Barbaros - TRABALHOS ESCOLARES - JUOLFE

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OS BÁRBAROS
Nome genérico para os povos do centro e norte da Europa que no
começo da era cristã se infiltraram no Império Romano do Ocidente. Entre eles estão os
anglo-saxãos, godos, hunos e celtas.
GERMANOS: Povo do centro e norte da Europa que habitava a antiga
Germânia como camponeses e guerreiros. Abrangia diferentes grupos, como saxões, francos,
alamanos, burgúndios, gépidas e godos. Também chamados teutões.
ESLAVOS: Povo do leste europeu que se subdivide nos subgrupos
oriental (russos, bielorrussos e ucranianos), ocidental (tchecos, eslovacos, lusácios e poloneses) e
meridional (servos, croatas, eslovenos, macedônios e búlgaros).
MONGÓIS: Um dos principais grupos étnicos da Ásia central. Falam
dialetos da língua mongol. O tipo físico se caracteriza por estatura mediana, cabelo preto, rosto
largo e lábios finos.
A criação dos novos estados "bárbaros" no final da antigüidade
assinalou o fim do Império Romano do Ocidente e deu origem às formações políticas da
Europa moderna.
No século VI o código dos francos conhecido como Lei Sálica classificava
de bárbaro quem não fosse romano ou franco, enquanto Teodorico (c. 473) excluía dessa
classificação apenas os romanos e godos. Já Isócrates (Penegírico) considerava bárbaro todo
aquele que não adotasse os costumes gregos. Na verdade, sob o vago conceito de bárbaro os autores
antigos ocultavam a ignorância da diversidade étnica e cultural de seus inimigos. Foi só no século
VII que o termo ganhou o significado depreciativo de pagão, ou seja, germano não cristianizado,
enquanto romano era o católico dos novos reinos europeus.
A expressão "invasão dos bárbaros" é criticada pela historiografia
moderna, por dar a idéia de uma avalanche migratória fulminante. Na verdade, foi um movimento
gradual, lento e desordenado, caracterizado pela penetração sucessiva, nas terras dominadas por
Roma, de grande número de nômades, em sua maioria componentes dos chamados germanos
(godos, vândalos, francos, lombardos, suevos etc.). Essas migrações ocorreram entre os séculos II
e XIII, desde a arremetida dos teutões rumo ao Mediterrâneo até a chegada dos mongóis à Europa
em 1237-1241.
DIREÇÕES E NATUREZA DOS MOVIMENTOS:
O período crucial das penetrações, conhecido como invasão dos bárbaros,
situa-se entre os séculos IV e VII. Pode ser dividido em três momentos: (1) séculos IV a V -processou-se a ocupação do Mediterrâneo ocidental pelos hunos, alanos, godos, vândalos, suevos
e búlgaros; (2) séculos V a VI -- os francos, alamanos e bávaros estabeleceram-se na área
compreendida entre os Pireneus e o Reno; (3) séculos VI a VII -- a Itália e as estepes euro-asiáticas
sofreram a penetração dos lombardos, ávaros, búlgaros e eslavos. Simultaneamente, o noroeste
europeu recebia invasores marítimos, como os saxões, escotos, pictos e bretões, sobretudo nos
séculos V a VI.
O historiador romano Tácito, a melhor fonte a respeito, descreve em
detalhe os germanos. Principais protagonistas das primeiras migrações bárbaras, não conheciam a
escrita -- estavam ainda na proto-história. Sua religião era politeísta, de inspiração naturalista, já
que seus deuses personificavam forças da natureza. Hábeis no manejo de armas, eram altos, de
cabelos louros e fartos, e olhos azuis. Caçadores, agricultores e pastores seminômades, viviam em
pequenas aldeias do norte da Europa. Possuíam indústria rudimentar e seu comércio se limitava à
troca de produtos. As tribos eram formadas pela união de várias aldeias e contavam no máximo de
quarenta a cinqüenta mil indivíduos, chefiados pelo rei (koenig), cuja principal função era dirigir
a tribo nas guerras. Nos tempos de paz, o poder do rei era limitado por um conselho de chefes de
família.
