Universidade do Vale do Itajaí CEJURPS – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas Curso de Relações Internacionais A Importância Estratégica dos Chaebols no Desenvolvimento da Coreia do Sul. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito final para obtenção do grau de bacharel em Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí. ACADÊMICO(A): CAMILLA REZENDE DA COSTA. Orientador: Prof. Msc. Walter Barbieri Júnior Itajaí (SC), 12 de junho de 2015. RESUMO: Os Chaebols, denominação para os grandes conglomerados empresariais da Coreia do Sul, tem uma grande influência na economia sul coreana. Contribuíram para o rápido crescimento econômico do país. Esse artigo explora as instituições do capitalismo sul coreano e as interações entre o Estado e a economia. O modelo econômico na Coreia do Sul é caracterizado por um Estado intervencionista e que desempenhou um papel ativo no processo de industrialização. O desenvolvimento econômico sul coreano tem sido destacado pelo sucesso em sustentar um crescimento acelerado, sendo usado como modelo de referência para vários países que almejam encontrar um caminho para a modernização e desenvolvimento para as suas economias. Palavras-chave: Coreia do Sul; chaebols; desenvolvimento; crescimento; Estado; economia. ABSTRACT: Chaebols, denomination for big business conglomerates from South Korea, have a huge influence in Korea´s economy. These companies have contributed for South Korea´s rapid economy growth. This article explores the institutions of South Korea´s capitalism and the interaction between the State and the economy. The economic model in South Korea is characterized by an interventionist State that has played an active part in the industrialization process. The economic development of South Korea has been pointed out by the success to support an accelerated growth, being used as a model of reference for many countries that aim to find a path for the development modernization for their economies. Key- words: South Korea; chaebols; development; growth; State; economy. A Importância Estratégica dos Chaebols no Desenvolvimento da Coreia do Sul. Camilla Rezende da Costa Sumário: Introdução; 1. O desenvolvimento da Coreia do Sul; 1.1. História da formação da Coreia do Sul; 1.2. A importância estratégica do Estado para o desenvolvimento coreano; 2. Os Chaebols; 2.1. O conceito de chaebol; 2.2. Descrição dos chaebols; 3. Os chaebols como estratégia de desenvolvimento do Estado sul coreano; Considerações Finais; e Referências. Introdução A expansão econômica da Coreia do Sul é uma referência para muitos países que pretendem encontrar um caminho de modernização e desenvolvimento das suas economias. Neste trabalho, será apresentado o papel crucial que os grandes conglomerados industriais, conhecidos por chaebols, desempenharam no processo de desenvolvimento do país. Para fomentar o desenvolvimento do país, o Estado investiu em empresas familiares que expandiram seus negócios para as mais variadas áreas de interesse governamental formando chaebols, grandes conglomerados sul coreanos. Entre eles estão empresas como Samsung, LG, Hyundai e Kia (APEX BRASIL, 2011, p. 5). Na estrutura orgânica do desenvolvimento sul coreano criou-se estreitos laços entre o Estado e os grupos corporativos. O governo definiu a orientação da economia e estabeleceu incentivos, assim como planejou os investimentos públicos para assegurar que as empresas caminhassem na direção desejada. Apoiada pela politica governamental, os chaebols expandiram-se rapidamente. A forte intervenção estatal determinada a fortalecer os grandes conglomerados econômicos orientados ao mercado externo fez com que o desenvolvimento sul coreano despontasse pra ser uma das maiores economias do mundo no século XXI. Na construção desse arranjo estratégico de desenvolvimento, o Estado coreano realizou importante investimento na área da educação como forma de capacitação de mão de obra, nesse sentido, a Coreia do Sul representa um paradigma admirável como potência cultural, que hoje desponta como uma das principais economias mundiais. A revolução 3 centrada na educação associou-se a elementos tradicionais da formação histórica cultural como o confucionismo, na qual valores baseados no respeito ao espirito cívico e às relações humanas, potencializou o desenvolvimento do país, tornando-se a Coreia do Sul, um importante exemplo e incentivo para países em desenvolvimento. O artigo tem por objetivo descrever a importância estratégica dos chaebols para o desenvolvimento da Coreia do Sul, pois que na segunda metade do século XX foi construída uma politica através de um planejamento do Estado que potencializou a expansão de grandes conglomerados capitalistas como estratégia para obtenção de maior autonomia e posição no sistema internacional. Dado os apontamentos iniciais, a primeira seção apresenta o desenvolvimento da Coreia do Sul. Esta seção está subdivida em duas subseções que buscam mostrar a história sul coreana e compreender a importância estratégica do Estado para o desenvolvimento do país. Em seguida, na segunda seção, busca-se examinar o surgimento dos conglomerados empresariais na Coreia do Sul, denominado como chaebols, e explicar a sua atuação no desenvolvimento econômico do país ressaltando as principais empresas que colaboraram para tal fato. Por fim, na terceira seção, examina-se a relação entre os chaebols como estratégia de desenvolvimento nacional do Estado sul coreano. 