- UFCG/CSTR

Propaganda
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
ADEMIR ARAÚJO DE LUCENA
CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS MEDICINAIS DE UMA
COMUNIDADE DE SANTA LUZIA-PB
PATOS-PB
2014
2
ADEMIR ARAÚJO DE LUCENA
CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS MEDICINAIS DE UMA
COMUNIDADE DE SANTA LUZIA-PB
Monografia apresentada à Unidade Acadêmica de
Engenharia Florestal - UFCG, Campus de Patos/PB,
como pré-requisito para obtenção do Grau de
Engenheiro Florestal.
Orientadora: Profª Msc. Alana Candeia de Melo
PATOS-PB
2014
3
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSTR
L935c
Lucena, Ademir Araújo de
Conhecimento popular sobre plantas medicinais de uma
comunidade de Santa Luzia – PB / Ademir Araújo de Lucena. –
Patos, 2014.
55f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Florestal) –
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e
Tecnologia Rural, 2014.
“Orientação: Profa. MSc. Alana Candeia de Melo”.
Referências.
1. Plantas Medicinais. 2. Cultura. I. Título.
CDU 633.88
4
ADEMIR ARAÚJO DE LUCENA
CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS MEDICINAIS DE UMA
COMUNIDADE DE SANTA LUZIA-PB
Aprovado em:____/____/2014.
Comissão Examinadora
_________________________________________________
Prof.ª Msc. Alana Candeia de Melo
Orientadora
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
_________________________________________________
Profª Dra. MARIA DAS GRAÇAS VELOSO MARINHO
1ª Avaliadora
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
_________________________________________________
Prof. Dra. IVONETE ALVES BAKKE
1ª Avaliadora
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
PATOS–PB
2014
5
Dedico ao meu avô, José Pereira de Andrade, razão
pela qual busquei a realização deste trabalho, uma
vez que o mesmo desenvolvia a homeopatia por
vocação.
A minha formação como profissional não poderia ter
sido concretizada sem ajuda dos meus amados pais
Ademar Araújo de Lucena e Maria Araújo de
Lucena, que no decorrer de minha vida
proporcionaram-me, além de extenso carinho e
amor, os conhecimentos da integridade, da
perseverança e de procurar sempre em Deus a força
maior para o meu desenvolvimento como ser
humano. Por essa razão, gostaria de dedicar e
reconhecer a vocês, minha imensa gratidão.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Deus da sabedoria por ter me concedido concluir mais uma etapa da
minha vida.
Agradeço de forma especial aos meus pais, Ademar e Maria, que sempre me
incentivaram a estudar.
A minha orientadora, professora Alana Candeia de Melo, pelo convívio, pelo apoio,
pela compreensão e amizade.
Aos meus irmãos, Maria José, Maria Daguia e José Carlos que muito amo e sempre
me apoiaram.
A minha companheira Luciana, que de forma especial e carinhosa, me deu apoio e
força nos momentos de dificuldade.
Aos meus amigos, em especial Teógenes, Josué, Denis, Pedro Segundo, Girlânio
pelo incentivo e companheirismo.
Aos meus tios, que sempre me apoiarem me incentivando a ter perseverança para
concluir este curso.
Ao motorista do GEO Seu Zeca, pelas caronas fazendo com que eu chegasse a
tempo para assistir as aulas.
A todos os professores do Curso de Engenharia Florestal, que foram tão importantes
na jornada e no desenvolvimento deste trabalho.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para realização deste estudo,
meu muito obrigado.
7
Cada dia a Natureza produz o suficiente para carência.
Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário,
Não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome,
MAHATMA GANDHI.
8
LISTA DE SIGLAS
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AVC – Acidente Vascular Cerebral
BPF – Boas Práticas de Fabricação
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
G – Grama
GL – Grau
ML – Mililitro
OMS – Organização
PB – Paraíba
PNPIC – Política Nacional de Práticas Intepraticas e Complementares
PNPMF – Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápico
PSF – Programa Saúde na Família
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Plantas com propriedades abortivas mais utilizadas por pacientes do
Serviço Pré-natal do Sistema Único de Saúde
27
QUADRO 2 - Doenças tratadas com plantas medicinais
34
QUADRO 3 – Espécies medicinais utilizadas pelos moradores de uma
comunidade de Santa Luzia-PB, nome conhecido, nome científico,
indicações e quantidades de citações indicados
48
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Nível de escolaridade dos informantes
31
Gráfico 2 – Percentual de moradores que se utilizam de plantas da Caatinga
33
e de outros biomas
Gráfico 3 – Os tipos de remédios mais utilizados.
35
Gráfico 4 – Origem de conhecimento sobre os benefícios da plantas
36
medicinais
Gráfico 5 – Origens das plantas medicinais utilizadas pelos moradores da
comunidade de Santa Luzia
37
Gráfico 6 – Faixa etária dos entrevistados.
41
Gráfico 7 – Numero de citações de pessoas da comunidade que utilizam
43
plantas medicinais de diferentes formas
11
LUCENA, Ademir Araújo de. Conhecimento popular sobre plantas medicinais de
uma comunidade de Santa Luzia-PB.
RESUMO
As modernas condições de vida das comunidades urbanas comprometem o uso e a
transmissão do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. O uso de
recursos naturais por populações urbanas é orientado por um conjunto de
conhecimentos resultantes da relação com o ambiente natural na qual estavam
inseridas, bem como pelas relações sociais em que estão imersas no meio urbano.
Muitos produtos vegetais e suas formas de usos que atualmente são indesejáveis à
sociedade urbana tem sua origem nestas populações de origem rural que
aprenderam a domesticar e manipular as propriedades curativas das plantas. As
plantas medicinais e seus usos terapêuticos são alvos de pesquisa etnobotânica,
que mostram também as circunstâncias sócio-culturais da população e preocupamse em resgatar e valorizar o conhecimento tradicional e a diversidade cultural; a
sociedade estuda a relação entre as plantas e as pessoas de uma maneira
multidisciplinar. Por esses motivos, pesquisas nesta área foram umas das que mais
se desenvolveram nos últimos anos para a descoberta de produtos naturais nativos.
O objetivo deste estudo foi verificar o conhecimento dos moradores de uma
comunidade urbana do município de Santa Luzia - PB sobre plantas medicinais. Os
dados foram coletados por meio de um questionário composto por 18 questões
objetivas e subjetivas. Foram aplicados 130 questionários no período de julho a
setembro de 2013. Os resultados revelaram que a maioria dos entrevistados é do
sexo feminino (75,38%), que nasceram na zona urbana (76,15%), que se
autodeclararam brancos (71,53%), casados (63,84%) e que possuem ensino médio
completo (59,23%). 89,23% utilizam ou já utilizaram plantas medicinais e 71,54%
não cultivavam as plantas. As plantas medicinais são utilizadas para tratar 21
doenças, sendo que gripe, diarreia, problemas no estômago e na garganta, foram os
mais citados. Constatou-se que os conhecimentos sobre as plantas medicinais
foram repassados pelos pais e que foram obtidos na mata seguida de ambulantes.
As plantas medicinais mais citadas foram erva cidreira, hortelã, limão, eucalipto e
romã. As pessoas com idade mais elevada utilizam mais as plantas medicinais, que
já indicaram plantas medicinais para outras pessoas (85,38%) e que os médicos
pouco indicaram remédios fitoterápicos (12,31%). As plantas são utilizadas
basicamente nas formas de chás seguida de lambedor, inalação e sucos. São
poucas as espécies que podem causar a morte se, indevidamente usados,
destacando-se cabacinha, mamona, arruda, peão manso e comigo ninguém pode.
Apenas 8,45% controlam doenças crônicas com plantas medicinais e não utilizam de
forma significativa para curar doenças em animais de estimação (11,53%) e os que
usaram foi para curar prioritariamente problemas com sarna. Os dados relacionados
ao uso de remédios feitos por plantas medicinais e as fontes de informações sobre
os benefícios das mesmas demonstram a herança cultural local sobre plantas
medicinais.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade. Cultura. Plantas medicinais.
12
ABSTRACT
Modern conditions of life of urban communities undertake the use and transmission
of traditional knowledge about medicinal plants. The use of natural resources for
urban populations is driven by a set of knowledge resulting from the relationship with
the natural environment in which they were inserted, as well as the social relations in
which they are immersed in the urban environment. Many plant products and forms
of uses that are currently undesirable urban society has its origin in these populations
of rural origin who have learned to tame and manipulate the healing properties of
plants. Medicinal plants and their therapeutic uses are targets of ethnobotanical
research, which also show the socio - cultural circumstances of the population and
were concerned to recover and value the traditional knowledge and cultural diversity;
society studies the relationship between plants and people in a multidisciplinary way.
For these reasons, research in this area were some of the most developed in recent
years to the discovery of native natural products. The aim of this study was to
evaluate the knowledge of the residents of an urban community in the municipality of
Santa Luzia - PB on medicinal plants. Data were collected through a questionnaire
consisting of 18 objective and subjective questions. 130 questionnaires were
completed in the period July to September 2013. Results revealed that most of the
respondents were female ( 75.38 % ) , who were born in urban areas ( 76.15 % ) who
declared themselves as white ( 71 , 53 % ) , married ( 63.84 % ) and have completed
high school ( 59.23 % ). 89.23 % use or have used medicinal plants and 71.54 % did
not grow plants. Medicinal plants are used to treat 21 diseases, and influenza,
diarrhea, upset stomach and throat, were the most frequent. It was found that
knowledge of medicinal plants have been passed on by the parents and that were
obtained in the woods followed by street. The most cited medicinal plants were
lemon balm, mint, lemon, eucalyptus and pomegranate. People with higher age use
more medicinal plants, medicinal plants that have already indicated to others (85.38
% ) and that some physicians indicated herbal remedies ( 12.31 % ) . The plants are
used primarily in the forms of teas followed by licking, inhalation and juices. There
are few species that can cause death if improperly used, especially gourd, castor oil,
rue, meek pawn me and nobody can. Only 8.45% controlling chronic diseases with
medicinal plants and not using significantly to cure diseases in pets (11.53 % ) and
that was used primarily to cure problems with scabies . The data relating to the use
of herbal remedies made for and sources of information about the benefits of the
same show the local cultural heritage of medicinal plants.
KEYWORDS : Community. Culture. Medicinal plants.
