosmarinus officinalis L.), boldo (Plectranthus barbatus Andrews), camomila (Chamomilla recutita L.), erva doce (Pimpinella anisum L.), espinheira santa (Maytenus ilicifolia Mart.), noz moscada (Myristica fragrans Houtt), sene (Cassia angustifólia L.), semente de girassol (Helianthus annuus L.), umburana de cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.). Tais plantas são utilizadas principalmente para afecções dos rins, reumatismo, dores estomacais, calmantes, afecções do aparelho respiratório, anti-séptico, cicatrizante e distúrbios circulatórios. As principais formas de utilização das plantas no município são na forma de chá, decocto ou infuso. 25 2.2.1 Conhecimento Popular x Conhecimento Científico A necessidade de se resgatar o conhecimento empírico a respeito da utilização das plantas medicinais para cura de inúmeras doenças se tornou imprescindível, já que essa prática representa um dos principais recursos terapêuticos de muitas comunidades e grupos étnicos (LEITE; EMERY, 2013). O uso de forma empírica das plantas e as informações transmitidas de forma cultural encontra-se em momento delicado o que torna o registro do saber tradicional indispensável. Esse fator é agravado pelo risco iminente de desaparecimento que muitas das espécies utilizadas nas práticas de cura sofrem na atualidade (DUTRA, 2009). Logo, estes conhecimentos precisam ser resgatados, valorizados e preservados. Segundo Brasil (2009), algumas ações são necessárias em relação à validação/reconhecimento que levem em conta os diferentes sistemas de conhecimento (tradicional/popular x técnico-científico). Tais ações são sugeridas por Brasil, (2006) e são elas: Criar sublinha de ação denominada “Saberes e práticas relacionados às plantas medicinais e remédios caseiros”. Realizar inventário/mapeamento dos saberes e práticas relacionadas ao cultivo, manejo, uso e manipulação de plantas medicinais nos seis biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa e Ecossistemas costeiros e marinhos. Realizar o diagnóstico nacional, por biomas, por meio das redes socioambientais já existentes, em parceria com o governo. Realizar seminários regionais, por bioma, para identificar demandas e definir prioridades. Apresentar e divulgar para as comunidades envolvidas, as ações de salvaguarda do Departamento de Patrimônio Imaterial/Iphan: inventário de práticas e saberes; a política de registro de bens culturais imateriais como Patrimônio Cultural do Brasil e as políticas de apoio e fomento a bens culturais imateriais. Realizar estudos prévios de impacto cultural e socioeconômico em projetos e programas que envolvam povos e comunidades tradicionais. 26 Esse pacote de ações supracitado é pertinente que seja citado, sobretudo para que a valorização dos saberes popular e científico seja constante. Apesar de ter a essência constituída de forma empírica, o conhecimento popular sobre as plantas medicinais é perpassado por informações advindas do conhecimento científico, de propagandas, e aquelas obtidas no dia a dia através do contato com outras pessoas os vizinhos, amigos, conhecidos, em diferentes circunstâncias e espaços dentre eles, centro de saúde, igreja, farmácia, filas, entre outras (RICARDO; STOTZ, 2009). Segundo Pilla et al., (2006), outra forma de interação entre conhecimento popular e científico sobre plantas medicinais relaciona-se à utilização de nomes de ® medicamentos alopáticos para designação de ervas a exemplo de, Vick é o nome dado à família Acanthaceae, Antibiótico à espécie Alternanthera brasiliana, ® Novalgina à Achilleamillefoliume Insulina à Cissus cf. tinctoria. Sob outra perspectiva, Franco et al., (2011), enfatiza que as pesquisas com plantas medicinais envolvem investigações da medicina tradicional e popular (etnobotânica) e investigação farmacológica de extratos e dos constituintes químicos isolados. Em vários estudos realizados no Brasil ficou comprovado que o incentivo às práticas do uso de plantas como recurso terapêutico parte dos avós, pais ou outras pessoas da família (OLIVEIRA, 2015). Nesse sentido, desde o final do século passado que Oliveira (1985) já ressaltava que a medicina popular continua se abrindo, se propagando e que a relação entre o saber popular e científico necessita ser estreitada. Além disso, o autor reforça seu argumento dizendo que os procedimentos adotados para tratar as doenças são transmitidos a cada geração, fazendo com que os recursos usados variem conforme a região e a comunidade, em especial as plantas medicinais. O conhecimento científico sistematizado e propagado por profissionais de saúde entre as comunidades que fazem uso de práticas populares de cuidado tem sido levado em consideração, entretanto, os usuários de plantas medicinais continuam a utilizar o saber popular, assim demonstrando que o saber popular não é residual, mas permanente, mesmo com a valorização atual do saber técnico-científico (TEIXEIRA; NOGUEIRA, 2005). Estudos como o realizado por De Oliveira (2015), relata uma parceria sem ambuiguidade, pois demonstra que a partir da análise das informações obtidas em 27 seu levantamento etnobotânico permitiu-se verificar que o uso popular das espécies está de acordo com a literatura científica. E ainda ressalta que diversos estudos já comprovam a presença de moléculas