1. O desenvolvimento da Coreia do Sul O desenvolvimento da Coreia do Sul tem tido um rápido crescimento, baseado em um sistema econômico orientado para a exportação. “O desenvolvimento econômico da Coreia do Sul foi alcançado inicialmente por uma estreita aliança formada por um Estado forte, focado e preocupado por um desenvolvimento e um setor empresarial forte e comprometido” (BIER e LIZÁRRAGA, p. 88). As medidas radicais da reforma econômica foram destinadas principalmente a industrialização do país através da criação de empresas, muitas delas de propriedade estatal ou fortemente subsidiado pelo orçamento do Estado (PETCU, 2012, p. 2). Por outra análise, alguns autores discutem que o desenvolvimento sócio econômico asiático está relacionado a um peso relativamente elevado às características socioculturais, 4 principalmente ao Confucionismo1, em suas explicações sobre o rápido crescimento econômico sul coreano (MASIERO, 2000, p. 4). No entanto, nesse artigo destaca-se a importância do papel do Estado em relação ao desenvolvimento da Coreia do Sul. 1.1 História da formação da Coreia do Sul A Coreia foi uma colônia do Japão de 1910 até 1945. Durante o período colonial, a atividade econômica era fortemente dependente do setor agrícola, sendo controlada por uma elite latifundiária estreitamente vinculada aos japoneses (DALL’ACQUA, 1991, p. 1). Powers (2010) explica que quando o Japão se retirou da Coreia, deixou para trás fábricas e maquinários que havia construído sem qualquer tipo de gerência formal ou proprietários. Esses ativos criaram oportunidades para alguns empresários da Coreia do Sul criar novas empresas. As primeiras empresas que eventualmente evoluíram para o chaebol tiveram seu inicio através desses ativos deixados pelos ocupantes japoneses. “Com o fim da Segunda Guerra Mundial2 e a derrota japonesa, os americanos, motivado por interesse estratégico na região, esforçaram para organizar um governo funcional na parte sul da Coréia” (PRESTOWITZ, 2003, p. 3). Para reordenar as atividades produtivas, os Estados Unidos patrocinaram os planos econômicos que procuravam criar as bases para um novo modelo de crescimento (DALL’ACQUA, 1991, p. 2). O Estado da Coreia do Sul, oficialmente Republica da Coreia, foi estabelecido em 1948 após anos de disputa entre a ocupação das forças americanas no sul e os interesses da ex-União das Republicas Socialistas Soviéticas, no norte (MASIERO, 2000, p. 1). Segundo Masiero (2000) desde o estabelecimento da Republica da Coreia, predominava no país a repressão dos grupos de esquerda, sendo que alguns deles eram independentes e outros apoiados pela Coreia do Norte. A resistência da Coreia do Sul a se unir a Coreia do Norte levou os nortes coreanos a lançarem um ataque militar em junho de 1950, iniciando assim a Guerra da Coreia. Devido ao cenário geopolítico da Guerra Fria, os norte-americanos potencializaram o desenvolvimento capitalista da Coreia do Sul como forma estratégica de contenção da 1 Confucionismo segue cinco princípios: fidelidade e respeito paternal, submissão da esposa ao marido, ordenamento social baseado na senioridade, confiança mutua nas relações humanas, e lealdade absoluta aos governantes (MASIERO, 2000, p. 4). 2 Foi concordado que a União Soviética tomaria parte do arredor norte japonês do paralelo 38, enquanto os americanos pegaram a parte sul do paralelo (PRESTOWITZ, 2003, p. 3). 5 expansão do socialismo no leste asiático, naquela conjuntura histórica, o campo do socialismo na região alcançava a Coreia do Norte e mais recentemente a China que implantou a Revolução Socialista em 1949. Nesse sentido, o suporte norte-americano para o desenvolvimento econômico da Coreia do Sul representava um artifício fundamental para os Estados Unidos. Entre 1951 e 1960, o apoio econômico total dos EUA foi de cerca de 1 bilhão de dólares por ano e totalizaram cerca de duas vezes a receita interna coreana. Foi a partir desta enxurrada de dólares que muitos dos famosos chaebol da Coreia do Sul nasceram (PRESTOWITZ, 2003, p. 4). Com essa origem e posição houve a necessidade do rápido crescimento econômico para combater a influência dos vizinhos comunistas. A construção de interesses mútuos entre a politica norte-americana e a elite nacional da Coreia do Sul ocorreu através de planejamento econômico, que objetivava o desenvolvimento de forças produtivas de base capitalista (GUIMARÃES, 2010). Segundo Masiero (2000) os estágios de desenvolvimento coreano são bem delimitados. O foco saiu da reconstrução do país e da industrialização por uma política de substituição de importações após a Guerra da Coreia na década de 1950 para o crescimento voltado para fora de 1962 a 1973. Com a orientação do Estado no sentido de promover a industrialização pesada, o país experimentou forte crescimento nos anos 1970. No entanto, o momento chave para o desenvolvimento econômico da Coreia do Sul foi a ascensão ao poder do General Park Chung-Hee em 1961 (PETCU, 2012, p. 1). Park foi o governante da Republica da Coreia entre 1961 e 1979, e considerado como um dos principais responsáveis pelo processo de industrialização sul coreana através de uma forte política de exportações. Na década de 60, o governo Park buscou estrategicamente expandir a atividade econômica por meio do avanço dos chaebols para atividades industriais de refino de petróleo, montagem de produtos eletrônicos e produção automobilística. Os chaebols cresceram e passaram a ser o centro dinâmico da economia nacional. O planejamento econômico estatal para a obtenção de um acelerado crescimento da Coreia do Sul foi guiado por Planos Quinquenais de desenvolvimento econômico conforme segue o resumo no Quadro 1: 6 Quadro 1 - Planos Quinquenais Planos Período Objetivo 1° Plano 1962 - 1966 Plano que ao invés de orientado para exportação procurava essencialmente promover a substituição de importação. 2° Plano 1967 - 1971 Enfatizou a modernização da estrutura industrial do país. O desenvolvimento econômico e a rápida construção de indústrias de substituição de importação, incluindo as de aço, maquinarias e químicas. 3° Plano 1972 - 1976 Privilegiou o progresso das estruturas orientadas para as exportações e a promoção das indústrias químicas e pesadas. 