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15
2.1 PLANTAS MEDICINAIS: RETROSPECTIVA HISTÓRICA.................................. 15
2.2 PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL .................................................................. 17
2.3 FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS .................................... 19
2.4 AS PLANTAS MEDICINAIS PARA O USO HUMANO ........................................ 22
2.4.1 Importância das Plantas Medicinais ................................................................. 22
2.4.2 Formas de Preparo das Práticas Caseiras de Plantas Medicinais ................... 23
2.4.3 Uso de Plantas Medicinais Durante a Gestação .............................................. 26
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 28
3.1 TIPO E LOCAL DE ESTUDO .............................................................................. 28
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ................................................................................ 28
3.3 INSTRUMENTO PARA A COLETA DE DADOS ................................................. 28
3.4 PROCEDIMENTO PARA COLETA DOS DADOS ............................................... 29
3.5 ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 29
3.6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS .............................................................................. 29
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 30
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS: .................................................. 30
4.2 CONHECIMENTOS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
31
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
APÊNDICES ............................................................................................................. 50
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 51
APÊNDICE B – Termo de Compromisso do Pesquisador ........................................ 53
APÊNDICE C- Instrumento para coleta de dados ..................................................... 54
13
1 INTRODUÇÃO
Potencialmente, a flora foi e continua sendo um dos recursos naturais de
maior importância para a humanidade, principalmente no que diz respeito ao seu
uso medicinal manifestado na cultura de diferentes populações. Devido a
importância dos vegetais com propriedades medicinais, é que países como o Brasil
não medem esforços no sentido de conhecer e divulgar a sua flora medicinal.
O conhecimento acerca das plantas medicinais é considerado popular, pois
este é passado de geração a geração. O saber local sobre o tratamento de
diferentes males que perturbam/afetam o ser humano é, geralmente, evidenciado
em conversas com pessoas mais idosas (incluindo ai os raizeiros, benzedeiras,
donas-de-casa, etc.) que, por um motivo ou outro, carregam consigo essas
preciosas informações recebidas dos ancestrais. A recuperação dessas informações
é necessária, tendo em vista que elas servem de subsídios para o conhecimento do
potencial medicinal da flora de uma nação e possibilita a discussão da questão do
uso e manutenção da biodiversidade.
No ano de 2006, o Brasil aprovou a Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, por meio do Decreto Presidencial Nº 5.813 de 22 de junho de 2006, a
qual se constitui em parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente,
desenvolvimento econômico e social como um dos elementos fundamentais de
transversalidade na implementação de ações capazes de promover melhorias na
qualidade de vida da população brasileira (BRASIL, 2006).
Os incentivos, através de políticas públicas, acerca das plantas medicinais
são imprescindíveis para a melhoria do acesso da população aos medicamentos, à
inclusão social e regional, o desenvolvimento industrial e tecnológico, à promoção da
segurança alimentar e nutricional, além do uso sustentável da biodiversidade
brasileira e da valorização e preservação do conhecimento tradicional associado das
comunidades tradicionais e indígenas.
Diante deste contexto delimita-se a problemática da pesquisa em torno de:
Qual o nível de conhecimento que os moradores de uma comunidade urbana do
munícipio de Santa Luzia – PB tem sobre plantas medicinais e seu uso?
14
Para responder a esta questão, foi validada a seguinte hipótese: as plantas
medicinais mais usadas na comunidade urbana são as que o seu conhecimento
foram passados de geração em geração, e que também se encontram mais
acessíveis aos moradores da comunidade entrevistada.
Justifica-se a elaboração da referida pesquisa como forma de incentivar a
população em geral a utilizar as plantas medicinais para várias afecções,
considerando os custos mais baixos para a sua aquisição, e com a orientação
correta para sua utilização. O uso de plantas medicinais deve ser incentivado por
meio de políticas públicas de saúde para a disseminação do conhecimento dos
benefícios das plantas medicinais para a sociedade.
O presente estudo tem como objetivo identificar o conhecimento popular dos
moradores de uma comunidade da zona urbana do município de Santa Luzia – PB,
sobre plantas medicinais e seu uso.
O trabalho está estruturado em três partes: na primeira, foi feito um
levantamento bibliográfico sobre plantas medicinais, evidenciando os aspectos
históricos e culturais e as suas formas de utilização; na segunda parte, foram
apresentados e discutidos os resultados de um levantamento feito com os
moradores de uma comunidade urbana do município de Santa Luzia, PB; e, na
terceira, foram sistematizadas as conclusões, tomando por parâmetro os dados dos
questionários.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PLANTAS MEDICINAIS: RETROSPECTIVA HISTÓRICA
Ao longo dos anos, o emprego de plantas medicinais na recuperação de
saúde tem evoluído consideravelmente. Desde as formas mais simples de
tratamento local, provavelmente utilizada pelo homem das cavernas até as formas
tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial utilizada pelo homem
moderno. Mas, apesar das diferenças entre as duas maneiras de uso, há um fato
comum entre elas: em ambos os casos o homem percebeu, de alguma forma, a
presença nas plantas a existência de algo que, administrado sobre a forma de
mistura complexa como nos chás, garrafadas, tinturas, pós, etc., ou como
substância pura isolada, transformado em comprimidos, gotas, pomadas ou
cápsulas, tem a propriedade de provocar reações benéficas no organismo capazes
de resultar na recuperação da saúde (AMOROZO, 1996 p.36).
Segundo Lorenzi (2002), desde os tempos imemoriáveis, os homens buscam
na natureza recursos para melhorar suas próprias condições de vida, aumentando
suas chances de sobrevivência. O uso das plantas como alimento sempre existiu e a
este se incorporou a busca de matéria prima para a confecção de roupas e
ferramentas, além de combustível para o fogo. A simples observação das variações
sazonais
mostradas
pelas
plantas
certamente
deslumbrou
os
primeiros
observadores da natureza, que provavelmente viam nos vegetais grande sabedoria
em antecipar as estações do ano, assim como uma força admirável em ressurgir do
lodo ou do solo após as vicissitudes climáticas.
O autor supracitado mostra que tal admiração deve ter criado um respeito
místico, que certamente contribuiu para o uso ritual das plantas nos primeiros
períodos. Similaridades superficiais peculiares, como o aspecto fortemente
antropomórfico das raízes da mandrágora, também acabaram por incluir tais plantas
em mitos e subsequentemente em rituais. Plantas com propriedades alucinógenas
foram rapidamente incluídas em rituais religiosos, e a elas foram atribuídas
propriedades mágicas de colocar os homens em contato direto com os deuses.
16
Ainda de acordo com Lorenzi (2002, p.38),
[...] Populações indígenas de Norte a Sul nas Américas incluíam o
tabaco em seus rituais, por seus efeitos narcóticos, hábito este
rapidamente transferido aos colonizadores europeus. Muitas vezes
os efeitos estupefacientes de determinadas plantas foram
extrapolados para aliviar a dor em doentes agonizantes. Em todas as
épocas e em todas as culturas, o homem aprendeu a tirar proveito
dos recursos naturais locais.
A utilização de plantas para fins terapêuticos constitui uma prática que vem
sendo desenvolvida desde as civilizações mais antigas, passando de geração a
geração. Sobre a importância dos vegetais para o homem primitivo como fonte de
fármacos Messegué (1976, p.8) afirma que:
Além de terem outros usos as plantas são importantes fontes de
fármacos e desde os primórdios o homem conhece essa
propriedade. A humanidade utiliza os vegetais para a proteção da
saúde e alívio de seus males desde o princípio de sua existência na
terra. No inicio da civilização havia forte dependência do homem em
relação à flora. Aos poucos as plantas foram selecionadas e
classificadas, surgindo assim as técnicas de cultivo. As plantas com
valor terapêutico foram usadas empírica e tradicionalmente,
passando de geração em geração.
Complementando as palavras de Messegué, Silva (1997, p.15), enfoca que:
Entre as mais antigas civilizações, a medicina, através das plantas
medicinais, já era praticada e transmitida desde os tempos mais
remotos: nas antiguidades egípcia, grega e romana, quando se
acumularam conhecimentos empíricos e foram transmitidos
posteriormente, através dos Árabes à seus descendentes europeus.
Sabe-se que, de acordo com a história da humanidade, as plantas medicinais
sempre representaram importantes fontes de fármacos. É sobre o uso dos
fitoterápicos que Silva Júnior et al., (1994, p. 28) declara:
A eficiência da Fitoterapia é assegurada por milênios de tradição.
Desde o alvorecer das primeiras civilizações, o homem tem feito uso
das plantas para o alívio de seus males. Sumerianos, chineses,
egípcios, hindus e gregos desenvolveram, em ordem cronológica,
autênticos tratados sobre fitoterapia.
17
Observa-se que o cuidado em estabelecer uma vida saudável tem-se
revelado fundamental, ao longo dos tempos. Raízes, folhas, flores, cascas de
troncos de árvores compõem um laboratório que remota à própria história da
humanidade.
Segundo Lima et. al. (2006), o processo de globalização envolve, dentre
tantos outros acontecimentos, o fenômeno irreversível, da expansão da comunidade
em todas as áreas. Como um dos desdobramentos, o conhecimento vem, então,
tornando-se um bem cada vez mais acessível a muitos. Não é diferente quando se
trata do saber popular, como parte da tradição de um povo, de um grupo em
particular.
O avanço das tecnologias de comunicação possibilitou uma divulgação
massiva das mais diversas terapias e elementos medicamentosos, sobretudo, dos
remédios elaborados sinteticamente. Contudo, tem-se observado, um certo
investimento em pesquisas que trazem à luz o conhecimento popular e secular das
plantas medicinais, para uso humano e animal, evitando dessa maneira, caírem no
esquecimento plantas cujos usos merecem divulgação e reconhecimento, inclusive
porque são de fácil uso caseiro (LIMA, 2006).
Percebe-se que, o uso de plantas como instrumento de prevenção e cura de
enfermidades é um dos traços mais genuinamente característicos da espécie
humana, encontrados praticamente em todas as civilizações estudadas, nas mais
diversas e distantes regiões do planeta.
Ainda de acordo com Lima et. at. (2006, p.01-02),
Desde a antiguidade, o homem aprendeu a conhecer as plantas e
tirar proveito de suas propriedades sobre o organismo. As plantas
foram por quase toda a história da humanidade a maior e mais
importante fonte de substâncias medicamentosas para aliviar e curar
os males humanos.
2.2 PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL
Segundo Lorenzi (2002), os primeiros europeus que chegaram no Brasil
depararam-se com uma grande quantidade de plantas medicinais em uso pelas
tribos que aqui viviam. Por intermédio dos pajés, o conhecimento das ervas locais e
18
seus usos eram transmitidos e aprimorados de geração em geração. Tais
conhecimentos foram prontamente absorvidos pelos europeus que passaram a viver
no país, principalmente aqueles que faziam excursões mais prolongadas no interior
(nos “sertões”), geralmente com o intuito de encontrar índios ou buscar pedras e
metais preciosos.