potencialmente terapêuticas nas plantas citadas pela população, o que nos leva a sugerir que estas substâncias possam estar relacionadas, de maneira benéfica, com o uso popular das espécies vegetais pela comunidade. Contudo, um exemplo de desarmonia entre os saberes popular e científico foi descrito por Lorenzi; Matos (2008), relatando que, antes da disseminação de medicamentos sintéticos, farmacêuticos, buscavam trabalhar com produtos da flora local avaliando as propriedades terapêuticas das plantas medicinais. Esse início da fitoterapia, muito marcado pelas experiências populares sobre o uso de ervas, influenciou o distanciamento dessa área do conhecimento do restante da ciência durante um longo período. Outro relato de confronto entre os saberes em questão foi constatado por Viveros; Goulart; Alvim, (2004), colaborando com essa discussão diz que, no Brasil, especialmente a partir das décadas de 80 e 90 do século XX, a nação brasileira, sobrevivendo ao momento delicado na política, na organização social e econômica, o uso das plantas medicinais, começou a ser resgatado, com o intuito de atuar complementarmente às práticas de saúde alicerçadas pela alopatia e drogas sintéticas vigentes. Segundo a autora, as razões apontadas como motivadoras desse resgate foram: falhas do modelo médico biologicista no tratamento de doenças, efeitos iatrogênicos associados ao alto custo de determinados medicamentos, eficácia de alguns recursos naturais, especialmente plantas medicinais. Embora as pesquisas etnobotânicas realizadas no decorrer dos últimos 100 anos têm provado que de forma geral exista uma diminuição no número de espécies medicinais a ser explorado, cabe um discurso científico norteando uma direção na qual se possibilite tomar medidas concretas com mecanismos práticos que vissem sanar esse problema (FRANCO, 2011). Na perspectiva de promoção do fortalecimento da união dos saberes, é muito pertinente a percepção dos autores Teixeira; Nogueira (2005), que observam que muitos pesquisadores tomam como início de seus estudos o saber popular para realizar, posteriormente, pesquisas experimentais e clínicas, construindo um elo positivo entre saber popular e científico para a humanidade. 28 3. METODOLOGIA 3.1 CARACTERIZAÇÕES DA ÁREA DE ESTUDO De acordo com a síntese de informações disponível nos portais do IBGE e DATASUS, até o mês de novembro de 2015, o município de Governador MangabeiraBA apresentava uma área territorial de 106,32 Km², com uma população de 21.417 habitantes, agrupada em 6.511 famílias. A população da zona urbana foi contabilizada em aproximadamente 9.939 e da zona rural 11.478 pessoas. O município pertence à mesorregião Metropolitana de Salvador e Micro região de Santo Antônio de Jesus, ficando distante da Capital 119 km. Faz divisa com os seguintes municípios: Muritiba, Cabaceiras do Paraguaçu, Conceição da Feira, Cachoeira e São Félix, conforme figura 01, cujo as coordenadas geográficas são 12º 36’ 7’’ S, 39º 2’ 34’’ W. Figura 01: Mapa referente à localização da área de estudo. Fonte: maps.google.com.br, 2015. 3.2 DETERMINAÇÃO ESTATÍSTICA DO TAMANHO DA AMOSTRA Levantamentos etnobotânico, em muitos casos são realizados em cidades de distintos quantitativos populacionais, e para ter certeza do quanto a amostra é 29 representativa é preciso recorrer a análise estatística. Segundo Arkin; Colton (1976), trabalhar com uma amostra, ou seja, com uma parte representativa dos elementos que compõem o universo é um método bastante confiável. Ainda para os mesmos autores, quando essa amostra é rigorosamente selecionada, os resultados obtidos nos levantamentos tendem a aproximar-se daqueles que seriam obtidos caso fosse possível pesquisar todos os elementos do universo. De acordo com o registro dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) do município de Governador Mangabeira-BA, até o mês de junho de 2015, a população do Bairro central da cidade de Governador Mangabeira-Ba era de aproximadamente 2619 pessoas e a média familiar era de 04 pessoas. Aplicando 50 questionários no levantamento e adotando a média de 04 pessoas por família, logo temos uma amostragem de 200 pessoas. A tabela 02 fornece o tamanho da amostra adequada para um nível de confiança de 90%, ou 10% de margem de erro, com seu respectivo tamanho amostral. Tabela 02: Tamanho da população, margem de erro e quantidade de amostra suficiente para o estudo. Fonte: H. Arkin e R. Colton, Tables for Statistics (Tagiacarne, 1978). De acordo com a tabela 02 e o número amostral adquirido neste levantamento etnobotânico a margem de erro foi de aproximadamente 10 %, visto que o número que engloba os informantes e seus familiares é de aproximadamente 200 pessoas, e 30 o número de pessoas que residem no bairro central onde foi aplicado o estudo é de aproximadamente 2619 pessoas. 