4° Plano 1977 - 1981 Visava o desenvolvimento de indústrias que pudessem competir efetivamente nos mercados industriais internacionais. 5° Plano 1982 - 1986 Objetivo de construir uma sociedade de bem estar. 6° Plano 1987 - 1991 Enfatizava a eficiência e a competividade internacional da economia coreana através da liberalização do mercado. 7° Plano 1992 - 1996 Promover uma economia eficiente e saudável, inovar a administração e estabelecer um trabalho correto e ético. Fonte: (MASIERO, 2000, p. 13) Subjacente a cada um dos planos de cinco anos foi um curso de longo prazo do desenvolvimento econômico criado pelos planejadores econômicos do governo. Powers (2010) explica que os planejadores econômicos do governo fizeram duas decisões que influenciou o futuro das empresas e a estrutura financeira na Coreia do Sul, como é detalhado abaixo: Primeiro, o governo decidiu que escolheria quais mercados deveriam ser desenvolvidos por empresas sul coreanas, e permitir a entrada de apenas um número de empresas selecionadas. Estas empresas foram escolhidas de um grupo relativamente pequeno de firmas que foram cultivadas pelo governo para serem utilizadas como ferramentas para a execução do desenvolvimento do Estado coreano. A segunda decisão economicamente significante feita pelos planejadores do governo foi focar o desenvolvimento do mercado através de industrialização orientada para a exportação (POWERS, 2010, p. 106).3 3 Texto original em inglês: First the government decided it would choose which markets should be developed by Korean firms and allow entry to only a select number of firms. These firms were chosen from a relatively small group of companies cultivated by the government to be used as tools for Korea´s state-run development. The 7 As estratégias de desenvolvimento econômico sul coreano implementadas e lideradas pelo governo podem ser resumidas numa política industrial ou industrialização guiada pelo Estado, nas intervenções governamentais no sistema de preços, nas relações do Estado com os grandes grupos e na execução dos diferentes Planos Quinquenais de desenvolvimento econômico e social. 1.2 A importância estratégica do Estado para o desenvolvimento coreano O sucesso econômico dos países do leste asiático é frequentemente atribuído ao relacionamento entre o Estado e as empresas. A Coreia do Sul, à semelhança do Japão, construiu um modelo econômico marcado por forte intervenção estatal. Consolidou-se uma relação muito próxima entre o Estado e os grupos empresariais, em que o primeiro, por meio de incentivos e sanções procurou moldar uma estrutura industrial robusta e competitiva que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do país. (GUIMARÃES, 2010, p. 1). O desenvolvimento4 é compreendido nesse artigo como um fator além da questão do crescimento econômico em si, mas representa um fomento estratégico e planejado do país, que objetiva o crescimento que beneficia vários setores internos, como a população, e o reposicionamento do país no âmbito geopolítico. A expansão econômica da Coreia do Sul baseado no seu modelo de desenvolvimento não representa simplesmente um crescimento de uma classe proprietária de grandes grupos capitalistas, mas sim um projeto traçado pelo Estado que beneficia o país como um todo. Na Coreia, a atuação do Estado era definir a orientação da economia e criar incentivos, assim como planejar os investimentos públicos para assegurar que as empresas caminhem na direção desejada (DALL’ACQUA, 1991, p. 108). A partir da década de 1960 em diante, o Estado coreano interveio profundamente no desenvolvimento econômico do país através de uma aliança próxima com a classe industrial e o controle do governo com os mercados de crédito e de trabalho (CHUNG, 2007, p. 14). second significant economic decision made by the government´s planners was to focus market development through export-oriented industrialization. 4 O significado de desenvolvimento para esse artigo foi elaborado através dos encontros com o orientador Msc. Walter Barbieri Júnior. 8 Como Chang (2003) explica, no auge desenvolvimentista, o setor financeiro foi fortemente regulamentado. O capital estrangeiro entrou no mercado financeiro como uma forma de empréstimo diretamente através do banco estatal. O Estado redirecionou o capital estrangeiro para as indústrias selecionadas e isto criou um sistema financeiro centrado em bancos. O Estado sabia que a mera recepção abundante de capitais não garantiria o crescimento. O Estado também liderou o avanço tecnológico. As empresas adotaram a tecnologia avançada de países estrangeiros e o governo formou um ambiente favorável para que a tecnologia se encaixasse na condição econômica e social do país. As relações entre o Estado e as classes capitalistas se transformaram durante o curso do processo de desenvolvimento econômico, tornando-se cada vez mais dinâmicas conforme a conjuntura histórica. Ao longo do desenvolvimento sul coreano, o Estado, embora sendo um dos atores do processo de desenvolvimento, experimentou transformações significativas no curso do processo econômico, passando de um Estado protecionista e abrangente para o de intervenção limitada. Esse comportamento do Estado está relacionado às condições efetivas de capacitação e necessidade competitiva dos conglomerados empresariais na dinâmica do capitalismo (CHANG, 2003). A condição fundamental para a manutenção e evolução do desenvolvimento da Coreia do Sul foi o papel crucial do Estado no fomento da educação, como forma de qualificação dos trabalhadores para atender as necessidades produtivas para a expansão econômica do país (MASIERO, 2002). Segundo Amsden (1989) o progresso espetacular da Coreia do Sul na modernização e crescimento econômico desde a Guerra da Coreia é em grande parte atribuível à disposição do Estado para investir uma grande quantidade de recursos na