Complementando o pensamento, Lorenzi (2002) mostra que os escravos
deram sua contribuição com o uso de plantas trazidas da África, muitas delas,
originalmente utilizadas em rituais religiosos mas, também, utilizadas por suas
propriedades farmacológicas empiricamente descobertas. Com essa contribuição
africana os principais alicerces de toda tradição no uso de plantas medicinais no
Brasil foram fundados.
Até metade do século XX, o Brasil era um país essencialmente rural, com
amplo uso da flora medicinal, tanto a nativa quanto a introduzida. Com o inicio da
industrialização e subsequente urbanização do país, o conhecimento tradicional
passou a ser posto em segundo plano. O acesso a medicamentos sintéticos e o
pouco cuidado com a comprovação das propriedades farmacológicas das plantas
tornaram o conhecimento da flora medicinal sinônimo de atraso tecnológico e muitas
vezes charlatanismo. Essa tendência seguiu o que já acontecera em outros países
em processo de urbanização (LORENZI, 2002).
De acordo com Lorenzi (2002, p. 10), um aspecto que certamente contribuiu
para o afastamento do estudo das plantas medicinais e o restante da ciência foi a
ampla resistência desta primeira às profundas alterações que tanto a sistemática
vegetal quanto a medicina experimentaram no final do século XIX e todo o século
XX. Fortemente baseado em trabalhos mais clássicos, o estudo das plantas
medicinais mostrou uma resistência inicial a acompanhar as grandes revoluções
científicas ocorridas neste período. Essa inadequação inicial manteve a fitoterapia
em um período de obscurantismo, onde mais próxima do misticismo que da ciência.
O conhecimento sobre plantas medicinais brasileiras foi sistematizado em
vários trabalhos realizados por diversos cientistas, destacando-se: Manuel Freire
Alemão de Cysneiros (Sobrinho de Francisco Cysneiros) com a publicação de uma
série de artigos sob o título “Matéria médica brasileira” entre os anos de 1862 e
1864; Joaquim Monteiro Caminhoá que publicou em 1977 “Elementos de Botânica
Geral e Médica”; José Ricardo Pires de Almeida reuniu a contribuição de vários
19
especialistas para a publicação em 1887 de uma coleção de 4 volumes intitulado
“Formulário Official e Magistral.
Lorenzi (2002, p.16) afirma que,
No século XX a maioria das publicações surgidas constituiu-se em
compilações de trabalhos antigos, a maioria de caráter regional.
Cabe, contudo, ressaltar o trabalho gigantesco de compilação
realizado por Pio Corrêa “Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das
Exóticas Cultivadas” – uma coleção de 6 volumes, de caráter
nacional, lançado de 1926 até 1975. Como trabalho especifico sobre
o assunto, deve ser destacado a “Farmacopeia Brasileira” publicada
inicialmente em 1929 por Rodolpho Albino Dias da Silva,
apresentando informações sobre cem espécies de plantas.
Segundo Corrêa et. al., (1998, p.41), “as novas tendências globais de uma
preocupação com a biodiversidade e as ideias de desenvolvimento sustentável
trouxeram novos ares ao estudo das plantas medicinais brasileiras, que acabaram
despertando um interesse geral na fitoterapia”. Novas linhas de pesquisa foram
estabelecidas em Universidades brasileiras, algumas delas buscando base mais
sólida para a avaliação científica do uso de plantas medicinais.
Percebe-se
que
a
busca
por
novos
fitoterápicos
também
acabou
retroalimentando a pesquisa botânica no Brasil, que vislumbrou na prospecção de
potenciais produtos naturais de uso farmacológico, uma ótima justificativa para
intensificar seus trabalhos. Como já ocorrera nos primórdios das duas ciências, a
fitoterapia e a botânica voltaram a ser vistas como aliadas e cooperar para melhoria
da qualidade de vida do povo brasileiro (CORREA, et. al., 1998).
2.3 FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS
Corrêa et.al., (1998, p.42) afirmam que “uma planta é considerada medicinal
quando responde, positivamente, à aplicação do conjunto de ensaios capazes de
comprovar a existência da propriedade terapêutica que lhe é atribuída, bem como
seu grau de toxidade nas doses compatíveis com emprego medicinal”. Ou seja, a
validação de novas drogas vegetais através da pesquisa é o caminho para que se
possa fazer o real aproveitamento das plantas medicinais e seus derivados
aplicados à fitoterapia.
Sabe-se que o uso de plantas medicinais se perde no tempo e na história do
ser humano. Em busca de aliviar as suas dores e enfermidades o homem foi
20
impelido, através dos séculos, a analisar os fenômenos da natureza a fim de
encontrar soluções que o ajudasse a minimizar seus sofrimentos. De modo
significativo, a procura por novas formas de tratamento trouxe para a humanidade a
possibilidade de um maior controle sobre a vida ao longo dos séculos.
A medicina, por sua vez, utiliza dos dados colhidos pelos estudos
etnobotânicos, farmacológicos e fitoquímicos para utilizar os vegetais como uma
forma de terapia alternativa. Este foi o tema da 10ª Conferencia Nacional de Saúde,
realizada em Brasília, no ano de 1996, onde, na ocasião, discutiu-se muito a respeito
da incorporação da fitoterapia, da homeopatia e da acupuntura como práticas
terapêuticas alternativas no Sistema Único de Saúde (SUS), em todo o território
nacional (OMS, 1978)
O uso de plantas medicinais e fitoterápicos, com finalidade profilática,
curativa, paliativa, ou para fins de diagnóstico, passou a ser
oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
em 1978, quando realizou uma conferência em Alma- Ata (antiga
URSS) onde foi estabelecida uma declaração na qual constava que o
cuidado integral para todos e por todos é uma necessidade não só
no âmbito da saúde, mas para o futuro dos países que aspiravam
continuar sendo nações soberanas em um mundo cada dia mais
injusto (OMS, 1978, p. 64).
As práticas da medicina tradicional expandiram-se globalmente na última
década e ganharam popularidade. São incentivadas não somente pelos profissionais
que atuam na rede básica de saúde, mas também por diversas instituições sociais,
que de modo correto, procuram divulgar o uso apropriado das práticas caseiras de
plantas medicinais para o uso humano. Assim, conhecer o maior número de vegetais
com propriedades medicinais poderá ser um fator determinante na cura de
enfermidades que até hoje são tratadas, mas que não são sanadas por completo,
tais como o câncer, a AIDS e outras enfermidades (BRASIL, 2004).
É relevante ressaltar que os fitoterápicos são formas terapêuticas distintas
das plantas medicinais in natura. Enquanto os fitoterápicos são medicamentos
obtidos
por
processos
tecnologicamente
adequados,
empregando-se
exclusivamente matérias-primas vegetais, como finalidade profilática, curativa,
paliativa ou para fins de diagnóstico, as plantas medicinais são aquelas que podem
ser usadas no tratamento ou na prevenção de doenças, que tem no mínimo um
principio ativo que é a substância responsável pelo efeito curativo (BRASIL, 2004).
21
Em se tratando da implementação de políticas voltadas à utilização de plantas
em medicina tradicional, a Resolução 40.33 da 40ª Assembleia Mundial de Saúde,
retirou os principais pontos das recomendações feitas pela Conferencia Internacional
de Cuidados Primários em Saúde (Alma-Ata, 1978) e recomendou enfaticamente
aos Estados-Membros:
Iniciar programas amplos, relativos à identificação, avaliação,
preparo, curativo e conservação de plantas usadas em medicina
tradicional; assegurar o controle da qualidade das drogas derivadas
de medicamentos tradicionais, extraídas de plantas, pelo uso de
técnicas modernas e aplicações de padrões apropriados de Boas
Práticas de Fabricação (BPF).
Os documentos oficiais mais recentes apresentados na área de fitoterápicos
são: o Decreto nº. 5.813, de 22 de junho de 2006, que aprova a Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e a portaria 917, de 03 de maio de
2006, que aprova a Política Nacional de práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC). Esta última tem como objetivo, no âmbito das plantas medicinais e
fitoterapia, garantir à população brasileira o acesso ao uso racional das plantas
medicinais, promovendo o uso da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia
produtiva e a sustentabilidade da indústria nacional. De acordo com a Política, para
tornar disponíveis plantas medicinais e/ou fitoterápicos nas unidades de saúde, de
forma complementar (BRASIL, 2006).
Faz-se necessário, portanto, que haja mais incentivo por parte dos
representantes da saúde e das instituições de ensino para que assegure a
sociedade uma prática segura do uso de medicamentos alternativos. A portaria
acima citada também prevê o incentivo, por parte das universidades, a estimularem
os acadêmicos a realizarem trabalhos monográficos que tratem da utilização de
plantas medicinais.
Atendendo uma demanda da sociedade brasileira, o Ministério da Saúde criou
duas políticas para normalizar o uso de plantas medicinais e fitoterápicas no Sistema
Único de Saúde (SUS). Desde o final de setembro de 2005, um grupo de trabalho
composto por representantes de diversos Ministérios, Casa Civil, Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), se reúne para
elaborar o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas. Após cinco
anos de discussão entre o governo, comunidade científica e a Casa Civil, em 22 de
22
junho de 2006, foi assinado o decreto nº 5.813 que deliberou sobre a Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas (BRASIL, 2006).
2.4 AS PLANTAS MEDICINAIS PARA O USO HUMANO
O uso de plantas medicinais se perde no tempo e na história do ser humano.
De modo significativo, a procura por novas formas de tratamento trouxe para a
humanidade a possibilidade de um maior controle sobre a vida ao longo dos séculos.
Por muito tempo a medicina e a botânica integraram um mesmo ramo da
ciência, “foi nos últimos 150 anos, aproximadamente, que passaram a existir
profissionais botânicos distintos dos médicos” (RAVEN, et. al., 2007). Entretanto,
nota-se que estas se complementam quando tratam de abordar as plantas
medicinais para o uso humano, uma vez que algumas ramificações da botânica, tal
como “a etnobotânica que é ciência que se ocupa do estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas pelas sociedades a respeito do mundo vegetal,
englobando o uso que se dá a eles” (AMOROZO, 1996).
2.4.1 Importância das Plantas Medicinais
Os vegetais medicinais, catalogados nos estudos etnobotânicos, são
classificados de acordo com as propriedades do vegetal e as formas que atuam no
metabolismo humano com uma ação farmacológica específica. A identificação da
ação dos medicamentos naturais é feita através de estudos etnofarmacológicos,
fitoquímicos, entre outros (OLIVEIRA et al., 2007).
A explicação dos componentes ativos presentes nas plantas, bem como seus
mecanismos de ação, é um dos maiores desafios para a área farmacêutica. Como
se sabe, as plantas contêm muitos constituintes e seus extratos são identificados
através da seleção de bioensaios, os quais são usados para à descoberta do efeito
específico de cada vegetal medicinal no organismo humano e/ou animal (OLIVEIRA
et al., 2007).