3.3 PESQUISAS DE CAMPO O levantamento etnobotânico das espécies vegetais utilizadas como recurso terapêutico foi realizado entre os meses de julho a setembro de 2015, na comunidade do bairro Centro do município de Governador Mangabeira-BA. Para a coleta dos dados foram utilizados 50 questionários semi-estruturado (Apêndice I), composto de perguntas fechadas e abertas distribuídas em duas partes distintas: a primeira referente aos dados sociodemográficos dos moradores (idade, sexo, origem, escolaridade); a segunda é referente ao uso de plantas medicinais (quais espécies são utilizadas, frequência e influência do uso, efeito terapêutico, parte da planta mais utilizada, doença tratada e onde conseguem as espécies). As visitas aconteceram nos turnos matutino e vespertino e apenas participaram da pesquisa pessoas maiores de 18 anos de idade. Para escolha das residências adotou-se a metodologia de visita aleatória, partindo da residência inicial de cada rua no bairro Centro. As ruas envolvidas no estudo foram: José Martins, 2 de Julho, Eunice, Oscar Fonseca, Adalto João Mamona, Travessas Padre Pedro e Pedro Maia. Para realização da pesquisa de campo seguiu-se o que está previsto na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a qual define diretrizes para a realização de pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto deste trabalho foi submetido e aprovado pelo comitê de Ética da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, número do parecer (865.692), (anexo I). Seguindo as recomendações da legislação, antes de questionar os participantes foi explicado o objetivo do trabalho e lido o Termo de Consentimento livre e esclarecido (TCLE - Apêndice II), estando de acordo com a finalidade da pesquisa os informantes então colaboraram com a pesquisa. Após realização do levantamento etnobotânico, os dados foram analisados por estatística descritiva utilizando-se distribuição de frequências absolutas e relativas. O Software utilizado para tabulação dos dados foi o Microsoft Excel, versão 2010. 31 3.3.1 Coleta e identificação das espécies As espécies foram organizadas de acordo o nome popular citado, e foi atribuído o nome científico de acordo com as literaturas especializadas, os quais constam na tabela 02. As espécies com maior número de citações foram coletadas para identificação, no mês de Janeiro de 2016, que aconteceu no Herbário do Recôncavo da Bahia. 3.3.2 Materiais utilizados na coleta e herborização do material botânico Para coleta das espécies e elaboração das exsicatas utilizou-se tesoura de poda, papelão, jornal, fita adesiva, marcador de texto, câmera fotográfica, prensa de madeira, estufa, papel cartolina, caneta, agenda e GPS. O processo de coleta, elaboração de exsicatas e herborização do material botânico coletado ocorreu de acordo com Fidalgo e Bononi (1989). As espécies foram coletadas na presença dos informantes que possuíam em sua residência. Cada espécie teve 5 exemplares coletados, devidamente identificados com numerações, alocados nas prensas de madeira revestidos por jornais e papelão. No laboratório, a exsicata foi confinada em estufa industrial sob temperatura de 60º C, onde permaneceu por 05 dias até que as espécies atingisse o estágio de desidratação adequado para ser fixado em papel cartolina. A identificação foi realizada por comparação com as espécies armazenadas no acervo do Herbário do Recôncavo da Bahia e literaturas especializadas, orientada pelo Doutor em botânica, Professor Marcio Lacerda Lopes Martins. 32 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 ETNOBOTÂNICA Dos 50 informantes que participaram das entrevistas 66% destes são do sexo feminino e 34% do sexo masculino. Segundo Cunha et al., (2012), em seu levantamento etnobotânico realizado na cidade de Tanhaçu-BA, as mulheres também foram maioria, e isso se justifica, sobretudo pelo horário da visita que foi no turno diurno no qual as mulheres ainda são as principais responsáveis pelos trabalhos domésticos. Liporacci e Simão, (2013), corrobora dizendo que as mulheres são as principais fomentadoras da utilização das plantas medicinais, sendo maioria entre participantes em estudos recentes, tanto em núcleos urbanos como rurais. Outros estudos etnobotânicos anteriores realizados no estado da Bahia, na cidade de Catu por Neto et al., (2011), na cidade de Teofilândia por Silva, (2008) e na cidade de Santo Amaro por Menezes (2013), também destacam a figura da mulher, pois são elas as principais responsáveis pelo preparo dos alimentos e chás à base de plantas utilizadas como medicamentos pelas famílias. No Brasil, outros estudos também diagnosticaram situação similar referente às mulheres serem maioria entre os participantes de estudos etnobotânicos (SOUZA et al., 2007; CRUZ et al., 2011; CAJAIBA et al., 2016). Quando questionados sobre a idade, 72% dos informantes relataram estar na faixa dos 18 aos 50 anos, e 28% tinham acima de 50 anos. Situação parecida foi evidenciada por Neto (2014), na cidade de Catu-BA e por Silva et al., (2012) na comunidade Barra II-BA. Entretanto, Silva (2013); Liporacci e Simão (2013); Silva et al., (2015), identificaram que a grande maioria das pessoas que utilizam plantas medicinais e propagam o conhecimento tem idade superior aos 60 anos. Todavia, Leite et al., (2015) relataram em seu levantamento que informantes a partir dos 16 anos responderam os questionamentos e demonstraram propriedades sobre o assunto. Outro ponto questionado foi referente ao grau de escolaridade dos participantes e 36% deles afirmaram possuir o ensino médio completo, 24% disseram ter o ensino fundamental incompleto, outros 14% disseram possuir o ensino superior completo. E pessoas declaradas analfabetas, com ensino fundamental completo, 33 ensino médio incompleto