No século IV as principais tribos germânicas eram os francos,
estabelecidos nas margens setentrionais do Reno; os saxões, localizados às margens do mar do
Norte; os vândalos, estabelecidos às margens do mar Báltico; os suevos, encontrados às margens
do rio Elba; e os lombardos, localizados na região atravessada pelo rio Oder. Outras tribos
germânicas que desempenharam importante papel nas migrações foram os godos: os visigodos
ocupavam as regiões do baixo Danúbio (Romênia atual); e os ostrogodos dominavam as terras
localizadas ao norte do mar Negro.
RELACÕES COM O IMPÉRIO ROMANO:
Roma já combatia cimbros e teutões desde o século I a.C. e Júlio César
enfrentou os germanos para fazer do Reno a fronteira da Gália. Augusto mais tarde tentou
conquistar a Germânia, mas o fracasso do general Varo, no ano 9 da era cristã, levou os
imperadores seguintes a adotarem uma política defensiva, limitando-se a consolidar a fronteira do
Reno e do Danúbio. Daí a construção dos famosos limes (fronteiras fortificadas). Essas medidas,
contudo, não impediram as infiltrações pacíficas dos germanos no mundo romano, na qualidade
de escravos, colonos e soldados.
É possível que secas prolongadas na Ásia Central tenham dado o impulso
inicial às migrações de bárbaros que vinham ocorrendo desde o terceiro milênio a.C., sempre em
sentido norte-sul e leste-oeste. Desarticulados e destituídos de tradições comuns, os bárbaros
predominaram devido sobretudo à assimilação étnica e à interação com os antigos povos do
território imperial. Os grupos que se fecharam à cultura romana, enfatizando o aspecto militar da
penetração (godos, vândalos, silingos, suevos e outros), foram aos poucos absorvidos pelos que
aceitaram a coexistência com Roma.
Essa coexistência seria oficializada pelo foedus (aliança), contrato político
pelo qual se reconhecia a coexistência inevitável entre dois poderes: os chefes bárbaros, obrigados
a servir aos interesses romanos, e o governo imperial, incapaz de impedir a fixação dos invasores,
disposto a fornecer-lhes víveres e abrigo. O foedus começou a ser praticado em larga escala a partir
de 418, com os visigodos. Daí em diante sucederam-se as concessões: entre 433 e 438 aos suevos
na Espanha; em 435 aos vândalos no norte da Numídia e em quase toda a Mauritânia; em 443 aos
burgúndios em Genebra; em 455 aos ostrogodos no lago de Balaton (Hungria) etc.
Mas o foedus não foi a primeira tentativa de aliança de Roma com os
bárbaros. Os visigodos já tinham sido aceitos por Teodósio o Grande como federados e instalados
na Dácia. Contudo, alguns anos após a morte do imperador, eles ocuparam de fato o Império do
Oriente e, em 410, sob a direção do temível Alarico, invadiram a Itália e se apoderaram de Roma.
Após a morte de Alarico abandonaram a Itália devastada e, além de invadirem a Gália, onde
arrasaram Narbona, Toulouse e Bordeaux, ocuparam a Aquitânia e o norte da Espanha (414).
Ao mesmo tempo, mais de cem mil suevos, alanos e vândalos devastaram
a Gália e passaram à Espanha, ocupando a Andaluzia (cujo primeiro nome, "Vandaluzia", provém
deles). Sob o comando de Genserico chegaram à África, onde ocuparam Cartago e as ilhas do mar
Tirreno. Senhores de poderosa frota, devastaram e saquearam Roma em 455.