Oliveira et.al., (2007) enfocam ainda, que se faz também a identificação da
toxicidade das plantas medicinais antes de serem administradas, pois assim, com a
identificação das propriedades terapêuticas os profissionais de saúde poderão
23
utilizá-las com maior segurança, proporcionando os menores riscos à saúde
humana.
De acordo com Alves et al. (2006, p. 2), o conhecimento científico das
propriedades dos vegetais e ação no organismo humano é um auxílio na prevenção
e tratamento de diversas patologias. A utilização dos vegetais pelos humanos
permite melhor qualidade de vida quando acompanhada de hábitos saudáveis, e tem
aumentado significativamente a expectativa de vida em muitos lugares do mundo.
A classificação das plantas medicinais é feita de acordo com a sua
propriedade terapêutica, que é determinada pela ação dos princípios ativos. Assim,
neste trabalho constam as principais classes de plantas medicinais, que segundo
Lima et al. (2006) podem ser descritas como plantas sedantes; plantas redutoras do
apetite; plantas diuréticas; plantas afrodisíacas: plantas anafrodisíacas: plantas
antibióticas; plantas abortivas; plantas antidiarréicas; plantas adstringentes; plantas
balsâmicas; plantas bronco-dilatadoras; plantas expectorantes; plantas colagogas
(facilitam o esvaziamento); plantas depurativas; plantas eméticas (provocam vômito
com a finalidade terapêutica); plantas galactagogas (facilitam a secreção de leite nas
mulheres que amamentam); plantas hemostáticas (detém as hemorragias); plantas
laxantes: plantas narcóticas; plantas purgantes; plantas vermífugas; plantas
salicílicas (analgésicos ou anti-inflamatórios) e plantas sedativas.
2.4.2 Formas de Preparo das Práticas Caseiras de Plantas Medicinais
Para tratamento com plantas medicinais é necessário se ter cuidado na
coleta, dessecação, armazenamento e preparação das plantas ou partes das plantas
para uma utilização correta enquanto fitoterápicos. A secagem de plantas medicinais
visa atender a indústria farmacêutica de fitoterápicos, que não dispõe de meios para
usar plantas frescas verdes em quantidade necessária à produção industrial
(FREIRE et. al., 1933).
As plantas medicinais podem ser preparadas de diversas maneiras. Há
aquelas que são ingeridas, chamadas de uso interno, como chá, infuso, maceração,
tintura e aluá. Há também aquelas de uso externo, a exemplo do emplastro. A
preparação requer muitos cuidados, pois aquelas de uso externo, a exemplo do
emplastro, carecem de muita higiene para evitar efeitos colaterais, a exemplo de
24
inflamações. Os materiais utilizados para preparar os remédios, como papeiros,
colheres, xícaras e coadores devem estar sempre limpos, livres de contaminação.
As formas de preparo das práticas de plantas medicinais abaixo descritas
estão literalmente descritas de acordo com Freire et al. (1933, p. 252-254):
Aluá: Bebida parcialmente fermentada com raízes amiláceas. É preparada a
partir da tritura de 100g de raiz livre de impurezas, em meio litro de água num
recipiente que possa ser vedado. Após o preparo, deixa-o repousar por um dia. O
líquido fermentado deve ser coado com o auxílio de um pano fino. O aluá não deve
ficar em repouso por mais de um dia, uma vez que, depois de iniciado o processo de
fermentação a bebida pode se tornar azeda.
Cataplasma: É preparado em geral, por aquecimento, adicionando-se farinha
e água à planta triturada. Às vezes, usa-se o decocto da planta em lugar da água.
Deve ser aplicada sobre a área afetada, entre dois panos finos, deve também ser
usado quente na resolução de tumores e de furúnculos. O uso morno pode ser
empregado nas inflamações dolorosas por entorses e contusões.
Chá: Há três procedimentos mais comuns em sua preparação:
1. Chá por infusão: é preparado juntando-se água fervente aos pedaços de
erva, na proporção de 150ml para 10g da planta fresca ou 5g da planta
seca.
2. Chá por decocção ou cozimento: prepara-se colocando a planta na água
fria e levando-se ao fogo durante 10 a 20min, ou até obter fervura,
dependendo da consistência da parte da planta empregada.
3. Chá por maceração: deve ser preparado mergulhando a planta amassada
ou picada em água fria por um período de 10 à 24hs, dependendo da
parte utilizada.
Inalação: Esta preparação se constitui na ação combinada de vapor de água
quente com o aroma dos óleos essenciais, como o eucalipto, bamburral e alecrim do
tabuleiro (usado como antigripal). O processo de preparo e uso de inalação requer
cuidados especiais em decorrência do risco de queimaduras, principalmente em
crianças. Para adultos, coloca-se meio litro de água fervente sobre porções da
planta contida numa panela. Recomenda-se a aspiração dos vapores de forma
rítmica (aguardar 3 segundos para aspirar e até 3 segundos para expelir o ar), por
períodos de 15 minutos.
Lambedor ou xarope: Trata-se de preparação espessa, usada no tratamento
de dores de garganta, tosse e bronquite. Junta-se parte do chá ou cozimento,
25
conforme o caso, com uma parte do açúcar cristalizado. O xarope é obtido a frio,
filtrando a mistura e agitando-a 3 a 4 vezes diariamente, durante três dias. O xarope,
a quente, é obtido fervendo-se a mistura até desmanchar o açúcar. Deixa-se esfriar
e filtra-se da mesma maneira. É necessário conservar o lambedor em frasco limpo,
esterilizado e lavado depois de fechado, para evitar a fermentação e o ataque de
fungos e formigas.
Pós: O pó é fácil de ser preparado, pode ser usado tanto por via oral como
por via tópica. Seca-se a planta até ficar quebradiça, depois do processo da
secagem, a planta deve ser triturada e peneirada com uma peneira ou pano fino. No
caso de cascas e raízes é indicado que se rale ou pise, passando numa peneira fina.
Para uso oral, mistura-se o pó ao leite ou mel de abelha. Para uso tópico, usa-se
sempre o pó puro, cobrindo o ferimento com uma fina camada. Quando bem seco,
pode ser usado por um período de três meses.
Sinapismo: É um tipo especial de cataplasma, no qual se adiciona mostarda,
pimenta-malagueta, gengibre e outras plantas. É usado como derivativo nos casos
de inflamações internas.
Tintura: É um tipo de preparação por maceração ou percolação com álcool de
cereais ao invés de água. A maceração é o processo mais prático. Neste caso, é
preciso uma porção específica entre as quantidades de planta e álcool que serão
utilizadas no preparo das tinturas. Em geral, as partes vegetais trituradas (frescas ou
secas) são mergulhadas em álcool durante 8 a 10 dias. Em seguida, côa-se a
mistura, filtra-se, e armazena-se com proteção contra a luz e o ar. No caso de
plantas frescas usa-se 500g de planta para 100ml de álcool 92°GL. Quando a tintura
é feita a partir do material fresco, essa preparação é denominada de alcoolatura. Em
plantas secas, usa-se 25g de planta para uma mistura de 700ml de álcool
farmacêutico 92°GL e de 300ml de água. Para o preparo da tintura de algumas
plantas, como aroeira, alecrim, pimenta e macela, pode usar álcool mais diluído (a
20%) com água. Nunca se deve utilizar álcool comum. Utiliza-se sempre álcool
farmacêutico.
Tisana: São preparações líquidas de uso interno, mais conhecidas como chá,
infuso, decocto simples ou composto, usadas desde a antiguidade. Acrescentam-se
ervas e água fervente em uma panela tampada. É necessário que se deixe ferver
por mais 5 minutos e em seguida deve ser colocado para resfriar em um vasilhame,
devendo ser consumido logo em seguida.
26
Vinho medicinal: Trata-se de um estimulante, feito com vinho tinto. Deixa-se
uma ou mais plantas trituradas em maceração no vinho durante oito dias, conforme
o caso. É o mesmo processo aplicado de forma caseira com as sementes de
sucupira branca (Pterodon polygaliflorus), que são deixadas em maceração em
preparado farmacêutico comercial do tipo vinho.
2.4.3 Uso de Plantas Medicinais Durante a Gestação
A utilização de plantas medicinais é amplamente difundida e a maior parte
dos fitoterápicos comercializados é de venda sem prescrição médica. As pessoas
que fazem uso de algum medicamento fitoterápico raramente informam o fato aos
profissionais da saúde. “Um dos principais problemas da utilização destes produtos
é a crença de que produtos de origem vegetal são isentos de reações adversas e
efeitos tóxicos” (RATES, 2001; GALLO & KOREN, 2001).
O uso deliberado de alguns medicamentos podem algumas vezes, causar
sérios danos à saúde, devido a falta de informação sobre a real ação dos compostos
de cada planta. “A regulamentação brasileira exige que medicamentos fitoterápicos
tenham sua eficácia e segurança comprovadas, inclusive segurança para uso na
gravidez e lactação” (BRASIL, 1996; BRASIL, 2004).
Algumas das plantas utilizadas pelas mulheres grávidas possuem ação
abortiva, o que coloca em risco a saúde da gestante e do bebê. “Gestantes e
lactantes constituem um grupo populacional que culturalmente recorre ao uso de
plantas medicinais, por acreditarem que não causam danos ao feto ou ao bebê”
(WEIER & BEAL, 2004). No entanto, as informações sobre a segurança de utilização
destes produtos durante a gravidez são escassas. Levando em conta todos estes
aspectos, este trabalho procura de certa forma informar coerentemente o emprego
de produtos de origem vegetal durante a gravidez, alertando sobre os riscos de sua
utilização durante este período.
De acordo com um estudo realizado por Moreira et al. (2001, p. 518)
evidenciou-se que:
Sócio-economicamente as mulheres que utilizavam recursos
farmacológicos para tentar induzir aborto verificou que 74,8% delas
provinham de classe sócio-econômica baixa, sem rendimentos
próprios ou recebendo até um salário mínimo por mês. Quanto à
instrução apresentada 61,1% tinham o 1° grau incompleto ou eram
27
analfabetas. A faixa etária modal foi de 19 a 30 anos, e o grupo
étnico prevalente, mulato ou negro.