ou cursando o ensino superior, somaram 26%. Pessoas de diversos níveis educacionais também participaram de estudos realizados em várias partes do Brasil (PILLA et al., 2006, ALBERTASSE et al., 2010; LIPORACCI; SIMÃO, 2013; SILVA et al., 2012). Neste estudo, 54% dos participantes que utilizam plantas medicinais com a finalidade de tratar doenças responderam que o conhecimento sobre as plantas medicinais é transmitido principalmente pelos pais, e 12% responderam que são os avós os responsáveis pela propagação dos conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais. Outros 34% dos entrevistados foram influenciados a utilizar plantas medicinais através de meios de comunicação, livros, amigos ou internet. Segundo Silva et al., (2008), em estudo realizado na zona rural de Mutuípe-BA, e De Azevedo et al., (2015) em outro levantamento concluído na Paraíba, os pais também são os principais responsáveis pelo incentivo e transmissão dos conhecimentos sobre a utilização das plantas medicinais. Para Melo-Batista; Oliveira, (2014), os principais responsáveis pela propagação do conhecimento sobre utilização de plantas medicinais também são os pais ou avós. Quanto à utilização de plantas medicinais como recurso terapêutico, 88% dos entrevistados responderam fazer uso e apenas 12% disseram que não utilizam. No levantamento etnobotânico realizado por Silva et al., (2008), na cidade de MutuípeBA, também foi identificado que a maioria dos entrevistados fazem uso de plantas medicinais como recursos terapêuticos. Outra situação bastante parecida foi identificada por Pinto; Amorozo; Furlan, (2006), nas comunidades da Marambaia e Camboinha, na cidade de Itacaré-BA, na qual centenas de moradores residentes em 26 de 107 dos sítios que compõem o assentamento fazem uso das plantas medicinais como recurso principal para o tratamento das doenças. No estudo realizado por Teixeira; Melo, (2006) na cidade de Jupi-PE, todos os informantes relataram ter espécies medicinais em casa e fazer uso destas para curar moléstias. Outros autores de trabalhos executados no recôncavo da Bahia entre eles: Santos; Brito; Oliveira, (2012), Teixeira; Brito; Oliveira (2012) e Rebouças et al., (2015), também demonstram resultados análogos ao encontrado neste levantamento. Quanto à origem, 96% dos informantes são oriundos da própria zona urbana e apenas 4% da zona rural. Neste levantamento, todos os informantes que utilizam plantas medicinais citaram a folha como a parte da planta mais utilizada, e o chá (infusão ou decocção) são as formas predominantes de preparos das aplicações. Em trabalhos realizados 34 por Neto et al., (2011), Menezes (2013), Silva et al., (2008) e muitos outros feitos em território baiano os relatos são consonantes ao deste levantamento. Quando questionados sobre a eficácia das espécies para alívio das doenças 95% dos entrevistados que utilizam plantas como recurso terapêutico de Governador Mangabeira-BA afirmaram sentir alívio de sinais e sintomas após o uso e apenas 5% relataram não perceber benefício fisiológico algum. Entretanto, 6% destes usuários de plantas medicinais relataram sentir alguma alteração indesejada no organismo após o uso das espécies, e outros 94% relataram que se sentem “absolutamente normal” após o uso. A população estudada por Menezes (2013), na cidade de Santo Amaro também relatou em grande maioria haver êxito na cura das moléstias após utilizar plantas medicinais. Porém, em outro estudo, Silva et al., (2008) identificou na Zona Rural de Mutuípe–BA, que inúmeras pessoas tinham grande potencial de sofrerem intoxicação após utilizar indiscriminadamente as espécies como recurso terapêutico, sendo um forte indicativo de efeito colateral. Além disso, o mesmo autor enfatiza citando que mais da metade dos entrevistados em seu estudo têm como automedicação o uso das plantas medicinais ao sentirem os primeiros sintomas de doenças. Esse tipo de prática também foi observado neste levantamento. A população deste estudo citou fazer uso como recurso terapêutico de 55 diferentes espécies de plantas, as quais pertencem a 34 famílias. Os resultados referentes às espécies com as respectivas famílias estão expostos na tabela 03, demonstrados após a etapa de identificação. Tabela 03: Representação das espécies citadas no estudo, com suas respectivas famílias e indicação terapêutica pela população. Nome popular Indicação Popular Nome científico Família Abacate Persea americana Mill. Lauraceae Acerola Malphighia glabra L. Malpighiaceae Agrião Nasturtium officinale R. Br. Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae Gripe Perperomia pelúcida (L.) kunth Piperaceae Ansiedade Algodão Gossypium hirsutum L. Malvaceae Tosse Alho Allium sativum L. Alliaceae Parasitose Continua... Alfavaca de cobra Brassicaceae Tosse e hipercolesterolemia Gripe Gripe e tosse 35 ...Continuação Vernonia condensata Baker Asteraceae Anador Justicia pectoralis Leon Acanthaceae Dores Arnica Solidago chilensis Meyen Asteraceae Ferimentos Inflamação Gástricas e da garganta Alumã Aroeira Dores estomacais Schinustere binthifolius Raddi Anacardiaceae Assa peixe Vernonia polyanthes Less. Asteraceae Babosa Aloe vera (L.) Burm. F. Asphodelaceae Boldo Baiano Pneumus boldus Molina Monimiaceae Boldo do Gripe e tosse Neoplasias e impinge Doenças gastrointestinais Desconforto Gastrointestinal e cólicas Plecthantus barbatus Andr. Lamiaceae Zea mays L. Poaceae Diurético Café Coffea arábica L. Rubiaceae Rugas Camomila Matricaria chamomilla L. Asteraceae Capeba Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Piperace Capim Santo Cymbopogon citratus (DC) Stapf Poaceae Ansiedade Rugas Dor de cabeça e hipertensão Carambola Averrhoa carambola sp. Oxalidaceae Hipertensão e cólicas Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Carqueja Baccharistrimera (Less.) DC. Asteraceae Chapéu de Couro Echinodorus grandiflorus Mitch. Alismataceae Dor de garganta Hipercolesterolemia Reumatismo Catinga de porco Caesalpinia pyramidalis Tul Fabaceae Coentro bravo Eryngium foetidum L. Apiaceae Confrei Symphytum officinale L. Boraginaceae Reumatismo Copaíba Copaifera langsdorffu Desf. Fabaceae Multiaplicações Erva de São João Ageratum conyzoides L. Asterace Hipertensão Erva doce Foeniculum vulgare Mill. Apiaceae Desconforto gastrointestinal Romã Punica granatum L. Lythraceae Gastrite e dores Eva Cidreira Lippia alba Verbenace Desconforto gastrointestinal Crassulaceae Cicratrizante Chile Cabelo de milho Folha da costa Diarreia Desconforto gastrointestinal Bryophyllum pinnatum (Lam.) Okem. Folha de chuchu Sechium edule (Jacq.) Sw Cucurbitaceae Hipertensão Guaco Mikania glomerata Spreng. Asteraceae Falta de ar e gripe Guiné Petiveria alliaceae L. Plytolaccaceae Inflamação na garganta Continua... 36 Continuação... Hotelã Mentha spicata L. Lamiaceae Jaboticaba Plinia cauliflora Mart. Mytaceae Hipercolesterolemia,cólicas, gripe. Hipercolesterolemia Jurubeba Solanum paniculatum L. Solanaceae Hipercolesterolemia laranja Citrus aurantium L. Rutaceae Gripe e tosse limão Citrus limom (L.) Burm. F. Rutaceae Gripe e tosse Maracujá Passiflora edulis Sims Passifloraceae Ansiedade Mastruz Chenopodium ambrosioides L. Amaranthaceae Inflamações articulares Novalgina Achilleamille folium L. Asteraceae Dores e febre Gases, reumatismos,problemas vasculares e dores. Noz moscada Virola surinamensis (Rol. exRouttb.) Warb. Myristicaceae Pata de vaca Bauhinia forficata Link Fabaceae Picão Bidens pilosa L. Asteraceae Diabetes Pitanga Eugenia uniflora L. Myrtaceae Gripe Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae Gripe Puestemeira Pfaffia spicata (Mart.) Kuntze Amaranthaceae Tosse Quebra Pedra Ecliptaalba (L.) Hassk Asteraceae Romã Punica granatum L. Lythraceae Cálculos renais Inflamação na garganta Sabugueiro Hiperglicemia Sambucus australis Cham e Schlt Adoxaceae Tansagem Plantago major L. Plantaginaceae Urucum Bixa orellana L. Bixaceae Gripe ou resfriados Inflamação na garganta Hiperglicemia Fonte: Própria Foram 195 citações, nas quais a Erva cidreira obteve 23 citações, o “boldo” 17 citações e o alumã 14 citações. As demais espécies somaram 141 citações. As espécies citadas cinco vezes ou mais estão na figura 02. 37 Figura 02: Representação das espécies mais citadas no levantamento etnobotânico em Governador Mangabeira-BA. Fonte: Própria Totalizando aproximadamente 25% das citações, Erva cidreira, “Boldo” e Alumã, foram submetidas ao processo de identificação, conforme descrito na metodologia, item (3.3.2) desta monografia. Na etapa do levantamento os informantes citaram o nome genérico para o boldo. Entretanto, durante a coleta, foi percebido que havia mais de uma espécie denominada “boldo” por apresentarem morfologias diferentes. Tais espécies foram devidamente coletadas e levadas para identificação. A figura 03 demonstra o material antes herborização. Muitos estudos etnobotânicos procedem com a identificação de todas as espécies citadas, entretanto, os autores De Oliveira et al., (2011), Da Cruz et al., (2011) e De Farias; Borges; Pereira, (2015), não relatam processo de identificação para as espécies em seus trabalhos. 38 Figura 03: Espécies que foram coletadas para serem identificadas no Herbário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). FONTE: Própria A espécie registrada pelo nome popular erva cidreira foi identificada como Lippia alba (Mill) pertencente à família Verbenaceae. A espécie apontada no levantamento como boldo foi identificada como Plectranthus barbatus Andr. pertencente a família Lamiaceae e também é popularmente conhecida como boldo brasileiro ou falso boldo. O boldo do chile, também conhecido popularmente como boldo verdadeiro foi identificado como a espécie Pneumus boldus Molina, pertencente a família Monimiaceae. A espécie denominada popularmente como Alumã, também conhecida como boldo baiano ou tapete de oxalá foi identificada como Vernonia condensata Baker, representando a família Asteraceae (figura 04). 