Em 540 Justiniano firmou um foedus com os lombardos estabelecidos na
Panônia (Hungria), para com seu auxílio enfrentar os francos e godos que ali penetravam. Aliado
aos romanos, o rei visigodo Wallia praticamente exterminou os vândalos silingos da Andaluzia
(418), enquanto grupos mais fracos, como os alanos, com freqüência se dispersavam e passavam
em massa para o exército romano. As cisões mais notáveis dos povos bárbaros, por falta de uma
orientação comum que os unisse, foram a dos godos, divididos em ostrogodos e visigodos (c. 230),
e a dos vândalos, cindidos em silingos e asdingos ainda no século I. Essas divisões facilitaram o
extermínio de algumas formações bárbaras como os hunos (desde 453) e os suevos (585), anexados
a entidades políticas mais sólidas, escravizados ou assimilados culturalmente.
Ainda no século V várias tribos germânicas iriam se estabelecer em regiões
desguarnecidas do ocidente romano: os anglos e saxões se fixaram na Inglaterra ("terra dos
anglos"), os burgúndios ocuparam as margens do Saône, os alamanos radicaram-se na Alsácia.
Enquanto o império perdia a África, os hunos, após dominar os ostrogodos,
prosseguiram sua marcha para oeste e se estabeleceram, provisoriamente, na região do Danúbio
(atual Hungria), de onde desceram para tomar Belgrado, depois Nish. Em 450 se voltaram para o
Ocidente. Seu chefe, Átila, à frente de numeroso exército, destruiu Metz, Reims e Troyes, desceu
para o sul ocupado pelos visigodos e chegou a Orléans, porta meridional da Gália. Os próprios
bárbaros -- alanos, burgúndios, francos e visigodos -- defenderam o Ocidente sob a direção de
Aécio e Teodorico. Esse exército bárbaro romanizado retomou Orléans e forçou Átila a se retirar
rumo ao noroeste, para perto de Troyes, em Campus Mauriacus (451).
À medida que o poder de Roma agonizava, os bárbaros tomavam
consciência de sua força. Figuras como Gainas e Estilicão já exerciam o poder de fato desde fins
do século IV e, em 476, Odoacro, chefe de mercenários bárbaros a serviço do imperador, depôs o
próprio Rômulo Augústulo e solicitou a Constantinopla autorização para governar a Itália. Mas
quem dominou a Itália de fato foi Teodorico, chefe dos ostrogodos, que à frente de seu povo aí
fundou novo reino em 493.
Assim, em princípios do século VI o Império Romano do Ocidente tornouse um mosaico de pequenos reinos bárbaros: o dos visigodos, na Espanha; o dos ostrogodos, na
Itália; o dos vândalos, no noroeste da África; o dos francos, na Gália; o dos anglos e o dos reinos
saxões no sul, sudeste e leste da Inglaterra; e o dos burgúndios, na média e alta bacia do rio Ródano.
As derradeiras migrações dos germanos ocorreram na segunda metade do
século VI, quando os lombardos, pressionados pelos ávaros das estepes asiáticas, se refugiaram na
Itália. Liderados pelo rei Alboim, dominaram as cidades do norte da Itália e, em 576, a planície do
Pó e da Toscana. Mais tarde infiltraram-se para o sul, onde tomaram Spoleto e Benavento, Pádua
(602), Gênova (640) e Tarento (675), formando assim o reino lombardo.
CONSEQUENCIAS:
Marco cronológico entre a antigüidade e a Idade Média, as migrações
bárbaras tiveram conseqüências profundas. Em primeiro lugar, a unidade do Império Romano do
Ocidente foi substituída pela diversidade dos reinos bárbaros, de onde emergiram os estados
medievais de maior importância, como a Inglaterra, surgida da fusão de jutos, saxões, anglos e
frisões.
A falta de segurança levou à paralisação do comércio e ao declínio das
cidades. O uso da moeda se rarefez e ocorreu a decadência da civilização greco-romana no plano
político, econômico e cultural. A forma de vida dos vencidos foi imitada, mas modificada pela
contribuição das várias culturas bárbaras, como no caso das jóias merovíngias. Grande parte da
composição étnica e da cultura medieval acabou afetada, mesmo quando houve a dissolução dos
primitivos grupos invasores, que deixariam traços na toponímia tradicional: Borgonha (de
burgúndios), Escócia (de escotos), Silésia (de silingos) etc. Entre os estados bárbaros que não
sobreviveram à pressão de seus vizinhos, tiveram relevância na consolidação da Europa bárbara
os suevos da península ibérica, que entre 409 e 585 garantiram a infiltração e o estabelecimento
dos visigodos em importante área do território imperial.