educação. Nesse sentido, a formação de capital humano representava determinante fundamental para a expansão do desenvolvimento coreano, como uma política de Estado focado numa estratégia de competitividade no sistema internacional, na medida em que, a qualificação da mão de obra do país representava importante vantagem competitiva. Sobre a grande expansão da educação na Coreia do Sul, afirma Cumings: Na conclusão da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o país tinha apenas mil universitários graduados, e a taxa de analfabetismo era de 78%. Pouco mais de 50 anos depois, a Coreia tornou-se um dos dois únicos membros asiáticos (o outro é o Japão) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Hoje, ele é a 11 ª maior economia do mundo tem um PIB per capita de US $ 30.000, mais de 70% de seus jovens obtém graduação na universidade e conseguem marcar 9 regularmente no topo do PISA e outros testes internacionais, e leva o mundo em uma ampla gama de indústrias de tecnologia, como memória de semicondutores chips, telas electronixc e telefones inteligentes (CUMINGS, 1991, p. 2).5 “Começando com a campanha de alfabetização no final dos anos 1940 e começo de 1950, a Coreia do Sul sempre enfatizou a educação como um assunto da mais alta prioridade política pública” (PRESTOWITZ, 2003, p. 31). O país investiu relativamente mais recursos nesse setor que a maioria de outros países em desenvolvimento e até países desenvolvidos. Devido a grande ênfase à educação formal a Coreia do Sul demonstrou ser capaz de obter elevadas taxas de crescimento. “Em 1954, um ano depois do fim da Guerra da Coreia, a Coreia do Sul estava no processo de expansão do seu sistema educacional, com 17% da população já matriculada na escola” (AMSDEN, 1989, p. 217). Grandes investimentos em capital humano habilitaram a Coreia do Sul em realizar a transferência de tecnologia muito mais rapidamente e constantemente do que muitos outros países (CHANG, 2003). O investimento na educação fez uma grande contribuição para o desenvolvimento econômico da nação, auxiliou para a flexibilidade industrial e promoveu uma maior equidade. É importante salientar, que o progresso na educação coreana como fator crucial para o desenvolvimento da Coreia do Sul foi potencializado devido a influencia de elementos tradicionais históricos do país. O elemento considerado chave é o Confucionismo que representa uma filosofia que está enraizada na formação social dos países do leste asiático, na qual ideais de disciplina no trabalho, valorização da educação e o respeito à hierarquia transformam-se em ferramentas poderosas para impulsionar o desenvolvimento do país (MASIERO, 2002). Masiero (2002) argumenta que a ética Confucionista tradicional tem sido combinada e significativamente modificada pela ética cristã ocidental, desse modo formando uma “nova ética Confucionista”: Esta nova ética seria formada de um amalgama das famílias ou dos valores coletivamente orientados dos asiáticos com os pragmáticos valore s orientados a objetivos econômicos do 5 Texto original em inglês: At the conclusion of World War II in 1945, the country had only a thousand college graduates, and the illiteracy rate was 78%. Just over 50 years later, Korea became one of only two Asian members (the other is Japan) of the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD). Today, it is the 11th largest economy in the world and has a GDP per capita of $ 30,000, more than 70% of their young gets degree at university and can score regularly at the top of PISA and other international tests, and leads the world in a wide range of technology industries such as semiconductor memory chips, electronixc screens and smart phones. 10 ocidente. Estas novas orientações alteraram os princípios tradicionais de ordenamento social que colocava os comerciantes e industriais em último lugar, após pela ordem, aos artesãos, agricultores e servidores do governo. Este novo reordenamento permitiu aos engenheiros e homens de negócio prosperar na nova sociedade industrial do presente século (MASIERO 2002, p. 4). A ética Confucionista resgata o indivíduo como o centro dos relacionamentos, levando-o a um novo tipo de espírito empreendedor e estilos administrativos. 2. Os Chaebols Na Coreia do Sul, a organização industrial é desde a década de 1950, baseada nos grandes grupos empresariais. Estes, caracterizados pelo controle familiar, atingiram todos os setores da economia e cresceram rapidamente em tamanho e número. Os grupos surgiram da estreita relação do Estado com as empresas, da colaboração americana – adquirindo seus produtos –, ou japonesa – transferindo tecnologia – e de um forte espirito empreendedor de um povo constantemente ameaçado de dominação externa (MASIERO, 2000, p. 17). Os chaebols6 foram os propulsores do rápido desenvolvimento da Coreia do Sul. A maior parte deles estabeleceu-se após a Guerra da Coreia. Em 1995, os 30 maiores geravam 16% do PIB coreano e eram responsáveis por 40% do valor da manufatura e 50% das exportações (MASIERO, 2002, p. 2). Os chaebols dominaram a economia coreana. Em particular os cinco maiores grupos – Hyundai, Samsung, Daewoo, LG e SK – simbolizam a industrialização bem sucedida no país (JEONG, 2004, p. 74). 2.1 O conceito de chaebol Segundo Kim e Jaffe (2010), os grupos coreanos são compostos por firmas independentes que possuem relações econômicas entre si e normalmente tem sistemas administrativos que coordenam as atividades de seus membros. Suas principais características são: pertencerem a somente uma família, dependência de capital externo, controle centralizado, administração paternalista e forte dependência de modelos de administração 6 A palavra chaebol deriva da palavra japonesa zaibatsu. Ambos termos podem ser escrito por caracteres chineses idênticos, e comumente significam conglomerados ou grandes grupos empresariais (LEE, 2002, p. 16). 