39 Figura 04: Exsicatas das espécies que foram identificadas no Herbário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Fonte: Própria Apesar da ausência de partes reprodutivas em três espécies que foram submetidas à identificação, os especialistas não tiveram dúvidas em identificar por se tratar de espécies bastante conhecidas na região. Em estudos realizados nas Cidades de Santo Amaro - BA, por Menezes (2013), e em Cruz das Almas por Rodrigues; Guedes (2006) identificou-se que a espécies Lippia alba (Mill), também foi a mais citada pelos informantes, e o tratamento estatístico do seu estudo revelou que esta espécie é uma das mais importantes para a comunidade devido à diversidade de aplicações terapêuticas. Outros estudos também identificaram esta espécie como uma das mais utilizadas pelas comunidades, inclusive em outras cidades baianas (PINTO, AMOROZO, FURLAN, 2006; MARTINS, 2012; SILVA, 2014; CAETANO, DE SOUZA; FEITOZA, 2014; VÀSQUEZ, 2014; OLIVEIRA, 2015). Referente à espécie denominada genericamente pela população como “boldo”, Plectranthus barbatus Andrews, esta constitui uma das principais fontes de aplicações medicinais por diversas comunidades do recôncavo da Bahia (MENEZES, 2013; 40 REBOUÇAS et al., 2015). O boldo do Chile, Pneumus boldus Molina, é relatado como uma das espécies mais relevantes nos levantamentos realizados por Lopes et al., (2012), na região Nordeste, e por Da Cruz (2015), e Bezerra, (2013) em outras regiões do Brasil. A espécie Vernonia condensata Baker, segundo Menezes, (2013), é destaque entre as mais utilizadas também pela população de Santo Amaro, além desta, Conceição do Almeida e Feira de Santana, cidades circunvizinhas, tais espécies também são amplamente utilizadas (REBOUÇAS et al., 2015). As famílias mais representativas com número de espécies ≥ 02 estão demonstradas na figura 05. Figura 05: Representação das famílias com número de citações ≥ 02, no levantamento. FONTE: Própria Em estudos etnobotânicos realizados no recôncavo da Bahia, em diversos estados da região nordeste e em outras regiões do Brasil, as famílias Asteraceae e Lamiaceae também estão entre as mais representadas (PASA et al., 2005; PINTO, 2006; MENEZES, 2010; DA SILVA LÓS, 2012; NETO et al., 2014; CAETANO et al., 2014; LÖBLER et al., 2014; STANISKI et al., 2015, BRASILEIRO et al., 2015; SCHIAVON, 2015). 41 No capítulo a seguir serão discutidas as principais propriedades farmacológicas das 04 espécies identificadas, objetivando reforçar os saberes trazendo o conhecimento científico obtido por pesquisadores destas espécies para dialogar com o saber popular. 4.2 ETNOFARMACOLOGIA Com intuito de fortalecer as pesquisas com plantas medicinais e disseminar estas informações, o Ministério da Saúde, lançou em 2009, a Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse ao Sistema único de Saúde (SUS). Essa lista é composta por 71 espécies e prioriza estudar as plantas nativas (BRASIL, 2009). As espécies Plectranthus barbatus Andrews e Vernonia condensata Baker, duas das espécies de maior relevância neste estudo, fazem parte da relação do Ministério da Saúde. 4.2.1 Propriedades farmacológicas 4.2.1.1 Lippia alba (Mill) N. E. Brown. Pertencente a Família Verbenaceae, conhecida popularmente como erva cidreira ou falsa-melissa é uma espécie nativa da América do Sul (BIASE; COSTA, 2003; LORENZI; MATOS, 2008). Segundo (BIASE; COSTA, 2003; SILVA, 2006, LORENZI; MATOS, 2008; TAVARES, et al., 2012) em revisões de literaturas referentes a experimentos desta espécie identificaram os constituintes químicos: saponinas, taninos iridóides, flavonóides e alcalóides. O óleo essencial contém geraniol, neral, b-cariofileno, metilheptenona, citronelol, geranial, borneol, cânfora, óxido de cariofileno, alloaromadendreno, cis-a-bisaboleno, germacreno D, nerol, linalol, citronelal, limoneno, isobutilato de geranilo, cubenol, trans-ocimeno; butirato de geranilo, eugenol, I-octen3-ol, copaeno, lipiona, alcanfor, dihidrocarvona, 1,8-cineol, citral, acetato de citronelol, p-cimeno, metildecilcetona, mirceno, metiloctil-cetona, a e b-pineno, piperitona, sabineno, a-terpineol, cimol, ácidos fenólicos, a-cubebeno. Além da identificação dos 42 compostos os autores citam também a eficácia dessas moléculas sendo comprovando em estudos pré-clínicos ou clínicos. Os informantes que participaram do levantamento em Governador MangabeiraBA indicaram fazer uso dessa espécie para curar mal estar estomacal provocado pela ingestão de alimentos; dor de barriga, cólicas e gripe. Sendo a parte mais utilizada foi à folha, preparado como infusão. As atividades farmacológicas descritas nas literaturas fornecem indícios que podem explicar, pelo menos em parte, alguns dos usos terapêuticos de Lippia alba na medicina popular. Segundo Aguiar; Costa, (2005) Base; Costa, (2003); Silva, (2006) e Lorenzi; Matos, (2008), estudos farmacológicos comprovaram atividades analgésicas, espasmolítica, antibacteriana e a ausência de efeitos tóxicos em animais. 4.2.1.2 Plectranthus barbatus Andrews. Representante da Família Lamiaceae, conhecido popularmente como boldo brasileiro ou falso boldo, provavelmente originário da África, é amplamente cultivado em todo o Brasil e utilizado como planta medicinal (CORRICONDE et al., 1996). Segundo ABDEL-MOGIB et al., (2002), esta espécie pode ser considerada um das mais ricas em óleos essenciais, tendo como principais constituintes os mono e sesquiterpenos (ABDEL-MOGIB et al., 2002). A ocorrência de cariofileno, um composto sesquiterpeno sintetizado pelas plantas na rota metabólica dos terpenos, como principal componente do óleo essencial pode estar relacionada ao uso tradicional destas espécies vegetais contra as dores estomacais (BOCARDI, 2008). Os informantes deste levantamento relataram utilizar esta espécie para tratar de problemas relacionados ao mal estar estomacal provocado pela ingestão de alimentos, dor de barriga e cólicas, sendo a folha a parte utilizada em infusão. A Infusão é comumente encontrada em levantamentos etnobotânicos, e possuem grande número de sinonímias (BANDEIRA et al., 2011). Segundo LORENZI e MATOS (2008), em todo país esta espécie é utilizada para tratar afecções do fígado e de problemas digestivos. Corroborando com os relatos desta pesquisa. 