Vendendo experiências para o cliente No auge das tecnologias da informação e da cultura do entretenimento, surge uma nova era do marketing. Frente a esta mudança, Bernd Schmitt, reconhecido especialista em marketing estratégico, identidade corporativa e marcas da atualidade, explicou, em seu seminário na ExpoManagement, como o marketing experimental se diferencia do marketing tradicional, com base nas funcionalidades e características dos produtos, e, a partir de um novo enfoque, pode gerar clientes fiéis e empresas rentáveis. O aspecto central do marketing experimental é a criação de uma marca. As agências de publicidade e os sites estão utilizando cada vez mais esse conceito. Isso tem a ver com gerar as experiências corretas para o cliente com relação à percepção, ao sentimento, ao pensamento, à ação e à relação, assegurou o especialista em marketing. Schmitt citou abundantes exemplos visuais de campanhas de marketing experimental com êxito: a Absolut Vodka, o Beetle da Volkswagen, a Singapore Airlines e os computadores iMac, da Apple, foram alguns destes casos. A vodka, por exemplo, é um ‘commodity’. É difícil perceber as diferenças entre uma e outra. Porém, existem enormes diferenças quanto a preços. No caso da Absolut, a diferença provem da comunicação. Eles sempre utilizam a garrafa no centro da propaganda, associando-a com designers de primeira linha, como Tom Ford, da Gucci. Levaram outros gostos ao mercado. Suas campanhas originais e leves se transformaram em objetos de coleção, ilustrou o especialista, sem esquecer de mencionar que tudo isso se traduziu em resultados concretos, como uma participação de 60% da Absolut entre as vodkas importadas dos Estados Unidos. Como também no caso do Beetle, um carro que já se transformou em ícone cultural para as novas gerações, a comunicação desses produtos não foi centralizada nas suas características e funcionalidades. Mas conseguiram criar uma experiência rica para o consumidor. Marketing tradicional versus marketing experimental O marketing tradicional, que se aplica há mais de 40 anos, se concentra... [no] foco sobre as características e benefícios e [n]a funcionalidade e performance do produto; [na] definição precisa de categorias de produtos e concorrências; [em] considerar os clientes como tomadores de decisões racionais; [em] métodos analíticos, quantitativos e verbais. Schmitt, porém, não desvalorizou os aportes do marketing tradicional: conceitos estratégicos, táticas e metodologia. De qualquer forma, no mundo de hoje, a maioria dos produtos são iguais entre si. Estamos vivendo na economia da experiência. Necessitamos de um marketing diferente, menos racional e mais emocional. As metodologias são agora ecléticas e as imagens mais visuais, e não só verbais. No marketing experimental, é necessário pensar na situação de consumo e no contexto sociocultural adjacente, não no produto isolado, resumiu. O guru também explicou o conceito de fornecedores de experiência. Dessa forma, ele denomina os distintos meios como os sites, pessoas, comunicações, ambientes, isto é, a identidade corporativa que transmite experiências. O professor de Columbia aproveitou para contar a história do sempre presente pato de borracha que o acompanha em entrevistas e conferências e que tem sua origem em um hotel de Hong Kong. Lá existem bons hotéis de luxo, mas são todos iguais. No banheiro 1 do hotel em que me hospedei, encontrei esse patinho. Depois, fiquei sabendo que os hóspedes costumam levá-los porque são atrativos. Dessa forma, comentam sobre ele com seus familiares e amigos, já que ele é pouco comum. Definitivamente, se trata de publicidade grátis, que os diferencia e não gera um custo maior que US$ 0,01, explicou. Os cinco módulos estratégicos de experiência também foram abordados por Schmitt: perceber, sentir, pensar, atuar e relacionar. Essas são as bases do marketing experimental. Cada um desses módulos tem estruturas e princípios específicos, que provocam diferentes respostas e podem se aplicar desde à percepção do produto por meio da publicidade até o momento da compra e do consumo. Também se poderia gerar uma experiência holística juntando os distintos módulos. Experiências para todos os gostos A percepção, por exemplo, trata de elementos primários e estilos. Godiva, um fabricante de chocolate de luxo, consegue criar experiências a partir de seu nome, até o design atrativo das instalações e das embalagens individuais. O sentir tem a ver com estados de ânimo e com as emoções. Também se pode recorrer a uma experiência relacionada com o pensar, como é o caso da propaganda agressiva e cheia de conteúdo da Benetton. Mas tudo tem um limite, e o pensamento pode se voltar contra você, advertiu Schmitt, lembrando a reação negativa provocada por algumas das publicidades da marca italiana. O módulo sobre o atuar faz referência à interação e ao estilo de vida. Um bom exemplo é o caso da Nike, que fomenta uma experiência de compra motivada pelo desempenho. No caso do fator relacionar, a experiência se refere a pertencer a grupos, ou seja, identidade social e experiências compartilhadas. Schmitt tampouco esqueceu de mencionar alguns temas estratégicos que devem se resolver na hora de criar experiências. Escolher a adequada intensidade de cada um desses módulos é um fator de extrema importância. Se você exagera nas sensações, pode não agradar aos clientes. Isso pode gerar desconfiança, explicou. Também é importante analisar se é conveniente utilizar todos os fornecedores de experiência, ou só alguns. Mesmo assim, deve-se estudar se é preciso gerar uma experiência holística ou específica. A segmentação adequada também é um tema que precisa ser analisado: às vezes, é necessário gerar experiências diferentes para cada grupo. O especialista em marketing finalizou sua conferência fazendo referência à necessidade de organizações mais orientadas à experiência. Muitos escritórios são funcionais, mas não são um bom ambiente de trabalho para os empregados. É preciso uma cultura mais ‘dionisíaca’, que privilegie as experiências, a inovação e o entretenimento, concluiu. Fonte BOENTE, Paula; GIGANTI, Estefanía. Vendendo experiências para o cliente. Disponível em: 2 <http://administracao.virtual.vilabol.uol.com.br/artigos/art30.html>. Acesso 22 abr. 2005. em: 3