Observa-se que a busca por remédios de origens vegetais com ação abortiva
é frequente em mulheres com poder aquisitivo inferior; as mesmas não são bem
instruídas e estas acabam utilizando estes medicamentos com intenção de
interromper uma gravidez indesejada. A Tabela 2 mostra a relação das dez plantas
mais utilizadas como abortivas por pacientes do Serviço Pré-natal do Sistema Único
de Saúde do Brasil:
Quadro 1 - Plantas com propriedades abortivas mais utilizadas por pacientes do
Serviço Pré-natal do Sistema Único de Saúde
N°
1
Nome popular
Sene
2
3
4
5
Arruda
Boldo
Buchinha-do-norte,
Cabacinha
Marcela
6
Quina-quina
7
Canela
8
Cravo
9
Aroeira
10
Agoniada
Nome Científico
Senna alexandrina
Mill.
Ruta graveolens L.
Peumus boldus Molina
Luffa operculata (L.) Cogn.
Família
Fabaceae
Rutaceae
Monimiaceae
Cucurbitaceae
Egletes viscosa (L.) Less.
Asteraceae
Achyrocline satureioi dês
(Lam.) DC.
Coutarea hexandra (Jacq.) Rubiaceae
K. Shum
Cinnamomum verum
Lauraceae
J. Prest
Syzygium aromaticum (L.) Mytaceae
Meer. B. L. M. Perry
Anacardiaceae
Astronium graveolens Jacq.
Mimatanthus
lancifolicus
(Mull.
Woodson
Apocynaceae
Arg.)
Fonte - Moreira et al., 2001.
O uso indiscriminado dos medicamentos naturais no período da gestação
pode colocar em risco a saúde da mulher e do bebê. Por conseguinte, se a gestante
for utilizar algum tipo de planta medicinal, é imprescindível que essa recorra à
orientação de um profissional devidamente qualificado.
28
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO E LOCAL DE ESTUDO
Este estudo adotou o método de procedimento indutivo com Pesquisa de
Campo. Foi realizado com moradores de uma comunidade da zona urbana do
município de Santa Luzia – PB.
O município de Santa Luzia localiza-se na Mesorregião da Borborema e na
Microrregião do Seridó Ocidental Paraibano. Possui uma área de 447 km 2 e posição
geográfica determinada pelo paralelo de 06º52'20'', de latitude sul, em sua
interseção com o meridiano de 36º55'07'', de longitude oeste. Está localizado na
Região Semiárida do Nordeste brasileiro e, segundo o IBGE (2010); atualmente,
conta com uma população de 14.729 habitantes, sendo que 13.489 representam a
população urbana local.
Apresenta clima semiárido quente com grandes irregularidades pluviométricas
com precipitações anuais em torno de 550 mm e chuvas concentradas entre os
meses de janeiro a abril. Os solos são rasos e pedregosos, tendo uma vegetação
subxerófila, decídua, representada por pequenas árvores ou arbustos, geralmente
espinhosos, árvores esparsas, ocorrência de plantas suculentas e estrato herbáceo
efêmero, como também a presença de áreas de caatinga arbórea (IBGE, 2010)..
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população pesquisada são moradores da Micro Área V do PSF II no Bairro
São José, no município de Santa Luzia-PB, composta por 551 membros. Foram
entrevistadas 130 pessoas, que representam as 130 famílias que compõem a
comunidade em estudo. A escolha por essa comunidade deve-se basicamente a
duas peculiaridades: ser totalmente urbana e o autor da pesquisa atuar nela como
agente comunitário de saúde. Adotou-se como critério para responder ao
questionário, o membro da família que estivesse na casa e que pudesse colaborar
naquele momento, caso contrário, o questionário seria aplicado em outro dia.
29
3.3 INSTRUMENTO PARA A COLETA DE DADOS
A coleta de dados para esta pesquisa ocorreu por meio de um questionário
composto por 18 questões, com perguntas objetivas e subjetivas. O questionário foi
elaborado contemplando duas partes: na primeira constou da identificação dos
entrevistados e na segunda, o conhecimento dos mesmos sobre as plantas
medicinais (APÊNDICE A).
3.4 PROCEDIMENTO PARA COLETA DOS DADOS
Os questionários foram aplicados para um membro da família que estivesse
na casa e que pudesse responder naquele momento, caso contrário, o questionário
seria aplicado em outro dia. Vale ressaltar que esta etapa foi facilitada em virtude do
autor, na condição de agente comunitário de saúde atuar naquela comunidade há,
aproximadamente, seis anos.
Neste questionário, procurou-se identificar o conhecimento de 130 membros
que representaram suas famílias sobre plantas medicinais. As perguntas foram
feitas de forma objetiva, com uma linguagem bem popular para isentar o mínimo de
dúvidas nos entrevistados.
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
Os dados coletados foram analisados por meio da estatística descritiva; os
resultados estão apresentados em forma de quadro e gráficos; em seguida foi feita a
discussão dos dados apurados, tendo por base a fundamentação teórica.
3.6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
Considerando que a pesquisa contemplou entrevistas com moradores da
comunidade já identificada, ou seja, envolvendo seres humanos, procurou-se
adequá-la a Resolução Nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, fazendo com
que os entrevistados assinassem antes de responder ao questionário, o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXOS A e B).
30
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS:
A sistematização dos dados relacionados ao perfil dos entrevistados,
possibilitou a seguinte caracterização: a maioria do sexo feminino (75,38%) e
24,62% sexo masculino. Acredita-se que a maior proporção de pessoas do sexo
feminino é devido a estrutura familiar dominante na região Nordeste, em que as
mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas.
Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos, a exemplo de
do que foi relatado por Cunha e Bortolotto (2011), que ao realizarem um trabalho no
assentamento Monjolinho, no município de Anastácio no Mato Grosso do Sul, 77%
dos entrevistados eram do sexo feminino.
Quanto ao local de nascimento, 76,15% nasceram na zona urbana, e 23,85%
nasceram na zona rural.
Quanto à raça, 71,53% se autodeclararam brancos, 20%
pardos, e 8,47% negros. Com relação ao estado civil, 63,84% são casados, 27,69%
solteiros, 6,15% viúvos, e 2,32% separados. Está última informação retrata que a
maioria (63,84%) apresenta uma estrutura familiar estável.
Em relação ao nível de escolaridade 59,23% são pessoas com o ensino
médio completo, 16,92% com o ensino fundamental incompleto, 6,92% ensino médio
incompleto, 6,92% com o ensino superior, 6,15% fundamental completo e 3,86%
analfabetos. É interessante destacar que o nível de escolarização é fator
fundamental para analisar se o uso de plantas medicinais está associado ao nível de
instrução das pessoas (Gráfico 1).
31
Gráfico 1 – Nível de escolaridade dos informantes
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
MC
MI
FC
FI
NS
ANF
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
4.2 CONHECIMENTOS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
No que tange ao uso de remédios feitos por plantas medicinais, 89,23% dos
entrevistados falaram que usam ou já usaram remédios oriundos de plantas
medicinais. Apenas 10,77% falaram que nunca usaram remédios de plantas
medicinais.
A análise desses dados configura a importância do uso de plantas medicinais
como auxílio para o tratamento de algumas doenças, ajudando a combatê-las. De
acordo com Amorozo e Gely (1998), as pesquisas com plantas medicinais podem,
não só contribuir para o melhor uso destes recursos pela população, mas também
trazer à luz o conhecimento de novas e efetivas drogas no combate a diversos
males.
Ao perguntarmos se já tiveram ou têm horta com plantas medicinais, 28,46%
disseram que sim, enquanto 71,54% disseram que não. Ao realizar a seguinte
análise, nota-se que uma pequena parcela possui uma horta com plantas
medicinais. Acredita-se que esse resultado pode está relacionado à falta de
conhecimento a respeito dos benefícios oriundos do uso dessas plantas ou a perda
da prática tradicional de uso de plantas medicinais. Não se pode deixar de
considerar que no Sistema de Saúde Brasileiro (SUS), as comunidades dispõem de
32
postos de saúde nas imediações de suas casas e a grande recomendação médica é
para o uso de remédios alopáticos.
Segundo Maciel et. al., (2002), o uso de plantas medicinais cultivadas em
quintais ou em hortas é uma prática baseada no conhecimento popular, e na maioria
das vezes, repassado de geração para geração. O conhecimento sobre as plantas
medicinais representa, para algumas comunidades e grupos étnicos, o único recurso
terapêutico e, dessa forma, usuários de plantas medicinais de todo o mundo,
mantém a prática do consumo de remédios a partir de plantas medicinais, tornando
válidas informações que foram sendo acumuladas durante séculos. Entretanto, as
modernas condições de vida dessas populações comprometem a transmissão desse
conhecimento para outras gerações.
É importante a orientação quanto ao cultivo e manejo correto das plantas
medicinais. A horta contribui com a conservação de várias espécies, não somente
no meio rural, mas no meio urbano. A cultura do uso e cultivo de plantas medicinais
em comunidades (rural ou urbana) constitui importante recurso local para a saúde e
sustentabilidade do meio ambiente.
Na sequencia foi questionado se os remédios que eles mais usam são de
plantas da Caatinga, ou de outros biomas. Neste caso, para elucidar mais a
pergunta utilizou-se os termos “outros Estados fora do Nordeste” no que se refere a
outros biomas.
Dos 130 entrevistados, 116 responderam as duas alternativas, porque 14 não
souberam responder se respaldando na isenção de conhecimento sobre o assunto,
alegando também nunca terem tido contato com plantas medicinais. Dos 116 que
responderam 94,82% falaram que as plantas que mais usam são da Caatinga, e
5,18% falaram que são plantas de outros biomas. Essas respostas mostram a falta
de conhecimento da grande maioria dos entrevistados sobre plantas nativas e
exóticas, pois a grande maioria das plantas citadas pelos entrevistados são exóticas.
Os resultados acima divergem do que relata a literatura, uma vez que,
segundo Amorozo (1996), toda sociedade humana acumula um acervo de
informações sobre o ambiente que o cerca, que vai lhe possibilitar interagir com ele
para prover suas necessidades de sobrevivência. Neste acervo, inscreve-se o
conhecimento relativo ao mundo das plantas com o qual estas sociedades estão em
contato.
33
Percentual de moradores
Gráfico 2 – Percentual de moradores da comunidade que utilizam plantas da
caatinga e de outros biomas
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Caatinga
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Outros Biomas
Origem das plantas medicinais
As plantas foram indicadas principalmente para o tratamento de males
associado ao: aparelho digestório, aparelho respiratório, nervoso, circulatório,
urinário, reprodutor feminino, cicatrizante, anti-inflamatório e para dores no corpo.
Para o tratamento de problemas relacionados ao aparelho respiratório, varias
espécies foram citadas para combater tosse e dor de garganta.