43 4.2.1.3 Pneumus boldus Molina Peumus boldus Molina pertence à família Monimiaceae e originou-se de regiões montanhosas do Chile, sendo conhecido no Brasil como “boldo” ou “boldo-doChile” (MATOS, 1998). Variados extratos de folhas desta espécie têm sido tradicionalmente empregadas para o tratamento de uma variedade de sintomas e doenças como reumatismo, dores de cabeça, distúrbios menstruais, problemas hepatobiliar, inflamações do trato urinário, dispepsia, cólicas e sedativo. Entretanto, o autor chama atenção para o potencial de efeitos tóxicos e abortivos que esta espécie possui (O’BRIEN et al., 2006). Indicação pelos informantes de Governador Mangabeira: mal estar estomacal provocado pela ingestão de alimentos; dor de barriga e cólicas. A parte da planta utilizada são as folhas, e a forma de preparo predominante é a Infusão. As folhas de Pneumus boldus contêm percentuais consideráveis de alcalóides pertencentes à classe dos benzoquinolínicos, e a boldina é o principal alcaloide presente (QUEZADA et al., 2004). Em estudos realizados por Schwanz et al., (2008), foi identificado à eficácia da boldina como anticolinérgico e antioxidante. Esses relatos podem explicar as propriedades de atuação da boldina frente aos distúrbios gastrointestinais citados neste levantamento. 4.2.1.4 Vernonia condensata Baker Espécie provavelmente nativa da parte Tropical da África, pertence à família Asteraceae também é popularmente conhecida na Bahia como Alumã e bom pra tudo. É empregada tradicionalmente para a suspensão de gases intestinais, insuficiência hepática e inflamação da vesícula (LORENZI ; MATOS, 2008, apud BOORHEM, 1999). A população de Governador Mangabeira-BA, citou utilizar esta espécie para combater mal estar estomacal provocado pela ingestão de alimentos; dor de barriga e cólicas, preparando chás com as folhas. Na sua composição química é documentada a presença de saponinas, o glicosídeo cardiotônico “vernonina,” flavanóides, óleos essências e substancias amarga (lactonasesquiterpênicas) (LORENZI; MATOS, 2008). Outras aplicações tem sido descrita para esta espécie incluído como diurético, hipotensor, anti-hemorragico, 44 sedativo, abortivo, anti-helmíntico, antiulcerogênica, anti-reumático, cicatrizante e antiinflamatório (SILVEIRA, 2003; ALVES, 2003). Além disso, propriedades analgésicas de proteção gástrica já tem comprovação científica (VALVERDE, 2001; SILVA, 2011). 45 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de ainda incipiente os estudos etnobotânicos na cidade de Governador Mangabeira - BA, os resultados encontrados neste estudo apontam para a existência de um uso frequente de plantas medicinais como recurso terapêutico na cidade. Ao identificar que as espécies Lippia alba, Plecthantus barbatus, Pneumus boldus e Vernônia condensata, as quais foram as mais citadas neste estudo possuem eficiência terapêutica já discutidas positivamente pelas pesquisas científicas, reforça a importância da valorização do saber popular frente à ao desenvolvimento de novas práticas de cuidados à saúde. Além disso, reafirmam o que foi discutido aqui sobre a importância de se harmonizar os saberes populares com os científicos para o desenvolvimento da sociedade. Todos os dados aqui reportados servirão para reforçar o quão grandioso é o saber desta população estudada sobre o uso de plantas medicinais. A valorização cultural também fica evidenciada no sentido da transmissão do conhecimento recebido dos antepassados para as gerações futuras sobre todas as etapas do consumo de ervas medicinais. Fruto desse processo cultural, pessoas relativamente jovens demonstraram conhecimento sobre as ervas medicinais. Cabe ressaltar ainda que grau de escolaridade não teve correlação com o uso ou desuso da pratica de curar doenças utilizando plantas medicinais, não só em Governador Mangabeira, mas também em diversas outras partes do Brasil. Contudo, apesar da comunidade estudada possuir um saber empírico relevante sobre as plantas, esse conhecimento necessita ser lapidado. É necessária a ampliação de políticas públicas que tragam para o cotidiano das pessoas, efetivamente o uso racional das plantas medicinais. Proceder com estudos de identificação de todas as espécies citadas, inclusive, por uma tomada de amostra em outros bairros e na Zona Rural, certamente trará resultados complementares positivos para a comunidade popular e científica da cidade de Governador Mangabeira e Recôncavo da Bahia. 46 REFERÊNCIAS ABDEL-MOGIB, M.; ALBAR, H.A.; BATTERJEE, S.M. Chemistry of the Genus Plectranthus. Molecules, v.7, p.271-301, 2002. AGUIAR, J. S.; COSTA, M. C. C. D. Lippia alba (Mill.) 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Rev. bras. plantas med, 15 (2), 273-279. 2013. 