11 estrangeiros. Em alguns casos, as firmas de um grupo pertencem a holding, ao banco, ou como a maioria deles, a somente uma família. A estrutura tradicional do chaebol pode ser explicada por sua concentração absolutamente fechada da propriedade dentro da família do fundador, e sua estrutura de negócios altamente diversificada. Um chaebol7 se refere a um coletivo de empresas formalmente independentes sob o controle administrativo e financeiro comum único de uma família. Como Murilo e Sung explicam: Ostensivamente dirigida por gestores profissionais para as empresas individuais dentro do conglomerado, são na verdade controladas por um único chongsu8, um gerente geral não oficial ou nomeado que toma as decisões corporativas definitivas para o sindicato. Ele atua como blockholder9 supremo e também como representante da família proprietária (MURILO e SUNG, 2013).10 O chaebol engloba muitas empresas subsidiárias sob o mesmo nome. Existem muitas empresas coreanas com mais de duas subsidiárias que são controladas por uma família, mas o governo coreano e a mídia normalmente usam chaebols para denotar os trinta maiores grupos empresariais coreanos. O governo coreano identifica anualmente os trinta maiores grupos empresariais e publica uma lista de seus afiliados nos termos do regulamento Ato de Monopólio e Comércio Justo, conhecido como a Lei de Comércio Justo, para bloquear quaisquer comportamentos anticoncorrenciais. (CHANG, 2003, p. 10). Nos termos deste regulamento grupos empresariais estão proibidos de participações cruzadas com outras empresas coligadas, juntamente com garantias cruzadas de pagamento. A partir de 2002, os trinta grupos de grande porte foram classificados em dois tipos: os grupos de negócios de tipo A; submetido a limitar o seu montante total de investimento de capital. Os grupos empresariais do tipo B; submetidos a limitar participações cruzadas e garantias de dívida cruzada (YANAGIMACHI, 2004. p. 6). 7 Chaebol significa, literalmente, um grupo ou partido de riqueza; chae (財) riqueza ou fortuna, e bol (閥) significa grupo ou festa (MURILO e SUNG, 2013, p. 3). 8 Chongsu em coreano, literalmente, refere-se a uma cabeça geral (MURILO e SUNG, 2013. p. 2). 9 Exemplo: Mr. Lee, chongsu do chaebol Samsung, detém um mero 0,57% das ações totais do grupo, e sua família, somente 1,07% das ações de todo o Grupo. Ele não tem nenhuma posição formal de poder no grupo. Ele não é presidente do conselho, nem CEO de qualquer das principais filiais do grupo, no entanto, ele exerce o controle através da vasta participação cruzada da Samsung, (MURILO e SUNG, 2013, p. 2). 10 Texto original em inglês: Chaebols, ostensibly run by professional managers responsible for individual firms within the conglomerate, are actually controled by a single chongsu, an unofficial or unappointed general 12 2.2 Descrição dos chaebols A grande parte dos maiores chaebols surgiu nas décadas de 1940 e 1950 como pequenos empreendimentos de negócios. Esses grupos conseguiram crescer e, atualmente, representam grandes conglomerados industriais de alta capacidade competitiva no capitalismo internacional. Dos 50 maiores grupos, seis surgiram no período de colonização da Coreia pelo Japão entre 1910 e 1945, trinta e um foram estabelecidos durante o governo Rhee entre 1948 e 1960 e os treze restantes foram formados durante o governo Park entre 1961 e 1979 (MASIERO, 200, p. 17). O desenvolvimento do sistema chaebol se acelerou durante a administração de Jung Hee Parks na década de 1960, durante o qual um tratamento preferencial foi dado a certas empresas para promover o crescimento econômico do país. “A participação dos chaebols do PIB nacional aumentou de 12% em 1985 para 16% em 1995, o que prova que a riqueza nacional tem sido cada vez mais concentrada nas mãos de uns poucos conglomerados durante este período” (CHANG, 2003, p. 10). No contexto do processo de globalização econômica, os chaebols estabeleceram uma politica estratégica agressiva na década de 1990, através de um regime de engajamento que se realizou em vários tipos de investimentos diretos, fusões e aquisições em todo o mundo, como forma de aumentar a capacidade competitiva internacional. Segundo Dalla’Acqua (1991) A renda per capita na Coréia é 100 vezes maior comparativamente ao ano de 1962. A economia coreana ocupa o 15º lugar no mundo quando medido pelo PIB nominal. Com todo o crescimento da Coreia do Sul através das ultimas décadas é importante salientar os conglomerados que participaram desse desenvolvimento desde do surgimento dos grandes chaebols na década de 1950. A Figura 2 mostra a linha do tempo dos conglomerados desde a década de 1950 até a atual década, destacando paras empresas do Grupo Samsung e LG que foram os grandes conglomerados que começaram na década de 1950 e permaneceram até a atualidade. Figura 2 manager who makes the final corporate decisions for the entire syndicate. He acts as supreme blockholder and 13 A evolução dos chaebols Fonte: Stephan Haggard, et al., (eds) 2015. also as representative of the owner Family. Chongsu in Korean literally refers to a general head. 14 Os maiores conglomerados tem tido por muito tempo um papel fundamental no desenvolvimento das indústrias núcleo da Coreia do Sul, tais como semicondutores, smartphones e automóveis. De publicidade a construção e fabricação de navios, os chaebols conseguiram se expandir para quase todas as indústrias na Coréia do Sul. Eles tornaram-se cada vez mais vital para o crescimento econômico do país. Os setores vitais de negócio receberam alto investimento do Estado e a Figura 3 mostra os 10 maiores chaebols através de seus ativos totais e suas áreas de negócio no ano de 2011. Tabela 3 Top 10 Chaebol coreano pelo total de ativos (2011) Fonte: LEE, James. Chaebol almighty 15 Os investimentos coreanos seguem uma orquestrada divisão internacional de mercados. Segundo Masiero (2002) o grupo Daewoo investe em produtos tradicionais no bloco das ex-nações soviéticas, o grupo Hyundai, com suas fábricas de automóveis e semicondutores concentra-se no mercado norte-americano. Sunkyung e LG investem em petroquímica na Ásia, e a Samsung estabelece complexos industriais para minimizar custos de transação e aproveitar a sinergias de processos, em todos os mercados e setores de atividade. Esses respectivos conglomerados são os mais atuantes na economia sul coreana. A figura 4 mostra a participação dos 10 maiores chaebols da Coreia do Sul: Figura 4 Participação dos 10 maiores chaebols da Coreia do Sul Fonte: LEE, James. Chaebol almighty. 