A coexistência pragmática com Roma fortaleceu as tribos bárbaras
vitoriosas e criou uma nova cultura. Perduraram, em sua essência, o sistema municipal, a
organização urbana e, sobretudo, o regime da grande propriedade. Os novos sistemas jurídicos,
que acompanharam a consolidação política dos bárbaros, tiveram origem no direito provincial
vulgar que coexistiu com o direito romano clássico. Os códigos bárbaros romanizantes (escritos
em latim), com base no direito vulgar, fundamentaram as normas jurídicas vigentes na alta Idade
Média. Entre esses códigos destacam-se o do estado visigodo (Lex romana visigothorum, 506), o
dos burgúndios (Lex romana burgundionum, século VI), o dos ostrogodos (Edictum Theodorici,
século VI), e o dos francos (Lex salica, c. 507-511) entre outros.
Com o declínio político do Império Romano do Ocidente, surge como
novo poder político o papado, sucessor e beneficiário do império, com grande influência no
processo de formação dos nascentes estados bárbaros. Dentro do espírito de colaboração com
Roma, e para justificar seu expansionismo contra organizações bárbaras menores, os novos reinos
prestigiavam a igreja. Assim, os godos desde cedo se converteram ao cristianismo, e um visigodo,
Úlfila, chegou a criar uma escrita e uma língua literária gótica para traduzir o Novo Testamento
(c. 340).
Difundia-se, assim, no Ocidente, um novo tipo de civilização, com
elementos herdados de Roma e dos germanos. A maior ou menor romanização dependeu, de modo
geral, da ocupação realizada pelo Império Romano. Dessa forma a Itália, a Espanha e o ocidente
da Gália são profundamente romanos. Já a Inglaterra e o oriente da Gália são germanos.
Herdeira principal da civilização latina, coube à igreja contribuir de forma
decisiva para aproximar e fundir as populações no Ocidente, impondo a unidade cristã e a língua
latina. A política de sacralização do poder nos estados bárbaros atingiria o ápice com os francos,
a partir de Pepino o Breve (751) e é desde então que se fixam os quadros políticos fundamentais
identificados com a Idade Média européia.
OS FRANCOS
Povo de língua germânica oriundo do norte do rio Reno. A partir do
século III invadiu as terras romanas da Gália e estendeu seus domínios aos territórios da
França e Alemanha.
Nos primeiros séculos da Idade Média, o principal reino cristão da Europa
foi o dos francos, cujo domínio chegou a estender-se pelos territórios da França e Alemanha. Entre
os séculos VIII e IX, a dinastia franca dos carolíngios tentou restabelecer a autoridade do Império
Romano sobre o Ocidente.
Os francos eram um povo de língua germânica oriundo do norte do rio
Reno que, a partir do século III da era cristã, começou a invadir as terras romanas da Gália. Três
famílias ou clãs principais compunham a confederação de tribos francas: os sálios, os ripuários e
os catos. A penetração na Gália não se fez de maneira homogênea: os sálios deslocaram-se para as
terras situadas ao norte do Loire, enquanto os catos e os ripuários ocuparam a região do Reno e o
nordeste da Gália.
A tribo sália não era muito numerosa, mas isso não a impediu de submeter
as tribos que se rebelavam freqüentemente contra a rigorosa ordem estabelecida pelo Império
Romano. Ao mesmo tempo, tropas auxiliares francas aliaram-se ao Império Romano na luta contra
as invasões de outros povos germânicos. Alguns francos chegaram mesmo a ocupar altos postos
no exército e no estado romanos.