Foi solicitado que os entrevistados listassem para quais enfermidades eles
mais usavam plantas medicinais. 116 entrevistados listaram doenças como gripe
(63), problemas de diarreia (40), problemas de estômago (37), inflamações na
garganta (15), dor de cabeça (13), diabetes (9), stress (9), problemas renais (8),
hipertensão arterial (7), cólicas (6), pneumonia (5), problemas respiratórios (4),
próstata (2), fraturas(2), AVC (2), dor de dente(1). Erisipele (1), reumatismos (1),
ameba (1), coluna(1) e gastrite (1). Deduz-se que a comunidade estudada ainda
utiliza as plantas medicinais como forma de curar muitas enfermidades (Quadro 2).
34
Quadro 2 – Doenças tratadas com plantas medicinais
Nº
Doenças
Numero de citações
1
Gripe
63
2
Problemas de diarreia
40
3
Problemas de estômago
37
4
Inflamação na garganta
15
5
Dor de cabeça
13
6
Diabetes e Stress
9 cada uma
7
Problemas Renais
8
8
Hipertensão arterial
7
9
Cólicas
6
10
Pneumonia
5
11
Problemas respiratórios
4
12
Próstata, fraturas e AVC
2 cada uma
13
Dor de dente, Erisepele, reumatismo, ameba,
coluna e gastrite.
1 cada uma
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Com relação aos tipos de remédios que mais usam, se são plantas medicinais
ou alopáticos, dos 130 que responderam, as respostas foram as seguintes: 40%
usam plantas medicinais, 44,62% alopáticos e 15,38% usam os dois (Gráfico 3).
Esses dados mostram que o número de pessoas usando plantas na cura e
prevenção de doenças é bastante significativo, principalmente levando em
consideração que a cidade de Santa Luzia dispõe de Unidades Básicas de Saúde,
inclusive na comunidade, uma policlínica e um hospital. Observa-se que o povo
ainda guarda a cultura de utilização das plantas medicinais.
35
Gráfico 3 – Os tipos de remédios mais utilizados
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Procurou-se saber a origem da informação sobre os benefícios dos remédios
fitoterápicos. Através dos pais tiveram (91) citações, amigos (6), e outros meios
como, a literatura tiveram (11) (Gráfico 4). Estudos similares realizados em outras
regiões mostram que os entrevistados dos referidos estudos também aprenderam
com os pais, amigos e vizinhos, sendo a observação direta das atividades dos
progenitores, a forma mais frequente de aprendizado (MING e AMARAL
JÚNIOR,1996; RODRIGUES; GUEDES, 2006). Os dados levantados mostram que a
origem de conhecimento dos usos de plantas medicinal na comunidade entrevistada
é predominantemente através dos pais.
36
Gráfico 4 – Origem do conhecimento sobre os benefícios das plantas medicinais
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Onde as plantas medicinais são mais encontradas foi uma das perguntas
feitas aos entrevistados. As respostas dos 116 entrevistados constam no Gráfico 5.
Verfica-se ser comum a obtenção de plantas medicinais em feiras livre,
supermercados, canteiros nas residências de vizinhos. Pode-se observar que o fato
das plantas medicinais serem encontradas mais no mato, é devido a forte ligação
com a zona rural. Essa ligação é explicada visto que a maioria dos pais dos
entrevistados é oriunda da zona rural.
37
Gráfico 5 – Origens das plantas medicinais utilizadas pelos moradores da
comunidade de Santa Luzia
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Quando
indagados
sobre
o
êxito
das
plantas
medicinais,
97,42%
responderam que obtiveram êxito com os remédios de origem de plantas medicinais.
Se já passaram mal com o uso desses remédios, 2,58% disseram que tiveram
afecções como diarreias e problemas estomacais. Esse resultado aponta para a
preocupação que se deve ter quanto à forma de obtenção dos remédios preparados
a base de plantas medicinais pois, como orientam especialistas, é necessário que
se tomem alguns cuidados quanto a procedência destes vegetais para evitar
complicações.
Perguntou-se qual a planta ou remédio fitoterápico que mais conhecem.
Várias plantas foram citadas são exóticas. As plantas mais citadas foram: erva
cidreira, (48), hortelã da folha miúda (47), hortelã da folha grande (37), marcela (24),
limão (20), sabugueiro (20), eucalipto (17), boldo (14), mastruz (13), romã (13), none
(8), cajueiro, capim santo, camomila, quebra-pedra (7 cada um), cumaru, aroeira,
coroa de frade, endro, maracujá, 6 cada uma, pepino 5, chá preto, chuchu, babosa
(4 cada uma), chanãna, erva doce, pepaconha (3 cada uma), quixabeira, cebola,
alecrim, arruda, fedregoso, sena (2 cada uma), outros como agrião, gengibre, casca
de jurema preta, raiz de mussambê, catingueira, sucupira, nóz moscada, chá de
38
goiabeira, imbuzeiro, mororó, malva do reino, carqueja, abacaxi (uma citação cada)
(Quadro 3).
De acordo com a interpretação desse resultado, verifica-se que, a grande
maioria dos entrevistados conhece uma infinidade de plantas medicinais, e isso
pode ser decorrente do fato de terem utilizado algumas dessas plantas citadas para
cura de enfermidades.
Quadro 3 – Espécies medicinais utilizadas pelos moradores de uma comunidade de
Santa Luzia-PB, nome vulgar, nome científico, indicações e quantidade de citações
indicadas.
Nome vulgar
Nome Científico
Família
Indicações
Numero de
citações
Problemas digestivos, acido
úrico.
1
Diabetes, bronquites, torce e
tuberculose pulmonar.
1
ABACAXI
Ananas comosus
Bromeliaceae
AGRIÃO
Acmella oleracea
(L.)
Asteraceae
Rosmarinus
officinalis L.
Labiadas
Má digestão, dor de cabeça.
2
ALECRIM
AROEIRA
Astronium
graveolens Jacq.
Anacardiáceae
Cicatrizante e diarreias.
6
ARRUDA
Ruta graveolens L.
Rutaceae
Atuam
em
problemas
menstruais,
doenças
do
fígado,
dor
de
ouvido,
inflamação, febre e câimbras.
2
BABOSA
Aloe
vera
Burm. F.
Liliáceas
Trato dos cabelos e antiinflamatório.
4
BOLDO
Peumus
Molina
Monimiaceae
Distúrbios no estomago
cólicas intestinais.
CAJUEIRO
Anacardium
occidentale L.
Anacardiaceae
Tem ação anti-inflamatória,
adstringente,
antidiarreica,
antiasmática, depurativa e
tônica, pode agir no combate a
diabetes.
7
CAMOMILA
Chamomila recutita
(L.) Rauschert
Asteraceae
Calmante, combater cólicas.
7
CAPIM SANTO
Cymbopogon
Poaceae
Age
como
sedativo
e
aspasmolítico. O chá das
folhas é empregado para o
alívio de cólicas uterinas e
intestinais, e no tratamento do
nervosismo.
7
CAQUEJA
Baccharis spp.
Asteraceae
Diarreias
reumáticos.
1
(L.)
boldus
e
e
problemas
14
39
CASCA
JUREMA
PRETA
DE
Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poir.
Fabaceae
Erisipelas e úlceras.
1
CHÁ PRETO
Camellia sinensis
(L.) Kuntze
Teáceas
Dor de cabeça e diarreias.
4
CHANANA
Turnera ulmifolia L.
Turneraceae
Colicas menstruais e dor de
dente.
3
CEBOLA
Hippeastrum
puniceum
Alliaceae
Catártica,
purgativa
antiasmática.
2
CHUCHU
Sechium
(Jacq.) Sw.
Cucurbitaceae
Hipertensão arterial.
4
Leonotis
nepetaefolia
Labiadas
Pneumonia.
6
CUMARU
Amburana
cearenses
(Allemão) A.C. Sm.
Leguminosaspapileonáceas
Gripes e resfriados.
6
ENDRO
Anethum
graveolens
Apiaceae
Estomáquico, diurético.
6
ERVA
CIDREIRA
Melissa
L.
Lamiaceae
Cólicas menstruais, problemas
digestivos.
48
ERVA DOCE
Pimpinella anisum
L.
Apiaceae
Utilizada
contra
resfriado,
tosse,
bronquite,
febre,
cólicas,
inflamações
orofaríngeas e má digestão.
3
EUCALIPTO
Eucalyptus
globulus Labill.
Heliotropium
indicum
L.
Mirtáceas
Gripe, tosse e sinusite.
Zingiber
officinale Roscoe
COROA
FRADE
DE
FEDEGOSO
edule
officinalis
Boraginaceae
e
17
Febre e problemas de fígado.
2
Zingiberaceae
Gripes e
garganta.
1
Plectranthus
amboinicus (Lour.)
Lamiaceae
Tosse, dor de garganta e
bronquite.
37
HORTELÃ DA
FOLHA MIÚDA
Mentha
Huds
Lamiaceae
Problemas digestivos.
47
IMBUZEIRO
Spondias tuberosa
Anacardiaceae
Diarreia
garganta
LIMÃO
Citrus limon
Burm F.
Rutaceae
Acidez na boca, no estomago,
gripes, asmas, entre outros.
Plectranthus
amboinicus
Lamiaceae
Gripe.
MACELA
Achyrocline
satureioides
Asteraceae
Dor de barriga
MARACUJÁ
Passiflora
Sims
Passifloraceae
Calmante e suave indutor de
sono
GENGIBRE
HORTELÃ
FOLHA
GRANDE
MALVA
REINO
DA
DO
x
villosa
(L.)
edulis
inflamações
e
afecções
da
na
1
20
1
24
6
40
MASTRUZ
Chenopodium
ambrosioides
Chenopodiacea
e
Fraturas e inflamações
MORORÓ
Bauhinia
Link.
Fabaceae
Afcções renais e diarreias.
1
NONE
Morinda citrifolia L.
Rubiaceae
Hipertensão e diabetes.
8
NÓZ
MOSCADA
Myristica Fragans
Myristicaceae
Diarreia e febre
1
PEPACONHA
Cephaelis
ipepacuanha
Rubiaceae
Bronquite,
diarreia
PEPINO
Cucumis sativus L.
Cucurbitaceae
Hipertensão arterial
5
QUEBRAPEDRA
Phyllanthus niruri
L.
Phyllanthaceae
Problemas renais
7
QUIXABEIRA
Boumelia sertarum
Sapotaceae
Problemas renais
2
Tarenaya spinosa
(Jacq.) Raf.
Cleomaceae
Tosse, asma e bronquite.
1
ROMÃ
Punica granatum
Lythraceae
Inflamação
gripe.
SABUGUEIRO
Sambucus australis
Chamisso
et
Schlechtendal
Adoxaceae
Febre
SENA
Senna alexandrina
Mill.