16 Segundo Chang (2003) os cinco principais conglomerados da Coreia do Sul são o grupo Hyundai, Samsung, LG, Daewoo e SK. O grupo Hyundai é o maior chaebol com a maior diversificação de indústrias, incluindo construção, automobilismo, construção naval e serviços financeiros. O grupo Samsung é o mais antigo dos cinco grandes grupos também mantendo uma grande diversificação de indústrias como processamento de comida, eletrônicos, petroquímico, maquinário, construção naval, serviços financeiros, hotel e mídia (CHANG 2003). O grupo Daewoo teve o mais rápido crescimento dos cinco maiores chaebols desde que foi fundada em 1967, como característico do modelo de desenvolvimento mantém uma estreita relação com o Estado (CHANG 2003). O grupo LG durante os ano 1970 foi selecionada como uma das empresas de comercialização gerais patrocinados pelo Estado, a partir de 1990, esteve focado no setor de telecomunicações criou a LG Telecom. O grupo SK foi o quinto maior chaebol na Coréia a partir de 1997, e como Daewoo, o relacionamento do grupo SK com o Estado tem sido muito estreito. O grupo SK cresceu rapidamente através da exportação (CHANG 2003). Os chaebols são criaturas de seu ambiente, econômico, cultural e político, os quais mudaram dramaticamente no último meio século. Os conglomerados criaram sinergia e valor através da diversificação. O sucesso desse esforço não foi garantido e os chaebols não poderiam ter feito isso sem sistemas de coordenação e controle centralizados através do Estado (CHANG 2003). Dessa forma, o cenário econômico coreano é representado pelos chaebols. Esses conglomerados empresarias trabalharam juntos com o Estado que atuou como suporte para os esforços de desenvolvimento. Esses grupos desempenharam um papel fundamental na formação de novos setores na indústria através da introdução de tecnologias mais recentes e por encontrar novos mercados para esses produtos coreanos (CHANG 2003). 3. Os chaebols como estratégia de desenvolvimento do Estado sul coreano. A partir da década de 1960, a economia coreana atingiu grande desenvolvimento. Nesse período muitos chaebols foram beneficiados pelas políticas governamentais, através da alocação de recursos e oportunidades ao setor privado. O surgimento e a expansão dos grupos 17 foi o mecanismo utilizado pelo Estado para promover o crescimento da economia do país (MASIERO, 2000, p. 19). O Estado passou a influenciar os chaebols através de políticas e medidas administrativas como a alocação de licenças para investimento e crédito industrial, especialmente para as grandes empresas. Dessa forma, a década de 1960 marcou o avanço dos chaebols para atividades industriais de refino de petróleo, montagem de produtos eletrônicos e produção automobilística. Em 1961 o presidente Chung – Hee Park nacionalizou todos os bancos privados, que posteriormente deixaram de funcionar como avaliadores de crédito e em vez funcionaram como instrumento de políticas de alocação de recursos industriais do Estado coreano (CHANG, 2003, p. 133). O governo também colocou o Banco Nacional da Coreia sob a supervisão do aparelho executivo governamental, subordinando a autoridade do ministro das Finanças, que adotava medidas administrativas atreladas a decisões monetárias. Na percepção política do Estado sul coreano, devido ao papel fundamental dos chaebols na estrutura do desenvolvimento do país, uma crise financeira de uma grande empresa privada pode provocar uma crise nacional, e, portanto, uma intervenção governamental faz-se necessária numa conjuntura de debilidade desses grupos (MASIERO, 2002). Segundo Prestowitz (1991) a ação do Estado ocorre por meio de congelamento de dívidas, a organização de fundos de ajuda a juros mais baixos pelos bancos, convertendo dívidas em capital ou pressionando as empresas saudáveis a adquirir grupos empresarias em crise de solvência financeira. Entretanto esse patriarcalismo do Estado com os grandes grupos empresariais trouxe em alguns momentos problemas para a Coreia do Sul. Como Chang (2003) explica, o apoio do Estado, caso ocorresse um fracasso administrativo desses grupos, para que alguns chaebols tivessem incentivo de negligenciar os riscos quando da realização de investimentos, ao mesmo tempo, em que estrategicamente buscaram politicas para diversificar o incremento de negócios em áreas favorecidas pelo Estado. Dessa forma, estruturalmente ao longo do desenvolvimento do país, os chaebols foram capazes de mudar todo o risco que acompanhavam a sua empresa de negócios para o Estado e, logo transferiam grande parte do risco empresarial para o plano socializado pelo país. De qualquer forma, a ligação estreita entre o Estado sul coreano e os chaebols potencializou o desenvolvimento do país no âmbito internacional. Munidos de alta capacidade 18 financeira, dadas suas ligações com o sistema financeiro estatal, esses conglomerados adquiriram maior capacidade de enfrentar a competição internacional e de avançar no aprendizado tecnológico (MASIERO 2002). A estrutura desses conglomerados propicia vantagens de escopo e favorece estratégias de longo prazo voltadas para a conquista de fatia de mercado. Assim