No século V, o rei sálio Childerico I, aliado de Roma, conseguiu dominar
uma vasta região do norte da Gália, que incluía o vale parisiense. Com a morte de Childerico,
segundo monarca da dinastia merovíngia, seu filho Clóvis I passou a reinar sozinho sobre os
francos e, depois de derrotar o duque galo-romano Siágrio em 486, submeteu todo o território
compreendido entre o Soma e o Loire, o que libertou seu reino do jugo romano. No princípio do
século VI, Clóvis derrotou os alamanos e ampliou as fronteiras orientais do reino franco.
Fato essencial na história do reino franco foi a conversão de Clóvis ao
cristianismo. Esse ato favoreceu a fusão entre francos e galo-romanos e permitiu o entendimento
com a população católica dominada pelos visigodos arianos do reino de Toulouse, que os francos
derrotaram na batalha de Vouillé, no ano 507. Clóvis também empreendeu campanhas contra o
reino dos burgúndios, a leste do Ródano. Com sua morte, o reino foi dividido entre os herdeiros.
O território franco estendeu-se então até a Borgonha e a Provença, o que lhe forneceu uma saída
para o mar Mediterrâneo.
Os reis francos decidiram então intervir na Itália e na Germânia. Na Itália,
o rei Teodebaldo avançou até o vale do Pó em 553, mas a resistência da população obrigou-o a
retirar-se no ano seguinte. Na Germânia, os francos recorreram a uma política de anexação de
territórios e de sujeição dos povos ali assentados, como os saxões e os alamanos.
Em 558, Clotário I concentrou em suas mãos o poder de todo o país, mas
essa situação foi efêmera, pois morreu em 561. O reino foi novamente dividido entre seus filhos,
o que provocou o enfraquecimento do poder franco. No século VI, a força de expansão do reino
conteve-se diante dos ataques de lombardos, ávaros e visigodos, enquanto fortes poderes locais
opunham-se ao centralismo monárquico.
No século VII, o rei Clotário II conseguiu unificar o reino, tarefa
prosseguida por seu filho Dagoberto I. A dinastia merovíngia conheceu um período de rápida
decadência, no qual adquiriram grande relevância os mordomos do paço. Um desses mordomos,
Pepino de Heristal ou Pepino II, impôs sua autoridade sobre o conjunto do reino. Carlos Martel,
seu filho, iniciou a dinastia carolíngia, e juntamente com Carlos Magno, que reinou de 768 a 814,
levou o reino franco a seu máximo esplendor. Luís o Piedoso, filho de Carlos Magno, dividiu o
império carolíngio entre os herdeiros: Lotário I recebeu o título imperial e o reino central, ou
Lotaríngia; Carlos o Calvo, coroado imperador em 875, herdou o Reino Franco Ocidental, núcleo
da futura França; e a Luís o Germânico coube o Reino Franco Oriental, no território compreendido
pela Alemanha atual.
CARLOS MAGNO
Depois de conquistar na Itália o reino lombardo, submeter os saxões,
anexar a Baviera e fazer incursões contra os muçulmanos na Espanha e os ávaros na Hungria,
Carlos Magno, herdeiro do reino franco, conseguiu reunir sob sua coroa quase toda a Europa cristã
e ocidental. Sua coroação como imperador, no ano 800, representou o surgimento do Sacro Império
Romano-Germânico. Considerado durante toda a Idade Média européia como o protótipo do rei
cristão, Carlos Magno foi também o promotor de brilhante renascimento cultural.
Carlos Magno nasceu em 2 de abril por volta do ano de 742. Seu pai,
Pepino o Breve, derrotou o último rei merovíngio e em 751 se proclamou rei dos francos. Ao
morrer, em 768, Pepino deixou o reino dividido entre seus dois filhos: Carlos, que logo se tornou
conhecido como Carlos Magno, e Carlomano, cuja morte precoce, em 771, pôs fim à rivalidade
existente entre os irmãos. Um ano antes, Carlos Magno se casara com Desiderata, filha do rei da
Lombardia mas, ante as pressões do papa Estêvão IV, teve de repudiá-la.