Fabaceae
SUCUPIRA
Pterodon
emarginatus Vogel
Fabaceae
RAIZ
DE
MUSSAMBÊ
forficata
pneumonia
de
gargante
13
e
e
3
13
20
2
Dor de garganta e na coluna.
1
Fonte – Pesquisa 2013, Site: http://www.hortomedicinaldohu.ufsc.br/,
Foi questionado se alguém da família tem alergia a alguma planta medicinal.
Das 130 pessoas que responderam, 95,38% disseram que não, 4,62% disseram que
sim. As plantas indicadas que provocaram a alergia foram o limão e a marcela.
Esses resultados divergem do que diz a literatura referente ao tema, uma vez que, o
limão é a fruta mais rica em propriedades terapêuticas e pode evitar e tratar várias
doenças, como gripe, resfriado, amigdalite, faringite, asma, conjuntivite, enxaqueca
e tuberculose, entre outras. A acidez do limão que tem uma alta concentração de
vitamina C e de sais minerais faz uma limpeza no organismo, eliminando as
substâncias que são prejudiciais ao corpo humano e promovendo o equilíbrio de
suas funções vitais.
Com relação ao tempo de uso das plantas medicinais, primeiro obteve-se
dados referentes a faixa etária dos entrevistados, no caso de 116, pois 14 se
41
isentaram da resposta por não se enquadrarem na pergunta, pois os mesmos não
tinham conhecimento sobre plantas medicinais.
Foram feitas seis faixas etárias, 20 a 30 anos, 31 a 41, 42 a 52, 53 a 63, 64 a
74, 75 a 85 anos. Com as informações dos tempos de uso de cada entrevistado,
comparou-se a idade do mesmo, com o tempo de uso, em seguida extraiu-se a
porcentagem do tempo de uso em relação a idade do entrevistado. Pode-se
observar que a faixa etária que tem o maior tempo de uso das plantas medicinais em
relação a idade é a faixa mais adulta. Os resultados ratificam, portanto, que os
idosos sempre conservaram sua cultura em utilizar plantas medicinais para a cura de
doenças, enquanto a maioria dos jovens, não absorveram os ensinamentos nesta
área repassados pelos mais velhos. Das 14 pessoas que responderam não
conhecer plantas medicinais, a maioria se encontra na faixa etária mais jovem
(Gráfico 6).
Gráfico 6 – Faixa etária dos entrevistados
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Perguntou-se aos entrevistados se já indicaram plantas medicinais a outras
pessoas. 85,38% disseram que sim, e 14,62% disseram que não. Acredita-se que
esses resultados estejam atrelados ao fato de que o uso das plantas medicinais faz
parte da cultura regional e elas são empregadas em diferentes regiões do mundo.
Na maioria das vezes as indicações de preparo e finalidade estão em concordância
42
com a literatura cientifica, consequentemente, a maioria dos entrevistados faz uso e
estimulam o uso de plantas medicinais a outras pessoas da comunidade estudada.
Quando perguntados se algum médico já havia indicado algum remédio feito
de plantas medicinais, 87,69% disseram que não, e 12,31% disseram que sim.
Os dados mostram que a medicina convencional limita-se prioritariamente a
indicação de medicamentos de natureza alopática e, ainda não absorveu a cultura
da medicina tradicional. Faz-se necessário, nesse sentido, refletir sobre a delicada
relação entre o saber popular e a ciência, como forma de se evitar que a ciência
domine e oprima os conhecimentos populares. Deve-se fazer um maior
aprofundamento sobre o uso dessas plantas, para que as plantas medicinais sejam
cuidadosamente indicadas e potencialize o seu valor cultural.
Considerando a diversidade de formas como as plantas medicinais são
utilizadas, foi indagado aos membros da comunidade quais as formas que eles mais
utilizam para consumir os remédios à base de vegetais. 116 responderam esse item.
As formas mais utilizadas na comunidade são: lambedor (66), chá (96) e outras
formas, como inalação, sucos, decocção, banho (49) (GRÁFICO 7).
As plantas são preparadas na sua maioria em forma de chás, seguidas de
lambedor. Os chás consistem na forma de utilização mais apreciada pela população,
pois além, do valor medicinal específico, contribui para outros fins, como hidratação,
eliminação de toxinas e auxilia na digestão dos alimentos.
Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho de Vendruscolo;
Mentz (2006), mostrando que a maioria dos entrevistados usa a forma de chá como
mais usual para preparo dos remédios, podendo usar tanto a decocção como
infusão sendo estas duas maneiras para preparação de chás.
43
Gráfico 7 – Número de citações de pessoas da comunidade que utilizam plantas
medicinais de diferentes formas
Fonte - Dados da pesquisa 2013.
Quando interrogados sobre o conhecimento de que, alguma planta medicinal
pode causar a morte devido ao seu mau uso. Percebeu-se que dos 130
entrevistados, 29,23% disseram que conhecem plantas medicinais que o seu mau
uso pode causar a morte e 70,77% não conhecem. As plantas mais citadas que
podem causar a morte foram: cabacinha (16), mamona (10), arruda (8), pinhão
manso (4), sena, amburana, água de pereiro, maniçoba, cajueiro, limão, corãma,
espirradeira (todas citadas uma vez) e comigo ninguém pode (planta ornamental) foi
citada 6 vezes.
Com esses dados percebe-se que a falta de informação sobre plantas
medicinais persiste entre os entrevistados. Assim, o desconhecimento de qualquer
pessoa com relação a uma planta medicinal pode representar risco para a própria
vida. De modo geral, a pesquisa apresenta subsídios para afirmar que muito ainda
deve ser feito para tornar a população esclarecida quanto ao uso correto das plantas
medicinais.
Quando questionados sobre o controle de alguma doença crônica como
diabete, hipertensão arterial, com plantas medicinais, dos 130 entrevistados, 8,46%
44
responderam que sim e 91,54% responderam que não. Segundo os entrevistados
que controlam doenças com plantas medicinais, as afecções citadas são:
hipertensão arterial, diabetes, pneumonia.
Percebe-se, assim, que a maioria não controla as doenças crônicas com
remédios extraídos de plantas medicinais. Acredita-se que esses resultados ocorrem
em virtude do fator cultural, em que os indivíduos geralmente recorrem à medicina
tradicional.
A pergunta ora analisada é se já usaram plantas medicinais para animais de
estimação. E se usaram, para que tipos de doenças. Dos 130 entrevistados 11,53%
disseram que já usaram plantas medicinais para animais de estimação, e 88,47%
disseram que não. A doença mais citada foi sarna, citada 6 vezes. Outros males
como, cansaço, feridas, problemas no útero, úlceras, diarreias, vômitos, e puerpério,
foram citadas uma vez cada uma.
Acredita-se que dois fatores podem ter influenciado esses resultados.
Primeiramente, a maioria não tem animais segundo informações orais obtidas na
hora da entrevista. E, em segundo lugar, que são poucos os entrevistados que
fazem uso medicações a base de plantas medicinais em animais de estimação, pois
o mais comum é procurar as Clínicas Veterinárias para tratá-los.
45
5 CONCLUSÃO
Avaliando os resultados dos questionários e comparando com o objetivo
proposto para a realização deste estudo, foi possível fazer as seguintes
constatações:
1. Parte significativa dos entrevistados usa ou já usaram plantas medicinais;
2. Embora usem ou tenham usado plantas medicinais, poucos são os que as
cultivam e as mesmas são adquiridas com ambulantes ou diretamente no
mato;
3. As plantas mais utilizadas apesar de terem sido indicadas como nativas da
caatinga, quando pesquisado na literatura observou-se que grande parte são
exóticas e as utilizam para curar, especificamente, gripe, diarréia, problemas
de estomago, inflamação,da garganta e dor de cabeça.
4. A maioria utiliza remédios alopáticos, embora reconheçam que as plantas
medicinais são eficientes na cura de determinadas doenças. (97,42%)
5. Pela ordem de citação, as plantas mais conhecidas são: erva cidreira, hortelã
da folha miúda, hortelã da folha grande, marcela, limão, sabugueiro,
eucalipto, boldo, mastruz e romã.
6. As pessoas com maior faixa etária são as que mais usam plantas medicinais
e ainda permanece a cultura de se fazer indicação para outras pessoas.
7. As formas mais usadas para preparar remédios a base de plantas medicinais
são: chá e lambedor.
8. Poucos conhecem se determinadas plantas medicinais podem provocar a
morte e não há a prática de curar doenças crônicas utilizando plantas
medicinais.
9. O uso de plantas medicinais é restrito para animais e a doença que mais
combatem é a sarna.
Apesar de se ter observado que as plantas medicinais ainda continuam sendo
usadas na comunidade, um fato a ser destacado é que está limitado às gerações
mais velhas. Nesse sentido, há a necessidade de se fazer um trabalho contínuo e
aprofundado junto à população com o objetivo de dar continuidade ao saber popular,
46
contudo, com a preocupação de pesquisar as plantas mais utilizadas e repassar as
formas corretas de uso. De modo geral pode-se perceber que, o saber popular tem
possibilidade de melhorar a qualidade de vida das populações tradicionais.
Por fim, o poder público, por meio das secretarias da saúde, pode fazer um
trabalho com as comunidades, para fornecer informações consistentes sobre o uso
das plantas medicinais, disseminar a importância destas para a manutenção e
preservação da diversidade cultural e incentivar a criação de pequenas hortas
medicinais, demonstrando a importância do saber popular para a melhoria da
qualidade de vida.
47
REFERÊNCIAS
ALVES, R. da N.; SILVA, A de A.G.; SOUTO, W. de M.S.; BARBOSA, R.R.D.
Utilização e comércio de plantas medicinais em Campina Grande, PB, Brasil.
Revista eletrônica de Farmácia, v4, p. 175-198, 2007.
AMOROZO, M.C.M. A abordagem etnobotânico na pesquisa de plantas medicinais.
In: STASI, L.C (Org.). Plantas medicinais: arte e ciência: um guia interdisciplinar.
São Paulo: Universitária Unesp, 1996, p. 47-68.
AMOROZO, M.C.M; GELY, A.L. Uso de plantas medicinais por caboclos do baixo
Amazonas, Barcarena – PA, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, V. 1,
nº 47-131, 1988.
BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA. Portaria 116, de 08 de agosto de 1996.
Diário Oficial da União, 12.08.1996a.
______, Ministério da Saúde. ANVISA. Portaria 48, de 16 de março de 2004. Diário
da União, 18/03/2004.
______, Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de
ética em pesquisa- CONEP. Resolução n: 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres
humanos. Brasília, 1996. p.24b.
______. Ministério da Saúde. Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006. Aprova a
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial da União,
Brasília,
jun.
2006b.
Disponível
em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portariafito.pdf Acesso em 10 março
2014.