a estrutura agressiva e flexível dos chaebols desempenhou papel decisivo para o rápido processo de desenvolvimento, tendo impacto decisivo na configuração do capitalismo coreano (GUIMARÃES, 2010, p. 48). Na década de 1970 para induzir o relutante setor privado a investir na indústria química e de maquinaria pesada, o Estado selecionou empresas para empreender novos projetos nas áreas prioritárias e garantiu crédito subsidiado para viabilizar os investimentos. Como resultado, o Estado canalizou a estrutura de incentivos para um grupo bastante reduzido de empresas que passaram a se constituir no principal poder emergente dentro da economia coreana durante os anos 1970 (DALL’ACQUA,1991, p.109). O governo Park em 1966 anunciou o que ele chamou de grande impulso para desenvolvimento de indústrias pesadas e químicas. Em particular, ele mirou em seis indústrias para o desenvolvimento especial - siderurgia, construção naval, construção maquinaria, metais, produtos químicos e eletrônicos (PRESTOWITZ, 1991, p. 10). As ações do governo durante este período seriamente distorceu os mecanismos de mercado. Sobre isto que Chang explica: Em primeiro lugar, as empresas que recebem tratamento preferencial cresceram fenomenalmente. Além disso, os subsídios do governo induziu excesso de capacidade em setores estratégicos. Em segundo lugar, empurrando chaebols em novas indústrias, o governo não levou em consideração a necessidade de infra-estrutura para as indústrias de apoio. Ele avaliou vantagem comparativa apenas em termos de baixos salários (CHANG, 2003, p. 54).11 O Estado também favoreceu os chaebols ao bloquear concorrentes estrangeiros e até outros concorrentes nacionais de entrar em setores estratégicos. Portanto, os conglomerados incumbentes poderiam obter lucros monopolistas. O Estado concedeu vários créditos de impostos, tarifas preferenciais e empréstimos, mesmo quando houve uma escassez de capital. Através da privatização de empresas estatais, 11 Texto original em inglês: First, firms receiving preferential treatment grew phenomenally, while those that didn´t suffered. In addition, government subsidies induced overcapacity in strategic industries. Second, in pushing chaebols into new industries, the government failed to consider the need for infrastructure from supporting industries. It evaluated comparative advantage only in terms of low wages. 19 como a Korean Airlines, em meados dos anos 1960, o governo criou várias chaebols que tinham ligações políticas (CHANG, 2003, p. 53). Nos anos 80, os chaebols praticamente dominavam a economia coreana. A estratégia de industrialização voltada para o mercado externo permanecia, porém aumentava o protecionismo dos mercados externos, assim como o endividamento dos grupos, a volatilidade das taxas de juros no mercado internacional e a instabilidade política interna. A economia coreana passou por um amplo processo de liberalização econômica no começo dos anos 1990, com medidas que enfatizavam os mecanismos de mercado em relação a intervenção e à regulamentação governamental sobre a economia (DALL’ACQUA, 1991, p. 120). Enfim, os chaebols se fortaleceram e reduziram sua dependência em relação ao Estado. Naquele contexto, uma característica dos conglomerados foi seu alto grau de endividamento que, aliado a iniciativas do Estado para reduzir o risco, favoreceu as altas taxas de investimento. Existiam, no entanto, sérios limites à capacidade de regulação, uma vez que não havia agências regulatórias independentes as empresas estavam sujeitas a regras informais e discricionárias. Como Chung explica: O sistema financeiro apresentava sérias fragilidades, dada a falta de uma estrutura de regulação adequada e a ausência de bons critérios de avaliação de risco. Como consequência, os bancos apresentavam baixa lucratividade, cobravam alto spread e acumulavam grande número de empréstimos podres (CHUNG, 2007, p. 61).12 Segundo Guimarães (2010) outro agravante era a incapacidade de monitorar o destino das aplicações e de limitar as operações em ações e propriedades, usadas como colaterais para a obtenção de novos empréstimos. Os bancos tendiam também a aceitar como aval a garantia pessoal dos donos dos chaebols, favorecendo a consolidação de um ambiente muito vulnerável à instabilidade financeira. Outra fonte de dificuldades encontrava-se na carência de mecanismos eficientes de governança corporativa. As empresas não adotavam bons critérios de contabilidade e não eram obrigadas a divulgar seus resultados, contribuindo para um quadro de falta de transparência. Conforme os chaebols cresciam, a sua voz sobre a decisão econômica ficava cada vez maiores. Diferente do passado, o Estado agora não podia impor disciplina aos chaebols. O simples objetivo dos conglomerados tornou-se a maximização do lucro. Para fazer a 20 realização do lucro, a forma existente de superar o trabalho manteve-se como um método eficiente (CHANG, 2003). O governo começou a aumentar gradualmente as políticas13 regulatórias sobre os grandes conglomerados, a fim de frustrar os efeitos nocivos que eles estavam começando a criar na economia coreana. Em 1993-1997, sob o governo de Kim Young-Sam, começou uma campanha anti-chaebol crescente surgiu (MURILO e SUNG, 2013, p. 5). Segundo Masiero (2002) em 1997, a Coreia do Sul passou por uma crise financeira que teve inicio nos países do sudeste asiático. A crise alterou radicalmente a relação do Estado com os chaebols. A imagem pública geral positiva do chaebol como campeões nacionais e grupo de empresas familiares tornou-se negativa, uma vez que foram desacreditados pelos acontecimentos da crise, sendo vistos como irresponsáveis e anti-sociais, e, portanto, não mereciam ser protegidos. Naquele contexto a política de liberalização financeira fruto do processo de globalização foi tomada como a principal causa da crise, além dos