A proteção dispensada pelo rei lombardo Desidério a sua filha, assim como
à viúva de Carlomano, ao lado do pedido de ajuda do papa Adriano I, ocasionaram a primeira
grande campanha vitoriosa de Carlos Magno, que em 774 venceu os lombardos em Pavia. Depois
desse triunfo, coroou-se rei do território recém-conquistado. Era muito mais que a expansão de
seus domínios, já que a própria Santa Sé se vira ameaçada pelos lombardos.
Além da coroa, Carlos Magno havia herdado do pai, a quem desde muito
jovem acompanhou nas lutas, a vontade de consolidar e ampliar os domínios francos, assim como
a convicção de que um dos deveres do rei era o de difundir e proteger a religião cristã. Suas
operações defensivas contra os saxões, iniciadas em 772, transformaram-se numa prolongada e
sangrenta guerra que só terminou com a total submissão daquele povo, em 804. Para alcançá-la,
Carlos Magno teve de realizar quase vinte campanhas, durante as quais houve deportações e
execuções em massa. Da mesma forma, no desenrolar da cristianização empregaram-se meios tão
violentos que suscitaram críticas nos círculos próximos à própria corte.
Carlos Magno teve menos sorte em sua expansão para o sul, já que
fracassou no cerco a Saragoça, ocupada pelos muçulmanos, e, na volta a seus territórios, em 778,
teve aniquilada em Roncesvalles a retaguarda de seu exército. Retornou à Espanha sete anos depois
e conquistou a região da Catalunha, o que lhe permitiu a criação da Marca Hispânica, território
fronteiriço entre os domínios muçulmanos e francos. Mais tarde, em 788, apoderou-se da Baviera,
com o que obteve a submissão de praticamente todas as tribos germânicas ocidentais, e estendeu
seu poderio até as regiões do Danúbio.
A expansão do estado franco levou Carlos Magno a conceber a idéia de
tornar-se imperador. A disputa entre o papado e o império bizantino, que se havia declarado
iconoclasta, levou o pontífice a interessar-se pela criação, no ocidente europeu, de um poder capaz
de contrabalançar as aspirações bizantinas. Quando o papa Leão III foi expulso de Roma em 799,
refugiou-se na corte carolíngia. No ano seguinte, Carlos Magno o repôs no sólio pontifício.
Durante a missa de Natal do ano de 800, os romanos proclamaram imperador o rei franco e o papa
o coroou como tal. O nível imperial reforçou o poder que Carlos Magno já exercia sobre grande
parte da Europa ocidental e, em 812, ele viu seu título reconhecido pelo imperador bizantino
Miguel I.
O título imperial não trouxe para Carlos Magno uma ampliação do poder
real, mas sim a legitimação de seu domínio sobre Roma, a consumação da ruptura entre os papas
e os imperadores bizantinos e a aproximação entre o reino franco e o papado. Assim nascia o
conceito medieval de império, que vinculava as tradições políticas dos francos ao Império Romano
fundado por Augusto.
A criação do império foi legitimada, sobretudo, pelos esforços de Carlos
Magno no sentido de elevar o nível cultural de seus domínios tão heterogêneos e de dotá-los de
uma eficaz estrutura econômica, administrativa e judicial. Tal como na época de seus
predecessores, a corte franca não tinha sede fixa, mas foi em Aachen (Aquisgrana, ou Aix-laChapelle em francês) que o imperador instalou sua residência principal, famosa por seu palácio e
por sua capela. A corte logo se tornou não apenas capital política e administrativa do império, mas
também importante centro cultural e artístico. Carlos Magno soube rodear-se de sábios eminentes,
entre os quais se destacaram Eginardo (Einhard) e Alcuíno de York. Criou uma rica biblioteca e
procurou ampliar a cultura do clero, fomentando o estudo intensivo do latim nas escolas dos
mosteiros e das catedrais.
Os documentos legais do reinado de Carlos Magno refletiram sua grande
preocupação com a justiça. Esta era dispensada mediante a reunião, uma ou duas vezes por ano,
dos principais magistrados e nobres do império. A administração local ficava nas mãos dos condes
e dos bispos, que estabeleciam seu contato com a corte através dos mensageiros reais, os missi
dominici (enviados do Senhor).