65 Apêndice I – Questionário diagnóstico N°: _________ DATA____/____/____ Rua: nº • Dados Pessoais: Idade: ________ Sexo: ( ) M ( ) F Origem: ( ) Rural ( ) Urbana Escolaridade: a) ( ) Analfabeto e) ( ) Apenas Alfabetizado b) ( ) Ens. Fundamental Incompleto f) ( ) Ens. Fundamental Completo c) ( ) Ens. Médio Incompleto g) ( ) Ens. Médio Completo d) ( ) Superior Incompleto h) ( ) Superior Completo • Dados sobre o uso de plantas medicinais: 1) Utiliza regularmente plantas medicinais para tratamento de alguma doença? ( ) Sim ( ) Não 2) Quem mais lhe influenciou a usar plantas medicinais? a) ( ) Pai b) ( ) Mãe c) ( ) Avós d) ( ) Tios e) ( ) Cônjuge f) ( ) Amigos g) ( ) Outros 6) Já sentiu algum mal estar (efeito adverso) após o uso de alguma planta medicinal? ( ) Sim: Planta________________ Efeito___________________ ( ) Não Planta________________ Efeito___________________ 7) Você já se sentiu melhor após consumir plantas medicinais? ( ) sempre ( ) nunca ( ) às vezes 8) Através de quem (ou como) aprendeu a usar plantas medicinais? ( ) pais; ( ) avós; ( ) vizinhos; ( ) profissionais de saúde; ( ) livros; ( ) televisão ( ) rádio 9) Nome da planta utilizada e doença tratada (Exemplo: gripe, febre) ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ________________________________________________________ 66 10) Partes usadas como Remédio ( ) Folhas ( ) Casca ( ) Raízes ( ) Sementes ( ) Frutos ( ) Outros 11) Formas de uso Uso ( ) Coletivo ( ) Individual ( ) Apenas adultos 67 Anexo I – Parecer Comitê de Ética 68 Apêndice II - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO APLICAÇÕES DE PLANTAS MEDICINAIS COMO RECURSOS TERAPÊUTICOS É com imensa estima que viemos convida-lo a participar do projeto de pesquisa denominado Aplicações de plantas medicinais como recursos terapêuticos. O objetivo é realizar um levantamento etnobotânico das plantas de uso medicinal no Município Governador Mangabeira identificando na literatura científica informações sobre seus usos populares, características químicas, farmacológicas e toxicológicas referentes às plantas citadas pelos entrevistados. Os entrevistados receberão duas vias deste termo de compromisso, que deverão assinar, ficando com uma cópia e entregando outra ao pesquisador. A pesquisa apresenta baixo risco ergonômico caracterizado pela possível postura inadequada dos voluntários da pesquisa durante a aplicação do questionário, pois se trata de um levantamento das plantas utilizadas pelos mesmos. Os riscos podem ser minimizados baseados na observação postural dos entrevistados por parte dos pesquisadores, corrigindo se necessário a postura física dos participantes. O objetivo desse projeto é promover o esclarecimento e a sensibilização sobre os problemas associados à utilização de plantas medicinais, com a finalidade de reduzir e/ou acabar com o uso incorreto das plantas medicinais, além de informar que as plantas medicinais podem causar danos a saúde e não pode ser utilizada a todo momento ou situação que envolva as questões de saúde, promovendo o acesso a estas informações através da distribuição de uma cartilha educativa aos participantes para que se possa proceder com orientações sobre o uso correto dos vegetais, à prevenção de intoxicações, assim como a divulgação da forma adequada de seu emprego. Os nomes ou qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, lhes identificar, será mantido em sigilo. Vocês podem se recusar a participar do estudo, ou retirar seu consentimento em qualquer ocasião, sem precisar justificar e não sofrerão qualquer prejuízo à assistência em relação as informações que vinham recebendo. Não haverá nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, pela sua participação. No entanto, caso tenham qualquer despesa decorrente da participação na pesquisa, haverá ressarcimento na forma de dinheiro, 69 mediante depósito em conta-corrente. Caso ocorra algum dano decorrente da participação no estudo, terá indenização, conforme determina a lei. Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são Vania Jesus dos Santos de Oliveira, Noelma Miranda de Brito e Bruno Macedo Cardoso e com eles poderão manter contato, além do numero da Faculdade Maria Milza, instituição a qual esse projeto esta relacionado pelos telefones (075) 9191- 9974, (075) 8804-6993, (75) 8837- 2578, (75) 36382119 (respectivamente), Os dados gerados pela pesquisa serão tabulados no programa computacional Microsoft Excel 2010 e arquivados em um banco de dados particular dos pesquisadores. Os resultados serão publicados em forma de artigo, resumos e Trabalho de Conclusão de Curso, sempre mantendo o sigilo quanto à identidade dos participantes. Este projeto foi avaliado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, localizado na Rua Rui Barbosa, 710, Centro, Cruz das Almas – BA, CEP: 44.380-000, telefone: (75) 36216850, e-mail: [email protected]. _______________________, ____/________________/_____ Nome:__________________________________ Assinatura:______________________________ _________________________________________ Vania Jesus dos Santos de Oliveira Endereço: Rua Leonídeo Melo Sacramento, s/n. Loteamento Primavera, Cruz das Almas-BA. Endereço eletrônico: [email protected]. 70 _________________________________________ Noelma Miranda de Brito Endereço: Rua Inácio Batista Souza s/n. Centro, Muritiba - BA. Endereço eletrônico: [email protected] _____________________________________ Bruno Macedo Cardoso Endereço: Rua Bela Vista - 76, Centro, Santo Antonio de Jesus Endereço eletrônico: [email protected]