laços entre o Estado e os chaebols. Segundo Chang: A crise financeira na Coreia deve-se integralmente às opções de política econômica do governo. Uma mistura de valorização cambial, liberalização financeira de fato, ao lado da decisão do último governo de descontinuar a política de coordenação e regulação dos investimentos que historicamente caracterizou a política industrial na Coréia. Estas políticas teriam resultado no super endividamento da economia e no excesso de capacidade de diversos setores industriais (CHANG, 2003, 71).14 O desenvolvimento sul-coreano dependia de um forte arranjo interno e de regulação, indispensável para neutralizar fontes potenciais de instabilidade presentes no sistema financeiro e na organização dos grupos empresariais.. O novo quadro exigia reformas rápidas, mas essas eram bloqueadas pelos chaebols assim como pelas grandes dificuldades do sistema financeiro. A crise de 1997 estva em parte ligada as dificuldades internas do modelo, especificamente as lacunas do aparato de 12 Texto original em inglês: The financial system had serious weaknesses, given the lack of an appropriate framework for regulation and the absence of good risk assessment criteria. As a result, banks had low profitability, charged high spread and accumulated large number of bad loans.[ 13 Entre eles, o Monopoly Regulation and Fair Trade Act, que regula a participação cruzada, a confiança empréstimo excessivo, e práticas especulativas feitas pelos chaebols (MURILO e SUNG, 2013, p. 5). 14 Texto original em inglês: The financial crisis in Korea should be fully to the government's economic policy options. A mixture of currency appreciation, financial liberalization, next to the last government decision to discontinue the co-ordination and regulation policy to the investments that historically characterized the industrial policy in Korea. These policies would result in super indebtedness of the economy and overcapacity in several industrial sectors. 21 regulação, e as dificuldades em reformar os chaebols e modificar suas relações com o sistema financeiro (GUIMARÃES, 2010, p. 50). Quando a crise asiática aconteceu, os chaebols perderam o apoio do setor bancário sulcoreano, que rapidamente quebrou. A dificuldade de liquidez que se seguiu forçou os conglomerados de recorrer ao governo para a ajuda, que por sua vez teve de recorrer ao FMI para um empréstimo de US$ 57.000 bilhões de dólares (MURILO e SUNG, 2013, p. 5). O governo de Kim Dae Jung, iniciado em 1998, herdou a crise do governo anterior e implementou medidas supervisionadas pelo FMI, entre as quais a reestruturação dos endividados chaebols e do setor financeiro. O governo e os empresários concordaram em desenvolver cinco tarefas para a reestruturação corporativa. Conforme Masiero aponta: Aumentar a transparência administrativa; tornar claras as garantias de débitos cruzados entre as empresas afiliadas dos conglomerados; realizar avanços significativos na estrutura de capital de empresas; concentrar atividades nos negócios principais (MASIERO, 2002, p. 4). O processo de reestruturação dos chaebols pós-crise foi caracterizado pela forte intervenção do Estado. Segundo Fiori15, o desenvolvimento coreano aparece uma amarração politica entre Estado e os chaebols, na qual o crescimento econômico desses grandes conglomerados capitalistas está envolvido uma estratégia de autonomia e expansão no sistema internacional: Considerações finais A Coreia do Sul é um exemplo para os países em desenvolvimento. Existem, entretanto, aspectos únicos desse país que limitam diretamente a aplicação do seu modelo em outros países: a homogeneidade étnica e cultural, uma forte tradição confucionista que agrega alto valor à educação e forte envolvimento do Estado na orientação e gerenciamento da economia. O crescimento econômico surpreendente da Coreia do Sul vale a pena receber atenção devido à importância do papel do Estado na construção estratégica da política de 15 FIORI, José Luis. O desenvolvimentismo asiático. 22 desenvolvimento. A Coreia do Sul tornou-se um país de monopólios e relacionamentos acolhedores entre os setores público e privado, que é controlado por um pequeno número de indivíduos e chaebols sob a proteção do Estado, que garante a Coreia do Sul importante papel e relativa autonomia no sistema internacional. A orientação do modelo coreano de exportação não reflete uma opção pelo liberalismo econômico como via de integração na economia mundial, mas resulta de uma forte intervenção estatal determinada a fortalecer os grandes conglomerados econômicos orientados ao mercado externo. É comumente entendido que o sistema dos chaebol tem sido particularmente eficaz na geração de desenvolvimento econômico sob a forma de um modelo não ocidental de crescimento econômico impulsionado pelo estado. No caso da Coreia do Sul, a razão para o sucesso dos chaebols pode ser encontrado em elementos idiossincráticos de política econômica e para o desenvolvimento institucional e econômico que moldaram o país ao longo dos últimos 60 anos. Até este dia, esta forma de governança corporativa - que permitiu aos chaebols para ter sucesso como unidades de criação de riqueza - continua a ser altamente relevante. Esses conglomerados têm sido desde o início, o núcleo da economia coreana e o motor de sua veloz industrialização e crescimento. Apesar do FMI ter imposto reformas após 1997 e vários esforços para promover pequenas e médias empresas e, apesar das novas regras em matéria de transparência e de política de concorrência, os cinco maiores chaebols ainda respondem por cerca de metade da produção coreana. 23 Referências Bibliográficas APEX BRASIL. (Org.). Coreia do sul: perfil e oportunidades comerciais. Brasília, 2011. AMSDEN, Alice. Asia´s Nex Giant: South Korea and Late Industrialization. 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