A estrutura imperial não fazia uma distinção clara entre os poderes militar,
político e eclesiástico. Todos os assuntos eram habitualmente discutidos ao mesmo tempo pelos
representantes do clero e da nobreza, presididos pelo imperador.
O grave defeito da organização criada por Carlos Magno talvez tenha sido
o de que, baseada em sua forte personalidade e em seus extraordinários dotes de governante, ela
carecia de recursos para, no futuro, manter a coesão dos diferentes territórios imperiais. Foi
certamente por isso que o imperador planejou a divisão do império entre seus três filhos, embora
tenha precisado coroar em 813 o mais novo, Luís I o Piedoso, como co-imperador e único sucessor,
em virtude da morte dos dois mais velhos.
A incapacidade de seus sucessores para manter a ordem, a unidade e a
posição internacional do império que fundara acabou por agigantar a figura de Carlos Magno,
personagem constante na literatura medieval. A força de sua personalidade emanava de sua
profunda convicção de estar executando os desígnios divinos. Combinava esta certeza com uma
férrea vontade de poder e com uma grande preocupação em adquirir conhecimentos.
Séculos mais tarde, o próprio Napoleão Bonaparte se proclamou sucessor
de Carlos Magno. A influência desse imperador chegou ainda mais longe: depois da segunda
guerra mundial, quando se começou a discutir a criação de uma Europa ocidental unida, invocouse o modelo unificador criado por Carlos Magno, que morrera há mais de um milênio, em 28 de
janeiro de 814, em Aachen.
IMPÉRIO OU DINASTIA CAROLÍNGIA
Casa real que governou o império franco na Europa de 751 a 888. Seu
monarca mais destacado foi Carlos Magno.
Carlos Magno foi o monarca que mais se destacou na dinastia franca dos
carolíngios, que dominou grande parte da Europa entre meados do século VII e final do século IX.
No ano 687, Pepino de Herstal, mordomo do palácio da Austrásia, uma das
partes do reino, venceu em Tertry seu rival da Nêustria-Borgonha, com o que conseguiu poder
total sobre o território franco. Seu filho Carlos Martel reconquistou alguns territórios perdidos pelo
pai e deteve em Poitiers, no ano de 732, a invasão islâmica a seus territórios. A morte do rei
merovíngio Teodorico IV provocou um vazio de poder e Carlos Martel ocupou praticamente o
cargo real; quando morreu, seus domínios foram divididos entre seus filhos Carlomano e Pepino.
O primeiro abdicou no ano 747 para dedicar-se à vida monástica e Pepino,
chamado o Breve, converteu-se em monarca de direito ao destronar, quatro anos depois, o último
soberano merovíngio, Childerico III. Com a aprovação do papa Zacarias, proclamou-se rei em uma
assembléia de nobres francos reunida em Soissons, e foi consagrado pelo arcebispo Bonifácio.
Pepino o Breve dividiu o reino, no ano 768, entre seus filhos Carlos e
Carlomano, que não tinham boas relações. A morte, três anos mais tarde, de Carlomano,
concentrou o poder nas mãos de Carlos, logo conhecido como Carlos Magno, que levou o poderio
franco ao apogeu, graças a campanhas contra saxões, lombardos, eslavos, ávaros e o ducado da
Baviera. Realizou também incursões contra os muçulmanos em território espanhol, onde, apesar
da derrota em Roncesvalles, estabeleceu a Marca Hispânica. No dia de Natal do ano 800, em Roma,
o papa Leão III coroou Carlos Magno imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
A unidade que Carlos Magno havia restaurado na Europa ocidental
fragmentou-se a partir de seus sucessores. Seu filho Luís I o Piedoso pretendeu abolir o costume
franco de dividir o reino entre os herdeiros e legou o trono apenas a seu primogênito, Lotário. Os
outros filhos, Pepino e Luís o Germânico, receberam os reinos da Aquitânia e da Baviera,
subordinados ao império. Entretanto, ao outorgar a Carlos o Calvo, filho de sua segunda mulher,
o reino da Alemanha, provocou uma série de rebeliões e guerras fratricidas que culminaram com
o Tratado de Verdun, no ano 843, que estabelecia a divisão do império em três reinos. Assim,
Lotário I ficou com o reino central, que incluía as cidades de Aachen e Roma, e recebeu o título
de imperador; a Carlos II o Calvo coube o reino ocidental; e Luís o Germânico herdou o reino
oriental.