CORRÊA, et. al., Plantas Medicinais – do cultivo à terapêutica – 2 ed. Editora
Vozes. Petrópolis, 1998.
CUNHA, S. A; BORTOLOTTO, I.M. Etnobotânica de Plantas Medicinais no
Assentamento Monjolinho, município de Anastácio, Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta
Botânica Brasilica. [S.L.J.], v.25, n3, p. 685-698, 2011.
FREIRE, F.W. Plantas Medicinais Brasileiras. In: Boletim de Agricultura, v.34, p.
352-494, 1933.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2010. Disponível em:
www.ibge.br. Acesso em 27 de março 2014
48
LIMA, J.L.S.de; et. al., Plantas medicinais de uso comum no Nordeste brasileiro.
Campina Grande, 2006.
LORENZI, H. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas.
Instituto Plantarium: São Paulo, 2002
MACIEL, M. A. M. et. al., Plantas medicinais: A necessidade de estudos
multidisciplinares.Química. Nova.v. 25, n. 3, p. 429-438, 2002.
MESSEGUÉ, M. Antecedentes. In: PROS, I.S Curáte com lãs plantas medicinales:
prontuário de medicina vegetal. Barcelona: Editora Sintes, 1976, p. 9-14.
MING, L.C.; Amaral Júnior. 1996. Aspectos etnobotânicos de plantas medicinais na
reserva extrativista Chico Mendes. Disponível em:
http://www.nybg.org/bsci/acre/www1/medicinal.html> Acessado em 24 de março de
2013.
MOREIRA, L.M.A. et. al., Associação entre o uso de abortifaciantes defeitos
congênitos. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, V. 23, n.8, p.517-521,
2001.
OLIVEIRA, R.A.G.; LIMA, E.O.; SOUZA, E.L.; VIEIRA, W.L.; FREIRE, K.R.L.;
TRAJANO, V.N.; LIMA, I.O.; ILVA-FILHO, R.N. Interference of plectranthus
amboinicus (Lour.) Spreng essential oil on the anti-candida activity of some clinically
used antifungals. Rev. Bras Farmacogn 17: 186-190. 2007.
OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Cuidados Primários de Saúde.
Brasil, 1978. Alma – Ata, 1978, 64p.
RATES, S.M.K. Uso racional de fitoterápicos. Revista Afargs. Edição 2001 Especial.
RATES, GALLO, M.; KOREN, G. Com produtos à base de plantas ser usado com
segurança durante a gravidez? Concentre-se em Echinacea. Médico de família
canadense, v.47, p.1727-8, 2001.
RAVEN, P.H.; EVERT. R.F. FICHOORN, S. E. Biologia Vegetal. ed. 7. Rio de
Janeiro: Guanabara: Koogan, 2007, 910p.
Resolução 40.33 da 40ª Assembleia Mundial de Saúde, Disponível em:
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicações/cdo3.18.pdf. Acesso em 21/03/2014.
49
RODRIGUES, A.C.C.; GUEDES, M.L.S. Utilização de Plantas Medicinais no
Povoado Sapucaia, Cruz das Almas – Bahia. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, Botocatu, 2006, 8(2), p. 1-7.
SILVA Jr, A. A. et. al., Plantas medicinais: caracterização e cultivo. Florianópolis:
EPAGRI, 1994, 71p.
SILVA, EB. Uso das plantas medicinais pelos moradores do engenho Uchoa.
Recife, 1997.
VENDRUSCOLO, G.S.; MENTZ, L.A. Levantamento etnobotânico das plantas
utilizadas como medicinais por moradores do Bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil, 2006. Revista Iheringia – botânica, V. 61, nº 1-2, p.83-103,
WEIER, K. M.; BEAL, M. Complementary therapies as adjuncts in the treatment of
postpartum depression. J. Midwifery Womens Hearth, v. 49, n. 2, p. 96-104, 2004.
50
APÊNDICES
51
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome da Pesquisa: CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
DE UMA COMUNIDADE DE SANTA LUZIA-PB
Pesquisadores responsáveis: ADEMIR ARAÚJO DE LUCENA E ALANA CANDEIA
DE MELO
Informações sobre a pesquisa: Estamos realizando uma pesquisa sobre:
conhecimento popular sobre plantas medicinais de uma comunidade de Santa LuziaPB. Para isso solicito a sua colaboração em participar do estudo assinando esse
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O objetivo dessa pesquisa é identificar
o conhecimento popular dos moradores de uma comunidade da Zona Urbana do
município de Santa Luzia – PB, sobre plantas medicinais e seu uso.
________________________________
Pesquisador responsável
Eu,__________________________________________RG____________________,
abaixo assinado, tendo recebido as informações acima, concordo em participar da
pesquisa, pois estou ciente de que terei de acordo com a Resolução 196/96 Cap. IV
inciso IV. 1 todos os meus direitos abaixo relacionados:
- A garantia de receber todos os esclarecimentos sobre as perguntas do questionário
antes e durante o transcurso da pesquisa, podendo afastar-me em qualquer
momento se assim o desejar, bem como está assegurado o absoluto sigilo das
informações obtidas.
- A segurança plena de que não serei identificada mantendo o caráter oficial da
informação, assim como, está assegurada que a pesquisa não acarretará nenhum
prejuízo individual ou coletivo.
- A segurança de que não terei nenhum tipo de despesa material ou financeira
durante o desenvolvimento da pesquisa. Durante a coleta das amostras, o
participante poderá estar sujeito a risco físico ou desconforto, no entanto, por se
tratar de um procedimento simples, os riscos são presumíveis e o pesquisador
estará prontamente preparado para atenua-los.
- A garantia de que toda e qualquer responsabilidade nas diferentes fases da
pesquisa é dos pesquisadores, bem como, fica assegurado que poderá haver
divulgação dos resultados finais em órgãos de divulgação científica em que a
mesma seja aceita.
- A garantia de que todo o material resultante será utilizado exclusivamente para a
construção da pesquisa e ficará sob a guarda dos pesquisadores, podendo ser
requisitado pelo entrevistado em qualquer momento. O presente termo será emitido
em duas vias, ficando uma com o participante e outro com o pesquisador.
52
Contato com o Pesquisador (a) Responsável: Alana Candeia de Melo
Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor entrar em
contato como (a) pesquisador (a) Endereço:
Telefone: Residencial : ______________Celular: (83) ______________
Tenho ciência do exposto acima e desejo participar da pesquisa.
Patos, _____de _____________ de ______.
__________________________________________________
Assinatura do entrevistado
53
ANEXO B – Termo de Compromisso do Pesquisador
Título do projeto: CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS MEDICINAIS DE
UMA COMUNIDADE DE SANTA LUZIA-PB
Pesquisador responsável:. Alana Candeia de Melo
Instituição: Universidade Federal de Campina Grande – PB.
Telefone para contato:
Local da coleta de dados: Micro Área V PSF II zona urbana do município de Santa
Luzia – PB.
Eu, ___________________________________ pesquisador (a) responsável pela
pesquisa acima identificada, declaro que conheço e cumprirei as normas vigentes
expressas na Resolução Nº 196/1996do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da
Saúde, e em suas complementares (Resoluções CNS/MS 240/1997, 251/1997,
292/1999, 303/2000, 304/2000, 340/2004, 346/05 e 347/05), e assumo, neste termo
o compromisso de:
1. Somente iniciar a pesquisa após sua aprovação junto ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Campina Grande – PB e, nos casos assim
previstos na Resolução CNS/MS 196/96; 2. Caso a pesquisa seja interrompida,
informar tal fato ao CEP- UFCG /PB, de forma justificada. 3. Na ocorrência de evento
adverso grave comunicar imediatamente ao CEP/UFCG/PB, bem como prestar
todas as informações que me forem solicitadas. 4. Destinar os dados coletados
somente para o projeto ao qual se vinculam. Todo e qualquer outro uso deverá ser
objeto de um novo projeto de pesquisa que deverá ser submetido à apreciação do
Comitê de Ética em Pesquisa. 5. Apresentar relatório final, sobre o desenvolvimento
da pesquisa ao CEP/UFCG/PB. Patos, ____de _____________ de _______.
____________________________________ Pesquisador Responsável
54
APÊNDICE A- Instrumento para coleta de dados
QUESTIONÁRIO
IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7)
Sexo: ( ) feminino ( ) masculino
Naturalidade:_________________________________
Local de nascimento: ( ) zona rural ( ) zona urbana
Cor: ( ) Branca ( ) negra ( ) parda ( ) índio
Idade: ________ anos
Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado ( ) viúvo(a)
Nível de escolaridade:_______________
CONHECIMENTOS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS:
1)
2)
3)
(
(
O Senhor (a) usa remédios feitos de plantas medicinais? ( ) sim (
Tem ou já teve horta com plantas medicinais? ( ) sim ( ) não
Os remédios de plantas medicinais que vocês mais usam:
) são de plantas da região (CAATINGA)
) outros biomas (outra regiões)
) não
4) Quais são as enfermidades que eles são mais usados?
5) O (a) senhor (a) usa mais remédios: (
) fitoterápico (
) alopáticos
6) Como ficou sabendo dos benefícios dos remédios fitoterápicos?
( ) através dos seus pais
( ) através da TV
( ) amigos
( ) por acaso
( ) outro meio:___________________________
7) Onde encontram mais os remédios fitoterápicos?
( ) através de ambulantes ( ) em farmácias ( ) no mato (
_______________________________________________
) outros
8) Sempre obtiveram sucesso com o uso dos remédios fitoterápicos?
( ) sim ( ) não
9) Já passaram mal com o uso dos remédios fitoterápicos? ( ) sim ( ) não
Se sim, que tipo de males?_______________________________________
10)Qual a planta ou remédios fitoterápicos que o senhor (a) mais conhece?
__________________________________________________________
11) Alguém da família tem alergia a alguma planta medicinal? ( ) sim ( ) não
Se sim, a qual planta? ________________________________________
55
12) Há quanto tempo o(a) senhor(a) utiliza remédios das plantas medicinais?
_______________________________________________________
13) Já indicou plantas medicinais para outras pessoas? (
) sim (
) não
14) Algum médico já indicou plantas medicinais para outras pessoas?
( ) sim ( ) não
15) De que forma vocês usam os remédios medicinais?
( ) lambedor ( ) chás ( ) outros:________
16)Conhecem alguma planta medicinal que o seu mau uso pode causar a morte?
( ) sim ( ) não , se sim qual ou quais plantas?______________________
17) Controla algum doença crônica, como diabetes, hipertensão, com plantas
medicinais?
( ) sim ( ) não
18) Já usou plantas medicinais para algum animal de estimação?
( ) sim ( ) não
19) Se sim, para qual doença? __________________________________
Download