O poderio carolíngio decaiu completamente, devido às contínuas
fragmentações do reino e ao fortalecimento dos povos vizinhos, como os normandos e saxões. No
ano 855, o reino central de Lotário I, a Lotaríngia, foi novamente dividido entre seus filhos: Luís
II, que ficou com o título imperial, Lotário II e Carlos. Com a morte de Lotário II, seu tio Luís o
Germânico recebeu, entre outros domínios, a cidade de Aachen, enquanto Carlos II o Calvo herdou
de Luís II o título de imperador. Carlos II foi coroado no ano 875, mas com a morte de todos os
seus descendentes, viu-se obrigado a transmitir a coroa a Carlos III o Gordo, filho de Luís o
Germânico, que foi deposto por Eudes, conde de Paris, no ano 888. Esse acontecimento acarretou
o fim da dinastia carolíngia no Sacro Império.
CONCLUSÕES FINAIS:
Com a derrocada do Império Romano do Ocidente, em 476, tinha início
a Idade Média e a formação de reinos bárbaros no continente europeu, que desfrutou de grande
impulso. Surgiram os ostrogodos (Itália), visigodos (Espanha), francos (França), os anglo-saxões
(Inglaterra) e os vândalos (África setentrional e algumas ilhas do Mediterrâneo ocidental). A
maioria desses reinos havia se estabelecido mediante invasões a núcleos populacionais outrora
romanizados, formando pólos de atuação. Contudo, apesar da condições de invasores, os povos
bárbaros não procuraram romper o modelo institucional dos romanos. Sem experiência alguma
no que se referia a práticas administrativas, esses povos visavam unicamente tomar o lugar do
Imperador, tirando proveito do funcionamento da máquina governamental. Além disso, a cultura
romana exercia especial fascínio sobre esses povos, uma vez que era muito mais desenvolvida
do que a sua própria. Por isso, quando finalmente conseguiam invadir porções de terra
pertencentes ao Império, não tentavam impor à região dominada seu próprio modelo
administrativo, confiando na eficiência do método romano. Em princípio, as invasões bárbaras
destruíram grande parcela da infra-estrutura do Império Romano, comprometendo especialmente
seu sistema de comunicações. Logo, porém os bárbaros compreenderam que não podiam levar a
cabo tal política, uma vez que ela pressupunha a adoção de um novo esquema social para
substituir o existente, algo que eles não tinham condição alguma de levar a cabo. Desta forma,
os invasores compreenderam a necessidade de tomar como exemplo as instituições políticas préexistentes, valendo-se de sua eficiência e do conforto administrativo que permitiam. Alguns
povos bárbaros obtiveram relativo êxito em sobrepor-se sobre as terras conquistadas, como os
ostrogodos e, principalmente, os francos. Estes últimos, na figura de Carlos Magno (cujo reinado
durou de 771 a 814), chegaram a formar um vasto império e se firmaram como povo dominante
da Europa durante alguns séculos. Contudo, sua espetacular expansão logo tornou-se um
problema, pois era impossível, com as condições da época, governar-se uma área tão vasta. O
Império Carlovíngio, portanto, sucumbiu à sua própria sede expansionista. Por volta do século
XI, com as populações urbanas bastante reduzidas e o ex-Império Carlovíngio dividido,
observou-se uma grande decadência das cidades e uma fragmentação considerável do poder
político. As classes altas viram-se, então, totalmente vulneráveis às invasões e necessitava de
proteção. Era o quadro social que faria surgir o período de plenitude do feudalismo.
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